domingo, 14 de outubro de 2018

Sexualidade Sagrada Asenath Mason


O caminho da sexualidade sagrada é geralmente associado ao Tantra e às tradições mágickas do Oriente. No Ocidente ainda ocorre grande desentendimento e seus elementos são incorporados em alguns sistemas ritualísticos, mas raramente é abraçado como um caminho de crescimento espiritual. A função da Árvore Qliphótica neste paradigma também é subestimada. Os sistemas mágicos da tradição esotérica ocidental geralmente esquivam-se das Qliphoth, evitando qualquer contato com essas forças e descrevendo-as como obstáculos no desenvolvimento pessoal ao invés de uma ferramenta de crescimento e transcendência. Esta visão, no entanto, passa por transformações a todo momento. Praticantes modernos estão mais abertos às tradições obscuras e à magia do caminho da mão esquerda, e a visão sobre as Qliphoth está mudando de cascas que contém todo o “mal” do mundo para princípios iniciáticos detentores de um potencial de autodeificação individual.
Este livro abarca um dos aspectos mais fascinantes da Árvore da Morte: o caminho da transcendência através do sexo e da transgressão. Normalmente, quando pensamos sobre sexualidade sagrada, retornamos às épocas antigas e templos de prostituição ou temos em mente ritos imemoriais de fertilidade e adoração a deuses e deusas associados à natureza. Tudo isso é verdade, porém a sexualidade sagrada é mais do que isso. Em geral, podemos dizer que é qualquer atividade sexual que se destina a uma experiência espiritual e tem como propósito transformar o mundano em sagrado, o profano em santo, o físico em espiritual. Também podemos dizer que além da transformação, a função da sexualidade sagrada é fazer uma ponte entre o corpo e a mente. O cristianismo e outras religiões convencionais envenenaram a antiga visão do sexo como sagrado e divino, fazendo seus adoradores acreditarem que o ato sexual é algo vergonhoso, obsceno e pecaminoso.
Essa é uma poderosa convicção que ainda prevalece nas partes do mundo onde tais tradições religiosas são cultivadas. Antigos deuses da fertilidade com seus chifres, corpos peludos e enormes falos foram transformados em demônios na demonologia ocidental, e as antigas deusas com sua nudez, seios proeminentes e vulvas expostas tornaram-se símbolos de pecado e promiscuidade. Assim, a linda deusa de Gamaliel - Lilith em seu aspecto de Prostituta Sagrada - tornou-se “A Asna Obscena” com cabeça de mula, pernas peludas e asas de harpia. É apenas como escolhemos vê-la, mas perceber isto não é uma tarefa fácil. No mundo moderno as pessoas passam muito tempo bloqueando e suprimindo suas potencialidades sexuais, seguindo a longa tradição que tem sido contada de que o sexo é algo ruim e que usá-lo com outro fim, além da procriação, é errado. Podemos pensar que nos tempos atuais esta visão é diferente, mas não é sempre assim e o preconceito contra a sexualidade ser uma ferramenta de transcendência ainda é um tanto incompreensível, mesmo nas comunidades mágickas.
A utilização das Qliphoth nas práticas do sexo sagrado ainda é muito rara. No entanto, a verdade é que a Árvore da Morte permite acessar os deuses e deusas do mundo antigo em suas formas originais e sem distorções, despojadas de equívocos promovidos pelas religiões convencionais e pela má compreensão das tradições mágickas que evitam coisas como “mal” e “negro” e focam somente na reconstituição dos ritos antigos. Embora não haja nada de errado com isso, as antigas deidades ainda estão aqui para nos ensinar seus caminhos e podemos aprender diretamente com elas entrando em contato com o reservatório de energia e força que representam, e isso pode ser alcançado através do trabalho com a Árvore da Morte. 
Tendo tudo isso em mente, podemos dizer que o caminho da sexualidade sagrada é um conjunto de práticas que visam restaurar a conexão perdida entre o sexo físico e a espiritualidade, o erótico e o religioso, o corpo e o espírito - práticas que procuram o crescimento espiritual por meio da gnose da carne. Sexo é uma das melhores ferramentas de transcendência pessoal, pois nos ensina como lidar com nossa força vital, direcionar nossa energia interior e conectar com o universo, seja através de nossos parceiros ou pelo trabalho com espíritos e deidades pelos meios da gnose sexual. Com a prática da magia sexual, descobrimos nosso potencial interno, obtemos acesso a material inconsciente que normalmente é inacessível à mente consciente, e aprendemos como fazer nossa força vital fluir de forma desimpedida. Isso é conseguido trabalhando com nossos corpos, que inclui a exploração das nossas necessidades sexuais, impulsos e desejos, desenvolvendo nossos sentidos pelos deleites da carne e honrando tanto prazer quanto dor, pois ambos podem forçar nossos limites afim de nos ajudar a transcender nossas inibições pessoais.
A sexualidade sagrada é um poderoso caminho para a autodeificação. Ela não compreende o corpo como um obstáculo para o desenvolvimento espiritual, mas como um recipiente e um laboratório alquímico onde ocorre a transmutação do físico em espiritual. Esta mentalidade ensina encarar a carne como sagrada e abraçar o sexo como ferramenta de ascensão pessoal. No momento do orgasmo estamos mais próximos do divino e conseguimos contemplar o infinito e nos reconectar com a fonte de toda criação, o reservatório primordial de força existente nas raízes de todo universo. É sobre isso que o caminho de Gamaliel trata: abraçar sua sexualidade em todos os seus aspectos e enxergar o sexo como um veículo de crescimento espiritual e consciência pessoal. Render-se e abraçar o seu lado escuro não é encarado aqui como um sinal de fraqueza ou como se fosse vítima de seus impulsos e demônios, mas como uma expansão para algo que é muito maior que você: a própria divindade e a divindade em você.
O leitor também encontrará o seguinte neste livro. O autor apresenta rituais e métodos de trabalho com “Os Obscenos”, incluindo técnicas de invocação, sonho lúcido e magia com sangue, ensinando ao praticante como entrar no ventre da Deusa Lunar e comungar com suas máscaras e manifestações. Este caminho inicia-se na Caverna de Lilith, a vulva da Deusa Negra de Sitra Ahra, levando às profundezas de seu corpo. Técnicas de magia sexual e sexualidade sagrada são a melhor maneira de abordar este trabalho, e as imagens sexuais são o tema mais comum nos ritos de Gamaliel.
O caminho é marcado com sangue e somos guiados dentro de túneis vermelho-sangue do plano astral por serpentes, corujas e criaturas da noite - as crianças de Lilith. Fogo e sangue, sexo e dor, transgressão e transcendência - são todas palavras-chave na gnose desta Qlipha. Peregrinando através dos corredores manchados de sangue dentro do corpo da Deusa Lunar, aprendemos como usar a magia sexual para inflamar o fogo interno e elevar a Força da Serpente. A própria deusa virá nos ajudar em uma de suas muitas máscaras: Lilith, Naamah, Eisheth Zenumin, Agrat bat Mahalath e outras. Acompanhada por Samael, a Serpente e o Diabo, ela nos ensina que aquilo que percebemos como barreiras e limitações é apenas uma ilusão e que podemos nos livrar disso que restringe nosso caminho rumo ao divino. O profano torna-se sagrado, o corpo se transforma em templo e o espírito é elevado em êxtase de prazer e sofrimento, como a deusa também nos mostra que esses dois são um e a mesma coisa.
Para entrar em Gamaliel precisamos estar dispostos a experimentar tudo isso e muito mais, e é sobre isso que este grimório trata. Ele irá introduzi-lo no caminho da sexualidade sagrada, não em uma forma simbólica, mas através de intensas práticas de sangue e sexo, transes meditativos profundos e ritos de possessão, levando-o à alturas e profundezas e deixando-o carregado, transformado e faminto por mais. Pessoalmente, vejo Gamaliel como a parte mais fascinante da Árvore da Morte e desejo ao leitor uma linda jornada através deste reino místico.