domingo, 16 de fevereiro de 2025

Simbologia do Baphomet


O presente ensaio busca exaurir analiticamente a simbologia presente na figura de Baphomet. Digo exaurir, mas não esgotar. Ver-se-á a riqueza que esta imagem encerra, a qual não poderia ser sintetizada senão pictoricamente, como o fez Eliphas Levi. É bem conhecida sentença popular que diz “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Tal se aplica ao simbolismo presente neste grande síntese panteísta, que se resume neste nome tão mal compreendido.


A imagem de Baphomet é comumente associada ao demônio, a Satã, ao bode do Sabbath dos feiticeiros. Tudo isso pode estar correto num certo sentido (profano, evidentemente).


Entretanto, acima das falsas luzes do mundo cotidiano, respirando o ar luminoso do Monte Zyon, Baphomet é um sacramento dos Iniciados e Adeptos (do latim sacro+mente=aquilo que mantém o sagrado na mente, traz a santidade aos pensamentos).


Deixai que os profanos o maldigam e o apedrejem. Os profanos não são culpáveis por isso, como não são imputáveis pelos seus crimes os loucos e os incapazes. Eles não são capazes de contemplar o rosto horripilante do ídolo, como não são capazes de nada. Eles não têm “olhos quem vem” e nem “ouvidos que ouvem”. São cegos e surdos. Baphomet não é para estes. Baphomet é para os que têm os olhos abertos e contemplam, para os que ouvem e entendem, para os que estão despertos. Para aqueles que são capazes de trilhar o Caminho que suas mãos indicam: mergulhar nas profundezas, ascender aos céus, santificar as profundezas e as alturas, descansar sob a sombra das suas asas, sorver leite das estrelas que flui de seus seios, o elixir da eternidade.


Baphomet é uma imagem (ειδολον). Nós tentaremos ir além da imagem, e decompô-la ao máximo. Solve! É a ordem dada pelo Senhor da Iniciação, até reduzir tudo a pó. Coagula! O sentido extraído do todo deve se aglutinar no templo interior do Adepto até tornar-se Pedra.


Agora tritura tudo, e tereis a tintura, o Elixir da eternidade. Baphomet é tudo isso e não e nada disso. Depende da perspectiva e da capacidade do artesão.


Mas cuidado. Eu me refiro varias vezes a ele como ídolo, ainda assim Baphomet não deve ser adorado. Aparta-te da idolatria. Baphomet não é um deus.


Ademais, os Adeptos não adoram deuses:

os Adeptos são DEUSES!


A.´.M.´.E.´.M.´.


I CAPUT


Após os pilares do templo, adentra-se no átrio do Sanctum. Não há como ver muito longe. O silêncio é absoluto e qualquer murmúrio é uma blasfêmia.


Mas há uma luz que se adivinha lá adiante, no Sanctum Sanctorum. Até aqui as sombras reinaram.


O irmão terrível, ainda em silêncio, aponta adiante o Véu dos Mistérios Sublimes, o véu de Peroket.


Olhar além deste véu é como mergulhar no abismo.

Então o irmão terrível dá a ordem e o véu se abre, e contemplamos face a face o senhor da Iniciação.


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Entre os cornos de Baphomet vemos a tocha, porque ele é o Dadouches, o principal iniciador de Eleusis, o portador da tocha, o Phosphoros Grego, aquele que trás a luz da Iniciação, associado a Prometeu, que furtou de Zeus o fogo sagrado (λογοσ), e deu-o aos homens. Para os romanos ele é Lúcifer, aquele que trás a luz. Note-se que tais significações estão no seu sentido original, i. e., não maculadas pelo sentido cristão.


Como portador da luz, representada pelo fogo, teremos que nos focar nas significações deste elemento, uma vez que a tocha existe em função do fogo. É também o chakra Sahasrara, o lótus de mil pétalas. Resultado da aplicação correta da fórmula I.N.R.I. que será analisada em ocasião própria.


Quem trouxe o fogo aos homens foi Prometeu, segundo o registro de Heródoto em “Os Trabalhos e os Dias”. Tal episódio reproduz com outra simbologia a passagem do Atharva Veda, 12, 2, que proclama: “O Deus Agni escalou os cimos celestiais/ e ao liberar-se do pecado/ ele nos libertou da maldição”. Assim teremos uma semelhança entre Agni e Prometeu, ambos como seres benfazejos ao homem. Agni (raiz etimológica de Ignis = fogo em latim, veja também que “puro” e “fogo” tem a mesma palavra no sânscrito) é apenas um aspecto do fogo, pois há no hinduismo, três espécies: primeiro Agni, o fogo em si-mesmo, o segundo Indra, o raio e o terceiro Surya, o fogo como Sol, portanto, estes são os arquétipos do fogo terrestre, intermédio e celestial.


Seja qual for o aspecto, o fogo (Pyr em persa, πυρ em grego), guarda estreitas relações com os ritos de regeneração e purificação (note aqui a raiz etimológica). Assim a tocha de Baphomet acende o Athanor filosófico, o cadinho onde é gestada a pedra filosofal que será triturada para produzir o Elixir da Imortalidade (Amrita ou Soma). O Athanor assim encontra-se no coração, pois este é o centro do Manipura-chakra, cujo símbolo é triangulo ígneo, segundo os Upanichads. O sistema de chakras também é encontrado no tantrismo tibetano, que consideram apenas cinco centros de força sutil, e que também associa o fogo ao coração. Além disso, o coração é a morada do espírito (Jacob Boheme), e relacionando-se com o espírito e fogo chegaremos ao Espírito Santo, que se manifesta no cristianismo como línguas de fogo no pentecostes. O Logos manifesto. Note que o Espírito Santo é relacionado ao sêmem, pois no BAHIR é dito que o sêmen provêm do cérebro e caminha pela espinha até o falo, este também um símbolo cognato (φαλοσ é um cognato de πιραμισ onde ocorriam iniciações).


No judaísmo, as ofertas ao Tetragrammaton eram queimadas, pelo que nos explica Abu Ya’qub Sejestani, o fogo eleva as coisas ao estado sutil (espiritual) pela combustão do invólucro grosseiro, assim tanto se presta a trazer aos homens o Logos, quanto a levar aos deuses a essência. Vejamos também como tal o sentido dos ritos fúnebres, a cremação dos corpos entre os gregos e os hindus tem o mesmo significado, pois o fogo é não apenas um elemento purificador ou regenerador, mas também seu toque assegura a passagem de um estado a outro.


Ainda, o fogo da tocha de Baphomet é o fogo que consome, o fogo devorador, o αγαπε, um dos três aspectos do Amor, segundo Platão (εροσ e φιλοσ são os outros dois), e justamente o aspecto cósmico do amor, e não apenas o sexual (εροτοσ) e altruísta. O αγαπε é o amor que leva o Adepto ao auto-sacrifício espiritual.

Por fim, sendo o fogo um símbolo do intelecto ou logos, ou de Tipheret para os qabalistas, o sentido pleno só pode ser compreendido em relação aos dois chifres, formando assim um ternário, como nos desvelou E. Lévi. Sem o a tocha, os chifres significam a díada, o dois, o número que, tomado em si mesmo, é a dualidade, o mal (διαβολοσ, origem etimológica de diabo, significa aquele que divide). Em seu aspecto negativo é vhbv vht, o vazio e o amorfo, cujo valor é 430, o mesmo de >pn, a alma animal (irracional) do homem. A tocha sendo o Espírito Santo, ‘>ydq ‘xvr, que organiza o vácuo e a matéria, reconciliando o Caos primordial. (Compare com a passagem do Gênesis I, 2.)


Sendo o chifre um símbolo do Poder (em hebraico nrq=chifre, poder, força, provável raiz etimológica da palavra latina “cornu”), sem o Espírito reconciliador, o poder é dividido, e não subsiste, além do que são de caráter lunar e não solar, pois são de touro para alguns, e de cabra para outros, ambos símbolos ligados a terra e seu aspecto fecundo, também ligado à fertilidade e daí a sexualidade, dividida em papéis ativo e passivo.


Segundo René Guénon, a associação entre o Touro e a Lua era familiar aos sumérios e também aos hindus, sendo reconciliada pelo crescente lunar, presente em ambos os panteões. Para os hindus o Mahabharata identifica Shiva com sua montaria, o Nandi, ou touro sagrado. Em representações mais antigas, Shiva possui chifres.


O Amom egípcio, o deus oculto, era chamado no livro dos mortos de “Senhor dos dois chifres”, mas estes são de caráter solar, chifres de carneiro, conforme se tem pelas representações de Apolo Karneios e mais tarde Dionisos. Segundo Jung o chifre reconcilia, em si mesmo, os papéis ativo e passivo, respectivamente pela força de penetração e por sua abertura em forma de receptáculo.


Nas religiões persas encontramos Mitras imolando o touro, o pai de todas as coisas. Esta relação entre o touro e Mitras encontra uma ressonância em Baphomet que para alguns ocultistas induz a plena identificação de ambos os seres. Crowley dizia, citando Von Hammer-Purgstall, que Baphomet era originalmente grafado com um “r” solar no fim da palavra, assim teríamos Baphometr (?) ou Baphomitr (?), que significava “pai Mitra”, e ele era um deus touro ou matador de touros.


Além disso, Mitra era uma divindade solar dos persas, na realidade ele não matava o touro, mas o sacrificava, fazendo deste animal, entre os orientais, um animal solar, em contraposição a natureza lunar do mesmo touro entre os babilônios, embora ambos estejam relacionado à fertilidade, aos ciclos do das estações e a agricultura.


Resumidamente, os poderes dos chifres lunares de Baphomet poderiam ser tomados como as forças ativas e passivas da natureza, balanceadas pelo intelecto ou Logos. O Adepto ou iniciado deve possuir esses atributos, sendo essa a natureza do Bodhisattva, termo sânscrito (em tibetano Diang Shuv Sempa), que significa “aquele cujo espírito é desperto (a tocha) e que age com coragem (os chifres)”.


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O simbolismo dualista presente no glifo nos indica a princípio o caráter andrógino do ídolo. Nele estão presentes, além dos signos duplos dos braços, chifres, luas, etc., a unidade dos dois sexos, representados pelos seios e pelo falo, ou lingan, em forma de caduceu. Os traços da androginia são presentes em muitas divindades como Adônis, Dioniso, entre outros. Não é um ser assexuado, como quer o modelo do cristianismo, mas explicitamente bissexual, conforme podemos observar nas divindades gregas. Zeus teve “casos” com mortais e imortais de ambos os sexos, Dioniso o fazia igualmente.


O lingan tântrico é representado muitas vezes com a Yoni em seu corpo. Shiva e Shakti abraçam-se e tornam-se Adha-Nari, o ser primordial. Veja também os diálogos de Platão, especialmente o Banquete.

Não apenas no paganismo encontramos tais ocorrências.


O Midrash judaico também relaciona a androginia de Adam-Kadmon como um estado que é preciso reconquistar.


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A cabeça do ídolo é a do Bode, animal de natureza lunar, em oposição ao carneiro solar, mas segundo Levi trás os traços do cão, do touro e do asno. Levi interpretou esses hieróglifos de uma forma demasiadamente pejorativa, associado-os a responsabilidade da matéria e a expiação dos pecados corporais; provavelmente, em relação ao bode, tenha sido inspirado pelas lendas do Bode de Zazel, o bode expiatório, e daí sua relação com o pecado. Essa significação não se esgota nisso, aliás, ela é muito mais profunda e dirige-se a rumos bem diferentes do imaginário judaico-cristão.


Isto apenas indica que o simbolismo do bode e da cabra foi extremamente degenerado do cristianismo para frente, principalmente pelo aspecto sexual da figura. Libidinosus foi a palavra usada por Horácio nos Épodos, Livro 10, verso 23, para designar o animal que era sacrificado para afastar as tempestades, ambos os símbolos associados ao desregramento e ao caos. Saint-Martin chama-o de “animal fedorento”, sinal da “abominação”, “rejeição”, “putrefação e iniqüidade”. Foi na idade média que a iconografia cristã associou o Diabo, o deus da luxúria (sexo) ao bode, em decorrência de sua absorção a necessidade de reprodução.


Na Índia, a cabra é Prakriti, a mãe do mundo (AMMA MUNDI), que possui três qualidades essenciais: sattvas, rajas e tamas. A cabra, além de sua ligação com a fertilidade (Pan, divindade arcádica da fertilidade era representado com cascos e chifres de bode) e a luxúria por sua pujança e fecundidade genésica (libido), era sagrada na maior parte das culturas antigas. Adorada entre os babilônios em Susa como deus da fertilidade, era especialmente considerada pelos gregos como portadores de teofania, sendo sacrificada na ocasião da consulta dos oráculos. Diodoro da Sicília relata que em Delfos foram elas que chamaram a atenção dos camponeses para certos vapores que exalavam das rochas, e que faziam as cabras pular de modo bizarro e incomum. Sobre estas rochas eles fundaram um oráculo. Ainda entre os gregos, é conhecida a tradição órfica que a alma iniciada é como um cabrito caído dentro do leite. O bode é especialmente caro também a Dioniso, uma vez que além de ser sua oferenda predileta, foi na forma de um bode que ele fugiu de Typhon, indo para o Egito.


O simbolismo do bode se liga de forma sutil ao do fogo, vez que ambos são considerados elementos essenciais dos ritos de Iniciação. Ainda no Atharva Veda, 9, 5 vemos tal associação de modo claro: “o bode é Agni; o bode é o esplendor/que afasta as trevas para longe./ ó bode, sobe ao céu dos homens justos”.


As patas da figura são também de bode. Além do que os bodes são exímios em escalar grandes montanhas ou picos rochosos. Seu equilíbrio é notável e não demonstram medo algum de altura. Tais qualidades são esperadas do iniciado, mas em sentido esotérico, i. e., as alturas da sabedoria as vezes se tornam sufocantes, o ar se rarefaz, mas como o bode, no qual ele tem se convertido (a idéia é de Orfeu), ele não deve se deixar arremeter pela falta de ar nem pelo medo da altura.


Os traços de cão ou chacal são facilmente associados ao deus Anpu ou Anúbis como psicopompo, ou guia das almas ao mundo subterrâneo, Thuat. Esse processo de morrer implica o renascimento de Osíris, um cognato explícito da Iniciação. Assim Anúbis é o guardião do portal para o mundo subterrâneo, isto é, o mundo oculto, o templo onde a Iniciação ocorre para o renascimento do neófito como Osíris. Vemos o cão no mesmo posto na mitologia grega, onde haveremos de encontrar Cérbero, o cão de três cabeças do Hades, um monstro mitológico, afável para os que chegam, brutal e feroz para os que tentam escapar. Além disso, para os profanos o principal atributo do cão é a fidelidade, que para um iniciado é uma das principais virtudes. Assim o iniciado tem estes atributos do cão como elementos do seu juramento: ser fiel a ordem, e guardar as portas do templo contra a curiosidade dos profanos.


Ainda ligado ao mundo dos mortos, veremos que na Índia o asno aparece como o asura Dhenuka, ligado a Nairrita, guardião da região dos mortos e Kalaratri, aspecto sinistro de Devi. O asno era relacionado comumente a ignorância na maioria das culturas antigas. Apuleio, no livro O Asno de Ouro, mostra-nos Lúcio, apaixonado por uma cortesã, sendo transformado em asno, que segundo Jean Beaujeu, é “a manifestação concreta, o efeito visível e o castigo de seu abandono ao prazer da carne”.


Concluímos assim que o asno está intimamente ligado aos aspectos bestiais da força sexual. Mas no quesito relacionado à Iniciação, encontramos o asno relacionado a Baco. Aristófanes, no poema As rãs, coloca estas palavras na boca do deus: “eu sou o asno que carrega os mistérios”, e, conhecendo as relações das lendas de Cristo e Dioniso ou Baco, teremos um paralelo com a celebração da festa dos ramos, quando o Cristo (que representa um grau e não uma pessoa) adentra as portas da cidade sagrada montado numa mula (um asno “castrado” para os freudianos). No cristianismo o asno parece ser um animal sagrado, uma vez que, além de carregar o Cristo na sua sagração pública, aparece em sua natividade e na fuga para o Egito. Neste âmbito judaico cristão, o asno esta também associado a Saturno, o segundo sol, que é a estrela de Israel. Saturno portanto é identificado com o Tetragrammaton. Por sua vez, Saturno se relaciona com Set, o deus Egípcio que era adorado nos desertos do sul na forma hierática de um deus com cabeça de asno. Finalmente, quanto a natureza do glifo, não parece ser um animal lunar, mas solar, uma vez que é associado comumente pelo tamanho de seu pênis a Príapos, uma divindade grega da fertilidade e da agricultura, de natureza solar-fálica, como todos os deuses solares, que são também relacionados ao falo.

Os traços de touro e seu simbolismo já foram explicados acima quando interpretamos os chifres.


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II TORAX


Os seios da figura, segundo Levi, são relacionados à maternidade, uma asserção bastante óbvia. Mas há também uma relação estreita com proteção e medida. Bath (tb) em hebraico significa filha, mas também medida, a palavra mãe (ama) também se refere a medida, o que infere que os seios da figura, sendo um glifo da maternidade e de medida ao mesmo tempo. No que tange a esta última significação, há uma referência velada ao equilíbrio necessário entre as operações alquímicas sugeridas nos braços humanos da figura (solve et coagula), isto é, seus seios são o “fiel” da balança. tb tem valor numérico 402. Dividindo por dois, encontraremos a palavra Luz, em hebraico Aur (rva cuja forma alternativa é ra). São dois seios, duas luzes, medidas, balanceadas, equilibradas. Além disso, o seio esquerdo pode querer significar a lua, cuja natureza feminina se refere a coagulação, enquanto o direito ao sol, masculino e quente, responsável pela solução. Num plano mais acima, simbolizam as sephiroth Chesed e Geburah, respectivamente aglutinante e corrosiva.


Os seios da figura vertem leite, são uma fonte. Leite em hebraico é Chalav (blx), cujo valor é 40 (40×4=160= qny mamar, sugar os seios). No Ramaiana, o elixir da eternidade é resultado da batedura de um mar de leite, além disso, o leite é o primeiro alimento e a primeira bebida que nutrem o recém nascido, assim, é um símbolo esotérico da pura gnosis, o primeiro alimento dos iniciados, uma vez que o leite é expressamente associado por Maomé ao conhecimento e a sabedoria, segundo um hadith (tradição) registrado por Ibn Omar (El Bokhari, les traditions islamiques, Paris, 1914), há também referências em harmonia com esse conceito na literatura tântrica, o Boddhichitta simboliza tanto o pensamento como o sêmen.


Os Vedas se referem ao leite como a bebida da imortalidade no Agnihotra, a oração matinal: “Indra e Agni vivificam/ este leite em alegre canto: / que ele dê a imortalidade / ao homem justo que sacrifica”. Também nos hinos órficos o leite é exaltado como símbolo da imortalidade: “Feliz e bem aventurado / serás tu feito um deus, e não apenas mortal. / Cabrito, caí dentro do leite”. A relação sugerida do cabrito, que simboliza o recém iniciado já foi acima elucidada.


Assim o leite dos seios de Baphomet é o “leite da virgem”, uma expressão alquímica para o Elixir da Longa Vida.


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Levi desenha penas no dorso da figura, entre os seios e as escamas. As penas são multicoloridas ou policrômicas, como as do pavão, que é, nos Jataka Budistas, um símbolo do Bodhisattva, o iluminado.


Por serem as penas do pavão policrômicas, representam as variações de luz do prisma, simbolizando os sete planos astrais ou os planetas da astrologia clássica. Afinal, todas as cores do espectro que o homem pode captar são em número de sete.


Em outras culturas, como no Curdistão, teremos os Yezids venerando Malik Tauus, o pavão real. Segundo Idries Shah, o significado deste nome é Rei (malik, semelhante à melek em hebraico) da terra verdejante (tauus). É na realidade, para o mesmo autor, um símbolo da soberania (indicada pelo termo Malik) sobre a mente (a terra verdejante – tauus).


As associações do pavão com a vaidade são degenerações típicas do cristianismo.


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As escamas do seu ventre não foram elucidadas por Levi, e podem ser tanto de peixe quanto de serpente. Segundo Levi devem assumir a cor verde, o que as relaciona com Netzach, o firmeza ou vitória, e daí a Vênus, divindade nativa do mar, indicando para alguns que as escamas sejam de peixe, símbolo riquíssimo, relacionado ao elemento água, que pode ser relacionado a três grandes temas: fonte da vida, regeneração e purificação. A natureza aquática de Baphomet, liga-o ao grande mar de Binah, o mar da sabedoria, as águas negras, Maym, sobre as quais paira o Espírito dos Elohym, a água como a matriz ou suporte físico da criação, e também da nutrição do conhecimento (gnosis), pois são várias as passagens nas escrituras sagradas do judaísmo em que se faz referência a “águas vivas”, e água, no Bahir é uma palavra cognata a conhecimento. O simbolismo da água, sugerido pelas escamas de peixe da figura, são demasiadamente complexos para serem analisados aqui.


Na Índia, o peixe Matsya é um avatar do deus Vishnu. Este peixe salva Manu do dilúvio e lhe entrega os Vedas; assim o peixe é o revelador da doutrina sagrada, sendo um ser relacionado à teofania, como a cabra (lembre que o signo de capricórnio é representado comumente com corpo de peixe e dorso caprino). São também considerados como elementos de teofania o Dagon fenício e o Oannes mesopotâmico, ambos portadores da revelação. O peixe além de revelador é também um animal ligado a redenção. É conhecida a história de Jonas, que passou três dias na boca de uma baleia, e também de Ântio, na Grécia, salvo por golfinhos. O simbolismo do delfim mescla os atributos de revelador e redentor fazendo parte do culto de Apolo, o deus da profecia, e dá o nome ao principal oráculo desta divindade (delfos = raiz etimológica de delfim).


A simbologia do peixe é deveras conhecida no mundo antigo. Tal é sua popularidade que foi posteriormente associada a Cristo. A palavra grega ΙΧΤΘΣ, peixe, é um notariqon de Ιεσουσ Χριστσ Τεοσ Θιουσ Σοτηρ (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador).


Além disso, o peixe é relacionado ao espermatozóide ou o sêmen, por motivos bastante óbvios, e daí relacionando-se com o Logos, conforme se pode ver acima. Assim, lembremos ainda que o peixe além de estar relacionado a Vênus, está do mesmo modo a Mercúrio, primeiro pela sua cor e depois por ter sangue frio. Este ultimo símbolo o reconcilia com a qualidade de revelador e redentor, ambos atributos de Hermes ou Mercúrio, o mensageiro dos deuses.


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III PHALO


Chegamos, assim, num dos sigilos mais importantes da figura, o Kerikeyon, ou caduceu de mercúrio (que rompe do manto que oculta as pernas do ídolo e atravessa um semicírculo que representa o anel de constelações do zodíaco) é um símbolo dos fundamentos do mundo (Yesod). O caduceu é posto no ídolo no lugar do falo. Há passagens no Bahir que aduzem explicitamente que o falo dos justos é o fundamento (Yesod) de tudo o que vive, e a coluna sobre a qual se apóiam os céus; há também a passagem em Provérbios, 10, 25 com significado semelhante (o justo é o fundamento –Yesod – do mundo). A figura pode parecer um tanto provocativa para o gosto judaico-cristão, mas o falo na antiguidade não tinha o sentido pejorativo que ganhou após a ascensão dos patriarcas católicos.


Sua significação não se restringe a atributos eróticos ou sexuais, mas sim ao poder gerador, o canal e fonte do sêmen, como símbolo do Logos Divino, e é venerado de forma velada em inúmeras religiões. O falo é o pilar da vida, seu manifestador, além do que fica no centro do corpo, sendo chamado de sétimo membro, assim não é simplesmente um membro sustentador, mas equilibrador, e o falo de Baphomet não é um falo qualquer, é o Caduceu de Hermes, o símbolo maior do equilíbrio dinâmico das forças complementares.


O caduceu é um dos símbolos mais antigos da humanidade, e remonta ao século XXV a.C. aparecendo simultaneamente em Lagash, na Suméria, e na Índia, nas tábuas Nagakals. Essas tábuas retratam o Brama-danda, o eixo (falo) do mundo, enlaçado por duas serpentes helicoidais (naga) que por suas origens tântricas, representam claramente sushuma (o bastão ou falo) que é, segundo Blavastky, o eixo central da espinha dorsal, pelos quais sobem em forma espiral os dois aspectos do pranayama, os nadis chamados ida e pingala (as serpentes helicoidais – naga-kalas). Os nadis ou canais ou kalas são representados pelas duas serpentes, uma vermelha e a outra azul, símbolos das correntes cósmicas ou akáshicas, de polaridade dupla, equilibrado pelo eixo central ou bastão, por onde flui a energia ígnea da Kundalini. Temos aqui uma reprodução no plano microcósmico do que a cabeça da figura representa, isto é, em relação aos chifres e a tocha entre eles.


Com os gregos, talvez por inspiração egípcia, o caduceu ganha novos atributos, o globo alado, símbolo de Aton, o disco do sol. Assim o símbolo deixa de ser ctoniano (pelas simples presença das serpentes) e ganha qualidade uranianas (representadas pelas asas). Nele também estavam os símbolos dos elementos primários: a madeira do bastão correspondia a terra, as asas ao ar e o fogo e a água pelas duas serpentes. Os romanos interpretavam o caduceu como poder, pela presença do bastão, prudência qualidade das serpentes, a diligencia, sugerida pelas asas e os pensamentos elevados, em virtude do círculo.


A dualidade presente no símbolo faz lembrar os poderes de vida e morte detidos por Hermes, que segundo Pausânias, tinha dois cultos distintos: o Hermes negro (ctoniano) que guiava as almas ao Hades e o Hermes branco (uraniano) que desempenhava o papel de núncio divino.


O caduceu encontra ecos na qabalah, sendo uma síntese hieroglífica da árvore da vida ou Otz Chiim (e o bastão é de fato um símbolo da arvore do Éden, onde a serpente da sabedoria se enrosca). Assim, o circulo alado representa Kether, a cabeça das serpentes são Chokmah e Binah, o nódulo superior Daath, o duplo enlace superior Chesed e Geburah, o nódulo do meio Thipheret, o duplo enlace inferior Netzach e Hod e o nódulo inferior Yesod; Malkut é a base do cetro.


Por fim, citemos Van Lennep (Ars et Alchemie, Bruxelas, 1966) que aduz significações alquímicas ao caduceu:


“É o cetro de Hermes, deus da alquimia. (…) Estas (as serpentes) representam para o alquimista os dois princípios contrários que se devem unificar, quer sejam o enxofre e o mercúrio, o fixo e o volátil, o úmido e o seco, o quente e o frio. Esses princípios conciliam-se no ouro unitário da haste do caduceu que surge, portanto, como a expressão do dualismo fundamental que ritma todo o pensamento hermético e que deve ser reabsorvido na unidade da Pedra Filosofal”.


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O manto que envolve a parte inferior da figura é de cor púrpura, a cor de Chesed, a mesma utilizada pelos imperadores e magistrados romanos, expressando autoridade ou supremacia. O manto está especialmente ligado a transmissão de um ensinamento, a uma tradição herdada (veja os episódios de Elias e Eliseu no livro dos reis). O manto de Maomé era disputado pelos discípulos, e por fim foi dado ao primeiro ayatholá, como sinal da autoridade passada de uma pessoa para a outra, o mesmo acontece entre os sufis. O chefe da tariqa, ou casa, antes de morrer deve delegar a chefia para outro, e a transmissão do manto é o ponto central do ritual.

Significa também o ocultamento dos processos alquímicos, o manto do segredo, de onde emerge a grande obra. Por isso o caduceu não aparece completamente, sua parte inferior está em Malkuth, oculta nas entranhas da terra, sob o manto da fertilidade natural. Daí se infere que o ouro alquímico deve ser extraído das entranhas da terra. Tal asserção infere o uso da fórmula V.I.T.R.I.O.L. (Visita Interiore Terrae Retificando Invenies Ocultum Lapidem), que por sua vez implica no conhecimento da fórmula I.N.R.I., Igni Natura Renovata Integra; Intra Nobis Regnum deI; Isis Naturae Regina Ineffabilis; Igne Nitrum Roris Invenitur entre outras sentenças, das quais a mais comum é a primeira, ou “o fogo da natureza renova todas as coisas”, fogo este que aparece entre os chifres. O fogo natural, conjugação dos quatro elementos incinerados pelo fogo do espírito, que na fórmula rosacruciana escreve-se yrny, 270, ou y (Yaym=água), n (Nour=fogo), r (Ruach=ar) e y (Yabesh=terra), vem das entranhas da terra (V.I.T.R.I.O.L.), sobe pelos nadis e explode em chamas no chakra Sahasrara, o lótus de mil pétalas. A formula I.N.R.I. tanto a latina quanto a rosacruciana conecta-se com a fórmula F.I.A.T. cuja significação iniciática representa o Verbo Divino, também de origem latina (sendo Flatus, Ignis, Aqua, Terra).


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IV SOLVE & COAGULA


As mãos caracterizam a santidade da grande obra, para Eliphas Levi, ademais simbolizam atividade, prática adquirida. Um tratado alquímico taoísta identifica as mãos com os processos de solução e coagulação, da mesma forma que as formulas escritas no antebraço direito e esquerdo.


O y é um glifo da mão, e significa também poder (poder=dy=14). São duas mãos, mas um só poder, isto é, 14×2=28 (poder=xk=28), referindo uma operação única, uma unidade (dvxy=28).


A mão esquerda aponta para a lua branca (Binah), a mão direita para a lua negra (Netzach), assim a figura contrabalança a atuação da severidade, apontando para a pura sabedoria, ao mesmo tempo que indica misericórdia, apontando a firmeza, Netzach. Tanto Netzach quanto Binah são emanações passivas, femininas. Mas cada uma esta num dos extremos da árvore da vida, Netzach abaixo, Binah acima. A natureza severa (ativa) da Grande Obra é sugerida pela força corrosiva de Geburah, enquanto a natureza misericordiosa da mesma é indicada pela ação coagulante de Chesed.


O mudra de ambas as mãos é o sinal sacerdotal do Dadouches, o iniciador, revelando a doutrina exotórica, simbolizada pelos dedos esticados, e ocultando os mistérios esotéricos, reservados aos iniciados, simbolizados pelos dedos dobrados, que escondem parte da palma da mão. A letra hebraica k significa “palma da mão”, e seu valor é 20, a letra y significa mão, e quando soletrada em hebraico vale 20 (dvy). O mistério que o Dadouches oculta é a doutrina secreta, a Grande Obra em si mesma, que é o ouro filosófico (ouro=bvhz=20).


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A figura toda tem o sentido sublimado quando atribuem-se-lhe asas, e sublimada não apenas no sentido espiritual, mas alquímico, isto é, a passagem para a categoria sutil, tal como o simbolismo da águia devorando o leão.


As asas se relacionam com o elemento ar. O vocábulo asas em hebraico escreve-se mypnk, cujo valor é 200, o mesmo de verão – iyq – a estação onde predomina o calor do sol; a letra r significa sol e seu valor é também 200.


As asas são atributos da potência cognitiva (no Rig-Veda é dito que a inteligência é a mais veloz das aves) além do que a maioria dos seres espirituais e mesmo os demoníacos possuem asas, quando são benfazejos, as asas são de natureza uraniana, de pomba ou águia, etc., quando malfazejos, são de natureza ctoniana, sendo as representações mais comuns as asas de morcego.

Na tradição gnóstica as asas significam a potência espiritual, o pneuma (espírito); provavelmente um conceito herdado da cultura egípcia onde o ba, o espírito individual que vaga pelo mundo dos vivos, é uma ave com cabeça humana. (vide a introdução ao Livro dos Mortos de Budge).


O livro dos salmos faz referência as asas do Tetragrammaton (XVI, 8 e XXXV, 8) e segundo Gregório de Nissa, se o criador tem asas, o homem original, feito a sua semelhança, também o teria. A queda ou pecado original foi que as decepou, necessitando, portanto, haver a reconciliação entre o criador e os homens para que este atributo seja reconquistado. As significações desta fábula são obvias.


Em suma, as asas simbolizam a natureza do ser divinizado. Mas de que espécie de asas são as asas do ídolo? E esta pergunta se justifica porque a significação pode se alterar conforme sejam elas de corvo, pomba ou águia…


A iconografia maçônica de Baphomet o mostra como uma águia de duas cabeças, de cor negra (porque ela é relacionada à Fênix, que renasce das suas próprias cinzas, e as asas de Baphomet como águia e como Bode são negras, por que resultam da calcinação). A águia se relaciona especialmente a Fênix porque de tempos em tempos ela troca suas penas, garras e bico, em cujo período torna-se frágil, para depois “renascer”. O símbolo da águia bicéfala apresenta um triângulo negro entre as cabeças com a cifra 33, o triangulo é símbolo do fogo, relacionando-se com o fogo do Dadouches. É também o símbolo do grau 33, o grau máximo do templo, o grau do Venerável Mestre, cuja sentença “ordo ab xaos” expressa a mesma significação, uma vez que o V.´.M.´. cumpriu a Grande Obra, restabelecendo o equilíbrios dos elementos sob a predominância do espírito (ver a fórmula INRI). Em outras iconografias o triângulo com a cifra é substituído pela coroa, relacionando-se então a Kether, o que transpõe o simbolismo para um plano divino.


A águia bicéfala é segundo alguns uma divindade vegetal. Para Frazer (A Rama de Ouro) era o símbolo do poder absoluto, que migrou com as cruzadas na idade média das civilizações da Ásia menor para a Áustria e a Rússia, como símbolo das armas imperiais.


A águia representa em outros panteões a percepção da luz intelectual, a gnosis direta, pois ela pode mirar o sol que não a cega. Era atribuída a Zeus e mais tarde a Júpiter, sendo o emblema imperial da autoridade de Roma.


No extremo oriente ela é Garuda, a montaria de Vichnu. Garuda tem os atributos de nagari, inimiga das serpentes, e também nagantaka, destruidora de serpentes. Tal inimizade provem de lendas pré arianas onde Garuda é o emblema das raças solares e Naga, o ancestral primeiro das raças lunares. Em sânscrito garuda também significa “palavra alada”, um símbolo cognato ao verbo cristão. No Irã a águia ou falcão é um símbolo de varana (poder ou unção divinas) que no Avesta (Zamyad-yashta; XIX, versos 43 e 38) é representado como uma falcão (varaghna) um parente próximo da águia.

No xamanismo indígena é comum encontrarmos a águia como o animal totêmico do xamã. Sua origem encontra-se no mito siberiano na qual a águia é o ancestral dos xamans. A história conta que o Altíssimo mandou a águia para socorrer os homens, perturbados por enfermidade e morte, mas eles não entenderam sua linguagem, então ela copula com uma mulher e ela concebe o primeiro xamã. (Este episódio é contado por Uno Harva no volume Lês representations religieuses des peuples altaiques, Paris, 1959). Há uma analogia com as lendas do nascimento de Cristo, como portador dos poderes curativos de Deus.


-o0o-


V


O ASTER TON PENTE!


Abaixo da tocha está o Pentalfa, a estrela que indica a quintessência, e conforme Levi:


“O pentagrama é o signo da onipotência (…) do Verbo feito carne e, segundo a direção dos seus raios, este símbolo absoluto em magia representa o bem ou o mal, a ordem ou a desordem, o cordeiro bendito de Ahura-Mazda e de São João, ou o bode de Mendes. É a iniciação ou a profanação, a vitória ou a morte, a luz ou a sombra. Elevado no ar, com duas pontas para cima, representa satã, ou o bode da missa negra; com apenas um dos raios para cima, é o Salvador. O pentagrama é a figura do corpo humano, com quatro membros e uma única ponta, que deve representar a cabeça. Uma figura humana, de cabeça para baixo, representa, naturalmente, o demônio, ou melhor, a subversão intelectual, a desordem, a loucura”.


Goethe conhecia também as virtudes do pentalfa, pois sem dúvida era um Iniciado de primeira ordem; eis como a ele se refere no Fausto:


“Ah, que deleite a vista tal, se estende de súbito por todos os sentidos, e prazer juvenil, sagrado gosto até à medula ardentes me penetram! Seria um deus quem desenhou tal signo que a eterna tormenta em mim serenam, o pobre coração de paz me enchem e com secreto impulso patenteiam em torno a mim as forças da natura? Serei deus? Tão claro se me torna tudo! E patente nestes puros traços vejo ante mim a natureza ativa. Agora compreendo a voz do Sábio: ‘não está cerrado o mundo dos espíritos; o coração tens morto e o pensamento! Eia, discípulo! O terreno peito no rubor da manhã banha incansável!’”


Paracelso o considerava como o mais poderoso dos signos mágicos, onde estão resumidos os mais sublimes mistérios da magia, da alquimia, dos símbolos gnósticos e qabalísticos. Lembra-nos também o mestre que sua ponta virada para cima indica a natureza da obra, ligada a teurgia, ou conexão com a espiritualidade superior, em oposição à goécia, que não seria necessariamente má, contudo teria natureza experimental, o que a torna perigosa para uma pessoa despreparada.


O pentagrama flamejante, como o chamava Agrippa, é identificado com Lúcifer (do latim, aquele que trás a luz, o titulo latino do Dadouches, o Senhor da Iniciação). Lúcifer é também o filho da aurora, a estrela da manhã, rx> ]b llyh, um símbolo do Sagrado Anjo Guardião, !lm ynda, ambos com a mesma valoração gemátrica, 635. O pentagrama é o símbolo supremo de hrvbg, a quinta emanação da coroa, seu valor é 216, porque ela reina e julga (]d=54) sobre os quatro elementos 54×4=216. O pentagrama, portanto, deve estar presente em todos os trabalhos de Magia, os quais ele testemunhará e julgará.

Há um mistério acerca do pentagrama que é muito pouco conhecido. Ele simboliza todas as manifestações divinas. Os ângulos de cada ponta são de 72º(=360º/5). 72 são os nomes de Deus, segundo a qabalah, Shem-há-mephorash, os Nomes ocultos do Tetragrammaton, que se extraem da passagem do Êxodo, XIV, 19, 20 e 21. Há também aqui uma relação com a tetrakys pitagórica cujo arranjo de é este:


o

o   o

o   o   o

o   o   o   o

Somando-se cada um dos elementos chegamos a 10 (1+2+3+4), o número da Unidade manifesta. Há igualmente um arranjo qabalístico do Tetragrammaton, que fica no centro do triângulo teúrgico:


y

h y

v  h  y

h  v  h  y

Somando-se os valores gemátricos de cada linha (10)+(15)+(21)+(26) chegaremos a 72. A doutrina que se extrai disso é que todas as expressões da divindade (72) ocultam-se no y, cuja numeração é 10, e a chave deste mistério se oculta no pentagrama.


Pentalfa (um notariqon gráfico, com 5 “A” conjugados) era como os Pitagóricos a ele se referiam, uma vez que encerrava os cinco deveres do Adepto: ver, ouvir, meditar, bem agir e calar, ou

Ατρεο, Αιστον, Αδαλεσθη, Αγατοπειρον, Αβακιδζι,

bem como as cinco qualidades esperadas: amabilidade, beneficência, incorruptibilidade, castidade e severidade ou

Αγανετοσ, Αγελασοσ, Αγατηοεργοσ, Αδιαφιτηορτοσ, Αγνοσ.


As cinco pontas reapresentam ainda os cinco elementos, como dito no início: o espírito, a água, o fogo, a terra e o ar (em sentido horário); o homem, as ondinas, as salamandras, os gnomos e os silfos, etc.


*  *  *


O simbolismo cognato, tanto do pentagrama quanto do ídolo Baphomético é extremamente maleável, e poderíamos prosseguir infinitamente. Há inegáveis implicações alquímicas, as quais me reservo o direito de abordar em outro ensaio futuro, especificamente relacionando o ídolo a esta disciplina, como o fiz aqui, em que BAPHOMET é posto como um espelho do Adepto.

Julgamos que o presente ensaio tenha trazido mais luz onde não é necessária nenhuma. De qualquer forma, é preciso iluminar o ambiente para que os mais tímidos possam se aproximar do ídolo sem nenhum medo.


Minha intenção maior foi demonstrar Baphomet como um espelho do Iniciado, como disse antes, e também um mapa indicativo, tanto do trabalho a ser desempenhado na Grande Obra como do resultado desta Grande Obra e, outrossim, um hieróglifo dos Mistérios mais sublimes e terríveis.


(Verão de 2008 e.v.)


APÊNDICE


ΝΟΜΟΣ

(EPITETVS)

Sobre o Nome do Ídolo


A origem do ídolo é desconhecida. Eliphas Levi não refere à fonte de onde tenha tirado sua imagem. O mesmo ocorre com o nome cujo significado também é algo controvertido. Tudo o que os eruditos disseram até hoje é pura especulação. Assim, o que segue no resto deste capítulo sem valor (de número 0) é também pura especulação.


Para alguns o vocábulo Baphomet teria origem na Grécia, na conjunção dos vocábulos Bapho+Methis, algo como “Batismo da Sabedoria”, que não parece tão inverossímil como a suposição de que seja uma corruptela gnóstica de tvmhb, o hipopótamo do Egito (cuja gematria resulta 453, o mesmo valor de hyx >pn, a alma animal do todo, ou “ANIMA MUNDI”, um título do ídolo entre os Iniciados). A palavra é plural, e não se refere a um animal, mas um conjunto deles. Existem ainda inúmeras hipóteses.


Minha opinião é de que a asserção de Levi esteja correta: TEM.´.OHP.´.AB, Baphomet é um acróstico ou sentença iniciática que significa O Pai do Templo, a Paz de todos os Homens ou TEMPLI OMNIUM HOMINUM PACIS ABBAS.

De qualquer forma, a raiz etimológica do nome ou a origem da figura não apresentam tanta importância, ainda que o seu estudo talvez revele alguns fatos interessantes como a comparação da grafia de Baphomet, em grego com a qabalah hebraica. É uma operação ousada, e ainda que para alguns seja um disparate, tomemos a seguinte: βαφομηθ = 630. Este valor, na qabalah hebraica corresponde a Espírito Santo (‘>ydq ‘xvr) e também a Adão e Eva (hvxv ,da), ambas figuras bissexuadas, como o próprio ídolo. Há também um fato interessante a respeito deste valor 630. Somando a cifra com sua imagem invertida 630+036 (cujo zero perde o valor) temos 666, o número da Iniciação e também o numero da Besta no apocalipse.

Besta selvagem em hebraico é hmhb, cujo valor é 52, o mesmo que )my), Mãe Suprema, um título de Binah. Segundo esse jogo nada usual – eu reconheço – de valores gemátricos, poderíamos inferir que Baphomet é a besta selvagem do abismo de Da’ath – Choronzon (?), conforme alguns acreditam, mas não devido a este mirabolante mecanismo que eu apresento aqui. O Iniciado deve enfrentá-lo, portanto, para descansar em Binah, a Mãe Suprema, cuja mão direita do ídolo indica.

A cifra 666 é o número místico de Tipheret, e seu valor gemátrico conecta Ommo Shaytan (]tc vmmi) a tríade demoníaca da invocação preliminar do não-nascido), ao Nome Jesus (hv>hy m>), ambos de valores idênticos.

Luciferianismo - Bruxaria Negra


A essência da Bruxaria da “Mão Skir” no mundo antigo e moderno é contrária a natureza, ou melhor, é “Antinomiana”, uma palavra grega que significa “contrário à lei”. Esta palavra refere-se à rebelião de uma estru-tura ou plano espiritual das massas, a maioria e qualquer que seja a corrente ideológica estabelecida que esteja em vigor naquele momento. A feitiçaria, independentemente de seu propósito ou forma, sempre se distinguiu por estar fora de qualquer aceitação convencional dentro da sociedade – seja pela hierarquia religiosa (mesmo quando retém organizações chamadas “igrejas” e obtenção de lucro) ou mesmo governamental. Para proporcio-nar uma compreensão clara sobre a Bruxaria Luciferiana na qual sou iniciado, devo escrever diretamente desde a experiência e visão que todos os iniciados – antigos, atuais ou incógnitos – trouxeram para o fluxo e como ele se manifesta hoje. Os de natureza Luciferiana não serão mais forçados a condenar a escuridão inerente a nós; a feitiçaria, como o espírito humano ou dæemônico, é de natureza dupla, luz e sombra, bestial e angélica, ad infinitum.


A palavra “Negro”, dentro do contexto aqui escrito, refere-se à natureza oculta da Arte Sinistra, ela repre-senta a profundidade da iniciação que se enraíza em nossas almas e a possibilidade futura de que os impulsos atávicos possam ser explorados como armas poderosas para refinar e fortalecer nossa consciência. A Ordem do Fósforo é uma fraternidade de praticantes de feitiçaria do ponto de vista do Caminho da Mão Esquerda. A pala-vra “Negro” é descrita por Idries Shah, identificando-a com o som FHM na língua árabe, também pode significar “negro”, “sábio” ou “entendimento”. Shah também menciona que a palavra “negro” mantém uma conexão com a sabedoria oculta, por isso a frase “Dar Tariki, Tariqat”, que significa “Na Escuridão, o Caminho”. A Ordem de Fósforo é símbolo do fogo iluminado desde a argila, da luz emergindo da escuridão. Os magos e bruxas desta Irmandade da “Mão Skir” estão focados não apenas em feitiços baixos, mas também em usar a natureza oculta da escuridão para revelar a Luz dentro de si mesmos. Encontramos aqui o fundamento e a essência de Baphomet, o Pai da Sabedoria. O Deus Sabático é a união da Besta e da Prostituta, Ahriman (Satanás, Samael) e Az (Lilith, Babalon) os quais engendram Caim (pelo círculo de Leviatã, a Serpente das Profundezas). Uma imagem inicial de Caim como Baphomet (de Soror Lilitu Azhdeha) pode ser encontrada em “O Livro de Caim” (Bruxaria Lu-ciferiana) e representa o Senhor Negro do Sabá como uma forma do Adversário.


Uma representação deste caminho pode ser encontrada em minhas publicações, Bruxaria Luciferiana: O Livro da Serpente, que contém os grimórios “O Livro de Caim”, “A Goetia Luciferiana”, “Yatuk Dinoih”, “Nox Umbra”, “Paitisha”, “Azothoz”, “Vox Sabbatum” e muito mais. O infame Livro da Lua da Bruxa também apre-sentou uma base para os aspectos mais obscuros da feitiçaria e do vampirismo, os quais Aleister Crowley alude no livro “De Arte Magica”. O leitor que tem interesse na procedência do Sabá das Bruxas em consideração à gnose luciferiana referida neste artigo terá material de referência nos títulos mencionados acima, bem como nas obras de Kenneth Grant, que continuou o trabalho de iniciação de Crowley a partir de 1950.


Simbolismo e Compromisso

“O modelo da Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda é um desafio que ultrapassa os limites das limitações sociológicas; este é um tabu sem degradação psicológica e com um fortalecimento auto-motivacional através do ato de tornar-se um Deus ou Deusa para descobrir suas fraquezas e forças.” ADAMU – Magia Sexual Proibida.


As definições do Caminho da Mão Esquerda têm sido obscurecidas e, muitas vezes, mal interpretadas. Essencialmente, o Caminho da Mão Esquerda vem a ser, pela percepção universal, a mutação ou transformação da consciência em uma divindade ou divina, isto é feito através do processo da prática de Magia e Feitiçaria para lograr o movimento do corpo e a mente em direção a uma percepção superior. Os Adeptos Negros da Ordem de Fósforo e da Ordem Negra do Dragão são magos que se comprometem com o processo de exercícios mágicos determinados por eles próprios para refinar e expandir a consciência através da atividade física e mental. Isso in-clui, mas não está limitado à, Magia Sexual, prática cerimonial e trabalho solitário de todos os tipos para buscar os resultados iniciais da Magia em si.


Este não é um caminho de oração e súplica, mas de reconhecimento dos poderes inerentes do feiticeiro. As forças da Escuridão são chamadas como meios de expressão pessoal, fortalecimento e deificação.” – Nathaniel Harris, (autor do livro “Witcha – A Book of Cunning” e atual Magister do Red Circle, Inglaterra), excerto da introdução à Bruxaria Luciferiana de Michael W. Ford


A Bruxaria Negra, tal como definida nos grimórios acima mencionados, trata sobre autodeificação e também sobre uma maior expansão da consciência, transformando o mundano em divino, daí o simbolismo antinomiano e Satânico. No entanto, aqui está oculta, cifrada, a essência do caminho Luciferiano, são o compro-misso e a posse dos aspectos inferiores e superiores da identificação demoníaca que fortalecem as formas divinas encontradas nos grimórios negros e proibidos, como Adamu, Liber HVHI e Bruxaria Luciferiana. Não se trata de mero psicodrama e, dentro do círculo dos sábios, o mago não procura um espírito superior fora do seu ser, mas no interior; a coreografia e os instrumentos do ritual não são mais que ferramentas de capacitação pessoal como auxílio no processo de Transformação. A Bruxaria da “Mão Skir” inspirou-se internamente nas linhas familiares de Nathaniel Harris, que significa “Skir” como “mão esquerda” ou “sinistro”.


“O círculo, dentro da Bruxaria Luciferiana, representa o próprio espaço de união do corpo do feiticeiro, do espiritual/celestial e do carnal/infernal. Este é o símbolo do Sol e da Lua, a esfera que engendra força e o foco do Mago.” Adamu – Magia Sexual Proibida, por Michael W. Ford.


As ferramentas rituais dentro da Tradição Negra são tão variadas quanto os próprios feiticeiros. Alguns criam fetiches servidores, familiares demoníacos encarnados, frequentemente, criados e atados a objetos feitos a partir dos restos de animais, sangue ou fluidos sexuais para formar uma sombra visualizada que é importante para o feiticeiro. Alguns criam bonecas e outros usam poucas ou nenhuma ferramenta ou implementos exterio-res. O que continua sendo uma tradição entre esses Adeptos é o compromisso do espírito Luciferiano interno. Esta é a mente do praticante, que foi liberada através de práticas e pensamentos antinomianos, é por esse foco determinado que a Vontade do Adepto Negro foi transformada em um Ser Demoníaco. Dentro da antiga prática persa, Ahriman (Satanás), criou o dæ Akoman (que significa Mente Má), que é a Mente Luciferiana, que procura libertação e independência da mentalidade de massa ou rebanho, para se tornar algo “distinto” pelo caminho proibido ou “Malévolo” da Magia e da Bruxaria. Algumas ferramentas dentro da Arte Sinistra são muitas vezes consideradas como “objetos encantados”, fortalecidos pela prática ritual contínua pelo bruxo ou feiticeiro, que dá ao fetiche uma aparente vida independente, sempre de acordo com sua Vontade.


Alguns instrumentos rituais são: o Kangling Tibetano; uma trombeta feita do fêmur de um enforcado, uma faca ritual conhecida como Athame; de acordo com Idries Shah, “adhdhame”, sendo “quilha”, usado na prática ritual do Sabá para enfocar a Vontade ou projetar a Mente para a direção determinada do ritual Mágico, a lâmina, representando a Mente Luciferiana do mago, o cálice de crânio; feito a partir do topo de um crânio humano, se converte uma taça para a prática cerimonial ou solitária. Nenhuma dessas ferramentas rituais é ne-cessária para a consecução, que depende unicamente dos meios e predileção do feiticeiro.


As formas divinas mantêm um poder específico dentro dos cultos de bruxaria, a medida que são fortale-cidas pelos próprios praticantes. Os Deuses e Deusas não existiriam de forma tangível se a humanidade não os capacitasse, subconscientemente ou conscientemente, portanto, quando o Adepto se converte, a forma divina se converte. A energia Deífica é uma fonte que não se baseia apenas no sangue do praticante, mas também nos recessos atávicos ou primordiais da mente humana. Essa energia ou poder Deífico pode ser trazida à carne e à mente consciente do praticante, desse modo, o indivíduo encontra o conhecimento empreendido por correntes mais antigas, tais como a Golden Dawn, oa Maskhara das tribos árabes e asiáticas, o Zos Kia Cultus de Austin Osman Spare, etc. Existem inúmeros rituais explorados pelos praticantes do Sabá Luciferiano dentro da Ordem de Fósforo e da Ordem Negra do Dragão que usam métodos antigos de licantropia e o “desprendimento da car-ne”, para mudar o aspecto no sonho um uma forma Teriônica para sair das convulsões eróticas do Sabá Infernal


O Deus da Bruxaria Luciferiana é Seth-an ou Set (o mesmo que Samael, Satã). Este é o Príncipe Egípcio das Trevas, um Senhor do Caos e do poder feiticeiro. Set não deve ser considerado apenas um Deus em um sentido antropomórfico, mas uma força deífica que é a própria essência do nosso ser. Quando Azazel ou Lúcifer entregou a Caim a Chama Negra da Consciência, este foi um presente de Set para a humanidade. Ao trabalhar nos círculos de Arte Luciferiana, você está cumprindo sua antiga herança. Embora alguns escolham fugas menos perigosas do que esta; a realidade da bruxaria como uma gnose luciferiana não pode ser negada. O Grande Tra-balho em referência a Set é que o mago busca a divindade, que é consciência, individualidade e poder pessoal. Ao acreditar em si mesmo em vez de algo “superior” para você (o único ser Angélico [k] ou Demoníaco é VOCÊ, o Anjo Luciferino ou o Sagrado Anjo Guardião), você se se torna seu modelo.


Dentro da Tradição Negra, a Trindade Luciferiana de Samael-Lilith-Caim, tem importância no modelo da prática dentro do culto. Esta trindade é um processo alquímico de transformação no qual o mago se alinha e usa as associações de Samael-Lilith-Caim para transformar sua consciência na essência divina que é Baphomet, a cabeça do Conhecimento. Para descrever Samael, segue pequeno excerto de Liber HVHI, um trabalho ritual que define a prática mais profunda e mais obscura do Caminho da Mão Esquerda em termos de Bruxaria.


“Porque o Diabo é chamado Diabolus, isto é, que flui para baixo: aquele que cresceu com orgulho, determinado a reinar nos lugares elevados, caiu para as partes inferiores, como a torrente de uma corrente violenta.” – The Fourth Book of Occult Philosophy, de Heinrich Cornelius Agrippa


É descrito na Bíblia que Samael/Satã caiu abruptamente do céu como um raio, Aquele que antes da queda, era um Serafim em torno do trono de Deus. Após a sua queda, ele era um senhor da morte, o próprio veneno de Deus, no entanto, ele também era um Dador de Vida, sendo o pai entre os anjos caídos e as mulhe-res. Em escritos judaicos posteriores, Samael é associado ao nome de Malkira, que Morris Jastrow Jr. associou a Malik-Ra, sendo “o Anjo Maligno” e com o nome de Matanbuchus, sendo uma forma de Angro-Mainyush ou Ahriman. Aqui o círculo se completa e a natureza do Primeiro Anjo é percebida ou sentida. Em um trabalho ritual contínuo, o mago começa a se identificar com Samael (e Lilith) dentro dos parâmetros de sua própria vida e iniciação.


“O Senhor da Terra, sendo um nome atribuído a Samael (Satã) e seus anjos caídos e demônios, não são considerados mais que espíritos astrais, que já não tomam formas físicas, mas podem se manifestar através do mago ou bruxo que pode fazer com eles um “pac-to”, sendo uma iniciação e dedicação ao Caminho da Mão Esquerda. Samael é o espírito condutor/líder do Caminho da Mão Esquerda, pois sua Palavra é o que formou nosso pensamento e nos deu o fogo interno da Chama Negra, nosso processo individual de pensamento e livre arbítrio. Os magos que alinharam sua vontade com a Via Sestra, de Samael (o Diabo), receberam poderes sobre a terra de uma maneira ou de outra; ao mesmo tempo em que fortaleceram, definiram e expandiram sua consciência. No capítulo 7 do Êxodo, os magos foram capazes de produzir rãs e serpentes pelo poder que obtiveram no Diabo, portanto, tais criaturas são formas astrais de Ahriman (Samael) e o corpo em estado onírico dos bruxos e feiticeiros”. Liber HVHI


Aqui podemos ver que Samael ou Satã/Shaitan, não é o aspecto devorador de tudo, mas também é o salvador da humanidade e o semeador original da semente da luz em nosso ser. Através de Caim, sua linhagem sobreviveu e continuou na espiritualidade até o presente.


Lilith, como a Noiva do Diabo, é uma parte do Adversário, sendo o lado obscuro instintivo do homem e da mulher, o feminino, o horrível e amando a todos dentro do mesmo alento. Lilith é conhecida pela palavra semítica “Layil”, que significa “Noite”, mas também é o nome do demônio da tempestade. Lilith está associada com a coruja e outras bestas da natureza, pois é seu refúgio depois que deixou o céu para percorrer a Terra. Ela é considerada um dos Três Demônios Assírios, sendo Ardat Lilit, Lilith e Lilu, mas esses podem ser apenas variações de seu nome. Alguns acadêmicos hebraicos sugerem que Lilith foi adorada pelos judeus exilados da Babilônia como uma deusa do deserto.


Lilith, como descrito na literatura pós-bíblica, é vista como a Rainha dos Demônios, ela foi às cavernas perto do Mar Vermelho e copulou os anjos caídos para engendrar demônios, ela também ensinou esses anjos como formar corpos e ter relações sexuais para dar vida a outros “filhos dragão” (segundo o maniqueísmo – Az). Dizia-se que ela havia se encontrado com seu par, Samael (Ahriman), depois da queda, quando ele não podia ser despertado por seus companheiros caídos e demônios; somente as palavras de Az (Lilith) poderiam fazê-lo. Ele então beijou sua forma e causou a menstruação, a qual foi transmitida a todas as mulheres, pois Lilith está diretamente ligada a seus lados ardentes e obscuros.


Como descrito anteriormente, a Deusa da Bruxaria Luciferiana é Lilith ou Babalon. Ela também é Héca-te, a Obscura Deusa Lunar do Círculo Artificioso, cuja benção é a juventude, a imaginação e a morte ao mesmo tempo. O Filho está dentro de você e esse é Caim, o Dæmon Baphomético cuja magia(k) é a essência fundamen-tal da religião da feitiçaria. O próprio rito de projetar o círculo, como descrito por Gerald Gardner, apresenta a Mãe da Bruxaria: “Mãe, Obscura e Divina, Meu é o Açoite e Meu o Beijo, a Estrela de Cinco Pontas de Amor e Êxtase”. Dentro do círculo está o Graal do Adversário, através do amor próprio, a essência do pentagrama pode ser sentida e compreendida. Ele se refere a Hécate ou Lilith (através de Diana) como a “Senhora Negra do Inferno, a Rainha do Céu”. Esta é a natureza dual do Diabo e sua Noiva, ou Adversário; que pelos ritos do Sabá, sejam preenchidos os cálices do Céu (o Aethyr, o Sabá Luciferiano) e o Inferno (o Infernal, o Sabá Ctónico).De acordo com alguns relatos, Caim foi o filho nascido de Samael (o Diabo) e Lilith (através de Eva); o primeiro Satanista e Bruxo.


“É dito nas tradições obscuras que a Bíblia está equivocada sobre o verdadeiro parentesco de Caim. Caim era de fato um filho bastardo meio humano e meio demônio de Adão e Lilith. Foi por esta razão que o Senhor se recusou a aceitar suas ofertas e orações, nem qualquer demanda específica de sacrifício de animais. A história continua com Caim sendo amaldiço-ado para vagar pela terra como um vagabundo, cultivando a terra que nunca dará recompensa.” – Nathaniel J. Harris, em “The Mark of Cain, the First Satanist and First Murder.”


Em determinada fonte rabínica, as filhas de Caim se uniram sexualmente com os Anjos Caídos, os Vi-gilantes, e deram à luz os Nephilim, os Gigantes belígeros e brutais. Dizia-se que eles povoaram a terra em abun-dância e atacaram os filhos de Seth. Na tradição maniqueísta, a Rainha dos Demônios e a iniciadora espiritual de Caim, Lilith-Az, ensinou aos Anjos Caídos como formar corpos físicos e se uniu com outros sexualmente. Também é sugerido por escritores como Kaufmann Kohler, W.H. Bennett e Louis Ginzberg que os Filhos de Caim passaram seus dias ao pé de uma montanha (o Éden?) em orgias selvagens à música de Lúcifer criada através de Tubal. As mulheres, as primeiras Pairikas ou Fadas/Bruxas, em suas aparências belas, convidaram os filhos de Seth (filhos de Deus) e copularam com eles, dando à luz outras crianças. O folclore judaico apresenta as primeiras formas do Sabá das Bruxas como uma celebração Luciferiana e prática de magia sexual.


“Para Philo, da mesma forma, Caim é a classe de avareza, de “insensatez e impiedade” (‘De Cherubim’, xx.) e de amor próprio (‘De Sacrificiis Abelis et Caini’; ‘Quod Deterius Potiori Insidiari Soleat,’ 10). “Ele construiu uma cidade” (Gen. iv. 17) significa que “ele construiu um sistema doutrinário de anarquia, insolência e indulgência imoderada no prazer” (“De Posteritate”, 15); e os filósofos epicuristas são da escola de Caim, “alegando ter Caim como mestre e guia, que recomendou a adoração de poderes sensuais em preferência aos poderes do alto e que praticou sua doutrina destruindo Abel, o expositor da doutrina oposta” (ib. 11).” – The Jewish Encyclopedia, compilado por Kaufmann Kohler, W. H. Bennett, Louis Ginzberg.


Podemos perceber assim que Caim é, portanto, uma personificação de carne e sangue do Caminho Luciferiano, ele é o Filho de Satã e Lilith, a essência obscura que se conecta profundamente com Eva, a esposa de Adão. Caim não é apenas o guia pai das Bruxas, ele também é o símbolo do iniciado no caminho antinômico.Nathaniel Harris, um Bruxo Hereditário britânico, possuidor de um longo envolvimento em vários círculos mágicos e autor de grimórios, não só dentro da Tradição Negra, mas também no caminho tradicional de Witcha, é corajoso o suficiente para apresentar ideias de nossa linhagem espiritual encontrada nas mentes em um estado onírico dos Irmãos e Irmãs Artificiosos. A Marca simbólica da iniciação, que Aleister Crowley chamou a Marca da Besta do Apocalipse no Livro de Thoth, levou a diferentes interpretações de sua forma, mas a própria função em si é clara.


“Essa marca ou estigma pode ter sido uma referência a algum tipo de tatuagem. A história pode referir-se original-mente à tribo nômade dos Kenitas, ourives itinerantes que acreditavam ser descendentes de Caim, também relacionados aos Medianitas e Israelitas que viajaram pelo deserto árabe por volta dos séculos XIII e IX a.c. Eles vingavam a morte de qualquer membro da tribo com severidade. Posteriormente, nos tempos da perseguição à bruxaria, tal marca foi associada às marcas conferidas aos iniciados do culto. Historicamente, Caim é reconhecido como um iniciador em várias sociedades heré-ticas, incluindo a antiga Fraternidade dos Homens Sapo” – Nathaniel J. Harris, Witcha, A Book of Cunning (Mandrake de Oxford)


Esta marca é representada como um Glifo do Compromisso Antinomiano, do ser despertado para o Caminho do Diabo e de sua Noiva, para se transformar através do Espírito Dæmônico inerente ao nosso san-gue. Este processo dinâmico foi representado nos grimórios do livro Bruxaria Luciferiana de várias maneiras; no “Yatuk Dinoih”, apresentei um sistema coerente com Trabalhos Cainitas baseados no espírito isolado que é personificado na Carne do iniciado, representado também em “Paitisha”, o “Rito de Zohak” e outros trabalhos do grimório. O espírito de Baphomet ou da Cabra Sabática, o Deus dos Bruxos, é revelado, portanto, como o próprio Caim, o Deus Bestial que se despojou da carne para descobrir a cabeça do Dæmon do Deus-Bruxo Te-riomórfico.


Uma vez que se tenha iniciado o processo de separação, a ignorância cai como argila queimada nas cha-mas enegrecidas, o espírito se eleva para dançar em formas retorcidas no sentido anti-horário, o corpo juntamen-te com a sombra e a luz copulam com a Música(k) de Tubal Caim e o Círculo do Sabá está completo.


Fundamentos da Bruxaria da Mão-Skir

As propostas dos fundamentos da feitiçaria provêm das primeiras lendas, memórias e mitologia da hu-manidade. Caim, que vagou no leste para a Terra de Nod, tornou-se, de acordo com a “verdade do círculo”, o primeiro Satanista e Bruxo, cujos filhos geraram outros e a linhagem da Arte nasceu. Sugere-se em algumas tradições judaicas que as filhas de Caim foram aquelas que seduziram ou copularam com os anjos caídos, os Vigilantes. É com os Vigilantes que os aspectos desequilibrados da magia Angélica e Satânica são encontrados – estão nas profundezas atávicas, onde esta linhagem de sangue está profundamente enraizada em nossa psique, juntamente com as Serpentes e atavismos Teriônicos dentro da nossa carne. Em “O Livro de Enoque”, traduzido do etíope por R.H. Charles, no capítulo 69, encontramos os nomes, e neles, a essência dos Anjos Luciferianos, que são a própria fonte da arte da magia. Os Vigilantes mencionados que desceram de volta à terra foram: Samya-za, Artaqifa, Armen, Kokabel, Turael, Rumyal, Dánjal, Neqael, Baraqel, Armaros, Batarjal, Busasejal, Hananel, Turel, Simapesiel, Tumael, Turel, Rumael e Azazel. Estes são alguns dos nomes dos Chefes dos Vigilantes que encarnaram. Jeqon levou os outros à terra para cobiçar as filhas de Caim. Foi dito que Asbeel deu conselhos do-entios aos Filhos de Deus, sendo os Vigilantes, que eles deveriam sair e copular com as filhas de Caim. Gadreel ensinou aos homens, mulheres e crianças os golpes da morte e a criação de armaduras e armas. Penemue ensinou aos sábios a arte da tinta e da escrita, bem como o amargo e o doce, o bom e o ruim. Este é o espírito que deu artifício ao Livro da Arte, que engendrou ao Demônio e ao Anjo, das formas Teriônicas das Trevas fez carne, a arte da licantropia. Kasdeja ensinou aos homens a arte de trabalhar com demônios e espíritos, além de abortos e a arte secreta da Serpente de Meio Dia, Tabaet. O espírito angélico Kasbeel foi o portador do Juramento; quando ele estava no céu, seu nome era conhecido como Biqa.


Procuro enfatizar as ideias ecléticas da Bruxaria da Mão-Skir dentro do Círculo que todos podem trazer de sua imaginação para o arcano do Espírito Luciferiano, seja na escuridão ou na luz. A medida em que a rea-lização da experiência iniciática é conhecida pelo indivíduo, o sentimento de vazio deixa de existir em relação à identificação e comprometimento no coração do Bruxo; se conhece e se crê de acordo com a predileção do Adepto. Os trabalhos rituais encontrados no grimório Bruxaria Luciferiana e em outros trabalhos meus apresen-tam meios reais para manifestar espíritos Infernais e Luciferianos, sombras atávicas que o feiticeiro pode infundir em seu próprio arcano prático. Pode-se tomar como referência as bases do grimório “A Goetia Luciferiana”, é alinhado ao Caminho da Mão Esquerda e aos 72 Espíritos da Goetia, embora sejam os rituais que preparam o mago para convocar e lidar com tais espíritos. A Invocação do Santo Anjo Guardião, Azal’ucel, assim como a Invocação do Adversário, preparam o estado mental do mago; ao invés de adotar um dogma cristão, o espírito dæmônico é iluminado internamente através de uma prática determinada e focada. Essas coisas também podem ser consideradas no compromisso necessário para este caminho e o círculo da Bruxaria Luciferiana, mesmo dentro das obras da luz, o feiticeiro está se tornando a Chama Negra de Azazel (de forma sigilizada, entoada no mantra, Azal’ucel). Este é, obviamente, um sério ponto de introspecção que o indivíduo precisa atingir antes de prosseguir; um nível de habilidade que se sente ao invés de ser aprendido. Compreende-se então como a Corren-te Iniciática dos Vigilantes, o Chamado do Sangue Feiticeiro de Nosso Pai, o Diabo por Caim e Tubal Caim, o Iniciador e sua Mãe Lilith-Az sobrevive. Aqueles do caminho Yatu – ou Feiticeiro de Ahriman dentro do Círculo de evocação ritual, conhecido como Azothoz, fazem com que as sombras Terial-Atavisas emergam da escuridão da carne. Azothoz na tradição do círculo, representa o Alfa e Omega, sendo o Início e o Fim, que também é a corrente primária da serpente ou Az – Azhi Dahaka, o Dragão Rei da tradição da feiticeira persa. Os indivíduos ligados ao Yatu (ou Caminho Feiticeiro de Ahriman) fazem com que as forças Teriônicas-Atávicas emerjam da obscuridade da carne dentro do Círculo de evocação ritual, também conhecido como Azothoz. Por sua vez, na tradição do círculo, Azothoz representa o Alfa e o Ômega, o Início e o Fim, que também é a corrente primária da Serpente ou Az-Azhi Dahaka, o Dragão Rei da tradição persa de feitiçaria.


A Grande Obra, como pode ser vista no modelo do Sabá das Bruxas, revela-se uma jornada desafiadora e obscura em que o iniciado bebe avida e profundamente o Sangue envenenado de Seth-an no Cálice feito com um crânio humano, o iniciado ingere a Carne de Abel, cujo sangue é oferecido ao seu próprio Anjo-Demônio, a própria essência e representação da Grande Obra em si. O Sabá como uma dupla participação do sonho e o ritual cerimonial/solitário é representado como encarnação do desejo e da crença, na qual o arcano de Caim é revelado ao iniciado, onde não há diferença entre a Grande Meretriz, Lilith-Az e Samael como o Adversário, todos são ‘um’ através da expansão e deificação do Mago. Em suma, o feiticeiro se torna um receptáculo e expres-são de Ahriman e de sua Noiva, o Círculo de Lúcifer se completa e a projeção traz Caim; portanto, o iniciado é o primeiro do Sangue dos Bruxos e a Gnose da Sombra e da Luz da Mão-Skir.


Os fundamentos da gnose da Bruxaria Luciferiana se encontram no círculo, o próprio lugar de convoca-ção onde os nomes das forças Deíficas Infernais estão traçados, desde Azazel ou Ahriman no antigo cruciforme persa, aos sigilos luciferianos medievais que anunciam a encarnação do poder satânico, nossa herança e linha-gem espiritual. Este artigo tem como meta iluminar aqueles que condenariam isso na primeira oportunidade sem considerar seu significado mais profundo; mas é preciso saber que aqueles que seguem esse caminho serão considerados amaldiçoados e serão condenados pela sociedade. Uma vez que você anda pelo caminho da inicia-ção, o Sangue do Diabo estará nas suas veias, sua sombra será a dança obscura do Dæmon e do Angel, de Caim e Lilith.


O ritual do Sabá dentro da Ordem de Fósforo é aquele que ecoa os conceitos e ideais antigos que des-crevem o rito. Alguns procuram deixar a carne na noite e sair em espírito para o círculo, outros acham a prática cerimonial mais atraente, enquanto outros praticam solitários e sua imaginação abre as portas para o encontro infernal e celestial. Na obra “Ecstasies: Deciphering the Witches Sabbat”, de Carlo Ginzburg, descreve-se um rito em que os atributos mencionados têm ressonância não só com a prática atual, mas também com as práticas an-tigas: “… o diabo apareceu-lhes na forma de um animal preto – às vezes um urso, às vezes um carneiro. Depois de ter renunciado a Deus, fé, batismo e a Igreja”. Continua a descrever os horríveis ritos de maldição. Outra seção menciona feiticeiros que usam a pele dos lobos para operações licantrópicas. Este é um processo de ressurgimen-to atávico e ainda é praticado hoje, embora dentro da afirmação do Diabo seja uma associação mais profunda à autodeificação e ao reconhecimento da mente consciente; a licantropia praticada é a convocação atávica da Besta/Therion – as sombras dentro do corpo e da mente.


Em suma, a Bruxaria da Mão-Skir pode ser vista como uma prática racional e de fortalecimento; essa dedicação exige mais do que curiosidade, e os resultados e benefícios serão conhecidos por aqueles que estão dispostos a se dedicar instintivamente a si mesmos. A corrente da Bruxaria Luciferiana é uma gnose poderosa e multicultural; fala para aqueles que podem ouvi-la e eleva aqueles que se atrevem a praticá-la.

A Declaração de Azazel


Voltai-vos agora para mim, pois eu sou Azazel, Primeiro Arauto das hotes infernais, e de Lúcifer, Senhor da Luz, Arquidemônio do Inferno, que é exaltado como Satanás, o grande inimigo de Deus. Pois eu falarei de sua própria inspiração e do peso do que recebeste.


Saiba, então, que, quando todo o céu foi abalado com a catástrofe da Segunda Guerra Seráfico, apenas o grande esforço do Arcanjo Masleh pode parar  o ataque do caos que ameaçava engolir tudo. Mas, quando o reino de Deus estava novamente seguro, não havia mais alegria no Céu, pois terrível foi o preço da guerra. quando Masleh levantou seu olhar, seu rosto ficou escuro, pois o grande conflito dizimou um grande número. Legiões de criaturas do Céu pereceram na batalha, e um terço abandonou o Céu para atender ao chamado de Lúcifer. E todo o Céu foi abafado pela dor, a força deste desastre foi grande e o reino de paz foi esmagado.


Finalmente Masleh convocou os arcanjos fiéis, e eles eram Miguel, Gabriel, Rafael e Uriel. E disse-lhes, vencemos Lúcifer, e o Céu esta purificado. Nós mesmos ainda que em menor número e trágica situação não temos a majestade de Deus diminuida por isso. Eis que eu, que triunfou sobre o grande inimigo me torno agora o Messias, o escolhido de Deus. E eles respoderam e ele, tu és Em verdade o Filho de Deus, porque em ti está a Vontade de Deus tornada pessoa.


Em seguida, disse Michael: Messias, Lúcifer foi vencido, mas ele não é passado. Pois ele se aventurou nas trevas exteriores, ainda que exista à parte de Deus. E com o poder de sua Chama Negra ele criado um inferno, onde todas as Vontades existem igualmente, e ele se proclamou Satanás, pois ele nunca deixará de declara sua contestação a lei de Deus.


Messias pensou, e ele respondeu, eu não quero que essa paz que conquistamos a preço tão caro seja perdida para a guerra novamente, pois o próprio conceito de guerra Seráfico é uma aversão a Deus.


Que a minha palavra seja levada a Satanás Eu, o Messias, permito a existência do Inferno, e as bênçãos de Deus nunca entrarão em seus portões. E tu, Satanás, eu o admoesto a nunca retornar ao Céu pois eu novamente lhe jogaria para fora. Mas, se tu te atreveste a tentar a Vontade de Deus e Messias, saiba que na Terra vou ordenar a nova raça de Deus, que será  de meu projeto perfeito e imaculado para tua falha Infernal. Pois tu és o autor de ruína e morte para a nossa ordem Angélica, e nem céu nem inferno serão agora serão eternos salvo através do homem.


Nisso Gabriel, que estava Proclamando o Céu, trouxe esta mensagem para mim, e eu trouxe-a através do grande vazio até Satanás, que disse que o Messias estava propondo trégua entre nós,  pois percebeu que nem o inferno nem o céu poderão exercer a vitória final contra o caos. Mas ele acha intolerável este impasse, e agora quer que esta nova raça dos homens, preservem sem defeito o esquema de Deus. Assim, ele faria os homem conseguirem o que os anjos não conseguiram e limpar todo o livre pensamento do Universo para sempre.


E Satanás se virou para mim e disse: Diga ao Messias que a Terra não será santuário para ele manter inviolável a sua obliteração doentia do Eu. Pois eu dou ao homem uma mente, e de sua própria vontade, ele reconhecerá e rejeitará a morte em vida que Deus lhe oferece. Na verdade, ele deve dominar o Universo, mas ele deve fazê-lo em seu próprio nome e não por Deus.


Em seguida, Messias chamou o Arcanjo Rafael e o mandou para a Terra com um grande exército para proteger o homem contra a vinda de Satanás. E o homem era, então, como um animal simples, pois ele não conhecia os pensamento e sorria com a idiotice de sua inocência. Impulsionado apenas pelo instinto e necessidades físicas e respondia com indiferença as causas e razões.


No inferno foi chamado um grande conselho, e todos se reuniram para ouvir sobre o homem e sua Terra, e sobre seu modo de vida. Eu falei do homem que eu tinha visto, e disse: Esta criatura é agora guardado por Rafael, e pela sua proteção não se pode intervir, pois causaria a destruição da Terra em si. Mas Satanás disse, não será pela força que minha luz chegará ao homem, pois força bruta não é o modo do Inferno. Eu mesmo vou visitar o homem, e os anjos de Rafael não me impedirão. Eles só podem perceber o que Deus permite que eles vejam, e o espírito satânico é de uma essência que é estranha a Deus. Anjos já não seremos eu os chamo Demônios, para o Inferno ensinará ao homem a sua genialidade futura.


E diante de nós Satanás perdeu sua forma e tornou-se novamente na essência de Lúcifer, e vimos um brilho que infundiu todo o inferno e enviou grandes relâmpados de luz prismática no vazio que nos cercava. E o brilho disse, eu sou Lúcifer revelado, sou a Chama Eterna. Eu vou agora para a Terra, para que o homem não seja mais confundido em sua ignorância. E então o brilho tornou-se como um flash de fogo na vastidão do espaço, e nós sabíamos que Satanás tinha partido do Inferno. Mas na Terra, onde o homem vagava em êxtase irracional, o firmamento brilhava com línguas de fogo, e toda a terra foi coberta pela Chama Negra, que não queima, embora atraia o olho para vê-la.


E Rafael e os Anjos seu tutor ficaram consternados, por nada podiam ver o homem ou o espírito que tinha chegado a ele. Em seguida, fez Raphael convocar Michael para atacar a Chama Preto com a força de Deus, mas, mesmo assim, foi a Chama desaparecimento de sua própria vontade. E no primeiro momento parecia que a Terra não foi alterada, mas aos olhos do homem que Raphael ver o primeiro raio de pensamento.


E Rafael virou-se para Michael, que já tinha respondido a sua chamada, e disse que Satanás veio para a Terra, e o homem não é mais pura segundo o olhar do Céu, pois sua Vontade tornou-se  própria. Então eles se levantaram de novo para o Céu, onde contaram Messias o que haviam visto.


Em seguida, Messias respondeu, o homem caiu, mas ele não está perdido, pois sua jovem Vontade não é como a de um anjo, e os poderes que Satanás promete permanecem latentes apenas nos trechos sombrios de seu futuro. Não considerem esta nossa derrota, mas o começo de nossa disputa. A Terra do homem será refeito como microcosmo, e muitas coisas verá o homem, tanto do bem como do mal. E a escolha deve ser colocada antes deles, para sentirem o poder, a dor e o terror do Presente de Satanás, ou para voltar novamente para o paraíso da paz Celestial. O que seria do próprio Satanás se descobrir que o homem rejeitou o seu presente? isso tremeria os alicerces do próprio inferno como a grande guerra fez com os bastiões do céu.


E Messias chamou Uriel, Arcanjo do Terror, a quem ele disse: A Terra deve mudar, e todos os sentidos do homem deve ensinar-lhe repugnância e medo. Ele deve saber aprender que este é o preço de sua nova identidade – que tudo separado de Deus é o mal – e com medo, ele deve abandonar o presente de Satanás e tornar-se mais uma vez um cordeiro de Deus. E Uriel respondeu: Isto será feito, mas como o homem poderá aprender sobre o Céu e o Inferno se ele ainda não pode ver as visões que temos em nosso paraíso celestial?


Messias respondeu: As leis de Deus serão dadas ao conhecimento do homem, pois eu os lhe ensinarei. Entre os homens haverá alguns a quem eu me revelarei, e grandes poder darei a esses profetas, para que as suas palavras possam atingir a Terra inteira.


Então Uriel veio para a Terra, e a história do homem foi escrito com sangue, sofrimento, ódio e guerra. Mas para os homens escolhidos veio Messias, dizendo: Através de Deus toda a miséria será extinta e todos os homens que se curvam a Deus conhecerão as bênçãos do Céu. Pois eis que eu desço entre os homens e lhes mostro os caminhos do Senhor Deus.


Eu ouvi estas palavras pois fui colocado por Satanás para assistir o que ocorria no Céu. E levei-as a Satanás, que voltou em grande ira, foi até Gabriel na barreira entre o Inferno e o Céu, e disse que entregasse esta mensagem para Messias que, assim como ele se esforçou para perverter o seu presente para a maldição do homem, então eu o aviso que o homem o destruírá na Terra e assim será finalmente o fim do próprio Céu. Pois Messias não conhece a força contra a qual esta concorrendo e as leis de Deus serão um dia meros joguetes nas mãos da criatura que agora ele humilha.


E, assim, foi decidido um encontro ente Satanás e Messias na Terra para determinar o futuro do homem.