sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O Caminho Sinistro – Parte 2



Preparação

Saudações, leitor. Já a partir deste, você encontrará similaridades com o artigo anterior. Nossa caminhada seguirá um padrão monográfico, para otimizar a compreensão e os processos cognitivos envolvidos. Em “Preparação” serão abordados temas introdutórios, ou uma explicação retrospectiva, para que você tenha tempo de abandonar o que estava fazendo anteriormente e conectar-se ao conteúdo. Em “Meta-Percepção” serão abordados jogos e exercícios intuitivos para aprimorar sua capacidade perceptiva no que se refere a coisas que são ditas em um padrão diferente da linguagem direta. Meta-percepção é a habilidade de perceber que está percebendo alguma coisa. E, finalmente, em “Considerações” será proposta uma ideia a ser trabalhada até o próximo passo n’O Caminho Sinistro, além de feitas, se necessárias, observações e explicações pertinentes.

Desde a publicação do primeiro artigo, pessoas próximas têm me perguntado por que optei por uma abordagem tão básica, e a resposta é simples: porque ninguém o faz. A senda sinistra é muito mais complexa do que o satanismo e o luciferianismo jamais serão juntos e há interpretações errôneas e tabus suficientes para induzir o mais atento dos adeptos ao erro. O objetivo desta caminhada inicial é encher os pulmões com uma nova golfada de ar para galgar uma colina, onde poderemos secar o suor à ilharga do braseiro, mas acima de tudo aproveitar a vista privilegiada. Preparado?

Meta-Percepção

Antes de qualquer coisa pare e se pergunte por que você está aqui, lendo isso.
Se você leu atentamente a primeira parte d’O Caminho Sinistro, deve saber que essa pergunta não tem uma resposta correta sequer, apesar de ter várias.
Não se trata da resposta, mas da pergunta, caro leitor.
Há uma máxima contemporânea que diz que feliz é aquele que sabe o que procura, pois o que não sabe, não vê o que encontra. Ao se deparar com a necessidade de saber o motivo de estar aqui, lendo isso, onde você busca os recursos para preencher a lacuna? Há mesmo uma lacuna a ser preenchida? Você “percebe” que a única pessoa a quem precisa realmente responder essa pergunta é a si mesmo? Percebe como isso muda completamente o contexto da pergunta e o universo de respostas? Percebe que, mesmo com a mudança de paradigma, a pergunta ainda carece de resposta?
Talvez a decomposição da proposta simplifique-a: “você está aqui”?
É chamada de propriocepção a capacidade de reconhecer, sem auxilio visual, seu posicionamento no espaço e esta funciona mesmo em nível inconsciente. Quando seu corpo é inclinado lateralmente, o cerebelo ativa o reflexo corretivo, fazendo com que você incline a cabeça para que sua linha de visão se alinhe novamente com o horizonte. Você não apenas está no espaço, como tenta inconscientemente se harmonizar com ele. Da próxima vez que isso acontecer você vai, provavelmente, tentar assumir o controle. Este é um exemplo mais complexo, mas funciona com qualquer função orgânica que normalmente façamos automaticamente, como respirar, contrair ou relaxar um músculo, piscar os olhos e assim por diante. No momento em que você assume o controle consciente de uma função orgânica e pensa ativamente sobre isso, você ganha ciência sobre o espaço que ocupa e começa a ter lapsos sobre como funciona sua própria consciência. Você percebe ativamente que está aí?
Antes de prosseguir pare e se pergunte por que você está aqui, lendo isso.

Panchamakara

No texto anterior conhecemos de forma breve as práticas dos Aghori, praticantes extremistas do Vamachara da linhagem Kapalika; hoje daremos um passo adiante na direção do Tantra sinistro de uma forma geral, para que você esteja definitivamente familiarizado com a origem da doutrina sinistra e, desta forma, possa tanto evitar engodos quanto construir suas próprias impressões sobre a mesma.
Na tradição védica designa-se pelo termo sânscrito “sadhana” qualquer meio espiritual para se alcançar o “moksha”; a libertação do ciclo de renascimento e morte. O Vamachara, ou caminho sinistro, é um sadhana, mas isso não impede que existam outros sadhanas específicos dentro da doutrina. O mais notório deles é o Panchamakara, ou “cinco M”.
Por melhor que o caminho destro tenha tentado adaptar os significados esotéricos dessa prática tradicionalmente sinistra, é difícil transpor todo seu significado sem distorcer a moral no sentido como conhecemos. O princípio básico de prática está na afirmação de Shiva (no Maheshvara Tantra) de que através da paixão é possível transcender. Os “cinco M” são os cinco aspectos envolvidos na união amorosa com a shakti (a mulher, e esta deve sempre ser vista como uma encarnação divina), a saber:
– Madya: Vinho. Transforma e ativa o tattva do ar e simboliza a intoxicação mística causada pelo amor e o néctar divino (amrita), de face feminina e ligada à shakti.
– Mamsa: Carne. Transforma e ativa o tattva do fogo e simboliza a consciência e a contemplação, de face masculina e ligada à Shiva.
– Matsya: Peixe. Transforma e ativa o tattva da água e simboliza a extensão por onde Kundalini ascende e/ou descende sob o controle do pranayama.
– Mudra: Não possui tradução literal, mas no Vamachara representa um companheiro espiritual, guru ou parceiro de sexo tântrico. Os dakshinacharyas, praticantes da mão direita, substituem esse elemento pelo cereal integral ou maltado… pois é. Transforma e ativa o tattva da terra.
– Maithuna: Traduz-se grosseiramente por ato sexual e é o elemento mais mal interpretado do Panchamakara. Obviamente não se refere à relação sexual comum, mas à união entre mente individual e mente cósmica. E, de qualquer forma, a prática tântrica ensina que o bindu (o núcleo manifesto da criação) deve ser preservado, e isto é feito evitando-se o orgasmo. Transforma e ativa o tattva do éter.
Talvez seja difícil imaginar inicialmente, mas o uso literal dos elementos do Panchamakara ajuda o praticante a destruir noções de egoísmo e falsas noções de pureza e são usados na maioria das vezes para recondicionamento mental e/ou para quebrar ciclos de pensamentos ou comportamentos negativos. Lembrando que um rigoroso nível de disciplina é exigido enquanto o praticante envolve-se nesse tipo de atividade sob o risco de incorrerem dependência psíquica e distúrbios orgânicos. Perceba que eu não descrevo o ritual em si; isso é proposital, tendo em vista que nossa caminhada não é doutrinária em sua natureza, mas explicativa. Houve um esforço da minha parte, contudo, para sintetizar o conhecimento sobre cada aspecto para que você mesmo possa fazer suas correlações durante a fase de estudo. Mudra, por exemplo, tem uma forte ligação alegórica com a Shekhinah inferior (Malkuth), daí a discrepância do significado para vamacharyas e dakshinacharyas.
Agora, caro leitor, o convido a fazer uma rápida análise por mera reflexão herética, lembrando que o ritual de Panchamakara tem como objetivo elevar o praticante à condição divina temporária, através da expansão da consciência e do refino pessoal. Onde mais você já viu estes elementos juntos? O vinho (“meu sangue”), o pão (“meu corpo”… agora o cereal faz sentido ao invés de guru?), o peixe e a carne (sobre a mesa) e a comunhão íntima entre corpo e espírito. Eis aí todos os elementos em forma literal. E se algum de vocês quiser entender que “consumir o corpo” do guru não se referia exatamente aos cereais, eu prometo que não vou impedir ninguém, afinal sexo tântrico é uma via de sublimação espiritual. É importante neste momento que vocês considerem, independente de se em forma literal ou alegórica, a possível ironia da incorporação do caminho sinistro à tradição cristã e passem a entender como é especialmente importante o valor da percepção e da interpretação na nossa caminhada.
Tanto a exegese quanto a gematria não apontariam mudança na essência “divina” do rito caso este fosse sinistro e, a bem da verdade, a interpretação literal é inconclusiva. E, não se engane, o desconforto moral que surge em grande parte dos casos não é, nem de perto, um indício real da essência das coisas.

Motivação Intrínseca

Como no artigo anterior, parte do texto será dedicada à origem e explicação da doutrina e parte dedicada a uma análise contemporânea sobre a mesma, desta forma no final de nossa caminhada você terá um apanhado geral sobre passado e presente, causas e conseqüências e, com sorte, teremos um grupo bem instruído.
Por que você faz as coisas que faz? Calma, essa não é uma das perguntas da seção Meta-Percepção. Quando você quer ser o melhor no que faz ou quando faz algo por diversão ou prazer o que o propulsiona em direção ao seu objetivo é a motivação intrínseca. Esse tipo de estímulo tem grande funcionalidade prática, por não depender diretamente da aprovação ou avaliação de terceiros, por facilitar e agilizar o mecanismo de recompensa, mas especialmente por não gerar quantias consideráveis de tensão e ansiedade.
No que se refere ao ocultismo sinistro, o comportamento ativado por recompensas internas deveria ser regra, mas a realidade está mais próxima do extremo oposto, pelo menos para a maioria, e aqui reside um problema que devemos evitar.

Motivação Extrínseca

Toda vez que você faz algo esperando uma recompensa, tangível (dinheiro, presentes) ou intangível (elogios, reconhecimento), aquilo que o propulsiona em direção ao seu objetivo é alheio a você. E se você pensar por um instante, simplesmente não faz sentido qualquer ato oculto cujo benefício não possa ser “recebido” diretamente através de si mesmo.

[IMPORTANTE] Se você não pode gerar e manter uma coisa que deseje com seus próprios recursos, não tente consegui-la através das artes ocultas. Nunca. Essa não é a função de absolutamente nenhuma doutrina sinistra. A evocação goética (que, por falar nisso, é um rito essencialmente do caminho da mão direita, como a quase totalidade do que tange a demonologia) é extremamente nociva sem um profundo conhecimento prévio e prática de teurgia. Absolutamente nenhum pacto favorece o contratante, e é mais fácil Mefistófeles executar o contrato do que Fausto encontrar outro Eterno Feminino que por ele interceda. Estude. Trabalhe. Tenha relações edificantes. Apenas o mérito constrói o êxito. Você foi avisado.

Portanto o principal erro, e também o mais comum, dos iniciantes no caminho sinistro é usar um fator extrínseco como motivação. Há os que querem grandes quantidades de dinheiro, sexo fácil, poder (sem conhecer sua definição exata, confundindo às vezes com arrogância, prepotência e pedantismo), atenção (esses são incontáveis), opor-se ao status quo ou alguma organização ou entidade específica por rebeldia e há ainda os que simplesmente buscam aceitação de algum grupo. É muito provável que você conheça alguém com motivações assim, elas existem nos dois caminhos, mas são uma praga particularmente persistente no caminho sinistro e, se você for uma dessas pessoas e ainda estiver aqui lendo isso, reavalie-se.
Em um contexto mais refinado, mas ainda no campo da motivação extrínseca, há casos de pessoas que buscam o caminho sinistro para desenvolver ou treinar traços da personalidade que não possuem. Um ESTJ (extrovertido, sensorial, racional e juiz, na escala Myers-Briggs) acredita que pode tornar-se um INTJ (introvertido, intuitivo, racional e juiz). Ou um “azul” (na escala Taylor Hartman) acredita que pode tornar-se um “vermelho” apenas porque entende o estereótipo desta forma. É realmente necessário apontar a futilidade aqui?
São estes tipos de motivação (ou falta dela) que diluíram ou apagaram totalmente os conceitos tântricos originais, desaparecendo com boa parte da metodologia e da disciplina mental no caminho sinistro moderno, que hoje é em grande parte “inventado” com base no humor do praticante. Desnecessário dizer que isso o deixa suscetível ao delírio e à paranóia, tanto astral quanto mundano, justamente pela falta de disciplina e perspectiva. O circo de horrores que você provavelmente conhecia não é o caminho sinistro. Não é sequer um caminho. É a fossa.


Fonte:http://www.deldebbio.com.br

O Caminho Sinistro – Parte 1



Preparação

Diante da crescente torrente de absurdos vistos na internet envolvendo o Caminho da Mão Esquerda (que prefiro chamar de Caminho Sinistro, por motivo fonético e abreviativo apenas, vide adiante), nasceu a necessidade de trazer luz ao tema. E não se trata de mero jogo de palavras, há uma errônea associação compulsória do caminho sinistro com as trevas e a malignidade que deve ser desfeita durante a nossa caminhada juntos.
Não tenhamos pressa, contudo. Vamos lidar aqui com temas e conceitos que se opõem ao status quo e elementos fortemente enraizados no inconsciente coletivo, e isto NÃO é sinônimo de lesar a integridade física, a humanidade, as leis básicas ou a propriedade, de si mesmo ou de outrem. Se você entende a associação a uma ordem ou culto sinistro como um facilitador para a prática de más ações, saiba que o Código Penal brasileiro prevê tal intenção em seu artigo 288. E se você tem inclinação criminal, peço encarecidamente que pare por aqui.
Uma coisa que talvez decepcione alguns de vocês é que eu não vou dar carteirada. Não vou me esconder atrás de um nome mágico de demônio milenar, nem apresentar cargos, graus iniciáticos e títulos, pois creio ser desnecessário nesse momento. Espero que você se contente, por hora, em saber que sou uma pessoa relativamente acessível, apesar de introvertido.
Bom, vamos ao que interessa.

Meta-Percepção

Antes de qualquer coisa pare e se pergunte por que você está aqui, lendo isso. O Ego destreinado tende a responder que está aqui “porque quer”, porque assim o decidiu baseado em uma escolha pessoal qualquer, e a estes eu surpreendo dizendo que estão aqui porque eu quero. Claramente não escolhi cada leitor deste artigo, mas escolhi ter leitores, escolhi transmitir um conhecimento, escolhi a forma, o conteúdo, o veículo, enfim, criei este instante, este continuum do qual você agora faz parte para, apenas posteriormente, existir algum exercício da sua vontade. Não se trata, neste caso, de um conflito de vontades, visto que elas não se contrapõem, mas curiosamente a minha se faz manifesta e predominante desde antes da existência da sua.
Essa diferença sutil em como percebemos as coisas e seus significados é a forma que escolhi para começar nossa caminhada, pois dela vai depender não só nossa compreensão como nosso sucesso no caminho sinistro. E eis aqui a primeira grande oportunidade de exercitar a semântica.

O Caminho Sinistro

Sinistrum, forma neutra do latim clássico, significando apenas… esquerdo. Oposto a destro. As sinonímias referentes a “impróprio”, “adverso”, “desafortunado”, “funesto” e congêneres são do período pós-clássico. É perfeitamente possível um caminho sinistro ser ensolarado, florido e cheio de vivacidade, como também é perfeitamente possível que seja desolado, pútrido e nefasto. Sinistro, neste caso, apenas alude ao fato dele se encontrar à esquerda de outro.
Mas porque estamos falando de esquerda mesmo?
O ocultismo moderno pegou emprestados os termos usados no Tantra indiano para caracterizar duas correntes doutrinárias: O Caminho da Mão Direita (Righ-Hand Path; RHP; Dakshinachara) refere-se a doutrinas e/ou grupos que seguem princípios éticos, morais e filosóficos mais rígidos e conservadores, com forte tendência ortodoxa e o Caminho da Mão Esquerda (Left-Hand Path; LHP; Vamachara) refere-se a doutrinas e/ou grupos com práticas heterodoxas em sua maioria, que reforçam e induzem o questionamento e a oposição moral, não adotando estruturas éticas e filosóficas complexas.
Contudo, perceba que é um erro grotesco presumir e associar de imediato o caminho destro ao bem e o caminho sinistro ao mal, cabendo aqui lembrar que a prática do bem ou do mal é uma escolha humana individual, independente do caminho trilhado.

Os Aghori

Muitas definições em pouco tempo, certo? Para bem entender o termo, vamos evoluir com ele in loco, com praticantes do Vamachara, o caminho sinistro tântrico.
Os Aghori são devotos de Kala Bhairava, uma manifestação de Shiva associada à aniquilação… do mal. Eles se submetem em sua rotina ritualística à necrofagia, coprofagia, urofagia, caminham entre cadáveres e fazem utensílios com ossos humanos, justificando tal comportamento como uma prática não-dual, o contato com o Advaita Vedanta, o verdadeiro Eu, transcendendo através dos tabus sociais. Apesar de não serem considerados “hindus” pelos indianos em geral, os Aghori têm curandeiros reconhecidos por seus poderes ditos milagrosos. Pense na prática Aghori como uma vacina, em que você se contamina com o que quer evitar e a diferença entre imunização e infecção está simplesmente na dose e na manipulação do agente.

Fatores Históricos

Note, caro leitor, não haver menção sobre o caminho sinistro em época anterior à adoção do termo pelos textos védico e simplesmente não há outros fatores que definam com firmeza a existência da corrente antes das definições tântricas.
Mas não teriam Ahriman ou Baal seus cultos bem antes disso? Por certo que sim, mas neste momento peço encarecidamente que, se ainda não entendeu o motivo da minha pergunta, volte a ler este artigo do início. Um culto a Ahriman pode ser extremamente organizado, ortodoxo, conservador e fundamentalista (nenhuma dessas características se opõe às da entidade e, na verdade, até fazem sentido no contexto histórico e social), classificando-o na corrente doutrinária da Mão Direita. Insisto que, na grande maioria das vezes, “bem” e “mal” são definições e escolhas humanas.
E o que isso quer dizer? Quer dizer que o Caminho Sinistro não é exatamente uma “tradição”. Pra ser bem franco, é um caminho ainda em exploração e formação. Não existem ordens medievais assumidamente sinistras, por exemplo. Faço pequena ressalva para stregheria, druidismo e semelhantes, de forte inclinação heterodoxa que ainda hoje vivem se escondendo por causa dos traumas da… bom, você sabe porque.
Existem pouquíssimas ordens e/ou cultos sinistros que transpuseram ou sequer se aproximaram do seu primeiro século de existência, como a controversa Ordem Tifoniana, antiga O.T.O. Tifoniana (T.O.T.O.), que tem como base o mesmo Thelema e graus iniciáticos de outras ordens Crowleyanas não-sinistras.
Portanto, atenção redobrada com o termo “tradição sinistra” e seus semelhantes, em geral eles não são literais e não são usados para nossa geração, mas embasam e fundamentam a credibilidade dos textos para gerações futuras, quando a tradição de fato existir. Ou não.

Fatores Antropológicos

O ser humano, especialmente o moderno, tem uma forte tendência ao oportunismo, e isso é lamentavelmente notável na área do ocultismo sinistro. O conceito de oposição moral acabou por fazer pessoas de moral intrínseca duvidosa aderirem às fileiras da corrente doutrinária (vide observação sobre crime em Preparação), e fatores psicológicos e sociais deram continuidade a essa prática transformando-a em uma espécie de tendência. Hoje não é completamente errado afirmar que o caminho sinistro é trilhado por outcasts, proscritos e misantropos.
As ordens muitas vezes abraçam alguma espécie de fundamentalismo injustificado, às vezes disfarçado, o que separa ainda mais seus probandos, neófitos e (sic) adeptos do convívio social saudável. Tenha em mente neste ponto, caro leitor, que a misantropia mística exige um nível de concentração, dedicação e domínio mental altíssimos, sendo totalmente contra-indicada para o caminho sinistro sem rígida supervisão.
De uma forma geral, as pessoas buscam o caminho sinistro pelos motivos errados, buscando os objetivos errados e são, invariavelmente, enganadas. Isso tem corroborado para a rápida degeneração da corrente original, desaparecimento das ordens sérias (p.e. O.T.O. Tifoniana deixar de usar o nome O.T.O., círculos internos de outras ordens se desassociarem, recrutamento cancelado, atividades públicas canceladas, etc…), multiplicação de pequenas ordens e cultos oportunistas, crescimento e migração de egrégoras nefastas e a invariável ridicularização geral dos praticantes.

Fonte:http://www.deldebbio.com.br/2013/12/04/o-caminho-sinistro-parte-1/

A Pedra Esmeraldina de Lúcifer


Para que o novo possa nascer, cresce e evoluir, para que algo possa ser gerado e criado, processos destrutivos, porém necessários, devem ocorrer.

Foi o que aconteceu com a esmeralda de Lúcifer. A pedra da testa de Lúcifer não caiu, exatamente, mas foi dividida e partilhada para que o conhecimento, o entendimento e a sabedoria se manifestassem na Terra, juntamente coma “fatal” materialização da espécie humana. A parte que ficou na testa de Lúcifer representa o aspecto mais elevado do indivíduo iniciado; a parte da pedra na qual foi esculpida a taça luciferiana representa o aspecto anímico, astral/emocional; a última parte serviu para talhar a Tábua de Esmeralda, segundo o mito hermético, mas representa o aspecto astrofísico do indivíduo, assim como a manifestação do conhecimento na Terra, no plano material.

A taça, que é a “pedra verde manchada de sangue”, a Pedra Filosofal, refere-se ao receptáculo do sangue da serpente (Sophia) e do dragão (Lúcifer, Daemon), ou Pimandro (Pymander, Poimandres), o Dragão de Sabedoria e de Luz que se manifesta sobre as trevas essenciais e necessárias do macro/micro universo. O sangue representa a linhagem da iniciação luciferiana, ou seja, a encarnação de indivíduos que foram “gestados” em seus receptáculos (taças) genéticos no plano astral (a taça, o útero universal, o Feminino). Essas gerações, por seu caráter lux-venusiano, têm o ímpeto, o impulso e a inquietude interior que as levam a buscar a sabedoria avidamente quando encarnadas na Terra. O sangue da serpente também representa a lava qliphótica, ou seja, o sangue menstrual da mulher que “encarna” Sophia-Vênus no rito sexual, ou Hieros Gamos (Casamento Sagrado). Esse sangue representa ainda as regiões qliphóticas (sombrias e “daemoníacas”) do universo e os planos interiores subconscientes do indivíduo. Alquimicamente, o sangue do dragão representa o ácido nítrico que corrói a matéria, quer dizer, destrói a ilusão desses mundos das qliphoth (ativando o olho de Lúcifer, o brilho da esmeralda de sua testa). O sangue é também a fase rubedo, o último estágio do processo alquímico (interior).

Pimandro-Lúcifer também se manifesta de maneira logoica (pela Palavra e pela Lucidez de sua sabedoria sobre o fundo negro das Trevas) na Tábua de Esmeralda.

Essa tábua também representa a Terra sob os auspícios de Vênus (Sophia, Shekinah, Shakti, Sekht), ou seja, a Sabedoria manifestada e disponível para aqueles que a buscam ardentemente. Sob o aspecto iniciático, Lúcifer e Vênus representam o ideal unificado do macho e fêmea no indivíduo como um ser espiritual autoconsciente, sábio e completo, realizando os princípios herméticos da polaridade e do gênero. Tal indivíduo torna-se então o“ungido” pelo sangue derramado da taça esmeraldina. Isso significa que aquele que desperta o Dragão-Serpente se torna um verdadeiro iniciado de consciência expandida; torna-se Ophis-Christos, Nachash-Messiah, ou, em outras palavras, o próprio “dragão-serpente ungido” (do grego/hebraico “ophis/nachash” = “serpente”, e “christos/messiah” = “ungido”), não tendo isso nada a ver com o famoso Jesus pop show muito em voga atualmente. Cabalisticamente, as palavras “nachash” e “messiah” têm o mesmo valor numérico de 358, assim identificando-se mutuamente como pares essenciais e necessários à autocriação, evolução e expansão da consciência. O número 358, curiosamente, também constitui em parte a sequência de Fibonacci, presente na natureza, no corpo humano, na arte, na literatura, na música, na geometria sagrada, em figuras geométricas, em símbolos como o pentagrama (“cinco linhas”, em grego), etc.

Os termos gnósticos equivalentes a Nachash-Messiah são Ophis-Christos, como mencionado, e Sophia-Christos, sendo a palavra “sophia” (“sabedoria”) um anagrama da palavra “ophis” (“serpente”). Em ambas as palavras a letra grega phi  é central, sendo seu valor também extraído da sequência de Fibonacci, identificando assim a Sabedoria com a Serpente. Phi é também um símbolo da Filosofia e da união do phallus com a kteis (pênis e vagina). Além disso, a letra phi expressa crescimento e evolução onde quer que esteja presente, e na palavra “filosofia” sua presença indica a união amorosa entre Sophia e Pimandro (a mulher e o homem no ritual, no cerimonial mágico, no casamento alquímico, na união sagrada, etc.) que conduz à iniciação, ao crescimento e à evolução interior que torna possível a conquista da Sabedoria, a consecução da autoconsciência e a autorrealização.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Kitab Al-Jilwa: o livro da Revelação

 “A humanidade esta adormecida, preocupada apenas com o inútil, vivendo num mundo errado. (...) Vós tereis um conhecimento e uma religião invertidos se estiverdes de ponta cabeça em relação à realidade. O homem enrola a rede em torno de si mesmo. Um leão despedaça a jaula”. SANAI – O Jardim Murado da Verdade. Século X.

“Ao pecador e ao viciado posso parecer mau. Mas para o bom: beneficente sou”. MIZRA KHAN, Ansari.

A obra que se apresenta é constituída de um dos textos sagrados da tribo pré-islâmica de etnia curda conhecida como Yezidis.

Muito se tem escrito a respeito deles, e pode-se salientar que tais escritos e especulaçõ

s são em sua maioria, lamentáveis deturpações. No ocidente, a princípio em decorrência de alguns escritos isolados de Aleister Crowley e de alguns cristãos retrógrados, e mesmo por parte dos muçulmanos sunitas, se construiu a fama de que os Yezidis são adoradores de demônios ou, em termos superficiais, satanistas. Não entraremos em detalhes acerca disso, pois não é o escopo deste trabalho.

Adianto apenas que tal “fama” se deve ao fato de que no culto Yezidi, a principal divindade adorada, dentre outras seis secundárias, é aquela denominada MALAK TAUS, ou anjo pavão real, identificado com IBLIS na gênese islâmica, ou simplesmente SHAYTAN.

De fato, os Yezidis reverenciam esta divindade, pois segundo sua mitologia (exposta em outro livro sagrado de importância nuclear, chamado Mechaf Resh ou simplesmente “Livro Negro”) MALAK TAUS recebeu a autoridade para reger esta esfera (Terra) das mãos do próprio Criador, que após a conclusão de sua obra, ao que parece, foi cuidar de outros assuntos. Existem muitas versões, mesmo no corpo das escrituras yezidis.

Há também vários paralelismos com a literatura talmúdica, islâmica e muitos outros escritos semitas acerca dessa temática. Reportamos o leitor interessado por mais informações ao escrito conhecido como O Livro de Enoch, já publicado em português pela Editora Hemus, e ao erudito trabalho de Idries Shah, que na obra OS SUFIS (Cultrix), traz o elucidativo verbete chamado “Culto do anjo pavão real”.

O texto presente foi traduzido do inglês diretamente da obra “Devil Worship - The Sacred Books and Traditions of the Yezidiz” - Kessinger Publishing, 19971 de Isya Joseph. Admito minha ignorância acerca dos méritos intelectuais desta autora, mas posso adiantar que a tradução empreendida por ela dos textos originais é de longe mais confiável que algumas versões que circulam pela rede, e que infelizmente, tem claras conotações e interpolações propositadamente obscurantistas (leia-se: sectárias). É necessário sublinhar que o texto apresenta apenas 5 divisões simples, ou sessões, que respeitei, mas tomei a liberdade de dividir as primeiras 4 em 14 versículos cada e a última em 7, o que não altera substancialmente seu conteúdo. A linguagem também foi cuidada, por se tratar de um livro sagrado. Infelizmente não disponho do texto original, que sem duvida deve conter mensagens e códigos cifrados semelhantes ao utilizado no sistema ABJAD (código alfabético e semântico árabe semelhante a temurah dos qabalistas judeus).

Muitos adeptos do “caminho da mão esquerda” ficarão decepcionados com o conteúdo do texto, ou talvez não, pela ausência de paralelismos com as bulas tenebrosas dos satanistas mais entendidos. O dito “satanismo” dos Yezidis nada tem a ver com o satanismo ocidental moderno, e tampouco guarda conotações anticristãs (os Yezidis aceitam a figura do Cristo como aceitam as figuras de Maomé e Moisés, i.e., como profetas inspirados), apenas se reservam o direito de não submeter-se a tais doutrinas, por motivos óbvios. Outras questões como a origem dos Yezidis, ou dos baluartes da “doutrina” (Sheyks), e da figura emblemática de MALAK TAUS, serão abordadas em outra obra (a tradução do “Livro Negro”- MESHAF RESH) que já esta sendo empreendida. Até lá, espero que o leitor encontre aqui um pouco mais de informação e conhecimento acerca desta polêmica e desconhecida doutrina pré-islâmica.

IAIDA BAPHOMETO
Janeiro de 2009.

Kitab Al-Jilwa: o livro da Revelação

Parte I

1. Eu fui, Eu sou, e Eu serei eternamente.
2. Eu detenho autoridade sobre toda criatura e sobre todas as coisas que estão à sombra do Meu ídolo.
3. Eu estou perpetuamente presente para auxiliar todo aquele que crê em Mim e Me procura e clama por Mim no tempo da tribulação.
4. Não há espaço no universo que não conheça Minha presença, pois Eu comunguei de todas as coisas que estão longe do mal, porquê sua essência não é adequada.
5. Cada Æon possui seu próprio Mestre, que governa todas as coisas segundo Meus Decretos.
6. Este ofício é mutável de geração em geração, pois os Mestres deste mundo e seus dirigentes podem delegar os deveres de seus respectivos ofícios, cada um àqueles que estão em seu círculo.
7. Eu tolero que cada um siga seu próprio temperamento, não há restrição - mas aquele que se opor à Minha Vontade, recuará em extrema aflição.
8. Nenhum deus poderá intervir naquilo que é Meu, e Eu fiz disso uma Lei Suprema a ser obedecida por todo aquele que presta culto aos deuses.
9. Todos os livros deles foram alterados, e renegados, embora tenham sido escritos pelos profetas e apóstolos.
10. Pois há interpolações, visto cada seita impor supremacia sobre as outras, apontando ardis e ansiando destruir os escritos alheios, pois a verdade e a falsidade estão diante de Meus Olhos.
11. Quando a tribulação vem, Eu dou guarida àquele que crê em Mim.
12. Ademais, Eu dou conselho àqueles que estão preparados, pois Eu os escolhi para os tempos que estão diante de Mim.
13. Eu recordo das coisas necessárias e as efetuo no tempo propício e Eu ensino e guio aqueles que seguem Minha Doutrina.
14. Pois aquele que segue Minha Doutrina, este será abençoado e regozijará em Meu sagrado êxtase.


Parte II

1. Eu resgatei o fruto de Adão, e o recompensei com um galardão que apenas Eu conheço.
2. Ademais, o poder e a autoridade sobre tudo o que há na terra, acima dela ou abaixo, estão em Minhas mãos.
3. Eu repudio a união amigável com outros povos, mas não privo aqueles que Me obedecem daquilo que é bom para todos.
4. Eu deposito Minhas coisas nas mãos destes que se esforçam e que estão concordes com Minha Vontade.
5. Eu Me manifesto de diversas formas aos que são fiéis a Mim e observam Minha Doutrina.
6. Eu outorgo e Eu revogo.
7. Eu concedo a fortuna e distribuo a miséria.
8. Eu causo a alegria e o infortúnio.
9. Eu faço todas estas coisas conforme os tempos e as estações.
10. Nada pode interferir naquilo que Eu faço.
11. Àqueles que se levantam diante de Mim, Eu aflijo com doença.
12. Mas aqueles que são de Mim, estes não morrerão como os filhos de Adão, que estão longe de Mim.
13. Ninguém viverá neste mundo um dia além do que Eu tenho fixado.
14. Se for Meu desejo, Eu mando um homem duas ou três vezes neste mundo, ou em outro, através do mistério da encarnação.


Parte III

1. Eu guio pelo caminho santo ainda que sem um livro revelado, e Eu corrijo o Meu Amado e o Meu escolhido por meios encobertos.
2. Todos os Meus ensinamentos são prontamente aplicados em qualquer tempo e qualquer circunstância.
3. Eu castigarei no outro mundo os que forem rebeldes a Minha Vontade.
4. Agora os filhos do homem não sabem o estado das coisas que estão no devir.
5. Por causa disso, eles ajuntam erros.
6. As bestas da terra estão todas sob o comando de Minhas mãos.
7. Os pássaros do céu estão todos sob o comando de Minhas mãos.
8. Os peixes da água estão todos sob o comando de Minhas mãos.
9. Todos os tesouros excelentes e coisas ocultas são conhecidos de Mim, e conforme Meu desejo, eu os tomo de um e concedo a outro.
10. Eu revelo Minhas maravilhas aqueles que as buscam, e no tempo adequado, manifesto Meus milagres a estes que se encontram preparados para Mim.
11. Mas os que estão distantes, estes são Meus inimigos, então eles se opõem a Mim.
12. Mas eles não sabem que as coisas que eles buscam fogem dos seus interesses, pois todas as coisas que são Minhas, o poder e a riqueza, estão em Minhas mãos, e Eu as dou a quem Me apraz.
13. Eu recompenso aos filhos do homem que se fizerem merecedores.
14. Assim, pois, o governo dos mundos, a transição das gerações e a mudança dos reis são desde o princípio determinadas por Minha Vontade.


Parte IV

1. Eu não darei aquilo que é Meu a outras divindades.
2. Eu permiti a criação de quatro substâncias, quatro tempos e quatro confins.
3. Porquê estas coisas são necessárias às criaturas.
4. Os livros dos Judeus, Cristãos e Muçulmanos e de outros que não são de nós, aceitai sob concessão, tanto quanto eles concordem e confirmem Minha Doutrina.
5. Tudo o que esta em divergência com o que foi dado a vós, ou for alterado, lançai fora, pois vós deveis evitar divergências.
6. Três coisas são contrárias a Mim.
7. Três coisas Eu abomino.
8. Mas aqueles que preservam Meus Mistérios, estes receberão o galardão de Minhas promessas.
9. Aqueles que são lapidados em Meu Nome, estes Eu os recompensarei em outros mundos.
10. É Meu desejo que todos os Meus adoradores permaneçam unidos e um laço de unidade, para que aqueles que não são de nós não prevaleçam contra vós.
11. Agora, então, todos vós que tem seguido Minha Lei e Doutrina, rejeitai a doutrina e a lei daqueles que não são de nós.
12. Eu não disse aquelas coisas, nem elas saíram da Minha boca.
13. Jamais pronuncie Meu Nome ou Meus atributos, para que vós não vos lamenteis disso.
14. Pois não sabeis vós o que podem fazer estes que não são de nós.


Parte V

1. Oh tu que acreditas em Mim:
2. Honra Meu Símbolo e Meu Ídolo, pois eles te fazem lembrar de Mim!
3. Observai Minhas Leis e Doutrinas.
4. Sê obediente aos Meus servos e ouça o que eles revelarem a vós acerca daquele conhecimento do invisível que eles
recebem de Mim.
5. Recebei o que é dito, e não revelai aqueles que não são de nós, e aos judeus, cristãos e muçulmanos e os outros, pois eles não conhecem a essência da Minha Doutrina.
6. Não lhes dêem vossos livros, para que eles não deturpem este conhecimento.
7. Aprenda de cor a maior parte deles, a fim de que não sejam alterados.


Tradução IAIDA BAPHOMETO

Peregrinos da Era do Fogo

 “Verdadeiro demais, cedo demais” talvez sejam as palavras mais apropriadas ao pequeno grupo de hereges que sobreviveu a oito séculos de cruel perseguição cristã e muçulmana – os Yezidis.
  De sua meca – a tumba de seu primeiro líder, Sheik Adi – localizada no Monte Lalesh próximo da antiga cidade de Nínive, o império Yezidi estendeu-se numa larga faixa invisível de aproximadamente trezentas milhas até a junção mediterrânea da Turquia e Síria numa ponta, e na outra até as montanhas

o Cáucaso na Rússia. Em intervalos ao longo desta faixa haviam sete torres – as Torres de Satã (Ziarahs) –, seis delas em formato trapezoidal, e uma, o “núcleo” do Monte Lalesh, construída de forma pontuda e sulcada. Cada torre possuía no topo um brilhante refletor heliográfico (solar), e funcionava como uma “usina de energia” de onde um mago satânico poderia irradiar sua vontade aos “descendentes de Adão”, e influenciar eventos humanos no mundo externo.
  Como os anjos caídos do Livro de Enoque, os Yezidis alegavam ser descendentes de Azazel. Os Yezidis acreditavam numa duplicata da história de Lúcifer, i.e. a manifestação do orgulho banida. Como as lend  rias tribos perdidas de Israel, os Yezidis romperam com suas origens como resultado de conflitos não resolvidos, e sentiram uma forte justificativa e propósito por causa de sua herança única, que isolou-os teologicamente de todas as outras raças.
  A lenda dos Yezidis a respeito da própria origem não é mais fantástica, para padrões científicos. Ela alude à criação do primeiro macho e fêmea da tribo através dos princípios mais tarde estabelecidos por Paracelso para a criação de um homúnculo; a saber: conservação de esperma em um recipiente onde ele germine e assuma a forma de um embrião humano.
  Os Yezidis fornecem um elo entre o Egito, Europa Oriental e o Tibete. O idioma dos Yezidis era o curdo – semelhante em som ao enoquiano, o idioma supostamente falado pelos anjos.
  Pouco antes de Sheik Adi (nome completo: Saraf ad-Din Abu-l-Fadail, Adi bem Musafir ben Ismael ben Mousa ben Marwan ben Ali-Hassan ben Marwan) morrer em 1163, ele ditou o que viria a ser um dos mais lendários manuscritos de todos os tempos – o Al-Jilwah (revelações). O Al-Jilwah, junto com o Mashaf Rei, que foi compilado no século seguinte, tornou-se conhecido como o Livro Negro – as palavras proferidas por Satã a seu povo. O Livro Negro não só contém o credo Yezidi, como também seus rituais.
  Os Yezidis adentravam seus templos através de pórticos ostentando as imagens de um leão, uma serpente, um machado de dois gumes, um homem, uma crista de galo, tesouras, e um espelho. O leão representava força e domínio; a serpente, procriação; o machado, potencial para o bem ou o mal; o homem, deus; e a crista, tesouras e espelho representavam vaidade. Mas o maior símbolo de vaidade, entretanto, foi a forma tomada por Satã na liturgia Yezidi – o pavão. Como eles não podiam dizer o nome de Satã (Shaitan) por medo de perseguição, o nome Melek Taus (Pavão Rei) foi usado. Tão grande era o risco de perseguição externa, que até palavras vagamente semelhantes a Satã eram proibidas.
  Os vestígios da cultura Yezidi que restaram hoje tem, como era de se esperar, encontrado não só “simpatia” sentimental mas, pior ainda, tentativas de pintar de branco a religião e negar que ela era adoração do demônio. Depois de oito séculos sem machucar ninguém, cuidando do próprio negócio, e mantendo a coragem de suas convicções – apesar dos grandes massacres de seus homens, mulheres, e crianças nas mãos dos bons – os Yezidis finalmente foram presenteados com uma repugnante forma de caridade pelo reconhecimento dos teólogos. Agora é comumente afirmado que os Yezidis foram “na verdade pessoas nobres e de elevada moral”, e portanto não poderiam ter adorado o demônio! It is difficult to asses this as anything other than the most blatant form of selective in-attention!
  Cada vez que um importante ritual Yezidi era realizado, a figura de um pavão de bronze (chamado sanjak) era retirada de um esconderijo secreto por um sacerdote e levada ao templo. Ela era colocada num pedestal em volta do qual havia uma fonte de água corrente que caía numa pequena piscina. Isto servia como o santuário e o ícone para o qual a homenagem era direcionada. A água supostamente vinha de um córrego que circulava por cavernas subterrâneas numa rede de passagens abaixo de cada Torre de Satã. O ponto de origem destes córregos acreditava-se ser a miraculosa nascente do Islam conhecida como Zamzam. As cavernas supostamente terminavam na cidade dos Mestres – Schamballah (Carcosa).
  Para estabelecer uma perspectiva apropriada, além das próprias crenças dos Yezidis a respeito das cavernas e os efeitos das Torres de Satã, as conjecturas dos estrangeiros devem ser mencionadas aqui. Há muito tem sido suposto que as Torres não se limitavam à geografia Yezidi, mas localizavam-se em várias partes do mundo como diversas construções de formato desconhecido – cada uma servindo como uma entrada na superfície para o mundo subterrâneo, alegoricamente ou não. Neste caso, as Torres Yezidis e sua influência satânica seriam o microcosmo de uma rede de controle muito maior.
  Os “clãs” dos Yezidis chamavam-se: Sheikan, no Monte Lalesh; Sinjar (Covil da Águia), no Curdistão; Halitiyeh, na Turquia; Malliyeh, no Mediterrâneo; Sarahdar, na Geórgia (ex-parte da URSS) e sul da Rússia; Lepcho, na Índia e Tibete; e Kotchar, que, assim como os beduínos, vagava sem área permanente.
  A interpretação Yezidi de Deus foi a mais pura tradição satânica. A idéia, tão proeminente na filosogia grega, de que Deus é uma existência absoluta e completa em si mesmo, imutável, fora do tempo e espaço, não existia na teologia Yezidi. Também era rejeitado o teocrático conceito judaico de Jeová, bem como o Deus maometano: o soberano absoluto. O conceito, único aos cristãos, de que Deus é Cristo em pessoa era totalmente inexistente. Se houve qualquer vestígio de uma manifestação pessoal de Deus, foi através de Satã, que instruiu e guiou os Yezidis rumo a uma compreensão dos princípios multifacetados da Criação, como a idéia platônica de que o Absoluto é estático e transcendental. Este conceito de “Deus” é essencialmente a posição tomada pelos satanistas mais expandidos. Orações eram proibidas, na mais severa tradição satânica. Até diárias expressões de fé eram chamadas de “recitais”.
  Poucos estrangeiros penetraram nos santuários dos Yezidis. As exceções quase restrinjem-se ao século passado(XIX) quando, infelizmente, a seita definhava como movimento organizado. E destes, pouquíssimos foram os que vislumbraram os sagrados sanjaks ou contemplaram os manuscritos do Livro Negro, pois ambos eram cuidadosamente guardados dos descendentes de Adão, cuja prole encheu o mundo de barro acéfalo. O Livro Negro foi traduzido para o inglês por Isya Joseph do manuscrito em árabe de Daud as-Saig.
  No início do século XX o escritor William Seabrook aventurou-se no deserto e subiu o Monte Lalesh, registrando sua jornada (Aventuras na Arábia) com uma objetividade que provou ele ser um bravo ainda que misericordioso homem. Numa época em que foi moda literária punir severamente o demônio, independente de seus atributos, a afinidade de Seabrook com Satã era visível em todos os seus escritos como se ele fosse um Bierce, Shaw, Twain, ou Wells. Ele foi um dos poucos estrangeiros que, pela primeira vez na história Yezidi, mostrou simpatia pelo demônio deles.
  Agora os Yezidis foram amplamente absorvidos pelo mundo “daqueles de fora”, mas sua influência teve efeito. Esta influência manifestou-se, em todo o período subterrâneo do Satanismo, nos procedimentos de praticamente toda irmandade secreta desde os Cavaleiros Templários, e em inúmeras obras literárias. Agora, após a frequentemente trágica epopéia dos Yezidis ter virado história, é seguro pronunciar o Nome Terrível.

A DECLARAÇÃO DE SHAITAN E O SILENCIOSO RITO DE DEDICAÇÃO

  O rito começa uma hora após o pôr-do-sol.
  Os congregantes adentram a câmara e sentam-se em travesseiros colocados no chão em semicírculo frente ao santuário de Melek Taus. A água corre sobre as pedras em volta do sanjak e numa piscina à sua base. Incenso é queimado em braseiros de cada lado do santuário. Os kawwals(músicos) ficam na parede traseira do templo, tocando um prelúdio em flautas, tambores e tamborins. (Nota: Como resposta emocional é essencial durante certos trechos do rito, ocidentais talvez necessitem de um tipo diferente de música. Há muito de recomendado nas obras de Borodin, Cut, Rimsky-Korsakoff, Ketelbey, Ippolitov-Ivanov, etc., apesar do désdem dos “puristas”.)
  O sacerdote entra, seguido de seus assistentes, todos vestindo robes negros com fitas vermelhas na cintura. O sacerdote posta-se perante o santuário, seus assistentes nos lados. A cabeça do sacerdote é raspada. A navalha usada para isto foi primeiro lavada nas águas mágicas de Zamzam.
  Toda música cessa, e o gongo é batido uma vez. A flauta volta a tocar, bem devagar e suavemente, e o sacerdote invoca a Terceira Chave Enoquiana. Quando ele tiver terminado, a flauta para, e, após uma pausa, o gongo é tocado de novo.
  A flauta começa a tocar, como antes, e o sacerdote recita o Al-Jilwah, o Livro Negro.

Os Rituais Satânicos

O Satanismo e o Pavão Negro - Louvando Shaitan desde 2.000 a.C.


Muitos grupos satânicos tentam imitar as religiões organizadas e isto é algo que tenho combatido há anos! Não é necessariamente culpa deles, já que a maioria dos satanistas vêm de um background cristão. À medida que o Satanismo Moderno amadurece, isto pode mudar. O "aspecto adversário" do Satanismo surgiu como um resultado do dualismo religioso, a crença de que o universo divide-se em duas forças mutuamente excludentes (bem e mal), opostas uma à outra.

Embora esta idéia possa demonstrar a beleza da tensão entre polaridades e faça parte de várias religiões, ela também pode ser perigosa. Esta idéia pode ser usada para afeta

o cérebro. Ela pode fazer a psique fragmentar-se e dividir-se, convencendo-o de que os inimigos de seu deus devem ser obrigatoriamente malignos e, portanto, destruídos! Isto explica os homens-bomba no Oriente Médio. Da próxima vez que um fanático religioso correr em sua direção com TNT amarrado ao próprio corpo e um detonador na mão, gritando "Allah seja louvado!", você entenderá como ele foi levado a acreditar que essa era a coisa certa a fazer. Tais pessoas acreditam estar fazendo o trabalho de seu deus e ser mártires. Elas não vêem que o ato é maligno na visão de todo mundo.

A crença num modelo absoluto de bem e um modelo absoluto de mal   uma mentira absoluta, e extremamente perigosa, porque a verdade não é totalmente preta nem branca, nem se constitui só de preto e branco. O papel do satanista consiste em utilizar este pensamento para quebrar as barreiras que os fundamentalistas tentam construir. Quando o satanista faz o papel de advogado do Diabo, ele recoloca o equilíbrio na balança. Nós damos voz ao ponto de vista oposto – isto diminui o poder de ditadores e extremistas religiosos definirem o que é "o mal" para nós. Considere as implicações disto. O Satanismo tem tudo para ser o movimento mais importante do séc. XXI!
Os cristãos tentarão negar a importância do Satanismo dizendo "essa é uma religião organizada que não existiria se não fosse pela Bíblia Sagrada". Além disso, muitos contam histórias exageradas de cultos e adoradores do Diabo. Os cristãos parecem esquecer que historicamente isto foi feito com os judeus. De fato, os primeiros cristãos foram acusados pelos romanos de adorar malignas forças das trevas, e por isso serviram de alimento para leões!

Nosso fundador (First Church of Satan), John Allee, frequentemente explica suas raízes religiosas da seguinte maneira:

Uma das religiões mais antigas do mundo têm sido falsamente acusada de adoração ao demônio. Acredita-se que os Yezidis remontem até 2.000 a.C. (quatro mil anos atrás).

Comparemos os princípios básicos dos Yezidis com as minhas crenças:

a) O pavão era tido como um símbolo do sol porque sua plumagem forma um círculo de raios, e um símbolo do demônio devido ao seu orgulho. Os Yezidis o chamavam de Ta’usi-Melek (pavão negro) ou Shaitan (Satã em árabe). Os Yezidis viam Ta’usi-Melek como uma chama com duas facetas básicas; iluminar, mas também queimar. (Allee: O Diabo está por trás de todo o mal no mundo? Sim, e de todo o bem também.)

b) Os Yezidis acreditavam que o bem e o mal são uma coisa só. (Allee: Cristãos e fundamentalistas islâmicos definem-se como monoteístas, mas praticam o dualismo; eles imaginam um demônio oposto ao Criador, mas a criação não pode ser dividida contra si mesma. Se o Diabo existe, então Deus existe. Se Deus criou Satã, então Deus é Satã. Você não pode criar algo sem que isto seja uma manifestação da sua própria vontade; ou seja, uma extensão de si mesmo.)

c) Os Yezidis afirmam que o próprio ser humano é uma mistura de duas forças: bem e mal. (Allee: Os deuses de diferentes culturas são semelhantes porque compartilham de nossas próprias características humanas e são projeções de nossa própria divindade. É como se você estivesse numa sala escura com uma auréola brilhando atrás de sua cabeça – você aponta para a sombra lançada à sua frente e exclama: "Eu vejo São Pedro... ou Satã!")

d) Todo Yezidi tem uma parte de Ta’usi-Melek em si mesmo. (Allee: Nós temos um conceito de divindade também; muitos satanistas não vêem um abismo que separa o criador da criatura. Deus não só está na minha vida como Deus é a minha vida. Colocando de forma simples, Deus É... ponto final! Todo homem e toda mulher é uma estrela – uma manifestação viva e física daquilo que é divino. O mesmo valor que você dá a Cristo, o satanista dá à toda humanidade. Portanto, o homem é Deus! Hail Thyself!)

Sobre o comentário "o Satanismo é uma religião organizada que não existiria se não fosse pela Bíblia Sagrada":

A primeira Bíblia de Gutenberg foi impressa em 1456 A.D.. Eu acho que é correto dizer que os princípios de minhas crenças – as raízes do Satanismo – podem ser vistos mesmo 4.000 anos atrás aproximadamente, muito antes do nascimento do Cristianismo. Satã foi visto no fértil crescente e na religião judaica e egípcia muito antes do advento do Cristianismo.

Os livros sagrados dos Yezidis


Os Yezidis constituem um povo do nordeste do Iraque. Embora falem o idioma curdo, seus costumes e crenças são bastante diferentes dos povos curdos em geral, e são amplamente perseguidos por isso.

São tido popularmente por adoradores do demônio, pela identificação de sua divindade principal (este apontamento é controverso) MALAK TAUS com AZAZ-IL (Azazel, Samiaza) que recebe os hepitetos adicionais de SHAYTAN (Satã) e IBLIS (como é chamado o demônio no Qorão).

Como bem apontou a tradutora do texto árabe, os deuses de um povo são convertidos em demônios pelos vizinhos, e assim, a fama de adoradores de um demônio ou espírito cognato específico cai por terra diante da realidade: os Yezidis adoram anjos, e simplesmente isso.
Especificamente quanto a religião, os Yezidis detêm um conjunto de crenças misticas por onde transitam sem qualquer estranhamento os ensinamentos gnósticos, islâmicos, cristãos e judeus.

COSMOGENESE

Os yezidis acreditam em um deus criador, tão alto e inacessível que acaba tornando-se uma figura desconhecida, a qual não exige nenhuma forma de adoração ou sacrifício. Foi esta divindade distante que criou o universo e a terra de uma pérola.

Após o que entregou este mundo sob os auspícios dos anjos, e deles emanaram os planetas, a abobada celeste e outros elementos cósmicos. Tal crença corresonde à cosmogênese gnóstica do Éons, na qual do Pleroma (o espaço celeste) emanaram as demais manifestações visíveis da natureza corpórea e incorpórea.

OS SETE ANJOS

Tal como algumas crenças orientais, de fundo semita e também grego, o demiurgo criou sete anjos ou espíritos, ou ainda, deuses menores. Todos estão identificados e tem atributos familiares a qualquer estudante de ocultismo.

Deles são os sete dias da semana e pode-se atribuir aos mesmos as características das mônadas qabalísticas (as sete sephirot do núcleo da arvore da vida) ou dos sete gênios qabalísticos, com algumas divergências.

Estes anjos, portanto desempenham funções especificas como se vislumbra; JIBRA-IL (Gabriel) atua como principal mensageiro do demiurgo. AZAZ-IL (Azazel) chamado também MALAK TAUS, é o intermediário entre a divindade criadora e o mundo inferior, identificado com a monada do sol, ou a sephirot Thiferet onde reside o Lógos.

Isto pode nos levar a conclusão mais do que óbvia de que a religião dos Yezidis é de orientação solar, e daí decorrem vários elementos relacionados, como por exemplo o patriarcado e uma marcante supremacia do homem sobre a mulher, ainda que, é verdade, nem toda religião de cunho solar apresente tais características, como por exemplo o conjunto de crenças thelêmicas.


A QUEDA, A REDENÇÃO E OS PAPEIS DUPLOS

Apesar de que os anjos designados no Mashef Resh (ou Kithab Resh) guardem semelhanças com aqueles encontrados no Livro de Enoch, o enredo difere em muitos pontos.

Naquele livro os anjos experimentaram a queda na hierarquia espiritual em virtude da paixão que sentiram pelas filhas dos homens. Azazel, na versão apócrifa de Enoch, era o chefe dos anjos rebeldes, e foi condenado a escuridão pelo deus hebreu.

No Mashef Resh, Azazel chefia a hierarquia dos anjos, mas não experimenta uma queda. Antes é ele quem tenta o homem, para posteriormente adjudicar-lhe a salvação. Conforme já escrevi em outros textos, o anjo Azazel, ou MALAK TAUS, faz um jogo duplo. No primeiro ato aparece como tentador, porque se não houver a queda, não haverá, por decorrência lógica, a possibilidade de salvação.

Tais crenças, são notavelmente idênticas aquelas tidas entre os ofitas, um grupo gnóstico proto-cristão, de quem provavelmente herdamos o famigerado evangelho de Judas Iscariotes. Eram tidos como “satanistas” porque rendiam culto a serpente do Éden, identificando-a com o redentor, e apoiavam suas crenças com algumas passagens bíblicas (entre elas a mais importante era o ídolo serpentino que Moises erigiu no deserto durante o Êxodo), bem como tinham a convicção de que o Cristo era a serpente que havia tentado Adão no paraíso, e que houve um conluio entre Judas e Jesus, para que a crucificação culminasse na realização das profecias; deste modo, tinham que Judas era um portador da gnosis, isto é, ele conhecia a verdade de forma direta, a despeito de todos os outros apóstolos. Malak Taus faz um papel semelhante no relato do paraíso, na concepção Yezidi.


A ORIGEM DOS YEZIDIS

Existem duas versões da origem dos Yezidis que são dispares. A primeira remonta a Adão, onde num certo relato, durante uma disputa entre ele e sua esposa, houve a geração, em uma ânfora, de duas crianças, macho e fêmea. Destas duas crianças nasceram os Yezidis, portanto filhos diretos de Adão, sem a intervenção de Eva.

Posteriormente Adão “conheceu” Eva, e daí foram gerados os demais povos (cristãos, muçulmanos, judeus, persas entre outros). Aqui também, diga-se existe uma divergência quanto aos textos bíblicos e muçulmanos, e mesmo entre os livros apócrifos. Saliente-se também que esta versão aponta como patriarcas os nomes de Enoch, Noé e Seth. Não há nenhuma referencia a Caim, como nos textos dos ofitas gnósticos, citados acima.

A outra versão foi a do nascimento do “bárbaro” Yezid, nascido de um escravo “pecador” de Mohammed (Maomé) com uma mulher de oitenta anos, que por um milagre, rejuvenesce do dia para a noite se tornando uma fértil donzela de vinte e cinco anos.


ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Os Yezidis possuem um forte senso ético e um conjunto de estatutos bastante rígidos. É comum a divisão em castas. Em qualquer delas, a mulher possui papel subalterno, devendo total submissão ao homem o que de fato não corresponde a uma particularidade dos Yezidis, mas de todas as religiões de berço semita como o judaísmo, islamismo e cristianismo.

Encabeçando a hierarquia Yezidi encontramos os Sheiks, que desempenham papel de juizes, descendentes da linhagem do fundador da tribo, Yezid. Seu sinal distintivo é uma rede de couro com que enlaçam os braços, a semelhança do uso da tephila judaica (uma correia de couro que os judeus usam durante as orações). Os Sheiks podem “vender” áreas de terra no paraíso, a quem se dispuser a pagar. Além disso sua principal incumbência é a guarda da tumba de Skeik Adin, um dos mestres ou gurus dos Yezidis.

Em seguida estão os Emires, que também descendem de Yezid, o fundador da tribo e tem uma arvore genealógica própria. São tidos como mestres em assuntos cotidianos e pode dar ordens e proibir condutas como os Sheiks.

Depois vem os Kawwâls, que são músicos nas festividades.

Seguem-nos na hierarquia os Pir´s, que são responsáveis pelas observações dos jejuns e obrigações religiosas. São eles que usam o turbante negro, que identifica os Yezidis na região curda.

A seguir estão os Koshaks, ou como são designados em português, os kossakos, incumbidos de vários deveres religiosos como a instrução nos mistérios Yezidis, a interpretação dos sonhos e a profecia.

Após estão os Fakires, que instruem os jovens nos deveres religiosos e servem, como os Sheiks, a tumba de Skeik Adin.

Por fim estão os Mullas, ou educadores, que guardam os escritos sagrados, os interpretam e são atentos aos negócios da tribo.

Entre os Yezidis, é vedado sumariamente o casamento entre pessoas de castas diferentes, exceto aos Sheiks, que detêm o privilégio de escolher suas esposas dentre as diversas castas existentes. O casamento de Yezidis com outras tribos é vedado em todas as hipóteses. As mulheres não têm qualquer autonomia para escolher seus maridos, mas podem negar-se a um casamento, o que acarreta ao pai da noiva o pagamento de um tributo correspondente a um salário (não há especificação de valor) pelos seus serviços.


LIVROS SAGRADOS

As opiniões pronunciadas neste tópico são particulares, e não as elevo ao patamar de verdades. O que direi a seguir são conclusões que tive ao executar a tradução do texto que estou introduzindo.

Os Yezidis possuem vários livros sagrados, dentre os quais os principais são o Meshaf Resh e o Kithab Jiwa, que formam os pilares da literatura sagrada da tribo, ambos traduzidos abaixo. Tive a idéia de traduzi-los porque fiquei intrigado com um hipertexto que tive acesso (esta na web a disposição de qualquer pessoa) e que estava cheio de interpolações e versões diferentes, além do que, a mutilação textual evidenciava uma flagrante e deliberada idéia centrada no fato do provar o pretenso “satanismo” imputado aos Yezidis.

Quando traduzi o Kithab Jiwa, não se evidenciou qualquer elemento que pudesse respaldar o fato de que o culto Yezidi fosse integrado ao conjunto de crenças e práticas tidas entre alguns ocultistas como o “caminho da mão esquerda”. Eu admito que esperava por isso, por motivos pessoais, evidentemente, vez que me interesso particularmente pelo assunto.

Havia alguns escritos de Aleister Crowley onde ele pretende ser o reavivador das tradições “draconianas”, ou seja lá como se queira chamá-las, e as religiões mais chegadas ao lado “sombrio”, e o culto a divindade Yezidi identificada como Shaytan (i.e. MALAK TAUS) esta entre elas. As idéias que hoje se tem acerca do satanismo moderno foram, ao menos no ocidente, formuladas pela figura controversa deste ocultista inglês. Posteriormente vieram os escritos de LaVey, que tem uma abordagem toda própria, ainda que, superficialmente, pareça uma fraternidade ateística de fundo hedonista. A ONA (Order of Nine Angels) representa uma vertente teista, ou melhor, politeísta.

Os Yezidis, pelo menos para mim, antes de uma aproximação mais cuidadosa, soavam como uma forma de “satanismo” sarraceno, árabe ou islâmico. Vim a saber posteriormente, por fontes fidedignas, que os Yezidis constituíam um culto sufi, onde de fato se adorava um ídolo chamado MALAK TAUS, ou anjo pavão real, cujo nome também era SHAYTAN (Satã). Além desta figura emblemática, havia o culto da serpente negra (HAYYATH), que não é mencionada nos textos presentes, e que constitui um ídolo que igualmente incita e fascina a mente ocidental como todos os demais mitos ofídicos, associados a seres e complexos ctônicos, que após o advento do cristianismo, foram qualificados como "forças do mal".

Pois bem, ao iniciar a tradução do Meshaf Resh por vários momentos a verdade se revelou um tanto divergente da expectativa que eu por tanto tempo alimentei. De fato, os Yezidis muito pouco tem em comum com qualquer coisa que aqui no ocidente chamamos de “caminho da mão esquerda” ou mesmo “satanismo”; mas por outro lado, pela peculiaridade de suas crenças e práticas, pode-se classificá-los como pagãos (designação que desprezo por me parecer demasiado cristã), ou idólatras (porque de fato adoram e reverenciam ídolos, mas da mesma forma, a idolatria é um termo pejorativo entre alguns ocultistas “cultivados”).

Os próprios Yezidis tem para si que estes termos são inadequados, e estão certos nisto, uma vez que esta terminologia só é possível quando se parte de um ponto de vista eurocêntrico, cristão, mosaico ou islâmico (o que vem a ser pior ainda). Pois bem, como classifica-los então? Simples, partindo da pressuposição de que os que seguem cristo são cristãos, os que seguem o judaísmo são judeus e assim por diante, aqueles que seguem ou adoram MALAK TAUS são... Yezidis, pura e simplesmente.


CONCLUSÃO

Tirar conclusões acerca dos Yezidis é uma tarefa delicada. O que eu disse acima foi baseado nos textos que li e traduzi. Para quem entende inglês eu recomendaria a leitura do livro “Devil Worship - The Sacred Books and Traditions of the Yezidiz”, escrito por Isya Joseph, traduzido de um texto árabe do século XIX. Foi este o texto base para a presente tradução. O livro teve sua primeira edição em 1919, quando provavelmente Crowley deve ter tomado conhecimento dele. Pode-se encontrá-lo na íntegra no portal www.sacred-texts.com.

Preciso esclarecer que os textos não estão divididos em versículos, que tomei a liberdade de inserir para facilitar as citações que porventura possam surgir em outros trabalhos futuros e eventuais.

Por fim, convido o leitor a desprender-se antes da leitura de suas crenças pré-constituídas, uma vez que qualquer expectativa criada por informações de segunda mão redundará em um possível desapontamento.

Por vezes o texto é um tanto delirante, como os demais das literaturas “sagradas”, e apresenta uma série de absurdos que hoje facilmente descartaríamos. Por outro lado, há a questão da abordagem eurocêntrica. Alguns sabem exatamente o que estou referindo. Todas estas posturas seriam desastrosas.

Para os outros, isto é, aqueles que buscam o conhecimento e acreditam que podem alargá-lo com a leitura destes textos, a oportunidade é impar.

Espero que apreciem o trabalho.

IAIDA BAPHOMETO
Janeiro de 2009