sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Zen



Zen é o nome japonês da tradição (e filosofia) religiosa ch'an, que surgiu na China por volta do século VII. O zen costuma ser associado ao budismo do ramo mahayana. Foi cultivado, inicialmente, na China, Japão, Vietnã e Coreia. A prática básica do zen é o zazen (literalmente, "meditar sentado"), tipo de meditação contemplativa que visa a levar o praticante à "experiência direta da realidade" através da observação da própria mente.

O zen, tal como o conhecemos hoje, só foi possível devido à forte influência que o budismo sofreu do taoismo. Para alguns estudiosos, o zen nada mais é que a síntese dessas duas correntes de pensamento (budismo e taoismo). Outros concluem que o zen deveria ser considerado à parte do budismo, pois sua natureza e tradição tão peculiares só foram possíveis e criadas devido à influência do pensamento chinês.

No zen japonês, há duas vertentes principais: soto e rinzai. Enquanto a escola soto dá maior ênfase à meditação silenciosa, a escola rinzai faz amplo uso dos koans, ou "enigmas". Atualmente, o zen é uma das escolas budistas mais conhecidas e de maior expansão no Ocidente.

Segundo Alan Watts, inglês que se notabilizou no Ocidente pela divulgação do zen,este, em sua forma original chinesa, não se encontra mais na China, e o que de mais próximo se pode conhecer desta versão original é encontrado em formas de arte tradicionais do Japão que tenham sido cultivadas e transmitidas segundo esta tradição.

História

Como todas as escolas budistas, o zen remete as suas raízes ao budismo indiano. A palavra "zen" vem do termo sânscrito dhyāna, que denota o estado de concentração típico da prática meditativa. Na China, esse termo foi transliterado como channa e logo reduzido à sua forma mais curta, ch'an (禪). Daí, para o coreano como sŏn (선) e, finalmente, para o japonês como zen.

Segundo os relatos tradicionais, o estilo de prática zen foi levado da Índia à China pelo monge indiano Bodhidharma (em japonês, Daruma) por volta do ano 520. Embora a historicidade desse relato tenha sido colocada em dúvida por estudiosos modernos, a história (ou lenda) de Bodhidharma continua sendo a metáfora fundamental do zen sobre o cerne de sua prática.

Segundo conta o "Registro da Transmissão da Lâmpada", um dos mais antigos textos do zen, Bodhidharma chegou à China pelo território da Dinastia Liang e, devido à sua fama de sábio, foi imediatamente convocado à corte do famoso Imperador Wu-ti. O imperador, que havia apoiado enormemente o budismo na China, perguntou a Bodhidharma sobre o mérito que havia ganhado por apoiar o budismo, esperando que esse mérito lhe garantisse uma boa vida em sua encarnação seguinte. Bodhidharma, porém, respondeu: "Nenhum mérito". O imperador, enraivecido, perguntou então: "Quem é esse que está diante de mim?" (em linguagem atual, algo como "Quem você pensa que é?") Bodhidharma respondeu: "Não sei". Aturdido, o imperador concluiu que Bodhidharma devia ser louco e o expulsou da corte. Um dos ministros então perguntou ao imperador: "Vossa Majestade Imperial sabe quem é esta pessoa?" O imperador disse que não sabia. O ministro disse: "Ele é o bodisatva da compaixão, portador do selo do coração de Buda"". Cheio de arrependimento, o imperador quis chamar Bodhidharma de volta, mas o ministro advertiu que ele não voltaria nem mesmo se todos os chineses fossem buscá-lo. Outras pessoas, porém, ficaram intrigadas com sua resposta e o seguiram até a caverna aonde ele havia ido viver. Lá, se tornaram seus discípulos, e descobriram que Bodhidharma era o herdeiro espiritual de Mahakashyapa, um dos grandes discípulos de Buda.

De acordo com os ensinamentos tradicionais, Bodhidharma não sabia responder porque sua verdadeira natureza, assim como a verdadeira natureza de todas as coisas, estava além do conhecimento discursivo, de definições e de palavras. É a esta experiência direta da realidade que aspira o zen.

Mahakashyapa, de quem Bodhidharma era herdeiro espiritual e sucessor, havia tido essa experiência e se iluminado. Segundos os sutras, Mahakashyapa foi o único discípulo de Buda a compreender o seu Discurso do Lótus, em que Buda, sem dizer nada, apenas levantou uma flor. Era a realidade imediata, além das palavras.

Depois de treinar seus discípulos por muitos anos, Bodhidharma morreu, deixando o seu aluno Huike (em japonês, Daiso Eka) como sucessor. Huike foi o segundo patriarca do zen e também deixou uma linha de sucessão da qual pouco se sabe, até chegar a Huineng (em japonês, Daikan Eno, 638-713), o sexto e último patriarca. Huineng, um dos maiores mestres da história do zen, participou de uma famosa disputa quando sucedeu a seu mestre: um grupo de monges recusava-se a aceitá-lo como patriarca, e propunha outro praticante, Shenxiu, em seu lugar. Sob ameaças, Huineng foi obrigado a fugir para um templo no sul da China; no final, apoiado pela maioria dos monges, foi reconhecido como patriarca.

Algumas décadas depois, porém, a contenda foi ressucitada. Um grupo de monges, dizendo-se sucessor de Shenxiu, enfrentou um outro grupo, a Escola do Sul, que se apresentava como sucessora de Huineng. Depois de debates acalorados, a Escola do Sul acabou prevalecendo e seus rivais desapareceram. Os registros dessa disputa são os mais antigos documentos históricos fiéis sobre a escola zen de que dispomos hoje.

Mais tarde, monges coreanos foram à China para estudar as práticas da escola de Bodhidharma. Quando chegaram, o que encontraram foi uma escola que já havia desenvolvido identidade própria, com fortes influências do taoismo, e que já era conhecida pelo nome chan. Com o tempo, o chan acabou se estabelecendo na Coreia, onde recebeu o nome seon.

Da mesma forma, monges chegavam de outros países da Ásia para estudar o Chan, e a escola foi-se espalhando pelos países vizinhos. No Vietnã, recebeu o nome thien e, no Japão, ficou conhecida como zen. Através da história, essas escolas cresceram de maneira independente, tendo desenvolvido identidades próprias e características bastante diferentes umas das outras.

Os Seis Patriarcas do Zen na China

Bodhidharma (बोधिधर्म) (c. 440 - c. 528)
Huike (慧可) (487 - 593)
Sengcan (僧燦) (? - 606)
Daoxin (道信) (580 - 651)
Hongren (弘忍) (601 - 674)
Huineng (慧能) (638 - 713)

O Zen no Japão

No Japão, há quatro escolas de zen: a rinzai, a soto, a obaku e a sanbo kyodan.

A escola rinzai descende da escola chinesa do mestre Linji Yixuan (em japonês, Rinzai Gigen) e foi levada até ao Japão em 1191 por Myōan Eisai, tendo adotado o nome japonês de seu fundador. A sua prática caracteriza-se por uma busca ativa da iluminação, através de processos árduos como o trabalho com koans e a prática de artes marciais, além de meditação. Com traços mais intelectuais e práticas mais ativas, a escola rinzai foi adotada pelas classes dominantes, como a dos samurais, o que lhe proporcionou influência e prestígio, mas que limitou o seu número de adeptos. A obra "A Mente Liberta", de autoria do monge Takuan Sōhō (1573-1645) da escola rinzai, é um dos primeiros registros de fusão entre o zen e a arte da espada.

A escola soto descende da escola chinesa caodong, que foi levada ao Japão no século XIII pelo célebre mestre Eihei Dogen Zenji (1200-1253). A sua prática fundamental é a Shikantaza ("apenas sentar-se"), um tipo simples de meditação cuja prática é identificada com a própria iluminação. A sua simplicidade atraiu os governadores rurais e a classe camponesa, proporcionando à escola um grande número de adeptos. Atualmente, é a maior escola de zen tanto no Japão quanto no Ocidente. Em tempos recentes, a soto exerceu papel de destaque no estabelecimento do zen no Ocidente, enviando mestres como o pioneiro Shunryu Suzuki para fundar mosteiros e centros de prática. No Brasil, todos os senseis (professores de zen que receberam a transmissão do Dharma) em atividade são da escola soto.

A obaku foi fundada no Japão em 1661 pelo monge chinês Yinyuan Longgi (em japonês, Ingen Ryuki, 1592-1673), que havia sido treinado na escola de Linji Yixuan.

Finalmente, a sanbo kyodan ("Escola dos Três Tesouros") é a escola de zen mais recente do Japão. Foi fundada em 1954 por Yasutani Hakuun, discípulo e sucessor de Harada Daiun. Ambos foram treinados e receberam a transmissão do Dharma na escola soto, e Harada também completou o treinamento de koans da escola rinzai. Ainda assim, sentiam-se insatisfeitos com a prática de zen disponível no Japão. Deste modo, a sanbo kyodan foi fundada para ser uma escola que congregasse tantos as práticas da soto quanto as da rinzai, e se focasse em atingir o satori. Aceitando na prática que tanto monges quanto leigos podem atingir a iluminação, ambos tinham tratamento igualitário, podendo inclusive receber a transmissão do Dharma e ocupar cargos de liderança na hierarquia da escola. Além disso, movidos pelo espírito libertário do Japão pós-Segunda Guerra Mundial, a sanbo kyodan recebeu e treinou ocidentais, tanto zen-budistas quanto de qualquer outra religião. Por isso, apesar de ser uma escola pequena no Japão, a Sanbo Kyodan exerceu grande influência no zen praticado no Ocidente—mestres como Robert Aitken, Philip Kapleau e o padre Hugo Enomiya-Lassalle foram formados lá.

Alguns mestres contemporâneos, como Shunryu Suzuki e Harada Daiun, já criticaram muito o zen no Japão atual, descrevendo-o como um sistema formalizado de rituais vazios, em que poucos praticantes realmente atingem a iluminação, com templos comparáveis a negócios familiares, passados de pai para filho (pois os monges podem casar-se), onde os monges se limitam a oficiar funerais e casamentos, pelos quais cobram pequenas fortunas.

Budismo e Zen

O zen é um ramo da tradição budista mahayana e baseia-se fundamentalmente nos ensinamentos de Siddhartha Gautama, o Buda histórico e fundador do budismo. No entanto, através de sua história, o zen também foi recebendo influências das diversas culturas dos países por onde passou.

O seu período de formação na China, em particular, determinou muito de sua identidade. Ensinamentos e práticas taoistas exerceram grande influência no chan chinês. Conceitos como o wu wei, a natureza fluida da realidade e a "pedra não entalhada" ainda podem ser identificados no zen japonês e nas escolas correlatas. Mesmo a tradição zen de "mestres loucos" é claramente uma continuação da tradição dos mestres taoistas. Outra influência, embora menor, veio do confucionismo e a isso soma-se, ainda, a influência que o zen recebeu do xintoísmo ao chegar no Japão.

Tais peculiaridades já levaram alguns estudiosos a considerar o zen como uma escola "independente", fora da tradição mahayana — ou até mesmo fora do budismo. Essas posições, no entanto, são minoritárias: a vasta maioria dos estudiosos considera o zen uma escola budista, inserida na tradição mahayana.

Todas as escolas de zen são versadas em filosofia e doutrina budistas, incluindo as Quatro Nobres Verdades, o Nobre Caminho Óctuplo e as Paramitas. No entanto, a ênfase do zen em experimentar a realidade diretamente, além de ideias e palavras, o mantém sempre nos limites da tradição.

Essa abertura permitiu (e permite) que não budistas praticassem o zen, como o padre jesuíta Hugo Enomiya-Lassalle, que chegou a receber a transmissão do Dharma, e muitos outros. Existe até mesmo uma corrente de "zen cristão", assim como outras que se denominam "não sectárias".

Práticas e ensinamentos do zen

De um modo geral, os ensinamentos do zen criticam o estudo de textos e o desejo por realizações mundanas, recomendando, antes, a dedicação à meditação (zazen) como forma de experimentar a mente e a realidade de maneira direta. No entanto, o zen não chega a ser uma doutrina quietista - o mestre chan chinês Baizhang (em japonês, Hyakujo, 720-814), por exemplo, dedicava-se ao trabalho braçal em seu monastério. Ele tinha, por lema, um ditado que ficou famoso entre os praticantes de zen: "Um dia sem trabalho é um dia sem comida."

De fato, o zen tem uma longa tradição de trabalho meditativo, desde atividades braçais até atividades mais refinadas, como caligrafia, iquebana e a famosa cerimónia do chá - além das artes marciais, às quais o zen sempre esteve ligado.

Essas práticas estão bem fundamentadas nas escrituras budistas, principalmente nos sutras Mahayana compostos na Índia e na China, em particular o Sutra da Plataforma de Huineng, o Sutra do Coração, o Sutra do Diamante, o Lankavatara Sutra e o Samantamukha Parivarta, um capítulo do Sutra do Lótus. A grande influência do Lankavatara Sutra, em particular, levou à formação da filosofia "apenas mente" do zen, na qual a consciência em si mesma é a única realidade.

O zen não é um estilo de prática intelectual ou solitário. Templos e centros de prática congregam sempre um grupo de praticantes (uma sangha), e conduzem atividades diárias e retiros mensais (sesshins). Além disso, o zen é tido como um "estilo de vida" e não apenas como um conjunto de práticas ou um estado de consciência.

Zazen

Para o zen, experimentar a realidade diretamente é experimentar o nirvana. Para experimentar a realidade diretamente, é preciso desapegar-se de palavras, conceitos e discursos. Para se desapegar disso, é preciso meditar. Por isso, o zazen ("meditação sentada") é a prática fundamental do zen. Ao meditar, o praticante senta-se sobre uma pequena almofada redonda (o zafu) e assume a postura de lótus, a postura de meio lótus, a postura burmanesa ou a postura de seiza. Unindo as mãos um pouco abaixo do umbigo (fazendo o mudra cósmico), ele semicerra suas pálpebras, pousando a vista cerca de um metro à sua frente. Na escola rinzai, os praticantes sentam-se virados para o centro da sala. Na escola soto, sentam-se virados para a parede.

Então o praticante "segue a sua respiração", contando cada ciclo de inspiração e expiração, até chegar a dez. Então o ciclo recomeça. Enquanto isso, a sua única tarefa é manter uma mente relaxada, aberta, concentrada, mas sem tensão, e estar presente no "agora" do momento, sem se deixar levar por pensamentos ou ruminações. Quando isso acontece, ele volta a concentrar-se na contagem. Os praticantes mais experientes, cujo poder de concentração (samadhi) é maior, podem abster-se de contar ou seguir sua respiração. Fazendo assim, eles estarão praticando o tipo de zazen chamado shikantaza, "apenas sentar-se".

A duração de um período de meditação varia de acordo com a escola. Embora o período tradicional de meditação seja o tempo que uma vareta de incenso leva para queimar (de 35 a 40 minutos), escolas como a sanbo kyodan recomendam a seus alunos que não meditem por mais de 25 minutos de cada vez, pois a meditação pode tornar-se inerte. Na maioria das escolas, porém, os monges rotineiramente meditam entre quatro e seis períodos de 30-40 minutos, todos os dias. Quanto a leigos, o mestre Dogen dizia que cinco minutos diários já eram benéficos—o que importa é a constância.

Durante os retiros (sesshins) mensais, porém, as atividades são intensificadas. Com duração de um, três, cinco ou sete dias, a rotina dos retiros prevê de nove a 12 períodos de 30-40 minutos por dia, ou até mais. Entre cada período de zazen, os praticantes "descansam" fazendo kinhin (meditação andando).

O professor

Como o zen dá relativamente pouca importância à palavra escrita, o papel do professor é muito importante para o treinamento do praticante. De um modo geral, um professor de zen é uma pessoa ordenada em qualquer escola que tenha recebido permissão para ensinar o Dharma a outros. Uma parte central de toda a tradição zen é a noção de transmissão do Dharma, ou seja, a ideia de que há uma linhagem ininterrupta de mestres que, a partir de Buda, transmitiram e receberam os ensinamentos e atingiram pelo menos algum grau de realização. Essa noção se originou da famosa descrição do zen feita por Bodhidharma:

Uma transmissão especial, fora das escrituras;
Sem depender de palavras ou letras;
Apontando diretamente à mente humana;
Contemplando a sua própria natureza e atingindo o estado de Buda.
Quando um professor é reconhecido oficialmente como tendo atingido um certo grau de realização e é admitido à linhagem de mestres, diz-se que ele "recebeu a transmissão do Dharma". Desde pelo menos a Idade Média, essa transmissão, "de mente a mente", "de mestre a discípulo", tem tido um papel fundamental em todas as escolas de zen. Durante a cerimônia de transmissão, o novo professor é presenteado com uma carta genealógica que mapeia toda a linhagem, de Buda até ele próprio.

Títulos honoríficos ligados a professores que receberam a transmissão do Dharma incluem: na China, Fashi e Chanshi; na Coreia, Sunim e Seon Sa; no Vietnã, Thay; e, no Japão, Osho ("sacerdote"), Sensei ("professor") e Roshi ("professor mais velho"). De um modo geral, fala-se em um "mestre Zen" apenas em referência a professores de renome, especialmente os medievais ou os antigos.

A iluminação

No zen, a iluminação é geralmente chamada de satori ou kensho. O kensho é o primeiro vislumbre, por assim dizer, da verdadeira natureza da realidade e de si mesmo, é mais breve e pouco profundo. O satori, por sua vez, é uma experiência mais profunda e duradoura, em que o praticante tem uma experiência intensa da Natureza de Buda e vê sua "face original".

Não se trata, porém, de uma experiência visionária. Embora algumas pessoas suponham que a experiência de iluminação deva levar quem a experimente a universos de luz intensa, ou coisa que o valha, o depoimento dos mestres zen contradiz essa hipótese. Perguntado sobre como a sua vida era antes e como ficou depois do satori, um mestre zen moderno respondeu: "Agora meu jardim parece mais colorido."

Na iluminação, o praticante não é arrebatado a nenhum outro lugar.

Outra suposição comum é que, sendo iluminado, o fluxo de pensamentos pára e o praticante fica como um espelho polido, refletindo a pura realidade, sem pensamentos que o atrapalhem. Pelo contrário, os pensamentos não param—o que ocorre é que o praticante abre mão deles, deixa-os passar, se esquece deles, e se esquece de si mesmo.

Quando o quinto patriarca, Hongren (em japonês, Daiman Konin, 601-647), decidiu escolher quem o sucederia, propôs a seus discípulos que tentassem captar a essência do zen em um poema; o autor do melhor poema seria seu sucessor. Quando receberam a notícia, os monges já sabiam quem seria o vencedor: Shenxiu, o aluno mais antigo de Hongren. Ninguém se deu ao trabalho de competir com ele. Apenas esperaram, e Shexiu escreveu seu poema e o pendurou na parede:

"Este corpo é a árvore de Bodhi.

A alma é como um espelho brilhante.
Toma cuidado para que sempre esteja limpo,

não deixando o pó se acumular sobre ele".
Todos os monges gostaram. Com certeza, Hongren também iria gostar. Entretanto, no dia seguinte, havia outro poema pendurado ao lado, que alguém havia pregado durante a noite:

"Bodhi não é como uma árvore.

O espelho brilhante não brilha em parte alguma:
Se nada há desde o princípio,

Onde se acumula o pó?"
Os monges ficaram assombrados. Quem teria escrito aquilo? Depois de algum tempo, descobriram: o autor do poema era Huineng, o cozinheiro do monastério. E, percebendo a sua origem, foi a ele que Hongren estendeu seu manto e sua tigela, fazendo de Huineng o sexto patriarca.

Ensinamentos radicais

Algumas das histórias tradicionais do zen descrevem mestres usando estranhos métodos de ensino, e muitos praticantes de hoje tendem a interpretar essas histórias de maneira excessivamente literal. Por exemplo, muitos ficam indignados quando ouvem histórias como a do mestre Linji, fundador da escola rinzai, que disse: "Se você encontrar o Buda, mate o Buda. Se você encontrar um patriarca, mate o patriarca." Um mestre contemporâneo, Seung Sahn, também ensina a seus alunos que todos precisamos matar três coisas: matar nossos pais, matar o Buda e matar nosso professor (no caso, o próprio Seung Shan). No entanto, é claro que nem Linji nem Seung Sahn estavam falando de maneira literal. O que eles queriam dizer era que precisamos "matar" nosso apego a professores e coisas externas. Quando visitam templos ou centros de prática zen, os iniciantes que leram muitas dessas histórias e esperam encontrar professores iconoclastas normalmente surpreendem-se com a natureza conservadora e formal das práticas.

O zen e outras religiões

Desde meados do século XX, o zen tem-se aberto ao diálogo interreligioso, tendo figurado em inúmeros encontros e conferências ao redor do mundo. Talvez a figura mais representativa do zen nesse diálogo seja o monge vietnamita Thich Nhat Hanh, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1967, que se tem dedicando ao diálogo interreligioso há décadas e que mantém, em seu altar, imagens tanto de Buda quanto de Jesus.

Em templos e centros de prática zen ao redor do mundo, é comum que muitas pessoas não budistas frequentem as atividades e pratiquem zazen. Essa prática é geralmente bem aceita pelos professores, já que o budismo é uma religião de tolerância que vê as outras religiões como caminhos espirituais válidos e que está aberta a quem quiser apenas meditar, sem qualquer filiação religiosa.

Em algumas escolas, como a sanbo kyodan, a aceitação de praticantes de outras religiões é tão grande que, sem ter de abandonar a sua religião, um praticante pode receber a transmissão do Dharma e tornar-se professor.

Textos Zen

Existem várias lendas dentro da tradição zen, transmitidas e renovadas pela tradição oral e parte dos folclores chinês e japonês, que se entrelaçam com a história. Narrativas da tradição oral, muitas das quais compiladas em antologias literárias, podem ser, de acordo com diferentes visões de teóricos, consideradas lendas, folclore, mitologia ou literatura propriamente dita.

Ao tratar das narrativas setsuwa説話 no Japão, narrativas breves, contadas "de um fôlego só", compiladas na antologia literária Konjaku Monogatarishu今昔物語集 , ou Antologia de Narrativas de Hoje e de Ontem, do período Heian 平安時代(794-1192), Yoshida considera que tais narrativas são "transmitidas como reais ou supostamente reais, frutos, portanto, de uma criação coletiva anônima e reunidas numa coletânea de narrativas setsuwa (説話) por um compilador". A antologia contém histórias referentes à China, Índia e Japão, algumas das quais associadas ao budismo.

O Sermão da Flor

As origens do zen são apontadas para o Sermão da Flor, cuja fonte mais antiga vem do século XIV. Gautama Buddha juntou seus discípulos para um discurso do Dharma. Quando eles se juntaram, o Buda permaneceu completamente silencioso e alguns acharam que ele estava cansado ou doente. Silenciosamente, o Buda levantou uma flor e vários discípulos tentaram interpretar o que isso significava, embora nenhum deles corretamente. Um dos discípulos, Mahakashyapa (em sânscrito, Mahākāśyapa), também silenciosamente, olhou para a flor e obteve um entendimento especial, para além das palavras, ou prajna (do sâncrito prajñā, "sabedoria"), diretamente da mente do Buda. Mahakashyapa de alguma forma compreendeu o verdadeiro sentido inexprimível da flor e o Buda sorriu para ele, reconhecendo o seu entendimento e dizendo:

Eu possuo o verdadeiro olho do darma, a mente maravilhosa do nirvana,a forma verdadeira do informe, o portal sutil do Dharma que não depende de palavras ou escritos, mas é uma transmissão especial fora das escrituras. Isto eu passo a Mahakashyapa.

Mahakashyapa é, por este dom raro de compreensão, considerado o primeiro patriarca pelo Zen chinês, ou (Ch'an).

Desta forma, através do zen, desenvolveu-se um caminho que se concentrou na experiência direta mais do que em crenças racionais ou escrituras reveladas. A sabedoria era passada, não por meio de palavras, mas através da linhagem da transmissão direta, de mente a mente, do pensamento de um mestre a um discípulo. Comumente, acredita-se que esta linhagem continuou ininterrupta, desde o tempo do Buda até os dias de hoje. Historicamente, esta crença é discutível, devido à falta de evidência que dê suporte a ela. De acordo com D. T. Suzuki, a ideia de uma linha de descendência a partir de Sidarta Gautama é uma instituição distintiva do zen. Ele acredita que foi inventada por estudiosos, através da hagiografia, para dar legitimidade e prestígio ao zen.

Parábola de Buda

Ao atravessar um campo, um homem encontrou um tigre. Fugiu a sete pés, com o tigre atrás dele. À sua frente, encontrou um precipício em que acabou por cair. Mas conseguiu agarrar-se à raiz de uma velha videira e ali ficou pendurado, com o tigre a cheirá-lo. Tremendo de medo, olhou para baixo e viu outro tigre, lá longe em baixo,que o esperava, cheio de apetite. A sua vida estava completamente dependente da videira. Mas apareceram dois ratos, um branco e outro preto, os quais, pouco a pouco, começaram a roer a raiz da videira. Foi só nesse momento que se apercebeu que, mesmo ao pé da raiz, crescia um morango apetitoso. Agarrando-se à videira com uma mão, colheu o morango com a outra. Foi o melhor morango que alguma vez comeu!

Temperamento

Um estudante de Zen foi ter com Bankei e queixou-se:
- Mestre, tenho um temperamento ingovernável. Como posso curá-lo?
- Tens uma coisa muito estranha, replicou Bankei. Mostra-me lá então isso que tens.
- Neste preciso momento, não lhe posso mostrar, respondeu o outro. Acontece inesperadamente!..., respondeu o estudante.
- Então, concluiu Bankei, não deve ser a tua verdadeira natureza. Se fosse, podias mostrar-me em qualquer altura. Quando nasceste, não o tinhas e não foram os teus pais que to deram. Pensa nisso.

A estrada enlameada

Tanzan e Ekido caminhavam juntos numa estrada enlameada. Caía ainda uma chuva forte. Junto a um cruzamento da estrada, encontraram uma moça bela, que não conseguia atravessar, porque não queria sujar o kimono de seda que trazia.

- Anda moça, disse Tanzan imediatamente. E, carregando-a nos seus braços, atravessou-a para o outro lado da zona mais enlameada.

A partir daí, Ekido ficou calado todo o caminho que percorreram até à noite. Ao chegarem ao templo onde ficariam a pernoitar, Ekido não conseguiu conter-se e disse a Tanzan:

- Nós, os monges, não nos aproximamos de mulheres. Especialmente se são jovens e bonitas. É perigoso. Por que fizeste aquilo?

- Eu deixei a moça lá atrás - disse Tanzan. Tu ainda estás a carregá-la?

Tudo é melhor

Quando Banzan passeava num mercado, ouviu uma conversa entre um carniceiro e um cliente.

- Dê-me o melhor bocado de carne que tem, disse o cliente.
- Na minha loja, tudo é o melhor, respondeu o carniceiro. Não encontrará aqui nenhum bocado de carne que não seja o melhor!

Ao ouvir estas palavras, Banzan tornou-se um iluminado.

O meu coração arde como fogo

Soyen Shaku (1859-1919), um roshi, mestre do zen-budismo japonês, (ch. laoshi) da escola rinzai, disse, um dia: "O meu coração arde como fogo. Mas os meus olhos são frios como cinzas mortas". Ele propôs as seguintes regras de vida:

De manhã, antes de vestir-se, acenda incenso e medite.
Coma a intervalos regulares e deite-se a uma hora regular. Coma sempre com moderação e nunca até ficar plenamente satisfeito.
Receba as suas visitas com a mesma atitude que tem quando está só. Quando só, mantenha a mesma atitude que tem quando recebe visitas.
Preste atenção ao que diz e, o que quer que diga, pratique-o.
Quando uma oportunidade chegar, não a deixe passar, mas pense sempre duas vezes antes de agir.
Não se deixe perturbar pelo passado. Olhe para o futuro.

A sua atitude deve ser a de um herói sem medo, mas o coração deve ser como o de uma criança, cheio de amor.
Ao retirar-se, ao fim do dia, durma como se tivesse entrado no seu último sono.
Ao acordar, deixe a cama para trás, instantaneamente, como se tivesse deixado fora um par de sapatos velhos.

Confucionismo


O confucionismo (儒學, Loudspeaker.svg? Rúxué) ou confucianismo é um sistema filosófico chinês criado por Kung-Fu-Tsé, (孔夫子). Entre as preocupações do confucionismo estão a moral, a política, a pedagogia e a religião. Conhecida pelos chineses como "ensinamentos dos sábios". Fundamentada nos ensinamentos de seu mestre, o confucionismo encontrou uma continuidade histórica única. O confucionismo é considerado uma filosofia, ética social, ideologia política, tradição literária e um modo de vida. Confúcio, forma latina de Kung Fu Tsé, filósofo chinês do século VI a.C, compila e organiza antigas tradições da sabedoria chinesa e elabora uma doutrina assumida como oficial na China por mais de 25 séculos. Combatido como reacionário durante a Revolução Cultural chinesa (1966-1976), o confucionismo toma novo impulso após as recentes mudanças políticas no país. Atualmente, 25% da população chinesa declara-se adepta do confucionismo.De particular importância Confúcio deu caráter moral a funcionários-apoiar o governo e seus representantes.

Temas do raciocínio confucionista

A humanidade é o núcleo no confucionismo. Uma maneira simples de apreciar o pensamento de Confúcio é considerá-lo como sendo baseado em diferentes níveis de honestidade, e uma forma simples de entender o pensamento de Confúcio é examinar o mundo usando a lógica da humanidade. Na prática, os elementos do confucionismo acumularam-se ao longo do tempo. Existe o clássico (Wuchang , constituído por cinco elementos: Ren (仁, a Humanidade), Yi (justiça), Li (礼, ritual), Zhi, conhecimento) e Xin (信, integridade), e há também o Sizi clássico, com quatro elementos: Zhong (忠, lealdade), Xiao (孝 , a piedade filial), Jie (节, continência) e Yi (义, justiça). Há ainda muitos outros elementos, tais como o Cheng (诚, honestidade), Shu (恕, bondade e perdão), Lian (廉, honestidade e pureza), Chi (耻, vergonha, juízo e senso de certo e errado), Yong (勇, bravura), Wen (温, amável e gentil), Liang (良, bom, bom coração), Gong (恭, respeitoso, reverente), Jian (俭, frugal) e Rang (让, modéstia, discrição). Entre todos os elementos, o Ren (Humanidade) e o Yi (Justiça) são fundamentais. Às vezes, a moralidade é interpretada como o fantasma da Humanidade e da Justiça.

Ver agir em relação aos outros, mas de uma atitude subjacente da humanidade. O conceito de Confúcio de humanidade (仁, ren) é provavelmente melhor expresso na versão confucionista de Ética da reciprocidade, ou a Regra de Ouro: "não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a ti".

Confúcio nunca disse se o homem nasce bom ou mau, observando que, naturalmente, os homens são semelhantes, mas, na prática, são diferentes. Confúcio percebeu que todos os homens nascem com semelhanças intrínsecas, mas também que o homem é condicionado e influenciado pelo estudo e pela prática. A opinião de Xunzi é que os homens originalmente só querem o que eles instintivamente querem, apesar dos resultados positivos ou negativos que aquilo pode trazer; por isso o desenvolvimento é necessário. Do ponto de vista de Mencius todos os homens nascem para compartilhar a bondade, como a compaixão e o bom coração, embora possam se tornar malignos. O texto clássico dos Três Personagens começa assim: "As pessoas no momento em que nascem são naturalmente boas (bondosas)", que decorre da ideia de Mencius. Todos os pontos de vista, eventualmente, levam ao reconhecimento da importância da educação humana e do desenvolvimento.

O Ren também tem uma dimensão política. Se o governante não tem o Ren, o confucionismo diz que será difícil, se não impossível, para os seus súditos comportarem-se humanamente. O Ren é a base da teoria política confuciana: pressupõe um governante autocrático, exortado a não agir desumanamente com seus súditos. Um governante desumano corre o risco de perder o "Mandato dos Céus", o direito de governar. Um governante sem tal mandato não precisa ser obedecido. Mas um governante que reina de forma humana e cuida do povo deve ser obedecido rigorosamente, pois a benevolência de seu governo mostra que ele foi incumbido pelo céu. O próprio Confúcio tinha pouco a dizer sobre a vontade do povo, mas seu principal seguidor, Mêncio, disse em uma ocasião que a opinião das pessoas sobre certos assuntos importantes devem ser consideradas.

Ao contrário de profetas de religiões monoteístas, Confúcio não pregava uma teologia que conduzisse a humanidade a uma redenção pessoal. Pregava uma filosofia que buscava a redenção do Estado mediante a corretude do comportamento individual. Tratava-se de uma doutrina orientada para esse mundo, pregava um código de conduta social e não um caminho para a vida após a morte.

Ritual

No Confucionismo, o termo "ritual" logo foi estendido para incluir o comportamento cerimonial secular e, eventualmente, refere-se também ao decoro ou polidez que se vê no dia a dia. Rituais foram codificados e tratados como um sistema completo de normas. O próprio Confúcio tentou reanimar a etiqueta das dinastias antigas. Após sua morte, as pessoas o viam como uma grande autoridade sobre os comportamentos dos rituais.

É importante notar que o "ritual" desenvolveu um significado específico no confucionismo, ao contrário de seus significados religiosos usuais. No confucionismo, os atos da vida cotidiana são considerados rituais. Os rituais não são necessariamente regimentados ou práticas arbitrárias, mas sim as rotinas em que muitas vezes as pessoas se inserem, consciente ou inconscientemente, durante o curso normal de suas vidas. Moldar os rituais de uma forma que leve a uma sociedade saudável e satisfeita e a um povo saudável e satisfeito é um objetivo da filosofia confucionista.

Lealdade

A lealdade ( 忠, zhong) é equivalente à piedade filial em um plano diferente. É particularmente relevante para a classe social a que a maioria dos alunos de Confúcio pertencia, porque a única maneira de um jovem estudioso e ambicioso fazer o seu caminho no mundo confuciano chinês era entrar em um serviço civil no governo. Como a piedade filial, no entanto, a lealdade era frequentemente subvertida pelos regimes autocráticos da China. Confúcio defendia uma sensibilidade à realpolitik das relações de classe na sua época. Ele não propôs que "o poder dá a razão", mas que um ser superior que recebeu o "mandato do céu" (天命) deveria ser obedecido devido a sua retidão moral.

Anos mais tarde, no entanto, a ênfase foi colocada mais sobre as obrigações dos governados para o governante, e menos nas obrigações do governante para os governados.

A lealdade era também uma extensão dos deveres do indivíduo com os amigos, cônjuge e familiares. A lealdade para com a família vinha primeiro, em seguida para o cônjuge, depois para o governante, e por último aos amigos. A lealdade era considerada uma das grandes virtudes humanas.

Confúcio também percebeu que a lealdade e a piedade filial podem entrar em conflito.

História

Dos seguidores de Confúcio, o século I A.C. encontrou em Meng Zi (孟子) (Mêncio) e Xun Zi (荀子) um grande desenvolvimento e expansão na sociedade. Esses dois autores buscaram compreender o confucionismo dentro de um pensamento natural, recorrente nas forças que atuavam na sociedade em seus períodos de vida.

Mêncio

Mêncio acreditava na importância da educação para retificar a boa natureza humana, que teria sido depravada em função dos conflitos e das necessidades impostas pela vida. O ser humano possuiria a capacidade de desenvolver um espírito de ajuda mútua de modo a evitar os conflitos interpessoais inerentes à existência humana.

Xun Zi

Já Xun Zi recorreu ao verso da moeda para compreender o papel de Confúcio. Ele acreditava numa natureza perversa do homem, derivado dos mesmos instintos de preservação dos animais. Talvez pensando nos rituais propostos para a sociedade, e pela necessidade de ordenação, tal como no maior fundamento das lendas de fundação chinesas e na influência jurista, Xun Zi via no interior do homem uma inteligência capaz de articular meios pelo qual poderia evitar sua condição natural de forma arbitrária, mas que para isso haveria de ter criado uma escala de valores delimitantes da ação humana.

Mêncio conseguiu uma boa repercussão popular por sua abordagem otimista da vida, mas as classes altas da sociedade viram em Xun Zi uma explicação razoável para suas dúvidas. Assim ao menos deixam transparecer algumas biografias de Sima Qian (II a. C.).

Império chinês

O Confucionismo se tornaria a doutrina oficial do império chinês durante a dinastia Han ( séculos III a. C. - III d. C.), encontrando continuadores ao longo deste período que se destacaram em vários campos diferentes. Donz Zhong shu, por exemplo, buscou revigorar e re-interpretar o confucionismo através das teorias cosmológicas dos [cinco elementos] (Terra, Madeira, Fogo, Metal e Água); Wang Chong utilizou-se de um ceticismo lógico para criticar as crenças infundadas e os mitos religiosos.

Embora tivesse perdido um certo vigor após a dinastia Han, o confucionismo seria novamente desenvolvido no movimento conhecido como neoconfucionismo, datado do século X d.C., através da figura de personagens como os irmãos Cheng e Zhu xi, o grande comentador confucionista.

Antiguidade

De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são temas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitos afirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.

Dias de hoje

O confucionismo é ainda praticado em vários países. Apesar da sua origem asiática, diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamente urbanas. No Brasil, o confucionismo não é observado em nenhum segmento da sociedade.

Acredita-se que existam cerca de 6,5 milhões de adeptos do confucionismo no mundo todo.

Ditos do Confucionismo

Mesmo nas situações mais pobres uma pessoa que vive corretamente será feliz. Coisas mal adquiridas sempre trarão tristeza.

Chang San Feng



Chang San Feng (ou Zhang Sanfeng) é um quase mitológico monge taoista chinês que muitos acreditam ter conquistado a imortalidade.

Grande parte do material escrito sobre ele tem um caráter mítico, contraditório ou até mesmo suspeito. Por exemplo, segundo diferentes autores, ele teria nascido no ano de 960, 1247 ou 1279. Nas lendas, ele costuma ser associado aos monastérios taoistas das montanhas Wudang, na província de Hubei.

Dizem que seu nome antes de se tornar um taoista era 張君寶.

Seu nome Taoísta em caracteres chinese tradicionais é 張三丰, ou 張三豐. Ambos se escrevem ZhāngSānfēng em pinyin e Chang¹San¹-feng¹ em Wade-Giles.

A concepção do Tai Chi Chuan

A este herói cultural legendário, se atribui a origem dos conceitos de neijia, de arte marcial interna e, mais especificamente, do tai chi chuan.

Segundo uma das histórias registradas sobre este mestre, Chang Sangfeng vivia num templo taoista do monte Wudang, onde já havia desenvolvido uma forma de arte marcial conhecida como Os trinta e dois estilos do punho longo de Wudang.

Chang Sangfeng teria criado As treze posturas fundamentais do tai chi ao observar a luta entre um pássaro (segundo algumas versões, um grou) e uma cobra.

Nessa observação, constatou como a flexibilidade pode se sobrepor à rigidez. Compreendendo como esta alternância entre o Yin e o Yang presente nos ciclos da natureza podem ser integradas às práticas de movimentos, concebeu, assim, a base da arte marcial que depois passou a ser chamada de tai chi chuan.

De acordo com documentos relativamente antigos (século XIX) preservados nos arquivos das famílias Yang e Wu, o nome do mestre de Zhang Sanfeng era Xu Xuanping (許宣平), um poeta eremita da dinastia Tang, taoista exímio em tao in.

As linhagens de tai chi chuan que atribuem a criação de sua arte a esse mestre tradicionalmente celebram seu aniversário no nono dia do terceiro mês lunar do calendário chinês. Apesar de não ser uma conversão precisa, a data de 9 de Abril costuma ser adotada em sua homenagem no calendário ocidental.

Realidade ou lenda?

Embora diversos estudiosos considerem Chang Sangfeng um mito, há na China diversos monumentos e textos que podem ser apresentados como comprovação de sua existência.

Nas montanhas Wudang, existem duas grandes placas em sua homenagem: uma colocada por decreto do imperador Seng Zu e outra por decreto do imperador Ying Zhong, ambos da dinastia Ming.

A História imperial da dinastia Ming registra que:

Chang Sangfeng nasceu em 1247, aprendeu os preceitos do Taoismo com um mestre chamado Dragão de Fogo, no monte Nanshan, em Shanxi; cultivou seu espírito por nove anos no monte Wudang; era conhecido pelo título honorífico de O santo da conquista espiritual infinita; e foi o primeiro patriarca das artes marciais interiores a mesma fonte o descreve assim: ele era grande, de aparência imponente, ostentava os sinais clássicos da longevidade, isto é, os sinais da tartaruga e do grou. Possuía orelhas grandes e olhos redondos. A barba eriçava-se-lhe furiosamente como a lâmina de uma alabarda. Tanto no verão como no inverno, envergava uma simples vestimenta.

Os Anais do grande pico da montanha da paz eterna mencionam que Chang Sangfeng estudou o Yin e Yang do cosmos, observou o princípio da longevidade das tartarugas e dos grous e obteve resultados notáveis.

Além disso, são atribuídos a Chang Sangfeng o texto O segredo de treinar a quintessência interior na arte do tai chi, um dos clássicos do tai chi chuan e várias obras apócrifas sobre alquimia interior datadas do final do século XIX.

Tao yin


Representação do "feto imortal"


Tao Yin (chinês: 導引; pinyin: dǎoyǐn) é um têrmo chinês associado às práticas de meditação de origem taoísta desenvolvida na China. Este tipo de meditação também é conhecido como sentar na calma.

O conceito de wu wei, não-ação, é um dos princípios básicos para a realização no tao yin.

Tradução literal

O significado literal dos ideogramas que compõe esta palavra é:

導 - guiar, liderar, conduzir
引 - admitir, puxar, assimilar
Os dois termos, "conduzir" e "assimilar", estabelecem uma relação Yin Yang de ação e não-ação, indicando o princípio de aprendizado do natural a ser seguido na prática.

História

Teve sua origem e foi desenvolvido desde uma época desconhecida da pré-história chinesa, talvez a partir de danças tribais e de práticas xamânicas.

Há referências à sua prática anteriores a 500 a.C..

Há indicações de que foi sistematizado pelos taoístas no Período dos Reinos Combatentes (403 - 221 a.C.)

É praticado ainda hoje em monastérios chineses Taoístas como os das Montanhas Wudang como método para assegurar a saúde e cultivar o espírito.

O Tao Yin também é ensinado atualmente sob o nome do de "Daoyin Yangsheng Gong" na Universidade de Educação Física de Beijing.

Sua prática é por vezes associada aos treinamentos de qigong, especificamente à variedade conhecida como neigong, sendo muitas vezes praticado associado às artes marciais chinesas internas como o Tai Chi Chuan. Na tradição taoista há um equilíbrio complementar Yin Yang entre meditar e se movimentar com suavidade.

Esta meditação é considerada na China uma prática de natureza espiritual que pode ser praticada com legitimidade tanto dentro do contexto da filosofia de vida taoista (Tao Chia) quanto na religião taoista (Tao Chiao).

Entre os maiores divulgadores desta prática no Brasil no século XX podem ser citados o Mestre Liu Pai Lin, representante de diversas linhagens taoistas tradicionais (não religiosas), o Mestre Chan Lau Ting que além de divulgar o Wing Chun Kuen no país também ensinou várias técnicas taoístas e Ch'an budistas, e o Mestre Wu Jyh Cherng, representante pioneiro da religião taoista no Brasil.

O Segredo da Flor de Ouro



A leitura de livros como O Segredo da Flor de Ouro pode ser tomado como uma leitura inicial para conhecer o Tao Yin, mas o verdadeiro conhecimento de Tao Yin se adquire através da prática e da convivência com quem o pratica, não da leitura de manuais ou de livros teóricos.

Como coloca o Tao Te Ching em seu primeiro capítulo, "o Tao verdadeiro não pode ser nomeado".

Encontramos neste livro ilustrações que podem ser tomadas como metáforas das diversas etapas da realização da prática.

Uma destas representações dos estágios da realização espiritual através da meditação apresenta o meditante gerando um feto imortal dentro de si, concebendo um novo corpo de energia.

O retorno à Origem

Segundo a cosmologia tradicional chinesa, o vazio original dá origem ao Tai Chi, que se diferencia em Yin Yang, que dão origem à relação dos cinco elementos, que geram as dez mil coisas (dez mil têm para os chineses o sentido de infinidade).

O processo da meditação Tao Yin se dá no sentido contrário, das dez mil coisas retornar à relação dos cinco elementos, recuperando o equilíbrio de Yin Yang retornar ao Tai Chi, daí voltando a se integrar ao vazio original, à origem da existência.

A base para a realização deste processo é o contato constante e natural (seguindo os princípios do Wu Wei) do praticante com seu Dantian, campo de cultivo de sua energia vital.

Práticas como o Chi Kung, Zhan Zhuang e o Tai Chi Chuan podem auxiliar o praticante a exercitar este contato e compreender como mantê-lo em seu cotidiano.

Segundo a transmissão do Mestre Liu Pai Lin, o treinamento da serenidade dá acesso à possibilidade de renovação da energia vital através das práticas taoístas.

No artigo "O Portal da Quietude" o Mestre Wu Jyh Cherng explica que "É exatamente através do processo de repouso que se retorna à raiz." (publicado no Jornal Tao do Taoísmo n. 17, link nas "páginas externas").

Conforme o artigo "Meditação e quietude", publicado no mesmo jornal editado pela Sociedade Taoísta do Brasil:

"O primeiro efeito da meditação é a extinção da percepção do corpo físico, em seguida penetra-se num estágio em que tudo é energia, e nossa consciência torna-se o próprio campo energético, e por último atingimos o estado de extrema quietude que está por trás da energia…"

O Tao Yin e as outras práticas chinesas para a saúde

O Tao Yin é também descrito como um exercício psicofisiológico de integração entre mente e corpo.

Procurando o equilíbrio entre movimento e serenidade, as práticas de Tao Yin costumam ser associadas a técnicas de ginástica e de auto-massagem.

Diversos estudiosos consideram este conhecimento a origem de todas as demais formas de exercícios tradicionais chineses para a saúde.

Segundo seus praticantes, estes treinamentos visam desobstruir os meridianos, possibilitando a regulagem do fluxo do sangue e da energia.

Seu objetivo é nutrir o corpo e a mente, aliviar a fadiga e a ansiedade, prevenindo desequilíbrios da saúde e possibilitando o desenvolvimento espiritual.

Semelhanças com os princípios Zen

Na China houve uma integração entre práticas Budistas e Taoístas que resultou no Budismo Chan, que preserva várias técnicas de meditação semelhantes às taoístas.

O Zen Budismo nasceu no Japão, tem como origem o Budismo Chan, assim também há semelhanças entre as práticas de Tao Yin e algumas de suas práticas e princípios teóricos.

Assim, algumas das práticas de Tao Yin chegaram inicialmente ao ocidente através do Japão. As técnicas de auto-massagem associadas ao Do-in são um exemplo.

Taoismo



O Taoismo, também chamado Daoismo e Tauismo, é uma tradição filosófica e religiosa originária do Leste Asiático que enfatiza a vida em harmonia com o Tao (romanizado atualmente como "Dao"). O termo chinês "Tao" significa "caminho", "via" ou "princípio", e também pode ser encontrado em outras filosofias e religiões chinesas. No taoismo, especificamente, o termo designa a fonte, a dinâmica e a força motriz por trás de tudo que existe.

É, basicamente, indefinível: "O Tao do qual se pode discorrer não é o eterno Tao." A principal obra do taoismo é o Tao Te Ching, um livro conciso e ambíguo que contém os ensinamentos atribuídos a Lao Zi (chinês: 老子, pinyin: Lǎozi, Wade-Giles: Lao Tzu). Juntamente com os escritos de Zhuangzi, estes textos formam os alicerces filosóficos dessa religião. Este taoismo filosófico, individualista por natureza, não foi institucionalizado.

Ao longo do tempo, no entanto, foram sendo criadas formas institucionalizadas do taoismo na forma de diferentes escolas que, frequentemente, misturaram crenças e práticas que antecediam até mesmo os textos-chave do taoismo - como, por exemplo, as teorias da Escola dos Naturalistas, que sintetizaram conceitos como o do yin-yang e o dos cinco elementos. As escolas taoistas tradicionalmente reverenciam Lao Zi e os "imortais" ou "ancestrais" e possuem diversos rituais de adivinhação e exorcismo, além de práticas que visam a atingir o êxtase e obter maior longevidade ou mesmo a imortalidade.

As tradições e éticas taoistas variam de acordo com a escola, porém, no geral, enfatizam a serenidade, a não ação (wu-wei), o vazio, a moderação dos desejos, a simplicidade,a espontaneidade, a contemplação da natureza e os Três Tesouros: compaixão, moderação e humildade.

O taoismo teve uma influência profunda na cultura chinesa no decorrer dos séculos. Os clérigos do taoismo institucionalizado (chinês: 道士, pinyin: dàoshi), geralmente, tomam cuidado para deixar clara a distinção entre suas tradições rituais e os costumes e práticas encontrados na religião popular chinesa, uma vez que estas distinções podem ser facilmente pouco perceptíveis. A alquimia chinesa (especialmente neidan), a astrologia chinesa, o zen-budismo, diversas artes marciais, a medicina tradicional chinesa, o feng shui e diversos estilos de qiqong têm suas histórias entrelaçadas com a do taoismo. Além da China em si, o taoismo teve grande influência nas sociedades do leste da Ásia.

Após Lao Zi e Zhuangzi, a literatura do taoismo cresceu com regularidade e passou a ser compilada na forma de um cânone, o Daozang, que, por vezes, era publicado a mando do Imperador da China. Ao longo da história chinesa, o taoismo foi, por diversas vezes, decretado a religião do Estado. Após o século XVII, no entanto, ele perdeu muito de sua popularidade. Tal como todas as outras atividades religiosas, o taoismo foi reprimido nas primeiras décadas da República Popular da China e até mesmo perseguido durante a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung; continuou, no entanto, a ser praticado livremente em Taiwan. Hoje em dia, é uma das cinco religiões reconhecidas pela República Popular da China e, embora não costume ser compreendida com facilidade longe de suas raízes asiáticas, tem seguidores em diversas sociedades ao redor do mundo.

Categorização

Há um debate sobre como, e se, o taoismo deve ser classificado. Lívia Kohn dividiu-o em três categorias:

Taoismo filosófico (Chinês:道家; pinyin: dàojiā; Wade-Giles: tao-chia) - A escola filosófica baseada nos textos Dao De Jing (道德 经) e Zhuangzi (庄子);
Taoismo religioso (chinês: 道教; pinyin: dàojiào; Wade-Giles: tao-chiao) - Uma família de movimentos religiosos organizados da China, oriundos do movimento Mestres Celestiais durante o final da Dinastia Han e, mais tarde, incluindo as seitas "ortodoxa" (Zhengyi; 正 一) e a "Realidade Completa" (Quanzhen, 全 眞), que reivindicam linhagens descendentes de Laozi (老子) ou Daoling Zhang no final da dinastia Han;
Taoismo tradicional - A religião tradicional chinesa. Manifestações da tradição religiosa chinesa, de caráter popular, integram elementos do taoismo religioso, do confucionismo e do budismo.
Esta distinção é complicada pelas dificuldades hermenêuticas (interpretações) na categorização das escolas taoistas, seitas e movimentos. Alguns estudiosos acreditam que não há distinção entre daojia e daojiao. De acordo com Kirkland, "a maioria dos estudiosos que tem estudado o taoismo a sério, tanto na Ásia quanto no Ocidente, finalmente abandonou a dicotomia simplista de tao-chia (taoismo filosófico) e tao-chiao (taoismo religioso)".

Hansen afirma que a identificação de "taoismo", como tal, ocorreu pela primeira vez no início da Dinastia Han, quando dao-jia foi identificado como uma única escola. Os escritos de Laozi e Zhuangzi foram unidos sob esta tradição única durante a Dinastia Han, mas, notavelmente, não antes desta. É improvável que Zhuangzi fosse familiarizado com o texto Daodejing (Tao-te-ching). Além disso, Graham afirma que Zhuangzi não teria se identificado como um taoista, uma classificação que não surgiu até bem depois de sua morte.

O taoismo não cai estritamente sob uma definição de uma religião organizada, como as tradições abraâmicas, nem pode puramente ser estudado como o autor ou uma variante da religião tradicional chinesa, tanto que a religião tradicional está fora dos princípios e ensinamentos nucleares do taoismo. Robinet afirma que o taoismo pode ser melhor entendido como um modo de vida do que como uma religião, e que seus adeptos não se aproximam ou veem o taoismo da mesma maneira não taoista com que os historiadores o têm feito. Henri Maspero observou que muitos trabalhos acadêmicos enquadram o taoismo como uma escola de pensamento focado na busca pela imortalidade.

História

Tradicionalmente, o taoismo é atribuído a três fontes principais:

A mais antiga, o mítico "Imperador Amarelo", que teria vivido entre 2697 a.C. e 2597 a.C;
A mais famosa, o livro de aforismos místicos Tao Te Ching (Dao De Jing), supostamente escrito por Laozi (Lao Tse), que, segundo a tradição, foi um contemporâneo mais velho de Confúcio (551 a.C.-479 a.C.);
Os trabalhos do filósofo Zhuangzi (Chuang-Tsé) (369 a.C.-286 a.C.)
Outros livros ampliaram o taoismo, como o Tratado do Vazio Perfeito, de Liezi; e a compilação Huainanzi. Além destes, o antigo I Ching, "O Livro Das Mutações", é tido como uma fonte extra do taoismo, assim como práticas de adivinhação da China antiga.

Algumas formas de taoismo podem ser rastreadas até as religiões tradicionais na China pré-histórica, que, mais tarde, se uniram em uma tradição taoista. Laozi é tradicionalmente considerado como o fundador do taoismo e está intimamente associado, nesse contexto, com o taoismo "original" ou "primordial". Laozi recebeu o reconhecimento imperial como uma divindade, em meados da século II a.C.. O taoismo ganhou status oficial na China durante a Dinastia Tang, cujos imperadores alegaram que Laozi era seu parente. Vários imperadores Song, mais notavelmente Huizong, estavam ativos na promoção do taoismo, coletando textos taoistas e edições publicadas do Daozang. Aspectos do confucionismo, taoismo e do budismo foram sintetizados conscientemente na escola neoconfucionista, que, eventualmente, se tornou a ortodoxia imperial para os fins burocráticos do Estado.

A Dinastia Qing, no entanto, muito favoreceu clássicos confucionistas e rejeitou os trabalhos taoistas. Durante o século XVIII, a biblioteca imperial foi construída, mas excluiu praticamente todos os livros taoistas. No início do século XX, o taoismo tinha caído tanto, que apenas uma cópia completa do Daozang ainda permanecia, no Mosteiro Nuvem Branca, em Pequim. Atualmente, o taoismo é uma das cinco religiões reconhecidas pela República Popular da China, que regula suas atividades através de uma estatal burocrática (a Associação Taoista da China).

O tao do taoismo

O ideograma tao (ou dao) (道) pode ser traduzido como "via" ou "caminho", mas assume um significado mais abstrato para a religião e para a filosofia chinesa. É o que há de mais profundo e misterioso na realidade e que faz com que tudo seja como é. É o conjunto indiferenciado de tudo o que existe, mas também o princípio supremo que gera e está na origem do seu "devir", ou seja, é também o seu "caminhar". Embora seja invisível, inaudível e intangível, manifesta‑se pela sua influência, a que se chama "virtude" — o te (德, dé). Mas essa influência é espontânea, ou seja, faz parte da sua própria natureza, do seu próprio fluir natural. Como se diz no Tao Te King: o tao "age sem agir" (為無為, wu wei).

Um tema no pensamento chinês primitivo é tian-dao ou "caminho da natureza" (tian, também traduzido como "céu" e, às vezes, "Deus"). Corresponde aproximadamente à ordem das coisas de acordo com a lei natural. Tanto o "caminho da natureza" quanto o "grande caminho" inspiram o afastamento estereotípico taoista das doutrinas morais e normativas. Assim, pensado como o processo pelo qual cada coisa se torna o que ela é (a "mãe de todas as coisas"), parece difícil imaginar que temos que escolher entre quaisquer valores de seu conteúdo normativo - portanto pode ser visto como um princípio eficiente de "vazio" que sustenta confiavelmente o funcionamento do universo.

Filosofia taoista

Do "caminho", surge "um" (aquele que está consciente), de cuja consciência, por sua vez, surge o conceito de "dois" (yin e yang), dos quais o número "três" está implícito (céu, terra e humanidade); produzindo, finalmente, por extensão, a totalidade do mundo como o conhecemos, "as 10 000 coisas", através da harmonia do wu xíng. O caminho, enquanto passa pelos cinco elementos do wu xíng, é também visto como circular, agindo sobre si mesmo através da mudança para simular um ciclo de vida e morte nas 10 000 coisas do universo fenomênico.
Aja de acordo com a natureza e com sutileza, em lugar de força.

A perspectiva correta será encontrada pela atividade mental da pessoa, até chegar a uma fonte mais profunda que guie sua interação pessoal com o universo.O desejo obstrui a habilidade pessoal de entender o caminho, moderar o desejo gera contentamento. Os taoistas acreditam que, quando um desejo é satisfeito, outro, mais ambicioso, brota para substituí-lo. Em essência, a maioria dos taoistas sente que a vida deve ser apreciada como ela é, em lugar de forçá-la a ser o que não é. Idealmente, não se deve desejar nada, "nem mesmo não desejar".

Unidade: ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são interdependentes e constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias, passamos a ver todas as coisas como elas são e a nós mesmos como apenas uma parte do momento presente. Essa compreensão da unidade nos leva a uma apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles como simples momentos miraculosos que "apenas são".

Dualismo: a oposição e combinação dos dois princípios básicos - yin e yang - do universo é uma grande parte da filosofia básica. Algumas das associações comuns com yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoistas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. São, em última análise, uma distinção artificial baseada em nossa percepção das 10 000 coisas, portanto é só nossa percepção delas que realmente muda.

Wu wei

Muito da essência do tao está na arte do wu wei ("agir pelo não agir"). No entanto, isso não significa "espere sentado que o mundo caia no seu colo". Essa filosofia descreve uma prática de se realizarem coisas através da ação mínima. Pelo estudo da natureza da vida, você pode influenciar o mundo do modo mais fácil e menos disruptivo (usando a sutileza em vez da força). A prática de seguir a corrente em vez de ir contra ela é uma ilustração: uma pessoa progride muito mais não por lutar e se debater contra a água, mas permanecendo quieta e deixando o trabalho nas mãos da correnteza.

O wu wei funciona a partir do momento em que confiamos no nosso design humano, que é perfeitamente ajustado para nosso lugar na natureza. Em outras palavras, confiando na nossa natureza em vez de na nossa racionalidade, nós podemos encontrar contentamento sem uma vida de luta constante contra forças reais e imaginárias.

Textos

Tao Te Ching

O Tao Te Ching (道德經), ou Dao De Jing, é amplamente considerado como o mais influente texto taoista. É uma escritura de fundação de importância central no taoismo, supostamente escrita por Laozi entre 350 e 250 a.C. No entanto, a data exata em que foi escrito é ainda objeto de debate: há aqueles que a colocam em qualquer lugar entre os séculos VI a.C. e III d.C. Ele tem sido usado como um texto ritual ao longo da história do taoismo religioso.

Os comentadores taoistas ponderaram profundamente nos primeiros versos do Tao Te Ching. Eles são amplamente discutidos, tanto na literatura acadêmica quanto na mais popular. Uma interpretação comum é semelhante à observação de Korzybski de que "o mapa não é o território". As linhas de abertura, com a tradução literal e a comum, são:

道 可 道, 非常 道.
"O caminho que pode ser descrito não é o verdadeiro caminho."
(O tao (caminho ou o caminho) pode ser dito, não da forma usual.)
名 可 名, 非常 名.
"O nome que pode ser nomeado não é o nome constante."
(Os nomes podem ser citados, os nomes não usuais.)

Tao, literalmente, significa "caminho" ou "o caminho" e pode significar figuradamente "natureza essencial", "destino", "princípio", ou "caminho verdadeiro". O filosófico e religioso tao é infinito, sem qualquer limitação. Um ponto de vista afirma que a abertura paradoxal destina-se a preparar o leitor para os ensinamentos sobre o tao não ensinável. Acredita-se que o tao é transcendente, indistinto e sem forma. Por isso, não pode ser nomeado ou categorizado. Mesmo a palavra "tao" pode ser considerada uma perigosa tentação de fazer do tao um nome limitador.

O Tao Te Ching não é tematicamente ordenado. No entanto, os principais temas do texto são repetidamente expressos em formulações variantes, muitas vezes com apenas uma pequena diferença entre elas. Os temas principais giram em torno da natureza do tao e como alcançá-lo. O tao é dito ser inominável e capaz de realizar grandes coisas através de meios pequenos.Há um debate importante sobre qual tradução do Tao Te Ching é a melhor. Discussões e disputas sobre várias traduções do Tao Te Ching podem tornar-se amargas, envolvendo visões profundamente arraigadas.

Os comentários antigos sobre o Tao Te Ching são textos importantes por direito próprio. O comentário Heshang Gong foi, provavelmente, escrito no século II d.C. e é, talvez, o mais antigo comentário. Ele contém a edição do Tao Te Ching que foi transmitida até os dias atuais. Outros comentários importantes incluem o Xiang'er, um dos textos mais importantes do Caminho do Mestre Celestial e o Wang Bi.

Zhuangzi

O Zhuangzi (庄子) é, tradicionalmente, atribuído a um sábio taoista de mesmo nome, mas isso foi recentemente contestado no meio acadêmico ocidental. Zhuangzi também aparece como um personagem na narrativa do livro. O Zhuangzi contém prosa, poesia, humor e disputa. O livro é, frequentemente, visto como complexo e paradoxal quanto aos argumentos e temas de discussão, que não são aqueles comuns à filosofia clássica ocidental, como a doutrina do nome de retificação (zhengming) e fazer distinções "isso/não presente" (shi/fei ). Entre o elenco de personagens das histórias do Zhuangzi, está Laozi, o autor do Tao Te Ching, bem como Confúcio.

Daozang

O Daozang (道 藏,Tesouro dos Tao) é, por vezes, referido como o cânon taoista. Foi, originalmente, compilado durante as dinastias Jin, Tang e Song. A versão publicada sobreviveu durante a dinastia Ming. O Ming Daozang inclui quase 1 500 textos.Seguindo o exemplo do budista Tripitaka, é dividido em três dong (洞, "cavernas", "grutas"). Eles estão organizados do mais alto para o mais baixo:

O Zhen ("real" ou "verdade" - 眞): Inclui o Shangqing.
A Xuan ("mistério"- 玄): Inclui o Lingbao.
O Shen ("divino" - 神): Inclui textos anteriores a Maoshan (茅山).

Daoshi geralmente não consultam versões publicadas do Daozang, mas escolhem individualmente, ou herdam, os textos incluídos no Daozang. Estes textos foram passados por gerações de professor para aluno.

A escola Shangqing tem uma tradição de se aproximar do taoismo através do estudo das escrituras. Acredita-se que, recitando alguns textos muitas vezes, se será recompensado com a imortalidade.

Outros textos

Enquanto o Tao Te Ching é o mais conhecido, há muitos outros textos importantes no taoismo tradicional. Taishang Ganying Pian ("Tratado do Abençoado na Resposta e Retribuição") discute pecado e ética e tornou-se uma referência de moralidade popular nos últimos séculos.[49] Afirma que aqueles em harmonia com o tao vão viver longas e frutíferas vidas. Que os ímpios e seus descendentes vão sofrer e ter encurtadas vidas. Tanto a Taiping Jing ("Escritura de Grande Paz") e o Baopuzi ("Livro do Mestre que Conserva a Simplicidade") contêm fórmulas alquímicas taoistas que se acreditavam poder conduzir à imortalidade.

Além disso, o Huainanzi é uma compilação da escrita de oito acadêmicos da dinastia Han que combina taoismo, confucionismo e os conceitos legalistas, incluindo as teorias, tais como yin-yang e cinco fases. O patrono Liu An (c. 180-122 a.C.) foi governador do estado de Huainan e neto do fundador da dinastia Han. O discurso em sua corte, favoreceu o pensamento taoista e trouxe filósofos, poetas e mestres de práticas esotéricas para a sua corte. Isso resultou no Huainanzi.

Taoismo e confucionismo

O taoismo é uma tradição que, dialogando com seu tradicional contraste, o confucionismo, modelou a vida chinesa por mais de 2 000 anos. O taoismo enfatiza a espontaneidade ou liberdade da manipulação sociocultural pelas instituições, linguagem e práticas culturais. Manifesta o anarquismo - defendendo essencialmente a ideia de que não precisamos de nenhuma orientação centralizada. Espécies naturais seguem caminhos apropriados a elas e os seres humanos são uma espécie natural. Seguimos todos por processos de aquisição de diferentes normas e orientações da sociedade, mas poderíamos viver em paz mesmo se não procurássemos unificar todas estas formas naturais de ser.

Como o conceito confucionista de governo consiste em fazer todos seguirem a mesmo moral, o taoismo representa, de certa forma, a antítese do conceito confucionista referente a deveres morais, coesão social e responsabilidades governamentais (embora o pensamento de Confúcio inclua valores taoistas e o inverso também ocorra, como se pode observar lendo os Analectos de Confúcio.

Religião taoista

Embora Laozi nunca tenha pregado nenhuma religião no Tao Te Ching e tenha sempre se mantido no terreno filosófico e moral, cerca de mil anos depois da sua morte, formou-se um corpo de doutrinas e de práticas religiosas e culturais que constituíram a religião taoista. A religião taoista conserva apenas uns traços da filosofia de Laozi, com empréstimos de ideias e práticas culturais do budismo, com a introdução de vários deuses, deusas e génios, e uma mistura com algumas crenças preexistentes, como a teoria dos cinco elementos, a alquimia e o culto aos ancestrais.

Tentativas de alcançar maior longevidade eram um tema frequente na magia e alquimia taoistas, com vários feitiços e poções, ainda existentes, com esse propósito. Muitas versões antigas da medicina tradicional chinesa foram enraizadas no pensamento taoista e a medicina chinesa moderna, bem como as artes marciais chinesas, são ainda de várias formas baseadas em conceitos taoistas, como o tao, o qi e o balanço entre o yin e o yang.

Com o tempo, a absoluta liberdade dos seguidores do taoismo pareceu ameaçadora à autoridade de alguns governantes, que incentivaram o crescimento de seitas mais comprometidas com as tradições confucionistas. Uma escola taoista foi formada ao fim da dinastia Han, por Zhang Daoling. Muitas seitas evoluíram através dos anos, mas a maioria traça suas origens a Zhan Daoling, e grande parte dos templos taoistas modernos pertence a uma ou outra dessas seitas. As escolas taoistas incorporam panteões inteiros de divindades, incluindo Laozi, Zhang Daoling, O Imperador Amarelo, O Imperador de Jade, Lei Gong (O Deus do Trovão), entre outros.

As duas maiores escolas taoistas da atualidade são a Seita Zhengyi (evoluída de uma seita fundada por Zhang Daoling) e o Taoismo Quanzhen (fundado por Wang Chongyang).

Influências no zen-budismo

Como há algumas afinidades entre a visão taoista e a visão budista do mundo, quando, no século I, foi introduzido na China, o budismo indiano foi, em grande parte, interpretado usando-se conceitos taoistas. O budismo chan (禅宗, chánzōng), que se desenvolveu como uma escola distinta na China medieval, refletiu estas fortes influências da filosofia chinesa e, em particular, do taoismo. Com o tempo, o chan acabou se estabelecendo na Coreia, onde recebeu o nome seon. Havia monges que chegavam de outros países da Ásia para estudar o chan e a escola foi se espalhando pelos países vizinhos. No Vietname/Vietnã, recebeu o nome thien e, no Japão, ficou conhecida como zen (禅, zen). Através da história, essas escolas cresceram de maneira independente, tendo desenvolvido identidades próprias e características bastante diferentes umas das outras.

Na China, elementos do taoismo se combinaram com elementos do budismo e do confucionismo na forma do neoconfucionismo. A adoção por parte dos confucionistas de vários conceitos taoistas deu origem, durante a dinastia Song (960–1279 d.C.), à chamada "Escola Neoconfucionista" ou "Escola da Razão".

Taoismo fora da China

A filosofia taoista é praticada em várias formas, em outros países além da China. Kouk Sun Do, na Coreia, é uma dessas variações. A filosofia taoista encontrou muitos seguidores ao redor do mundo. Genghis Khan era simpático à filosofia taoista e, durante as primeiras décadas de dominação mongol, o taoismo viu um período de expansão, entre os séculos XIII e XIV. Devido a isso, muitas escolas taoistas tradicionais mantêm centros de ensino em vários países ao redor do mundo.

Taoismo no Brasil

No Brasil, existem vários ramos ligados ao taoismo, tanto o religioso (taochiao) quanto o filosófico (taochia). Uma das vertentes religiosas mais importantes é representada pela Sociedade Taoista do Brasil. A Sociedade Taoista do Brasil foi instituída no Rio de Janeiro, em 15 de janeiro de 1991, com o objetivo de difundir o ensinamento do taoismo em todas as suas formas de expressão - religiosa, filosófica, científica e cultural - e contribuir para o aperfeiçoamento espiritual dos frequentadores.

O caminho taoista propõe a restauração do estado pleno de vida e consciência, chamado tao. Para isso, utilizam-se vários meios, como as práticas que promovem a boa saúde física e mental, o estudo de clássicos escritos pelos grandes mestres do passado, os métodos místicos para a restauração da ordem interna e fundamentalmente a meditação, como caminho de autotransformação e elevação espiritual.

A Sociedade Taoista do Brasil foi fundada por Wu Jyh Cherng (1958-2004), sacerdote taoista Kao Kon Fa Shi (Alto Ofício, Mestre da Lei). Mestre Cherng escreveu diversos livros sobre artes taoistas e traduziu o Tao Te Ching (O Livro do Caminho e da Virtude) e o Yi Jing (I-Ching, O Livro das Mutações), entre outros clássicos do taoismo.

Em março de 2002, foi inaugurada a sede de São Paulo, um espaço adequado para a prática e estudo do taoismo, suas artes e sabedoria, onde há palestras abertas ao público, rituais, meditação e diversos cursos. Entre as atividades de São Paulo, enfatizam-se as práticas de meditação (tao yin), I Ching (ou Yi Jing), feng shui, astrologia chinesa (zi wei dou shu), tai chi chuan (ou tai ji quan), chi kung (ou qi gong) e o atendimento de acupuntura e massagem (tui na).

Além dos grupos formalmente ligados ao taoismo, também podem ser encontrados muitos ensinamentos taoistas em várias escolas do budismo maaiana chinês e também em religiões sincréticas como o cao dai, entre outras.

domingo, 8 de outubro de 2017

Liber Sephiroth



O – A possibilidade do espaço, o zero [círculo] representa a possibilidade da formação do corpo de Baphomet, onde tudo, o espaço e o tempo em si se materializarão.

1 – O ponto. A manifestação da Vontade, que ainda não possui forma ou foco, a coroa ardente.

2 – A reta. A vontade segue uma direção, já possui seu foco.

3 – Forma-se uma superfície. Agora existe a primeira noção de relação entre os pontos, podemos traçar a relação que tem entre si, qual está mais próximo ou mais afastado. Surge a forma.

4 – A cristalização, surge a primeira manifestação tridimensional, aqui a ideia passa a existir, a forma cria volume.

5 – Equilíbrio, os pólos opostos

e formam, o objeto está finalizado.
6 – O movimento, o objeto, com um propósito passa a agir, ter consciência de si mesmo. É a forma mais sublime e perfeita. O ser consciente seguido sua Vontade.

7 – O caminho, a experiência. Este não é o objetivo da jornada, mas a jornada em si.

8 – A Sabedoria, o 8 remedia as consequências que os atos causados pela falta de vivência.

9 – A Maturidade. A manifestação em seu estado mais sublime.

10 – O objetivo alcançado. A porta atravessada. A iniciação, o esconderijo do devorador de almas. A morte.

11 – A ilusão.

Apêndice I - Considerações de Ratz Tnb.
Ratz Tnb.


Que Satã, a Grande Mãe Negra, inunde com seu amor este seu servo!

Apenas como ilustração e não como forma de diminuir este excelente texto do Tenebrae Petrus, que o amor Dela o nutra sempre, coloco abaixo uma analogia que usei para instruir uma colega nesta Via Sombria. Não passa de apenas um véu mais mundano, mas que serviu para mostrar os contornos da Grande Sabedoria aqui contida.

Na tentativa de tornar o Subjetivo algo mais palpável criei esta parábola, que como todos sabemos é o artifício preferido de todos que A servem desde os tempos em que o povo que se dizia escolhido perambulou pela terra do calor e do pó.

Imagine que um belo dia você se apercebe de algo que não exatamente te incomoda, mas que está se revirando dentro de você. Tem dias que esse algo passa desapercebido, em outros momentos é como tentar se lembrar de um nome que está na ponta na língua mas não se revela, algo enlouquecedor? Isto é como o 0 (zero). Você não sabe o que é, mas é algo que está ai, não existe ainda, mas está se formando, é como olhar para a terra e imaginar a semente que virará a árvore e então a maçã, é algo que vai ser um desejo, mas ainda não é.

Um belo dia você está andando e vê um Porsche e então cai a ficha, você quer o carro. Surge ai o número 1. A primeira manifestação deste algo, mas como um ponto a coisa não tem forma nem direção, “quero um carro!”, e ai percebe outra coisa: você tem pernas para te levar para cima e para baixo, tem transporte público, tem uma bicicleta, mas isso não interessa você quer o carro. É para chegar mais rápido nos lugares? É para conseguir possuir um carro? Para impressionar pessoas e conseguir mais sexo? Não interessa é um impulso.

Você vai a uma consecionária e procura vários carros e chega um novo momento: nenhum carro te satisfaz, você tem aquilo que te impulsiona, que é o solo/local/espaço onde a vontade se manifesta (zero), sabe que a vontade é de ter um carro (1), mas essa vontade não está manifesta ainda, ter um carro é vago. Você volta para casa e vai pensando, acha aqueles carros sem graça, ou eles não tem a ver com você, seja porque são pequenos, feios, amarelos... Isso já dá uma direção para o seu desejo, sabe o que não quer, é como formar uma reta, por exclusão sabe para que lado não ir, tem o seu caminho. Você pára para pensar então o que foi que te mostrou que a sua vontade era ter um carro, e ai se lembra do Porsche.

Surge o número 3, você quer um carro, e ele tem que ser um porshe, seu desejo de um carro tomou uma forma definitiva, sua idéia tem uma cara. Você pode desenhar o que você quer no papel. Mas um desenho tem apenas duas dimensões, não é um Porsche de fato.

E ai você descobre os meios de conseguir seu Porsche. Chega em casa do trabalho e está na sua garagem o seu Porche 911 Turbo, negro como nossa Mãe, estofado de couro, cheiro de carro novo que obviamente alguém levou anos para desenvolver em um laboratório. O número 4 se manifestou na sua frente. A cristalização do seu desejo. A idéia passa da mente para o papel para o “mundo real”.

Mas o problema do “mundo real” é que não podemos simplesmente nos sentar atrás de um volante e sair por ai curtindo o carro. Então você tira vai a uma auto escola, tira carta de motorista, enquanto isso registra o carro, arranja o seguro dele, deixa tudo em ordem. Isto é o 5, é o equilíbrio, para se ter um carro de forma legal não adianta apenas o lado do “ter o carro” estar em ordem o resto é necessário, quando esses dois lados da moeda forem resolvidos chegamos ao número 6.

Você está na fissura do seu Porsche novo, entra nele, sai guiando, não quer nem saber. Enche a cara, vai pra balada, cavalos de pau, descobre até onde o ponteiro do velocímetro chega, arrasa. Curte o Porsche como um prêmio bem merecido. E de fato ele é.

E ai o inevitável acontece, e você, depois de bater em outro carro, afinal estava curtindo a vida adoidada, capota algumas vezes e uma das suas portas ganha o decalque de um poste. O 7 é o que acontece quando você está em movimento tempo o suficiente. Quem não arrisca não petisca, dificilmente você petisca muito sem se estrepar em alguma coisa. Já disseram que você pode equilibrar três pratos no fim de varetas por horas e dias, mas uma hora esse equilíbrio, esse movimento, termina com um prato quebrado no chão.

Você, não morreu, e tinha seguro no carro. Fica mais experiente, e já queimou muito da animação dirigindo o carro, dar cavalos de pau já não tem a mesma graça e o seguro bancou todos os consertos, mas disseram: nós vimos o que você fez, tome seu carro consertado, mas não vamos renovar o seguro, qualquer outro erro será responsabilidade sua, está sozinha agora, por conta própria. E você se sente como se tivessem te tirado o bilhete de passagem livre pela prisão no meio da partida de Banco Imobiliário. O 8 é a maneira com que a realidade lida com a bagunça causada pelo 7, ele é o remédio que aparece porque você ficou doente de cama.

Então você tem as suas cicatrizes, suas fraturas foram consertadas, seu Porsche chegou novinho da oficina, não tem mais aquele cheiro de carro novo, mas tem aquele cheiro de lugar familiar que faz você se sentir bem. Está mais sábia com as experiências, não tem mais aquele fogo da inconseuqência, está muito mais madura, e tem o Porsche ainda. Tudo está da melhor forma possível. Teve suas experiências, tem tudo o que deseja e tem a vida pela frente. Você está neste momento no 9. Repare que qualquer número multiplicado por 9 tem como resultado final da soma de seus algarismo o 9 novamente (9-mente, again and again and again?)?

9 x 1 = 9

9 x 4 = 36 ~ 3 + 6 = 9

9 x 93 = 837 ~ 8 + 3 + 7 = 18 ~ 1 + 8 = 9

9 x 3427 = 30.843 ~ 3 + 0 + 8 + 4 + 3 = 18 ~1 + 8 = 9

9 x 0,008273 = 0,074457 ~ 0 + 0 + 7 + 4 + 4 + 5 + 7 = 27 ~ 2 + 7 = 9

Note também que quanto somamos qualque número com 9 ao somarmos os algarismos temos o número orginal:

9 + 1 = 10 ~ 1 + 0 = 1

9 + 15 = 24 ~ 1 + 5 = 6 = 2 + 4

9 + 371 = 380 ~ 3 + 7 + 1 = 11 = 3 + 8 + 0 ~ 1 + 1 = 2

É só brincar, o 9 então é a realização plena da sua vontade com o que você gosta com o mundo real.

Chega o momento do cuidado supremo então. Um belo dia você vai até sua garagem, olha para o seu carro e pensa: e agora? Tudo o que eu queria era um Porche e eu consegui. Fiz de tudo com ele. O que eu faço da vida agora?

É aqui que você tem dois caminhos na sua frente: por um lado, se acomodar e pensar que a vida é boa e você chegou onde queria, por outro pensar “so far, so good, so what?” O Porsche era apenas uma coisa, mas não é a minha vida, agora que cheguei aqui vou ver pra que lado vou. Ver se se forma em você um novo incômodo como aquele que se tranformou no Porsche na sua frente.

O primeiro caminho leva à estagnação, ao falso conforto. Quem somos nós para julgar o que é conforto real ou auto ilusão, mas o objetivo de uma jornada não é o tesouro no final, e sim fazer o heroi crescer a cada decisão que tem que tomar. Se você se aconchega deixa de ser o herói, e na prática isso pode ser ruim, você pode ficar ultrapassada, nostalgica e se descobrir sem propósito.

O segundo caminho não leva a um lugar novo, simplesmente é a continuação do caminho que você está seguindo, sem parada, sem descanso, apenas o seu desenvolvimento que continua. Aqui morrem os seus dogmas e eles se transformam em adubo para a sua crença que mudou. Pense assim. Se você luta para chegar no seu primeiro milhão de dólares, quando junta a grana pode empilhar ele na mesa na sua frente e deixar ela desvalorizar e juntar pó, ou pode reinvestir ela e fazer a soma chegar a dez milhões de novo.

O 10 é traiçoeiro, tem que tomar cuidado com o que parece a recompensa merecida e com a areia movediça.

O 11 fica como exercício para você, consegue imaginar de porque ser A Ilusão? Se você consegue é porque se enganou, olhe par ao outro lado.

Que a Mãe Negra sorria sempre para Eu & Eu.



Apêndice II- Anotações pessoais do Rev. Obito
Rev. Obito, Sacerdote do Templo de Satã

Este texto pode ser lido como base e até mesmo como uma correção para muitos textos que se baseiam na numerologia, inclusive na numerologia proposta por Crowley, e por conseguinte por quase todos estudiosos e pseudo-estudiosos de Thelema.

Pontos que acho importante levantar:

I - A relação entre o 1 e o O

Muitos tratam o O como negativo, a oposição ao 1. Isso é falho. A real oposição ao 1 é o -1, o mesmo valor, volume e espaço só que negativado. O Zero não se qualifica sequer como numeral. Ele é uma possibilidade de algo a vir se tornar. O Zero é o vazio apenas no sentido de o vazio ser na realidade não a ausência de algo, mas a possibilidade de algo vir a surgir. Enquanto o vazio como ausência é estagnação ele como possibilidade é dinânico em si mesmo, como a realidade.

II – Relações dos números com a Geometria de Crowley

Crowley em seu An Essay Upon Number, publicado no 777 faz a seguinte comparação:

0-     ponto

1-     linha

2-     superfície

3-     sólido

4-     o sólido existindo no tempo

5-     o sólido em movimento

6-     mente

7-     desejo

Acho que esta definição se esquece de que o ponto apenas existe em um espaço, e que não existe diferença entre espaço e tempo a não ser na física newtoniana, e a realidade iniciática não condiz com a proposta por Newton. Não podemos ignorar que o espaço/tempo também precisa existir para que a equação seja plena.

Temos um ponto, um ponto não possui massa, ele é apenas uma localização no espaço, uma coordenada, num espaço bidimensional precismos de duas coordenadas para ter um ponto X e Y. Num espaco tridimensional precisamos de três coordenadas, X,Y e Z, num espaço quadridimensional quatro coordenadas e assim em diante.

Com dois pontos temos a informação para traçar uma reta, são apenas com três pontos que temos uma superfície. O primeiro geométrico surge com quatro pontos, passamos de duas dimensões para três. Nosso universo palpável possui três dimensões, o tetrahedro é a forma geométrica mais simples, não vou falar da esfera no momento.

Veja que com o quinto ponto surge a simetria. O sexto coloca o objeto simétrico em movimento. O sétimo ponto pode ser comparado com desejo, mas o que Crowley parece não ter levado em mente é que para o ponto existir tem que haver um espaço seja como for a nossa noção de espaço. O Zero é a folha, a tela, a representação deste espaço necessário. Querer separar espaço de tempo cria a necessidade de localizar o objeto manifesto em 2 momentos diferentes que não é real, como algo pode de fato existir no tempo sem estar localizado no espaço?

III – Relações com o Taro e com a Árvore da Sabedoria

Utilizando o modelo proposto por Petrus temos uma aproximação muito maior tanto do Taro quanto do modelo satânico da Árvore da Sabedoria.

Sobre o Taro

1 = Ás

O Ás aqui é usado tanto na sua forma de arcano menor (Ás,2,3,4,5,6,7,8,9 e10) quanto na sua forma de carta da corte (Ás, Princesa, Príncipe, Rainha, Cavaleiro – que erroneamente é chamado de Rei, na cosmologia do Tarô; o rei seria representado pelo elemento que dá origem ao Ás).

Nesta comparação o 1 (ponto) surge tanto como numeral quanto como elemento, isso ficará claro quando o aplicarmos à Árvore da Sabedoria.

Quando nos atemos aos significados numéricos dos arcanos menores, sem levar em conta o seu elemento/naipe, o modelo proposto no Liber Sephiroth se encaixa com perfeição, a carta 2 sendo a manifestação da idéia mas ainda sem forma, o 3 sendo a forma da idéia mas ainda não cristalizada e o 4 a cristalização final da idéia (ou do elemento representado pelo naipe). O 5 é a idéia cristalizada se desenvolvendo (sendo posta em movimento).

Da mesma forma que o Ás, quando aliado às cartas da corte representa a forma mais pura e essencial do elemento administrado pelas cartas da corte.

Sobre a Árvora da Sabedoria

O 1 surge aqui como a emanação Coroa. É o elemento que representa a essência da árvore. Quando montamos o esquema da Árvore da Sabedoria  refletida pelos Naipes do Tarô cada  Ás representa a coroa de determinado elemento (Paus = fogo = Satã, Espadas = Ar = Lúcifer, Copas = Água = Leviatã e Discos ou Ouros = Terra = Belial). O O é o estado/local de onde as emanações surgem, a possibilidade a que chamamos Baphomet.

Os números de 4 a 9 são o processo que teve início com a união do 2 e do 3 e que resultará na manifestação física do 10. Ele é “gerenciado” pelo príncipe – filho embrião da rainha, filha do rei, com o cavaleiro.

Dai o erro de igualar o O com o ponto, que é a unidade em sua forma mais simples e poderosa.

O O é um universo em sí de onde temos o Infinito em suas três facetas, o Vazio, o Vazio Sem Limites e o Vazio Transcendete, que não pode ser descrito ou sequer compreendido.

Existe mais um momento entre o número 3 e o 4 na Árvore da Sabedoria, ele não é um número ou uma emanação, é uma condição, chamada de Conhecimento ou Abismo, mas não cabe aqui entrar em detalhes sobre ele, por isso não aparece na imagem acima.

Por Petrus Ruberim Tnb

domingo, 1 de outubro de 2017

Massagem Yoni



Massagem Tântrica Yoni, ou simplesmente Massagem Yoni, é um tratamento a base de massagem na região genital feminina que se concentra em liberar a tensão da paciente. Essa massagem busca ligar o receptor a sua natureza sensual interior, resultando em uma sensação de completo bem-estar, satisfação, contentamento e sensações talvez nunca sentidas antes. Embora a massagem Yoni seja muito sensual e de caráter sexual, o propósito não é levar a mulher ao orgasmo, muito pelo contrário, a intenção é relaxar o receptor, e assim trazer emoções à superfície.

Esse tratamento relaxante tem procedência do Tantra direcionado ao público feminino, e é praticado desde antes do ano 1000 d.c. na Índia e na China. Sua prática tem a finalidade de cura, ajudando diversas mulheres em todo o mundo no tratamento de diversas enfermidades, tais como traumas e bloqueios sexuais.

Internacionalmente não é reconhecida como método de massagem, não pertencendo portanto ao conjunto de métodos e técnicas de massoterapia científica.