sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Zoroastrismo


O zoroastrismo, masdaísmo, masdeísmo ou parsismo é uma religião fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra, a quem os gregos chamavam de Zoroastro. É considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. Para alguns acadêmicos, os pontos chaves das principais doutrinas do Zoroastrismo sobre a escatologia e demonologia, como a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias, viriam a influenciar o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Tem seus fundamentos fixados no Avesta e admite a existência de duas divindades (dualismo), as quais representam o Bem (Aúra-Masda) e o Mal (Arimã). Da luta entre essas divindades, sairia vencedora a divindade do Bem, Aúra-Masda.

História

A religião pré-zoroastriana

A religião do Irão antes do surgimento do zoroastrismo apresentava semelhanças com a da Índia védica, dado que as populações que habitavam estes espaços descendiam de um mesmo povo, os arianos (ou indo-iranianos). Era uma religião politeísta, na qual o sacrifício dos animais e o consumo de uma bebida chamada haoma (em sânscrito: soma) desempenhavam um importante papel.

Os seres divinos enquadravam-se em duas classes, ambas de características positivas: os ahuras (em sânscrito: asuras; "senhores") e os daivas (em sânscrito: deivas; "deuses").

Zoroastro

Zoroastro viveu na Ásia Central, num território que compreendia o que é hoje a parte oriental do Irã e a região ocidental do Afeganistão. Não existe um consenso em torno do período em que viveu; os acadêmicos têm situado a sua vida entre 1750 e 1000 a.C. Sobre a sua vida, existem poucos dados precisos, sendo as lacunas preenchidas por lendas.

De acordo com os relatos tradicionais zoroastrianos, Zoroastro viveu no século VI a.C., pertencendo ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova. Era o sacerdote do culto dedicado a um determinado ahura. Foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote.

Aos trinta anos, enquanto participava num ritual de purificação num rio, Zaratustra viu um ser de luz que se apresentou como sendo Vohu Manah ("Bom Pensamento") e que o conduziu até à presença de Ahura Mazda (Deus) e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas, sendo este o primeiro de uma série de encontros com Ahura Mazda, que lhe revelou a sua mensagem.

As autoridades civis e religiosas opunham-se às doutrinas de Zoroastro. Após doze anos de pregação, Zoroastro abandonou a sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa na Báctria (região que se encontra no atual Afeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zoroastro e o zoroastrismo foi declarado como religião oficial do reino.

O principal documento que nos permite conhecer a vida e o pensamento religioso de Zoroastro são os Gathas, dezessete hinos compostos pelo próprio Zoroastro e que constituem a parte mais importante do Avesta ou livro sagrado do zoroastrismo. A linguagem dos Gathas assemelha-se à que é usada no Rig Veda, o que situaria Zoroastro entre 1500-1200 a.C. e não no século VI a.C. Vivia na Idade do Bronze, numa sociedade dominada por uma aristocracia guerreira.

Para alguns investigadores, muito mais do que o fundador de uma nova religião, Zoroastro foi antes um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Ele propôs uma mudança no panteão dominante que ia no sentido do monoteísmo e do dualismo. Na perspectiva de Zoroastro, os ahuras passam a ser vistos como seres que escolheram o bem, e os daivas, como seres que escolheram o mal. Na Índia, o percurso seria inverso, com os ahuras a representarem o mal, e os daevas a representarem o bem.

Zoroastro elevaria Ahura Mazda ("Senhor Sábio") ao estatuto de divindade suprema, criadora do mundo e única digna de adoração.

Outro conceito religioso por ele apresentado foi o dos Amesha Spentas ("Imortais Sagrados"), que podem ser descritos como emanações ou aspectos de Ahura Mazda. Nos Gathas, os Amesha Spentas são apresentados de uma forma bastante abstrata; séculos depois, eles serão transformados e elevados ao estatuto de divindades. Cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina.

Os Amesha Spentas são:

Vohu Manah ("Bom Pensamento"): os animais;
Asha Vahishta ("Verdade Perfeita"): o fogo;
Spenta Ameraiti - ("Devoção Benfeitora"): a terra;
Khashathra Vairya - ("Governo Desejável"): o céu e os metais;
Hauravatat ("Plenitude"): a água;
Ameretat ("Imortalidade"): as plantas.

Os Gathas revelam também um pensamento dualista, sobretudo no plano ético, entendido como uma livre escolha entre o bem e o mal. Posteriormente, o dualismo torna-se cosmológico, entendido como uma batalha no mundo entre forças benignas e forças maléficas.

Atualmente, os zoroastrianos dividem-se entre o dualismo ético ou o dualismo cosmológico, existindo também outros que aceitam os dois conceitos. Alguns acreditam que Ahura Mazda tem um inimigo chamado Angra Mainyu (ou Ahriman), responsável pela doença, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo quanto é negativo. Angra Mainyu não deve ser visto como um deus; ele é, antes, uma energia negativa que se opõe à energia positiva de Ahura Mazda, tentando destruir tudo o que de bom foi feito por ele (a energia positiva de Deus é chamada de Spenta Mainyu). No final, Angra Mainyu será destruído e o bem triunfará. Outros zoroastrianos encaram o dualismo no plano interno de cada pessoa, como a escolha que cada um deve fazer entre o bem e o mal, entre uma mentalidade progressista e uma mentalidade retardatária.

Os zoroastrianos acreditam que Zoroastro é um profeta de Deus, mas não é alvo de particular veneração. Eles acreditam que, através dos seus ensinamentos, os seres humanos podem aproximar-se de Deus e da ordem natural marcada pelo bem e justiça (asha).

A época aqueménida

Entre a morte de Zaratustra e a ascensão do Império Aqueménida no século VI a.C., pouco se sabe sobre o zoroastrismo, a não ser que se difundiu por todo o planalto iraniano.

Em 549 a.C., Ciro II derrotou Astíages, rei dos Medos, e fundou o Império Persa, que unia, sob o mesmo ceptro, os Medos e os Persas. A dinastia à qual pertencia, os Aqueménidas, adoptou o zoroastrismo como religião oficial do império, mas foi tolerante em relação às religiões dos povos que nele viviam. Foi o rei Ciro II (dito "O Grande") que libertou os Judeus do seu cativeiro e permitiu o regresso destes à Palestina. Provavelmente, o primeiro rei persa que reconheceu oficialmente esta religião foi Dario I, como mostra uma placa de ouro na qual o rei se proclama devoto de Ahura Mazda.

Dario teve que combater um usurpador chamado Gautama, que se fazia passar por um filho de Ciro. Gautama ordenou a destruição de santuários pagãos que seriam restaurados por Dario. Por causa deste comportamento, atribui-se, por vezes, a Gautama, a adopção do zoroastrismo.

Os Medos possuíam uma casta ou tribo sacerdotal, conhecida como os Magi, que adoptaram a religião de Zaratustra, não sem introduzir alterações na mensagem original e incorporando antigas concepções religiosas. Os Magi seriam a classe sacerdotal dos três grandes impérios persas. Casavam dentro do seu grupo e expunham os corpos dos mortos às aves de rapina, duas práticas que viriam a ser adoptadas pelos zoroastrianos. Os sacerdotes recuperam os antigos sacrifícios e o uso do haoma. Os Amesha Spentas, inicialmente abstractos no pensamento de Zaratustra, foram personalizados e antigas divindades passaram a ser adoradas. Entre essas divindades (yazatas), estavam o Sol, a Lua, Tishtrya (deus da chuva), Vayu (o vento), Anahita (deusa das águas) e Mitra.

Foram também erigidos grandes templos e altares de fogo ao ar livre. Artaxerxes II (404–358 a.C.) chegou mesmo a ordenar a construção de templos em honra de Anahita nas principais cidades do império. Durante este período, foi também criado o calendário zoroastriano e desenvolveu-se o conceito do Saoshyant, segundo o qual um descendente de Zaratustra, nascido de uma virgem, viria para salvar o mundo.

A época arsácida e sassânida

Com a conquista da Pérsia por Alexandre Magno, em 330 a.C., o zoroastrismo sofreu um duro golpe, tendo a classe sacerdotal sido dizimada e muitos templos destruídos. O incêndio da capital do império, Persépolis, provocaria o desaparecimento de textos da religião conservados na biblioteca da cidade.

Durante o governo dos Selêucidas, o zoroastrismo foi respeitado e geraram-se sincretismos entre este e a religião grega (por exemplo, ocorreu uma associação de Zeus a Ahura Mazda). Mas um verdadeiro renascimento do zoroastrismo só começa durante a dinastia dos Partos Arsácidas, no século III a.C. Nesta fase, foi compilado o Vendidad, uma parte do Avesta que recolhe textos relacionados com medicina e rituais de pureza.

No período da dinastia Sassânida (224 a.C.–651 d.C.), o zoroastrismo foi completamente restaurado graças à intervenção de Kartir e de Tansar. O zoroastrismo tornou-se a religião mais comum entre as massas, sendo praticado numa vasta área que ia do Médio Oriente às portas da China. Nesta época, assistiu-se à formação de uma verdadeira "Igreja" zoroastriana centrada na Pérsia, foram banidas da prática religiosa as imagens, criou-se o alfabeto avestano e novos textos passam a integrar o Avesta, tais como o Bundahishn e o Denkard. Ao contrário do período Aqueménida, este período ficou marcado pela intolerância em relação a outras religiões, tendo sido promovidas perseguições aos judeus e cristãos. O clero zoroastriano detinha um grande poder e assegurava que cada novo monarca fosse zoroastriano; pesados tributos recaíam sobre a população como forma de sustentar a forma de vida do clero.

A chegada do islão

Apesar da conversão da Pérsia ao Islão após a conquista dos árabes no século VII, o zoroastrismo sobreviveu em algumas comunidades persas, agrupadas nas cidades de Yazd e Kerman. Os muçulmanos consideraram os zoroastrianos como dhimmis, ou seja, praticantes do monoteísmo (à semelhança dos judeus e dos cristãos), e, como tal, foram sujeitos a pesados tributos cujo objectivo era estimular a conversão ao Islão.

No século X, um grupo de zoroastrianos deixou a Pérsia e fixou-se na Índia, na região do Gujarate. Aqui, estabeleceram uma comunidade local que recebeu o nome de "Parsi" ("Persas" na língua gujarate) e que permanece naquele território até aos nossos dias. Esta comunidade zoroastriana foi influenciada pelos tradições locais e as suas particularidades levam a que se fale em "parsismo". Até 1477, os Parsis não mantiveram contacto com os zoroastrianos que permaneceram no Irão. Nesse ano, restabeleceu-se o contacto sob a forma de troca de correspondência que durou até 1768.

No século XIX, a conquista da Índia pelos britânicos levaria a um confronto entre os valores tradicionais dos parses e os valores religiosos e culturais do Ocidente. John Wilson, um missionário cristão da Escócia, atacou a religião dos Parses, alegando que o dualismo presente era contrário ao verdadeiro espírito monoteísta. Martin Haug, um filólogo alemão que viveu e ensinou em Puna durante a década de 60 do século XIX, concluiu que apenas os Gathas eram as palavras originais do profeta Zaratustra. Estes acontecimentos propiciaram o início de um movimento de reforma religiosa, que divide a comunidade zoroastriana entre aqueles que pretendem um regresso a concepções que entendem como mais puras e próximas da mensagem inicial, rejeitando o excessivo ritualismo, e os tradicionalistas.

Doutrinas e crenças

Os masdeístas não representam seus deuses em esculturas e têm templos.

Deixou traços nas principais religiões mundiais como o judaísmo, cristianismo e islamismo através das seguintes crenças:

Imortalidade da alma
Vinda de um Messias
Ressurreição dos mortos
Juízo final

A doutrina de Zaratustra foi espalhada oralmente e suas reformas não podem ser entendidas fora de seu contexto social. O indivíduo pode receber recompensas divinas se lutar contra o mal em seu cotidiano, como pode também ser punido após a morte caso escolha o lado do mal. Os mortos são considerados impuros, então não são enterrados, pois consideram a terra, o fogo e a água sagrados, eles os deixam em torres para serem devorados por aves de rapina.

Textos religiosos

O principal texto religioso do zoroastrismo é o Avesta. Julga-se que a actual forma do Avesta corresponde a apenas uma parte de Avesta original, que teria sido destruído em resultado da invasão de Alexandre o Grande.

O Avesta divide-se em várias secções, das quais a principal é o Yasna ("Sacrifícios"). O Yasna inclui os Gathas, hinos que se julga terem sido compostos pelo próprio Zaratustra. O Vispered é essencialmente um complemento do Yasna. O Vendidad é a secção que contém as regras de pureza da religião, podendo ser comparado ao Levítico da Bíblia. Os Yashts são hinos dedicados às divindades.

Para além do Avesta, existem os textos em palavi, escritos na sua maior parte no século IX.

Escatologia individual

A escatologia individual do zoroastrismo afirma que, três dias após a morte, a alma chega à Ponte Cinvat. A alma de cada pessoa percepciona, então, a materialização dos seus actos (daena): uma alma que praticou boas acções vê uma bela virgem de quinze anos, enquanto que a alma de uma pessoa má vê uma megera.

Cada alma será julgada pelos deuses Mithra, Sraosha e Rashnu. As almas boas poderão atravessar a ponte, enquanto que as más serão lançadas para o inferno; as almas que praticaram uma quantidade idêntica de boas e más acções são enviadas para o Hamestagan, uma espécie de purgatório.

As almas elevam-se ao céu através de três etapas: as estrelas, a Lua e o Sol, que correspondem, respectivamente, aos bons pensamentos, boas palavras e boas ações. O destino final é o Anagra Raosha, o reino das luzes infinitas.

Sacerdócio

Existem três graus de sacerdócio no zoroastrismo contemporâneo. O sacerdócio tende a ser hereditário, embora não seja obrigatório que o filho de um sacerdote venha a seguir a profissão do pai.

Os sacerdotes de grau inferior recebem o nome de ervad. Neste grau inicial, é preciso conhecer de cor as escrituras do zoroastrismo, bem como a lei; desempenham apenas uma função de assistente nas cerimónias mais importantes da religião. Acima de si, encontra-se o mobed, e, por sua vez, acima deste, o dastur, que é responsável pela administração de um ou vários templos, por vezes comparado ao bispo do cristianismo.

Locais de culto

Os templos religiosos do zoroastrismo, onde se desenrolam as cerimónias e se celebram os festivais próprios da religião, são conhecidos como templos de fogo.

Estes edifícios possuem duas partes principais. A mais importante é a câmara onde se conserva o fogo sagrado, que arde numa pira metálica colocada sobre uma plataforma de pedra. Os sacerdotes zoroastrianos visitam o fogo cinco vezes por dia e procuram mantê-lo aceso, fazendo oferendas de sândalo purificado. Recitam também orações perante o fogo com a boca tapada por um tecido, de modo a não contaminarem o fogo. Este respeito pelo fogo sagrado levou a que os zoroastrianos fossem chamados de "adoradores de fogo", o que constitui um erro, na medida em que o fogo não é adorado em si, mas como um símbolo da sabedoria e luz divina de Ahura Mazda. Os templos de fogo mais importantes do Irão e da Índia mantêm uma chama de fogo sagrado a arder perpetuamente.

Rituais

O zoroastrismo não determina que os membros devam realizar um número obrigatório de orações por dia. Os zoroastrianos podem decidir quando e onde desejam orar. A maioria dos zoroastrianos reza várias vezes por dia, invocando a grandeza de Ahura Mazda. As orações são feitas perante uma chama de fogo.

O Navjote (ou Sedreh-Pushi, como é conhecido entre os zoroastrianos do Irão) é uma cerimónia de iniciação obrigatória destinada às crianças zoroastrianas que deve acontecer entre os sete e os quinze anos de idade. É importante que a criança já conheça as principais orações da religião.

Antes da cerimónia começar, a criança toma uma banho ritual de purificação (Naahn). Durante a cerimónia, conduzida pelo mobed e na qual estão presentes familiares e amigos, a criança recebe o sudreh (ou sedra, uma veste branca de algodão) e o kusti (um cordão feito de lã) que ata na sua cintura. A partir deste momento, o zoroastriano deve usar sempre o sudreh e o kusti.

O casamento zoroastriano implica dois momentos distintos. No primeiro, os noivos e os seus padrinhos assinam o contrato de casamento. Segue-se a cerimónia propriamente dita durante a qual as mulheres da família colocam sobre a cabeça dos noivos um lenço; simultaneamente, dois cones de açúcar são esfregados um contra o outro. O lenço é, então, cosido, simbolizando a união do casal. As festas do casamento podem prolongar-se entre três e sete dias.

Práticas funerárias

Os zoroastrianos acreditam que o corpo humano é puro e não algo que deva ser rejeitado. Quando uma pessoa morre o seu espírito deixa o corpo num prazo de três dias e o seu cadáver é impuro. Uma vez que a natureza é uma criação divina marcada pela pureza, não se deve poluí-la com um cadáver.

Na prática, esta crença implicou que os cadáveres dos zoroastrianos não fossem enterrados, mas colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas conhecidas como torres do silêncio (dakhma).

Após a morte, um cão é trazido perante o cadáver, num ritual que se repete seis vezes por dia. No quarto onde se encontra o cadáver, arde uma pira de fogo ou velas durante três dias. Durante este tempo, os vivos evitam o consumo de carne.

Os participantes no funeral vestem-se todos de branco, procurando-se evitar o contacto directo com o defunto. O cadáver (sem roupa) é, então, depositado numa torre do silêncio. Depois de as aves terem consumido a carne, os ossos são deixados ao sol durante algum tempo para secarem.

Por motivos vários (relacionados, por exemplo, com a diminuição da população de aves de rapina ou com a ilegalidade desta tradição em alguns países), esta prática tem sido abandonada por zoroastrianos residentes em países ocidentais e até mesmo no Irão e Índia, optando-se pela cremação.

Festas

As comunidades zoroastrianas atuais regem-se por três calendários diferentes:

o Fasli (usado pelos Zoroastrianos iranianos e alguns Parses);
o Shahanshahi (usado pela maioria dos Parses); e
o Qadimi (este último, o menos utilizado de todos).

O que significa que as festas religiosas podem ser celebradas em diferentes dias; nestes calendários, cada mês e cada dia do mês recebe o nome de um Amesha Spenta ou de um Yazata. Os zoroastrianos celebram seis festivais ao longo do ano - os Gahambars - cujas origens se encontram nas diferentes actividades agrícolas dos antigos povos do planalto iraniano e nas estações do ano.

O Noruz é o Ano Novo Persa, celebrado no dia 21 de março no calendário Fasli (os parses celebram o Noruz em meados de Agosto). Por volta deste dia, os zoroastrianos colocam, nas suas casas, uma mesa com sete itens: um vaso com rebentos de lentilhas ou de trigo, um pudim, vinagre, maçãs, alho, pó de sumagre, frutos da árvore jujube; outros elementos que enfeitam a mesa são moedas, o Avesta, um espelho, flores e uma imagem de Zaratustra. O Noruz é celebrado com o uso de roupas novas, com o consumo de pratos especiais, com a troca de presentes e com a celebração de cerimônias religiosas. O fogo tem nele um significado especial. Seis dias depois do Noruz, os zoroastrianos festejam o nascimento de Zaratustra.

O zoroastrismo hoje

A comunidade zoroastriana existente no mundo contemporâneo pode ser dividida em dois grandes grupos: os Parses e os zoroastrianos iranianos. Em 2004, o número de zoroastrianos no mundo foi estimado entre 145 000 e 210 000. O Censo indiano de 2001 contabilizou 69 601 zoroastrianos parsis.

Na Índia, os Parses são reconhecidos pelas suas contribuições à sociedade no domínio económico, educativo e caritativo. Muitos vivem em Mumbai (Bombaim) e têm tendência para praticar a endogamia, desencorajando o proselitismo religioso. Veem a sua fé como étnica.

Em geral, os zoroastrianos iranianos mostram-se mais abertos a aceitar conversões. Concentram-se nas cidades de Teerão, Yazd e Kerman. Falam uma variante da língua persa, o Dari (diferente do Dari falado no Afeganistão). Receberam o nome de gabars, termo inicialmente com conotações pejorativas (no sentido de "infiel"), mas que perdeu muito da sua carga negativa.

Uma diáspora zoroastriana pode ser encontrada em países como o Reino Unido, Canadá (6 000 pessoas), Estados Unidos (11 000 pessoas) e Austrália (2 700 pessoas) e nos países do Golfo Pérsico (2 200 pessoas).

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura declarou o ano de 2003 como ano de celebração dos 3000 anos da religião e cultura zoroastriana, numa iniciativa proposta pelo governo do Tajiquistão.

Em 2016, foi aberto em Suleimania, no Curdistão iraquiano, o primeiro templo para praticantes do zoroastrismo no Iraque.

Lista de termos zoroástricos

Esta é uma lista de termos zoroástricos, isto é, relativos à antiga religião persa do Zoroastrismo.

Faravahar - a criatura alada, simboliza a verdade do ser humano, a sua grandeza e potencial. A coroa sendo a sua autonomia, as asas as possibilidades infinitas e o círculo a perfeição que traz em si.
Âtash (fogo) - representa o primeiro elemento agregador da sociedade ao redor do qual as pessoas, desde tempos imemoriais, reuniam-se para conversar, festejar, estudar e orar. Aquece, ilumina e transforma, assim como a consciência da presença de Deus e a Boa Mente.
Mesa - é um símbolo de nossas vidas. Ao ser arrumada e enfeitada queremos dizer que é isso que a religião deve fazer na vida de todos os seres.
Navjote - a iniciação não é a entrada de alguém na religião. A religião não tem cercas, pelo contrário, ela derruba os muros. Ser iniciado é anunciar para o mundo a recém-descoberta consciência de pertencer ao Pensamento de Deus, à Biocomunidade e à sociedade humana que se organiza para facilitar a vida. A pessoa se inicia a si mesma e nunca é iniciada por outra. Esse é um ato de livre escolha.
Gâhânbars - são festas celebradas no meio de cada estação do ano e simbolizam as fases da vida dos seres.
Noruz - ano novo, celebrado no primeiro dia da primavera, simbolizando a unidade de todos os seres nos ciclos da vida.

Sōtō



A sōtō (曹洞宗; Japonês: Sōtō-shū, Chinês:Caodong-zong), às vezes referida como soto shu, é uma escola japonesa de budismo zen. Ela descende da escola chinesa caodong e foi levada ao Japão por Dogen Zenji (1200-1253). Atualmente, é a escola de zen com maior presença no Ocidente.

Com cerca de 15 000 templos e 7 milhões de seguidores (dados de 1989), a soto é a maior escola de zen do Japão, superando as escolas rinzai, obaku e sanbo kyodan.

Sua prática fundamental é a shikantaza, um tipo de meditação zen (zazen) que pretende levar o praticante ao esquecimento de si mesmo, chegando gradualmente ao que se poderia chamar de "pura experiência da realidade".

Os professores de zen (senseis ou roshis) da escola soto são monges que receberam a transmissão do Dharma, um reconhecimento conferido a eles depois de terem atingido um certo grau de realização e de terem servido em um monastério por vários anos. Com esse reconhecimento, os professores passam a integrar uma linhagem que, tradicionalmente, considera-se remontar a Siddhartha Gautama, o Buda histórico e fundador do budismo.

Além de fazer cerimônias, ensinar e atender à comunidade, na escola Soto os monges podem casar e constituir família.

História

O estilo de prática da escola soto tem suas raízes na obra do monge chinês Shih-t'ou Hsi-ch'ien-ch'ien (em japonês, Sekito Kisen, 700-790), fundador de um importante centro de prática na província chinesa de Hunan. Desse centro, surgiram três escolas de zen, dentre as quais a caodong (em japonês, soto), fundada por Tung-tung-shan Liang-chieh (807-69) na China. De lá, a soto foi levada ao Japão por Eihei Dogen Zenji (1200-1253).

Através da história do Japão, a soto teve grande aceitação entre as camadas mais populares (e mais numerosas) do Japão, com sua prática meditativa de "apenas sentar-se" (Shikantaza), enquanto a escola rinzai (a segunda maior), com suas práticas árduas de koans e artes marciais, ficou restrita a classes mais altas, como a dos samurais.

No século XX, com a imigração japonesa, monges da escola soto foram enviados ao Ocidente para atender às colônias de imigrantes japoneses, resultando em seu estabelecimento e crescimento no Ocidente. Atualmente, é a escola de zen com maior representatividade na Europa, América do Norte e América do Sul. No Brasil, em particular, todos os sensei (professores de zen que receberam a transmissão do Darma) em atividade são da escola soto.

Textos importantes

O poema "A harmonia entre Diferença e Igualdade" de Shih-t'ou Hsi-ch'ien (Sekito Kisen) é um importante texto antigo do budismo zen e é cantado nos templos soto até os dias de hoje. Um dos poemas de Tung-shan Liang-chieh, fundador da seita soto, "A canção da ciência do espelho de joias", também é entoado até hoje. Um outro grupo de seus poemas sobre as Cinco Posições do Absoluto e Relativo têm importância como koans na escola rinzai. Outros textos tipicamente cantados em templos soto incluem o Sutra do Coração (Hannyashingyō), e o Fukanzazengi ("Instruções universalmente recomendadas para zazen") de Dogen. Os ensinamentos de Dogen são carcterizados pela identificação da própria prática como iluminação espiritual, como podemos ver no Shōbōgenzō.

Shobogenzo

Shōbōgenzō (正法眼蔵? lit. "Tesouro do Olho do Dharma Verdadeiro") foi escrito pelo mestre Zen japonês Dogen entre 1231 e 1253 (ano da morte de Dogen). Diferentemente dos escritos anteriores sobre Zen provenientes do Japão, o Shobogenzo foi escrito em japones e não em chinês como era o costume. Outros trabalhos de Dogen, como o Eihei Koroku e o Shobogenzo Sanbyakusoku foram escritos em chinês. O Shobogenzo Sanbyakusoku (ou Shinji Shôbôgenzô) é composto de cerca de trezentos koans, e não deve ser confundido com o Shobogenzo que é objeto do presente artigo (também conhecido como Kana Shobogenzo).

Kana Shōbōgenzō

Os diferentes textos—referidos como fascículos—que compõe o Kana Shōbōgenzō foram escritos entre 1231 e 1253—o ano da morte de Dogen (Dōgen, 2002, p. xi).

Mosteiro Zen Morro da Vargem

Mosteiro Zen Morro da Vargem é o primeiro mosteiro zen-budista da América Latina, localizado em Ibiraçu, Espírito Santo.

Fundado em 1974 pelo mestre Ryohan Shingu, o mosteiro, localizado a 350 metros de altitude, tem como trabalhos a formação de monges segundo as tradições orientais e a educação ambiental.

Shikantaza



Shikantaza (只管打坐?) é um termo japonês sinônimo de "zazen". Foi introduzido por Dogen Zenji. É associado primariamente à escola zen soto. Significa, literalmente, "apenas sentar".

Shikantaza é um conceito da escola soto de zen que descreve a meditação zazen. Embora a prática de zazen, meditação sentada que une atenção e concentração, pareça visar a certos objetivos e utilizar de certos métodos, a ideia veiculada pela shikantaza é a de que o zazen não deve ser praticado perguntando-se sobre a prática, ou esperando obter-se qualquer benefício, mas simplesmente sentando-se.

Shikantaza, portanto, não possui qualquer técnica separada da atitude mental própria à prática do zazen. Consiste em se separar, no sentido de deixar as sensações e pensamentos emergirem até que desapareçam, sem tentar prolongá-los nem eliminá-los. Desta forma, os pensamentos desaparecem por si mesmos, pelo fato de que o meditante não busca nada em particular.

O shikantaza aponta para a consumação da prática: o despertar da natureza búdica presente em cada um, cuja manifestação era entravada pelo apego, inclusive apego pela própria prática.

Moksha



Moksha (sânscrito: मोक्ष, liberação) ou Mukti (sânscrito: मुक्ति, soltura) refere-se, em termos gerais, à libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual. Na mais alta filosofia hindu, é visto como a transcendência do fenômeno de existir, de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa (carma). Significa a dissolução do senso do ser individual, ou ego, e a avaria total do nama-roopa (nome-forma). No hinduísmo, é visto como uma analogia ao nirvana, embora o budismo tenda a diferir uniformemente da leitura da libertação do Vedantismo Advaita. O jainismo também tem, como meta, o Moksha.

Os principais sistemas filosóficos do hinduísmo consideram que uma entidade viva, especialmente aquela que estiver utilizando um corpo humano, deve ter por objetivo alcançar três metas na vida: kama ou desfrute material dos sentidos; artha ou desenvolvimento econômico e dharma ou religiosidade mundana; ou tri-varga: धर्म = dharma, अर्थ = artha, कर्म = karma.

Kama é o desejo mais ardente, pois como desfrute material entende-se as atividades sexuais, tão bem codificadas no clássico Kama-sutra, além do desfrute do paladar (toda cultura tem seus requintes gastronômicos), do sentido da visão (paisagens), da audição (música, narrativas agradáveis) e do tato (o sentido empregado no sexo é principalmente a sensibilidade táctil).

Para satisfazer o desejo de Kama a entidade viva deve se empenhar em artha, ou atividades realizadas para o desenvolvimento econômico tais como o trabalho em suas diferentes formas. Sem recursos materiais auferidos por artha a entidade viva dificilmente consegue satisfazer seus desejos do kama.

E dharma são as atividades de religiosidade mundana, tais como a moral e os bons costumes, essenciais para se alcançar artha e kama. Uma pessoa sem disciplina, que usa drogas, que não se veste bem, etc. terá dificuldade para se empenhar no trabalho. Num sentido mais profundo, dharma significa retidão e "aquilo que sustenta", a lei moral; estar em harmonia com a lei universal.

É assim que se forma o caminho de trivarga, ou metas ordinárias da existência mundana: dharma gera artha, que compra kama. Moksha é considerada como a meta que está além do trivarga, para aqueles que já estão liberados destas atividades mundanas que prendem as demais entidades vivas, e o paramapurusha-artha, ou o objetivo primordial que uma entidade desfrutando existência mundana deve se empenhar em alcançar.

Satori

Satori (悟り) (悟 chinêswù ; coreano 오) é um termo japonês budista para iluminação. A palavra significa literalmente "compreensão". É algumas vezes livremente tratada como sinônimo de Kensho, mas Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do kensho, que não é um estado permanente de iluminação mas uma visão clara da natureza última da existência, o satori refere-se a um estado de iluminação mais profundo e duradouro. É costume portanto utilizar-se a palavra satori, ao invés de kensho, quando referindo-se aos estados de iluminação do Buda e dos Patriarcas.

Segundo D. T. Suzuki, "Satori é a raison d'être (Razão de ser) do Zen, sem o qual o Zen não é Zen. Portanto todo o esforço, disciplinário ou doutrinal, é dirigido ao satori."