quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Linguagem Hermética Dos Alquimistas

A cripto linguagem utilizada pelos alquimistas tem objetivos bem claros. O primeiro deles é confundir os impuros de coração. Quem se aproxima da grande arte com fins poucos ambiciosos, terminará fervendo líquidos tóxicos e lustrando pedras sem valor. O segundo motivo é histórico, pois pretendia proteger os alquimistas de figuras de autoridade ou da ignorância da massa, que não queriam ou sequer podiam entender os objetivos maiores do alquimistas.

Animais normalmente tem um significado especial, como por exemplo, a representação dos quatro elementos. O unicórnio ou o veado representam a terra, peixes a água, pássaros o ar e a salamandra o fogo. O corvo simboliza a fase de putrefação do processo, que fica da cor negra. Enquanto que um tonel de vinho representa a fermentação.

A caverna representa a fase de dissolução, quando a matéria se aprofunda, se racha e se abre. Em muitos textos os metais estão representados pelos planetas correspondentes (veja os sete metais) pois eram preparados elixires de outros metais, além do ouro e da prata. A balança representa o ar, a sublimação, as proporções naturais. A figura de um andrógino ou de Adão e Eva, representam a matéria prima, composta do mercúrio e do enxofre.

O anjo simboliza a água – “Espírito da Pedra” A matéria-prima, bem como o próprio alquimista, podem ser representados pelo bobo, pelo peregrino ou pelo viajante. A imagem de uma rocha, cavernas, montanhas e outras representações de grandes blocos de pedra, sob o qual encontram-se tesouros. A cena ainda pode conter uma árvore, uma nascente, um dragão montando guarda, mineiros trabalhando, isto tudo evoca a matéria-prima, que também é comparada à virgem, pois ainda não recebeu o princípio masculino, ou com uma prostituta que é capaz de receber todos os princípios masculinos, comparando assim a matéria-prima com a facilidade de unir-se aos metais. Ë capaz de abrigar dentro de si todos os metais, apesar de não ser metálica. Os alquimistas também chamavam a matéria-prima de lobo cinzento.

Uma mendiga ou uma velha representa o aspecto desprezível e repulsivo da matéria-prima ou raiz metálica. O leite da virgem designa o mercúrio comum ou primeiro mercúrio por fluir sem cessar de uma coisa a outra, alimentar tudo e passando de um ser a outro, até mesmo da vida para a morte e vice-versa. O eixo do mundo ou o eixo do trabalho do alquimista é representado pela árvore em que a matéria-prima constitui a raiz.

Uma luta entre o dragão alado contra o dragão áptero, de um cão com uma cadela ou da salamandra com a rêmora, representam o combate entre o volátil e o fixo, o feminino e o masculino, ou o mercúrio e o enxofre, os dois princípios que estão contidos na matéria. Enquanto que a união entre estes dois princípios é representada pelo casamento do rei e da rainha, do homem de vermelho com a mulher de branco, do irmão com a irmã (pois eles provém de uma mesma matéria mãe), de Apolo e Diana, do sol e da lua ou juntar a vida à vida. Normalmente a este casamento precede morte e tristeza.

Apanhar um pássaro significa fixar o volátil. O leão verde normalmente é associado ao sal. A pessoa iniciável ou a substância inicial (matéria-prima) pode ser representada pelo filho mais jovem de uma viúva (que representa Ísis) ou de um rei, um soldado que já cumpriu o serviço militar, um aprendiz de ferreiro, um jovem pastor, o filho de um rei em idade de se casar e outros casos semelhantes. O abismo, um recife e outros perigos de uma viagem representam os cuidados ou os perigos que o fogo conduzido inadequadamente podem causar.

O dissolvente universal tanto é associado ao sal como ao mercúrio normalmente é representado por uma fonte, leão verde, água da vida ou da morte, água ígnea, fogo aquoso, água que não molha as mãos, água benta, vento, espada, lanterna, cervo, um velho, um servidor, o peregrino, o louco, mãe louca, dragão, serpente, Diana, cão, dentre outros. Os alquimistas utilizam também alfabetos secretos, codificados, anagramas e criptografia. Além de simples sinais que identificam uma operação, substância ou objeto.

A alquimia além do aspecto espiritual, constituí uma verdadeira ciência que tem como finalidade compreender a matéria e o cosmo, ou seja, o microcosmo e o macrocosmo, além de tentar reproduzir de forma mais rápida o que a natureza leva milênios para conseguir. Como em qualquer área de conhecimento, a alquimia possuía uma linguagem própria. Para tentar transmitir conhecimentos que não haviam palavras específicas para expressar eles utilizaram termos conhecidos, que transmitia uma idéia rudimentar de algum evento. Assim utilizavam os termos Água, Terra, Ar e Fogo para explicar os quatro elementos, correlacionando-os respectivamente com o estados líquido, sólido, gasoso e a energia. O fogo simbolizava todos os tipos de energia, inclusive a energia imaterial dos corpos, o “éter”, ou estado “etéreo”. O conceito de estado gasoso não ficou conhecido pelo ocidente até o século XVIII com as pesquisas de Lavoisier. Isto demonstra o quanto os Alquimistas estavam adiantados em relação aos sábios de seu tempo.

Água – penetrante, dissolvente e nutritiva Terra – solidez que estabiliza a matéria, suporte para o líquido Ar – gasoso, expansivo, volátil Fogo – energia que acelera o processo, aquece, ilumina A Quintessência – Éter – equilibra e penetra nos corpos, é a força viva A terra e a água constituem estados visíveis, enquanto o fogo e o ar são estados invisíveis.

Os quatro elementos porém não eram suficientes para expressar todas as características e assim os alquimistas adotaram os termos Enxofre, Mercúrio e o Sal para expressar os três princípios e, da mesma maneira que os quatro elementos, não representavam as substâncias mencionadas em si, mas sim as suas propriedades materiais que poderiam ser retiradas ou acrescentadas as substâncias, possivelmente por reações químicas ou transmutações.

Enxofre – princípio fixo – representa as propriedades ativas – combustibilidade, a ação corrosiva, o poder de atacar os metais, e também o princípio ativo ou masculino, o movimento, a forma, o quente. É considerado o embrião da pedra e alimentado pelo mercúrio, pois está contido em seu ventre. Também é considerado a energia animadora e constitui o objetivo da Grande Obra.

Mercúrio – princípio volátil – representava as propriedades passivas – maleabilidade, brilho, fusibilidade, a fraca tensão de vapor, o escorregadio que toma várias formas e o fugidio. Além de designar a matéria, designa também outros aspectos como: o princípio passivo ou feminino, o inerte, o frio. O mercúrio também pode designar a matéria-prima, é considerado a mãe dos metais ou a água primitiva que deu origem a todos eles. Este é o mercúrio segundo, mercúrio filosófico ou mercúrio duplo que contém os dois princípios, o mercúrio e o enxofre. O primeiro mercúrio ou mercúrio comum também é chamado de dissolvente universal.

O mercúrio é ao mesmo tempo o caminho e o andarilho, com a Grande Obra representando uma viagem. Estes dois princípios possuem as propriedades contrárias e a mistura de propriedades contrárias é muito importante na alquimia, ou seja, o dualismo enxofre-mercúrio de todas as coisas.

O mercúrio também é chamado de sal dos metais. Na realidade o mercúrio no final da obra adquire a tríplice qualidade. Sal – também conhecido por arsênico – é o meio de união entre as propriedades do Mercúrio e as do Enxofre, como uma força de interação, muitas vezes associado a energia vital, que une a alma ao corpo. No ser humano, o enxofre seria o corpo físico; o mercúrio, a alma e o sal, o espírito mediador. Esse sal normalmente é relatado como sendo um fogo aquoso ou uma água ígnea e é obtido a partir do mercúrio comum em conjunção com o fogo, obtendo assim a chamada “água que não molha as mãos”. Assim como o mercúrio, o sal também é relatado como sendo o dissolvente universal. Na verdade o fixo e o volátil nunca podem estar separados, não existe mercúrio que não contenha o enxofre, por isso, as vezes o sal aparece com o nome de um deles dependendo da fase da operação. O sal protege os metais para que no processo não sejam totalmente destruídos e reste assim a semente, que por seu intermédio nascerá algo novo.


Os sete metais:

Na natureza, a terra contém “sementes” que dão origem aos metais por um processo de evolução e aperfeiçoamento. Todos os metais, com o tempo, transformar-se-ão em ouro que contém o equilíbrio perfeito dos quatro elementos. Na alquimia não existe matéria morta e todas as substâncias, animal, vegetal ou mineral, são dotadas de vida e movimento, ou seja, possuem suas energias características.


Ouro – representado pelo Sol.

Prata – representado pela Lua.

Mercúrio – representado pelo planeta Mercúrio.

Estanho – representado por Júpter.

Chumbo – representado por Saturno, por ser considerado pesado e lento.

Cobre – representado por Vênus, maleabilidade, sossego, beleza e prazer.

Ferro – representado por Marte.

Laboratorio do Alquimista


A prática alquímica, de maneira extremamente resumida, consiste em pegar a prima materia (matéria-prima primordial) eliminar as suas impurezas (morte e renascimento), separar seus componentes (mercúrio e enxofre) e reuni-los novamente (por intermédio do sal) fixando os elementos voláteis, formando assim a pedra filosofal. Seria como “libertar o espírito por meio da matéria e a própria matéria por meio do espírito”, ou ainda, fazer do fixo, volátil e do volátil,o fixo, onde não se pode fazer cada etapa independentemente.

O alquimista é uma peça fundamental nos experimentos e não somente um simples observador. O experimento e o experimentador constituem uma única coisa na alquimia. Este ponto de vista do experimentador como participante está agora sendo retomado pela física quântica, alterando o termo observador para participante. Portanto, mesmo tendo o conhecimento prático do processo, se tiver perdido a pureza do espírito, a Grande Obra não poderá ser concluída.

Vários alquimistas relatam doze processos, em três etapas ou três obras, para a realização da Grande Obra que, contudo, não correspondem literalmente aos nomes conhecidos. São eles: Calcinação – constitui a purificação do primeiro material pelo fogo, sem contudo diminuir seu teor de água. Solução ou dissolução – a parte sólida é dissolvida na água, porém é relatado que esta água não molha a mão. A água pode ser o próprio mercúrio. Esta é uma “dissolução filosófica” em que o solvente mata os metais, portanto esta fase é um símbolo da morte para os três reinos.

Separação – o mercúrio é separado do enxofre. Fornecendo um calor externo adequado, o mercúrio que contém o enxofre interno coagula a si mesmo graças a um artificio que constitui um segredo, o secretum secretorum, que é uma marca divisória entre a alquimia e a química. Este artifício consiste, metaforicamente, em capturar um raio de sol, condensá-lo, aprisioná-lo em um frasco hermeticamente fechado e alimentá-lo com o fogo. A terra fica em baixo enquanto o espírito sobe. Esta etapa completa a primeira obra e quando concluída corretamente pode se ver a formação de uma estrela dentro do frasco. Conjunção – o mercúrio e o enxofre são novamente unidos. Toda a operação deve ser realizada no mesmo recipiente, sendo que nesta fase o frasco é hermeticamente fechado.

Putrefação – o calor mata os corpos e a putrefação ocorre. Aparece uma coloração escura, enegrecida. Congelamento – nesta fase aparece uma coloração esbranquiçada, um calor brando é quem promove esta mudança. Cibação – à matéria seca deve ser adicionado os componentes necessários para alimentá-la.

Sublimação – fase em que o corpo torna-se espiritual e o espírito corporal, ou seja, volatilizar o fixo e fixar o volátil, sendo que um processo depende do outro e não é possível fixar um sem volatilizar o outro. Para esta fase é relatado uma duração de quarenta dias. Porém, todo esse processo que se encerra com a sublimação teve início na conjunção e constitui a segunda obra. Fermentação – adiciona-se ouro para tornar o já existente mais ativo.

Exaltação – processo semelhante a sublimação, seria uma ressublimação. Multiplicação – uma quantidade maior de energia é acrescida nesta etapa, porém não é necessariamente a matéria que aumenta. Projeção – teste final da pedra em seus usos normais, como a transmutação. O agente da dissolução é convertido em paciente que sofre a operação na fase da coagulação. Por isso a operação é comparada a brincadeira de criança de “pular carniça” em que ora um pula o outro e ora é pulado.


A matéria-prima:

Esta primeira matéria que dará origem a pedra filosofal constitui um dos grandes segredos da alquimia. Normalmente é descrita como algo desprezado, inferior e sem valor. Pode ser encontrado em todos os lugares, é conhecido por todos, é varrido para fora de casa, as crianças brincam com ele, porém possui o poder de derrubar soberanos.

Dentre os não iniciados, cada um aposta em um tipo de material tanto do reino animal, vegetal como mineral. ários utilizaram minérios (especialmente os de chumbo, o cinabre que contém enxofre e mercúrio, o stibine um raro mineral sulfuroso, a galena que é magnética), cinzas, fezes, barro, sangue, cabelos. A maioria deles emprega a própria terra, recolhida em local preservado. A terra estaria impregnada de energia cósmica, com a água que contém.

Esta matéria não está somente no reino do psiquismo, como afirmava Jung, ela tem também sua expressão no reino material através de um mineral que possui propriedades vegetativas. Descobrir a matéria-prima não é o principal, mas sim erguê-la a um ponto privilegiado para as operações subseqüentes. Esta abordagem só será conseguida quando o alquimista deixa de lado a fronteira fictícia entre os elementos constitutivos de sua personalidade (física e espiritual) e o universo.

Ela normalmente é relacionada ao caos da gênese, a base de todo o processo, que tanto é material como imaterial. Para descobrir a matéria-prima mineral o operador e o objeto, observador e o observado, devem estar unidos. Isto significa se abstrair da visão lógica e desenvolver uma visão intuitiva. Esta visão pode aparecer após um longo período de reflexão sobre os impasses insolúveis da alquimia, após um estímulo externo como o barulho do vento, das ondas do mar, do trovão e outros. Caso contrário ela permanecerá escondida por uma roupagem ou uma casca como o ovo.


O orvalho:

O orvalho normalmente é utilizado para umedecer (banhar e nutrir) a matéria-prima. Como se condensa lentamente e desce da atmosfera está impregnado da energia cósmica. A melhor época de recolher o orvalho vai do equinócio de primavera ao solstício de verão, pois possui uma maior energia. Normalmente é recolhido com lençóis estendidos sobre vegetação rasteira sem, no entanto, tocá-la.

A Glória do Mundo

A Tábua de Esmeralda:


É verdade, sem nenhum erro, e é a soma da verdade; o que está acima é também o que está abaixo, para a realização das maravilhas de uma determinada coisa, e como todas as coisas surgem de uma única Pedra, assim também foram geradas a partir de uma Substância comum, que inclui os quatro elementos criados por Deus. E entre outros milagres, a dita Pedra nasce da Primeira Matéria. O Sol é seu Pai, a Lua sua Mãe, o vento a carrega em seu ventre e é alimentada pela terra. Ele mesmo é o Pai de toda a Terra, e de toda a sua potência. Se ela for transmutada em terra, então a terra separa do fogo o que é mais sutil do que o que é duro, operando suavemente e com grande artifício. Então a Pedra sobe da terra para o céu, e novamente desce do céu para a terra, e recebe as mais variadas influências, tanto do céu como da terra. Se você pode realizar isto, você tem a glória do mundo, e é capaz de colocar em voo todas as doenças, e transmutar todos os metais. Ele vence o Mercúrio, que é sutil, e penetra em todos os corpos duros e sólidos. Portanto, é comparado com o mundo. Por isso me chamo Hermes, tendo as três partes de todo o mundo da filosofia.


Explicação da Tábua de Esmeralda de Hermes:


Hermes está certo ao dizer que nossa Arte é verdadeira, e foi corretamente transmitida pelos Sábios; todas as dúvidas a respeito dela surgiram através de uma falsa interpretação da linguagem mística dos filósofos. Mas, uma vez que eles são traços para confessar sua própria ignorância, seus leitores preferem dizer que as palavras dos sábios são impostura e falsidade. A culpa é realmente do leitor ignorante, que não entende o estilo dos Filósofos. Se, na interpretação de nossos livros, eles sofressem para serem guiados pelos ensinamentos da Natureza, ao invés de suas próprias noções tolas, eles não perderiam a marca tão desesperadamente. Pelas palavras que se seguem: “O que está acima é também o que está abaixo”, ele descreve a Matéria de nossa Arte, que, embora uma, está dividida em duas coisas, a água volátil que sobe, e a terra que está no fundo, e que se fixa. Mas quando a reunião acontece, o corpo se torna espírito, e o espírito se torna corpo, a terra se transforma em água e se torna volátil, a água se transmuta em corpo, e se fixa. Quando os corpos se tornam espíritos, e os corpos espirituais, seu trabalho está terminado, pois então o que sobe e o que desce se torna um só corpo. Portanto, o Sábio diz que o que está acima é o que está abaixo, o que significa que, após terem sido separados em duas substâncias (de ser uma substância), eles são novamente unidos em uma substância, ou seja, uma união que nunca pode ser dissolvida, e possui tal virtude e eficácia que pode fazer em um momento o que o Sol não pode realizar em mil anos. E este milagre é feito por uma coisa que é desprezada e rejeitada pela multidão. Novamente, o Sábio nos diz que todas as coisas foram criadas, e ainda são geradas, a partir de uma primeira substância e consistem no mesmo material elementar; e nesta primeira substância Deus designou os quatro elementos, que representam um material comum, no qual talvez seja possível resolver todas as coisas. Seu desenvolvimento é provocado pela destilação do Sol e da Lua. Pois ela é operada pelo calor natural da Lua do Sol, que agita sua ação interna, e multiplica cada coisa após sua espécie, conferindo à substância uma forma específica. A alma, ou princípio nutritivo, é a terra que recebe os raios do Sol e da Lua, e com isso alimenta seus filhos como com o leite materno. Assim, o Sol é o pai, a Lua é a mãe, a terra é a enfermeira – e nesta substância é o que necessitamos. Aquele que pode tomá-la e prepará-la é verdadeiramente invejado. Ela é separada pelo Sol e pela Lua na forma de um vapor, e coletada no local onde é encontrada. Quando Hermes acrescenta que “o ar a leva em seu ventre, a terra é sua enfermeira, o mundo inteiro é seu Pai”, ele quer dizer que quando a substância de nossa Pedra é dissolvida, então o vento a leva em seu ventre, ou seja, o ar leva a substância em forma de água, na qual está escondido o fogo, a alma da Pedra, e o fogo é o Pai do mundo inteiro. Assim, a substância volátil sobe, enquanto aquela que permanece na base, é o “mundo inteiro” (visto que nossa Arte é comparada a um “mundo pequeno”). Assim Hermes chama o fogo de pai do mundo inteiro, porque é o Sol de nossa Arte, e o ar, a Lua e a água ascendem dele; a terra é a enfermeira da Pedra, ou seja, quando a terra recebe os raios do Sol e da Lua, nasce um novo corpo, como um novo feto no ventre da mãe. A terra recebe e digere a luz do Sol e da Lua, e dá alimento a seu feto dia após dia, até se tornar grande e forte, e afasta sua escuridão e impureza, e é mudada para uma cor diferente. Esta “criança”, que é chamada de “nossa filha”, representa nossa Pedra, que nasce de novo do Sol e da Lua, como você pode ver facilmente, quando o espírito, ou a água que ascendeu, é gradualmente transmutada no corpo, e o corpo nasce de novo, e cresce e aumenta de tamanho como o feto no ventre da mãe. Assim, a Pedra é gerada a partir da primeira substância, que contém os quatro elementos; ela é gerada por duas coisas, o corpo e o espírito; o vento a carrega em seu ventre, pois ela carrega a Pedra para cima, da terra para o céu, e novamente para baixo, do céu para a terra. Assim a Pedra recebe o crescimento de cima e de baixo, e nasce uma segunda vez, assim como qualquer outro feto é gerado no útero materno; como todas as coisas criadas geram seus filhotes, assim também o ar, ou o vento, geram nossa Pedra. Quando Hermes acrescenta: “Seu poder, ou virtude, é inteiro, quando é transmutado na terra”, ele significa que quando o espírito é transmutado no corpo, ele recebe toda sua força e virtude. Pois até agora o espírito é volátil, e não fixo, ou permanente. Para que ele seja fixo, devemos proceder como o padeiro no cozimento do pão. Devemos transmitir apenas um pouco do espírito ao corpo de cada vez, assim como o padeiro apenas coloca um pouco de fermento em sua refeição, e com ele fermenta todo o caroço. O espírito, que é nosso fermento, da mesma forma que o fermento, transmuta todo o corpo em sua própria substância. Portanto, o corpo deve ser fermentado uma e outra vez, até que todo o caroço esteja completamente impregnado com o poder do fermento. Em nossa Arte, o corpo fermenta o espírito, e o espírito fermenta o corpo, e o espírito fermenta o corpo, e o transmuta em um espírito, e os dois, quando se tornam um só, recebem o poder de fermentar todas as coisas, nas quais são injetados, com sua própria virtude.


O Sábio continua: “Se você separar suavemente a terra da água, a sutil da dura, a Pedra sobe da terra ao céu, e novamente desce do céu à terra, e recebe sua virtude de cima e de baixo”. Por este processo você obtém a glória e o brilho do mundo inteiro”. Com ela você pode fugir da pobreza, das doenças e do cansaço; pois ela supera o mercúrio sutil e penetra em todos os corpos duros e firmes”. Ele quer dizer que todos os que realizariam esta tarefa devem separar o úmido do seco, a água da terra. A água, ou fogo, sendo sutil, sobe, enquanto o corpo é duro, e permanece onde está. A separação deve ser feita pelo calor suave, ou seja, no banho temperado dos sábios, que age lentamente, e não é muito quente nem muito frio. Então a Pedra sobe ao céu, e novamente desce do céu para a terra. O espírito e o corpo são primeiro separados, depois novamente unidos por uma suave cocção, de uma temperatura parecida com a que uma galinha eclode seus ovos. Tal é a preparação da substância, que vale o mundo inteiro, de onde também é chamada de “pequeno mundo”. A posse da Pedra lhe proporcionará o maior deleite e um conforto indizível e precioso. Ela também lhe proporcionará de uma forma típica a criação do mundo. Ela permitirá que você expulse todas as doenças do corpo humano, afaste a pobreza e tenha uma boa compreensão dos segredos da Natureza. A Pedra tem a virtude de transmutar o mercúrio em ouro e prata, e de penetrar em todos os corpos duros e firmes, tais como pedras e metais preciosos. Não se pode pedir um presente melhor de Deus do que este presente, que é maior do que todos os outros presentes. Por isso Hermes pode justamente se chamar pelo orgulhoso título de “Hermes Trismegisto, que detém as três partes de todo o mundo da sabedoria”.

Gênese Alquímica


PRIMEIRO DIA


Manipulações cronológicas alquímicas

-Minério dos Filósofos.

-O enxofre e o mercúrio dos filósofos (não os vulgares) são colocados num vaso de vidro. Estas matérias informes, não amalgamadas naturalmente, são inertes e frias, embora algumas delas contenham no seu seio um fogo interno. Neste estado nenhuma proporção é feita pela mão do homem.

-O sal ou Espírito ígneo, ou elemento transformável pela vontade desta trindade, é colocado então em contacto com a terra sulfurosa e a água mercurial. Em contacto com este espírito de fogo, os dois outros revelam-se. Uma luta dura se desenvolve entre os três que originam uma quarta, mais violenta que as outras, criando assim um desequilíbrio nas forças da massa. Este desequilíbrio traduz-se por um movimento turbilionário. Sob o efeito desta quarta energia uma imantação se produz, amalgamando naturalmente, e numa proporção de natura, o sal, o enxofre e o mercúrio filosofal.

-Deste movimento rotativo nascerá um quinto fogo que terá por efeito eletrizar os corpúsculos atómicos dos constituintes.

-Uma eletricidade atrativa nascerá, daí o nome de Electro Mineral.

-Neste estado as granulações são efetivas. O Artista escolherá portanto na natureza e no reino mineral uma terra semelhantemente proporcionada, para dela fazer a sua “Matéria Prima”.

-Então, por uma engenhosa indústria, toda natural, o Artista separará o que a natureza uniu. Ele separará o puro do impuro, o subtil do espesso; ele recolherá com cuidado a «Luz» do seu minério, ele fará cristais salinos rutilantes e brilhantes. Tendo agido assim, o Sábio separará a luz das trevas.


SEGUNDO DIA


Manipulações cronológicas alquímicas

-Os mundos estando nascidos (lede granulações) com se viu, o quinto fogo (engendrado pelo movimento permanente) chega a fazer evaporar uma certa quantidade de «água divina» ou «fogo do espírito do sal». Um vapor eleva-se no alto do vaso, mantendo-se à distância pelo calor do quarto fogo, sempre mantido pelo combate dos outros três. O espaço livre que separa o vapor da humidade salina dos grânulos é comparável em efeito àquele que se chama firmamento.

-Todavia, à medida que a matéria arrefece, os vapores condensam-se e caiem em grandes gotas sobre a terra. Em breve, sob estas águas que penetram até ao centro dos mundos miniaturas, a terra é submergida, dissolvida; os corpúsculos sólidos transformam-se em vasa pendente que a água de fogo (tendo a absorvido a quintessência da trindade terrestre) sobrenada sob a forma de um óleo avermelhado rodeado de uma franja de dourada. O Artista verá que há duas espécies de líquidos.

-Neste instante, mais nenhum vapor aparece no vaso. Só, o mesmo vazio que existia persiste. Este vazio pode ser chamado céu em contraste com a terra e a água, que estão no fundo do vaso.


TERCEIRO DIA


Manipulações cronológicas alquímicas

-Embora se note que se trata «das cales» debaixo do céu, e não das «águas». O plural é posto para chamar a atenção sobre as duas colorações da massa líquida.

-O Artista reunirá num só lugar, num só recipiente bem fechado, o precioso líquido.

-Depois quando tiver cortado a cabeça do seu corvo, verá aparecer a sua terra adâmica sob forma de areia muito negra e fétida. Então, fazendo sempre agir o seu quinto fogo, começará por secar a terra…

-Guardando preciosamente a sua quintessência líquida.

-A cor verde começa a aparecer. Toda a terra se cobre de verdura e de borbulhas contendo sementes minerais. Neste momento, alguns sábios comparam a sua matéria a uma desova de rãs.


QUARTO DIA


Manipulações cronológicas alquímicas

-Sempre sob a acção do quinto fogo, as granulações verdes começam a clarear. A matéria lavada pelo fogo passa de verde ao branco. Os filósofos chamam então à sua matéria Lua Muito Pura, Muito Fixa.

-Esta cor é o indício de que se operou bem, depois de ter provocado o dilúvio em «Solve»

-Operou-se bem para iniciar «Coagula», verdadeiro labirinto.

-Sempre sob a acção do quinto fogo, atinge-se o terceiro grau de temperatura. O calor activado na cor branca dá a cor amarela. Neste estado os Sábios simbolizam a sua matéria por uma estrela de Cinco Ramos. Esta é a matéria próxima de Obra: A Estrela da Manhã.


QUINTO DIA


Manipulações cronológicas alquímicas

-Aqui, a matéria em branco apresenta-se como olhos de peixe, os Sábios dizem que ele pesca os peixes «Echéneis»; é por isso que eles chamam também «Mar» as águas que recobrem a sua matéria. Ora, como uma parte desta matéria ao branco ou olhos de peixe tem o poder de transformar Dez Partes de metal vil em Lua, é-se obrigado a admitir a vitalidade desta matéria nascida na vasa e na água.

-A verificação faz-se então, colocando uma parte da matéria ao branco sobre uma lâmina aquecida ao rubro; se ela fundir sem fumegar, é porque a Pedra ao branco está fixada; senão é preciso continuar o quinto fogo.


SEXTO DIA


Manipulações cronológicas alquímicas

-A Pedra ao Amarelo vai portanto continuar a fixar-se sob a acção do quinto fogo, temperada pela imbibição progressiva do mercúrio tingidor. De amarelo, ela para ao alaranjado e enfim ao vermelho. Neste estado, esta Pedra ou Pó de Projecção ou Terra Sublimada é capaz de dar origem aos três reinos;

-Inicialmente uma das suas partes pode transmutar dez de metais vis, e este em ouro muito puro e muito fino. (Reino Mineral).

-Em seguida, se se dissolve deste pó no álcool pode-se deitar deste licor sobre a terra ordinária calcinada sem fusão, ver-se-á nascer vegetais (musgos, fetos, gramíneas). (Reino Vegetal).

-Enfim se se tomar ainda da terra ordinária preparada como acima, e se pulverizar num pilão antes de a humedecer de uma nova quantidade de licor, ver-se-á nascer o verme, a lagarta, a mosca, a borboleta. (Reino Animal).

-Quando o Sábio sabe realizar tudo isto, Deus o tornou semelhante a Ele. O Homem pode criar o Universo à sua estatura e transmitir a vida a todos os reinos da natureza. Ele é o mestre incontestado do microcosmos, e como tal ele é feito bem à imagem de Deus.

Filosofia da Alquimica

A primeira pergunta com a qual nos deparamos e certamente devemos nos perguntar ao iniciarmos este caminho é: o que é a alquimia? Para muitas pessoas, a alquimia é uma pseudociência praticada por velhos em sótãos mofados. Eles usam ingredientes como olho de salamandra, asa de morcego, fígado de gato e similares para tentar produzir um elixir universal que prolonga a vida indefinidamente, além de transmutar metais básicos em ouro.

A alquimia é muito mais do que a busca desses sonhos frívolos. A alquimia é a busca da QUINTESSÊNCIA! Trata-se de encontrar a força vital da própria vida, isolando-a para que possa ser condensada, purificada e manipulada de acordo com a vontade do artista. A alquimia, em suma, é a arte da evolução! Trata-se, em um sentido real, de elevar todos os organismos ao mais alto nível de perfeição que puderem atingir – como originalmente ordenado por Deus – enquanto ainda estão nesta terra em forma material. Quando se fala de organismo faz-se referência a todas as formas de matéria encontradas neste planeta, independentemente de serem orgânicas ou inorgânicas, pois para o alquimista toda matéria é viva, ou então não poderia continuar na forma que ela ocupa e mantém. É claro que existem diferentes níveis de força vital em todos os organismos. Alguns têm força vital suficiente para manter sua forma, ou assim parece porque sua decadência é tão prolongada, como no caso de um metal enferrujado. Enquanto outros têm tamanha abundância de vida que podem reproduzir ou mesmo ajudar a vitalizar e estabilizar a força vital em outros organismos que se desequilibraram.

A fim de obter uma melhor compreensão aqui do que significa a alquimia ser a arte da evolução, devemos dar uma olhada nos cinco princípios básicos da alquimia, que são:


1) Que todo o universo é de origem divina. Portanto, Sabedoria e Orientação devem ser buscadas na fonte da qual toda a criação flui.

2) Que todos os organismos, por mais sutis ou grosseiros que sejam, têm dentro de si a centelha divina da vida e estão inter-relacionados entre si. É, portanto, nossa tarefa compreender esse parentesco, para que possamos utilizar o conhecimento inspirado para auxiliar em nossa compreensão de como preparar a quintessência de nossa matéria.

3) Que todos os organismos estão em constante evolução enquanto prosseguem sua síntese rumo à perfeição. Ao atingir a compreensão do princípio (2), o verdadeiro trabalho começa, ou seja, o auxílio da natureza pela arte da alquimia para atingir seu ponto mais alto de perfeição.

4) Que os humanos estão à parte do universo. Portanto, eles são de origem divina e podem afetar todos os organismos em todas as esferas da existência por suas ações ou inação.

5) Que os humanos, compreendendo as leis básicas que regem seus seres e inversamente todo o universo, aprendem a reconhecer a centelha divina de energia vital em todos os organismos, isolá-la, purificá-la e manipulá-la para acelerar os processos de evolução.


Esses cinco princípios propõem que existe um sistema pelo qual os humanos podem aprender sobre o universo desde suas sugestões mais sutis até suas manifestações mais grosseiras. Ela diz que conhecendo a si mesmo, pode-se conhecer o Um, o Todo (ou o mais próximo que a mente humana pode chegar de reconhecê-lo) e, de fato, provocar mudanças e manifestações físicas por uma aplicação legal das regras do sistema. Essas afirmações são verdadeiras, embora o grau em que elas se manifestam em qualquer vida dependa inteiramente do indivíduo que as aplica e da quantidade de diligência com que abordam sua tarefa. No entanto, é preciso começar em algum lugar nesta estrada. Então vamos começar juntos.

Formação do Ghur na Alquimia

Na maioria dos textos herméticos, as frases importantes são muitas vezes afogadas em longas dissertações ou em alegorias simbólicas. O texto a seguir foi retirado de um antigo livro hermético do qual removemos todos os termos obscuros desnecessários:

Como já vimos, cadáveres não podem ser usados ​​na Alquimia. É por isso que os metais comuns são inutilizáveis; apenas sais metálicos vivos podem ser usados ​​para trabalhar no reino mineral.

Como na Alquimia imitamos a Natureza, vamos examinar o processo criativo. Na Natureza, tudo vem de um único princípio que opera todas as gerações e todas as dissoluções.

A natureza é a mãe de todos os seres que compõem este mundo visível e do princípio invisível que os anima e que, embora distinto de Deus, dele emana.

Deus trouxe a Natureza do nada em virtude de sua Palavra, que gerou um vapor sem forma e sutil no qual Ele imprimiu um Espírito de força e poder.

O Vapor se transformou em uma Água que os filósofos chamaram de Caótica Universal: o CAOS. É desta água que se forma o Universo.

A água cósmica é dupla, a água universal visível, o espírito invisível inerente a ela. Duas coisas em uma.

A água sem o Espírito não teria forma. O Espírito sem água não teria como agir.

Todas as coisas derivam sua existência dessa mesma raiz e, portanto, tudo pode ser reduzido a ela.


É por isso que os filósofos dizem:

“Nossa matéria está em todas as coisas, mas não é a mesma em quantidade nem em qualidade em todas as coisas”.

A água cristalina e pura da origem é passiva, mas, sob a ação do Espírito ativo, apodrece. Assim as partes sutis e as partes grosseiras são formadas.

O mais sutil forma o Céu ou Fogo, o menos sutil o Ar, mais grosseiro, a Água e finalmente a Terra.

Esses quatro elementos diferem uns dos outros apenas em seu grau de fixidez e sutileza. Mas a dupla água caótica torna-se quádrupla pela separação dos elementos.

Cada elemento produz continuamente em seu centro uma semente semelhante a si mesma.

Da união dessas sementes nasce uma água caótica com a mesma natureza da água caótica primordial.

Essa água caótica garante a geração, a conservação e a destruição de todas as coisas criadas. Essa água gerada pelos elementos é chamada: Semente Universal, Alma e Espírito do Mundo. Ela é o espírito universal não especificado tornado visível como água: é o ARQUEUS da Natureza.


O Espírito Animador causa emanações:

vindo de cima, essas são as influências,

vindo de baixo, são as exalações.

As emanações do Espírito causadas por uma semente particular engendrada em reunião com a Semente Universal. Fogo com Ar, Água com Terra e esses dois compostos se unem como masculino e feminino.

Você não pode ir de um extremo ao outro sem passar pelo meio. A união dos elementos fixa o volátil se temos Fogo com Ar, depois com Água, depois com Terra.

A união dos elementos volatiliza a Terra fixa se temos a Terra com Água, depois com Ar, depois com Fogo.

Cada elemento tem três graus intermediários, muito sutil, sutil, não muito sutil, ou Enxofre, Mercúrio e Sal .

A Semente do Universo é formada a partir das emanações do Céu, do Ar, da Água, da Terra, pela degradação desses elementos em sua matéria-prima.

Seus elementos são homogêneos sendo constituídos apenas de Água Caótica e Espírito.

A Terra é um Céu fixo, o Céu é uma Terra volátil, o Ar é uma Água rarefeita, a Água é um Ar condensado. O elemento mais sutil é também o mais móvel, é ele quem transmite movimento aos outros.

Aconselhamos a reler e meditar sobre esta parte filosófica antes de empreender a destilação dos elementos ou experiências com o GUR.

Alquimia - Doutrina das Assinaturas

A doutrina das assinaturas, que data da época de Galeno, afirma que quando ervas se assemelham uma parte do corpo, podem ser usadas pelos herbalistas para tratar doenças dessas partes do corpo. Uma justificativa teológica, como afirmado por botânicos como William Coles, era que Deus teria querido mostrar aos homens como as plantas seriam úteis.

Hoje é considerado pseudociência e levou a muitas mortes e doenças graves. Por exemplo, a erva-doce (assim chamada por causa de sua semelhança com o útero), uma vez amplamente utilizada para gestações, é cancerígena e muito prejudicial para os rins, devido ao seu teor de ácido aristolóquico. Como defesa contra a predação, muitas plantas contêm produtos químicos tóxicos, cuja ação não é imediatamente aparente ou facilmente ligada à planta, em vez de outros fatores.

Os escritos de Jakob Böhme (1575-1624) difundiram a doutrina das assinaturas. Ele sugeriu que Deus marcou objetos com um sinal, ou “assinatura”, para seu propósito. Pensava-se que plantas com partes que se assemelhavam a partes do corpo humano, animais ou outros objetos tinham relevância útil para essas partes, animais ou objetos. A “assinatura” às vezes também podia ser identificada nos ambientes ou locais específicos em que as plantas cresciam. O livro de 1621 de Jakob Böhme, The Signature of All Things, deu seu nome à doutrina. O médico-filósofo inglês Sir Thomas Browne em seu discurso The Garden of Cyrus (1658) usa o padrão Quincunx como um arquétipo da ‘doutrina das assinaturas’ que permeia o projeto de jardins e pomares, botânica e o Macrocosmo em geral.

O botânico do século XVII William Coles supôs que Deus havia feito ‘Ervas para o uso dos homens, e deu-lhes assinaturas particulares, pelas quais um homem pode ler e aprender sobre o uso delas.’ no Éden, afirmou que as nozes eram boas para curar doenças da cabeça porque, em sua opinião, “elas têm as assinaturas perfeitas da cabeça”. A respeito de Hypericum, ele escreveu: “Os pequenos buracos dos quais as folhas da erva de São João estão cheios, assemelham-se a todos os poros da pele e, portanto, é útil para todas as feridas e feridas que podem acontecer neles.”. Outros exemplos incluem:


Eyebright, usado para infecções oculares

Marchantiophyta ou Hepatica – usada para tratar o fígado

Pulmonária – usado para infecções pulmonares

Asplenium – usado para tratar o baço

Dentaria – usado para doenças dentárias


Para o espectador medieval tardio, o mundo natural era vibrante com imagens da Divindade: ‘como acima, assim abaixo’, um princípio hermético expresso como a relação entre macrocosmo e microcosmo; o princípio é tornado sicut in terra. Michel Foucault expressou o uso mais amplo da doutrina das assinaturas, que tornou a alegoria mais real e mais convincente do que parece aos olhos modernos:

Até o final do século XVI, a semelhança desempenhou um papel construtivo no conhecimento da cultura ocidental. Foi a semelhança que em grande parte orientou a exegese e a interpretação dos textos; era a semelhança que organizava o jogo dos símbolos, tornava possível o conhecimento das coisas visíveis e invisíveis e controlava a arte de representá-las. (A Ordem das Coisas, p. 17)

Paracelso (1493-1541) comelou a reformular a doutrina das assinaturas  adicionando um fator mais astrológico e menos fisiológico. Segundo “a natureza marca cada crescimento … de acordo com seu benefício curativo”, nestes conceitos ele foi seguido por Giambattista della Porta em sua Phytognomonica (1588). Assim as assinaturas não seriam antropocêntrica mas refletia assinatura astrais:


Plantas Lunares: flores ou frutos são brancos ou claras, narcóticas ou de aromas noturnos: dama da noite

Plantas Mercuriais: possuem folhas pequenas sem frutos; são sinuosas ou ondulantes: eucalipto

Plantas Venusianas: são afrodisíacas, com perfume suave, frutos e sementes em abundância: hortelã

Plantas Marcianas: espinhosas, venenosas, ácidas, amargas e picantes.

Plantas Jupterianas: são plantas grandes com frutos abundantes e belos: dente de leão

Plantas Saturninas: são plantas rasteiras, lúgubres, pesadas e sinistras: cavalinha

Plantas Solares: são de altura média com flores geralmente amarelas ou que seguem o Sol: girassol

A Compreensão Espagírica dos Remédios

Quase todos os métodos usados ​​hoje para preparar fitoterápicos (remédios vegetais) têm o objetivo comum de isolar, ou pelo menos reforçar, um ingrediente eficaz da planta. A tendência é obter uma caracterização clara e inequívoca de preparações farmacologicamente ativas e puras. Além dessa abordagem (de isolar ingredientes eficazes), há também o uso histórico e bem-sucedido de extratos de toda a planta, que muitas vezes é mais eficaz do que os compostos eficazes isolados. Uma explicação para este fenômeno é que em toda a planta existem substâncias “transmissoras” que permitem uma melhor absorção dos compostos eficazes no trato gastrointestinal. Mas mesmo em casos como esse é assumida uma correlação direta entre a substância química e a eficácia do remédio. Todos os métodos comumente usados ​​para preparar remédios de ervas são muito simples. Na maioria das vezes, a abordagem é preparar um extrato aquoso ou alcoólico de uma planta por maceração, extração ou outros métodos simples. Esses métodos têm o único objetivo de concentrar ou isolar os compostos eficazes que são conhecidos ou suspeitos de existirem. Assim, os métodos contemporâneos podem ser vistos como um resultado direto da compreensão teórica moderna do que constitui um remédio.

Aqui não encontramos diferença na Espagíria. Na Espagíria, também, a compreensão teórica determina os métodos práticos de trabalho. Assim, não se deve descartar prematuramente os métodos espagíricos sem conhecer a teoria espagírica. A falta ou o conhecimento insuficiente da teoria (da Alquimia) levou há algum tempo à conclusão de que a Espagíria é apenas a precursora da química moderna. Assim a espagíria é entendida como legitimamente descartada, porque sua teoria está desatualizada. Mas tal julgamento é prematuro e não faz justiça a a matéria. O fato é que os métodos simples para preparar tinturas de plantas comuns também eram bem conhecidos dos alquimistas. No entanto, eles não pouparam esforços para fazer seus remédios espagíricos. Repetidas vezes eles enfatizaram que o laborioso caminho da espagiria estava levando precisamente a remédios significativamente mais eficazes e mais benéficos do que os métodos dos “químicos”. Tal afirmação de quem conhecia os dois caminhos deveria nos fazer parar e pensar. Infelizmente, não temos estudos modernos que possam dar evidência clínica à afirmação de que as essências espagíricas são mais eficazes. Assim, teremos que primeiro tentar obter uma maior compreensão do lado teórico das preparações espagíricas.

Compreender os processos espagíricos básicos também nos ajuda a distinguir os procedimentos espagíricos verdadeiramente significativos dos “pseudospagíricos”. Mesmo nos círculos alquímicos, muitas vezes encontramos ignorância dos processos alquímicos reais, o que levou à introdução de elementos alienígenas nos procedimentos espagíricos de hoje. O quão importante é lidar seriamente com a Espagíria hoje se reflete no crescente interesse público em métodos alternativos de cura – que também incluem remédios espagíricos. Que o valor real das preparações espagíricas é muito maior do que o registro histórico mostra também é evidente quando consultamos o (Homeopathic Remedy Book), métodos espagíricos foram registrados lá, o que indica sua presença no mercado farmacológico. Para nos aproximarmos de uma compreensão da medicina espagírica, temos que explorar os importantes conceitos alquímicos dos Arcanos, de polaridade, bem como os três princípios alquímicos básicos.


Sobre o Arcano

Arcanum significa literalmente aquilo que é secreto. Seu significado é ilustrado pela seguinte citação de Paracelso: “O que vemos não é o remédio, mas o portador do remédio. Porque os arcanos dos elementos e do homem são invisíveis. O que é visível é o superficial, que não faz parte da essência curativa.” Essa parte invisível de cada substância médica é “toda a virtude da substância em mil vezes melhorada.” O Arcano é aquilo que é não-físico e indestrutível – é a parte eternamente viva da Natureza”. Um remédio, ou mais precisamente o que faz de uma substância um remédio, é aqui chamado de “arcano dos elementos”. Esses poderes de cura devem ser entendidos como princípios puramente abstratos ou espirituais, não materiais. Se entendermos os arcanos como princípios de cura imateriais que não podemos definir por sua substância material, isso não significa necessariamente que eles sejam ineficazes. No entanto, de acordo com o paradigma atualmente dominante, apenas assumimos como real aquilo que podemos perceber com os nossos sentidos e que é mensurável fisicamente. Este paradigma não permite uma avaliação concreta do conceito de arcanos, pois, segundo a tradição, os arcanos não são matéria bruta, mas realidades energéticas sutis. Paracelso muitas vezes chamou esses remédios transmitindo “arcanos” ao paciente e deixa inequivocamente claro que eles devem ser preparados alquimicamente: “Faça arcanos e aponte-os contra as doenças … Este é o caminho para curar e tornar saudável – tudo isso é realizado pela alquimia, sem a qual não poderia acontecer.” Com esta afirmação, ele também trouxe o fato de que os arcanos imateriais podem ser transmitidos. Isso significa que é possível preparar transmissores (os remédios espagíricos), que servem como veículos materiais dos poderes ocultos (arcanos). Esse tipo de pensamento diverge muito do nosso entendimento contemporâneo, que faz uma conexão causal entre o efeito e a substância. No entendimento atual, é a própria substância que realiza a cura, devido a alguma interação físico-química com o organismo. Para Paracelso e os alquimistas, a substância material não produz cura, mas é o veículo para os poderes causadores do efeito (curativo). A substância é apenas a matriz ou forma que serve para encarnar os arcanos.


Sobre as polaridades

Os hermetistas enfatizaram repetidamente que tudo o que existe está sujeito à lei da polaridade. Eles expressaram isso na forma da seguinte afirmação axiomática como parte dos sete princípios herméticos mencionados antes: “Tudo é duplo – tudo tem dois pólos, tudo tem seu par de opostos; semelhante e diferente é o mesmo; opostos são idênticos em natureza, apenas diferentes em grau; os extremos estão conectados; todas as verdades são apenas meias verdades; todas as contradições podem ser reconciliadas”. (Do Caibalion) Em todos os lugares encontramos polaridades: dia e noite, claro e escuro, quente e frio, atração e repulsão em eletricidade estática e magnetismo, grande e pequeno etc.

Mas esses extremos aparentemente opostos são apenas diferentes graus de expressão para uma mesma força básica. Dessa forma, atração e repulsão são resultados do mesmo magnetismo. Assim, atração e repulsão permanecem inalteradas quando nos aproximamos de um ímã com um pedaço de ferro – o poder magnético é o mesmo. Quente ou frio são ambos os aspectos da temperatura. Da mesma forma, dia (claridade) e noite (escuridão) são apenas aspectos da Luz que diferem em intensidade, enquanto grandes ou pequenos são aspectos de Tamanho.


Polo Negativo  ⬅️  Magnetismo ➡️  Polo Positivo


Frio  ⬅️  Temperatura  ➡️ Calor


Noite  ⬅️   Luminosidade  ➡️  Dia


Ilustração: Cada atributo, na verdade tudo o que existe, contém em si uma polaridade. Opostos (polaridades) são aspectos de uma propriedade ou força básica.

Os extremos aparentemente opostos de uma polaridade, assim, provam ser de natureza idêntica em relação à sua propriedade básica. Eles estão apenas ‘diferindo em grau’. Ambos os extremos tornam-se significativos apenas pelo efeito concreto que têm sobre um terceiro princípio. Também é possível defini-los pela existência ou ausência total de um dos princípios. Por exemplo, distinguimos entre luz e escuridão porque nosso olho percebe muita ou pouca luz. Mas na escuridão absoluta não há mais luz presente – o próprio princípio (luz) não aparece mais.

Da mesma forma, a potência médica como uma soma total de atributos curativos se manifesta de acordo com o princípio hermético da polaridade na forma de opostos polares. Um lembrete: Os poderes de cura que causam os efeitos curativos foram chamados de “arcanos” por Paracelsus. A alquimia define assim um remédio como uma preparação que transmite a potência dos arcanos para fins de cura. O oposto polar de curar é adoecer ou envenenar. Aqui também é verdade que o “grau” dos arcanos é experimentado por meio de sua interação com um terceiro princípio, ou seja com o organismo, onde demonstre atuar como agente curativo ou envenenador. A relatividade dessa determinação pode ser vista no fato de que algumas substâncias são curativas ou neutras para um animal, mas tóxicas para o ser humano. Paracelso, portanto, usa o termo “arcano” em um sentido duplo, o que é um fator crucial a ser considerado. Ele entende “arcano” como o remédio com poderes em geral, bem como o efeito que um extremo polar tem no corpo (cura), que ele chamou de remédio. Para evitar a falta de clareza nas páginas seguintes, nos referiremos aos arcanos apenas como os poderes imateriais subjacentes à cura ou envenenamento. O efeito desses poderes no organismo situa-se entre os extremos do remédio ou do veneno.


Veneno  ⬅️   Arcana  ➡️  Remédio


ilustração: “veneno ou remédio” é um par de opostos das forças ocultas de cura chamada arcana.

A diferença entre remédio e veneno em seu efeito sobre o organismo humano é, portanto, apenas uma questão de grau. Definimos o efeito curativo sobre o ser humano como construtivo, potencializador e harmonizador, enquanto o efeito do veneno é destrutivo, diminutivo e desarmônico.

A compreensão moderna vê a causa direta do efeito curativo de um remédio na substancialidade material do agente curativo. De acordo com os pensamentos desenvolvidos acima, a substância consiste em veneno e remédio! É por isso que o efeito depende da dosagem.

Quanto mais substância aplicarmos no paciente, mais intenso será o efeito farmacológico e uma dose alta pode até causar o inverso do efeito curativo desejado: uma overdose pode causar a morte do paciente. Paralelamente ao aumento da dosagem, o efeito curativo cresce, mas é sempre limitado pelo efeito venenoso: as propriedades destrutivas do veneno são potencializadas junto com os efeitos construtivos do remédio, até causar sintomas e defeitos manifestos ao impedir as funções celulares.

O Alquimista vai mais fundo: para ele, a substância é apenas o veículo dos arcanos. Não há nenhuma conexão convincente entre a substância física e seu efeito. Ele vê o efeito corretivo também nas substâncias “químicas” não processadas. No entanto, a conexão entre dosagem e efeito é interpretada de forma diferente em não-químicos, ou seja, preparações espagíricas, tomando uma forma alquímica. O alcance terapêutico é especialmente muito ampliado. Isso é conseguido primeiro dissociando e depois separando os princípios por procedimentos espagíricos: os arcanos são alterados em sua estrutura interna pela dissociação e depois liberados de sua conexão íntima com a substância física pela separação.

A diferença teórica básica entre as duas abordagens se reflete em sua prática: o Químico apenas separa, enquanto o Alquimista dissocia e depois separa. Essa importante diferença teórica e prática das duas abordagens também é encontrada na obra de Paracelso. Todas as citações citadas acima se referiam a Paracelso, o Alquimista. Mas, ao mesmo tempo, Paracelso estava bem ciente da diferença entre alquimia e química. A seguir, uma passagem muito citada de suas obras, quando a questão é retratar Paracelso como o fundador da química moderna: “Todas as snstâncias são venoosas, e nada é sem veneno, apenas a dose determina que uma substância seja não venenosa.”

Esta citação nos mostra que ele conhecia as características típicas da substância puramente química. Mas é também aparentemente uma contradição com a abordagem alquímica. Porque, enquanto o remédio não for preparado espagiricamente, o efeito sempre se mostra ligado à substância. O próprio Paracelso distinguiu precisamente entre as propriedades da matéria-prima não processada e da preparada quimicamente, por um lado, e as propriedades da preparação alquímica, por outro. Enquanto de acordo com Paracelsus na abordagem química a dosagem determina o veneno, isso não é verdade para a abordagem alquímica! A razão dessa diferença está no processo de dissociação dos arcanos, que é o elemento mais importante da Espagírica. Se aplicarmos a estrutura dada acima, podemos elucidar ainda mais essa diferença comumente incompreendida.

Separação Química: Os arcanos entre os extremos do veneno e do remédio são inseparáveis ​​da substância material, a menos que sejam dissociados via procedimento Alquímico. Ao usar extrações simples, também estamos aplicando um processo de separação. Certas substâncias aparecem no extrato, outras ficam no resíduo. Mas os alquimistas afirmam que uma simples extração não dissocia o “puro do impuro” (‘puri ab impuro’); é apenas um processo de separação.

Apenas a Putrefação pode levar à dissociação dos arcanos. Por enquanto, aceitaremos essa alegação como verdadeira e examinaremos as consequências que isso tem sobre os procedimentos químicos. O extrato também contém os arcanos sem alterá-los; na melhor das hipóteses, aumentamos sua concentração se os compostos ativos que carregam os arcanos forem dissolvidos no extrato. Podemos então reduzir a dosagem, mas em princípio não mudamos nada. Dependendo da dosagem, o homem ainda está confinado ao alcance efetivo dos arcanos entre veneno e remédio.


Substância Bruta:


Veneno  ⬅️       Arcana      ➡️  Remédio

(separação química)


Remédio Químico:


Veneno  ⬅️        Arcana        ➡️  Remédio

⬇️                            ⬇️

⬇️                            ⬇️

⬇️                            ⬇️  



Veneno  ⬅️Substancias isoladas➡️ Remédio


   Ilustração 5: Nas preparações químicas os arcanos não são alterados estruturalmente. Eles continuam a afetar o homem na polaridade ‘Veneno’ e ‘Remédio’.

Dissociação Espagírica: Em contraste, a Putrefação dos Alquimistas leva a uma mudança na estrutura interna dos arcanos. O Alquimista sabe exaltar (elevar) os Arcanos para que não haja mais efeitos venenosos sobre o homem. Os mesmos arcanos são transmitidos através de um remédio alquímico, mas são alterados na medida em que têm um efeito unicamente harmonizador sobre o organismo humano. Efeitos destrutivos não são mais possíveis. Esse fato pode ser resumido na seguinte frase: O remédio é dissociado do veneno. (Dissociação do ‘Falso’ do ‘Verdadeiro’). E ainda assim a polaridade é preservada! Porque o pólo que anteriormente chamamos de “remédio” é em si mesmo de natureza dual. O remédio mostra um lado nobre e um lado menos nobre. Mas em relação ao homem ambos os pólos têm um efeito curativo, porque através do processo espagírico todas as energias destrutivas (venenos) foram eliminadas. Este é o aspecto invisível da dissociação alquímica (ilustração abaixo). Em um processo paralelo, os arcanos também são separados de sua substância portadora física: é possível isolar, por métodos simples de separação, apenas aquelas substâncias químicas que servem como portadores ótimos dos arcanos em sua forma exaltada. Todos os elementos que obstruem o efeito do remédio são eliminados. A essência espagírica emerge assim também em uma forma externamente purificada. Este é o aspecto visível da dissociação alquímica.


Substância Bruta:


Veneno  ⬅️       Arcana      ➡️  Remédio

(separação química)


Dissociação Espagírica:


Veneno  ⬅️       Arcana      ➡️  Remédio

❌                      ⬇️

⬇️

⬇️

Menos Nobre  ⬅️Remédio➡️ Mais Nobre


Ilustração: Na preparação espagírica há sempre primeiro uma mudança na estrutura interna dos arcanos. Somente o pólo remédio dos arcanos afeta o homem. Mas a polaridade do poder de cura também tem uma natureza dupla, que é indicada pelo sinal + (para o aspecto nobre) e pelo sinal – (para o aspecto menos nobre).

Uma citação da “Carruagem Triunfante do Antimônio” de Basilius Valentinus ilustra esses pensamentos. Seu texto trata do processamento espagírico do antimônio, que na época era o nome do minério de sulfeto de antimônio (stibnita). Como a base teórica da Espagírica é universal, também podemos consultar um trabalho sobre minerais para fins de ilustração. Veremos que os parágrafos acima correspondem exatamente ao pensamento alquímico em geral.

Basil Valentine tem plena consciência de que o antimônio comum é venenoso e inutilizável como remédio: … “É por isso que ninguém o usa – porque é venenoso.” Mas isso muda à medida que o espagirista processa o antimônio: “Depois da correta e verdadeira preparação do antimônio não há mais nenhum veneno presente, o antimônio deve ser totalmente e completamente modificado pela arte espagírica, para que o veneno possa se transformar em um remédio. Sem tal preparação você não terá uso do antimônio, mas virá a causar danos e problemas.” Ele descreve o processo de dissociar o puro e o impuro, o veneno e o remédio da seguinte forma: “Você deve cuidadosamente dissociar o Antimônio, o bom do ruim, o fixo, do não-fixo e o remédio do veneno, para que assim possa resultar em verdade e honra… Ninguém deve se surpreender que nós dissociemos o puro do impuro, o veneno do remédio… porque isso é provado no trabalho diário da experiência do Proba… Porque o veneno é removido pelo processo de dissociação e a mudança do mal ao bem ocorre.. é assim que o fogo trás a dissociação do veneno e do remédio, do bem e do mal.”


Os Três Princípios Alquímicos

Estabelecemos que os alquimistas entendiam os arcanos como os poderes invisíveis de cura em uma forma material específica. O arcano aparece como uma polaridade entre o veneno e o remédio em relação a um terceiro princípio, o organismo humano. Mas os arcanos são energias invisíveis escondidas na substância, que é apenas seu portador ou matriz. Dissemos também que o processo espagírico é distinto do método químico na medida em que provoca uma mudança na estrutura interna dos arcanos por meio da Putrefação. Foi assim que descrevemos o processo espagírico fundamental de dissociação. Mas isso ainda não é o suficiente para explicar o mecanismo da mudança nos arcanos e na substância. Ainda não está claro o que permite a transmutação de um veneno em um agente curativo.

Para responder a esta questão, temos que olhar mais de perto os arcanos: Os alquimistas afirmam que tudo na natureza consiste em três princípios essenciais, que eles denominaram Sal (sal), Sulfur (enxofre) e Mercurius (mercúrio): “Estes três – mercúrio, enxofre e sal – nunca estão sem o outro; onde você encontra um, há sempre todos os três unidos, e em todo o mundo não há nada que não consista desses três – e destes três é feito tudo o que está no mundo.”

É claro que os três princípios não são idênticos ao que hoje entendemos como mercúrio, enxofre ou sal químicos. Repetidamente este fato tem levado e leva a mal-entendidos. No entanto, as palavras não foram escolhidas aleatoriamente – as propriedades do sal comum, mercúrio e enxofre correspondem fenomenologicamente às propriedades dos princípios alquímicos abstratos. Curiosamente, os três princípios alquímicos encontram uma representação surpreendente na física. Contemplando a descrição de uma vibração física, cuja forma mais simples é a curva seno ou cosseno, podemos distinguir três parâmetros que descrevem completamente uma curva:


1. A forma da curva, no nosso caso senos ou cossenos. Esta é uma expressão da qualidade, a maneira como algo vibra ou como vibra.

2. A amplitude, que é a medida para a quantidade ou grau de desvio do meio

3. A frequência ou o número de vibrações por unidade de tempo, que é uma medida para o movimento da vibração, sua excitação.


Cada vibração – por mais complicada que seja – pode ser demonstrada como um padrão de interferência único de vibrações harmônicas (análise de Fourier). A forma ou qualidade de uma vibração mais complicada é expressa no espectro de frequências, a quantidade de amplitudes – sendo a amplitude total composta pela soma das amplitudes individuais – e também a própria frequência que define a vibração. Podemos comparar essas formas de definir uma curva com a descrição dos três princípios alquímicos, como os encontramos nos textos alquímicos:

O sal é o princípio de condensação e endurecimento, que permite a coesão da matéria. O sal também pode ser chamado de princípio de fixação ou firmeza. É o componente material ou estático (fixo) em todas as coisas, a corporeidade da substância e da materialização. Depois de submeter uma substância ao fogo, o Sal permanece como a parte indestrutível da substância – sem forma. Assim, podemos caracterizar o Sal também como relacionado à quantidade (amplitude). Em relação ao homem, Sal significa o corpo físico como um todo.

O enxofre é a propriedade característica de uma substância. Ele define a essência, a alma. O enxofre nos mostra com o que estamos lidando – denota forma, cor, forma e outras propriedades características. O enxofre também indica quão bem uma substância queima. Assim, Enxofre refere-se à qualidade de uma substância. No homem, o enxofre significa a alma.

O princípio do movimento está contido em Mercúrio. Mercúrio é também o princípio vivificante, o espírito. Mercúrio é a energia vital, a força motriz, despertando para a vida as qualidades específicas (Enxofre) dentro do corpo (Sal). Movimento é mudança, e mudança está ligada ao tempo. Mercúrio, portanto, relaciona-se com o conceito de frequência. No homem, o mercúrio é a essência da vida ou espírito.

Sal, Enxofre e Mercúrio (corpo, alma e espírito) são, portanto, análogos às propriedades físicas que descrevem exaustivamente uma vibração. Mas, de acordo com a física moderna, tudo o que é material nada mais é do que energia – energia vibratória. Nesse contexto, a afirmação dos alquimistas de que tudo consiste em três princípios básicos é surpreendentemente relevante e significativa.

Agora podemos entender melhor o significado abstrato dos três princípios. Mas temos que ter em mente que Sal, Enxofre e Mercúrio também podem se manifestar fisicamente. Todo princípio se materializa na forma física de acordo com suas propriedades. Também temos que considerar a polaridade do visível e do invisível. As três manifestações materiais juntas formam o “Corpus”, que percebemos com nossos sentidos; suas potências internas de poder, porém, os tríplices arcanos, permanecem invisíveis É somente através do processo espagírico que o Corpus pode ser destruído e Sal, Enxofre e Mercúrio, tanto em sua forma física quanto em sua forma invisível, podem ser acessados ​​para uso terapêutico.

Paracelso descreve o aspecto material dos três princípios da seguinte forma: “Há três substâncias que dão a cada coisa seu Corpus – três coisas compõem cada coisa física. Os nomes dessas três coisas são Enxofre, Mercúrio e Sal. Quando esses três são unidos em um, então isso é chamado de corpus… Então, em uma forma de qualquer corpus, estão contidas invisivelmente todas as três substâncias… por exemplo, se você pegar um pedaço de lenha na mão, então verá só uma coisa (corpo/corpus) … agora queime-o … o que queima é o enxofre – nada queima além do enxofre; a fumaça indica o Mercúrio – nada sublima além de Mercúrio, e o que você encontra como cinzas é Sal – nada sobra nas cinzas, senão Sal.”

A passagem a seguir explica o significado abstrato dos três princípios: “Sabemos assim que nos três princípios, tudo o que é quebrado ressuscita; uma árvore vazia de seu líquido (mercúrio) secaria, se o enxofre fosse retirado da árvore não teria forma e se o sal fosse retirado, não teria coesão, mas ele se desfaria como um barril sem o anel de ferro … “A manifestação visível e invisível dos três princípios torna-se ainda mais evidente quando as estamos rastreando em uma planta: “cada planta de acordo com sua natureza é composta de três coisas, ou seja, sal, enxofre e mercúrio: esses três se juntam e então formam um corpus, um ser unificado. .. Mas sabemos que forma esses três princípios assumem: um é um líquido e esse é o mercúrio, outro é um óleo e esse é o enxofre e um é alcalino e esse é o sal”.


Especificado quimicamente:

Sal: Os sais minerais solúveis lixiviados da substância vegetal calcinada são chamados de álcalis ou Sal. Este ao mesmo tempo é o princípio da fisicalidade – indestrutível pelo fogo – a quantidade.

Enxofre: As partes voláteis, oleosas e principalmente perfumadas da planta são o enxofre. Mais proeminentemente encontramos este princípio nos óleos essenciais. Essas substâncias que caracterizam cada planta também são uma ilustração adequada do modelo alquímico: o enxofre pode ser entendido como a alma ou essência de uma planta.

Mercúrio: Mercúrio foi definido como energia vital, como o princípio do movimento. É o espírito ainda invisível que só se manifesta após a putrefação (fermentação). Se fermentamos uma planta obtemos seu espírito como álcool etílico e outros produtos altamente voláteis da fermentação. Ainda hoje a palavra “espíritos” é usada para bebidas alcoólicas em referência a essa conexão. (Ilustração 10)! O princípio vivificante do mercúrio não está vinculado a nenhuma espécie de planta. Todas as plantas compartilham o princípio da vida. O ponto de vista alquímico explica assim facilmente que após a fermentação de diferentes espécies vegetais o mesmo espírito aparece na forma física (matriz química) do álcool etílico.


A Estrutura Interna dos Arcanos

Agora podemos entender mais precisamente a estrutura interna dos arcanos: Os arcanos são, por um lado, a potência curativa ou poderes ocultos de cura da planta; por outro lado, estão vinculados à manifestação material da planta. Os arcanos são energias, mostrando-se em forma tríplice. A substância, como portadora dos arcanos, também espelha sua estrutura interna de forma tripla. Esses três princípios, invisíveis e visíveis, são chamados de Sal, Enxofre e Mercúrio. Os arcanos também estão sujeitos à polaridade. Definimos os dois pólos dessa polaridade como veneno e remédio. Podemos agora entender a polaridade do veneno e do remédio como um efeito da tríplice subestrutura dos arcanos. Assim podemos retratar.


Veneno  ⬅️       Arcana      ➡️  Remédio

↕️                       ↕️                        ↕️

Veneno  ⬅️           Sal         ➡️  Remédio

Veneno  ⬅️       Enxofre     ➡️  Remédio

Veneno  ⬅️       Mercúrio     ➡️  Remédio


Ilustração: Em sua estrutura interna, os arcanos mostram uma tripla polarização


Se quisermos liberar apenas o lado do remédio dos arcanos, temos que considerar corretamente sua estrutura interna. Só então podemos escolher o procedimento certo para alcançar uma completa dissociação e separação. Apenas assim podemos prosseguir na compreensão do processo espagírico básico.


O Processo Espagirico

O objetivo do processo espagírico é obter os arcanos – que definimos como energias de cura vibratórias – de tal forma que a preparação espagírica resultante contenha apenas frequências, amplitudes e formas curvas de cura que são benéficas para o organismo tratado. Todas as vibrações desarmônicas de frequência inferior devem ser eliminadas. Como poderes de cura invisíveis, os arcanos não podem ser acessados ​​diretamente, mas apenas indiretamente através da substância transportadora. Assim, é vital eliminar e separar todas as substâncias portadoras de materiais com baixas frequências, formas de curvas desarmônicas ou amplitudes ásperas (grossas). O procedimento mais fácil seria obter os arcanos em um  único passo – e fazê-lo como um todo – na forma de um remédio puro. Mas quando na prática processamos as plantas, percebemos que esse método de uma etapa é impossível. Se extraímos assim, partes essenciais da planta ficam no resíduo e sua quantidade depende do solvente. Se destilamos, obtemos apenas as partes voláteis, e todos os minerais são perdidos nesse processo. Se queimamos a planta, queimamos os óleos e substâncias etéreas típicos junto com os componentes orgânicos e os únicos resíduos são os componentes inorgânicos. Em suma, é impossível obter todos os três princípios ao mesmo tempo. A separação “química” de um princípio leva à destruição ou perda dos outros. Assim, só nos resta uma escolha: primeiro temos que deixar a planta morrer, ou seja, precisamos processá-la de maneira que os três princípios firmemente unidos na planta viva sejam dissociados sem destruição ou perda de nenhum princípio. Este primeiro passo de todos os processos espagíricos os alquimistas chamavam de Putrefatio (putrefação), Digestão, Fermentação etc. Há diferentes nomes para este processo, porque diferentes métodos são aplicados dependendo das substâncias que são a base da dissociação. Somente a putrefação pode dissociar os princípios alquímicos e separar sua polaridade inata de veneno e remédio. Somente a morte da substância possibilita o nascimento da essência pura. Um autor anônimo descreveu esse processo em 1782 da seguinte forma: “A morte é a putrefação, a separação do bem e do mal, do puro do impuro; através disso, o novo corpo e a tintura podem renascer. como uma folha de grama cresce de uma semente, assim também o corpo velho dá à luz o novo corpo através da putrefação.” Kirchweger diz: “Nós, portanto, começamos no portão principal da natureza – na chave e ponto de origem de todo nascimento, destruição e renascimento – sem esta chave não podemos sondar o fundo dos mistérios da Natureza, e esta chave é o ponto focal da arte da dissociação: chama-se putrefação… Portanto, não podemos esperar a verdadeira dissociação sem maceração, digestão ou fermentação … ”

Tendo assim desvendado a substância, temos que separar os princípios uns dos outros. Somente após essa dissociação os procedimentos de separação “químicos” fazem algum sentido, pois os princípios dissociados podem agora ser isolados. Agora podemos obter Sal, Enxofre e Mercúrio sem destruir ou perder nenhum dos outros princípios. Para este fim são utilizados os processos de destilação, calcinação, etc. Mas não basta separar Sal, Enxofre e Mercúrio um do outro. Também temos que purificar cada princípio de acordo com sua polaridade inerente. A purificação é conseguida através do uso de um fogo externo. Porque cada substância pode ser purificada sem destruir sua essência no fogo.” No entanto, a temperatura certa deve ser aplicada, dependendo das propriedades específicas da substância. Exemplo: Os compostos de sal ativamente carregados são os únicos componentes que sendo sais amorfos são mortos e alquimicamente inúteis – por isso foram apropriadamente chamados de ‘caput mortuum’ (cabeça da morte). Se usarmos (relativamente falando) temperaturas muito altas na calcinação de uma planta, obtemos os componentes inorgânicos nas cinzas. Só neste ponto podemos dissolver os sais alquimicamente valiosos do ‘caput mortuum’, mas se quiséssemos fazer uma destilação para obter enxofre e mercúrio nas mesmas altas temperaturas, isso levaria à queima dos resíduos no frasco, inutilizando todo o destilado. Se finalmente separamos e purificamos os princípios, eles devem ser trazidos para uma nova unidade. Isso porque somente a conjunção do três princípios constituem os arcanos, que agora aparecem em uma nova e completa forma (Gestalt) como a potência ativa de cura sem a polaridade do veneno. Assim, o processo espagírico básico prossegue em quatro etapas:


1. A Putrefactio (Putrefação) ou fermentação

2. A Separatio (Separação) dos princípios

3. A Purificatio (Purificação) dos princípios

4. A Cohobatio (Coobação ou conjunção) dos princípios ou o casamento químico, produzindo a essência espagírica


Neste processo quaternário está o segredo da obtenção de preparações espagíricas. Agora podemos ver que  tinturas comuns, extrações, decocções etc., só em parte podem fazer uso dos poderes curativos das plantas. Nessas preparações, os três princípios não são completos, nem purificados, nem combinados em suas propriedades curativas. Também o processo de putrefação – tão essencial à dissociação dos três princípios – está ausente nos procedimentos químicos. Portanto, os ‘quimistas’ nunca podem libertar um princípio sem destruir outros ao mesmo tempo. Em contraste, a preparação espagírica “desbloqueia” completamente a planta, de modo que o caminho é aberto para a obtenção da essência espagírica contendo apenas os princípios purificados.