terça-feira, 9 de maio de 2023

O Sagrado Dragão Iniciático


O presente texto chamava-se, inicialmente, Tradição Draconiana: A Doutrina Secreta de Todas as Eras. Na verdade, foi um dos ordálios que realizei para o Segundo Grau da Pirâmide de Poder. A pedido de nosso O.H.O., o reformulei em alguns aspectos para que pudesse ser publicado em forma de monografia. Ao fazermos isso, acreditamos que estamos contribuindo duplamente: primeiro, dará uma noção para os futuros membros de como deve ser um trabalho de pesquisa para a Ordem. Nesta direção, a O.T.O. Draconiana é uma universidade espiritual através da qual muito aprendemos a partir das nossas próprias pesquisas, o que evita uma busca condicionada e sectária. Descobrimos o prazer de aprender a aprender e de confiar naquilo que fazemos. Segundo, partilharemos nosso trabalho que, certamente, enriquecerá o leitor.

Inicialmente, temos uma visão panorâmica sobre o ontem e o hoje da Tradição Draconiana; evocamos o sagrado dragão e meditamos sobre seu belo simbolismo alquímico e iniciático; analisamos as especificidades do Caminho das Sombras, assinalando sua importância, força e beleza e encerramos o texto com a interessante lenda chinesa do Dragão Alado.

A Tradição Draconiana é uma senda de Luz e de Sombras e esse aparente dualismo gera um espírito de síntese e de completude, fechando os dois caminhos em um único círculo ou, numa linguagem filosófica, identificando o ponto de partida no ponto de chegada. Que pela síntese possamos aprender a despertar o Dragão interior e a sobrevoar pelo círculo na beatitude da realização da Grande Obra em nosso ser.

Antônio Vicente,

Frater Artos Mercurius, 156 ‘.’


ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO DRACONIANA:


O Culto Ofidiano do interior da África foi continuado e desenvolvido no Egito, onde ele alcançou sua apoteose na Tradição Draconiana ou Tifoniana.7

Nosso trabalho, no entanto, é historicamente autêntico; a rediscoberta da Tradição Sumeriana.8

As pesquisas de Lyncoln tem, sem dúvida nenhuma, iluminado certas fases de um antigo ciclo mítico intimamente associado à Corrente Tifoniana. Elas revelam um possível relação entre um linhagem histórica: os Merovíngios e a Tradição Tifoniana.9

A Tradição Draconiana é parte de uma corrente de força mágica e de conhecimento oculto que retrocede à Suméria, bem como ao Egito pré-dinástico. Essa poderosa corrente mágica era e é baseada na gnose da Serpente de Fogo. A Serpente de Fogo, a Kundalini ou, ainda, a Corrente Ofidiana, é a base de toda a verdadeira iniciação.

Como dizíamos no 1o paragráfo, a Tradição Draconiana é um substantivo coletivo para designar uma corrente evolutiva que se encontra ativa no planeta há milênios. Normalmente, alguns autores, como Blavatsky, atribuem sua manifestação inicial a Época Lemuriana (cerca de 5 milhões de anos atrás), de lá teria se migrado para o continente de Atlantis. Sabe-se que outras civilizações já teriam edificado formulações do conhecimento, contudo, foi na Atlântida que o conhecimento manifestou-se plenamente. Ainda na esteira de Blavatsky, somos informados de que os Sábios Atlantes, prevendo seu fim iminente, prepararam as terras do Egito (há, aproximadamente, 12 mil anos a.C.) para herdar as tradições de que eram portadores. É a partir daí que a tradição adquire sua temporalidade e “mudou-se” para a África. O conhecimento era mantido em rigoroso segredo e estava reservado à família reinante e às suas relações imediatas. Posteriormente, à medida que a nação egípcia se desenvolveu, este conhecimento tomou corpo, sob a forma de Colégios Sagrados, levando o Egito a tornar-se o centro da Tradição Primordial, com ramos em todos os países civilizados da época e mantendo relações com os demais centros que os sábios atlantes haviam criado nas outras partes do mundo, o que explica as extraordinárias semelhanças entre as antigas civilizações. A tradição que viera da Atlântida para o Egito e que se expandiu para os outros países, tinha seu centro em Heliópolis.

Pelas citações em epígrafe, percebemos que existe um fio condutor desta Tradição desde a Antigüidade até nossos dias. Segundo Kenneth Grant, no terceiro Capítulo de Culto das Sombras, intitulado O Culto Draconiano no Antigo Khem, somos informados que a Tradição Draconiana provém de uma época muito remota e que pode ser rastreada tanto em aspectos históricos quanto mitológicos. Sua maior evidência pode ser encontrada no período pré-dinástico ou pré-monumental. Como o passar do tempo, ela passou a ser perseguida e combatida devido a divergências conceituais e pragmáticas. A Tradição Draconiana defendia o culto ao Princípio Feminino e as Tradições emergentes se voltaram para a adoração ao Princípio Masculino. Mesmo perdendo boa parte de seu terreno, a chama da Tradição Draconiana não se apagou, mas refugiou-se no silêncio e sobreviveu de forma não-pública. Assim, ecos desta Tradição ainda puderam ser encontrados, ainda que velados, disfarçados e até mesmo distorcidos até a XXVI Dinastia do Antigo Egito.

As primeiras evidências históricas do surgimento da Tradição Draconiana, no Antigo Egito, podem ser encontradas quando Ta-Urt, Tifon para os gregos, a Grande Serpente, era tida como a Mãe de Seth, o Deus mais antigo das terras egípcias. Ta-Urt era a encarnação das Forças Primordiais que exaltavam a criação do Universo com seus mundos e planetas. Em algumas regiões do Egito pré-dinástico, principalmente nas regiões ao sul, a Deusa Ta-Urt era a representação da Grande Mãe Estelar sob a forma de um hipopótamo grávido, simbolizando um Dragão das Águas. Para os Draconianos, era a Mãe das Revoluções que foi identificada, ao norte, com a constelação da Grande Ursa. Seth, seu Filho, era considerado o Deus do Sul, cuja estrela que o representava era conhecida como Sírius (ou Sothis, em grego). Seth, uma divindade do Sidhe (o Outro Mundo), após longas corrupções teve sua identidade adulterada e foi identificado como um deus do mal, arqui-inimigo do deus Sol – Hórus. Neste particular, cabe esclarecer que Tifon (forma grega para Ta-Urt) é o aspecto feminino de Seth. Algumas vezes, é considerada como a mãe de Seth em seu aspecto de Deusa das Sete Estrelas, da qual Seth é a Oitava. Por sua etimologia, Seth significa “negro”, o que o associa com o mundo oculto ou sombrio – o Amenta dos egípcios. Seth, sendo um deus celeste, “caiu” do horizonte e passou a ser considerado um Deus do Inferno, da Terra Oculta. Em Thelema, este Deus é de suprema importância, pois, além de representar o espírito criativo primordial, comporta também à fórmula da magia sexual, conforme veremos mais adiante.

A Tradição Draconiana nunca deixou de existir. Na verdade, é um processo de eterno vir a ser que poderá ser resgatado a qualquer momento por aqueles que vibram em consonância com sua frequência. Nessa direção, essa Antiga Tradição percorreu os séculos. Na Idade Média, por exemplo, ela dá sinais de sua continuidade através da Bruxaria Sabática. Apesar de serem consideradas héreticas, na verdade, as verdadeiras bruxas da Idade Média tornaram-se repositórias de símbolos de uma tradição pré-cristã. Sobre isso, nos fala Grant em seu Culto das Sombras:

Foi sugerido por algumas autoridades que as bruxas originais surgiram de uma raça de origem mongol da qual os lapões são os sobreviventes atuais. Isto pode ou não ser verdade, mas estes “mongóis” não eram humanos. Eles eram sobreviventes degenerados de uma fase pré-humana da história do nosso planeta, geralmente – embora erradamente – classificados como atlanteanos. As características que os distinguia de outros da sua raça era a habilidade de projetar a consciência em formas animais e o poder que possuíam de materializar formas-pensamento. Os bestiários de todas as raças da terra estão entulhados com os resultados das suas feitiçarias.

Os símbolos principais do culto original sobreviveram à passagem do tempo e foram eles, sem dúvidas, herdados das Tradições Draconianas do Egito pré-dinástico, como o capítulo 3 de O Renascer da Magia nos informa. Todos eles sugerem o Caminho Invertido, isto é, o Caminho das Ressurgências Atávicas. O Sabbath sagrado a Sevekh ou Sebt, o número 07, a lua, o gato, o chacal, a hiena, o porco, a serpente negra, a dança de costas anti-horária, o beijo anal, o número 13, a bruxa montada em um cabo de vassoura, o morcego, o sapo e a Rã (sagrado à Deusa Hécate) foram símbolos comuns às bruxas medievais mas que originalmente caracterizavam a Tradição Draconiana. Infelizmente, esses símbolos foram desviados de seu significado e função inicial por pseudo-bruxas (e a Wicca atual é uma degeneração ainda maior). Assim, os Mistérios foram profanados (mas não perdidos) e os ritos sagrados condenados como anti-cristãos.

Nos tempos modernos, a Tradição do Dragão renasce principalmente pelo esforço do grande mago Aleister Crowley e ao impulso renovador que lhe foi dado por seu continuador natural, o senhor Grant. Como se pode constatar, a Tradição Draconiana é uma fonte poderosa e que se desvela para aqueles que a buscam e que são capazes de com ela se sintonizar.

Com o advento do Novo Aeon (1904 – recepção de Liber AL), Aleister Crowley tornou-se um instrumento para que a Antiga Tradição Draconiana ressurgisse e junto com ela a adoração a Seth-Tifon em oposição à Trindade Osiriana. A grande diferença entre essas adorações é de gênero: Seth-Tifon representam o Princípio da Maternidade (a Virgem Mãe e seu Filho), ao passo que o Culto Osiriano dá enfase ao Princípio da Paternidade. Encontramos, n’O Livro da Lei, um grande depositário dos Mistérios Draconianos que Nele estão velados e as fórmulas para que a Grande Obra ocorra, a fusão do eu com o tu, o retorno ao estado hominal ou o Nada.

No contexto desta ressurgência, O Livro da Lei deve ser visto como uma poderosa transmissão Draconiana e uma nova adoração e reconhecimento do Princípio Feminino. Na literatura Thelêmica, sabemos que esse Princípio Feminino é chamado de Nuit, o Círculo Infinito. Entretanto, diferentemente dos tempos aúreos da Tradição Draconiana no Antigo Egito, o Princípio Masculino também será reconhecido. Ele é o Ponto Onipresente, conhecido como Hadit. Nota-se que esse equilíbrio de polaridades evitará preferencialismos e conflitos desnecessários. Parece que, finalmente, a balança de Maät esteja em equilíbrio. Doravante, a balança maatiana do fogo criativo deve se combinar harmoniosamente com as qualidades femininas da delicadeza, sintonizado com sua intuição e receptividade.

Crowley esforçou-se para publicar suas descobertas e compreensões iniciáticas em uma forma moderna. Isso criou muito caos, pois perturbava e assustava as pessoas que estavam adormecidas pelas crenças e superstições do Velho Aeon. Ele foi “satanizado” e perseguido durante toda a sua vida e isto porque falava para o eu verdadeiro do indíviduo, adotando uma linguagem iniciática. Indubitavelmente, seu discurso era inquietante para os que não estavam preparados. É interessante notar que o S.A.G. (Sagrado Anjo Guardião) dele era Shaitan-Aiwass, uma forma de Seth como iniciador. Seth é o Senhor da Iniciação e Saturno é o planeta do karma. A iniciação ocorre pela destruição dos bloqueios indesejáveis ao nosso progresso. O caos causado pela demolição de tais bloqueios é parte essencial do processo para que nossa Verdadeira Vontade possa ser realizada sem restrições.

Como vimos, a trajetória da Tradição Draconiana pode ser traçada historicamente. Mas o mais importante é ressaltá-la como um caminho mágico e que se sustenta, sobretudo, pela forma parampara. Significa dizer que houve e há intercâmbios extra e intraterrestres que iluminaram e iluminam a consciência humana ao longe de diferentes estágios. Essas reverberações, quando devidamente canalizadas, atuam como uma fonte criativa e poderosa de vibrações que, ocultamente, influenciam as religiões e o desenvolvimento científico da humanidade. Assim, a Tradição Draconiana pode assumir formas distintas de expressão. No entanto, seu espírito visionário permanece intacto e se perpetua.

Antes de encerrarmos este tópico, cabe fazer uma ressalva para os termos Draconianos e Tifonianos que, às vezes, são considerados sinônimos mas que, do ponto de vista estritamente histórico, comportam diferenciações. Sobre isso Fernando Liguori nos informa no Informativo Sothis, número 2:10

A Tradição Tifoniana foi o Culto Draconiano “sistematizado” no Antigo Egito. Quando o Culto Draconiano saiu da África Primal, ele atingiu sua apoteose nas Dinastias pré-monumentais do Antigo Egito, se tornando, ali, a Tradição Tifoniana. Entretanto, o Culto Draconiano é o substrato primevo de todas as grandes religiões fálicas e seus traços mais marcantes são encontrados no Vodu, no Tantra Hindu, no sistema Kahuna e nos Cultos Xamânicos Sul-Americanos e Asiáticos.

A partir desta colocação, percebemos que a Tradição Draconiana é anterior à Tradição Tifoniana, poderíamos até mesmo falar de uma Tradição Draco-Tifoniana, pois percebemos em uma, a continuidade natural da outra, a exemplo de uma nascente que corre, passa pelo rio e deságua no oceano. Mas, por preferencialismo, usaremos somente o termo Draconiano que é mais abrangente.


A METÁFORA DO DRAGÃO:


Sou metal – raio, relâmpago e trovão. Sou metal, eu sou o ouro em seu brasão. Sou metal: me sabe o sopro do dragão.11

No horóscopo chinês, o Dragão é considerado como sendo o melhor signo daquele zodíaco. É dito que os que nascem sob o signo do Dragão são enérgicos, entusiastas, tenazes, intuitivos, inteligentes, perfeccionistas, perspicazes, influentes, generosos, cativantes, independentes e a sorte está do lado deles. É, aliás, na Tradição Chinesa e em sua antiga lenda do Dragão Alado (veja apêndice) que a mais elevada concepção a respeito do Adepto é encontrada.

Na verdade, a Tradição do Dragão e o seu extenso simbolismo tem ecos em todos os recantos do mundo, tanto nas civilizações mais adiantadas e naquelas mais rudimentares. A origem de sua lenda perdeu-se no tempo e não podemos precisar sua origem. Os dragões eram considerados, por toda a Antiguidade, símbolo da Imortalidade, Sabedoria, Eternidade e Conhecimento Oculto. No Egito, na Babilônia e na Índia, os hierofantes denominavam-se de “Filhos do Dragão” ou de “Filhos da Serpente”. Este simbolismo também aparece na Caldéia, no México e entre os sacerdotes Assírios e Druidas, dentre outros. No caso específico dos Druidas, sabemos que é uma constante nesta tradição e eles consideravam a serpente e/ou o dragão símbolos de seus mais altos mistérios e ensinos. Nos textos celtas, se nos referirmos à arqueologia da Serpente Gaulesa, vem a lembraça a Cocatrix, a fabulosa serpente colocada a serviço do rei Artur na Guerra. As relações entre Merlin e Artur são cheias de fabulosos dragões. Também se encontra referência ao dragão nos Mabinogios. A lenda de Lhud e de Lhevelys nos mostra que o dragão do país estava em luta com o dragão estrangeiro.

Mas por que os adeptos escolheriam esse ser como representação de si mesmos?

Como vimos antes, o dragão é uma entidade mitológica que existiu em todas as eras e culturas. Pode também ser comparado à serpente alada. Do ponto de vista histórico, a serpente é símbolo da terra e do submundo. A águia (e pássaros em geral) são símbolos celestes. O dragão une perfeitamente esses dois princípios (Céu – Terra) que também pode ser traduzido pelo grande axioma: O que está em cima é como o que está em baixo. Na China, o dragão representa o Tao, aquilo que está além das palavras e das polaridades (Yin e Yang), mas é a força por trás de tudo o que existe. Simboliza o desconhecido, a energia oculta presente na natureza e no ser humano. O termo dragão vem do grego dragon que significa “ver”. Um ‘dragão’ deve ter um olhar claro que saiba ver as coisas sob um novo ângulo e perspectiva, procurando enxergar o que as coisas são de fato e não sua mera aparência exterior. Devido à sua capacidade de ver além dos véus de maya, ele é tido como símbolo de poder e sabedoria nas lendas. Sua sabedoria é simbolizada pelos tesouros que guarda. No filme Coração de Dragão, vemos o dragão guardar toda sua sabedoria e poder no interior de uma caverna. Lá é seu habitat natural. Para encontrarmos a sabedoria e conhecimento do dragão, um Draconiano precisa mergulhar em sua própria caverna, isto é, em seu próprio ser. No Yoga, o dragão é chamado de Serpente de Fogo, a Kundalini, a força oculta no interior do ser.

Considerando a natureza de um dragão, percebemos que ele unifica, em si mesmo, todos os Elementos ou Princípios: pode voar (Ar), cospe fogo (Fogo), habita em cavernas (Terra) e é capaz de nadar (Água). Assim, um dragão que habita uma caverna e guarda seu ouro, pode ser visto como uma metáfora para seu papel de guardião e senhor da energias elementais. Tanto o dragão, quanto à serpente, são seres cuja pele é totalmente renovada de tempos em tempos, indicando a capacidade de renovação, renascimento e regeneração do adepto.

A magia sexual também se encontra no símbolo do dragão, uma vez que seus chifres são considerados afrodisíacos quando se tornam pó e também é capaz de curar todos os venenos. E por que será nos mitos as virgens eram oferecidas em sacrifício aos dragões?

No Egito, o animal compatível com o dragão era o crocodilo, uma espécie de dragão egípcio. Ele era um símbolo dual, representando céu e terra, Sol e Lua e tornou-se sagrado a Osíris e Ísis, em função de sua natureza anfíbia. Os egípcios representavam o Sol em uma barca que era transportada por um crocodilo, insinuando o movimento do Sol no espaço.

Com a degeneração dos mistérios, o que era alegórico tornou-se fatual. O nome serpente ou dragão designava aqueles que eram os Sábios, os Iniciados de todas as épocas. Com o passar do tempo e a perda cada vez mais crescente do verdadeiro significado dos mistérios, o símbolo do dragão virou alvo de especulações. O dragão passou a ser representado astronômica, concreta e abstratamente. Ele se tornou o Dragão Polar e a Cruz do Sul, a Alfa Draconis da Pirâmide. Tornou-se, ainda, o temido Dragão Budista que poderia engolir o Sol durante um eclipse.

É curioso o fato dos dragões e das serpentes da antiguidade terem 7 cabeças. Isso representa os 7 princípios que perpassam o homem e a natureza. O sete que se relaciona com os ciclos da vida e com a ideia do tempo. Pelas ideias que o número 7 comporta, podemos entender porque os antigos iniciados eram chamados de “dragões” ou “serpentes” nas dinastias egípcias.

Em síntese, o dragão é símbolo da Força Primordial que o Draconiano pode e deve despertar através da iniciação para que possa realmente manifestar o divino. Aliás, a Iniciação Draconiana visa, primordialmente, tornar essa Poderosa Força inconsciente em conhecimento e poder conscientes. Acima de tudo, o Draconiano vê o Dragão como a face de Tudo Aquilo Que É, desde a mais densa até a mais sutil das energias: todas são facetas do Dragão que evolui e emerge em Si mesmo.


ESPECIFIDADES DRACONIANAS:


O que a diferencia a O.T.O. Draconiana de outros caminhos iniciáticos:

A Tradição Draconiana postula que há níveis diferentes de realidade, insuspeitados pelos profanos e que o adepto pode explorar. Essa exploração se dá através da iniciação cuja meta é desvelar o oculto que está por detrás da aparência de cada fenômeno. Pelas técnicas iniciáticas penetramos no lado oculto das religiões e dos mitos e obtemos o conhecimento sobre as verdades neles veladas. Os Ordálios dos dois primeiros graus tem essa finalidade. A partir deste conhecimento, o adepto aprende como controlar o mecanismo da existência e pode influenciá-lo de acordo com sua vontade. O Draconiano aprende a contornar as limitações da existência e a superar as reações condicionadas nele pela cultura, família e sociedade, usando sua liberdade e vontade para poder criar sua realidade.

A O.T.O. Draconiana é única: apresenta um sistema a ser percorrido com técnicas específicas que levam o postulante do trabalho com o lado luminoso ao trabalho com as forças caóticas e obscuras. Devido a essa peculiaridade, esse caminho não é bem visto pelas outras vertentes do Ocultismo e, frequentemente, é alvo de interpretações equivocadas e difamações. Sumariamente, é possível estabelecer a existência de três níveis de conhecimento: o científico (mundano); o esotérico das escolas da mão direita (Tradição das Luzes) e o esotérico das escolas da mão esquerda (Tradição das Sombras). A Tradição das Sombras é mais rara, uma vez que conduz ao reino do caos e poucos são aqueles que estão aptos ou dispostos a trilhar tal via. É uma vertente severa, forte, rigorosa, mas que pode conduzir à beleza e ao poder. Enquanto as Tradições das Luzes levam o iniciado a se fundir com um Deus particular, o Caminho das Sombras levam o adepto ao encontro da grande Tiamat e dos deuses primais que existem muito antes dos deuses da luz terem sido criados.

A Tradição Draconiana promove a Lei de Thelema e se volta também para a exploração das inteligências alienígenas tais como as formas de vida extraterrenas e os demônios e os aspectos negros da metafísica da existência. Do ponto de vista psicológico, o trabalho com o lado negro tem sua razão de ser. Sabemos que usamos apenas uma pequena fração de nossa capacidade. Experienciamos uma ínfima parte da realidade. A maior parte esta oculta a nós. A parte oculta do homem pertence a áreas da psique que não estão desenvolvidas. Mas também podem ser faculdades utilizadas que pertenceram ao homem primitivo e que hoje estão latentes na forma de atavismos. Essas energias latentes podem se atualizar e se tornarem conscientes se com ela entrarmos em contato. Aí então, nós as confrontaremos com as obscuridades e partes reprimidas do nosso ser (agressões, medos, instintos…). A esse respeito, Jung afirma: “a iluminação não é alcançada pela visualização da luz mas pela exploração da escuridão.” É, ainda, no reino oculto da mente humana que iremos encontrarmos os chamados siddhis ou poderes psíquicos.

Nesta direção, a escuridão é a luz do Draconiano e ele examina igualmente os lados luminosos e sombrios das energias em todas as suas diferentes formas de expressão. A meta é a apotheosis (ou união com o divino) sempre somando e não subtraindo; isto é, levando-se em consideração a aparente dualidade própria da criação.

Para percorrer esse caminho uma dedicação focalizada e exclusiva é necessária. Cinco pontos precisam ser observados para nos integrarmos a ela e a experienciarmos em plenitude:


1) Dedicação (comprometimento, imersão com sua vivência Draconiana);

2) Pratica (aplicação dos conhecimentos recebidos);

3) Descondicionar (coragem para ousar e abrir-se a novas possibilidades);

4) Consciência multidimensional (ser capaz de se comunicar com outros níveis de consciência);

5) Realizar em si a Grande Obra Alquímica (unir Shiva e Shakti em seu ser).


A Tradição Draconiana se caracteriza por sua tradição oral, calcada na relação entre orientador e orientando; na utilização da sexualidade sagrada como passaporte para expansão de consciência e contatos interplanetários; advoga uma iniciação espirada, em detrimento das iniciações verticalizadas do aeon anterior, apostando no Silêncio como viabilizador de tal iniciação. A culminância desse processo está na desvelação paulatina dos véus de Isis (phISIS, geneSIS) e na aquisição da Sabedoria.

Não é uma escola uniforme, na qual há um única instrução para todos. Pelo contrário, é um caminho de exclusividade no qual cada estudante é tratado e instruído de acordo com suas próprias necessidades. O que a torna uma via muita especial.

É uma via sem dogmas, uma filosofia de vida, na qual a mulher está em igualdade com o homem. É uma coletânea das práticas mais significativas do Oriente e do Ocidente, fusionadas de forma que permita a seus adeptos desenvolver suas potencialidades e a atingirem, mais completamente, sua missão terrena (o auto-conhecimento). Para tal, possui uma disciplina, um método e um sistema que engloba o físico, o psicológico e o espiritual.

A iniciação não é conduzida cerimonialmente ou dramaticamente como ocorre com outras tradições. Ao contrário, a iniciação deve ocorrer internamente como retorno do investimento de cada praticante. Tal ocorre à medida que o iniciado é capaz de sair do nível de reação das condições e fatos exteriores e passa a governar sua vida de acordo com os ditames de sua Verdadeira Vontade.

A iniciação Draconiana se dá em 11 níveis ou graus, galgados um a um. Na verdade, é uma espiral que vai ampliando suas voltas e elevando-nos cada vez mais alto. Baseada na estrutura da Árvore Sephirótica, o candidato vai se elevando pela frente da Árvore, mas não deixa de sofrer também os impactos de seu lado reverso.

Uma característica muito interessante da Tradição Draconiana é seu caráter experimental. Ela se caracteriza por um espírito investigativo e experimental, objetivando ter um sistema esquematizado e científico de suas praticas. Kenneth Grant, Aleister Crowley, Achad, Fernando Liguori, dentre outros vem contribuindo para o florescimento de uma tradição científica no ocultismo, a partir da coleção, análise e comparação de dados.

Um exemplo deste caráter experimental, por exemplo, pode ser vislumbrado em relação ao Tarot. Desde a primeira publicação do Nightside of Eden, em 1977, tem havido diversas tentativas em se criar um Tarot que retrata o lado sombrio ou uma espécie de Nightside Tarot como sugerido pelo livro. Sabemos que vários grupos ligados à corrente Draconiana têm feito tentativas neste sentido. A meta é revestir o Tarot com um novo simbolismo que seja complementar ao atual, restaurando a gnose primordial em sua forma mais pura e em consonância com a perspectiva Draconiana de unidade pela dualidade. O que faz do Draconiano um não-dualista – ele a reconhece mas não como oposição e sim como complementaridade: nem bom, nem mal, nada é perfeito ou imperfeito, mas todas as coisas estão perfeitas em seu vir a ser, no momento presente para poderem evoluir para seu próximo nível de ser.

A pratica nuclear desta via é a sublimação, entendida como a consagração (tornar sagrado) de todos os desejos. Precisamos ter liberação nos relacionamentos e aprender a olhar para vermos claramente as coisas sem as nossas projeções, expectativas e frustrações. Não é fácil desenvolver essa “mente neutra”. Devemos começar pelo amor personalizado para chegarmos até o amor impessoal, até que o amor concentrado incondicional seja nosso amor personalizado. Assim, os relacionamentos ao invés de serem um “obstáculo ao progresso espiritual” se tornam um caminho de liberação porque eles nos ensinam muito. Esse é um processo automático quando nos encontramos no estado desperto. Nesta esfera da sublimação, a sexualidade e o sexo tem um papel fundamental.

A Corrente Ofidiana (Draconiana) usa a energia sexual para provocar mudanças internas e externas (ou místicas e mágicas). Essa alquimia é o ponto central do sistema Draconiano de iniciação. O objetivo é produzir o Elixir da Vida Eterna (a Pedra Negra ou o Diamante Negro). Curioso o fato de que a palavra Khem signifique negro e era o nome do Antigo Egito. Assim, a Magia Draconiana é uma Magia Negra no sentido de ser uma alquimia. Khem é também o nome do deus da Alquimia. O deus negro Seth é também ligado à Alquimia e à pedra negra. Na tradição grega, Khem foi representado por Pã e Seth por Tifon. Assim, a alquimia Draconiana pode ser traçada até o Antigo Egito, bem como nas tradições hermetistas e gregas cujo objetivo corresponde ao Caminho da Mão Esquerda. Na O.T.O. Draconiana, o processo de transmutação alquímica ocorre passo a passo através do processo de iniciação junto aos Graus da Ordem.

A Tradição Draconina nos ensina que os Mistérios Maiores estão contidos em nosso próprio corpo. Gerald Massey, Aleister Crowley, Austin Spare, Dion Fortune demonstraram, cada um à sua maneira, as bases bio-químicas dos Mistérios. O mesmo foi detectado por Wilhelm Reich em suas pesquisas. Ainda, os ‘símbolos sensientes’ e o ‘alfabeto do desejo’, de Spare, correlatos como são aos marmas do corpo com os princípios sexuais, anteciparam, de muitas maneiras, o trabalho de Reich, que descobriu – entre 1936 e 1939 – o veículo da energia psico-sexual, a qual ele nomeou orgone. A contribuição singular de Reich à psicologia e, incidentalmente, ao ocultismo ocidental, encontra-se no fato de que ele isolou com sucesso a libido e demonstrou a sua existência como energia tangível, biológica. Esta energia, a verdadeira substância dos conceitos puramente hipotéticos de Freud – libido e id – foi mensurada por Reich, tirada da categoria de hipótese e reificada. Entretanto, ele estava equivocado ao supor que o orgone era a energia final. Na verdade, ela é um dos mais importantes kalas, mas não o Kala Supremo (Mahakala), embora possa tornar-se isto pela virtude de um processo que não é desconhecido aos tântricos do Varma Marga. O próprio O Livro da Lei, que é um Tantra moderno, também descreve a utilização sábia das correntes sexuais.

‘O melhor sangue é o da lua’ (AL III: 24); ‘pois ele é sempre um sol e ela uma lua. Mas para ele é a alada serpente e para ela a radiante luz estelar.’ (AL I: 16).

A substância vermelha da mulher é o primeiro menstruum de energia mágica. A fórmula do Novo Aeon (418) é a de Cheth, a Carruagem. É a formula do IR. O homem é branco e a mulher vermelha (Mulher Escarlate). O homem pode obter a iniciação, mas não pode manifestar seu poder sem ela. A fórmula e a função da Mulher Escarlate inicia-se com as zonas ocultas de energia intimamente relacionadas às redes de nervos e plexos associadas com as glândulas endócrinas. A Kundalini afeta os chakras no corpo dela e suas vibrações influenciam a composição química das secreções glandulares.

Tais ‘fragrâncias’ são consumidas pelo Sacerdote e transformadas em energia mágica. Quatorze secreções vaginais são reconhecidas pela ciência ocidental e, supostamente, há mais duas. Esses Kalas só podem ser evocados se os chakras envolvidos tiverem sido devidamente preparados.

‘Eu sou a secreta serpente enrolado a ponto de pular: em meu enrolar existe alegria. Se eu ergo minha cabeça, eu e minha Nuit somos um. Se eu a abaixo e ejaculo veneno, há a raptura da terra, e eu e ela somos um’ (AL II: 26).

Consumir os kalas assim carregados e direcionando as correntes para cima (néctar), transforma a consciência e ela se torna apta a contatar e a comunicar com entidades transcendentais. Se as correntes são direcionadas para baixo (veneno), elas são carregadas com vibrações envenenadas que são utilizadas para trabalhos de materialização e dissolução.

Para a mulher erguer a Kundalini, ela visualiza a Serpente na forma fálica em seu muladhara-chakra e se inflama até o ponto de atingir o orgasmo. Antes do orgasmo, ela deve mover a imagem ao ajna-chakra e manter a imagem até que a consumação ocorra. O homem identifica a Kundalini com Hadit e o centro cerebral com Nuit. A força de Hadit é ativada e sob pela coluna vertebral até o cérebro. Desta maneira, o homem é a Palavra e a Mulher é a Ação. A Criança é a Palavra feita carne pela Ação.

A mente se concentra na Criança que é corpo que sustenta o Ato da Criação Mágica. É a Maquinaria Mágica que cria a imagem. O corpo dá expressão e projeta a para a esfera material. É um caminho de amor. Lida com o crescimento do e no amor, a recepção do amor, fazer amor e criar com amor para unir-se Àquilo que em tudo está presente.

Assim, a postura do Draconiano frente à sexualidade é de sacralidade por saber do imenso poder que ela é portadora e ele mesmo é desprovido de preconceitos quanto a ela e suas formas de expressão. A esse respeito, Gerald Massey, em The Natural Genesis, escreveu:

[…] este é o segredo da esfinge: ela é masculina na frente e feminina atrás. Assim, é a imagem de Set-Tifon, um tipo de chifre e rabo, masculino na frente e feminino atrás. Assim, também eram os faraós que usavam rabos de leão ou vaca, eram masculinos na frente e femininos atrás.

Já Lise Manniche, em seu livro, A Vida Sexual no Antigo Egito, nos fala das inclinações bisexuais de Seth. Assim, percebemos que os antigos Draconianos, assim como os deuses, incluíam a dualidade do ser em suas vidas. O Draconiano se conscientiza que seu corpo e sua vida são o grande laboratório alquímico, principalmente seu corpo é considerado o Templo do Sagrado Espírito.

Um aspecto da Tradição Draconiana é sua Corrente Evolucionária expressa através da forma do Opositor, o Veículo da Perpétua Revolução que vai além dos limites impostos ou estabelecidos, e que são transcendidos pela Verdadeira Vontade. A perspectiva Draconiana é ampliar a consciência humana para além dos limites conhecidos. Somos limitados por uma determinada banda frequêncial. Como Magistas Draconianos, buscamos a ampliação desta banda frequêncial e a expansão da consciência para além daquilo que é previamente considerado como humano. Não se aceita os limites impostos a nós mesmos e lutamos contra o estado de conformidade com eles. Como Tradição dinâmica, o Dragão pode destruir as falsas ideias e perspectivas nos levando a voos mais elevados na expansão da consciência.

A filosofia Draconiana se volta para o panteísmo, no qual a divindade é percebida na natureza, no homem, enfim, em tudo aquilo que existe; em detrimento da visão monosteísta na qual deus é tido como algo a parte de sua criação. Respeita e privilegia a individualidade, não acreditando num modelo pronto e acabado das coisas. Almeja ir além do estabelecido e das limitações impostas ao homem por diversos meios. Apesar disso, essa assertiva não pode ser encarada, como normalmente ocorre, como sendo uma carta branca à licenciosidade e um sim a todos os instintos. É uma perspectiva therioncêntrica, na qual a besta e o divino se unem, procurando a síntese e a compreensão de certos conceitos abstratos em torno do que seja o bem e o mal, o certo e o errado, de uma perspectiva maior, cósmica e não limitada pelas indulgências sociais ou externas. É também uma postura crítica diante de certas intelectualizações que não permitem o ser se expressar livremente. A razão analítica vê as coisas de forma separada, desconectada. Ao invés de ver o todo, se contenta com as partes. Perde-se o paradigma holográfico (o todo está nas partes e vice-versa). Aliado a isso, a sensação de separação das coisas e o materialismo exacerbado conduzem-nos a um hedonismo sem fim, onde somente a satisfação imediata é a lei, e a busca pelo divino, pelo autêntico, por valores que possam elevar não tem mais espaço. O Draconiano sai da consciência grupal, coletiva e busca desenvolver-se integralmente quanto ser humano.

A visão de mundo é cíclica conforme a natureza nos ensina e também o símbolo da serpente que morde a própria cauda, o Ouroboros (ilustrando os ciclos do tempo e da natureza).

O caminho da mão esquerda contesta, com inteligência, a modernidade e o progresso quando não passam pelo crivo da razão e seu custo–benefício não é devidamente considerado. A filosofia Draconiana inclui a luz e as sombras, o masculino e o feminino, ao contrário das filosofias da luz que se baseiam na dualidade de ou luz ou trevas, ou masculino ou feminino. Em resumo, é o caminho da Vontade no qual precisamos descobrir o que é mais atrativo para nós na vida, pois isso nos levará a exploração plena de sua beleza. Ao mesmo tempo, nos dirigimos, como efeito reverso, ao conhecimento cada vez maior da Deusa que nos seduz e nos atraí e que está oculta em toda matéria. Mas devido a seu caráter mutável, veloz e transformador, precisamos estar bem centrados para não sermos levados pelos redemoinhos de Tifon. Equilíbrio é uma palavra chave, bem como a pureza da aspiração que conduz e prepara para o contato com os poderes da consciência. Trabalhando com a alquimia da Vontade e da Ação, a magia do guerreiro e a união da besta com o deus, levando a personalidade a se identificar com a individualidade interna, o “olho do dragão” se abre e se vê com clareza. Desta forma, o adepto é capaz de ir além e de mergulhar no Universo B, de penetrar no Grande Diamante Negro e invocar os espíritos esquecidos, os deuses antigos, os seres da natureza e os ancestrais para reencantar esse mundo com a magia que fora perdida.


APÊNDICE:

A lenda Chinesa do Dragão Alado:


A lenda descreve o Dragão como um animal alado, de grande porte, com o corpo de serpente, todo coberto por escamas, com patas em forma de garras e podendo viver tanto na água, sobre a terra ou no ar. Este Dragão vivia no Rio Amarelo, mas decidiu sair dele e esta saída foi marcada por 06 etapas. Sobre as escamas de seu corpo, estavam desenhados círculos de cores claras e escuras e que, ao longo de seu corpo onduloso, suas escamas eram convertidas em figuras sagradas. Afirma-se que isso foi para o Fo-Hi a revelação dos trigramas do I Ching, imagem perfeita da natureza que se desnuda diante do Sábio, ou Iniciado, quando este se torna merecedor desta desvelação. Podemos inferir que o conhecimento adquirido pelo Fo-Hi, via os trigramas, lhe foi transmitido por um verdadeiro Adepto, representado, simbolicamente, pelo Dragão.

Alegoricamente, as seis etapas da jornada do ser humano até atingir a maestria pessoal ou o domínio da vida são retratadas por esta lenda. Cada fase desta iniciação recebe um nome:

O Dragão Oculto: É o Dragão oculto no fundo do rio. Representa o homem interior oculto na matéria e que ainda não tem o desejo de subir à superfície, de sair de sua condição atual, de evoluir. Há uma preocupação exclusiva de satisfazer apenas os desejos de sua natureza terrena.

O Dragão no Arrozal: Nesta fase, o Dragão saiu das águas. Toma consciência de um outro mundo. Ele está na terra, mas ela é lamacenta e afunda com seu peso. Representa o primeiro despertar da consciência para algo que transcende o mundo físico. Mas é um despertar momentâneo e especulativo, movido pela curiosidade e não tem a força necessária para elevar o Dragão.

O Dragão Visível: Segundo a lenda, nesta etapa o rio transborda, elevando o Dragão até a superfície. O Dragão é arrancado da terra pelas mesmas águas que o tinham preso à terra e ele pode nadar, por um mometo, em sua superfície em vez de deslisar no fundo. Representa a consciência que se faz ciente da existência do mundo espiritual, que sabe que sua existência é necessária e reconhece a Divindade, mas ainda lhe falta a Vontade para elevar-se até Ela.

O Dragão Saltitante: Nesta 4a fase, o Dragão encontra-se em terra firme que lhe permite levantar. Sabe que terá que caminhar, mas não percebeu que é capaz de voar, dá apenas saltos que recaem novamente no mundo material. A luta que mantém é penosa e feliz é aquele que não a renuncia, pois a vitória exige continuidade de esforço. É a fase mais crítica da caminhada, pois surgem duas bifurcações:

A do espírito: após muitas tentativas sem sucesso, o Dragão percebe repentinamente suas asas, abre-as e consegue voar, libertando-se de todas as coisas materiais. O espírito triunfa sobre os apegos, prazeres, esperanças e temores.

A da matéria: cansado de dar saltos, o Dragão não tenta abrir suas asas, desce para a lama, entra na água em que habitava e renuncia ao mundo superior. É o momento da dúvida que, se não for vencida, arrasta o buscador, retirando-lhe a possibilidade de ascensão espiritual. Esta situação recebeu nomes simbólicos no ocultismo ocidental tais como o Terror do Umbral e a Noite Sombria da Alma.

O Dragão Volante: O Dragão encontrou o caminho e é capaz de voar e planar nas alturas celestes. É capaz de transitar entre o divino e o mundano, e vive em harmonia com os ritmos cósmicos. É um verdadeiro iniciado.

O Dragão Planador: É o estágio derradeiro. O iniciado venceu todas as provas e sua missão não é mais no plano físico. Tem plena consciência de que a multiplicidade é apenas aparente, um reflexo da Unidade. Atingiu união completa com a Divindade e vive o nirvana, a Paz Profunda a cada instante.

O Adepto conhece todos os segredos dos Planos Físico e Espiritual podendo viver, sem maiores dificuldades, nos Planos Superiores, Intermediários e Inferiores. Aquele que atingiu tal condição torna-se uno com o Todo e nada no Universo lhe é estranho ou desconhecido. Ele conhece todos os níveis e estados de consciência e está apto a ajudar a humanidade em quaisquer circunstâncias.

Meditemos sobre essa lenda e nos avaliemos quanto à nossa real e sincera disposição de seguirmos rumo à Grande Obra. Alçar o voo do Dragão requer viparita, a reversão não só dos sentidos mas de mudanças profundas em nossos valores, palavras e atitudes que devem tender para a compreensão, para ideias e ideais nobres e sentimentos sublimes. Que a chama do Dragão brilhe eternamente em nossos “cor-ações”.


Notas:


1. Este texto foi escrito por volta de 2004-5, época de atividades da Ordo Templi Orientis Draconiis ou Ordo Draco-Thelemae, também conhecida como O.T.O. Draconiana.

2. I.e. como mencionado em Magia em Teoria & Prática.

3. Bruxaria & Magia Negra, p. 180.

4. “Eu sou oito, e um em oito”. (AL II: 15).

5. A Estrela-Cão.

6. AL II: 21.

7. Kenneth Grant, Culto das Sombras, Capítulo 3. Tradução Particular de Fernando Liguori.

8. Crowley, Magia em Teoria & Prática, Capítulo 5. Tradução Particular de Fernando Liguori.

9. Kenneth Grant.

10. A Revista Sothis foi uma publicação semestral da O.T.O. Draconiana durante os anos de 2004 a 2007.

11. Renato Russo – Metal contra as nuvens.


Obras Consultadas:


A Doutrina Secreta, Vol III. Helena Blavatsky.

Typhonian Tradition. Simon Hinton e Michael Staley.

Revista Sothis – números: 1 e 2.

Lectures from Gerald Massey. Gerald Massey.

O Renascer da Magia, Aleister Crowley & o Deus Oculto e Culto das Sombras. Kenneth Grant.

O Livro dos Prazeres. Austin Osman Spare.

A Vida Sexual no Antigo Egito. Lise Manniche.

Ordo Dragon Rouge – site: http://www.dragonrouge.net/


Self Satânico


“É um pensamento aterrador que o homem tenha uma sombra a seu lado, composta não só de pequenas debilidades e fobias, mas também de um dinamismo positivamente demoníaco. O individuo raras vezes sabe algo sobre isso; para ele, como individuo, é incrível que, sob certas circunstâncias, ele possa ir para mais além de si mesmo” – Carl Jung

Satan, o Inimigo. O Acusador. O Portador da luz. O Portador do Mal. Quem é esta pessoa que chamamos de Diabo? Possui muitas definições, que vão desde as crenças teológicas até as filosóficas.

Há alguns que pensam em Satan como um ser antropomórfico. Uma besta com chifres comandante das legiões seu Império Infernal, empenhado em desgraçar a humanidade por meio de tentações carnais e materialistas. Outros dizen que Satan é a Força Obscura da Natureza que permeia e motiva toda a nossa realidade. Uma força que é completamente intangível, um mistério total para a ciência. Pessoalmente, não encontro mistério algum no que é esta força, eu simplesmente creio que Satan não é mais do que um componente da psique humana. Um aspecto da mente do qual devemos ter plena conciência, chegar a um acordo, e exercitá-la para assegurarnos desta maneira, uma vida saudavel e produtiva. É mais do que seguro que Satan não é um espírito, a “Força Obscura da Natureza”, não é nem um ente corporal. Satan é uma parte de nossa própria mente e um mecanismo essencial desta. LaVey tem razão quando assegura que “Satan é uma reserva intacta, da qual muito poucos podem tirar proveito pois não têm a capacidade de utilizá-la como ferramenta sem antes fragmentar e classificar cada uma destas partes que a formam”. Veremos estão, o Satan psicológico.

Sigmund Freud delineou, em suas obras, os modelos separados da mente. Seu primeiro modelo, o modelo topográfico, dividía a mente em três partes, ou ‘regiões’ -consciente, pré-consciente e inconsciente dinámico. Seu último esquema também se divide em três, os famosos Ego, Superego e Id. O Superego é uma simples agência de proibições, um censor para cada vez que o Ego busca pressionar o indivíduo e descarregar suas emoções instintivas, ou como chamamos, impulsos. O Ego por sua vez decide, e faz planos para satisfazer nossos desejos. Nesse esquema, o Id é a origem de todos os nossos desejos principais de autopreservação e autoengrandecimento. Neste sentido, ele poderia ser análogo a nossa noção de “Self” ou “Eu”Satánico porém, uma vez mais, este conceito psicológico é incompleto e limitado.

O Self Satânico alcança a seu vislumbramento e é elucidado por Carl Jung, um dos colegas de Freud. Sim, contudo primeiro devemos dar uma mirada em nossa noção de “Ser” (ou “Eu” ou “Self”). Para Jung, o Self faz sua melhor simbolização em uma mandala (círculo). Este símbolo universal representa o equilíbrio e a plenitude que se alcança quando temos plena conciência de nosso Eu Supremo.

Desafortunadamente, tal coisa geralmente é deixada passar, e o indivíduo necessita passar por uma etapa denominada ‘morte psíquica’. Se entrar no estado de Nirvana o indivíduo não terá motivação alguma para viver, uma vez que alcançou a meta máxima de sua vida. O processo progressivo de identificar o Self se denomina ‘Individualização’. No Inconsciente Coletivo ( a parte hereditária da mente onde estão contidos os arquétipos), o Self é o arquétipo máximo e está acompanhado por outros quatro arquétipos: a alma, o animo, a pessoa e a sombra. Por enquanto não nos cabe ver os outros arquétipos, nos limitaremos a examinar o arquétipo conhecido como a “Sombra”.

No modelo mental elaborado por Jung a Sombra representa o ‘inconsciente pessoal’, o lugar onde ficam nossos medos e fobias mais internas. Também, por sua natureza inerente, a Sombra carrega nossa energia emocional, instintiva, biológica, sexual e criativa. Devido a estas características, a Sombra tem sido vista como ‘má’ e renegada para o ‘lado negro’ de nossa personalidade. Algumas pessoas ignoram por completo que possuem esta faceta em si mesmos, e terminam reprimindo-a em sua própria vida.

As pessoas geralmente enxergam a natureza da Sombra ‘nitidamente’ nas ações e personalidades dos outros, e não em sí mesmos. Vêem nos demais coisas como quimeras irreais ou fantasias, e abandono sexual – eles possuem, luxúria, ira e avareza porem se negam a admitir que também os têm e os praticam nas mesmas tendências, impulsos e necessidades em si mesmos. Isto é assim porque e para que se sintam como se não praticassem “mal” algum, crêem que nada disso eles praticam e assim carregam cegamente o título de ‘boa gente’, o “bem” está os privando em uma forma toda autocrítica. A Sombra entretanto não é, sob nenhuma circunstância, um aspecto completamente daninho de nossa mente; e sim como todo o resto possue propriedades tanto benígnas como malignas.

Afortunadamente para nós as propriedades malignas somem por completo quando deixamos de negar nossa Sombra. Em circunstâncias extremas, não reconhecemos que éste arquetipo pode levarnos a situações onde estejamos vulneraveis ao que se denomina ‘mentalidade das massas’ ou ‘histeria coletiva’. (por exemplo, distúrbios, partidos de um jogo de futebol, seguir a multidão) e a propaganda (por exemplo, os meios de comunicação em tempos de guerra, algumas intituições religiosas, etc) Não podemos reconhecer que o que fazem os outros indivíduos, grupos e culturas ‘inimigas’ é provavelmente o mesmo que nós fazemos. Preferimos assim enganarnos e viver em uma ilusão de que é a massa que faz isso e não você. Uma ilusão de que “eles”, e somente “eles” estão equivocados. Isto se conhece com o nome de “infecção coletiva” e creio que o remêdio é uma cura intelectual.

Segundo Jung, se somos conscientes da Sombra, estaremos imunes as infecções morais, virus cognitivos, memes e insinuações. Jung se expressou melhor falando sobre a Sombra quando disse -” O ser conciente a si próprio implica em reconhecer os aspectos obscuros da personalidade como presentes e reais. Este ato é una condição essencial para qualquer tipo de autoconhecimento e, portanto, correga uma resistência consideravel”.

Finalmente, a Sombra é uma visão de nossas deficiências e vantagens subjetivas e raízes primordiais -os instintos e energías que carregam a propagação de toda a forma de vida. É imperativo que se permita que este arquétipo se liberte e se incorpóre em nossa mente consciente para podermos crescer como individuos. Então, as cadeias da hipocresía se soltarão e seremos imunes aos falsos ideais. Esta é a revelação do Self satânico.

Há algumas linhas atrás eu disse que devemos ser conscientes, chegar a um acordo e exercitar esta entidade psicológica. Então isto nos leva a outra pergunta -Depois de nos darmos conta e de termos obtido o conhecimento necessário, de que esta faceta nossa existe, como chegamos a um acordo com ela e como começamos a exercitá-la? Sem um esforço consciente este proceso poderia levar muito tempo e pode ser que não receba a estimulação desejada. Em alguns casos, há pessoas que estão ‘bem sintonizadas’, ou ‘ligadas’ com seu lado negro e vivem sua vida normalmente. Pessoalmente, creio podemos nos sintonizar e falar conscientemente com nosso inconsciente através de símbolos. Isto pode se manifestar através de estímulos apropiados, que podem incluir fantasías, auto-hipnosi, e rituais. Há um documento da Church of Satan, dirigido à “Juventude Satânica”, onde se lê: “Teu demônio guía está em seu interior -não busque fora. Somente tem que reconhecer essa parte de ti mesmo e escutá-la” Nada podría estar mais perto da realidade e resumir minha opnião de melhor maneira.

A carta continua descrevendo uma ritual solitário no qual o participante intenta sintonizar a sí mesmo com esse demônio guía. Diz assim: “Aquí está um ritual muito poderoso que pode fazer esta mesma noite, e tudo o que necesitá é um lugar tranquilo onde possa ficar sozinho, um Baphometem frente de tí, e uma vela negra: Acenda a vela e coloque-a na sua frente. Sente-se direito, respire profundamente e relaxe. Livre tua mente de todo o pensamiento exterior. Fique a observar fixamente a chama , e diga em tua mente ou em voz alta, ‘Estou preparado, Oh Senhor da Escuridão. Sinto tua fuerça em meu interior e desejo que tu entres em minha vida. Rege Satan!’ ” Por acaso não é este o próximo passo, decidir aceitar a força em nossa mente consciente? Certamente, no final deste ritual pessoal a pessoa terá dado um passo para falar com o “Self Satânico. Satan assim representa em todos os nosso rituais satânicos um arquêtipo e não um ser, uma representação de nossa própria sombra interna. Neste simples rito por exemplo há um processo de reconhecimento aliado com a força cognitiva da simbologia de Satan.

O terceiro passo é exercitar o Eu Satânico, pode ocorrer de duas maneiras. A primeira é vivendo através da incorporação completa desta entidade em nossa mente consciente. Para alguns, esta meta é difícil de se alcançar e alguns possuem certa insegurança sobre quando se há alcançado. Crei que quando uma pessoa já atingiu o objetivo ela não necessita perguntar se conseguiu ou não, siga sua intuição. O segundo método se baseia nos rituais. Na câmara ritual, pode-se ignorar interferencias exteriores e converter-se em amo e senhor de seu próprio universo sentir-se melhor sobre certas situações e sobre sí mesmo. Algumas personas decidem não utilizar rituais e deciden viver seu próprio estilo de vida Satânico. Esta é uma decisão completamente pessonal e nenhum método é melho ou mais crivel que outro, sem antes passar primeiro por uma experiência pessonal. E é ‘bom’ ou ‘correto’ somente se funciona para ti.

Conlcluindo, permíta-me reinteirar a importância do Eu Satánico. Durante muito tempo as religiões tem defendido a repreção desta força interna para seu próprio benefício. Fazer isso não só é algo daninho, masoquista e desevolutivo como também causa um estado de depreção objeta, confusão e conflito para a humanidade em nível individual e social. Esta prática de negação e ignorancia do Eu Supremo ensina o ser humano a não confiar em si mesmo, coloca todo o controle nas mãos de forças externas e imaginárias e nas autoridades que estão, supostamente, em contato com elas e mergulha de cabeça na mente na conformação das massas. Será mais um seguidor de multidão que não possui nenhum poder sobre sí mesmo.

Nossas forças residen em nossa própria mente e não em um “Céu” , “Nirvana”, “Infierno”, etc. As coisas mais importantes que alguém pode fazer na vida é dar-se conta disto e tomar as decisões do verdadeiro “Deus”, aquele que reside em teu interior, o deus que é você mesmo. Esta fuorça divina tem muitos aspectos, dessas o Eu Satânico é só uma delas. No campo da Programação Neuro-Lingüística, essas múltiplas personalidades (não confunda com o trastorno que requer tratamento clínico) são consideradas um passo evolutivo no avanço mental coletivo da humanidade. Há muitos componentes em nosso Ser, e ao escutá-los e incorporá-los nos convertemos em nossos verdadeiros Amos.

De fato, ser teu próprio Amo é o primeiro passo para dominar o mundo que te rodeia. Esse é o caminho da Mão Esquerda…


A Prática da Meditação Satânica

O objetivo desse estudo é proporcionar ao satanista uma técnica de meditação que lhe serja própria para o desenvolvimento do processo mental criativo, sua harmonia, equilíbrio em um nível de consciência mais elevado, ou seja, entrar em contato em um nível vibratório de consciência, com a egrégora satânica, formada por participantes à um objetivo em comum, e que possamos tirar proveito de energias absorvidas e acumuladas que não estão limitadas nem ao tempo e espaço. A harmonia que devemos manter relativamente a nós mesmos diz respeito ao nosso corpo, à nossa razão e a nossas emoções. É evidente que, se violamos continuamente as leis naturais que operam em nosso corpo, não podemos manter uma boa saúde.

Devemos então nos esforçar sempre para tratar nosso organismo físico com o maior respeito e não comprometermos por negligência a harmonia que lhe é devida. Uma alimentação mal equilibrada ou excessiva, falta de repouso, insuficiência de exercício, são alguns fatores físicos que perturbam o equilíbrio do nosso corpo. O mesmo princípio se aplica à nossa razão. A razão é uma das mais importantes dentre elas, porque é a partir dos nossos julgamentos que dirigimos nossa vida cotidiana. Quanto mais nos dedicamos a reflexões sadias e úteis, mais fazemos dela o que ela deve ser. isto é, um instrumento destinado a expressar o melhor de nós mesmos. Se a submetemos à influência de coisas fúteis e desnecessárias, cortamos o laço harmônico que deve uni-la aos nossos impulsos.

Procuramos então refletir sempre sobre assuntos dignos de consideração para um satanista. Ler obras interessantes, meditar sobre os grandes problemas da vida pincipalmente no que diz respeito a nossa evolução individual. Essas são algumas atividades típicas que permitem que mantenhamos harmonia em nossa mente. Quanto ao campo das emoções, sabemos que exercitamos nossos sentimentos baseados na ira, no orgulho, luxúria, enfim nos ditos pecados capitais, por conseguinte, nosso equilíbrio físico.

Fora dos extremos mencionados, sentimentos de medo, ansiedade, inquietação, são prejudiciais para a harmonia geral que deve prevalecer em todos os níveis do nosso ser. Cada indivíduo deve portanto fazer todo o possível para vibrar ao ritmo de emoções puras e construtivas. É impossível viver na mais alta deificação enquanto se permanece prisioneiro de reações emocionais discordantes.


Templi Infernalis

O Templi Infernalis, é um local individual criado mentalmente e consagrado por todo satanista para realizar suas operações ou mesmo como refúgio para meditação e preparação para uma realização mágica no plano material.

Esse local deverá ser criado no plano mental com todos os detalhes possíveis e mantê-lo sempre ativo, visitando-o grande parte das noites até que esse local seja de grande facilidade de acesso ao fechar os olhos a qualquer momento do dia ou noite.

Após a criação desse ambiente, Imagine sempre que for acessá-lo. caminhando, chegando até ele, abrindo as portas, visualizando os detalhes da decoração, cores, odores, paisagens sinistras ou belas, etc… faça com que se sinta em seu próprio domínio.

O Templi Infernalis vem a ser também um ótimo lugar consagrado na consciência de cada um, para aqueles que de alguma forma não constitui um local específico, (físico), para suas realizações.


Prática:

Antes de deitar-se, liberte-se de quaisquer incômodos fisiológicos, beba um copo de água e procure usar roupas leves mantendo a temperatura agradável.

Faça alguns exercícios de relaxamento procurando respirar calmamente e ritmicamente.

Mantenha a mente desperta e focada para seu objetivo. Quando estiver entrando naquele estado de sonolência, visualize o seu Templi Infernalis… caminhe até ele, veja a entrada, os detalhes em sua volta… então abra a porta e entre.

Visualize todos os detalhes que criou em mente. A partir desse momento, você já está pronto para executar seu ritual mental da forma como desejar… pode mentalizar nesse ambiente a prática real em uma câmara ritual de constituição física… Procure sempre manter sua mente focada enquanto durar sua estadia no Templi Infernalis.

Após o término de qualquer trabalho, visualize saindo, fechando o local e voltando para sua realidade. Após o retorno, desligue-se de sua concentração e caia em profundo sono.

No dia seguinte, anote suas observações pessoais, procure lembrar de todos os detalhes, visões, emoções, medos, etc…isso servirá como material de análise no seu processo de desenvolvimento mental. Anote tudo em um caderno de sua preferência… não esqueça da data e horário da realização.


A Essência da Bruxaria da “Mão Esquerda”


A essência da Bruxaria da “Mão Skir” no mundo antigo e moderno é contrária a natureza, ou melhor, é “Antinomiana”, uma palavra grega que significa “contrário à lei”. Esta palavra refere-se à rebelião de uma estrutura ou plano espiritual das massas, a maioria e qualquer que seja a corrente ideológica estabelecida que esteja em vigor naquele momento. A feitiçaria, independentemente de seu propósito ou forma, sempre se distinguiu por estar fora de qualquer aceitação convencional dentro da sociedade – seja pela hierarquia religiosa (mesmo quando retém organizações chamadas “igrejas” e obtenção de lucro) ou mesmo governamental. Para proporcionar uma compreensão clara sobre a Bruxaria Luciferiana na qual sou iniciado, devo escrever diretamente desde a experiência e visão que todos os iniciados – antigos, atuais ou incógnitos – trouxeram para o fluxo e como ele se manifesta hoje. Os de natureza Luciferiana não serão mais forçados a condenar a escuridão inerente a nós; a feitiçaria, como o espírito humano ou dæemônico, é de natureza dupla, luz e sombra, bestial e angélica, ad infinitum.

A palavra “Negro”, dentro do contexto aqui escrito, refere-se à natureza oculta da Arte Sinistra, ela representa a profundidade da iniciação que se enraíza em nossas almas e a possibilidade futura de que os impulsos atávicos possam ser explorados como armas poderosas para refinar e fortalecer nossa consciência. A Ordem do Fósforo é uma fraternidade de praticantes de feitiçaria do ponto de vista do Caminho da Mão Esquerda. A palavra “Negro” é descrita por Idries Shah, identificando-a com o som FHM na língua árabe, também pode significar “negro”, “sábio” ou “entendimento”. Shah também menciona que a palavra “negro” mantém uma conexão com a sabedoria oculta, por isso a frase “Dar Tariki, Tariqat”, que significa “Na Escuridão, o Caminho”. A Ordem de Fósforo é símbolo do fogo iluminado desde a argila, da luz emergindo da escuridão. Os magos e bruxas desta Irmandade da “Mão Skir” estão focados não apenas em feitiços baixos, mas também em usar a natureza oculta da escuridão para revelar a Luz dentro de si mesmos. Encontramos aqui o fundamento e a essência de Baphomet, o Pai da Sabedoria. O Deus Sabático é a união da Besta e da Prostituta, Ahriman (Satanás, Samael) e Az (Lilith, Babalon) os quais engendram Caim (pelo círculo de Leviatã, a Serpente das Profundezas). Uma imagem inicial de Caim como Baphomet (de Soror Lilitu Azhdeha) pode ser encontrada em “O Livro de Caim” (Bruxaria Lu-ciferiana) e representa o Senhor Negro do Sabá como uma forma do Adversário.

Uma representação deste caminho pode ser encontrada em minhas publicações, Bruxaria Luciferiana: O Livro da Serpente, que contém os grimórios “O Livro de Caim”, “A Goetia Luciferiana”, “Yatuk Dinoih”, “Nox Umbra”, “Paitisha”, “Azothoz”, “Vox Sabbatum” e muito mais. O infame Livro da Lua da Bruxa também apresentou uma base para os aspectos mais obscuros da feitiçaria e do vampirismo, os quais Aleister Crowley alude no livro “De Arte Magica”. O leitor que tem interesse na procedência do Sabá das Bruxas em consideração à gnose luciferiana referida neste artigo terá material de referência nos títulos mencionados acima, bem como nas obras de Kenneth Grant, que continuou o trabalho de iniciação de Crowley a partir de 1950.


Simbolismo e Compromisso

“O modelo da Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda é um desafio que ultrapassa os limites das limitações sociológicas; este é um tabu sem degradação psicológica e com um fortalecimento auto motivacional através do ato de tornar-se um Deus ou Deusa para descobrir suas fraquezas e forças.” ADAMU – Magia Sexual Proibida.

As definições do Caminho da Mão Esquerda têm sido obscurecidas e, muitas vezes, mal interpretadas. Essencialmente, o Caminho da Mão Esquerda vem a ser, pela percepção universal, a mutação ou transformação da consciência em uma divindade ou divina, isto é feito através do processo da prática de Magia e Feitiçaria para lograr o movimento do corpo e a mente em direção a uma percepção superior. Os Adeptos Negros da Ordem de Fósforo e da Ordem Negra do Dragão são magos que se comprometem com o processo de exercícios mágicos determinados por eles próprios para refinar e expandir a consciência através da atividade física e mental. Isso in-clui, mas não está limitado à, Magia Sexual, prática cerimonial e trabalho solitário de todos os tipos para buscar os resultados iniciais da Magia em si.

Este não é um caminho de oração e súplica, mas de reconhecimento dos poderes inerentes do feiticeiro. As forças da Escuridão são chamadas como meios de expressão pessoal, fortalecimento e deificação.” – Nathaniel Harris, (autor do livro “Witcha – A Book of Cunning” e atual Magister do Red Circle, Inglaterra), excerto da introdução à Bruxaria Luciferiana de Michael W. Ford

A Bruxaria Negra, tal como definida nos grimórios acima mencionados, trata sobre autodeificação e também sobre uma maior expansão da consciência, transformando o mundano em divino, daí o simbolismo antinomiano e Satânico. No entanto, aqui está oculta, cifrada, a essência do caminho Luciferiano, são o compro-misso e a posse dos aspectos inferiores e superiores da identificação demoníaca que fortalecem as formas divinas encontradas nos grimórios negros e proibidos, como Adamu, Liber HVHI e Bruxaria Luciferiana. Não se trata de mero psicodrama e, dentro do círculo dos sábios, o mago não procura um espírito superior fora do seu ser, mas no interior; a coreografia e os instrumentos do ritual não são mais que ferramentas de capacitação pessoal como auxílio no processo de Transformação. A Bruxaria da “Mão Skir” inspirou-se internamente nas linhas familiares de Nathaniel Harris, que significa “Skir” como “mão esquerda” ou “sinistro”.

“O círculo, dentro da Bruxaria Luciferiana, representa o próprio espaço de união do corpo do feiticeiro, do espiritual/celestial e do carnal/infernal. Este é o símbolo do Sol e da Lua, a esfera que engendra força e o foco do Mago.” Adamu – Magia Sexual Proibida, por Michael W. Ford.

As ferramentas rituais dentro da Tradição Negra são tão variadas quanto os próprios feiticeiros. Alguns criam fetiches servidores, familiares demoníacos encarnados, frequentemente, criados e atados a objetos feitos a partir dos restos de animais, sangue ou fluidos sexuais para formar uma sombra visualizada que é importante para o feiticeiro. Alguns criam bonecas e outros usam poucas ou nenhuma ferramenta ou implementos exterio-res. O que continua sendo uma tradição entre esses Adeptos é o compromisso do espírito Luciferiano interno. Esta é a mente do praticante, que foi liberada através de práticas e pensamentos antinomianos, é por esse foco determinado que a Vontade do Adepto Negro foi transformada em um Ser Demoníaco. Dentro da antiga prática persa, Ahriman (Satanás), criou o dæ Akoman (que significa Mente Má), que é a Mente Luciferiana, que procura libertação e independência da mentalidade de massa ou rebanho, para se tornar algo “distinto” pelo caminho proibido ou “Malévolo” da Magia e da Bruxaria. Algumas ferramentas dentro da Arte Sinistra são muitas vezes consideradas como “objetos encantados”, fortalecidos pela prática ritual contínua pelo bruxo ou feiticeiro, que dá ao fetiche uma aparente vida independente, sempre de acordo com sua Vontade.

Alguns instrumentos rituais são: o Kangling Tibetano; uma trombeta feita do fêmur de um enforcado, uma faca ritual conhecida como Athame; de acordo com Idries Shah, “adhdhame”, sendo “quilha”, usado na prática ritual do Sabá para enfocar a Vontade ou projetar a Mente para a direção determinada do ritual Mágico, a lâmina, representando a Mente Luciferiana do mago, o cálice de crânio; feito a partir do topo de um crânio humano, se converte uma taça para a prática cerimonial ou solitária. Nenhuma dessas ferramentas rituais é ne-cessária para a consecução, que depende unicamente dos meios e predileção do feiticeiro.

As formas divinas mantêm um poder específico dentro dos cultos de bruxaria, a medida que são fortalecidas pelos próprios praticantes. Os Deuses e Deusas não existiriam de forma tangível se a humanidade não os capacitasse, subconscientemente ou conscientemente, portanto, quando o Adepto se converte, a forma divina se converte. A energia Deífica é uma fonte que não se baseia apenas no sangue do praticante, mas também nos recessos atávicos ou primordiais da mente humana. Essa energia ou poder Deífico pode ser trazida à carne e à mente consciente do praticante, desse modo, o indivíduo encontra o conhecimento empreendido por correntes mais antigas, tais como a Golden Dawn, oa Maskhara das tribos árabes e asiáticas, o Zos Kia Cultus de Austin Osman Spare, etc. Existem inúmeros rituais explorados pelos praticantes do Sabá Luciferiano dentro da Ordem de Fósforo e da Ordem Negra do Dragão que usam métodos antigos de licantropia e o “desprendimento da carne”, para mudar o aspecto no sonho um uma forma Teriônica para sair das convulsões eróticas do Sabá Infernal

O Deus da Bruxaria Luciferiana é Seth-an ou Set (o mesmo que Samael, Satã). Este é o Príncipe Egípcio das Trevas, um Senhor do Caos e do poder feiticeiro. Set não deve ser considerado apenas um Deus em um sentido antropomórfico, mas uma força deífica que é a própria essência do nosso ser. Quando Azazel ou Lúcifer entregou a Caim a Chama Negra da Consciência, este foi um presente de Set para a humanidade. Ao trabalhar nos círculos de Arte Luciferiana, você está cumprindo sua antiga herança. Embora alguns escolham fugas menos perigosas do que esta; a realidade da bruxaria como uma gnose luciferiana não pode ser negada. O Grande Trabalho em referência a Set é que o mago busca a divindade, que é consciência, individualidade e poder pessoal. Ao acreditar em si mesmo em vez de algo “superior” para você (o único ser Angélico [k] ou Demoníaco é VOCÊ, o Anjo Luciferino ou o Sagrado Anjo Guardião), você se se torna seu modelo.

Dentro da Tradição Negra, a Trindade Luciferiana de Samael-Lilith-Caim, tem importância no modelo da prática dentro do culto. Esta trindade é um processo alquímico de transformação no qual o mago se alinha e usa as associações de Samael-Lilith-Caim para transformar sua consciência na essência divina que é Baphomet, a cabeça do Conhecimento. Para descrever Samael, segue pequeno excerto de Liber HVHI, um trabalho ritual que define a prática mais profunda e mais obscura do Caminho da Mão Esquerda em termos de Bruxaria.

“Porque o Diabo é chamado Diabolus, isto é, que flui para baixo: aquele que cresceu com orgulho, determinado a reinar nos lugares elevados, caiu para as partes inferiores, como a torrente de uma corrente violenta.” – The Fourth Book of Occult Philosophy, de Heinrich Cornelius Agrippa

É descrito na Bíblia que Samael/Satã caiu abruptamente do céu como um raio, Aquele que antes da queda, era um Serafim em torno do trono de Deus. Após a sua queda, ele era um senhor da morte, o próprio veneno de Deus, no entanto, ele também era um Dador de Vida, sendo o pai entre os anjos caídos e as mulhe-res. Em escritos judaicos posteriores, Samael é associado ao nome de Malkira, que Morris Jastrow Jr. associou a Malik-Ra, sendo “o Anjo Maligno” e com o nome de Matanbuchus, sendo uma forma de Angro-Mainyush ou Ahriman. Aqui o círculo se completa e a natureza do Primeiro Anjo é percebida ou sentida. Em um trabalho ritual contínuo, o mago começa a se identificar com Samael (e Lilith) dentro dos parâmetros de sua própria vida e iniciação.

“O Senhor da Terra, sendo um nome atribuído a Samael (Satã) e seus anjos caídos e demônios, não são considerados mais que espíritos astrais, que já não tomam formas físicas, mas podem se manifestar através do mago ou bruxo que pode fazer com eles um “pacto”, sendo uma iniciação e dedicação ao Caminho da Mão Esquerda. Samael é o espírito condutor/líder do Caminho da Mão Esquerda, pois sua Palavra é o que formou nosso pensamento e nos deu o fogo interno da Chama Negra, nosso processo individual de pensamento e livre arbítrio. Os magos que alinharam sua vontade com a Via Sestra, de Samael (o Diabo), receberam poderes sobre a terra de uma maneira ou de outra; ao mesmo tempo em que fortaleceram, definiram e expandiram sua consciência. No capítulo 7 do Êxodo, os magos foram capazes de produzir rãs e serpentes pelo poder que obtiveram no Diabo, portanto, tais criaturas são formas astrais de Ahriman (Samael) e o corpo em estado onírico dos bruxos e feiticeiros”. Liber HVHI

Aqui podemos ver que Samael ou Satã/Shaitan, não é o aspecto devorador de tudo, mas também é o salvador da humanidade e o semeador original da semente da luz em nosso ser. Através de Caim, sua linhagem sobreviveu e continuou na espiritualidade até o presente.

Lilith, como a Noiva do Diabo, é uma parte do Adversário, sendo o lado obscuro instintivo do homem e da mulher, o feminino, o horrível e amando a todos dentro do mesmo alento. Lilith é conhecida pela palavra semítica “Layil”, que significa “Noite”, mas também é o nome do demônio da tempestade. Lilith está associada com a coruja e outras bestas da natureza, pois é seu refúgio depois que deixou o céu para percorrer a Terra. Ela é considerada um dos Três Demônios Assírios, sendo Ardat Lilit, Lilith e Lilu, mas esses podem ser apenas variações de seu nome. Alguns acadêmicos hebraicos sugerem que Lilith foi adorada pelos judeus exilados da Babilônia como uma deusa do deserto.

Lilith, como descrito na literatura pós-bíblica, é vista como a Rainha dos Demônios, ela foi às cavernas perto do Mar Vermelho e copulou os anjos caídos para engendrar demônios, ela também ensinou esses anjos como formar corpos e ter relações sexuais para dar vida a outros “filhos dragão” (segundo o maniqueísmo – Az). Dizia-se que ela havia se encontrado com seu par, Samael (Ahriman), depois da queda, quando ele não podia ser despertado por seus companheiros caídos e demônios; somente as palavras de Az (Lilith) poderiam fazê-lo. Ele então beijou sua forma e causou a menstruação, a qual foi transmitida a todas as mulheres, pois Lilith está diretamente ligada a seus lados ardentes e obscuros.

Como descrito anteriormente, a Deusa da Bruxaria Luciferiana é Lilith ou Babalon. Ela também é Héca-te, a Obscura Deusa Lunar do Círculo Artificioso, cuja benção é a juventude, a imaginação e a morte ao mesmo tempo. O Filho está dentro de você e esse é Caim, o Dæmon Baphomético cuja magia(k) é a essência fundamen-tal da religião da feitiçaria. O próprio rito de projetar o círculo, como descrito por Gerald Gardner, apresenta a Mãe da Bruxaria: “Mãe, Obscura e Divina, Meu é o Açoite e Meu o Beijo, a Estrela de Cinco Pontas de Amor e Êxtase”. Dentro do círculo está o Graal do Adversário, através do amor próprio, a essência do pentagrama pode ser sentida e compreendida. Ele se refere a Hécate ou Lilith (através de Diana) como a “Senhora Negra do Inferno, a Rainha do Céu”. Esta é a natureza dual do Diabo e sua Noiva, ou Adversário; que pelos ritos do Sabá, sejam preenchidos os cálices do Céu (o Aethyr, o Sabá Luciferiano) e o Inferno (o Infernal, o Sabá Ctónico).De acordo com alguns relatos, Caim foi o filho nascido de Samael (o Diabo) e Lilith (através de Eva); o primeiro Satanista e Bruxo.

“É dito nas tradições obscuras que a Bíblia está equivocada sobre o verdadeiro parentesco de Caim. Caim era de fato um filho bastardo meio humano e meio demônio de Adão e Lilith. Foi por esta razão que o Senhor se recusou a aceitar suas ofertas e orações, nem qualquer demanda específica de sacrifício de animais. A história continua com Caim sendo amaldiço-ado para vagar pela terra como um vagabundo, cultivando a terra que nunca dará recompensa.” – Nathaniel J. Harris, em “The Mark of Cain, the First Satanist and First Murder.”

Em determinada fonte rabínica, as filhas de Caim se uniram sexualmente com os Anjos Caídos, os Vi-gilantes, e deram à luz os Nephilim, os Gigantes belígeros e brutais. Dizia-se que eles povoaram a terra em abun-dância e atacaram os filhos de Seth. Na tradição maniqueísta, a Rainha dos Demônios e a iniciadora espiritual de Caim, Lilith-Az, ensinou aos Anjos Caídos como formar corpos físicos e se uniu com outros sexualmente. Também é sugerido por escritores como Kaufmann Kohler, W.H. Bennett e Louis Ginzberg que os Filhos de Caim passaram seus dias ao pé de uma montanha (o Éden?) em orgias selvagens à música de Lúcifer criada através de Tubal. As mulheres, as primeiras Pairikas ou Fadas/Bruxas, em suas aparências belas, convidaram os filhos de Seth (filhos de Deus) e copularam com eles, dando à luz outras crianças. O folclore judaico apresenta as primeiras formas do Sabá das Bruxas como uma celebração Luciferiana e prática de magia sexual.

“Para Philo, da mesma forma, Caim é a classe de avareza, de “insensatez e impiedade” (‘De Cherubim’, xx.) e de amor próprio (‘De Sacrificiis Abelis et Caini’; ‘Quod Deterius Potiori Insidiari Soleat,’ 10). “Ele construiu uma cidade” (Gen. iv. 17) significa que “ele construiu um sistema doutrinário de anarquia, insolência e indulgência imoderada no prazer” (“De Posteritate”, 15); e os filósofos epicuristas são da escola de Caim, “alegando ter Caim como mestre e guia, que recomendou a adoração de poderes sensuais em preferência aos poderes do alto e que praticou sua doutrina destruindo Abel, o expositor da doutrina oposta” (ib. 11).” – The Jewish Encyclopedia, compilado por Kaufmann Kohler, W. H. Bennett, Louis Ginzberg.

Podemos perceber assim que Caim é, portanto, uma personificação de carne e sangue do Caminho Luciferiano, ele é o Filho de Satã e Lilith, a essência obscura que se conecta profundamente com Eva, a esposa de Adão. Caim não é apenas o guia pai das Bruxas, ele também é o símbolo do iniciado no caminho antinômico.Nathaniel Harris, um Bruxo Hereditário britânico, possuidor de um longo envolvimento em vários círculos mágicos e autor de grimórios, não só dentro da Tradição Negra, mas também no caminho tradicional de Witcha, é corajoso o suficiente para apresentar ideias de nossa linhagem espiritual encontrada nas mentes em um estado onírico dos Irmãos e Irmãs Artificiosos. A Marca simbólica da iniciação, que Aleister Crowley chamou a Marca da Besta do Apocalipse no Livro de Thoth, levou a diferentes interpretações de sua forma, mas a própria função em si é clara.

“Essa marca ou estigma pode ter sido uma referência a algum tipo de tatuagem. A história pode referir-se originalmente à tribo nômade dos Kenitas, ourives itinerantes que acreditavam ser descendentes de Caim, também relacionados aos Medianitas e Israelitas que viajaram pelo deserto árabe por volta dos séculos XIII e IX a.c. Eles vingavam a morte de qualquer membro da tribo com severidade. Posteriormente, nos tempos da perseguição à bruxaria, tal marca foi associada às marcas conferidas aos iniciados do culto. Historicamente, Caim é reconhecido como um iniciador em várias sociedades heréticas, incluindo a antiga Fraternidade dos Homens Sapo” – Nathaniel J. Harris, Witcha, A Book of Cunning (Mandrake de Oxford)

Esta marca é representada como um Glifo do Compromisso Antinomiano, do ser despertado para o Caminho do Diabo e de sua Noiva, para se transformar através do Espírito Dæmônico inerente ao nosso sangue. Este processo dinâmico foi representado nos grimórios do livro Bruxaria Luciferiana de várias maneiras; no “Yatuk Dinoih”, apresentei um sistema coerente com Trabalhos Cainitas baseados no espírito isolado que é personificado na Carne do iniciado, representado também em “Paitisha”, o “Rito de Zohak” e outros trabalhos do grimório. O espírito de Baphomet ou da Cabra Sabática, o Deus dos Bruxos, é revelado, portanto, como o próprio Caim, o Deus Bestial que se despojou da carne para descobrir a cabeça do Dæmon do Deus-Bruxo Teriomórfico.

Uma vez que se tenha iniciado o processo de separação, a ignorância cai como argila queimada nas chamas enegrecidas, o espírito se eleva para dançar em formas retorcidas no sentido anti-horário, o corpo juntamente com a sombra e a luz copulam com a Música(k) de Tubal Caim e o Círculo do Sabá está completo.


Fundamentos da Bruxaria da Mão-Skir

As propostas dos fundamentos da feitiçaria provêm das primeiras lendas, memórias e mitologia da hu-manidade. Caim, que vagou no leste para a Terra de Nod, tornou-se, de acordo com a “verdade do círculo”, o primeiro Satanista e Bruxo, cujos filhos geraram outros e a linhagem da Arte nasceu. Sugere-se em algumas tradições judaicas que as filhas de Caim foram aquelas que seduziram ou copularam com os anjos caídos, os Vigilantes. É com os Vigilantes que os aspectos desequilibrados da magia Angélica e Satânica são encontrados – estão nas profundezas atávicas, onde esta linhagem de sangue está profundamente enraizada em nossa psique, juntamente com as Serpentes e atavismos Teriônicos dentro da nossa carne. Em “O Livro de Enoque”, traduzido do etíope por R.H. Charles, no capítulo 69, encontramos os nomes, e neles, a essência dos Anjos Luciferianos, que são a própria fonte da arte da magia. Os Vigilantes mencionados que desceram de volta à terra foram: Samya-za, Artaqifa, Armen, Kokabel, Turael, Rumyal, Dánjal, Neqael, Baraqel, Armaros, Batarjal, Busasejal, Hananel, Turel, Simapesiel, Tumael, Turel, Rumael e Azazel. Estes são alguns dos nomes dos Chefes dos Vigilantes que encarnaram. Jeqon levou os outros à terra para cobiçar as filhas de Caim. Foi dito que Asbeel deu conselhos do-entios aos Filhos de Deus, sendo os Vigilantes, que eles deveriam sair e copular com as filhas de Caim. Gadreel ensinou aos homens, mulheres e crianças os golpes da morte e a criação de armaduras e armas. Penemue ensinou aos sábios a arte da tinta e da escrita, bem como o amargo e o doce, o bom e o ruim. Este é o espírito que deu artifício ao Livro da Arte, que engendrou ao Demônio e ao Anjo, das formas Teriônicas das Trevas fez carne, a arte da licantropia. Kasdeja ensinou aos homens a arte de trabalhar com demônios e espíritos, além de abortos e a arte secreta da Serpente de Meio Dia, Tabaet. O espírito angélico Kasbeel foi o portador do Juramento; quando ele estava no céu, seu nome era conhecido como Biqa.

Procuro enfatizar as ideias ecléticas da Bruxaria da Mão-Skir dentro do Círculo que todos podem trazer de sua imaginação para o arcano do Espírito Luciferiano, seja na escuridão ou na luz. A medida em que a rea-lização da experiência iniciática é conhecida pelo indivíduo, o sentimento de vazio deixa de existir em relação à identificação e comprometimento no coração do Bruxo; se conhece e se crê de acordo com a predileção do Adepto. Os trabalhos rituais encontrados no grimório Bruxaria Luciferiana e em outros trabalhos meus apresen-tam meios reais para manifestar espíritos Infernais e Luciferianos, sombras atávicas que o feiticeiro pode infundir em seu próprio arcano prático. Pode-se tomar como referência as bases do grimório “A Goetia Luciferiana”, é alinhado ao Caminho da Mão Esquerda e aos 72 Espíritos da Goetia, embora sejam os rituais que preparam o mago para convocar e lidar com tais espíritos. A Invocação do Santo Anjo Guardião, Azal’ucel, assim como a Invocação do Adversário, preparam o estado mental do mago; ao invés de adotar um dogma cristão, o espírito dæmônico é iluminado internamente através de uma prática determinada e focada. Essas coisas também podem ser consideradas no compromisso necessário para este caminho e o círculo da Bruxaria Luciferiana, mesmo dentro das obras da luz, o feiticeiro está se tornando a Chama Negra de Azazel (de forma sigilizada, entoada no mantra, Azal’ucel). Este é, obviamente, um sério ponto de introspecção que o indivíduo precisa atingir antes de prosseguir; um nível de habilidade que se sente ao invés de ser aprendido. Compreende-se então como a Corren-te Iniciática dos Vigilantes, o Chamado do Sangue Feiticeiro de Nosso Pai, o Diabo por Caim e Tubal Caim, o Iniciador e sua Mãe Lilith-Az sobrevive. Aqueles do caminho Yatu – ou Feiticeiro de Ahriman dentro do Círculo de evocação ritual, conhecido como Azothoz, fazem com que as sombras Terial-Atavisas emergam da escuridão da carne. Azothoz na tradição do círculo, representa o Alfa e Omega, sendo o Início e o Fim, que também é a corrente primária da serpente ou Az – Azhi Dahaka, o Dragão Rei da tradição da feiticeira persa. Os indivíduos ligados ao Yatu (ou Caminho Feiticeiro de Ahriman) fazem com que as forças Teriônicas-Atávicas emerjam da obscuridade da carne dentro do Círculo de evocação ritual, também conhecido como Azothoz. Por sua vez, na tradição do círculo, Azothoz representa o Alfa e o Ômega, o Início e o Fim, que também é a corrente primária da Serpente ou Az-Azhi Dahaka, o Dragão Rei da tradição persa de feitiçaria.

A Grande Obra, como pode ser vista no modelo do Sabá das Bruxas, revela-se uma jornada desafiadora e obscura em que o iniciado bebe avida e profundamente o Sangue envenenado de Seth-an no Cálice feito com um crânio humano, o iniciado ingere a Carne de Abel, cujo sangue é oferecido ao seu próprio Anjo-Demônio, a própria essência e representação da Grande Obra em si. O Sabá como uma dupla participação do sonho e o ritual cerimonial/solitário é representado como encarnação do desejo e da crença, na qual o arcano de Caim é revelado ao iniciado, onde não há diferença entre a Grande Meretriz, Lilith-Az e Samael como o Adversário, todos são ‘um’ através da expansão e deificação do Mago. Em suma, o feiticeiro se torna um receptáculo e expressão de Ahriman e de sua Noiva, o Círculo de Lúcifer se completa e a projeção traz Caim; portanto, o iniciado é o primeiro do Sangue dos Bruxos e a Gnose da Sombra e da Luz da Mão-Skir.

Os fundamentos da gnose da Bruxaria Luciferiana se encontram no círculo, o próprio lugar de convocação onde os nomes das forças Deíficas Infernais estão traçados, desde Azazel ou Ahriman no antigo cruciforme persa, aos sigilos luciferianos medievais que anunciam a encarnação do poder satânico, nossa herança e linhagem espiritual. Este artigo tem como meta iluminar aqueles que condenariam isso na primeira oportunidade sem considerar seu significado mais profundo; mas é preciso saber que aqueles que seguem esse caminho serão considerados amaldiçoados e serão condenados pela sociedade. Uma vez que você anda pelo caminho da iniciação, o Sangue do Diabo estará nas suas veias, sua sombra será a dança obscura do Dæmon e do Angel, de Caim e Lilith.

O ritual do Sabá dentro da Ordem de Fósforo é aquele que ecoa os conceitos e ideais antigos que descrevem o rito. Alguns procuram deixar a carne na noite e sair em espírito para o círculo, outros acham a prática cerimonial mais atraente, enquanto outros praticam solitários e sua imaginação abre as portas para o encontro infernal e celestial. Na obra “Ecstasies: Deciphering the Witches Sabbat”, de Carlo Ginzburg, descreve-se um rito em que os atributos mencionados têm ressonância não só com a prática atual, mas também com as práticas antigas: “… o diabo apareceu-lhes na forma de um animal preto – às vezes um urso, às vezes um carneiro. Depois de ter renunciado a Deus, fé, batismo e a Igreja”. Continua a descrever os horríveis ritos de maldição. Outra seção menciona feiticeiros que usam a pele dos lobos para operações licantrópicas. Este é um processo de ressurgimento atávico e ainda é praticado hoje, embora dentro da afirmação do Diabo seja uma associação mais profunda à auto deificação e ao reconhecimento da mente consciente; a licantropia praticada é a convocação atávica da Besta/Therion – as sombras dentro do corpo e da mente.

Em suma, a Bruxaria da Mão-Skir pode ser vista como uma prática racional e de fortalecimento; essa dedicação exige mais do que curiosidade, e os resultados e benefícios serão conhecidos por aqueles que estão dispostos a se dedicar instintivamente a si mesmos. A corrente da Bruxaria Luciferiana é uma gnose poderosa e multicultural; fala para aqueles que podem ouvi-la e eleva aqueles que se atrevem a praticá-la.


Leitura adicional recomendada:


FORD, Michael W.. Book of the Witch Moon: Chaos, Vampiric & Luciferian Sorcery. Spring: Succubus Pu-blishing, 2006.

FORD, Michael W.. Liber HVHI: Magick of the Adversary. Spring: Succubus Publishing, 2007.

FORD, Michael W.. Luciferian Witchcraft: Book of the Serpent. Spring: Succubus Publishing, 2009.

GARDNER, Gerald E.. The Gardnerian Book of Shadows. [S. I.]: Forgotten Books, 2008.

GINZBURG, Carlo. Ecstasies: Deciphering the Witches’ Sabbath. Chicago: University Of Chicago Press, 2004.

HARRIS, Nathaniel. Liber Satangelica. Oxford: [S.I.], 2004.

HARRIS, Nathaniel. Witcha: A Book of Cunning. Oxford: Mandrake, 2004.

SHAH, Idries. Los Sufis. New York: Isf Publishing, 2018.

SHAH, Idries. The Secret Lore of Magic. New York: Rider & Co, 1990.