terça-feira, 27 de agosto de 2024

A O.T.O. no Brasil


Desde seu nascimento em 1995 até sua maioridade, os detalhes da história da O.T.O. no Brasil perpassam a vida de diversos personagens da história de Thelema, bem como seus conflitos, esperanças e trabalho.


Até então, pouco foi escrito sobre os detalhes da história da Ordo Templi Orientis desde a sua chegada e estabelecimento no Brasil. Rumores, versões estritamente pessoais, ausência de dados precisos e às vezes até manipulação de fatos têm até agora sido responsáveis por uma desinformação que nubla parte do trabalho realizado pela Ordem, impedindo-o de vir devidamente às claras. Com esse texto, que é uma versão resumida, da história da O.T.O. no Brasil, pretendemos pôr luz em pontos que foram tornados obscuros.


Fazer História é reviver e entender os passos da jornada de escolhas que nos fizeram ser o que somos. Momentos difíceis foram ultrapassados, percalços nos combaliram e vitórias aliviaram o suor do trabalho. Após 17 anos de atividade, ainda existe muita fantasia sobre a O.T.O. e mesmo sobre a história de Thelema e dos personagens que a fizeram ativa e que a mantêm assim no Brasil. Somos parte dessa história, e portanto entendemos ser nosso dever contribuir com a porção da verdade que temos ao nosso alcance. Esperamos que o presente e futuro se beneficiem disto.


Esperamos também que a utilidade pública de todas essas experiências possa ser usufruída por todos com a intenção de realizar um trabalho sério.


Que todos façam uma boa viagem.


Prólogo: a Sociedade Novo Aeon

Em meados de 1993, a Sociedade Novo Aeon (SNA) de Frater Aster (também conhecido como Thor) operava no Rio de Janeiro. Alguns nomes se conheceram graças a esse grupo e ali trabalharam juntos, como Soror Babalon (na época com o mote de Hathor, e eventualmente Shaitara, Legião e O. Naob) e Frater Sorath (nesta altura com o mote de P.A.N., e eventualmente também Baphomet). Naquela altura, estavam em atividade dois grupos da SNA no Rio de Janeiro: o pioneiro, a Loja Therion, sob liderança de Sorath, e a Loja Thelema, mais jovem, sob liderança de Q.V.I.F. (também conhecido pelo mote Sekhem). A Loja Therion, apesar de ativa há mais tempo, ministrando instruções teóricas, só dispunha de cerca de cinco membros, motivo pelo qual Sorath decidiu encerrá-la. Restou o grupo Thelema, que estava sob a liderança de Q.V.I.F., ao qual se integraram os remanescentes do grupo que havia sido fechado.


Em complemento às instruções da SNA, Soror Babalon, Sorath e outros como Wo-Loki e também a ex-esposa de Q.V.I.F., Soror Lilith, resolveram se encontrar para estudar antes das reuniões da SNA. Na ocasião, Q.V.I.F. interpretou tais reuniões como a criação de um grupo dissidente que supostamente rivalizaria com os trabalhos da Loja Thelema. Ele se encaminhou para a cidade de Paraíba do Sul, RJ, onde então residia Aster, e o pressionou para que expulsasse os “dissidentes”. A resposta de Aster foi enfaticamente contrária, uma vez que ele encarou como positiva a iniciativa de estudantes se encontrarem e debaterem. Disso resultou, naquela altura, o rompimento de relações entre Q.V.I.F. e Aster.


A Loja Thelema, a partir desse momento, não pertenceria mais à Sociedade Novo Aeon. A crise culminaria num episódio em que Soror Babalon, Sorath, Wo-Loki e Lilith, avisados por Aster do que tinha acontecido apenas quando já estavam a caminho de uma das reuniões da Loja Thelema, foram proibidos de entrar na sala do grupo e impedidos de pegar robes e materiais pessoais seus que lá estavam.


Tais desentendimentos coroavam o estado de contínua estagnação que era o trabalho da SNA. Com mais esquematizações de projetos do que prática, apenas poucas instruções teóricas eram ministradas e, principalmente, nenhuma estrutura iniciática era oferecida. Essas lacunas levaram esse grupo – integrado por Soror Babalon, Frater Sorath e Frater Aster – a uma crescente frustração com a organização do movimento Thelêmico no Brasil. O próprio Aster, fundador da SNA, confessava a desorganização em voga e considerava que o trabalho não ia bem: tanto o grupo brasileiro que ele nomeava de Astrum Argentum (A∴A∴) como a SNA, que apresentava-se eventualmente como sendo “O.T.O.”, baseavam-se mais em contatos informais, mudanças de planos e projetos vagos do que num trabalho impessoal e sistemático. Nesse contexto, Frater Aster forneceu a Soror Babalon e Sorath o endereço de contato com a O.T.O. e os dois começaram os planejamentos para trazer a Ordo Templi Orientis para o Brasil, na esperança de estabelecer uma estrutura iniciática sólida.


Vale reparar que, em nosso país, muito foi dito a respeito da O.T.O., principalmente por Marcelo Ramos Motta, mas na maioria das vezes também se fez uma grande confusão sobre a representação da Ordem, confusão que não raro se estendeu também sobre suas associações com a A∴A∴ Infelizmente, essa desinformação permitiu que grupos se formassem usando o nome da O.T.O. e que pessoas que nunca fizeram parte da Ordem se apresentassem como iniciados dela, com versões pessoais do que seria o seu trabalho, mesmo nunca tendo qualquer tipo de experiência ou conhecimento sobre o real trabalho da O.T.O, nem mesmo autorização para usar o nome da Ordem ou para atuar como seus representantes. O próprio Motta, embora assinasse como membro da Ordem e tivesse até mesmo formado a “Society Ordo Templi Orientis”, nunca foi iniciado na O.T.O.: sua relação na verdade era com Karl Germer, que era Frater Superior da O.T.O., mas cuja associação com Motta dizia respeito unicamente a A∴A∴


Nenhum esforço efetivo para trazer a Ordem para o Brasil havia sido realizado com sucesso até então, havendo, portanto, apenas grupos esparsos que assumiam o nome O.T.O. como uma roupa do estilo de trabalho que melhor lhes convinha realizar. A O.T.O., oficialmente, nunca esteve presente no Brasil antes de 1995 e.v.


A esse grupo original veio a se unir Iskuros Australis que, sem saber da ruptura com a Sociedade Novo Aeon, tinha pretendido se unir à Loja Thelema, mas, insatisfeito com o ambiente de convívio e com o valor de taxas financeiras cobradas pelo grupo de Q.V.I.F., procurou conselho em correspondência com Frater Sorath, na altura seu instrutor no grupo que Frater Aster considerava como sendo a A∴A∴ Esse contato pôs todos em reunião e Iskuros se integrou ao movimento que trabalhava para trazer a Ordo Templi Orientis. As comunicações preliminares e negociações seriam então feitas com a O.T.O. para que um grupo de Iniciação fosse enviado para o Brasil.


Gestação: primeiras iniciações

Em 8 de dezembro de 1995, uma comitiva de três membros da O.T.O. embarcou para o Brasil. Eram eles Frater Sharash, Frater S. e Frater A.S.B., hoje conhecido como L.M.D. A comitiva ficou hospedada na casa de Soror Babalon e Sorath, na Tijuca, onde se estabeleceram para conhecer tanto os novos Thelemitas que os convocaram, como também a cidade do Rio de Janeiro.


Frater Sharash, em artigo para o site da Loja Scarlet Woman, no Texas, descreve a seguinte experiência:


Eu nunca recebi um nível tão grande de hospitalidade em nenhum lugar como a que esses irmãos e irmãs providenciaram para nós. As iniciações foram trabalho pesado, mas compensaram mil vezes mais que qualquer quantidade de suor que possamos ter derramado nelas.


No dia 14 de dezembro de 1995 seriam feitas as primeiras Iniciações ao Grau de Minerval, e no dia 16 de dezembro seriam feitas as do Grau I. No dia 17, seriam ainda ministrados os primeiros Batismos e Confirmações da Ecclesia Gnostica Catholica (E.G.C.). Para tudo isso, um apartamento no bairro de Laranjeiras foi alugado. Frater Aster, no entanto, não iniciara com os demais. Na verdade, durante o jantar de reunião, onde apresentariam Frater Aster à comitiva dos EUA, ele começou a se sentir mal. Soror Babalon, sendo médica, identificou sintomas de um infarto e então o levaram para a emergência de um hospital.


Mesmo combalido, mal tendo deixado o CTI, Aster insistiu para ser iniciado ao menos no Grau de Minerval. No mesmo dia em que o grupo de iniciação embarcaria de volta para os EUA, Frater Aster foi iniciado em sua própria casa, no Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro.


No entanto, logo após o Ritual, ele se dirigiu a Frater L.M.D. e lhe pediu o IX Grau, no qual está o Segredo Central da Ordem. Segundo Aster, Marcelo Motta já teria lhe “explicado” o Segredo. Seria, na sua mente, apenas uma questão de confirmação oficial. L.M.D. explicou não funcionar assim: possuir o texto de algumas instruções deste grau não torna a pessoa iniciada nele, isto é, não a torna verdadeiramente conhecedora e praticante do Segredo. Aster, apesar do seu renome na história de Thelema no Brasil, deveria trabalhar nos graus da O.T.O. apropriadamente e provar sucesso neles desde o começo.


Era o começo do fim de uma mentalidade instituída há muito tempo no Brasil de que graus representam exclusivamente patentes formais. Desde Motta – e Frater Aster deu continuidade a este legado –, distribuía-se e revogava-se “cartas patente” com graus, inclusive supostamente o IX, não raro apresentado como um elegante pergaminho. Assim, com a mesma facilidade que se obtinha o “grau IX”, também o “perdiam”, retirado quando o “iniciado” desagradava politicamente àquele que lhe havia conferido o grau, como se a Iniciação estivesse contida num papel. Marcelo Motta, inclusive, procedeu dessa maneira com Frater Aster.


Insatisfeito em ter seu pedido recusado, Aster não entrou mais em contato com a O.T.O. e sequer compareceu aos trabalhos do primeiro Corpo Local no Brasil. Em outubro de 1996, ele pediu desligamento oficial da Ordem. Apesar disso, sua relação com Soror Babalon e Frater Sorath continuou amistosa.


Estava, assim, formado o primeiro grupo da O.T.O. em terras brasileiras, mas suspenso numa espécie de vácuo: de um lado, a mentalidade brasileira do trabalho, cheia de esperança e empolgação, mas ao mesmo tempo pueril, cheia de vícios históricos e ignorante da dureza que é o estabelecimento e continuidade de um projeto. Além disso, nenhum deles sabia exatamente o que de fato era a Ordo Templi Orientis, lhes sendo, até então, uma Ordem de sonhos vagos. Assim, os passos seguintes da O.T.O. no Brasil foram tropeços como de uma criança.


Infância: liderança & conflitos

Para requisitar às lideranças internacionais da Ordem o nascimento de um Corpo Local, era necessário que estabelecessem entre si os cargos administrativos que cada um iria desempenhar. Em conversa entre os membros brasileiros, foi decidido que Iskuros Australis, por ser quem melhor dominava o inglês, deveria ser Mestre do Corpo Local, considerando a necessidade de contato constante com as lideranças internacionais. Soror Babalon originalmente ficou com a Secretaria e Sorath com a Tesouraria. Pouco depois, ficaria ela com a Tesouraria e ele, com a Secretaria. As lideranças internacionais acataram com a distribuição de tarefas.


Em 16 de maio de 1996 foi estabelecido o Acampamento Sol no Sul na cidade do Rio de Janeiro. As correspondências dessa época com o exterior são termômetro de um espírito grato, febril e sonhador. Estava no rol de e-mails e faxes trocados agradecimentos ao grupo de Iniciação, relatos de experiências mágickas e aconselhamentos. As lideranças internacionais estiveram em contato estreito.


O ano parecia promissor. O grupo aumentaria: novas Iniciações seriam realizadas por Frater S., que um ano depois retornara ao Brasil. Em 23 de novembro de 1996 foi formado mais um Corpo Local da O.T.O. no país, na cidade de São Paulo: o Acampamento Therion, liderado por Piarus.


O amor inicial, no entanto, seria posto à prova. O primeiro desacordo surgiu ainda com a presença da equipe de Iniciação no Brasil, quando, discutindo sobre as estratégias de atuação da O.T.O. no Brasil, Iskuros Australis defendeu a ideia de que o recém-formado grupo deveria trabalhar entre eles, fechado, sem iniciar novos membros, enquanto Soror Babalon e Sorath defenderam que não havia sentido em trazer a Ordem para o Brasil se não fosse para difundir a Lei e mantê-la aberta aos interessados. No começo do ano de 1997, esse tema ainda estava sendo discutido. Mais tarde, Iskuros Australis acabou reconsiderando sua posição.


Mesmo assim, estava preparado um terreno para um choque de personalidades que, infelizmente, não ficaria restrito ao campo administrativo. A tensão crescia – principalmente entre Sorath e Iskuros Australis – misturada aos preparativos do Acampamento Sol no Sul. Soror Babalon e Sorath cobraram o início das atividades do Acampamento, bem como o aluguel de um local – que alguns membros do Acampamento se dispuseram a pagar – para sediar práticas de ritualística e Magick, mas Iskuros, como Mestre, demorou quase oito meses após a autorização do funcionamento do Corpo Local para reunir o grupo. Além disso, não sediou nenhum local como Templo. No começo, recuava quando a tendência era assumir um trabalho mais visível.


Tais desavenças de propostas para o trabalho fizeram Soror Babalon e Sorath deixarem seus cargos administrativos em janeiro de 1997. Nesta altura, ficaram Iskuros Australis como Mestre do Acampamento, sua namorada, Soror Sirinxe, como Secretária, e Frater Sabak, seu amigo de infância, como Tesoureiro.


Em abril de 1997, Sorath e Soror Babalon deixaram o Acampamento, entendendo-o como um ambiente de trabalho hostil. O choque com Iskuros Australis apenas cresceria.


Em São Paulo, no Acampamento Therion, ocorriam desavenças paralelas, mas similares. Soror Nefertite, Secretária daquele Acampamento, foi colocada em bad report (advertência por má conduta) por se opor à ingerência de Iskuros Australis, líder apenas do Rio de Janeiro, nos assuntos de São Paulo.


No dia 27 de julho de 1997, num dos picos desta crise, Soror Babalon cogitou se desligar da Ordem. Sua decisão, quando comunicada, alarmou os líderes internacionais – assim como seus Iniciadores – e uma atenção menos espectadora e mais intensa da O.T.O. se voltou ao Brasil, fazendo Soror Babalon reconsiderar sua posição. Somando isso à continuidade da briga pública entre Sorath e Iskuros Australis, o resultado foi a vinda ao Brasil, em novembro deste ano, de Frater Orpheus como Grande Inquisidor Geral da O.T.O: um auditor designado a apurar e resolver um problema interno da Ordem, quando as partes envolvidas já não parecem poder resolver por si só. Acompanhando-o, vieram também Frater S., Frater Sharash e Soror Loa.


Uma das possibilidades de solução ao conflito é que o trabalho da O.T.O. no Brasil fosse dissolvido.  A princípio, Iskuros Australis e Sorath não queriam, nem diante disso, dialogar. A emergência e a insistência de Soror Babalon fez com que as partes discutissem e se reconciliassem – mesmo que longe de resolver todos os problemas acumulados. Tentaram, assim, estabelecer uma trégua. O Inquisidor ouviu a versão e críticas de todos eles, mas a consideração final foi a de que estavam dispostos a continuar o trabalho. A O.T.O. no Brasil continuaria operante.


Nesta altura, com a presença dos Irmãos de fora, também foi realizada a primeira Missa Gnóstica oficial no Brasil. Desde o começo, a E.G.C. esteve adormecida devido à ideia errônea do oficialato brasileiro de que Missas Gnósticas não poderiam ser celebradas. De fato, Missas oficiais da E.G.C. demandam a presença de um Sacerdote ou Sacerdotisa ordenados, o que exige, no mínimo, o grau de Cavaleiro do Leste e do Oeste da O.T.O. No entanto, Missas de treino podem – e devem – ser realizadas por oficiais em treinamento, dada sua importância como ritual central da O.T.O.


Na primeira Missa oficial realizada no Brasil, o Sacerdote e Sacerdotisa responsáveis por ela foram Frater Orpheus e Soror Loa, hoje Representante do Frater Superior (FSR) para a Alemanha. Iskuros Australis atuou como Diácono em treinamento, Soror Babalon e Frater Sorath como Crianças. Retornando às atividades no Acampamento Sol no Sul, Soror Babalon assumiu a liderança dos trabalhos da E.G.C por recomendação de Frater Orpheus, que assumiu como Bispo para o Brasil. Posteriormente, Soror Helena, veio a assumir esse posto.


Mesmo nessa altura, o número de iniciações realizadas no Brasil era promissor: no mundo inteiro, éramos o país que mais iniciava novos membros.


O período de tréguas, no entanto, seria encerrado por uma grave turbulência na vida pessoal do Mestre do Corpo Local. A má gestão de conflitos familiares, que diziam respeito exclusivamente à vida privada dele e de um Irmão da O.T.O., acabaram culminando na suspensão deste Irmão por Iskuros Australis. Mais uma vez, embora com gravidade inédita até então, os bastidores de problemas pessoais rapidamente contaminaram o que deveria ser um espaço de trabalho impessoal, submetendo a Ordem a uma torrente de complicações que só deviam dizer respeito a ela no campo da irmandade, e não no administrativo. Tal situação chegou a paralisar todos os trabalhos do Acampamento. Não fossem alguns membros do Sol no Sul, as consequências teriam sido muito piores na vida pessoal dos envolvidos.


A liderança do modo que estava se tornou insustentável. Iskuros Australis, aceitando por fim a sugestão das lideranças internacionais, decidiu se afastar do cargo e recomendou Soror Babalon para substituí-lo como Mestre do Corpo Local. Apesar dos choques de outrora, Iskuros Australis recorreu a ela nos momentos de crise. No dia 7 de novembro de 1998, ela assumiu a maestria do Corpo Local, que na mesma ocasião deixou de ser Acampamento para se tornar Oásis Sol no Sul, dando mais um passo em seu processo de maturidade.


Disso se seguiria um gradual período de transição no norte do trabalho do Corpo Local. Para começar, Missas Gnósticas passariam a ser realizadas com regularidade e as instruções sobre Thelema e Magick ganhariam densidade e cunho prático.


Apesar disso, também se prenunciava o último espasmo das crises passadas. Mesmo antes de assumir como Mestre do Corpo Local, Soror Babalon avisara Iskuros Australis que ela teria de reintegrar o Irmão que fora suspenso por ele, uma vez que aqueles problemas não diziam respeito à Ordem. Mesmo mantendo, na altura, a recomendação de Soror Babalon para próxima líder, Iskuros Australis também assumiu que ela estaria trabalhando pessoalmente contra ele.


Nesta época, Soror Babalon também foi nomeada como Representante do Frater Superior (FSR) para o Brasil, com autoridade para planejar o trabalho nacional.


Somando-se a isto, durante uma Iniciação a ser realizada em São Paulo, as lideranças internacionais definiram que seria Soror Babalon, e não Iskuros, a liderar o rito. Insatisfeito, ele pediu desligamento da Ordem. Foi prontamente atendido.


Os membros da O.T.O. no Brasil só viriam a enxergar a totalidade do que estava acontecendo algum tempo depois: Soror Babalon havia sido encarregada de realizar novas Iniciações em São Paulo e, ao término do ritual, o próprio grupo do Acampamento Therion pressionou Frater Piarus, Mestre do Corpo Local, para revelar a ela o que vinha ocorrendo: já há algum tempo, Piarus estava trabalhando nos bastidores com Iskuros Australis para “retirar” aquele Acampamento da O.T.O. e colocá-lo sob a autoridade da “O.T.O. Foundation”, uma dissidência da O.T.O. sediada na Inglaterra. De fato, já há algum tempo, em reuniões de Corpo Local, Piarus dizia que o Acampamento Therion já não estaria mais ligado à O.T.O .


Deste enredo, acabou-se resultando também o desligamento de Piarus da Ordo Templi Orientis.


Quase simultaneamente ao término do Acampamento Therion, em 1999, já nasceria o Acampamento Laylah, na cidade de São Paulo.


Essa transição foi um período tumultuado por discussões e brigas, muitas vezes levadas a público na Internet, acerca do recente passado mal resolvido. Soror Babalon chegou a receber e-mails e telefonemas ameaçadores. Temendo que a conduta de ex-membros expusesse a O.T.O. em listas públicas, a orientação passada foi, então, de que ninguém da Ordem se manifestasse ou respondesse mais a qualquer ataque. Essa abordagem, além de decente, revelou-se eficaz.


No Rio de Janeiro, o então Oásis Sol no Sul estabelecera seu primeiro Templo numa casa alugada no bairro da Tijuca, próxima ao Maracanã. Nessa época, o Templo chegou a ser arrombado, seu material ritualístico foi roubado e suas paredes foram pichadas. Seguiu-se, a partir disso, um período de reestruturação.


No Rio de Janeiro, o ano de 2000 marcou a consciência de que o legado do Sol no Sul devia ser finalizado. Desse processo, e como ato mágicko, nasceu o Oásis Quetzalcoatl, substituindo o velho trabalho por algo novo. Gradualmente, os ataques foram cessando. O trabalho poderia continuar, revitalizado.


Longe de ter sido um mar de rosas, todo este período concretizou o trabalho da Ordem no Brasil na base da constância e paciência. A O.T.O. no Brasil havia sido testada, sobrevivido e poderia seguir adiante.


Juventude: problemas editoriais

Uma coisa importante a ser percebida é que, durante a antiga liderança do Acampamento Sol no Sul, o método usado para fincar a bandeira da O.T.O. no Brasil foi travar uma política de tensão com outros grupos esotéricos ou iniciáticos, principalmente aqueles Thelêmicos sediados no Rio de Janeiro. Iskuros Australis frequentemente atacava Frater Aster. Com o tempo, foi percebido que essa postura deveria ser superada, sendo típica de uma fase pueril.


Soror Babalon ainda mantinha contato com Frater Aster e tinha em mente que qualquer atrito seria contraproducente tanto para a O.T.O. como para a difusão de Thelema. As brigas do passado já tinham ensinado o bastante acerca da esterilidade de relações grosseiras. Como política de boa vizinhança, foi organizado um encontro com alguns Thelemitas no Rio de Janeiro. A reunião foi realizada na casa de Frater Aster, no Grajaú, estando presentes ele mesmo, Soror Babalon, Frater Q.V.I.F. (que nesta altura já reatara com Aster) e Frater ABO: os dois últimos, na época, à frente da Loja Nova Ísis.


O objetivo da reunião era firmar uma política fraternal entre os diversos grupos. Isso, a princípio, foi bem recebido por todos. Independente do estilo de trabalho e divergências, ficou definido que todos iriam se respeitar mutuamente e cessar as brigas na Internet, que inevitavelmente prejudicavam o movimento Thelêmico como um todo no Brasil. Soror Babalon também sugeriu a ideia de ser realizado um evento Thelêmico anual que reunisse os grupos ou ordens Thelêmicas interessadas. A proposta seria um encontro sob a égide de Thelema, onde os diversos grupos apresentariam resultados e exporiam seu estilo de trabalho uns aos outros e aos aspirantes. A ideia foi muito bem recebida. Além disso, devido à convivência de anos que tinham, Frater Aster deu sua palavra a Soror Babalon que não se envolveria em qualquer ataque à O.T.O.


No entanto, em 2000, uma corrida judicial na Inglaterra, desencadeada por Anthony Naylor, representante de John Symonds, iniciou processos contra a O.T.O. pela posse dos direitos autorais das obras de Aleister Crowley. Crowley, em testamento, deixou seus copyrights para a O.T.O. A reivindicação em questão se deu porque John Symonds, designado como executor literário de Crowley, não reconhecia a legitimidade da Ordem.


Os ecos desse conflito chegaram ao Brasil. Nessa mesma altura, Frater Q.V.I.F. telefonou para Soror Babalon. Ele confirmou que a proposta de reunir os Thelemitas de maneira independente era excelente, mas que não poderia mais aderir a ela, uma vez que estaria apoiando o movimento inglês que lutava pelos copyrights de Crowley. Ele deixou transparente que sua motivação era financeira. Somado a isto, na mesma época, Soror Babalon encontrou textos publicados na Internet que atacavam a O.T.O. na tão discutida questão da sucessão de suas lideranças. O estilo de escrita era o de Frater Aster. Perguntado sobre os posts, Aster, a princípio, negou sua autoria. Com o passar do tempo, novos textos foram surgindo, dessa vez com a assinatura dele publicada. Entendendo isso como quebra da palavra por parte de Aster, Soror Babalon rompeu as relações que ainda mantinha com ele. A conversa que tiveram a respeito disso, no telefone, foi a última vez que se falaram.


Assim, a iniciativa de um “encontro Thelêmico” existiu apenas como ideia. De todo modo, embora sem travar maior proximidade com qualquer outro grupo, a O.T.O. no Brasil continuou mantendo uma política de boa vizinhança e de não interferência com o trabalho alheio.


Os ataques nas listas de discussão virtuais continuaram por um tempo, principalmente sobre a questão editorial e dos copyrights. A poeira baixou após a resolução da corte inglesa favorecer a O.T.O. contra Naylor e Symonds. Do mesmo modo que os processos de Marcelo Motta em Maine e na Califórnia, a questão foi resolvida com a O.T.O. sendo confirmada como detentora dos direitos autorais de Aleister Crowley, em conformidade com seu testamento.


Criatividade & crescimento

A juventude da O.T.O no Brasil foi marcada por uma fase de trabalho entusiasmado e crescimento.


Missas Gnósticas eram realizadas quinzenalmente, alternando a equipe de ritualística: isto é, às vezes Soror Babalon desempenhava o papel da Sacerdotisa, às vezes Soror Hathor, então Tesoureira do Oásis, e também outras Irmãs. O mesmo com Sacerdotes e Diáconos. Encontros informais do grupo aconteciam praticamente toda semana. O Templo virou o segundo lar de muitos, servindo de pernoite para Irmãos e também de abrigo para retiros espirituais.


Também começaram a ser realizadas palestras abertas ao público, com temas introdutórios à filosofia Thelêmica, Magick e a O.T.O. Outros eventos sociais, como exposições de arte, apresentando obras de Irmãos e Irmãs da Ordem, também tiveram lugar no Templo do Oásis. Relatos dos remanescentes dessa época confirmam um grupo jovem, ativo e criativo, mas, por muitas vezes – o que é natural para uma fase análoga à adolescência –, difícil de organizar.


Em São Paulo, no Acampamento Laylah, a então Mestre do Corpo Local, Soror Binah, deixou a maestria e Soror Babalon treinou Soror Kali para assumir a Maestria do Acampamento e manter o Laylah funcionando. Kali assumiu oficialmente a liderança do Acampamento em 2000.


Em meados de 2001, foram contabilizados cerca de 40 membros ativos no Oásis Quetzalcoatl, isto é, em situação regular para com a Ordem, frequentando e trabalhando naquele Corpo Local. O grupo era substancialmente maior do que o comum para um Corpo Local da O.T.O. Para o estilo da Ordem, cujo modo de trabalho se afina melhor com grupos pequenos, esse era um número excepcional, realizando ativamente a Missa Gnóstica e outros Ritos, Iniciações, instruções e confraternizações..


No Distrito Federal, em 21 de março de 2000, foi aberto o Acampamento Aldebaran, sob a liderança de Frater Obscurus. Ao contrário do Laylah, o Acampamento Aldebaran não conseguiu sobreviver, devido ao número limitado de seus membros. Em 3 de maio de 2003, as portas do Acampamento estariam sendo fechadas.


De volta ao Rio de Janeiro, em 2001 foi realizado o Primeiro Encontro Nacional da O.T.O. no Brasil (ENOTO), no município de Paraty, aconchegante cidade histórica na Costa Verde do estado, próximo à divisa de São Paulo. Cerca de trinta Irmãos e Irmãs de todo o país saíram em vans para o hotel que os hospedou, durante três dias de encontro e palestras. Não restava dúvida de que o espírito da O.T.O. no Brasil estava devidamente solidificado.


Antigas questões × novos percalços

O trabalho dos Corpos Locais da Ordem mantinha um ritmo saudável, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. O ritmo constante da prática ritualística, como no caso da celebração do Liber XV, desenvolvia a maturidade mágicka dos membros. Essa época é descrita pelos que a viveram como de intensa sensibilidade e afinidade entre o grupo.


Alguns baques, no entanto, não deixaram de acertar o Oásis e a O.T.O. no Brasil. Um deles foi causado até mesmo por Frater Sorath, um dos responsáveis por trazer a Ordem para o país. Após ter violado juramentos mágickos referentes a segredos Iniciáticos da Ordem, Sorath foi questionado e reagiu de maneira hostil. Seu desligamento da O.T.O. foi inevitável. Após isso, como infelizmente era de praxe, ataques pessoais foram levados à Internet.


No Rio, em termos administrativos, já há algum tempo Soror Babalon desejava transferir a liderança do Oásis Quetzalcoatl. Para isso, estava treinando Soror Hathor, então Tesoureira do Oásis. Os membros do Rio já tinham como certa a futura mudança da Maestria. Efetivar a transição, no entanto, não se revelou tão simples.


Numa aparentemente eventual reunião com Soror Babalon, Soror Hathor disse ter algo para comunicá-la. Com naturalidade, informou estar envolvida com um grupo de Iskuros Australis – que há anos não tinha contato com a O.T.O. –, e que não poderia, portanto, assumir a liderança. Ademais, o plano inicial, até então velado, era que Hathor assumisse a liderança do Oásis a fim de realizar uma “transição” do grupo da O.T.O. para o grupo de Iskuros Australis, como maneira de minar o trabalho da Ordem. Obviamente, todas essas considerações abortaram o planejamento de transferência da liderança.


Confessadamente combalida pelo golpe, Soror Babalon pediu recesso dos trabalhos da Ordem e se afastou do Oásis. Por menos de um ano ela permaneceu afastada. Nessa época, Frater Lux Ferre assumiu como Mestre delegado (cargo de gestão provisória) do Oásis Quetzalcoatl.


A época, no entanto, não foi de desenvolvimento. Primeiramente, Lux Ferre manifestava publicamente aversão em se comunicar com as lideranças internacionais, como se isso representasse uma interferência em seu próprio trabalho. Com algum tempo à frente do Oásis, Lux Ferre também expediu aos membros um comunicado de que a O.T.O. estaria “fechada para Iniciações” e que serviria de “ordem externa” para seu grupo exotérico pessoal. Isso, naturalmente, não faz qualquer sentido dentro do trabalho da Ordem, e um Mestre de Corpo Local não tem qualquer autorização para um improviso desse gênero. O resultado dessa gestão arbitrária foi a saída de muitos membros do Oásis e da Ordem.


Soror Babalon, então afastada, foi avisada do que estava acontecendo apenas quando as lideranças de São Paulo entraram em contato para comunicar que Lux Ferre estava passando instruções de que a O.T.O. no Brasil estaria buscando aliança com um grupo chamado Fraternitas Lucis, a fim de realizar, inclusive, “troca de patentes”. Isso, novamente, não faz qualquer sentido para o trabalho da O.T.O. Alarmada, Soror Babalon se reaproximou do Oásis, descobrindo o quadro em que ele se encontrava, e descobrindo também que irregularidades financeiras estavam sendo praticadas por Lux Ferre.


Após entrar em contato com as lideranças internacionais, Soror Babalon retornou aos trabalhos e reassumiu a Maestria. Em reunião com o antigo Mestre delegado e outros Irmãos, ela comunicou Lux Ferre que a situação financeira do Oásis deveria ser regularizada, bem como um pedido de desculpas deveria ser feito, e que tudo isso estava em conformidade com a decisão das lideranças da O.T.O. Ele se recusou, e assim se deu seu final desligamento da Ordem.


Baixas e renascimentos

Vivendo altos e baixos, o trabalho da Ordem no Brasil se manteve mesmo quando beirou a ruína. Nessa época, o Oásis Quetzalcoatl esteve quase completamente esvaziado. O Acampamento Laylah, em São Paulo, também passou por crises: por algum tempo ele continuou em atividade, mas incompatibilidades administrativas entre seus membros fizeram o Acampamento Laylah fechar definitivamente suas portas em 2004.


Mesmo a duras penas, o trabalho no Rio de Janeiro se manteve presente, recomeçando a fazer Iniciações, instruções e Missas. Por algum tempo, o Oásis divulgou a revista eletrônica eMagick, com artigos sobre Magia e entrevistas com seus membros.


Maturidade

Em 2008, o Oásis Quetzalcoatl se tornou Loja. A característica que tem marcado o processo de maturidade da Loja, bem como da O.T.O. no Brasil, é o entendimento sobre as flutuações do caminho, e a consciência de que a disciplina de manter o trabalho constante é o mais importante. Alegrias e frustrações, sendo humores, não podem parar a O.T.O.


A princípio, a Loja — na altura, a única representação da Ordem no Brasil — assumiu uma postura mais minimalista: o Templo alugado foi abolido e a residência de Soror Babalon, no Vale de Itacuruçá, passou a sediar os eventos da Ordem. A casa de outros irmãos também hospedou as instruções mensais da Loja. A Missa Gnóstica assumiu uma frequência sustentável, mensal, bem como as Iniciações, que se tornaram regulares ao longo do ano. Outros ritos também foram realizados, como o Rito de Ísis, escrito por Charles Stansfeld Jones (Frater Achad). Esse ritmo vem se mantendo até o presente momento.


Em 2009, foi lançado o site da Loja Quetzalcoatl, com sua plataforma de notícias. O site da representação brasileira da O.T.O., que esteve caído por cerca de dois anos, foi refeito num formato mais simples e objetivo, e relançado em 2010. Em 2015 o site é mais uma vez reformulado, para comportar uma área de notícias, em um visual mais moderno e contemplando tecnologias mais atuais, como celulares e tablets. Atualmente, não apenas o Oásis Quetzalcoatl conta com sua presença eletrônica, como todos os Corpos Locais brasileiros estão presentes com seus sites e redes sociais promovendo a divulgação de Thelema.


No dia 14 de novembro de 2009, a O.T.O. no Brasil recebeu um frescor de vitalidade: nascia o Acampamento Opus Solis, Corpo Local para a cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Os irmãos mineiros, liderados por Frater Pan Ain Soph, iniciavam a organização dos trabalhos com energia e disposição: com intensa demanda de candidatos e promessas para o futuro, a festa de abertura do Acampamento foi realizada nos dias 16 e 17 de janeiro de 2010, num sítio em Azurita, cidade próxima à Belo Horizonte. Na ocasião, foi celebrada a primeira Missa Gnóstica em solo mineiro. Em 2016, por seu excelente trabalho, o Acampamento foi promovido a Oásis.


No final de 2011, Frater Pan Ain Soph deixou a Maestria do Opus Solis. Soror Athena, então Secretária, o sucedeu e permaneceu a frente do mesmo até o ano de 2018 e.v., quando se afastou por motivos de saúde e o Oásis voltou à condição de Acampamento.


Em 2010, nos dias 13, 14 e 15 de novembro, foi realizado outro evento emblemático de proporção nacional: o II Encontro Nacional da Ordo Templi Orientis (ENOTO). Com nove anos de intervalo em relação à sua primeira edição, o ENOTO foi realizado num sítio na cidade de Queimados, Rio de Janeiro, e congregou Irmãos, Irmãs e convidados do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Seu tema foi a E.G.C., e essa foi uma oportunidade rara de passar dias inteiros de convivência e instrução sobre a Missa Gnóstica, a via eclesiástica em Thelema e o Gnosticismo como visto pela O.T.O. Missas particularmente vibrantes fecharam noites onde alguns Irmãos sequer dormiram, esperando pelo toque de alvorada para realizar o Liber Resh matinal.


Em 2010, a Loja Quetzalcoatl também lançou sua Revista oficial, a Estrela Rubi, em formato digital, cuja edição de estreia levou ao ar uma entrevista exclusiva com Soror Babalon sobre o panorama de Thelema no Brasil. A Estrela Rubi, como “voz pública” da produção intelectual da Loja Quetzalcoatl, foi divulgada em formato eletrônico até o ano de 2013, durante os Equinócios e Solstícios. Em 2015 foi lançado o especial impresso, contendo todo o material até então publicado.


No dia 2 de janeiro de 2012, Soror Babalon anunciou a concretização de um antigo sonho: deixar a liderança da Loja para assumir exclusivamente a Representação nacional do Frater Superior. Após 11 anos à frente da Loja, e 16 anos de trabalho pela O.T.O. no Brasil, ela transferiu a Maestria da Loja Quetzalcoatl para Frater Apollôn Hekatos, que inaugurou o primeiro ano de trabalho da Loja sob sua gestão em 10 de março de 2012. Ao final de 2014, a maestria da Loja voltou às mãos de Soror Babalon, que aposentou-se em 2017, passando a exercer um trabalho solitário. Com isso, a Loja Quetzalcoatl voltou ao estágio de Oásis, com maestria exercida por Frater Hrw, que, em 2018, assumiu também a função de Representante do Frater Superior para o Brasil, deixando a maestria do Oásis para Frater Bodhicitta.


Em 2019 um evento há muito tempo aguardado se realiza: o III Encontro Nacional da Ordo Templi Orientis. Realizado sob coordenação do Oásis Quetzalcoatl, o evento se deu em uma pousada na bucólica cidade de SANA, com presença não apenas de membros ativos como também de antigos membros que aproveitaram para reativar sua participação na Ordem. Com o tema de Ancestralidade, as palestras falaram sobre a conexão espiritual dos membros atuais com aqueles que nos antecederam e com os que virão após. Ritualisticamente, a execução das Missas Gnóstica e de Babalon marcaram o evento.


Em 2019, também, um novo Corpo Local é estabelecido em uma região virgem: nasce o Acampamento Olho do Sol em Curitiba, Paraná, suprindo os estados do Sul do Brasil de uma presença da Ordo Templi Orientis há muito requerida. Sob liderança de Frater Kodama o Corpo Local segue se desenvolvendo e crescendo a cada dia que passa.


Conclusão

Fazendo o retrospecto dos primeiros anos, torna-se óbvio que o desenvolvimento mágicko e espiritual foi limitado. No entanto, tal experiência serviu para nos ensinar que um corpo fraco e conflitante — neste caso, Corpos Locais — não consegue estruturar e alimentar uma construção mais profunda e sutil, como o espírito. A saúde dos anos seguintes seria comprovada pelo aumento de práticas e resultados, bem como instruções de qualidade internacional. Os novos percalços, por sua vez, serviram para nos libertar dos humores e das flutuações que assaltam qualquer trabalho. Graças a isso, constância pôde ser conquistada.


Escrever a história da O.T.O. no Brasil não é apenas questão de reunir e listar datas e eventos. É uma questão de tom. Compreendemos, durante a edição deste número da Revista, que por muito tempo as atividades relacionadas a Thelema no Brasil estiveram concentradas quase miticamente na figura de indivíduos, mais do que no trabalho que eles realmente desenvolviam. A única conclusão que podemos chegar é que isso é indício de imaturidade, como todo apego ao carisma ou a aparências, que facilmente se desdobra em culto à personalidade. É muito fácil, ao se concentrar na personalidade de personagens, nublar o trabalho — ou falta de trabalho — impessoal que eles fazem ou fizeram.


Embora seja realmente difícil falar da história de Thelema e da O.T.O. no Brasil sem falar a respeito da vida das pessoas que a fizeram, o tom que buscamos alcançar é que o foco deve residir no trabalho dessas pessoas: o que foi produzido, o que deixou de ser produzido, bem como a postura destas pessoas como líderes ou em cargos de liderança, ou seja, em postos que não dizem respeito à pessoa delas, mas à representação de algo maior.


Todos os citados neste texto sabem que detalhes de suas vidas pessoais não foram expostos. Esperamos que o trabalho Thelêmico no Brasil possa seguir amadurecendo no sentido da impessoalidade, para benefício de todos buscadores sinceros que procuram por estruturas de aprendizado e Iniciação, e não rostos ou mestres para seguir.


Presença Nacional Hoje

Atualmente, a Ordo Templi Orientis conta com os seguintes Corpos Locais no Brasil:


Oásis Quetzalcoatl (RJ)

Mestre: Frater Hrw

Acampamento Opus Solis (MG)

Mestre: Frater Tahuti

Acampamento Sub Lege Libertas (SP)

Mestre: Frater Baphomet 888

Acampamento Olho do Sol (PR)

Mestre: Frater Kodama (こだま)

História da O.T.O.


Carl Kellner – O Pai Espiritual da O.T.O.

O Pai Espiritual da Ordo Templi Orientis foi Carl Kellner (Renatus, 01/09/1851 — 07/06/1905), um rico industrial austríaco da química do papel. Kellner foi um estudante da Maçonaria, do Rosacrucianismo e do Misticismo Oriental, e viajou extensamente pela Europa, América e Ásia Menor. Durante suas viagens, ele alegou ter entrado em contato com três Adeptos (um Sufi, Soliman ben Aifa, e dois Tantristas hindus, Bhima Sena Pratapa de Lahore e Sri Mahatma Agamya Paramahamsa), e uma organização chamada A Irmandade Hermética da Luz.


Em 1885, Kellner encontrou o Dr. Franz Hartmann (1838 — 1912), estudioso Teosófico e Rosacruciano. Mais tarde, ele e Hartmann colaboraram no desenvolvimento da terapia pela inalação de “ligno–sulfito”, para o tratamento da tuberculose, a qual formou a base do tratamento do sanatório de Hartmann nas proximidades de Saltzburg. Durante o decorrer de seus estudos, Kellner acreditou ter descoberto uma “Chave” que oferecia uma clara explicação de todo o complexo simbolismo maçônico e que, acreditava Kellner, abriria os mistérios da Natureza. Kellner desenvolveu o desejo de formar uma Academia Maçônica que permitiria habilitar todos os maçons a tornarem–se familiarizados com todos os existentes graus e sistemas maçônicos.


Academia Maçônica

​Em 1895 Kellner começou a discutir sua ideia de fundar uma Academia Maçônica com seu sócio, Theodor Reuss (Merlin ou Peregrinus, 28/06/1855 — 28/10/1923). Durante estas conversas, Kellner decidiu que a Academia Maçônica deveria chamar–se “Ordem dos Templários Orientais”. O oculto círculo interno desta Ordem (a O.T.O. propriamente dita) deveria organizar–se em paralelo aos mais altos graus dos Ritos maçônicos de Memphis e Mizraim, e deveria ensinar as doutrinas esotéricas Rosacrucianas da Irmandade Hermética da Luz e a “Chave” de Kellner para o simbolismo maçônico. Tanto homens quanto mulheres seriam admitidos a todos os níveis desta Ordem, mas a posse de vários graus da Arte e Altos Graus maçons deveriam ser pré–requisitos para a admissão no Círculo Interno da O.T.O.


Infelizmente, graças aos regulamentos das Grandes Lojas estabelecidas que governavam a Maçonaria Regular, mulheres não podiam ser iniciadas como maçons e assim seriam excluídas por definição da admissão à Ordem dos Templários Orientais. Esta deve ter sido uma das razões pelas quais Kellner e seus associados resolveram obter controle sobre um dos muitos ritos, ou sistemas, da Maçonaria; para reformar o sistema para a admissão de mulheres.


As discussões entre Reuss e Kellner não levaram a quaisquer resultados na ocasião, pois Reuss estava muito ocupado com o renascimento da Ordem dos Illuminati, juntamente com seu associado Leopold Engel (1858 — 1931), de Dresden. Kellner não aprovava a recriação da Ordem dos Illuminati ou Engel. De acordo com Reuss, até sua separação final de Engel, em junho de 1902, Kellner contatou–o e ambos concordaram a proceder com o estabelecimento da Ordem dos Templários Orientais, buscando autorizações para atuar nos vários ritos dos altos–graus da Maçonaria.


Bases Maçônicas

Theodor Reuss, além de ser o líder da rediviva Ordem Bávara dos Illuminati, era também Grande Mestre do Rito de Swedenborg da Maçonaria na Alemanha (patente datada de 26 de julho de 1901, por W. Wynn Westcott), Inspetor Especial da Ordem Martinista na Alemanha (patente datada de 24de junho de 1901, por Gérard Encausse) e Magus do Alto Conselho alemão da Societas Rosicruciana em Anglia (carta de autorização datada de 24de fevereiro de 1902, por W. Wynn Westcott). Com auxílio de Kellner, Reuss contatou o estudioso maçônico John Yarker (1833 — 1913), para adquirir patentes para operar três sistemas dos altos–graus da Maçonaria conhecidos como o Antigo e Primitivo Rito de Memphis, de 97°, o Antigo Rito Oriental de Mizraim, de 90°, e o Antigo e Aceito Rito Escocês, de 33° (Conselho de Cernau, Nova York, 1807).


Reuss recebeu cartas–patente de Grande Inspetor Soberano 33° do Rito Escocês de Cernau de Yarker, datando de 24 de setembro de 1902. De acordo com uma cópia publicada, Yarker emitiu na mesma data uma permissão para Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein operarem um Soberano Santuário 33° — 95° dos Ritos Escoceses, de Memphis eMizraim. Yarker emitiu uma segunda patente confirmando a autoridade de Reuss para operar nos ditos Ritos em 01 de julho de 1904; e Reuss publicou uma cópia de uma patente de confirmação datada de 24 de junho de 1905. Reuss iniciou a publicação de um periódico maçônico, “The Oriflamme”, em 1902.


Estes Ritos, em conjunto com o de Swedenborg, foram adotados como elementos integrais dentro do esquema geral da Ordem. O Rito de Swedenborg, que incluía uma versão dos graus de Arte, em conjunto e o Rito Escocês de Cernau e os Ritos de Memphis Mizraim proveram uma seleção de “altos graus” trabalháveis tão completos como jamais existiu. Juntos, eles proveram um completo sistema de iniciações maçônicas à disposição da Ordem. Com a incorporação destes Ritos, a Ordem estava pronta a operar como um sistema maçônico completamente independente. Reuss e Kellner prepararam juntos um breve manifesto para sua Ordem em 1903, o qual foi publicado no ano seguinte em “The Oriflamme”. Kellner morreu em sete de junho de 1905 e Reuss assumiu pleno controle da Ordem. Com auxílio dos co–fundadores Franz Hartmann e Heinrich Klein, Reuss preparou uma Constituição para a Ordem em 1906.


A O.T.O. Dirigida por Reuss

Os Primeiros Tempos

​Rudolph Steiner (1861 — 1925), que nesta época era o Secretário Geral do ramo alemão da Sociedade Teosófica, foi patenteado em 1906 como Grande Mestre Delegado de um capítulo subordinado à O.T.O/Memphis/Mizraim e do Grande Conselho chamado Mystica Aeterna em Berlim. Steiner deu fundação à Sociedade Antroposófica em 1912 e encerrou sua associação com Reuss em 1914.


Em 24 de junho de 1908, o Dr. Gérard Encausse (Papus, 1865 — 1916) organizou uma “Conferência Maçônica e Espiritualista Internacional” em Paris, à qual Reuss compareceu. Nesta conferência, Encausse recebeu, sem pagamento, uma patente de Reuss para estabelecer um “Supremo Grande Conselho Geral dos Ritos Unidos da Antiga e Primitiva Maçonaria para o Grande Oriente da França e suas Dependências em Paris”. No ano anterior Encausse, juntamente com Jean Bricaud (1881 — 1934) e Luis–Sophrone Fugairon (n. 1846), havia organizado a Églaise Catholique Gnostique, a Igreja Gnóstica Católica, como um cisma da Église Gnostique, uma igreja neo–Albingense fundada em Paris em 1890 por Jules Dionel (1842 — 1903). Acredita–se que Reuss recebeu consagração episcopal e autoridade primal na Églaise Catholique Gnostique de Encausse e Bricaud nesta conferência. O envolvimento de Encausse com a O.T.O., per se, é incerto.

Ainda nesta conferência o Dr. Arnold Krumm–Heller (Huiracocha, 1879 — 1949) recebeu uma patente de Reuss como representante oficial para a América Latina. Krumm–Heller desenvolveu sua própria ordem, chamada Fraternitas Rosacruciana Antiqua (F.R.A.). De acordo com seu filho, Parsival, ele nunca fundou Lojas da O.T.O. ou indicou qualquer oficial da O.T.O.


Reuss e Crowley

​Como um jornalista, Reuss viajava freqüentemente à Inglaterra. Em uma destas viagens ele conheceu Aleister Crowley (Baphomet, 12/10/1875 — 01/12/1947), o qual foi admitido aos três primeiros graus da O.T.O. em 1910. Em 21 de abril de 1912 Reuss deu a Crowley uma patente, gratuitamente, indicando–o como Grande Mestre Nacional Geral X° da O.T.O. para a Grã–Bretanha e Irlanda. A indicação de Crowley incluía autoridade sobre os Ritos de língua Inglesa nos graus inferiores (maçônicos) da O.T.O., aos quais foi dado o nome de Mysteria Mystica Maxima, ou M.·.M.·.M.·.


Em primeiro de junho de 1912, uma Grande Loja Nacional para os países eslavos foi estabelecida por Czeslaw Czynski. Franz Hartman morreu em sete de agosto de 1912. Em setembro de 1912 Reuss publicou a “Edição de Jubileu” do “The Oriflamme”, que foi a primeira edição a mencionar a O.T.O. em qualquer detalhe, e foi quase inteiramente devotada a assuntos da O.T.O. Kellner, Reuss e Crowley eram listados como membros de grau X° da O.T.O. Também em 1912 Crowley publicou o “Manifesto da M.·.M.·.M.·.” no qual a M.·.M.·.M.·. foi identificada como a seção britânica da O.T.O., a qual “incluía todos os países onde o Inglês fosse largamente falado”. A O.T.O. é descrita neste documento como “…um corpo de iniciados em cujas mãos está concentrada a sabedoria e o conhecimento dos corpos seguintes:


A Igreja Gnóstica Católica.

A Ordem dos Cavaleiros do Espírito Santo.

A Ordem dos Illuminati.

A Ordem do Templo (Cavaleiros Templários).

A Ordem dos Cavaleiros de São João.

A Ordem dos Cavaleiros de Malta.

A Ordem dos Cavaleiros do Santo Sepulcro.

A Igreja Oculta do Santo Graal.

A Ordem Rosacruz

A Fraternidade Hermética da Luz.

A Sagrada Ordem da Rosa Cruz de Heredom.

A Ordem do Sagrado Arco Real de Enoch.

O Antigo e Primitivo Rito da Maçonaria (33 graus).

O Rito de Memphis (97 graus).

O Rito de Mizraim (90 graus).

O Antigo e Aceito Rito Escocês da Maçonaria (33 graus).

O Rito de Swedenborg da Maçonaria.

A Ordem dos Martinistas.

A Ordem de Sat Bhai.

A Ordem Hermética da Golden Down

e muitas outras ordens de mérito igual, se de menos fama.”

O Manifesto da M.·.M.·.M.·. também deu o seguinte esquema de organização da Ordem:


O° MINERVAL

I° M.

II° M.

III° M.

PI

IV°, Companheiro do Santo Arco Real de Enoch.

Príncipe de Jerusalém.

Cavaleiro do Leste e do Oeste.

V°, Príncipe Soberano da Rosa Cruz. (Cavaleiro do Pelicano e águia.)

Sócio do Senado de Cavaleiros Filósofos Herméticos, Cavaleiros da águia Vermelha.

VI°, Ilustre Cavaleiro (Templário) da Ordem de Kadosch, e Companheiro do Santo Graal.

Chefe Inquisidor principal, Sócio do Tribunal Principal.

Príncipe do Segredo Real.

VII°, Inspetor General Principal Soberano Muito Ilustre.

Sócio do Conselho Principal Supremo.

VIII°, Pontífice Perfeito dos Illuminati.

IX°, Iniciado do Santuário do Gnosis.

X°, Rex Summus Sanctissimus (o Rei Supremo e mais Santo).


A edição de setembro de 1912 do “The Oriflame” incluiu uma listagem similar de um sistema de dez graus:


I – Prüfling [Probacionista]

II – Minerval

III – Johannis-(Craft-) Freimauer [Artesão maçon]

IV – Schottischer-(Andreas-) Mauer [Maçon escocês]

V – Rose Croix-Mauer

VI – Templer-Rosenkreuzer

VII – Mystischer Templer

VIII – Orientalisher Templer

IX – Vollkommener Illuminat [Perfeito Iluminado]

X – Supremus Rex


Desta forma, em 1912, Crowley e Reuss haviam condensado o sistema da Arte e dos altos–graus maçons em um sistema viável de dez graus numerados que incorporava os ensinamentos e simbolismo de um certo número de sociedades ocultistas e místicas. Os três graus da Academia Maçônica de Kellner formavam os graus VII°, VIII° e IX° deste sistema. O décimo grau (X°), “Rex Summus Sanctissimus”, ou “Supremus Rex”, designava o Grão Mestre Geral Nacional da O.T.O para um determinado país, região ou grupo lingüístico. A suprema autoridade da Ordem, internacionalmente, era chamada de “Frater Superior” ou Cabeça Externa da Ordem (“Outer Head of the Order” — O.H.O.).


Os Grãos Mestres Gerais Nacionais tinham a autoridade para indicar seus próprios representantes, chamados “Vice–Reis”, em outros países de mesmo idioma dominante. Vice–Reis podiam ainda serem levados ao X° pelo O.H.O. Dos Grãos Mestres Gerais Nacionais esperava–se que conduzissem os negócios da O.T.O. de acordo com a Constituição da O.T.O., mas em grande escala fora da supervisão diária do quartel–general internacional ou “Escritório Central”.


O Manifesto da M.·.M.·.M.·. incluía fotografias da mansão de Crowley na Escócia, chamada de Boleskine, a qual servia como “Casa de Ofícios” da Ordem. Incluía também uma lista de taxas e mensalidades para cada grau, bem como uma lista de “taxas de afiliação”, onde maçons poderiam afiliar–se diretamente no nível correspondente ao seu próprio grau na Maçonaria. Estas listas foram reimpressas na edição de 1914 de “The Oriflamme”, junto com os títulos de graus do Manifesto de Crowley traduzidos para o Alemão.


Em 1912, o sistema da O.T.O., apesar de suas várias influências, permanecia principalmente maçônico. Na Edição de Jubileu de “The Oriflamme” Reuss definiu a O.T.O. como “uma ordem não pura e simplesmente maçônica, mas cada membro de nossa Ordem, homem ou mulher… deve proceder através dos graus de artesão da Maçonaria, mesmo aqueles dos mais altos–graus da Maçonaria, antes de serem iluminados e iniciados membros de nossa Ordem.” Contudo, a Grande Loja Unida da Inglaterra, a quem Crowley tecnicamente devia aliança, objetou a aceitação de Graus de Artesão na Inglaterra fora de sua jurisdição e objetou a admissão de mulheres na Maçonaria. Ainda assim, Crowley incluiu o seguinte texto em seu Manifesto da M.·.M.·.M.·.:


A O.T.O., ainda que uma Academia Maçônica, não é um Corpo Maçônico posto conceder os graus de artesão no sentido no qual esta expressão é normalmente entendida na Inglaterra; e assim não há conflitos com ou infração aos justos privilégios da Grande Loja Unida da Inglaterra.


Manifesto da M.·.M.·.M.·.

Em 15 de fevereiro de 1913 Crowley adotou uma Constituição para a M.·.M.·.M.·., submetida à Constituição Geral da O.T.O. Em 19 de março de 1913, Crowley e Reuss unidos deram patente a James Thomas Windram(Mercurius, 1877 — 1939) como representante oficial da O.T.O. na África do Sul. Posteriormente, em 1913, visitando Moscou, Crowley compôs a Missa Gnóstica, a qual ele “preparou para o uso da O.T.O. a cerimônia central de sua celebração pública e particular, correspondendo à Missa da Igreja Católica Romana.”


A I Guerra Mundial estourou em 28 de julho de 1914. Crowley mudou–se para Nova York em outubro deste mesmo ano; passando o ano seguinte trabalhando como escritor para os periódicos de George Sylvester Viereck, “The Fatherland” e “The International”, e como editor–chefe posteriormente. Em dezembro de 1914, Crowley indicou Charles Stansfeld Jones (Parzival, 1886 — 1950) como Grão Inspetor Geral Soberano VII° e seu representante pessoal na cidade de Vancouver. Em março de 1915 Windram indicou Ernest W. T. Dunn VII°(Maximus) como Vice–Rei atuante para a Australásia.


Apesar de seu anterior anúncio sobre os Graus de Artesão, no Manifesto da M.·.M.·.M.·., Crowley permanecia inconfortável em relação às características maçônicas da O.T.O., por um adicional número de razões:


Em contraste com Reuss, Crowley acreditava que mulheres não poderiam ser iniciadas como maçons,apesar de pensar que deveriam ser aptas a se iniciar na O.T.O.

Estava frustrado com as elaboradas preparações requeridas para a execução das iniciações maçônicas e com o tamanho dos rituais maçônicos e seu excessivo palavrório. Crowley via estes fatores como impedimentos no sucesso da implantação de um trabalho entre pessoas modernas.

Ele acreditava que os conteúdos simbólicos dos rituais maçônicos estava amortecido a ponto de serem inúteis.

Desejava utilizar o sistema da O.T.O. para ajudar na divulgação dos ensinamentos de Thelema.

Por estas razões Crowley começou a preparar rituais revisados que poderiam propagar a significância da Arte e os altos–graus conscientemente e de forma dramática, que seriam próprios para a iniciação tanto de homens quanto de mulheres, que não infringiriam os privilégios da Grande Loja Unida da Inglaterra e que divulgariam os ensinamentos básicos de Thelema. Crowley assim o fez por volta de 1925 e adotou os rituais revisados para uso em sua própria seção da O.T.O., a M.·.M.·.M.·.


Crowley escreveu sobre estes rituais revisados a Arnold Krumm–Heller em 22 de junho de 1930:


Reuss tinha o hábito de iniciar pessoas com meros esqueletos de rituais tomados daqueles da Maçonaria continental. Não havia, para deixar claro, nenhuma ordem ou decência neste procedimento. Ele percebia isto perfeitamente bem e era uma das razões pelas quais pedia–me para reconstruir o sistema de iniciação.


Eu fiz um estudo comparativo de numerosos rituais aos quais eu tive acesso, e produzi uma série que foi aperfeiçoada para, e incluindo o 6º grau (equivalente ao Kadosh) e estes foram trabalhados em Londres com o maior sucesso.


Devo fazer aqui uma pausa para apontar uma mudança essencial e fundamental que é necessária em qualquer ritual com o qual eu tenha algo a fazer que é a completa renúncia ao culto dos Deuses–Escravagistas. É impossível para um homem livre conhecer qualquer sistema que está ligado aos fetiches de selvagens cujo único motivo para ação é o medo nascido de sua própria ignorância.


Em 1915 ou 1916 Aleister Crowley escreveu “Uma Intimação a Respeito da Constituição da Ordem” (Liber CXCIV), que desenvolvia suas ideias sobre a Constituição da O.T.O. escritas por Reuss em 1906, a Constituição da M.·.M.·.M.·. de Crowley, de 1913, e seu Manifesto. Gérard Encausse morreu em 25 de outubro de 1916. Charles Détré (Téder, 1855–1918) sucedeu Encausse e aparentemente também recebeu o grau X° da O.T.O. para a França, mas faleceu apenas dois meses depois.


Em 1916 Reuss mudou–se para a Basiléia, na Suíça. Enquanto estava lá, ele estabeleceu uma “Grande Loja e Templo Místico Anacional” da O.T.O. e a Irmandade Hermética da Luz em Monte Verità. Monte Verità era uma comunidade utópica perto de Ascona, fundada em 1900 por Henri Oedenkoven e Ida Hofmann, que funcionava como um centro para o qual o historiador James Webb chamaria mais tarde a “Contra Cultura Progressista”.


Em 22 de janeiro de 1917 Reuss publicou um manifesto para sua Grande Loja Anacional, a qual foi chamada Verità Mystica. Na mesma data, publicou uma versão revisada de sua Constituição da O.T.O. de 1906, com uma “Sinopse dos Graus” e um resumo “Mensagem de Mestre Therion” em anexo. Nesta constituição revisada Reuss incluiu muitos dos tópicos da Constituição da M.·.M.·.M.·. de Crowley, de 1913. Contudo, neste documento, como em muitos dos documentos de Reuss sobre a O.T.O., ele enfatizava o caráter maçônico da Ordem.


Em maio de 1917, a Loja de Crowley na Inglaterra foi invadida e fechada pela polícia, sob a alegação de mandado contra “leitura da sorte” contra um de seus membros. Entretanto, o trabalho de Crowley para a publicação anti–britânica de Viereck “The Fatherland” pode ter levado as autoridades a suspeitarem de atividades anti–patrióticas na Loja de Crowley. Todos os arquivos da Loja foram apreendidos. Crowley foi forçado a temporariamente abdicar do cargo de Grão Mestre em favor de C. S. Jones para facilitar a situação dos membros remanescentes. A Loja nunca foi completamente restaurada.


Em Ascona, Reuss organizou um “Congresso Anacional pela Organização da Reconstrução da Sociedade em Práticas Linhas Cooperativas “, em Monte Verità, de 15 a 25 de agosto de 1917. Este Congresso incluiu leituras das poesias de Crowley (em 22 de agosto) e a récita da Missa Gnóstica de Crowley (em 24 de agosto — apenas para membros da O.T.O.). O anúncio do Congresso declarava: “Há dois centros da O.T.O., ambos em países neutros, onde pesquisadores podem ser encontrados por aqueles interessados nos objetivos deste congresso. Um é em Nova York (Estados Unidos da América), o outro é em Ascona (Suíça Italiana).” Crowley estava vivendo em Nova York nesta época; assim, evidentemente, ele e Reuss eram os únicos Cabeças Nacionais ativos da O.T.O. em 1917.


Reuss pediu que sua secretária, “J. Adderley” (Isabel Adderley Oedenkoven), enviasse uma cópia do anúncio, juntamente com uma cópia do Manifesto da M.·.M.·.M.·. de Crowley à Grande Loja Unida da Inglaterra, na esperança de que a Grande Loja enviasse representantes. Isto não ocorreu, mas Willian Hammond, o Bibliotecário da Grande Loja, escreveu a Reuss após o congresso e pediu mais informações. Durante a correspondência de Reuss com Hammond, Reuss lembrou–o que haviam se encontrado 1913/14, e Reuss havia dado a ele cópias de “The Oriflamme” e do “Equinox” de Crowley, o qual, havia dito, “dava detalhes sobre a O.T.O.”.


Reuss estava claramente impressionado com Thelema. A Missa Gnóstica de Crowley, a qual Reuss traduzira para o alemão e fora recitada em seu Congresso Anacional em Monte Verità, é um ritual explicitamente telêmico. Em uma carta sem data para Crowley (recebida em 1917), Reuss fala excitadamente que havia lido “A Mensagem de Mestre Therion” para seu grupo em Monte Verità e que estava traduzindo o Livro da Lei para o Alemão. E ainda, “deixe esta notícia encorajá–lo! Estamos vivenciando seu Trabalho!!!”


Em 24 de outubro de 1917, Reuss entregou uma patente a Rudolf Laban de Laban–Varalya (1879 — 1958) e Hans Rudolf Hilfiker–Dunn (1882 — 1955) para operar uma Loja de Grau III° da O.T.O. em Zurique, chamada Libertas et Fraternitas. Em três de novembro de 1917, de Laban tornou–se Grande Mestre da Grande Loja Anacional Verità Mystica. Mais tarde, naquele mês, ele fechou a Verità Mystica e transferiu seu centro de operações para Zurique. Em março de 1918 Crowley publicou a Missa Gnóstica no “The International”. Reuss publicou sua tradução para o Alemão da Missa Gnóstica no mesmo ano.


Em uma nota no fim de sua tradução da Missa Gnóstica, Reuss referia–se a si próprio, simultaneamente, como Soberano Patriarca e Primaz da Igreja Católica Gnóstica, e Legado Gnóstico na Suíça para a Église Gnostique Universelle, dando a conhecer Jean Bricaud (1881 — 1934) como Soberano Patriarca daquela igreja. A publicação deste documento pode ser vista como o nascimento da E.G.C. como uma organização independente, sob a tutela da O.T.O., com Reuss como seu primeiro Patriarca.


A I Guerra Mundial terminou em 11 de novembro de 1918. De Laban deixou a Suíça em novembro. Em fevereiro de 1919 a Loja Libertas et Fraternitas rompeu sua ligação com a O.T.O. e tornou–se estritamente uma Loja Maçônica. Posteriormente regularizou–se sob a Grande Loja Suíça Alpina. Embora nenhum corpo da O.T.O. tenha restado na Suíça, Reuss continuou a conferir graus da O.T.O. a indivíduos. Enquanto Reuss persistia em afirmar a autoridade maçônica da O.T.O., Crowley continuava a afastar a M.·.M.·.M.·. da Maçonaria. Em outubro de 1918, Crowley preparou outra substancial revisão dos rituais internos da Ordem, desta vez abandonando o termo “Maçonaria” e os característicos emblemas, signos, identificadores etc., dos graus da Arte. Ele apresentou seus rituais revisados a Reuss para a adoção pela Ordem como um todo. Em março de 1919 Crowley publicou seu “The Equinox, Volume III, No. I” (o “Equinox Azul”), o qual continha uma série de importantes documentos da O.T.O., incluindo:


Liber LII: O Manifesto da O.T.O.

Liber CXCIV: Uma Intimação a Respeito da Constituição da Ordem

Liber CI: Uma Carta Aberta a Todos os Que Desejarem Unir-se à Ordem

Liber CLXI: Sobre a Lei de Thelema

Uma versão revisada do Liber XV: A Missa Gnóstica

O Liber LII: O Manifesto da O.T.O. de Crowley foi baseado quase que palavra por palavra no Manifesto da M.·.M.·.M.·. de 1913. Saudações telêmicas foram adicionadas, referências aos oficiais foram atualizadas, referências aos “guinéus” foram convertidas a seus equivalentes em dólares, os nomes de duas organizações contribuintes foram apagados (a Ordem Rosacruciana e a Ordem Hermética da Golden Dawn); a tabela de taxas e as fotografias de Boleskine foram retiradas e a frase “Ela [a O.T.O.] de forma alguma infringe os justos privilégios de qualquer Corpo Maçônico autorizado” foi adicionada após a listagem de organizações contribuintes, e o anúncio maçônico acima citado foi mudado para:


A O.T.O., embora uma Academia Maçônica, não é um Corpo maçônico posto não serem os ‘segredos’ entendidos da mesma forma na qual aquela expressão é normalmente compreendida; e então de nenhuma maneira conflitos com, ou infração dos privilégios justos da Grande Loja Unida da Inglaterra, ou qualquer Grande Loja na América ou de outra parte que seja reconhecida por ela [a G. L. U. da Inglaterra].


Em 10 de maio de 1919, Reuss outorgou uma Patente a Hans Rudolph Hilfiker, Dr. E. Pargaetzi, R. Merlitscheke M. Bergmaier para formarem um Supremo Conselho do Rito Escocês de Cernau na Suíça, em Zurique. Na mesma data Reuss concedeu um documento chamado “Medida de Amizade” a Matthew McBlain Thomson, fundador da aziaga “Federação Maçônica Americana”. O documento reconheceu Thomson como Membro de Grau IX° da O.T.O. Em 18 de setembro de 1919, Reuss foi reconsagrado por Bricaud pelo recebimento da “Sucessão da Antióquia” e re–apontado como “Legado Gnóstico” na Suíça para a Église Gnostique Universelle de Bricaud.


Crowley retornou à Inglaterra em dezembro de 1919. Em 1920, Reuss publicou seu “Programa de Construção e Princípios–Guia para os Gnósticos Neo–Cristãos: O.T.O.”. Neste documento Reuss apresenta suas ideias para uma (altamente regulamentada) sociedade utópica. Os princípios desta sociedade eram para serem baseados nas ideias de Thelema (o Livro da Lei e aforismos de Mestre Therion eram citados e explicados); juntamente com ideias mais tradicionais do Rosacrucianismo, Gnosticismo e Yoga; e as ideias sócio–políticas “progressistas” prevalecentes em Monte Verità.


Em 17 de julho de 1920, Reuss participou do Congresso da “Federação Mundial da Maçonaria Universal”, ocorrido na Loja Libertas et Fraternitas, em Zurique. Esta conferência foi realizada para complementar a “Conferência Internacional Maçônica e Espiritualista” de Papus em Paris, de 1908. Reuss, com autorização de Bricaud, advogou pela adoção da religião da Missa Gnóstica de Crowley como a “religião oficial de todos os membros da Federação Mundial da Maçonaria Universal possuidores do 18° do Rito Escocês”. Os esforços de Reuss neste sentido falharam, e ele discutiu com Matthew McBlain Thomson (que fora eleito Presidente Honorário da Federação Maçônica Internacional) acerca de assuntos de jurisdição. Reuss abandonou o congresso após o primeiro dia.


C. S. Jones havia abdicado da O.T.O. em 1919, mas continuou a corresponder–se com Reuss e, em 10 de maio de 1921 Reuss designou Jones como X° para os Estados Unidos da América do Norte. Na mesma data designou Heinrich Tränker (Recnartus, 1880 — 1956), que liderava várias organizações esotéricas dentro de um movimento chamado “Pansophia”, como X° para a Alemanha.


Em 30 de julho de 1921 Reuss emitiu outro “Gauge of Amity”, desta vez para H. Spencer Lewis, o fundador da A.M.O.R.C., a organização Rosacruciana baseada em San Jose (Califórnia / EUA). Este documento também reconhecia Lewis como um membro Grau VII° da O.T.O. Crowley havia conhecido Lewis antes, em 1918, na cidade de Nova York, e não ficou impressionado com ele. Reuss retornou à Alemanha em setembro de 1921, estabelecendo–se em Munique. Em 3 de setembro de 1921 Reuss patenteou Carl William Hansen (Kadosh, 1872 — 1936) como X° para a Dinamarca. Em outubro de 1921, dada a abdicação de Dunn, Crowley apontou Frank Bennett (Dionysus, 1868 — 1930) como Vice–Rei da Austrália.


A Sucessão de Crowley

​Há algumas razões para acreditar que Reuss sofreu um ataque na primavera de 1920, mas isto não está inteiramente certo. Crowley escreveu a W. T. Smith em março de 1943:


o antigo O.H.O., após este primeiro ataque de paralisia, entrou em pânico pelo trabalho a ser realizado… Ele rapidamente emitiu diplomas honorários do Sétimo Grau a várias pessoas, algumas das quais não tinham direito a nada e alguns deles eram apenas recursos baratos.


Logo após apontá-lo como seu Vice-Rei para a Austrália, Crowley parece haver correspondido-se com Frank Bennett e discutido com ele suas dúvidas acerca da habilidade de Reuss em, efetivamente, continuar a governar a Ordem. Parece que Reuss descobriu esta correspondência; ele escreveu para Crowley uma furiosa resposta defensiva em 9 de novembro de 1921, na qual ele parecia distanciar-se e à O.T.O. de Thelema, a qual ele havia, como visto acima, abraçado. Crowley respondeu à carta de Reuss em 23 de novembro de 1921 e afirmou em sua carta: “É de minha vontade ser o O.H.O. e Frater Superior da Ordem e espero a sua renúncia – para proclamar-me como tal.” Ele assinou a carta como “Baphomet O.H.O.”. No registro de seu diário de 27 de novembro de 1921 Crowley escreveu: “Eu proclamei a mim mesmo como Frater Superior O.H.O. da Ordem dos Templários Orientais.” Reuss morreu em 28 de outubro de 1923 e.v..Em suas “Confissões” Crowley diz que Reuss “abdicou do título [de O.H.O.] em 1922 em meu favor.” Em uma carta a Heinrich Tränker, datada de 14 de fevereiro de 1925, Crowley escreveu o seguinte:


Reuss era de temperamento incerto, e de muitas formas intratável. Em seus últimos anos ele parece ter perdido completamente seu juízo, chegando a acusar o Livro da Lei de ter tendências comunistas, ideia que não poderia ser mais absurda. Ainda assim parece ter tomado algumas decisões acertadas, como ter apontado a você e a Frater Achad, e designado a mim, em sua última carta, como seu sucessor.


Em uma carta a Charles Stansfeld Jones, datada Sol in Capricornius, Anno XX (12/1924 — 01/1925), Crowley disse: “na última carta do O.H.O. para mim ele convidou–me a ser seu sucessor como O.H.O. e Frater Superior.” A carta de Reuss designando Crowley como seu sucessor como O.H.O. jamais foi encontrada, mas nenhum documento crível surgiu indicando que Reuss havia designado qualquer sucessor alternativo.


A O.T.O. Dirigida por Crowley

Uma Nova Era

​Aleister Crowley atuou como Cabeça Externa da Ordem de 1922 até sua morte em dezembro de 1947. O primeiro ato de Crowley como O.H.O. foi reconfirmar as patentes de Jones e Tränker como Grandes Mestres para a América do Norte e Alemanha, respectivamente. Tränker, por recomendação de Jones, convidou Crowley a formalmente assumir a liderança da O.T.O., bem como de várias outras organizações, incluindo o movimento Pansophico, em uma conferência que ocorreria em Hohenleuben, perto de Weida, no verão de 1925. Os outros participantes da conferência eram: Heinrich e Helene Tränker, Karl Germer (Saturnus, 22/01/1885 — 25/10/1962) — nesta época secretário e editor de Tränker –, Albin Grau, Eugen Grosche, Martha Künzel, Henri Birven, um cavalheiro chamado Hopfer, Crowley e seus associados Dorothy Olsen, Leah Hirsig, Norman Mudd, e outros.


Os resultados desta conferência foram vários. Os participantes ficaram divididos sobre os ensinamentos de Crowley e o Livro da Lei, o qual era largamente desconhecido (apenas recentemente fora traduzido para o Alemão). Ocorreram conflitos pessoais também. Fraulein Künzel e Herr Germer postaram–se ao lado de Crowley. Herrn Tränker, Grau, Hopfer e Birven decidiram manter a Loja Pansophica independente de Mestre Therion. Herr Grosche, originalmente ladeou–se a Crowley, mas ele e Germer brigaram, e Grosche decidiu permanecer independente. Após o fechamento da Loja Pansophica, em 1926, Grosche reagrupou alguns ex–Pansophistas para fundar a Fraternitas Saturni. A Fraternitas Saturni reconheceu o status de Crowley como um profeta e aceitou a Lei de Thelema de uma forma modificada, mas Grosche insistiu em manter–se independente da O.T.O. e sob sua própria autoridade, e não de Crowley. A Fraternitas Saturni ainda atua na Alemanha, Canadá e outros países e não se apresenta como sendo a O.T.O.


Tränker aparentemente tentou obter para si o título de O.H.O. da O.T.O. em 1925, mas parece não ter sido largamente reconhecido como tal e cessou seus esforços neste sentido em 1930, quando ele e H. Spencer Lewis começaram juntos a trabalhar diretamente (mas sem sucesso) para o estabelecimento de um ramo alemão da A.M.O.R.C.


A Loja Agapé

​A Loja Agapé N° 1 foi fundada em 1915, em Vancouver (Colúmbia Britânica/Canadá), sob a autoridade de Jones e Crowley. Nos anos 30, Wilfred Talbot Smith (1885 — 1957), um membro patenteado da Loja Agapé N° 1 mudou–se de Vancouver com instruções de Crowley para trabalhar com Jane Wolfe (1975 — 1958), que havia sido uma estudante de Crowley em Cefalú, de modo a estabelecer a Loja Agapé N° 2 em Los Angeles (Califórnia/EUA). Smith e Wolfe uniram um grupo em Hollywood, Califórnia, e, juntamente com Regina Kahl (1891 — 1945), começaram a celebrar a Missa Gnóstica semanalmente em um domingo, 19 de março de 1933. A Loja Agapé N° 2 teve seu primeiro encontro em 1935. A Loja Agapé contribuiu grandemente com os esforços de Crowley para suas publicações e Crowley apontou Smith (Ramaka) como X° para os E.U.A. Posteriormente a Loja Agapé N° 2 mudou–se para Pasadena, Califórnia, e foi liderada por John W. “Jack” Parsons (Belarion, 1914 — 1952), um respeitado engenheiro químico e pioneiro aeroespacial. Parsons foi um dos fundadores tanto do California Institute of Technology’s Jet Propulsion Laboratory (Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia) quanto do Aerojet General (Laboratóro Aerojato Geral, do Instituto de Tecnologia da Califórnia).


Karl Germer

​Quando a II Guerra Mundial estourou em 1939, as comunicações internacionais foram cada vez mais interrompidas e as viagens de civis eram limitadas. Crowley ficou muito dependente de seus representantes estrangeiros, estando impossibilitado de viajar ele mesmo. Karl Germer, o representante alemão de Crowley, foi preso pela Gestapo e confinado em um campo de concentração nazista por “buscar discípulos para o residente estrangeiro, maçon de alto grau, Crowley”. Solto logo graças aos esforços do cônsul norte–americano, Germer viajou para os Estados Unidos onde, como Grande Tesoureiro Geral e segundo em comando além de Crowley, conduziu vários negócios da O.T.O. Em 14 de março de 1942 Crowley escreveu a Germer: “Devo indicá–lo como meu sucessor como O.H.O. […] Uma completa mudança na estrutura da Ordem e seus métodos é necessária. O segredo é a base, e você deve selecionar cuidadosamente as pessoas.” Os outros ramos europeus da O.T.O. foram grandemente destruídos ou mantidos na contra cultura durante a Guerra. Os ramos latino–americanos da F.R.A. de Krumm–Heller mantiveram um discreto contato com Germer até o princípio da década de ’60.


Ao final da II Guerra Mundial, em 1945, apenas a Loja Agapé em Pasadena, Califórnia, ainda funcionava. Haviam iniciações isoladas da O.T.O. em várias partes do mundo. Apesar de Crowley receber visitas de membros da O.T.O. na Inglaterra nenhum trabalho foi conduzido desde o ataque policial em 1917. As iniciações foram muito raras fora da Califórnia. Krumm–Heller, no México, conduzia iniciações da O.T.O. mas enviou um candidato, Dr.Gabriel Montenegro (Frater Zopiron ou Theophilos) à Califórnia para iniciar–se.


Grady McMurtry

​Durante a II Guerra Mundial, dois membros da O.T.O. Californiana, Grady Loius McMurtry (18/10/1918 — 12/07/1985) e Frederick Mellinger (Merlinus, 1890 — 1970) — originalmente um refugiado da Alemanha nazista — viajaram à Europa em tarefas militares. McMurtry já havia estado lá e visitado Crowley em várias ocasiões. Mellinger visitou Crowley após McMurtry haver retornado aos Estados Unidos.


Houve um bom entendimento entre Crowley e McMurtry, e Crowley respeitou a experiência militar de McMurtry. Em 1943 Crowley pessoalmente conferiu o IX° da O.T.O. à McMurtry e fez dele Grande Inspetor Geral Soberano da Ordem, dando–lhe o nome mágico que usaria a partir de então: Hymenaeus Alfa 777.

Em 1944, Crowley começou a discutir com McMurtry a possibilidade de ele assumir o “Califado”. Crowley escreveu a McMurtry em 28 de setembro de 1944: “Espero que você prefira meu plano para sua carreira como meu Fides Achates, alter ego, Califa & assim por diante.” Em 21 de novembro de 1944 ele escreveu novamente a McMurtry:


“O Califado”. Você deve perceber que não importa o quão intimamente observemos olho–a–olho em qualquer assunto objetivo, eu devo pensar em premissas totalmente diferentes daquelas concernentes à Ordem. Uma das (surpreendentemente poucas) ordens que me foram dadas foi “não confie em um estranho: não falhe com um herdeiro”. Isto tem sido muito maligno para mim. Fr.·. [Saturnus] é, claro, o Califa natural; mas há muitos detalhes acerca da real política ou trabalho que escapam a ele. Em todo caso, ele pode apenas ser um substituto, por causa da sua idade; tenho que procurar seu sucessor. Isto tem sido um Inferno; tantos têm vindo com promessas maravilhosas, apenas para cair nas pedras. […] Mas — e aqui é que você tem perdido meu ponto de todo — eu não penso em você deitado em uma encosta verdejante com adoráveis carneiros, tocando uma flauta! Ao contrário. Sua vida verdadeira, ou “sangramento”, é o tipo de iniciação que busco como base primordial para o Califa. — Para — digamos 20 anos — por isso o Cabeça Externo da Ordem deve, entre outras coisas, ter tido a experiência da guerra como ela realmente é de fato presentemente.


O título “Califa”, ainda que referindo–se de alguma forma ao senso de humor de ambos os homens como uma trocadilho com uma abreviação para “Califórnia” (local de residência de McMurtry e localização da Loja Agapé), provém da palavra árabe Khalifa, significando “delegado”. Foi historicamente utilizada no antigo Islã para designar o sucessor do Profeta, o comandante mundial da Fé Islâmica. O uso por Crowley do termo, aplicado a Germer e McMurtry, era paralelo para a O.T.O..


Em 1946, Crowley incumbiu McMurtry com documentos de autorização emergencial para tomar o controle de todo o trabalho da Ordem na Califórnia, o que incluía o único Corpo funcional da O.T.O. naquela época. Crowley também apontou McMurtry como seu representante pessoal nos E.U.A., cuja autoridade deveria ser considerada como a do próprio Crowley. Estas duas patentes, datadas respectivamente de 22 de março de 1946 e 11 de abril de 1946, necessitavam apenas da aprovação, veto ou revisão de Karl Germer. Germer foi muito bem informado das patentes de McMurtry por Crowley, posto haver comparecido ao encontro da Loja Agapé no qual McMurtry foi–lhe apresentado. Além disto, em uma carta a Germer datada de 19 de junho de 1946, Crowley informava a Germer que “a única limitação de seu [McMurtry] poder na Califórnia é que qualquer decisão que tome está sujeita à sua revisão ou veto” o que removia a necessidade de uma prévia autorização por Germer.


Em seis de junho de 1947 Crowley escreveu a Germer:


Você parece em dúvida quanto à sucessão. Nunca houve quaisquer questão a este respeito. Desde sua reaparição você é o único sucessor em que tenho pensado até este momento. Tenho, de qualquer forma, tido a ideia de que, tendo–se em vista a dispersão de tantos membros, você deveria achar útil apontar um triunvirato para trabalhar sob seu comando. Minha ideia é Mellinger, McMurtry e, eu suponho, Roy [Leffingwell], apesar de eu ter estado um pouco duvidoso em relação à lealdade deste último.


Em 17 de junho de 1947, seis meses antes de sua morte, Crowley escreveu a McMurtry e informou–o de que apesar de Germer ser seu sucessor como Cabeça da O.T.O., McMurtry deveria preparar–se para suceder Germer.


Crowley, apesar de confiar na habilidade de Karl Germer em governar a Ordem como seu sucessor, evidentemente não confiava em sua habilidade de encontrar e designar um sucessor apropriado para si mesmo. No que parece ter sido uma medida de contingência adicional para a possibilidade de McMurtry morrer ou ficar incapacitado, Crowley também avisou a Mellinger para que se mantivesse pronto como um possível sucessor de Germer, em uma carta datada de 15 de julho de 1947. De qualquer forma, Mellinger nunca recebeu os avisos dados a McMurtry e Crowley nunca usou o termo “Califa” em relação a Mellinger.


A O.T.O. Dirigida por Germer

Um Legado a Ser Mantido

​Crowley morreu em 1° de dezembro de 1947 e, de acordo com sua vontade, Karl Germer tornou–se O.H.O. da O.T.O., atuando do final de 1947 até sua morte em 1962. A Loja Agapé continuou no sul da Califórnia até 1949, após o que a Loja cessou seus encontros regulares. Os registros da Loja Agapé, consistindo nas atas das reuniões, cópias da anotações de rituais, listas de membros iniciados em vários graus na O.T.O., correspondência e registros financeiros, foram conservados por Jane Wolfe e vários membros da Loja.


Seguindo–se à morte de Crowley, seu testamento foi executado e os executores começaram a enviar o espólio a Germer. Germer recebeu a maior parte do material do espólio de Crowley e, eventualmente, levou–o consigo para sua residência final em Westpoint (Califórnia/USA).


Germer era um homem quieto e recluso, acima de tudo interessado na publicação dos escritos de Crowley. Vários membros da O.T.O. ajudaram–no neste sentido, mas, ainda que tendo havido a promoção dos já iniciados, nenhuma nova iniciação se deu. Germer notificou McMurtry e outros que a O.T.O. seria incorporada e governada por um triunvirato de oficiais, mas esta incorporação jamais foi efetivada sob a liderança de Germer na O.T.O. Germer patenteou um Acampamento inglês da O.T.O. sob a direção de Kenneth Grant (nas. 1924), um membro de grau III°, mas fechou o Acampamento e expulsou Grant da O.T.O. em 20 de julho de 1955, quando descobriu que Grant havia associado–se à Fraternitas Saturni de Grosche, havia circulado um manifesto para uma nova loja da O.T.O. sob a reunida autoridade de Germer e Grosche, e havia começado a modificar os rituais da O.T.O. sem dar notícia a Germer.


Germer também tomou interesse pelos esforços de Hermann Metzger (Paragranus, 1919 — 1990) na Suíça. Metzger era um estudante de um dos membros sobreviventes da seção suíça de Reuss da O.T.O., chamado Felix Lazerus Pinkus (1881 — 1947), mas sem ligações com a O.T.O. de Crowley. Germer pediu a Mellinger que supervisionasse a regularização de Metzger dentro da O.T.O. de Crowley, mas Germer e Metzger caíram em discórdia ao final da vida de Germer. Frederic Mellinger escreveu, após a morte de Germer, que Metzger havia falhado em seguir o programa de instruções estabelecido para ele por Germer sob a tutela de Mellinger. De acordo com uma fonte, Metzger alegava ter patenteado Gabriel Montenegro como X° para os Estados Unidos. De qualquer forma, Montenegro nunca alegou tal autoridade e jamais mencionou quaisquer nomeação de Metzger para seus colegas da O.T.O. nos E.U.A.


Os membros da O.T.O. na Califórnia buscaram ativamente influenciar Germer para que este reabrisse o acesso das pessoas à O.T.O. Foi expressado em correspondências a preocupação de que a não iniciação de novos membros da O.T.O. resultaria na completa dissolução da Ordem. Em 1959, McMurtry foi chamado a uma reunião em Los Angeles, à qual os membros da Loja Agapé e outros foram convidados, com o propósito de tentar criar uma frente unificada para pressionar Karl Germer em retomar iniciações da O.T.O. McMurtry estava pronto a invocar as autorizações dadas a ele por Crowley para dar suporte à sua ideia. Dr. Montenegro opôs–se à ideia e os outros não lhe deram nenhum suporte; a ideia foi abandonada. Montenegro escreveu a McMurtry em 21 de novembro de 1960 para documentar sua oposição à ideia.


Germer autorizou McMurtry a formar um núcleo de um novo acesso público à O.T.O., mas Germer e McMurtry discordaram acerca de um empréstimo pessoal e outros assuntos. Quaisquer diferenças que tivessem, jamais houve a mínima sugestão de que Germer tenha considerado vetar ou revisar as patentes dadas a McMurtry por Crowley. McMurtry perdeu seu emprego na Califórnia devido a problemas de saúde e mudou–se para Washington (E.U.A., capital) em março de 1961. Lá ele lecionou Ciências Políticas na George Washington University (Universidade George Washington) enquanto trabalhava como analista para o governo norte–americano. Também dirigiu a Washington Shakespeare Society (Sociedade Shakespeare de Washington).


Interregnum

Dificuldades

​Germer morreu em 25 de outubro de 1962 sem designar um sucessor. O testamento de Germer nomeava sua esposa, Sascha, e Frederick Mellinger como os executores de seu espólio, na forma de propriedade mantida para a O.T.O. Sascha era uma senhora de idade avançada com a mente já comprometida, afastada dos membros remanescentes da O.T.O. na Califórnia. O espólio de Germer nunca foi avaliado. Alguns membros graduados, incluindo Grady McMurtry, não foram notificados da morte de Germer por vários anos, causando um grande atraso antes que a questão da sucessão na liderança da O.T.O. fosse resolvida apropriadamente.


Metzger, na Suíça, publicou uma alegação de ser o Cabeça Externa da Ordem, baseada em uma eleição particular que teria se dado no dia seis de janeiro de 1963, na própria Suíça. Membros graduados da O.T.O. de fora da Suíça, inclusive Frederick Mellinger, que havia sido indicado por Germer como mentor de Metzger, não haviam sido informados da suposta eleição de Metzger até esta alegação. Uma cópia do manifesto de Metzger foi enviada a Wilfred Smith, que estava morto desde 1957. Metzger não foi aceito amplamente como Cabeça da Ordem fora de seu próprio grupo. Sascha fez uma tentativa de enviar o material de Germer da O.T.O. para Metzger mas foi impedida por uma carta de Mellinger datada de 25 de setembro de 1963, que denunciava Metzger como uma fraude. Metzger, posteriormente, incorporou seu sistema de O.T.O. como parte de uma nova organização de sua própria formação, a Ordo Illuminatorum, a qual pretendia ser um reviver da ordem dos Illuminati. Metzger morreu em 1990.

Kenneth Grant (n. 1924) também tentou alegar ser o Cabeça Externa da Ordem; mas ele havia sido anteriormente expulso por Germer. Grant colocou em disputa sua expulsão, alegando que jamais havia reconhecido Karl Germer como Cabeça da O.T.O. Mesmo assim, os próprios escritos de Grant nos anos 50, em particular o manifesto da Loja Nova Ísis, referem–se a Frater S (Saturnus, i. e. Karl Germer) como cabeça internacional da O.T.O. A organização de Grant diz que a O.T.O. cessou de ser uma organização de membros no sentido tradicional de ter Lojas e conferir graus cerimonialmente. A organização de Grant também ignora a Missa Gnóstica, que é, de acordo com Crowley, “a cerimônia central das celebrações públicas e particulares [da O.T.O.].”


A O.T.O. Dirigida por McMurtry

Tempo de Expansão

​Quando McMurtry apercebeu-se da condição crítica na qual havia caído a Ordem após a morte de Germer, ele foi impelido a utilizar seus documentos de emergência dados por Crowley e assumir o título de “Califa da O.T.O.”, tal como especificado nas cartas de Crowley para ele na década de 40. Para as duas testemunhas que ele acreditava necessárias para tal ato, escolheu o Dr. Israel Regardie (1907 – 1985) e Gerald Yorke (1901 – 1983). McMurttry referiu-se a estes dois como os “Olhos de Hórus”, como os dois mais proeminentes estudantes de Crowley sobreviventes. Ele avisou-os de seus planos de reconstruir a O.T.O. usando as cartas-patentes de Crowley e requisitou sua ajuda, a qual foi oferecida.


McMurtry completou a ativação de seu Califado em junho de 1969, com um carta ao suíço Hermann Metzger.Após a ativação do Califado, os restantes membros da O.T.O. dos anos de Crowley e Germer foram convidados a unir–se a McMurtry de modo a continuar as operações regulares da O.T.O. Nesta época havia menos que uma dúzia de membros sobreviventes da antiga O.T.O. nos Estados Unidos. Soror Meral, Soror Grimaud, Mildred Burlingame e Gabriel Montenegro colocaram seu desejo de ver a O.T.O. aberta ao público em geral. Ray Burlingame havia morrido alguns anos atrás e o Dr. Montenegro morreu em 14 de julho de 1969, antes que um encontro organizacional pudesse ser consumado. Frederick Mellinger havia restabelecido contatos com a Sociedade Teosófica e estava, essencialmente, inativo na O.T.O. desde, aproximadamente, 1956, exceto por sua carta bloqueando o envio dos bens de Germer a Metzger em 1963. Mellinger morreu em 29 de agosto de 1970. Em 1969 e 1970 McMurtry, Burlingame e as Sorores Meral e Grimaud começaram a efetuar iniciações. Em 28 de dezembro de 1971 a Ordo Templi Orientis Association (Associação Ordo Templi Orientis) estava registrada no Estado da California como uma entidade legal.


Sacha Germer morreu em abril de 1975 e em 1976, quando sua morte tornou–se conhecida, a O.T.O. Association obteve uma ordem judicial para que lhe fossem entregues os arquivos da O.T.O. remanescentes que estavam ainda sob sua custódia. Esta ordem foi executada, reconhecendo–se Grady McMurtry como representante autorizado da O.T.O., pela Corte Suprema do Condado de Calaveras, estado da Califórnia (E.U.A.), datada de 27 de julho de 1976.


Dirigida por McMurtry, como Califa ou Cabeça atuante da O.T.O., várias tentativas foram feitas para se atraírem novos membros para a O.T.O. e para tornar a Ordem conhecida pelo público. Em 1970, a O.T.O. publicou as cartas do Tarot de Thoth, ilustradas por Lady Frieda Harris, pelo endereço de Dublin (Califórnia/E.U.A.) A resposta foi lenta, mas alguns poucos novos membros foram iniciados através dos esforços centrados em Dublin, no Colégio deThelema, e em São Francisco (Califórnia/ E.U.A.), na Kaaba Clerk House. A atividade em São Francisco colapsou e um dos novos membros abdicou. A atividade continuou por dois anos em Dublin e então foi transferida pra Berkeley (Califórnia/E.U.A.).


Em 1977, McMurtry manteve iniciações da O.T.O. em sua casa, em Berkeley e começou um grupo lá. A O.T.O. foi colocada sob as leis do Estado da Califórnia em 26 de março de 1970 e.v.. Aqueles que alegavam ser membros ou eram conhecidos como membros antigos foram comunicados da formação desta nova corporação e foi–lhes dado um período para requererem a permanência como membros, de acordo com o precedente anterior estabelecido por Karl Germer. A corporação foi colocada sob as leis de taxação norte–americanas como entidade religiosa em 1982.


Desafios na Corte

Este caso foi decidido em favor da Samuel Weiser, Inc. pela Corte do Distrito do Maine (E.U.A.). O juiz deu o parecer de que não haviam provas legais das representações de Motta concernentes à O.T.O. A O.T.O., enquanto dirigida por McMurtry, não era parte deste caso e não foi um fator neste julgamento.Durante os processos em Maine, a O.T.O. emprestou a Motta um terno para ser utilizado na Corte do 9a Corte Distrital Federal de São Francisco. O caso de São Francisco foi concluído em 1985 com Motta perdendo novamente. A O.T.O. dirigida por McMurtry foi reconhecida pela Corte como sendo a continuação da O.T.O. de Aleister Crowley e detentora exclusiva dos nomes, marcas, direitos autorais e outros direitos da O.T.O. McMurtry foi reconhecido como o líder legítimo da O.T.O. dentro dos Estados unidos. A decisão da 9ª Corte também reconhecia legalmente a O.T.O. dirigida por McMurtry como uma entidade com membros. Esta decisão foi apelada e levada à frente. Grady McMurtry morreu em 12 de julho de 1985, seguindo a decisão original da 9a Corte, mas o processo de apelação estabeleceu que a O.T.O. continuaria como uma corporação.


A O.T.O. Hoje

Atualidade

​Mais do que designar um sucessor, McMurtry desejava que seu sucessor fosse designado pelo Soberano Santuário da O.T.O. após sua morte. A eleição deu–se em 21 de setembro de 1985, com a participação dos dois membros restantes da Loja Agapé, e Frater Hymenaeus Beta foi eleito para sucessor de Frater Hymenaeus Alpha como Califa e O.H.O. atuante da O.T.O. Hymenaeus Beta continua em seu cargo até hoje.


No princípio de 1996, uma nova corporação foi fundada para tratar dos trabalhos da Grande Loja da O.T.O. nos Estados Unidos, enquanto a corporação já existente foi reorganizada como International Headquarters (Quartel–General Internacional) da O.T.O. Em 30 de março de 1996, Sabazius X° foi indicado como Grande Mestre Geral Nacional para a Grande Loja norte–americana.


Créditos

Agradecimentos

​Além do material de arquivo da O.T.O., o material publicado pelos seguintes protagonista e pesquisadores Históricos foi consultado enquanto se preparava este ensaio: Calvin C. Burt, W.B. Crow, Isaac Blair Evans, Antoine Faivre, S.E. Flowers, René Le Forestier, Joscelyn Godwin, Dr. J.A. Gottlieb, Ellic Howe, Francis King, Peter–Robert König, Helmut Möller, William G. Peacher, M.D., Martin P. Starr, John Symonds, M. McBlain Thomson, A.E. Waite, James Webb, e John Yarker.


Os seguintes indivíduos providenciaram substancial assistência na forma de informações Históricas e/ou críticas: William Breeze, Martin P. Starr, Parsival Krumm–Heller, Soror Meral, Soror Grimaud, Lon Milo DuQuette, James T. Graeb, Bjarne Salling Pedersen, e P.–R. König.


Notas

A Irmandade Hermética da Luz era uma sociedade mística que alegava descender dos corpos maçônicos/rosacruzes austríacos conhecidos como Fratis Lucis. A Fratis Lucis, também conhecido como a Irmandade Asiática ou a Irmandade Iniciada das Sete Cidades da ásia era derivada da antiga Ordem da Cruz Dourada e Rósea alemã. A Irmandade Hermética da Luz também parece ter possuído conexões com a Irmandade Hermética de Luxor, que era uma sociedade mística que alcançou algum conhecimento público na Inglaterra, em 1884 sob os auspícios de Max Theron (também conhecido comoLouis-Maximilian Bimstein, 1850 – 1927). As origens da I.H.L. não são claras mas há alguma evidência conectando-a à Irmandade de Luxor, que esteve envolvida com a fundação da Sociedade Teosófica bem como da supramencionada Fratris Lucis e com o espiritualismo inglês do Séc. XIX.

Nascido na Polônia, Theon viajou largamente em sua juventude. No Cairo tornou-se discípulo de um mago copta chamado Paulos Metamon. Theon foi para a Inglaterra em 1870, onde foi recrutado pelo lutierPeter Davidson (1842 – 1916) para estabelecer um “círculo externo” da I.H.L.. Eles uniram-se em 1883 por conta de Thomas H. Burgoyne (também conhecido como Thomas Dalton, 1855 – 1895), que posteriormente escreveu um livro resumindo os ensinamentos básicos da I.H.L., chamado “A Luz do Egito”. A função deste “círculo externo” da I.H.L. era oferecer um curso por correspondência de ocultismo prático; o que seria mantido fora da Sociedade teosófica. Seu currículo incluía algumas seleções dos escritos de Hargrave Jennings e de Paschal Beverly Randolph.

P. B. Randolph (08/10/1825 – 29/06/1875) foi um conhecido médium, curandeiro e escritor, contando entre seus amigos pessoais Abraham Lincoln, Hargrave Jennings, Kenneth McKenzie, Eliphas Levi, Napoleão III, Edward Bulwer-Lytton e o general Ethan A. Hitchcock. A Ordem de Randolph alegava descender da Ordem Rosacruciana (por patente da “Suprema Grande Loja da França”) e ensinava curas espirituais, ocultismo oriental e princípios da regeneração da raça através da espiritualização do sexo.

Yarker foi eleito Grande Mestre Soberano Absoluto para o Rito Oriental de Mizrain em 1871. Ele foi feito Grande Mestre 96° do Soberano Santuário do Antigo e Primitivo Rito de Menphis para a Inglaterra porHarold J. Seymour em oito de outubro de 1872. Seymour recebeu suas cartas-patentes de Jacques Etienne Marconis de Negre em 21 de junho de 1862. Yarker recebeu cartas-patentes do Antigo e Aceito Rito Escocês de Cernau de Theo. H. Tebbs, do Supremo Grande Conselho Combinado do Canadá deste Rito em 12 de janeiro de 1884. Yarker foi eleito Grande Hierofante Imperial 97° do Rito de Menphis em 11 de novembro de 1902.

Os que participaram do congresso foram: Theodor Reuss (representando o Soberando Santuário dos Ritos de Memphis e de Mizraim na Alemanha, o Grande Oriente do Rito Escocês na Alemanha e a Grande Loja Nacional os Ritos Unidos Escocês, de Memphis e de Mizraim para a Grã-Bretanha e Irlanda), H.R. Hilfiker, R. Merlitschek, e M. Bergmaier (representando Grande Oriente do Rito Escocês na Suíça [basedo em uma patente de Reuss Charter datada de 10 de maio de 1919]), Dr. E. Pargaetzi (representando o Soberano Santuário dos Ritos Unidos Escocês, de Memphis e de Mizraim para a França); A. Spilmer (representando a Grande Loja da Colômbia), H. Schütz (representando o Príncipe Alexander da Grécia, Grande Protetor da Maçonaria Grega); John Anderson (representando a Grande Loja Nacional da Escócia); e Matthew McBlain Thomson (representando a Federação Maçônica Americana, a Grande Loja de Washingon e a Grande Oriente de Cuba).

Este texto é uma tradução do original de Frater Sabazius X°, que se encontra no site da Grande Loja dos EEUU.