sábado, 2 de novembro de 2024

Thelema - Liber LXV vel Cordis Cincti Serpente

 

A∴A∴
Publicação em Classe A

sub figūrā אדני

«Traduzido por Marcelo Ramos Motta.»

I
1. Eu sou o Coração; e eis a Cobra enroscada
Da mente em volta ao cór do qual não se vê nada.
Ó minha cobra, sobe! Está chegada a hora
Da flor velada e santa. Ó minha cobra, aflora!
Sobe com esplendor que fulge e que retumba
No cadáver de asar que flutua na tumba!
Ó coração de mãe, de irmã, coração meu
Tu és jogado ao Nilo; Tifon, ele é teu!
Ah me! Porém a glória e fúria da tormenta
Enfaixa-te de força, em forma te acalenta
Aquieta-te, Ó minha alma! A fim que suma o encanto
Ao erguer dos condões, findo aeon; novo, e santo!
Vê! que belo que sou, que alegre assim Te faço,
Ó Cobra que me envolves no tempo e no espaço!
Vê! Nós somos um só, e o vendaval de arroube
Vai, desce no poente, e o Escaravelho sobe.
Ó Kephra! Teu zumbido, a nota pura e santa,
Seja sempre o só trance e voz desta garganta!
Eu aguardo a alvorada! O chamado do Pai,
O Senhor Adonai, o Senhor Adonai!

2. Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Deve haver sempre divisão na palavra.

3. Pois as cores são muitas, mas a luz é uma.

4. Portanto tu escreves aquilo que é de esmeralda-mãe, e de lápis-lazúli, e de turquesa, e de alexandrita.

5. Outro escreve as palavras de topázio, e de profundo ametista, e de safira cinza, e de profundo safira com um toque como que de sangue.

6. Portanto vós vos afligis por causa disto.

7. Não vos contenteis com a imagem.

8. Eu que sou a Imagem de uma Imagem digo isto.

9. Não discutais a imagem, dizendo Além! Além!

Sobe-se à Coroa pela lua e pelo Sol, e pela seta, e pelo Fundamento, e pelo escuro lar das estrelas partindo da terra negra.

10. Não de outra forma podeis vós atingir a Ponta Polida.

11. Nem está bem que o sapateiro tagarele do assunto Real. Ó sapateiro! conserta-me este sapato, para que eu possa andar. Ó rei! Se eu for teu filho, falemos da Embaixada ao Rei teu Irmão.

12. Então houve silêncio. A fala nos deixará por algum tempo.

Existe uma luz tão estrênua que não é percebida como luz.

13.O acônito não é tão agudo quanto o aço; no entanto fere o corpo mais sutilmente.

14. Tal como beijos malignos corrompem o sangue, assim minhas palavras devoram o espírito do homem.

15. Eu respiro, e há infinito desassossego no espírito.

16. como um ácido corrói o aço, como um câncer que corrompe por completo o corpo, assim sou Eu para o espírito do homem.

17. Eu não descansarei até que o tenha dissolvido todo.

18. Assim também a luz que é absorvida. Um absorve pouca, e é chamado branco e reluzente; um absorve toda e é chamado negro.

19. Portanto, Ó meu querido, tu és negro.

20. Ó meu lindo, Eu te tornei semelhante a um retinto escravo núbio, um menino de olhos tristes.

21.Ó o cão! O imundo! eles gritam contra ti.

Porque tu és meu bem-amado.

22. Felizes aqueles que te elogiam; pois eles te veem com Meus olhos.

23. Não em volta alta eles te elogiarão; mas na guarda noturna um se aproximará furtivamente e te dará o aperto secreto; outro em privado te coroará com uma coroa de violetas; um terceiro ousará grandemente, e beijará com lábios loucos os teus.

24. Sim! a noite cobrirá tudo, a noite cobrirá tudo.

25. Tu Me procuraste longamente; tu correste tanto avante que Eu não pude te alcançar.

Ó tu querido tolo! De que amargura te coroaste os dias.

26. Agora Eu estou contigo; Eu jamais deixarei ser.

27. Pois Eu sou aquela macia, sinuosa, enroscada em volta tua, coração de ouro!

28. Minha cabeça, está adereçada com doze estrelas; Meu corpo é branco como leite das estrelas; brilha com o azul do abismo de estrelas invisível.

29. Eu achei aquilo que não podia ser achado; Eu achei um vaso de mercúrio.

30. Tu instruirás teu servo em seus caminhos, tu falarás muito com ele.

31. (O escriba olha para cima e grita) Amem! Tu o disseste, Senhor Deus!

32. Adonai falou mais a V.V.V.V.V. e disse:

33. Deleitemo-nos na multidão dos homens!

Construamos deles um bote de madrepérola para nós, a fim de navegarmos no rio de Amrit!

34. Tu vês aquela pétala de amaranto soprada pelo vento das baixas, doces sobrancelhas de Hathor?

35. (O Magister viu-a, e regozijou-se na beleza dela.) Escuta!

36. (De um certo mundo veio um lamento infinito.)

Aquela pétala caindo pareceu aos pequeninos uma onda para engolir seu continente.

37. Assim eles recriminarão teu servo, dizendo: Quem te encarregou de nos salvar?

38. Ele sofrerá muito.

39. Todos eles não compreendem que tu e Eu estamos fazendo um bote de madrepérola. Nós desceremos o rio de Amrit até os bosques de teixos de Yama, onde podemos nos regozijar extremamente.

40. A alegria dos homens será o nosso brilho prateado, a tristeza deles será o nosso brilho azulado – tudo na madrepérola.

41. (O escriba se enraiveceu com isto. Ele disse:

Ó Adonai e meu mestre, eu tenho carregado o tinteiro e a pena sem salário, a fim de que eu pudesse buscar esse rio de Amrit, e navegar nele como um de vós. Isto eu exijo como paga, que eu partilhe do eco de vossos beijos.)

42. (E imediatamente lhe foi isto concedido.)

43. (Não; mas não com isto ele se contentou. Por um infinito rebaixamento em vergonha ele se esforçou. Então uma voz:)

44. Tu te esforças sempre; mesmo em te entregando tu te esforças por entregar-te – e vê! Tu não te entregas.

45. Vai aos lugares mais externos e submete todas as coisas.

46. Submete teu medo e teu desgosto. Então – entrega-te!

47. Houve uma virgem que andava a esmo no trigal, suspirando; então nasceu algo novo, um narciso, e nele ela esqueceu seu suspiro e sua solidão.

48. No mesmo instante Hades se abateu sobre ela e possuiu-a e a levou.

49. (Então o escriba conheceu o narciso em seu coração; mas como não lhe subia aos lábios, ele envergonhou-se e se calou.)

50. Adonai falou uma vez ainda com V.V.V.V.V. e disse:

A terra está madura para a vindima; comamos de suas uvas, e embriaguemo-nos com elas.

51. E V.V.V.V.V. respondeu e disse: Ó meu senhor, meu pombo, meu excelso, como parecerá esta palavra às crianças dos homens?

52. E Ele respondeu-lhe: Não qual podes ver.

É certo que cada letra desta cifra tem algum valor; mas quem determinará o valor? Pois varia sempre, de acordo com a sutileza d’Aquele que a fez.

53. E Ele respondeu-lhe: Não tenho Eu a chave da cifra?

Eu estou vestido com o corpo de carne; Eu sou um com o Eterno e Onipotente Deus.

54. Então disse Adonai: Tu tens a Cabeça do Falcão, e teu Falo é o Falo de Asar. Tu conheces o branco, e tu conheces o negro, e tu sabes que estes são um. Mas por que buscas tu o conhecimento da equivalência deles?

55. E ele disse: Para que minha Obra possa ser correta.

56. E Adonai disse: O segador forte e moreno varreu a sua ceifa, e regozijou-se. O homem sábio contou seus músculos, e ponderou, e não compreendeu, e ficou triste.

Sega tu, e regozija-te!

57. Então o Adepto alegrou-se, e levantou seu braço.

Vede! um terremoto, e praga, e terror sobre a terra!

Uma queda daqueles que sentavam em lugares elevados; uma fome sobre a multidão!

58. E a uva caiu madura e rica em sua boca.

59. Manchada está a púrpura da tua boca, Ó brilhante, com a glória branca dos lábios de Adonai.

60. A espuma da uva é como a tormenta sobre o mar; os navios tremem e sacodem-se; o capitão está com medo.

61. Isso é a tua embriagues, Ó santo, e os ventos rodopiam a alma do escriba para dentro do porto feliz.

62. Ó Senhor Deus! que o porto caia na fúria da tormenta! Que a espuma da uva tinja minha alma com Tua luz!

63. Bacchus envelheceu, e foi Silenus; Pan sempre foi Pan, para sempre e sempre mais, através dos aeons.

64. Intoxica o mais íntimo, Ó meu amante, não o mais externo.

65. Assim foi – sempre o mesmo! Eu mirei à baqueta pelada de meu Deus, e eu atingi; sim, eu atingi.

II
1. Eu entrei na montanha lápis-lazúli, mesmo como um falcão verde entre os pilares de turquesa que está sentado sobre o trono do Oriente.

2. Assim cheguei a Duant, a habitação das estrelas, e ouvi vozes que gritavam alto.

3. Ó Tu que sentas sobre a Terra! (Assim me falou uma certa Figura Velada) tu não és maior que tua mãe! Tu grão de pó infinitésimo!

Tu és o Senhor da Glória, e o cão imundo.

4. Descendo, mergulhando minhas asas, eu cheguei às habitações de escuro esplendor. Lá, naquele abismo informe, fui eu feito um comungante dos Mistérios Invertidos.

5. Eu sofri o abraço mortal da Cobra e do Bode; eu prestei a homenagem infernal à vergonha de Khem.

6. Nisto havia esta Virtude, que o Um tornou-se o todo.

7. Além disto, eu tive a visão de um rio. Nele havia um botezinho; e neste, sob velas de púrpura, estava uma mulher dourada, uma imagem de Asi lavrada do ouro mais fino. Também, o rio era de sangue, e o bote de aço brilhante. Então eu a amei; e, desatando meu cinturão, atirei-me à correnteza.

8. Eu recolhi-me ao botezinho, e durante muitos dias e noites eu a amei, queimando lindo incenso diante dela.

9. Sim! Eu lhe dei da flor da minha juventude.

10. Mas ela não se moveu; apenas, pelos meus beijos eu a conspurquei tanto que ela enegreceu perante mim.

11. Entretanto eu a adorei, e dei-lhe da flor da minha juventude.

12. Também aconteceu que através disto ela adoeceu, e corrompeu-se diante de mim. Quase me atirei à correnteza.

13. Então, no fim marcado, seu corpo era mais branco que o leite das estrelas, e sua boca rubra e quente como o ocaso, e sua vida de um branco em brasa como o calor do sol do meio-dia.

14. Então ela se ergueu do abismo de Idades de Sono, e eu seu corpo me abraçou. Eu me derreti por completo em sua beleza, e alegrei-me.

15. Também o rio tornou-se o rio de Amrit, e o botezinho era a carruagem da carne, e suas velas o sangue do coração que me carrega, que me carrega.

16. Ó mulher serpente das estrelas! Eu, mesmo eu, Te fiz de uma pálida imagem de ouro fino.

17. Também o Santo veio sobre mim, e eu vi um cisne branco flutuando no azul.

18. Entre suas asas eu me sentei, e os aeons fugiram.

19. Então o cisne voou, e mergulhou, e subiu; no entanto não fomos alhures.

20. Um meninote louco que montava comigo falou ao cisne e disse:

21. Quem és tu que flutuas e voas e mergulhas e sobes no inano? Vê, todos estes aeons passaram; de onde vens tu? Aonde vais?

22. E rindo eu lhe ralhei, dizendo: Não há de onde! Não há aonde!

23. O cisne não falando, ele respondeu: Então, se não há fito, para quê esta jornada eterna?

24. E eu reclinei minha cabeça contra a Cabeça do Cisne, e ri-me, dizendo: Não há alegria inefável neste voo sem fito? Não há cansaço e impaciência para quem quereria alcançar algum alvo?

25. E o cisne permaneceu silente. Ah! Mas nós flutuamos no infinito Abismo. Alegria! Alegria!

Cisne branco, sustenta-me sempre entre as tuas asas!

26. Ó silêncio! Ó raptura! Ó fim das coisas visíveis e invisíveis! Tudo isto é meu, que Não sou.

27. Deus Radiante! Deixa que eu faça uma imagem de ouro e gemas para Ti! para que o povo possa derrubá-la e espezinhá-la em pó! Para que a Tua glória seja vista deles.

28. Nem será dito nos mercados que eu cheguei quem deveria vir; mas Tua vinda será a palavra única.

29. Tu Te manifestarás no imanifesto; nos lugares secretos os homens te encontrarão, e Tu os conquistarás.

30. Eu vi um jovem pálido e triste deitado sobre o mármore à luz do sol, chorando. A seu lado estava o alaúde esquecido. Ah! mas ele chorava.

31. Então veio uma águia do abismo de glória e cobriu-o com sua sombra. Tão negra era a sombra que ele ficou invisível.

32. Mas eu ouvi o alaúde tocando vivamente através do ar azul e quieto.

33. Ah! Mensageiro do Bem-Amado, cobre-me com a Tua sombra!

34. Teu nome é Morte, talvez; ou Vergonha, ou Amor.

Contanto que me tragas novas do Bem-Amado, não perguntarei teu nome.

35. Onde está agora o Mestre? gritam os loucos meninotes.

Ele está morto! Ele está envergonhado! Ele está casado! E sua zombaria dará volta ao mundo.

36. Mas o Mestre terá tido a sua recompensa.

O riso dos zombadores será um corrupio no cabelo do Bem-Amado.

37. Vê! O Abismo da Grande Profundeza.

Ali está um pujante golfinho, fustigando seus lados com a força das ondas

38. Ali está também uma harpista de ouro, tocando infinitas melodias.

39. Então o golfinho deleitou-se nelas, e deixou seu corpo, e se tornou uma ave.

40. O harpista também pôs de lado sua harpa, e tocou melodias infinitas na Flauta de Pan.

41. Então a ave desejou muito esta alegria, e depondo suas asas, tornou-se um fauno na floresta.

42. O harpista também depôs sua flauta de Pan, e com a voz humana cantou suas melodias infinitas.

43. Então o fauno encantou-se, e foi-lhe atrás muito longe; por fim o harpista calou-se, e o fauno virou Pan no meio da primal floresta da Eternidade.

44. Tu não podes encantar o golfinho com silêncio, Ó meu profeta!

45. Então o adepto foi arrebatado em dita, e o além da dita, e excedeu o excesso do excesso.

46. Também seu corpo tremeu e cambaleou com a carga daquela dita, e daquele excesso, e daquele ultimal inominável.

47. Eles gritaram Ele está ébrio ou Ele está louco ou Ele sente dor ou Ele está a ponto de morte; e ele não os ouviu.

48. Ó meu Senhor, meu bem-amado! Como hei de compor cantos, quando até a memória da sombra da tua glória é uma coisa além de toda música da fala ou do silêncio?

49. Vê! eu sou um homem. Mesmo uma criancinha poderia não Te suportar. E então!

50. Eu estava só num grande parque, e junto a um certo outeiro estava um anel de relva profunda esmaltada onde uns vestidos de verde, lindíssimos, brincavam.

51. Em seu brinquedo eu cheguei até mesmo à terra do Sono Encantando.

Todos os meus pensamentos estavam vestidos de verde; lindíssimos eram eles.

52. A noite inteira eles dançaram e cantaram; mas Tu és a manhã, Ó meu querido, minha serpente que Te enroscas em redor deste coração.

53. Eu sou o coração, e Tu a serpente. Aperta mais teus anéis em volta minha, para que nem luz nem dita possam penetrar.

54. Arrebenta-me em sangue, como uma uva sobre a língua de uma branca jovem Dórica que enlanguesce ao luar com seu amante.

55. Então que o Fim desperte. Longo tempo tu dormiste, Ó grande Deus Terminus! Longamente tu esperaste no fim da cidade e das estradas destas.

Acorda Tu! Não esperes mais!

56. Não, Senhor! mas eu cheguei a Ti. Sou eu que espero enfim.

57. O profeta gritou contra a montanha: vem tu aqui, para que eu possa falar-te!

58. A montanha não se moveu. Portanto foi o profeta até à montanha, e falou-lhe. Mas os pés do profeta ficaram cansados, e a montanha não lhe ouviu a voz.

59. Mas eu clamei alto por Ti, e eu viajei em busca Tua, e de nada me valeu.

60. Eu esperei com paciência, e Tu estavas comigo desde o início.

61. Isto agora eu sei, Ó meu amado, e nós estamos deitados à vontade entre os vinhais

62. Mas estes teus profetas; eles devem gritar alto e fustigar-se; eles devem cruzar desertos virgens e oceanos insondados; esperar por Ti é o fim, não o princípio.

63. Que escuridão cubra a escrita! Que o escriba se vá em seus caminhos.

64. Mas tu e Eu estamos deitados à vontade entre os vinhais; o que é ele?

65. Ó Tu Bem-Amado! não existe um fim? Não, mas existe um fim. Acorda! levanta-te! cinge teus membros, Ó tu corredor; leva a Palavra às cidades pujantes, sim, às cidades pujantes.

III
1. Em verdade e Amém! Eu passei pelo mar profundo, e pelos rios de água corrente que ali abundam, e eu cheguei à Terra Sem Desejo.

2. Onde estava um unicórnio branco com uma coleira de prata, na qual estava gravado o aforisma Linea viridis gyrat universa.

3. Então a palavra de Adonai veio a mim pela boca do Magister meu, dizendo: Ó coração que estas cingido com os anéis da velha cobra, levanta-te à montanha da iniciação!

4. Mas eu lembrei-me. Sim, Than, sim, Theli, sim, Lilith! Estas três me cingiam de há muito. Pois elas são uma.

5. Linda eras tu, Ó Lilith, tu mulher-serpente!

6. Eras esguia e teu gosto uma delícia, e teu perfume era de almíscar misturado de ambergris.

7. Tu apertavas o coração com teus anéis, e isso era como a primavera da alegria.

8. Mas eu vi em ti uma certa mancha, mesmo naquilo em que me deleitava.

9. Eu vi em ti a mancha de teu pai o macaco, do teu avô o Verme Cego do Lodo.

10. Eu olhei no Cristal do Futuro, e vi o horror do teu Fim.

11. Mais, eu destruí o tempo Passado, e o tempo Vindouro – não tinha eu o Poder da Ampulheta?

12. Mas mesmo na hora eu vi corrupção.

13. Então eu disse: Ó meu amado, Ó Senhor Adonai, eu te rogo que desfaças as roscas da serpente!

14. Mas ela estava apertada em volta minha, de modo que minha Força era impedida em seu começo.

15. Também eu orei ao Deus Elefante, o Senhor dos Começos, que derruba obstrução.

16. Estes deuses vieram prontamente em minha ajuda. Eu os vi; eu me uni a eles; eu me perdi em sua vastidão.

17. Então eu me percebi cingido pelo Infinito Círculo de Esmeralda que circunda o Universo.

18. Ó Serpente de Esmeralda, Tu não tens tempo Passado, nem tempo Vindouro. Em verdade, Tu não és.

19. Tu és gostosa além do tato e do sabor, Tu não podes ser vista de glória, Tua voz está além da Fala e do Silêncio e da Fala do Silêncio, e Teu perfume é de puro ambergris, que não é de se pesar contra o mais fino do ouro fino.

20. Também Tuas roscas são de infinito alcance; o Coração que Tu encercas é um Coração Universal.

21. Eu, e Mim, e Meu, estavam sentados com alaúdes na praça de mercado da grande cidade, a cidade das violetas e das rosas.

22. A noite caiu, e a música dos alaúdes parou.

23. A tempestade rugiu, e a música dos alaúdes parou.

24. A hora passou, e a música dos alaúdes parou.

25. Mas Tu és a Eternidade e o Espaço; Tu és Matéria e Movimento; e Tu és a negação de tudo isso.

26. Pois não existe Símbolo de Ti.

27. Se eu digo Subi sobre as montanhas! as águas celestiais fluem ao meu comando. Mas tu és a Água além das águas.

28. O rubro coração triangular foi colocado em Teu templo; pois os sacerdotes desprezaram igualmente o templo e o deus.

29. No entanto o tempo todo tu ali oculto estavas, como o Senhor do Silêncio está oculto nos botões do lotus.

30. Tu és Sebek o crocodilo contra Asar; tu és Mati, o Assassino no Profundo. Tu és Tifon, a Fúria dos Elementos, Ó Tu que transcendes as Forças em seu Concurso e Coesão, em sua Morte e Disrupção. Tu és Piton, a terrível serpente em volta do fim de todas as coisas!

31. Eu me virei três vezes em todas as direções; e sempre eu cheguei a Ti por fim.

32. Muitas coisas eu vi, mediatas e imediatas; mas não as vendo mais, eu vi a Ti.

33. Vem Tu, Ó Bem-Amado! Ó Senhor Deus do Universo, Ó Vastidão, Ó Minúcia! Eu sou o Teu amado.

34. O dia inteiro eu canto o Teu deleite; a noite inteira eu me deleito em Teu canto.

35. Não existe nenhum outro dia ou noite que este.

36. Tu estás além do dia e da noite; eu sou Tu mesmo, Ó meu Criador, meu Mestre, meu Esposo!

37. Eu sou como o cachorrinho vermelho que está sentado nos joelhos do Desconhecido.

38. Tu me trouxeste a grande deleite. Tu me deste da Tua carne a comer e do Teu sangue como uma oferta de intoxicação.

39. Tu ferraste as presas da Eternidade em minha alma, e o Veneno do Infinito me consumiu inteiramente.

40. Eu estou tornado como um opulento diabo da Itália, uma mulher loura e forte de face cavada, comida de fome de beijos. Ela bancou a rameira em diversos palácios; ela deu seu corpo às bestas.

41. Ela matou seus parentes com forte veneno de sapos; ela foi castigada com muitas varas.

42. Ela foi despedaçada sobre a Roda; as mãos do verdugo a amarram ali.

43. As fontes de água foram abertas sobre ela; ela lutou contra tormento extremo.

44. Ela rebentou sob o peso das águas; ela afundou no horrendo mar.

45. Assim sou eu, Ó Adonai, meu senhor, e assim são as águas da Tua intolerável Essência.

46. Assim sou eu, Ó Adonai, meu amor, e Tu me arrebentaste por completo.

47. Eu estou derramado como sangue sobre os picos; os Corvos da Dispersão me levaram por completo.

48. Portanto está afrouxando o selo que guardava o Oitavo abismo; portanto é o vasto mar como um véu; portanto há uma dilaceração de todas as coisas.

49. Sim, também em verdade Tu és a fresca quieta água da fonte encantada. Eu me banhei em Ti, e me perdi em Tua quietude.

50. Aquilo que entrou como um valente menino de lindos membros sai como uma donzela, como uma criancinha em sua perfeição.

51. Ó Tu luz e deleite, arrebata-me ao oceano leitoso das estrelas!

52. Ó Tu Filho de uma mãe que transcende a luz, abençoado seja Teu nome, e o Nome de Teu Nome, através das idades!

53. Vê! eu sou uma borboleta na Fonte da Criação; deixa-me morrer antes da hora, caindo morto em Tua corrente infinita!

54. Também a corrente das estrelas flui sempre majestosa à Habitação; carrega-me no Colo de Nuit!

55. Este é o mundo das águas de Maim; esta é a água amarga que se torna doce. Tu és belo e amargo, Ó dourado, Ó meu Senhor Adonai, Ó tu Abismo de Safira!

56. Eu sigo a Ti, e as águas da Morte lutam estrênuas contra mim. Eu passo às Águas além da Morte e além da Vida.

57. Como responderei ao homem tolo? Por nenhum caminho ele chegará a Tua identidade!

58. Mas eu sou o Tolo que não liga ao Jogo do Mago. A mim a Mulher dos Mistérios instrui em vão; eu quebrei os grilhões do Amor e do Poder e da Adoração.

59. Portanto é a Águia unida ao Homem, e a forca da infâmia dança com o fruto do justo.

60. Eu baixei, Ó meu querido, às águas negras e brilhantes, e Te colhi com uma pérola negra de valor infinito.

61. Eu desci, Ó meu Deus, ao abismo do todo, e eu Te encontrei lá no meio sob o disfarce de Nada.

62. Mas como Tu és o Último, Tu és também o Próximo, e como o Próximo eu Te revelo à multidão.

63. Aqueles que sempre Te desejam Te obterão, mesmo no Fim do seu Desejo.

64. Glorioso, glorioso, glorioso Tu és, Ó meu amante superno, Ó Ser do meu ser.

65. Pois Te achei igualmente no mim e no Ti; não há diferença; Ó meu belo, Ó meu Desejável! No Um e nos Muitos eu Te encontrei; sim, eu Te encontrei.

IV
1. Ó coração de cristal! Eu a Serpente Te abraço; Eu enterro minha cabeça no Teu centro mais íntimo, Ó Deus meu amor.

2. Mesmo qual nos ressoantes altos varridos de vento de Mytilene alguma mulher como deusa põe de lado a lira e, seus cabelos flamejando qual auréola, mergulha no líquido do coração da criação, assim Eu, Ó Senhor meu Deus!

3. Há uma beleza indizível neste coração de corrupção, onde as flores flamejam.

4. Ah me! mas a sede de Tua alegria resseca esta garganta, de modo que Eu não posso cantar

5. Eu me farei um botezinho de minha língua, e explorarei os rios desconhecidos. Pode ser que o eternos sal vire doçura, e minha vida não seja mais sedenta.

6. Ó vós que bebeis de salmoura do vosso desejo, estais perto da loucura! Vossa tortura cresce se bebeis, e continuais bebendo. Subi pelos regatos à água fresca; Eu vos esperarei com os meus beijos.

7. Como a pedra-bezoar que é encontrada na barriga da vaca, assim é meu amante entre os amantes.

8. Ó menino de mel! Traz-me aqui Teus membros frescos! Sentemo-nos por um pouco na chácara, até o sol descer! Festejamos sobre a relva fresca. Trazei vinho, vós escravos, para que as bochechas do meu menino se enrubesçam.

9. No jardim de imortais beijos, Ó tu Brilhante, resplandece! Faz de Tua boca uma papoula, que um beijo é a chave do sono infinito e lúcido, o sono de Shi-loh-am.

10. Em meu sono Eu contemplei o Universo como um cristal límpido sem mancha.

11. Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e tagarelam de seus feitos de bebedores de vinho.

12. Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e insultam os hóspedes.

13. Os hóspedes brincam sobre sofás de madrepérolas no jardim; o barulho dos homens tolos está escondido deles.

14. Apenas o taverneiro teme que o favor do rei lhe seja retirado.

15. Assim falou o Magister V.V.V.V.V., a Adonai seu Deus, enquanto eles brincavam juntos à luz das estrelas de encontro à profunda poça negra que está no Lugar Santo da Casa Santa sob o Altar do Santíssimo.

16. Mas Adonai riu, e brincou mais lânguido.

17. Então o escriba tomou nota, e alegrou-se. Mas Adonai não tinha medo do Mago e seu brinquedo.

Pois foi Adonai quem ensinou ao Mago todos os seus truques.

18. E o Magister entrou no jogo do Mago. Quando o Mago ria, ele ria; tudo como deve um homem fazer.

19. E Adonai disse: Tu estás enredado na teia do Mago. Isso Ele disse sutilmente, para prová-lo.

20. Mas o Magister deu o sinal do Magistério e riu-Lhe: Ó Senhor, Ó bem-amado, relaxaram-se estes dedos nos anéis dos Teus cabelos, ou desviaram-se estes olhos do Teu olho?

21. E Adonai deleitou-se extremamente nele.

22. Sim, Ó meu mestre, tu és o amado do Bem-Amado; a Ave Bennu não está posta em Philae em vão.

23. Eu fui a sacerdotisa de Ahathoor regozijo-me no vosso amor. Ergue-te, Ó Deus-Nilo, e devora o lugar santo da Vaca do Céu! Que o leite das estrelas seja bebido por Sebek o habitante do Nilo!

24. Levanta-Te, Ó serpente Apep, Tu é Adonai o bem-amado! Tu és meu querido e meu senhor, e Teu veneno é mais doce que os beijos de Isis a mãe dos Deuses!

25. Pois Tu és Ele! Sim, Tu engolirás Asi e Asar e os filhos de Ptah. Tu vomitarás uma enxurrada de veneno para destruir os trabalhos do Mago. Somente o Destruidor Te devorará; Tu lhe enegrecerás a garganta, onde seu espírito habita. Ah, serpente Apep, mas Eu Te Amo!

26. Meu Deus! Que Tua presa secreta penetre até o tutano do ossinho secreto que eu guardei para o Dia de Vingança de Hoor-Ra. Que Kheph-Ra zumba com seus élitros! que os chacais de Dia e Noite uivem na imensidão do Tempo! que as Torres do Universo tremam, e os guardiões fujam correndo! Pois meu Senhor revelou-Se como uma serpente pujante, e o meu coração é o sangue do Seu corpo.

27. Eu sou como uma cortesã de Corinto doente de amor. Eu brinquei com reis e capitães, e fiz deles meus escravos. Hoje eu sou a escrava da viborazinha da morte; e quem desatará nosso amor?

28. Cansado, cansado! Diz o escriba, quem me levará à visão da Raptura de meu mestre?

29. O corpo está cansado de e alma cansadíssima, e sono lhes pesa nas pálpebras; no entanto está sempre presente a certeira consciência do êxtase, desconhecido, entretanto conhecido em que sua existência é certa. Ó Senhor, sê minha ajuda e traze-me à dita do Bem-Amado!

30. Eu cheguei à casa do Bem-Amado, e o vinho era como fogo que voa de asas verdes pelo mundo das águas.

31. Eu senti os lábios rubros da natureza e os lábios negros da perfeição. Como irmãs elas me afagaram seu irmãozinho; elas me adornaram como noiva; elas me trouxeram ao Teu quarto de núpcias.

32. Elas fugiram à Tua vinda; eu fiquei só perante Ti.

33. Eu tremi à Tua vinda, Ó meu Deus, pois Teu mensageiro era mais terrível que a estrela-Morte.

34. No umbral quedou a fulminante figura do Mal, o Horror do vazio, com seus olhos fosforescentes como poços venenosos. Ele quedou, e o quarto corrompeu-se; o ar fedia. Ele era um velho peixe enrugado, mais horrendo que os cascões de Abaddon.

35. Ele me envolveu com seus tentáculos demoníacos; sim, os oito medos se apossaram de mim.

36. Mas eu estava ungido com o mui-doce óleo do Magister; escorreguei do abraço como uma pedra da funda de um menino dos bosques.

37. Eu era liso e duro como o marfim; o horror não conseguiu apoio. Então, ao ruído do vento da Tua vinda, ele foi dissolvido, e o abismo do grande vazio foi desdobrado diante de mim.

38. Através do mar sem ondas da eternidade Tu cavalgaste com Teus capitães e Tuas hostes; com Teus carros e cavaleiros e lanceiros Tu viajaste pelo azul.

39. Antes que eu Te visse, Tu estavas já comigo; eu fui trespassado por Tua maravilhosa lança.

40. Eu fui aturdido qual uma ave pelo relâmpago do Trovejador; eu fui varado como o ladrão pelo Senhor do Jardim.

41. Ó meu Senhor, naveguemos sobre o mar de sangue!

42. Existe uma profunda mancha sob o deleite inefável; é a mancha da geração.

43. Sim, se bem que a flor dança brilhante à luz do sol, a raiz se afunda na escuridão da terra.

44. Louvor a ti, Ó linda terra escura, tu és a mãe de um milhão de miríadas de miríadas de flores.

45. Também eu contemplei meu Deus, e Sua face era mil vezes mais brilhante do que o raio. Mas em seu coração eu vi o Lento e Escuro, o anciente, o devorador de Seus filhos.

46. No píncaro e no abismo, Ó meu lindo, não existe nada, em verdade não existe coisa alguma que não seja completamente e perfeitamente feita para Teu deleite.

47. A Luz se agarra à Luz, e a escória à escória; com orgulho uma acusa a outra. Mas não Tu, que és tudo, e além disso; que estás absolvido da Divisão das Sombras.

48. Ó dia da Eternidade, que Tua onda se quebre em glória quieta de safira sobre o laborioso coral que fabricamos!

49. Nós fizemo-nos um anel de branca areia reluzente, esparzida sabiamente no meio do Oceano Deleitoso.

50. Que as palmeiras de brilho floresçam sobre a nossa ilha; nós comeremos do seu fruto, e nos alegraremos.

51. Mas para mim a água lustral, a grande ablução, a dissolução da alma naquele ressoante abismo.

52. Eu tenho um filhinho como um bode malandro; minha filha é como uma aguiazinha sem plumas; eles conseguirão nadadeiras, para que possam nadar.

53. Para que eles possam nadar, Ó meu amado, nadar longe no morno mel do Teu ser, Ó abençoado, Ó menino de beatitude!

54. Este meu coração está cingido com a serpente que devora seus próprios anéis.

55. Quando haverá um fim, Ó meu querido, Ó quando serão o Universo e seu Senhor completamente engolidos?

56. Não! quem devorará o Infinito? quem desfará o Erro do Princípio?

57. Tu gritas como um gato branco no telhado do Universo; nenhum existe para Te responder.

58. Tu és como um pilar solitário no meio do mar; nenhum existe para Te ver, Ó Tu que vês tudo!

59. Tu esmoreces, tu fracassas, tu escriba; gritou a Voz desolada; mas Eu te enchi de um vinho cujo sabor tu não conheces.

60. Ele servirá para embriagar o povo da velha esfera cinzenta que rola no infinitamente Longe; eles lamberão o vinho como cães que lambem o sangue de uma linda cortesã trespassada pela Lança de um veloz cavaleiro que atravessa a cidade.

61. Também Eu sou a Alma do deserto; tu me buscarás ainda uma vez na solidão da areia.

62. À tua mão direita, um grão-senhor, e formoso; à tua mão esquerda uma mulher vestida em gaze e ouro, tendo as estrelas em seu cabelo. Vós viajareis longe numa terra de mal e pestilência; vós acampareis no rio de uma tola cidade esquecida; lá vos encontrareis Comigo.

63. Lá Eu farei Minha habitação; como para bodas Eu virei enfeitado e ungido; lá a Consumação será feita.

64. Ó meu querido, Eu também espero pelo brilho de hora inefável, quando o universo será como uma cinta para o meio do raio do nosso amor, estendendo-se além do fim permitido do Infindo.

65. Então, Ó tu coração, Eu a serpente te devorarei por completo; sim, Eu te devorarei por completo.

V
1. Ah! meu Senhor Adonai que brincas com o Magister na Tesouraria das Pérolas, que eu escute o eco de vossos beijos.

2. Não é o céu estrelado sacudido como uma folha à trêmula raptura do vosso amor? Não sou eu a esvoaçante fagulha de luz arremessada longe pelo grande vento da vossa perfeição?

3. Sim, gritou o Santíssimo, e da Tua fagulha Eu o Senhor acenderei uma grande luz; Eu queimarei por completo a cidade cinzenta na velha terra desolada; Eu a limparei da sua grande impureza.

4. E tu, Ó profeta, verás estas coisas, e tu não ligarás a elas.

5. Agora está o Pilar estabelecido no Vazio; agora está Asi satisfeita por Asar; agora é Hoor baixado à Alma Animal das Coisas como uma estrela flamejante que cai sobre a escuridão da terra.

6. Através da meia-noite tu és deixado cair, Ó minha criança, meu conquistador, meu capitão cingido com a espada, Ó Hoor! Eles te acharão como uma nodosa brilhante pedra negra, e eles te adorarão.

7. Meu profeta profetizará a teu respeito; em tua volta dançarão as donzelas, e brilhantes bebês lhes nascerão. Tu inspirarás os orgulhosos com infinito orgulho, e os humildes com um êxtase de abjeção; tudo isto transcenderá o Conhecido e o Desconhecido com algo que não tem nome. Pois é como o abismo do Arcano que é aberto secreto Lugar de Silêncio.

8. Tu chegaste aqui, Ó meu profeta, por graves caminhos. Tu comeste do excremento dos Abomináveis; tu te prostraste diante do Bode e do Crocodilo; os homens maus fizeram de ti um joguete; tu vagaste como uma rameira pintada, sedutora com doces perfumes e pintura chinesa, pelas ruas; tu escureceste os cantos dos teus olhos com Kohl; tu tingiste teus lábios de vermelho; tu emplastaste tuas bochechas com esmaltes de marfim. Tu bancaste a desavergonhada em todo portão e cada beco de grande cidade. Os homens da cidade te seguiram desejosos de te abusar e te bater. Eles mastigaram as douradas lantejoulas de fino pós com as quais tu adornaste tua carne pintada com seus açoites; tu sofreste coisas indizíveis.

9. Mas Eu queimei dentro de ti como uma pura chama sem óleo. À meia-noite Eu brilhei mais do que a lua; durante o dia Eu excedi completamente o sol; nos atalhos pouco trilhados do teu ser Eu flamejei, e desfiz a ilusão.

10. Portanto tu és completamente puro diante de Mim; portanto tu és Minha virgem eternamente.

11. Portanto, Eu te amo com excedente amor; portanto aqueles que te desprezam te adorarão.

12. Tu serás amorável e piedoso para com eles; tu os curarás do mal inominável.

13. Eles mudarão ao serem destruídos, mesmo como duas estrelas escuras que se chocam no abismo e esbraseiam num incêndio infinito.

14. Durante tudo isso Adonai transpassou meu ser com sua espada que tem quatro lâminas; a lâmina do raio, a lâmina do Pilone, a lâmina da serpente, a lâmina do Falo.

15. Também, ele me ensinou a santa indizível palavra Ararita, de forma que eu derreti o ouro sêxtuplo em um único ponto invisível, do qual nada se pode dizer.

16. Pois o Magistério desta Opus é um magistério secreto, e o sinal do mestre nisso é um certo anel de lápis-lazúli com o nome do meu mestre, que sou eu, e o Olho no Meio.

17. Também Ele falou e disse: Isto é um sinal secreto, e tu não o revelarás ao profano, nem ao neófito, nem ao zelador, nem ao prático, nem ao filósofo, nem ao adepto menor, nem ao adepto maior.

18. Mas ao adepto exempto tu te revelarás se tiveres necessidade dele para as operações menores de tua arte.

19. Aceita a adoração da gente tola a quem odeias. O Fogo não é conspurcado pelos altares dos Ghebers, nem é a Lua contaminada pelo incenso daqueles que adoram a Rainha da Noite.

20. Tu viverás entre o povo como um diamante preciso entre diamantes nublados, e cristais, e pedaços de vidro. Somente o olho do mercador justo te contemplará, e mergulhando sua mão te escolherá e te glorificará diante dos homens.

21. Mas tu não ligarás a nada disto. Tu serás sempre o coração, e Eu a serpente Me apertarei em volta tua. Meus anéis nunca se relaxarão através dos aeons. Nem mudança nem sofrimento nem insubstancialidade te terão; pois tu passaste além de todos estes.

22. Mesmo como o diamante brilhará rubro para a rosa e verde para a folha da roseira; assim tu permanecerás àparte das Impressões.

23. Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.

24. Também tu estás além das estabilidades do Ente e da Consciência e da Bemaventurança; pois Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no Vazio.

25. Também tu discursarás sobre estas coisas ao homem que as escreve, e ele partilhará delas como um sacramento; pois Eu que sou tu sou ele, e o Pilar está estabelecido no vazio.

26. Da Coroa ao Abismo, assim vai ele único e ereto. Também a esfera ilimitada resplandecerá com o seu brilho.

27. Tu te regozijarás nas poças de água adorável; tu enfeitarás tuas donzelas com pérolas de fecundidade; tu acenderás flama como línguas lambentes de licor dos Deuses entre as poças.

28. Também, tu converterás o compassante ar nos ventos de água pálida, tu transmutarás a terra em um abismo azul de vinho.

29. Rútilos são os coriscos de rubi e ouro que ali chispam; uma gota intoxicará o Senhor dos Deuses meu servo.

30. Também, Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Ó meu pequenino, meu terno, meu pequenino amoroso, minha gazela, meu lindo, meu menino, enchamos o pilar do Infinito com um infinito beijo!

31. De modo que o estável foi sacudido e o instável se aquietou.

32. Aqueles que viram isto gritaram com um formidável medo: O fim das coisas chegou.

33. E assim foi.

34. Também, eu estive na visão espiritual e contemplei uma pompa parricida de ateístas conjugados de dois em dois no êxtase superno das estrelas. Eles riam e se regozijavam extremamente, estando vestidos em robes de púrpura e embriagados com vinho púrpura, e sua alma inteira era uma só purpúrea flama-flor de santidade.

35. Eles não viam Deus; eles não viam a Imagem de Deus; portanto eles estavam erguidos ao Palácio do Esplendor Inefável. Uma espada afiada golpeava diante deles, e o verme Esperança retorceu-se nas vascas da morte sob os seus pés.

36. Mesmo quando a raptura deles despedaçou a Esperança visível, assim também o Medo Invisível fugiu correndo e não mais foi.

37. Ó vós que estais além de Aormuzdi e Ahrimanes! Abençoados sois através das idades.

38. Eles fizeram uma foice da Dúvida, e colheram as flores da Fé para suas grinaldas.

39. Eles fizeram uma lança do Êxtase, e atravessaram o velho dragão que estava sentado sobre a água estagnada.

40. Então as fontes frescas foram libertadas, para que a gente sedenta pudesse estar à vontade.

41. E de novo eu fui arrebatado à presença de meu Senhor Adonai, e o conhecimento e Conversação do Santo, o Anjo que me Guarda.

42. Ó Santo Exaltado, Ó Senhor além do ser, Ó Imagem Auto-Luminosa do Nada Inimaginável, Ó meu querido, meu belo, vem Tu e segue-me.

43. Adonai, divino Adonai, lá Adonai inicia refulgente deleite! Assim eu escondi o nome do nome d’Ela que inspira minha raptura, o odor de cujo corpo confunde a alma, a luz de cuja alma rebaixa este corpo às bestas.

44. Eu suguei o sangue com meus lábios; eu sequei Sua beleza de sustento. Eu A rebaixei diante de mim, eu A amestrei, eu A possuí, e a vida d’Ela está em mim. No sangue d’Ela eu inscrevo os enigmas secretos da Esfinge dos Deuses, que nenhum compreenderá – salvo apenas os puros e voluptuosos, os castos e obscenos, os andróginos e as ginandras que passaram além das barras da prisão que o velho Lodo de Khem estabeleceu nos Portões de Amennti.

45. Ó minha adorável, minha deliciosa, a noite inteira eu verterei a libação nos Teus altares; a noite inteira eu queimarei o sacrifício de sangue; a noite inteira eu balançarei o turíbulo do meu deleite diante de Ti, e o fervor das orações intoxicará Tuas narinas.

46. Ó Tu que vieste da terra do Elefante, cingido com a pele do tigre, e engrinaldado com o lotus do espírito, inebria Tu a minha vida com Tua loucura, para que Ela pule quando eu passe.

47. Comanda Tuas moças que Te seguem a que nos faças uma cama de flores imortais, para que ali tomemos nosso prazer. Comanda Teus sátiros a que amontoem espinhos entre as flores, para que ali tomemos nossa dor. Que o prazer e a dor sejam misturados em uma suprema oferta ao Senhor Adonai!

48. Também, eu ouvi a voz de Adonai o Senhor o desejável sobre aquilo que está além.

49. Que os habitantes de Tebas e seus templos não boquejem sempre dos Pilares de Hércules e o Oceano do Oeste. Não é o Nilo uma água bela?

50. Que o sacerdote de Isis não descubra a nudez de Nuit, pois todo passo é uma morte e um nascimento. O sacerdote de Isis levantou o véu de Isis, e foi morto pelos beijos da sua boca. Então foi ele o sacerdote de Nuit, e bebeu do leite das estrelas.

51. Que o fracasso e a dor não desanimem os adorantes. As fundações da pirâmide foram talhadas da rocha viva antes do pôr-do-sol; chorou o rei na madrugada porque a coroa da pirâmide ainda não havia sido cortada da pedreira na terra distante?

52. Houve também um beija-flor que falou ao cerastes de chifres, e rogou-lhe por veneno. E a grande cobra de Khem o Santo, a real serpente Ureus, respondeu-lhe e disse:

53. Eu naveguei sobre o céu de Nu no carro chamado Milhões-de-Anos, e não vi nenhuma criatura sobre Seb que fosse minha presa igual. O veneno da minha presa é a herança de meu pai e do pai de meu pai; e como o darei a ti? Vive tu e teus filhos como eu e meus pais temos vivido, mesmo durante cem milhões de gerações, e pode ser que a misericórdia dos Poderosos confira sobre teus filhos uma gota do veneno antigo.

54. Então o beija-flor afligiu-se em seu espírito, e voou por entre as flores, e foi como se nada tivesse sido dito entre eles. No entanto daí a pouco uma serpente golpeou e ele morreu.

55. Mas um Íbis que meditava sobre a margem de Nilo o lindo deus ouviu e escutou. E ele abandonou seus hábitos de Íbis e tornou-se como uma serpente, dizendo Talvez em cem milhões de milhões de gerações dos meus filhos eles conseguirão uma gota do veneno da presa do Exaltado.

56. E vede! Antes que a lua enchesse três vezes ele virou uma serpente Ureus, e o veneno da presa foi estabelecida nele e sua semente mesmo para sempre e para sempre.

57. Ó tu Serpente Apep, meu Senhor Adonai, é um grão do tempo mais mínimo, esta viagem pela eternidade, e à Tua vista as marcas são de lindo mármore branco intocado pela ferramenta do gravador. Portanto Tu és meu, mesmo agora e para sempre e para sempre mais. Amém.

58. Além disto, eu ouvi a voz de Adonai: Sela o livro do Coração e da Serpente; no número cinco e sessenta sela tu o santo livro.

Como ouro fino que é batido em um diadema para a linda rainha de Faraó, como grandes pedras que são cimentadas juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asar, assim liga tu as palavras e os atos, de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite.

59. E eu respondi e disse: Está feito mesmo de acordo com a Tua palavra. E foi feito. E aqueles que leram o livro e debateram sobre ele passaram à terra desolada das Palavras Estéreis. E aqueles que selaram o livro no seu sangue foram os escolhidos de Adonai, e o Pensamento de Adonai era uma Palavra e um Ato; e eles habitaram na terra que os viajantes longínquos chamam Nada.

60. Ó terra além do mel e das espécies e toda perfeição! Eu viverei ali com meu Senhor para sempre.

61. E o Senhor Adonai deleita-Se em mim, e eu porto a Taça da Sua alegria à gente cansada da velha terra cinzenta.

62. Aqueles que dela bebem são atacados de aflição; a abominação tem poder sobre eles, e seu tormento é como a grossa fumaça negra da habitação maligna.

63. Mas os escolhidos beberam dela, e tornaram-se mesmo como meu Senhor, meu lindo, meu desejável. Não existe nenhum vinho como este vinho.

64. Eles estão reunidos em um coração luminoso, como Ra que reuniu suas nuvens em volta Sua no poente num flamejante mar de alegria; e a serpente que é a coroa de Ra os cinge com o cinturão dourado dos beijos mortais.

65. Assim também é o fim do livro, e o Senhor Adonai o rodeia todo como um Raio, um Pilone e uma Cobra e um Falo; e no meio Ele é como a Mulher que esguicha o leite das estrelas de seus seios; sim, o leite das estrelas de seus seios.

Thelema - Liber Stellæ Rubeæ

 

Um ritual secreto de Apep, o Coração de IAO-OAI, entregue a V.V.V.V.V. para seu uso em uma determinada questão de Liber Legis.

1. Apep deifica Asar.

2. Que excelentes virgens evoquem júbilo, filho da Noite!

3. Este é o livro do culto mais secreto da Estrela Rubi. Ele não será dado a ninguém, a não ser ao desavergonhado tanto em ato quanto em palavra.

4. Nenhum homem entenderá este escrito – é sutil demais para os filhos dos homens.

5. Se a Estrela Rubi derramou seu sangue sobre ti; se na estação da lua tu invocaste pelo Iod e pelo Pe, então tu poderás participar deste mais secreto sacramento.

6. Um instruirá o outro, sem se importar com as questões do pensamento dos homens.

7. Haverá um razoável altar no meio, estendido sobre uma pedra preta.

8. Na cabeceira do altar ouro, e imagens gêmeas em verde do Mestre.

9. No meio uma taça de vinho verde.

10. Ao pé a Estrela de Rubi.

11. O altar deve estar inteiramente vazio.

12. Primeiro, o ritual da Estrela Flamejante.

13. Em seguida, o ritual do Selo.

14. Em seguida, as adorações infernais de Oai.

Mu pa telai,
Tu wa melai
ā, ā, ā.
Tu fu tulu!
Tu fu tulu
Pa, Sa, Ga.

Qwi Mu telai
Ya Pu melai;
ū, ū, ū.
‘Se gu malai;
Pe fu telai,
Fu tu lu.

O chi balae
Wa pa malae :—
Ūt! Ūt! Ūt!
Ge; fu latrai,
Le fu malai
Kūt! Hūt! Nūt!

Al Ōāī
Rel moai
Ti — Ti — Ti!
Wa la pelai
Tu fu latai
Wi, Ni, Bi.

15. Também tu excitarás as rodas com as cinco feridas e as cinco feridas.

16. Então tu excitarás as rodas com as duas e a terceira no meio; uniformes ♄ e ♃ , ☉ e ☽ , ♂ e ♀, e ☿ .

17. Então os cinco — e o sexto.

18. Também o altar defumará diante do mestre com incenso que não tem fumaça.

19. Aquilo que deve ser negado será negado; aquilo que deve ser pisoteado será pisoteado; aquilo sobre o qual deve ser cuspido será cuspido.

20. Estas coisas serão queimadas no fogo exterior.

21. Então novamente o mestre falará palavras suaves conforme queira, e com música e o que mais ele trará adiante a Vítima.

22. Também ele matará uma criança jovem sobre o altar, e o sangue cobrirá o altar com perfume como se de rosas.

23. Então o mestre aparecerá como Ele deveria aparecer — em Sua glória.

24. Ele se esticará sobre o altar, e o despertará para a vida, e para a morte.

25. (Pois assim escondemos aquela vida que está além.)

26. O templo será escurecido, exceto pelo fogo e pela lâmpada do altar.

27. Ali ele acenderá um grande fogo e um devorador.

28. Também ele ferirá o altar com seu flagelo, e sangue fluirá dali.

29. Também ele terá feito rosas florescer sobre ele.

30. No final ele oferecerá o Vasto Sacrifício, no momento em que o Deus lamber a chama sobre o altar.

31. Todas estas coisas tu executarás estritamente, observando o tempo.

32. E o Amado permanecerá Contigo.

33. Tu não revelarás o mundo interior deste rito a ninguém: portanto Eu o escrevi em símbolos que não podem ser compreendidos.

34. Eu que revelo o ritual sou Iao e Oai; o Direito e o Adverso.

35. Estes são semelhantes para mim.

36. Agora o Véu desta operação é chamado Vergonha, e a Glória permanece dentro.

37. Tu confortarás o coração da pedra secreta com o sangue quente. Tu farás uma sutil decocção de deleite, e os Vigilantes beberão dela.

38. Eu, Apep a Serpente, sou o coração de Iao. Ísis aguardará Asar, e Eu no meio.

39. Também a Sacerdotisa procurará outro altar, e executará minhas cerimônias nele.

40. Não haverá hino nem ditirambo em meu louvor e no louvor do rito, visto que está completamente além.

41. Tu te assegurarás da estabilidade do altar.

42. Neste rito tu estarás sozinho.

43. Eu te darei outra cerimônia pela qual muitos se regozijarão.

44. Antes de tudo que o Juramento seja tomado com firmeza conforme tu levantas o altar da terra negra.

45. Nas palavras que Tu conheces.

46. Pois Eu também te juro pelo meu corpo e alma que nunca serão separados em pedaços que eu habito em ti enrolado e pronto para saltar.

47. Eu te darei os reinos da terra, Ó tu Que dominaste os reinos do Oriente e do Ocidente.

48. Eu sou Apep, Ó tu O assassinado. Tu matarás a ti mesmo sobre meu altar: Eu terei teu sangue para beber.

49. Pois Eu sou um poderoso vampiro, e minhas crianças sugarão o vinho da terra que é sangue.

50. Tu reabastecerás as tuas veias do cálice do céu.

51. Tu serás secreto, um medo para o mundo.

52. Tu serás exaltado, e nenhum te verá; exaltado, e nenhum suspeitará de ti.

53. Pois há duas glórias diversas, e tu que ganhaste a primeira desfrutará da segunda.

54. Eu pulo com alegria dentro de ti; minha cabeça está levantada para atacar.

55. Ó a luxúria, o arrebatamento puro, da vida da serpente na espinha!

56. Mais poderoso que Deus ou homem, Eu estou neles, e os permeio.

57. Levai a cabo estas minhas palavras.

58. Nada temas.
Nada temas.
Nada temas.

59. Porque Eu sou nada, e a mim tu temerás, Ó meu virgem, meu profeta dentro de cujas entranhas eu me regozijo.

60. Tu temerás com o medo do amor: Eu te vencerei.

61. Tu estarás muito perto da morte.

62. Mas Eu te vencerei; a Nova Vida te iluminará com a Luz que está além das Estrelas.

63. Tu pensas? Eu, a força que criou tudo, não devo ser desprezado.

64. E Eu te matarei em minha luxúria.

65. Tu gritarás com a alegria e a dor e o medo e o amor — de modo que o ΛΟΓΟΣ de um novo Deus salte entre as Estrelas.

66. Não haverá som ouvido senão este teu rugido-de-leão de arrebatamento; sim, este teu rugido-de-leão de arrebatamento.

Thelema - A Cabala Literal

 

Um introdução à Cabala escrita por McGregor Mathers para sua tradução de “A Kabbalah Revelada” de Knorr von Rosenroth.
[A Cabala Literal]
[Partes do texto escrito por McGregor Mathers
para a introdução de sua tradução
de A Kabbalah Revelada]

A Cabala literal […] é dividida em três partes: GMTRIA, Gematria; NVTRIQVN, Notariqon; e ThMVRH, Temura.

Gematria é uma metátese da palavra grega γραμματϵια. Baseia-se nos valores numéricos relativos das palavras. Palavras de valores numéricos semelhantes são consideradas como sendo explanatórias uma da outra, e essa teoria se estende a frases. Assim a letra Shin, Sh, é 300, e é equivalente ao número obtido pela soma dos valores numéricos das letras das palavras RVCh ALHIM, Ruach Elohim, o espírito dos Elohim; e é, portanto, um símbolo do espírito dos Elohim. Pois R=200, V=6, Ch=8, A=1, L=30, H=5, I=10, M=40; total=300. De maneira semelhante, as palavras AChD, Achad, Unidade, Um, e AHBH, Ahebah, amor, cada uma = 13; pois A=1, Ch=8, D=4, total = 13; e A=1, H=5, B=2, H=5, total=13. Novamente, o nome do anjo MTTRVN, Metatron ou Methraton, e o nome da Deidade, ShDI, Shaddai, cada um soma 314; assim um é tido como simbólico do outro. Diz-se que o anjo Metatron foi o condutor das crianças de Israel através do deserto, de quem Deus diz, “Meu nome está nele”. No que diz respeito à Gematria de frases (Genêsis xlix. 10), IBA ShILH, Yeba Shiloh, “Shiloh virá”=358, que é a numeração da palavra MShICh, Messias. Assim também a passagem, Gênesis xviii. 2, VHNH ShLShH, Vehenna Shalisha, “E eis, três homens”, equivale em valor numérico a ALV MIKAL GBRIAL VRPAL, Elo Mikhael Gabriel Ve-Raphael, “Estes são Mikhael, Gabriel e Raphael”; pois cada frase=701. Acredito que estes exemplos serão o suficiente para tornar clara a natureza da Gematria.

O Notariqon deriva da palavra latina notarius, estenógrafo. Existem duas formas de Notariqon. Na primeira toda letra de uma palavra é obtida da inicial ou da abreviação de outra palavra, de modo que a partir das letras de uma palavra, pode ser formada uma frase. Assim toda letra da palavra BRAShITh, Berashith, a primeira palavra no Gênesis, é tornada na inicial de uma palavra, e obtemos BRAShITh RAH ALHIM ShIQBLV IShRAL ThVRH, Berashith Rahi Elohim Sheyequebelo Israel Torah; “No princípio os Elohim viram que Israel aceitaria a lei”. Em conexão com isso posso dar mais seis espécimes de Notariqon muito interessantes, formados desta mesma palavra BRAShITh por Solomon Meir Ben Moses, um Cabalista judeu, que abraçou a fé cristã em 1665, e tomou o nome de Prosper Rugere. Todos estes têm uma tendência cristã, e por meio deles Prosper converteu outro judeu, que anteriormente era amargamente contrário à Cristandade. O primeiro é BN RVCh AB ShLVShThM IChD ThMIM, Ben, Ruach, Ab, Shaloshethem Yechad Thaubodo: “O Filho, o Espírito, o Pai, vós deveis adorar igualmente Sua Trindade”. O terceiro é BKVRI RAShVNI AShR ShMV IShVO ThOBVDV, Bekori Rashuni Asher Shamo Yeshuah Thaubodo: “Vós deveis adorar Meu primogênito, Meu primeiro, Cujo nome é Jesus”. O quarto é BBVA RBN AShR ShMV IShVO ThOBVDV, Beboa Rabban Asher Shamo Yeshuah Thaubodo: “Quando o Mestre virá, Cujo Nome é Jesus, vós adorareis”. O quinto é BThVLH RAVIH ABChR ShThLD ISh VO ThAShRVH, Bethulh Raviah Abachar Shethaled Yeshuah Thashroah: “Escolherei uma virgem digna de dar à luz a Jesus, e vós a chamareis de abençoada”. O sexto é BOVGTh RTzPIM ASThThR ShGVPI IShVO ThAKLV, Beaugoth Ratzephim Asattar Shegopi Yeshuah Thakelo: “Eu me esconderei em bolos (assados em) brasas, pois vós comereis Jesus, Meu Corpo”.

A importância Cabalística destas frases como relevantes às doutrinas da Cristandade dificilmente pode ser subestimada.

A segunda forma de Notariqon é exatamente o oposto da primeira. Por meio dela as letras iniciais ou finais, ou ambas, ou as letras do meio de uma frase, são usadas para formar uma ou mais palavras. Assim a Cabala é chamada de ChKMH NSThRH, Chokmah Nesethrah, “a sabedoria secreta”; e se pegarmos as iniciais destas duas palavras Ch e N, formamos pela segunda forma de Notariqon a palavra ChN, Chen, “graça”. De maneira semelhante, a partir das iniciais e finais das palavras MI IOLH LNV HShMIMH, Mi Iaulah Leno Ha-Shamamyimah, “Quem irá por nós para o céu?” (Deuteronômio xxx. 12), formam-se MILH, Milah, “circuncisão”, e IHVH, o Tetragrammaton, implicando que Deus ordenou a circuncisão como um caminho para o céu.

Temura é permutação. De acordo com certas regras, uma letra é substituída por outra letra que a precede ou segue no alfabeto, e assim de uma palavra é formada outra palavra de uma ortografia completamente diferente. Desta forma, o alfabeto é dobrado exatamente ao meio, e uma metade é posta em cima da outra; e então alternadamente mudando a primeira letra ou as primeiras duas letras no início da segunda linha, vinte e duas comutações são produzidas. Estas são chamadas de “Tabelas das Combinações de TzIRVP”, Tziruph. Por exemplo, eu mostrarei o método chamado de ALBTh, Albath, assim: —

11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
K I T Ch Z V H D G B A
M N S O P Tz Q R Sh Th L

Cada método tira seu nome dos dois primeiros pares que o compõe, sendo o sistema de pares a base do todo, já que qualquer letra em um par é substituída pela outra letra. Assim, pelo Albath, de RVCh, Ruach, forma-se DTzO, Detzau. Os nomes dos outros vinte e um métodos são: ABGTh, AGDTh, ADBG, AHBD, AVBH, AZBV, AChBZ, ATBCh, AIBT, AKBI, ALBK, AMBL, ANBM, ASBN, AOBS, APBO, ATzBP, AQSTz, ARBQ, AShBR e AThBSh. A estes devem ser adicionados os modos ABGD e ALBM. Então vem a “Tabela Racional de Tziruph”, outro conjunto de vinte e duas combinações. Há também três “Tabelas das Comutações”, conhecidas respectivamente como a Reta, a Adversa e a Irregular. Para fazer qualquer uma destas, um quadrado, contendo 484 células, deve ser feito, e as letras escritas dentro. Para a “Tabela Reta” o alfabeto da direita para a esquerda; na segunda linha de quadrados faça o mesmo, mas comece com B e termine com A; na terceira comece com G e termine com B; e assim por diante. Para a “Tabela Adversa” escreva o alfabeto da direita para a esquerda ao contrário, começando com Th e terminando com A; na segunda linha comece com Sh e termine com Th, etc. A “Tabela Irregular” tomaria tempo demais para descrever. Além de todas estas, existe um método chamado de ThShRQ, Thashraq, que é simplesmente escrever uma palavra de trás para a frente. Existe uma forma muito importante chamada de “Cabala das Nove Câmaras” ou AIQ BKR, Aiq Bekar. É formada assim:

300, 30, 3
Sh, L, G 200, 20, 2
R, K, B 100, 10, 1
Q, I, A
600 60 6
M final, S, V 500, 50, 5
K final, N, H 400, 40, 4
Th, M, D
900, 90, 9
Tz final, Tz, T 800, 80, 8
P final, P, Ch 700, 70, 7
N final, O, Z
Eu coloquei a numeração de cada letra acima para mostrar a afinidade entre as letras de cada câmara. Às vezes isso é usado como uma cifra, pegando as porções da figura que mostra as letras que elas contêm, colocando um ponto para a primeira letra, dois para a segunda, etc. Assim o ângulo direito, contendo AIQ, responde pela letra Q se tiver três pontos ou marcas dentro dele. Novamente, um quadrado responderá pela letra H, N ou K final, de acordo com a quantidade de um, dois ou três pontos, respectivamente, colocados dentro dele. Assim também no que diz respeito às outras letras. Mas existem muitas outras formas de empregar a Cabala das Nove Câmaras, que eu não tenho espaço para descrever. Meramente mencionarei como um exemplo, que pelo modo de Temura chamado de AThBSh, Athbash, verifica-se que em Jeremias xxv. 26, a palavra ShShK, Sheshakh, simboliza BBL, Babel.

Além de todas estas regras, existem alguns significados ocultos na forma das letras do alfabeto hebraico; na forma de uma letra em particular no final de uma palavra sendo diferente daquela que geralmente tem quando é uma letra final, ou em uma letra sendo escrita no meio de uma palavra em um caractere geralmente usado somente no final; em quaisquer letras ou letra sendo escritas em um tamanho menor ou maior do que o restante do manuscrito, ou em uma letra sendo escrita de cabeça para baixo; nas variações encontradas na grafia de certas palavras, que têm uma letra a mais em alguns lugares do que têm em outros; em peculiaridades observadas na posição de quaisquer dos pontos ou acentos, e em certas expressões supostamente elípticas ou redundantes.

Por exemplo, diz-se que a forma da letra hebraica Aleph, A, simboliza um Vau, V, entre um Yod, I, e um Daleth, D; e assim a própria letra representa a palavra IVD, Yod. De maneira semelhante, a forma da letra He, H, representa um Daleth, D, com um Yod, I, escrito no canto inferior esquerdo, etc.

Em Isaías ix. 6-7, a palavra LMRBH, Lemarbah, “para multiplicar”, é escrito com o caractere para M final no meio da palavra, ao invés de ser escrito com o M inicial e intermediário ordinários. Como consequência disso, o valor numérico total da palavra, ao invés de ser 30+40+200+2+5 = 277, é 30+600+200+2+5 = 837 = por Gematria ThTh ZL, Tet Zal, o profuso Doador. Assim, escrevendo o M final ao invés do caractere ordinário, a palavra obtém um significado cabalístico diferente.

[…]

Além disso, deve-se notar em relação à primeira palavra na Bíblia, BRAShITh, que as primeiras três letras, BRA, são as iniciais dos nomes das três pessoas da Trindade: BN, Ben o Filho; RVCh, Ruach o Espírito; e AB, Ab o Pai. Além disso, a primeira letra da Bíblia é B, que é a letra inicial de BRKH, Berakhah, bênção; e não A, que é de ARR, Arar, maldição. Novamente, as letras de Berashith, tomando seus poderes numéricos, expressa o número de anos entre a Criação e o nascimento de Cristo, assim: B=2000, R=200, A=1000, Sh=300, I=10, e Th=400; total = 3910 anos, sendo o tempo em números arredondados. Pico de Mirandola faz o seguinte exercício com BRAShITh, Berashith: — Juntando a terceira letra, A, à primeira, B, AB, Ab = Pai, é obtido. Se à primeira letra B, duplicada, adicionarmos a letra R, temos BBR, Bebar = no ou através do Filho. Se todas as letras forem lidas, exceto a primeira, temos RAShITh, Rashith = o princípio. Se conectarmos a quarta letra, Sh, a primeira, B, e a última, Th, isso forma ShBTh, Shebeth = o fim ou repouso. Se as primeiras três letras forem tomadas, elas formam BRA, Bera = criado. Se, omitindo a primeira, as três seguintes forem tomadas, elas formam RASh, Rash = cabeça. Se, omitindo as duas primeiras, as próximas duas forem tomadas, elas formam ASh, Ash = fogo. Se a quarta e a última forem unidas, elas formam ShTh, Sheth = fundação. Novamente se a segunda letra for colocada com a primeira, forma RB, Rab = grande. Se após a terceira for colocada a quinta e a quarta, isso forma AISh, Aish = homem. Se as duas primeiras forem unidas às duas últimas, elas formam BRITh, Berith = aliança. E se a primeira for adicionada à última, forma ThB, Theb, que às vezes é usada para TVB, Thob = bom.

[…]

Existem três véus cabalísticos da existência negativa, e em si mesmos eles formam as ideias ocultas das Sephiroth, ainda não chamadas à existência, e elas se concentram em Kether, que neste sentido é o Malkuth das ideias ocultas das Sephiroth. Explicarei isso. O primeiro véu da existência negativa é AIN, Ain, Negatividade. Essa palavra consiste de três letras, que assim indicam as primeiras três Sephiroth ou números. O segundo véu é o AIN SVP, o ilimitado. Este título consiste de seis letras, e indica a ideia das primeiras seis Sephiroth ou números. O terceiro véu é o AIN SVP AVR, Ain Soph Aur, a Luz Ilimitada. Este novamente consiste de nove letras, e simboliza as primeiras nove Sephiroth, mas é claro, somente em sua ideia oculta. Mas quando chegamos no número nove não podemos progredir além disso sem retornar à unidade, ou ao número um, pois o número dez é apenas uma repetição da unidade novamente derivada do negativo, como é evidente à primeira vista sua representação ordinária em numerais arábicos, onde o círculo 0 representa o Negativo e 1 a Unidade. Assim, então, o oceano ilimitado da luz negativa não procede de um centro, pois não tem centro, mas se concentra em um centro, que é o número um das Sephiroth, Kether, a Coroa, a Primeira Sephira; que, portanto, pode-se dizer que é Malkuth ou o número dez das Sephiroth ocultas. Assim, “Kether está em Malkuth e Malkuth está em Kether”. Ou como um autor alquímico de grande reputação (Thomas Vaughan, mais conhecido como Eugenius Philalethes) diz, aparentemente citando Proclo; “Que o céu está na terra, mas de uma maneira terrena; e a terra está no céu, mas de uma maneira celestial”. Mas na medida em que a existência negativa é assunto incapaz de definição, como eu demonstrei anteriormente, ela é ao invés disso considerada pelos cabalistas mais como dependente de volta do número da unidade do que como uma consideração separada dele; portanto eles frequentemente aplicam os mesmos termos e epítetos indiscriminadamente a ambos. Tais epítetos são “O Oculto dos Ocultos”, “O Antigo dos Antigos”, o “Santíssimo Antigo”, etc.

Agora devo explicar o verdadeiro significado dos termos Sephira e Sephiroth. O primeiro é singular, o segundo é plural. A melhor interpretação da palavra é “emanação numérica’. Existem dez Sephiroth, que são as formas mais abstratas dos dez números da escala decimal — ou seja, os números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10. Portanto, assim como na matemática avançada nós cogitamos os números em seu sentido abstrato, assim também na Cabala nós cogitamos sobre a Deidade pelas formas abstratas dos números, em outras palavras, pelas SPIRVTh, Sephiroth. Foi desta teoria oriental antiga que Pitágoras derivou suas ideias numéricas simbólicas.

Entre as Sephiroth, de maneira conjunta e severa, encontramos o desenvolvimento das personas e atributos de Deus. Destes, alguns são masculinos e alguns são femininos. Agora, por algum motivo ou outro, melhor conhecido pelos próprios tradutores da Bíblia, eles cuidadosamente suplantaram e abafaram toda referência ao fato de que a Deidade é tanto masculina quanto feminina. Eles traduziram um plural feminino como um singular masculino no caso da palavra Elohim. No entanto, eles deixaram uma confissão involuntária de seu conhecimento de que era plural em Gênesis iv. 26: “E Elohim disse: Façamos o homem”. Novamente (v. 27), como Adão poderia ser feito à imagem de Elohim, masculino e feminino, a menos que Elohim também fosse masculino e feminino? A palavra Elohim é um plural formado do singular feminino ALH, Eloh, adicionando IM à palavra. Mas desde que IM geralmente é uma terminação de um plural masculino e é aqui adicionado a um substantivo feminino, ele dá à palavra Elohim o sentido de uma potência feminina unida a uma ideia masculina, e, portanto, capaz de produzir descendentes. Agora, ouvimos muito do Pai e do Filho, mas não ouvimos nada da Mãe nas religiões ordinários de hoje. Mas na Cabala descobrimos que o Ancião dos Dias Se conforma simultaneamente no Pai e na Mãe, e assim gera o Filho. Esta Mãe é Elohim. Novamente, geralmente nos dizem que o Espírito Santo é masculino. Mas a palavra RVCh, Ruach, Espírito, é feminina, conforme aparece na seguinte passagem do Sepher Yetzirah: “AChTh RVCh ALHIM ChIIM, Achath (feminino, não Achad, masculino) Ruach Elohim Chiim: Uma é Ela o Espírito dos Elohim da Vida”.

Agora, descobrimos que antes que a Deidade conformou-Se assim — ou seja, como masculina e feminina — que os mundos do universo não poderiam subsistir, ou, nas palavras do Gênesis, “A terra era sem forma e vazia”. Estes mundos prévios são considerados como sendo simbolizados pelos “reis que reinaram no Edom antes que reinasse um rei em Israel”, e fala-se deles na Cabala como os “reis Edomitas”. Isso será encontrado completamente explicado em várias partes desta obra.

Agora chegamos à consideração da primeira Sephira, ou o Número Um, a Mônada de Pitágoras. Neste número estão ocultos os outros nove. Ele é indivisível, também é incapaz de multiplicação; divida 1 por si e ele ainda permanece 1, multiplique 1 por si e ele ainda permanece 1 e inalterado. Desta forma, é um representante apto do imutável Pai de tudo. Agora, este número da unidade tem uma natureza dual, e assim forma, como se fosse, o elo entre o negativo e o positivo. Em sua unidade imutável mal é um número; mas em sua propriedade de capacidade de adição ele pode ser chamado de primeiro número de uma série numérica. Agora, o zero, 0, é incapaz até mesmo de adição, assim como também é a existência negativa. Como, então, se o 1 não pode ser multiplicado e nem dividido, outro 1 deve ser obtido para adicionar a ele; em outras palavras como pode-se encontrar o número 2? Pelo reflexo de si mesmo. Pois embora o 0 seja incapaz de definição, 1 é definível. E o efeito de uma definição é formar um Eidolon, duplicata, ou imagem, da coisa definida. Assim, então, obtemos uma díade composta de 1 e seu reflexo. Agora também temos o princípio de uma vibração estabelecida, pois o número 1 vibra alternadamente da imutabilidade para a definição, e de volta novamente à imutabilidade. Assim, então, é o pai de todos os números, e um modelo adequado para o Pai de todas as coisas.

O nome da primeira Sephira é KThR, Kether, a Coroa. O Nome Divino atribuído a ela é o Nome do Pai dado em Êxodo iii. 4: AHIH, Eheieh, Eu sou. Significa Existência.

[…]

A primeira Sephira contém nove, e as produz sucessoriamente assim: —

O número 2 ou Díade. O nome da segunda Sephira é ChKMH, Chokmah, Sabedoria, uma potência masculina e ativa refletida a partir de Kether, conforme eu expliquei anteriormente. Esta Sephira é o Pai ativo e evidente, a quem a Mãe se une, que é o número 3. Esta segunda Sephira é representada pelos Nomes Divinos IH, Yah, e IHVH; e as hostes angélicas por AVPNIM, Auphanim, as Rodas (Ezequiel i.). Também é chamada de AB, Ab, o Pai.

A terceira Sephira, ou tríade, é uma potência feminina e passiva, chamada BINH, Binah, Compreensão, que é co-igual com Chokmah. Pois Chokmah, o número 2, é como duas linhas retas que nunca podem fechar um espaço, e, portanto, é impotente até que o número 3 forme um triângulo. Desta f orma, esta Sephira completa e torna evidente a Trindade superna. Também é chamada de AMA, Ama, Mãe, e AIMA, Aima, a grande Mãe produtiva, que está eternamente unida com AB, o Pai, para a manutenção do universo em ordem. Portanto, ela é a forma mais evidente em quem podemos conhecer o Pai, e, portanto, ela é digna de todas as honras. Ela é a Mãe superna, co-igual com Chokmah, e a grande forma feminina de Deus, os Elohim, em cuja imagem homem e mulher foram criados, de acordo com o ensinamento da Cabala, iguais perante Deus. A mulher é igual ao homem, e certamente não é inferior a ele, como tem sido feita por esforços persistentes dos assim-chamados cristãos. Aima é a mulher descrita no Apocalipse (cap. xii). Esta terceira Sephira também às vezes é chamada de Grande Mar. A ela são atribuídos os nomes Divinos ALHIM, Elohim, e IHVH ALHIM; e a ordem angélica, ARALIM, Aralim, Os Tronos. Ela é a Mãe Superna que se distingue de Malkuth, a Mãe, Noiva e Rainha inferior.

O número 4. Esta união da segunda e da terceira Sephiroth produziu ChSD, Chesed, Misericórdia ou Amor, também chamada de GDVLH, Gedulah, Grandeza ou Magnificência; uma potência masculina representada pelo Nome Divino AL, El, o Poderoso, e pelo nome angélico ChShMLIM, Chashmalim, Chamas Cintilantes (Ezequiel iv. 4).

O número 5. Deste emanou a potência feminina e passiva GBVRH, Geburah, força ou coragem; ou DIN, Deen, Justiça; representada pelos Nomes Divinos, ALHIM GBVR e ALH, Eloh, e pelo nome angélico ShRPIM, Seraphim (Isaías vi. 6). Esta Sephira também é chamada de PChD, Pachad, Medo.

O número 6. E destes dois saiu a Sephira unificadora, ThPARTh, Tiphereth, Beleza ou Suavidade, representada pelo Nome Divino ALVH VDOTh, Eloah Va-Daath, e pelos nomes angélicos, Shinanim, ShNANIM (Salmos lxviii. 18) ou MLKIM, Melakim, reis. Assim, pela união da justiça e da misericórdia, obtemos a beleza ou clemência, e a segunda trindade das Sephiroth está completa. Esta Sephira, ou “Caminho”, ou “Numeração” — pois por estes dois últimos títulos as emanações as vezes são chamadas — junto com a quarta, quinta, sétima, oitava e nona Sephiroth, chama-se de ZOIR ANPIN, Zauir Anpin, o Semblante Menor, Microprosopus, por meio de antítese a Macroprosopus, ou o Semblante Vasto, que é um dos nomes de Kether, a primeira Sephira. Então as seis Sephiroth das quais o Zauir Anpin é composto são chamadas de Seus seis membros. Ele também é chamado de MLK, Melekh, o Rei.

O número 7. A sétima Sephira é NTzCh, Netzach, ou Firmeza e Vitória, correspondente ao Nome Divino Jehovah Tzabaoth, IHVH TzBAVTh, o Senhor dos Exércitos, e os nomes angélicos ALHIM, Elohim, deuses, e ThRShIShIM, Tharshishim, os brilhantes (Daniel x. 6).

O número 8. Dali procedeu a potência feminina e passiva HVD, Hod, Esplendor, respondendo ao Nome Divino ALHIM TzBAVTh, Elohim Tzabaoth, o Deus dos Exércitos, e entre os anjos a BNI ALHIM, Beni Elohim, os filhos dos Deuses (Gênesis vi. 4).

O número 9. Estes dois produziram ISVD, Yesod, a Fundação ou Base, representada por AL ChI, El Chai, o Poderoso Vivo, e ShDI, Shaddai; e entre os anjos por AShIM, Aishim, as Chamas (Salmos civ. 4), produzindo a terceira Trindade das Sephiroth.

O número 10. Desta nona Sephira saiu a décima e última, assim completando a década dos números. É chamada de MLKVTh, Malkuth, o Reino, e também de Rainha, Matrona, Mãe inferior, Noiva do Microprosopus; e ShKINH, Shekinah, representada pelo Nome Divino Adonai, ADNI, e entre as hostes de anjos pelos kerubim, KRVBIM. Agora, cada uma destas Sephiroth será em certo grau andrógina, pois será feminina ou receptiva no que diz respeito à Sephira que imediatamente a precede na escala sephirótica, e masculina ou transmissiva no que diz respeito à Sephira que imediatamente a segue. Mas não há Sephira antes de Kether, nem há uma Sephira que sucede Malkuth. Por estas observações será compreendido como Chokmah é um substantivo feminino, embora marque uma Sephira masculina. O elo de conexão das Sephiroth é o Ruach, espírito, Mezla, a influência oculta.

Agora acrescentarei algumas observações sobre o significado cabalístico do termo MThQLA, Metheqla, balança. Em cada uma das três trindades ou tríades das Sephiroth há uma díade de sexos opostos, e uma inteligência unificadora que é o resultado. Nisto, as potências masculina e feminina são consideradas como dois pratos da balança, e a Sephira como que as une como a haste que as junta. Assim, então, o termo balança pode ser dito como um símbolo do Triuno, da Trindade na Unidade, e a Unidade representada pelo ponto central da haste. Mas, novamente, nas Sephiroth há uma Trindade tripla, a superior, a inferior, e a central. Agora, estas três são representadas assim: a superna, ou mais alta, pela Coroa, Kether; a central pelo Rei, e a inferior pela Rainha; que será a maior trindade. E os correlativos terrenos destes serão o primum mobile, o sol e a lua. Aqui imediatamente encontramos simbolismo alquímico.

[…]

Além disso, as Sephiroth são divididas em três pilares — o Pilar direito da Misericórdia, consistindo da segunda, quarta e sétima emanações; o Pilar esquerdo do Julgamento, consistindo da terceira, quinta e oitava; e o Pilar do meio da Suavidade, constituído pela primeira, sexta, nona e décima emanações.

Em sua totalidade e unidade, as dez Sephiroth representam o homem arquetípico, ADM QDMVN, Adam Qadmon, o Protogonos. Ao olhar para as Sephiroth que constituem a primeira tríade, é evidente que elas representam o intelecto; e daí essa tríade é chamada de mundo intelectual, OVLM MVShKL, Olahm Mevshekal. A segunda tríade corresponde ao mundo moral, OVLM MVRGSh, Olahm Morgash. A terceira representa poder e estabilidade, e é, portanto, chamada de mundo material, OLVM HMVThBO, Olahm Ha-Mevethau. Estes três aspectos são chamados de faces, ANPIN, Anpin. Assim é a árvore da vida, OTz CHIIM, Otz Chaiim, formada; a primeira tríade sendo colocada acima, a segunda e a terceira abaixo, de tal maneira que as três Sephiroth masculinas estão na direita, as três femininas na esquerda, enquanto as quatro Sephiroth unificadoras ocupam o centro. Esta é a “árvore da vida” cabalística, da qual todas as coisas dependem. Existe considerável analogia entre esta árvore e a árvore Yggdrasil dos escandinavos. Eu já fiz a observação de que existe uma trindade que compreende todas as Sephiroth, e que ela consiste da coroa, do rei e da rainha. (Em alguns sentidos esta é a Trindade Cristã de Pai, Filho e Espírito Santo, que em sua natureza Divina mais alta são simbolizados pelas primeiras três Sephiroth, Kether, Chokmah e Binah). É a Trindade que criou o mundo; ou, em linguagem cabalística, o universo nasceu da união do rei e da rainha coroados. Mas de acordo com a Cabala, antes da forma completa do homem celestial (as dez Sephiroth) ser produzida, foram criados certos mundos primordiais, mas estes não poderiam subsistir, já que o equilíbrio da balança ainda não era perfeito, e eles foram convulsionados pela força desequilibrada e destruídos. Estes mundos primordiais são chamados de “reis do tempo antigo” e de “reis do Edom que reinaram antes dos monarcas de Israel”. Neste sentido, Edom é o mundo da força desequilibrada, e Israel é as Sephiroth equilibradas (Gênesis xxxvi. 31). Este fato importante, de que mundos foram criados e destruídos antes da presente criação, é repetidamente reiterado no Zohar.

As Sephiroth também são chamadas de Mundo das Emanações, ou Mundo Atzilútico, ou mundo arquetípico, OVLM AtzILVTh, Olahm Atziloth; e este mundo deu à luz a três outros mundos contendo uma repetição das Sephiroth, mas em uma ordem descendente de luminosidade.

O segundo mundo é o mundo Briático, OVLM HBRIAH, Olahm Ha-Briah, o mundo de criação, também chamado de KVRSIA, Khorsia, o trono. É uma emanação imediata do mundo de Atziloth, cujas dez Sephiroth são refletidas aqui, e consequentemente são mais limitadas, embora elas ainda sejam da mais pura natureza, e sem mistura da matéria.

O terceiro é o mundo Jetzirático, OVLM HITzIRH, Olahm Ha-Yetzirah, ou mundo da formação e dos anjos, que procede de Briah, e, embora menos refinado em substância, ainda é sem matéria. É neste mundo angélico que residem aqueles seres inteligentes e incorpóreos que se vestem de trajes luminosos, e que assumem uma forma quando eles aparecem aos homens.

O quarto é o mundo Assiático, OVLM HOShIH, Olahm Ha-Asiah, o mundo da ação, chamado também de mundo das cascas, OVLM HQLIPVTh, Olahm ha-Qliphoth, que é este mundo da matéria, feito dos elementos mais grosseiros dos outros três. Nele também está a morada dos espíritos malignos, que são chamados de “as cascas” pela Cabala, QLIPVTh, Qliphoth, cascas materiais. Os demônios também são divididos em dez classes, e possuem habitações adequadas. (Consulte as Tabelas no 777).

Os demônios são a forma mais grosseira e deficiente de todas. Seus dez graus respondem à década das Sephiroth, mas em uma proporção inversa, conforme as trevas e a impureza aumentam com a descida de cada grau. Os dois primeiros não são nada senão ausência de forma visível e de organização. O terceiro é a morada das trevas. Em seguida seguem sete Infernos ocupados por aqueles demônios que representam os vícios dos humanos encarnados, e aqueles que se entregaram a tais vícios na vida da terra. Seu príncipe é Samael, SMAL, o anjo do veneno e da morte. Sua esposa é a meretriz, ou mulher da promiscuidade, AShTh ZNVNIM, Isheth Zenunim; e unidos eles são chamados de besta, ChIVA, Chioa. Assim a trindade infernal é completada, que é, por assim dizer, o inverso e a caricatura da Criativa superna. Samael é considerado idêntico a Satanás.

O nome da Divindade, que nós chamamos Jeová, em hebraico é um nome de quatro letras, IHVH; e a verdadeira pronúncia dele só é conhecida por poucos. Eu mesmo conheço várias pronúncias místicas dele. A verdadeira pronúncia dele é um arcano dos mais secretos, e é um segredo dos segredos. “Aquele que puder pronunciá-lo corretamente, fará com que céu e terra tremam, pois é o nome que corre através do universo”. Portanto, quando um judeu devoto o encontra ao ler a Escritura, ele não tenta pronunciá-lo, mas ao invés disso faz uma breve pausa, ou senão o substitui pelo nome Adonai, ADNI, Senhor. O significado radical da palavra é “ser”, e assim é, como AHIH, Eheieh, um glifo da existência. É capaz de doze transposições, todas elas expressando o significado de “ser”; é a única palavra que terá tantas transposições sem seu significado ser alterado. Elas são chamadas de “os doze estandartes do nome poderoso”, e dizem alguns que elas regem os doze signos do Zodíaco. Estes são os doze estandartes: — IHVH, IHHV, IVHH, HVHI, HVIH, HHIV, VHHI, VIHH, VHIH, HIHV, HIVH, HHVI. Existem três outros nomes tetragramáticos, que são AHIH, Eheieh, existência; ADNI, Adonai, Senhor; e AGLA. Este último não é, propriamente falando, uma palavra, mas sim um Notariqon da frase AThH GBVR LOVLM ADNI, Ateh Gebor Le-Olahm Adonai: “Tu és poderoso, para sempre, Ó Senhor!” Uma breve explicação de Agla é esta; A, o primeiro; A, o último; G, a Trindade em Unidade; L, a completude da grande obra.

[…]

Mas IHVH, o Tetragrammaton, como presentemente veremos, contém todas as Sephiroth com exceção de Kether, e especialmente significa o Semblante Menor, Microprosopus, o Rei da maior Trindade Sephirótica cabalística. e o Filho em Sua encarnação humana, é a acepção cristã da Trindade. Portanto, como o Filho revela o Pai, assim também IHVH, Jeová, revela AHIH, Eheieh. E ADNI é a Rainha, por quem sozinho o Tetragrammaton pode ser compreendido, cuja exaltação em Binah é encontrada na premissa cristã da Virgem.

O Tetragrammaton IHVH se refere às Sephiroth, assim: o ponto mais alto da letra Yod, I, diz-se que se refere a Kether; a letra I em si a Chokmah, o pai do Microprosopus; a letra H, ou “He superno”, a Binah, a Mãe superna; a letra V às próximas seis Sephiroth, que são chamadas de seis membros do Microprosopus (e seis é o valor numérico de V, o Vau hebraico); por fim, a letra H, o “He inferior”, a Malkuth, a décima Sephira, a noiva do Microprosopus.

[Fim do trecho da Introdução de A Kabbalah Revelada.]

Estudantes avançados deveriam consultar agora a fonte, o Kabbala Denudata de Knorr von Rosenroth, e estudá-lo por si sós. Se provará que não é fácil fazê-lo; Frater P., após anos de estudo, confessou: “Não consigo tirar muito proveito de Rosenroth”; e podemos acrescentar que somente as melhores mentes são capazes de obter mais do que um conhecimento acadêmico de um sistema que suspeitamos que nem o próprio von Rosenroth entendeu em qualquer sentido mais profundo. É claro, como um livro de referência sobre as correspondências hierárquicas da Cabala, 777 permanece sem rival.

A Cabala gráfica já foi ilustrada por completo naquele tratado. Consulte as Ilustrações 2, 12, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 24, 27, 28, 29, 33, 34, 35, 38, 39, 40, 41, 43, 45, 46, 47, 48, 50, 51, 61, 63, 64, 65, 66, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 82.

De longe a melhor e mais concisa descrição do método da Cabala é aquela de um autor desconhecido, que o Sr. Aleister Crowley imprimiu no final do primeiro volume de seu Collected Works, e que agora reimprimimos por completo.

Thelema - Dogma Cabalístico

 

Sobre a validade dos métodos da Cabala e um exemplo de sua aplicação à fórmula de IAO.

Dogma Cabalístico

A Evolução das Coisas é assim descrita pelos Cabalistas.


Primeiro há o Nada, ou a Ausência de Coisas, אין, que não significa e nem pode significar Existir Negativamente (isso se pudermos dizer que tal Ideia signifique alguma coisa), como finge S. Liddell MacGregor Mathers, que interpretou mal o Texto e invalidou o Comentário à Luz de sua própria Ignorância do hebraico e da Filosofia, em sua Tradução de v. Rosenroth.


Em segundo lugar, há o Sem Limites אין סוף, ou seja, Espaço Infinito.


Este é o Dualismo primordial da Infinidade; o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. O Choque destes produz uma Ideia positiva e finita que ocorre (consulte בראשית em The Sword of Song para um estudo mais cuidadoso, embora não se deve entender que eu aprove toda Palavra na Tese de nosso Poeta Filósofo) de ser Luz, אור. Esta palavra אור é da maior importância. Ela simboliza o Universo imediatamente após o Caos, a Confusão ou Choque dos Opostos infinitos. א é o Ovo da Matéria, ו é ♉, o Touro, ou Energia-Motriz; e ר é o Sol, ou Sistema de Orbes organizados e móveis. Assim as três Letras de אור repetem as três Ideias. A Natureza de אור é assim analisada, sob a figura dos dez Números e das 22 Letras que juntos compõem o que os Rosa-cruzes diagramaram sob o nome de Minutum Mundum. Será percebido que todo Número e Letra tem sua “Correspondência” em Ideias de toda Sorte; de modo que qualquer dado Objeto pode ser analisado em Termos dos 32. Se eu vejo uma Estrela azul, devo considerá-la como uma Manifestação de Chesed, Água, a Lua, Sal do Princípio Alquímico, Sagitário e muito mais, em respeito à sua cor Azul — outra pessoa teria de decidir quais a partir de outros Dados — e referi-la à Chave XVII do Tarô em Respeito à sua qualidade de Estrela.


O Uso dessas Atribuições é longo e variado: eu não posso me estender sobre o assunto: mas darei um Exemplo.


Se eu desejo visitar a Esfera de Geburah, eu uso as Cores e Forças adequadas: eu vou lá: se os Objetos que então aparecem à minha Visão espiritual são harmoniosos com a mesma, isso é um Teste de sua Veracidade.


Assim também, para construir um Talismã, ou invocar um Espírito.


Os métodos para a descoberta de Dogmas a partir de Palavras sagradas também são numerosos e importantes: posso mencionar: —


(a) A Doutrina das Simpatias: tirada da Numeração total de uma Palavra, quando idêntica, ou um Múltiplo ou Submúltiplo, ou uma Metátese, daquela de outra Palavra.


(b) O Método de encontrar o Menor Número de uma Palavra, somando (e re-somando) os Dígitos de seu Número total, e pegando a Chave do Tarô correspondente como uma Chave para o Significado da Palavra.


(c) O Método de Analogias tiradas da Forma das Letras.


(d) O Método de Deduções tiradas dos Significados e Correspondências das Letras.


(e) O Método de Acrósticos tirados das Letras. Este Modo só é válido para Adeptos dos mais altos Graus, e ainda sob Condições excepcionais e raras.


(f) O Método das Transposições e Transmutações das Letras, que sugerem Analogias, mesmo quando elas falham em explicar de uma Maneira direta.


Todos estes e suas Variações e Combinações, com alguns outros Métodos menos tortuosos e menos importantes, podem ser usados para desbloquear o Segredo de uma Palavra.


É claro, com Poderes tão vastos é fácil para o Tendencioso encontrar seu Significado favorito em qualquer Palavra. Até mesmo a Prova formal de que 0 = 1 = 2 = 3 = 4 = 5 = … = n é possível.


Mas o Adepto que pôs em prática este Teorema, com o próprio Intento de desacreditar o Modo de Pesquisa Cabalístico, subitamente ficou estupefato pelo Fato de que ele na verdade tropeçou na Prova Cabalística do Panteísmo ou do Monismo.


O que realmente ocorre é que o Adepto se senta e faz vários Truques inúteis com os Números, sem Resultado.


De repente, a Lux baixa, e o Problema é resolvido.


O Racionalista explica isso pela Inspiração, o Homem supersticioso pela Matemática.


Dou um Exemplo do Modo pelo qual alguém trabalha. Tomemos IAO, um dos “Nomes Bárbaros de Evocação”, do qual aqueles que desejaram ocultar sua própria Glória adotando a Autoridade de Zoroastro disseram que nas Cerimônias santas ele tinha um Poder inefável.


Mas que Tipo de Poder? Pela Cabala encontramos a Força do Nome IAO.


Podemos escrevê-lo em hebraico como יאו ou יאע. A Cabala até mesmo nos dirá qual é o Caminho verdadeiro. No entanto, vamos supor que ele é escrito como יאו. Isso soma 17.


Mas primeiramente nos parece que I, A e O são as três Letras associadas com as três Letras ה no grande Nome de Seis Letras, אהיהוה, que combina אהיה e יהוה, Macroprosopus e Microprosopus. Agora, estas Letras femininas ה escondem as “Três Mães” do Alfabeto, א, e מ e ש. Substitua-as, e obtemos אשימוא, que soma 358, o Número tanto de נחש, a Serpente do Gênesis, quanto de Messias. Assim buscamos por Poder redentor em IAO, e pelo Aspecto Masculino daquele Poder.


Agora veremos como esse Poder funciona. Temos um Dicionário curioso, que foi feito por um Homem muito erudito, no qual os Números de 1 a 10000 preenchem a Coluna esquerda, em Ordem, e do lado oposto estão escritos todas Palavras sagradas ou importantes cuja soma totaliza aquele Número.


Pegamos este Livro, e consultamos o 17. Descobrimos que 17 é o número de Quadrados na Suástica, que é o Disco Rodopiante ou Relâmpago. Também há חוג, um Círculo ou Órbita; זוד, ebulir ou ferver; e algumas outras Palavras, que negligenciaremos neste Exemplo, embora não deveríamos ousar fazer isso se realmente estivéssemos tentando descobrir uma Coisa que nenhum de nós soubesse. Par ajudar em nossa Dedução sobre Redenção, também, encontramos חדה, abrilhantar ou alegrar.


Também trabalhamos de um outro Jeito. I é a Linha Reta ou Pilar Central do Templo da Vida; também simboliza a Unidade, e a Força Gerativa. A é o Pentagrama, que significa a Vontade do Homem trabalhando a Redenção. O é o Círculo do qual tudo veio, também o Nada, e o Feminino, que absorve o Masculino. Então o Progresso do Nome mostra o Caminho da Vida para o Nirvāṇa por meio da Vontade: e é um Hieróglifo da Grande Obra.


Observe todos os nossos Significados! Cada um mostra que o Nome, se realmente tiver algum Poder, e isso nós precisamos experimentar, tem o Poder de nos redimir do Amor da Vida que é a Causa da Vida, por seus Rodopios masculinos, e de nos tornar felizes e de nos trazer ao Seio da Grande Mãe, a Morte.


Antes daquilo que é conhecido como o Equinócio dos Deuses, algum Tempo atrás, havia uma Fórmula iniciada que expressava estas Ideias para os Sábios. Já que estas Fórmulas estão terminadas, não há Consequências se eu as revelar. A Verdade não é eterna, não mais que Deus; e só um Deus pobre que não poderia e não alteraria seus Caminhos a seu bel Prazer.


Esta Fórmula foi usada para abrir a Cripta da Montanha Mística de Abiegnus, na qual jaz (assim supõe a Cerimônia de Iniciação) o Corpo de nosso Pai Christian Rosen Creutz, para ser descoberto pelos Irmãos com o Postulante conforme dito no Livro chamado Fama Fraternitatis.


Há três Oficiais, e eles repetem a Análise da Palavra como segue: —


Chefe. Analisemos a Palavra Chave — I.


2°. N.


3°. R.


Todos. I.


Chefe. Yod. י


2°. Nun. נ


3°. Resh. ר


Todos. Yod. י


Chefe. Virgem (♍) Ísis, Poderosa Mãe.


2°. Escorpião (♏) Apófis, Destruidor.


3°. Sol (☉) Osíris, morte e ressuscitado.


Todos. Ísis, Apófis, Osíris, IAO.


Todos estendem os Braços como se estivessem em um Cruz, e dizem: —


O Sinal de Osíris assassinado!


O Chefe inclina a Cabeça para a Esquerda, levanta seu Braço Direito, e baixa seu Esquerdo, mantendo o Ombro em ângulo reto, assim formando a Letra L (também a Suástica).


O Sinal do Luto de Ísis.


2°. Com a Cabeça erguida, levanta seus Braços para formam um V (mas na verdade para formar a tripla Língua de Chama, o Espírito), e diz: —


O Sinal de Apófis e Tifão.


3°. Abaixa sua Cabeça e cruza seus Braços sobre seu Peito (para formar o Pentagrama).


O Sinal de Osíris ressuscitado.


Todos dão o Sinal da Cruz, e dizem: —


L.V.X.


Então o Sinal de Osíris ressuscitado, e dizem: —


Lux, a Luz da Cruz.


Esta Fórmula, sobre a qual pode-se meditar por Anos sem exaurir suas maravilhosas Harmonias, dá uma excelente Ideia do Modo pelo qual a Análise Cabalística é conduzida.


Primeiramente, as Letras foram escritas em Caracteres Hebraicos.


Então as Atribuições delas ao Zodíaco e aos Planetas são substituídas, e os Nomes dos Deuses Egípcios que pertencem às mesmas são invocados.


A Ideia cristã de I.N.R.I. é confirmada por elas, enquanto suas Iniciais formam a Palavra sagrada dos Gnósticos. Ou seja, IAO. Do Caráter das Divindades e suas Funções, deduz-se seus Signos, e descobre-se que estes sinalizam (como se fosse) a Palavra Lux (אור), ela mesma contida na Cruz.


Um Estudo cuidadoso destas Ideias, e da Tabela de Correspondências que um de nossos Irmãos Ingleses está fazendo, permitirá que se descreva uma grande Quantidade de Matéria para Reflexão nestes Poemas que passariam despercebidos para uma Pessoa não-tutorada.


Retornemos ao Dogma geral dos Cabalistas.


A Figura do Minutum Mundum mostrará como eles supõe que uma Qualidade procede da última, primeiro no puro Mundo de Deus de Atziluth, então no Mundo dos Anjos de Briah, e assim por diante até o Mundo dos Demônios, que, no entanto, não são assim organizados. Na verdade, eles são o Material que se separou do Curso da Evolução, como a Pele Morta de uma Serpente, de onde vem seu Nome de Conchas, ou Cascas.


Fora as Questões tolas do tipo se a Ordem das Emanações é confirmada pela Paleontologia, uma Questão que é bastante impertinente discutir, não há Dúvidas de que as Sephiroth são tipos de Evolução em oposição a Catástrofe e Criação.


A grande Acusação contra esta Filosofia baseia-se em suas alegadas Afinidades com o Realismo Escolástico. Mas a Acusação não é muito verdadeira. Sem Dúvidas, mas eles supuseram vastos Armazéns de “Coisas de um Tipo” das quais, puras ou misturadas, todas as outras Coisas procederam.


Desde que ג, um Camelo, se refere à Lua, eles disseram que um Camelo e a Lua são simpáticos, e vieram, essa Parte deles, de um Princípio comum: e que um Camelo sendo marrom amarelado, partilhou da Natureza da Terra, à qual aquela Cor é dada.


Daí dizem que tomando todas as Naturezas envolvidas, e misturando elas em Proporções adequadas, tem-se um Camelo.


Mas isso não é nada mais do que é dito pelos Defensores da Teoria Atômica.


Eles têm seus Armazéns de Carbono, Oxigênio, e etc. (não em um único Lugar, mas também Geburah não está em um único Lugar), e o que é a Química Orgânica senão a Produção de Compostos úteis cuja Natureza é deduzida absolutamente de Considerações teóricas muito antes de serem produzidas no Laboratório?


A diferença, você dirá, é que os Cabalistas mantêm uma Mente de cada Tipo através de cada Classe de Coisas de um Tipo; mas assim também o fez Berkeley, e seu Argumento a este Respeito é, como o grande Huxley demonstrou, irrefutável. Pois por Universo eu quero dizer o Sensível; qualquer outro Não é para ser Conhecido; e o Sensível depende da Mente. Não, embora diz-se que o Sensível é um Argumento de um Universo Insensível, o último se torna sensível à Mente tão logo um Argumento é aceito, e desaparece com sua Rejeição.


Nem a Cabala é dependente de seu Realismo, e da Aplicação de seus Trabalhos mágicos — mas eu estou defendendo uma Filosofia que solicitaram que eu descrevesse, e isso não é válido.


Muito pode ser aprendido da Tradução do Zohar por S. Liddell MacGregor Mathers, e sua Introdução ao mesmo, embora para aqueles que saibam latim e tenham alguma familiaridade com o hebraico seja melhor estudar o Kabbala Denudata de Knorr von Rosenroth, à Despeito de seu alto Preço; pois o Tradutor distorceu o Texto e seu Comentário para atender à sua crença em um Deus Pessoal supremo, e naquela degradada Forma da Doutrina do Feminismo que é tão popular entre os Emasculados.


As Sephiroth são agrupadas de diversas Maneiras. Há uma Tríade ou Trindade Superior; uma Hexada; e Malkuth: a Coroa, o Pai, e a Mãe; o Filho ou Rei; e a Noiva.


Também, uma Divisão em sete Palácios, sete Planos, três Pilares ou Colunas, e outras.


A Espada Flamejante segue o Curso dos Números; e a Serpente Nechushtan ou Serpente da Sabedoria, rasteja subindo pelos Caminhos que os conectam sobre a Árvore da Vida, a saber as Letras.


É importante explicar a Posição de Daäth ou Conhecimento sobre a Árvore. Ela é chamada de Filha de Chokmah e de Binah, mas não tem Lugar. Mas é na verdade o Ápice de uma Pirâmide da qual os três primeiros Números formam a Base.


Agora a Árvore, ou Minutum Mundum, é uma Figura em um Plano de um Universo sólido. Daäth, estando acima do Plano, é, portanto, uma Figura de uma Força em quatro Dimensões, e assim é o Objeto da Magnum Opus. Os três Caminhos que a conectam com a Primeira Trindade são as três Letras perdidas ou Pais do Alfabeto Hebraico.


Diz-se que em Daäth se encontra a Cabeça da grande Serpente Nechesh ou Leviatã, chamada de Maligna para esconder sua Santidade. (משיח = 358 = נחש, o Messias ou Redentor, e מלכות = 496 = לויתך, a Noiva[1]). É idêntica com a Kuṇḍalinī da Filosofia Hindu, e o Koan-sè-im dos Mongóis, e significa a Força mágica no Homem, que é a Força sexual aplicada ao Cérebro, ao Coração e aos outros Órgãos, e o redime.


A gradual Revelação destes Segredos mágicos ao Poeta pode ser identificada nestes Volumes, e foi meu Privilégio ter sido solicitado para explicá-la. Foi impossível fazer mais do que colocar nas Mãos de qualquer Pessoa inteligente as Chaves que permitirão desbloquear as muitas e Belas Câmaras de Santidade nestes Palácios e nestes Jardins de Beleza e de Prazer.


[1] [Na verdade לויתך soma 466 ou 946 se considerar o valor diferente para a letra final.]

Thelema - Uma Crítica aos Métodos da Cabala

 

Nós possuímos uma joia impecável dos resultados do método, já impressa no Equinox (Vol. I Nº 2 pp. 163-185): Uma Nota Sobre o Gênesis, pelo M. H. Fra. I. A.

Partindo desta visão agradável, ortodoxa, e-viveram-felizes-para-sempre, retornemos por um momento ao aspecto crítico. Vamos demolir os métodos cabalísticos de exegese um de cada vez; e então, se pudermos, vamos descobrir uma base verdadeira sobre a qual erigir um duradouro Templo da Verdade.

1. Gematria
O número 777 fornece um bom exemplo das deduções legítimas e ilegítimas que podem ser obtidas. Ele representa a frase AChTh RVCh ALHIM ChIIM, “Um é o Espírito do Deus Vivo”, e também OLAHM H-QLPVTh, “O mundo das Cascas (excrementos — o mundo dos demônios)”.

Agora, é errado dizer que essa ideia da unidade do espírito divino é idêntica com essa ideia do lodo do caos — exceto naquele grau exaltado em que “O Um é o Muitos”. Mas o compilador do Liber 777 foi um grande cabalista quando ele assim intitulou seu livro; pois ele simplesmente quis implicar, “Um é o Espírito do Deus Vivo”, ou seja, neste livro unifiquei todos os diversos símbolos do mundo; e também, “o mundo das cascas”, ou seja, este livro está cheio de meros símbolos mortos; não os confunda com a Verdade viva. Além disso, ele tinha um motivo acadêmico para sua escolha de um número; pois a tabulação do livro vai de Kether a Malkuth, o curso da Espada Flamejante; e se esta espada for desenhada sobre a Árvore da Vida, a numeração dos Caminhos sobre os quais ela passa (tomando ג,‎ 3, como o caminho inexistente de Binah a Chesed, desde que ele conecta o Macroprosopus e o Microprosopus) é 777. [Consulte os Diagramas 2 e 12.]

Tomando outro exemplo, não é por mera coincidência que 463, o Cajado de Moisés, é ‎ג‎, ‎ס‎, ‎ת‎, os caminhos do Pilar do Meio; não é por mera coincidência que 26, יהוה, é 1+6+9+10, as Sephiroth do Pilar do Meio. Mas não deveríamos ter algum Nome supremo para 489, sua soma, o Pilar do Meio perfeito? No entanto, o Sepher Sephiroth está silente. [Encontramos apenas 489 = MShLM GMVL, o vingador. Ed.]

Novamente, 111 é Aleph, a Unidade, mas também APL, densas Trevas, e ASN, Morte Súbita. Isso só pode ser interpretado como significando a aniquilação do indivíduo na Unidade, e as Trevas que são o Limiar da Unidade; em outras palavras, é preciso ser um perito em Samādhi antes que essa simples Gematria tenha qualquer sentido adequado. Então como ela pode servir ao estudante em sua pesquisa? O não-iniciado esperaria Vida e Luz no Um; somente através da experiência ele pode saber que para o homem a Divindade precisa se expressar por aquelas coisas que ele mais teme.

Aqui nós evitamos de propósito insistir em meras tolices de muitas correspondências da Gematria, por exemplo, a igualdade da Qliphoth de um signo com a Inteligência de outro. Tais erros são mais frequentes do que acertos como AChD, Unidade, 13 = AHBH, Amor, 13.

O argumento é um argumento em círculos. “Somente um adepto pode compreender a Cabala”, tal como (no Budismo) Śākyamuni disse, “Somente um Arhat pode entender o Dhamma”.

De fato, sob esta luz a Cabala não parece nada mais do que uma linguagem conveniente para registrar experiências.

Podemos mencionar de passagem que Frater P. nunca se conformou com a óbvia “fabricação” de argumentar que: x = y + 1 ∴ x = y, assumindo que x deveria adicionar um a si mesmo “para a unidade oculta”. Por que o y não deveria ter uma unidadezinha oculta própria?

O fato deste método ter sido aceito por qualquer cabalista afirma um fracasso de uma ingenuidade inacreditável. Sendo justo, isso é mais fácil do que falsificar identidades, usando métodos menos óbvios de trapacear!

2. Notariqon
O absurdo deste método requer pouca indicação. Até quem não é tão inteligente pode sentir pena e rir às custas do judeu do Sr. Mathers, convertido pelos Notariqons de “Berashith”. É verdade, F.I.A.T. é Flatus, Ignis, Aqua, Terra; mostrando o Criador como Tetragrammaton, a síntese dos quatro elementos; mostrando o Fiat Eterno como os poderes da Natureza equilibrados. Mas o que proíbe Fecit Ignavus Animam Terrae, ou qualquer outra blasfêmia conveniente, que Buddha aplaudiria?

Por que não pegar nosso judeu convertido e restaurá-lo ao Gueto, com Ben, Ruach, Ab, Sheol! — IHVH, Thora? Por que não pegar o sagrado Ἰχθνς dos cristãos que pensavam que significava Ἰησονς Χριστος Θϵον Ὑιος Σωτηρ e torná-lo pagão com Ἰσιδος Χαρις Θησαυρος Ὑιων Σοφιας?

Por que não argumentar que Cristo ao amaldiçoar a figueira {fig}, F.I.G., desejava atacar os dogmas de Kant de Livre-Arbítrio {Freewill}, Imortalidade {Immortality}, Deus {God}?

3. Temurah
Aqui novamente a multiplicidade de nossos métodos torna o nosso método flexível demais para ser confiável. Deveríamos argumentar que BBL = ShShK (620) pelo método de Athbash, e que, portanto, BBL simboliza Kether (620)? Por quê? BBL é confusão, exatamente o oposto de Kether.

Por que Athbash? Por que não Abshath? ou Agrath? ou qualquer outra das combinações possíveis?

Um dos poucos Temurah úteis é o Aiq Bkr, dado acima. Neste encontramos um raciocínio sugestivo. Por exemplo, o encontramos na atribuição de ALHIM ao pentagrama que dá π. [Veja o Equinox, Vol. I Nº 2, p. 184]. Aqui escrevemos Elohim, as divindades criativas, ao redor de um pentagrama, e o lemos ao contrário começando com ל, ♎, a letra do equilíbrio, e obtemos um valor aproximado de π 3.1415 (bom o suficiente para hebreus incultos), como se por meio dele o quadrado finito da criação fosse assimilado em um círculo infinito do Criador.

Sim: mas por que Berashith 2, 2, 1, 3, 1, 4, não dá, digamos, e? A única resposta é que se torcermos o suficiente, talvez dê!

A Tabela Racional do Tziruph deveria, concordamos com Fra. P, ser deixada para a Associação de Imprensa Racionalista, e podemos apresentar a Tabela Irregular de Comutações para os Maçons Irregulares.

4. Aos métodos menos importantes podemos aplicar a mesma crítica.
Podemos vislumbrar de passagem os métodos Yetzirático, do Tarô e significatório de investigar qualquer palavra. Mas apesar de que Frater P. conhecia o suficiente destes métodos, eles dificilmente são pertinentes à Cabala puramente numérica, portanto, nós gentilmente trataremos deles. As atribuições são dadas no 777. Assim א no mundo Yetzirático é “Ar”, pelo Tarô “O Tolo”, e por significado “um boi”. Assim nós temos o famoso I.N.R.I. =‎ י.‎ נ.‎ ר.‎ י. ‎‎= ♍, ♏, ☉, ♍; a Virgem, a Serpente Maligna, o Sol, sugerindo a história do Gênesis 2 e do Evangelho. As iniciais dos nomes egípcios Ísis, Apófis, Osíris, que correspondem, dão por sua vez o Nome Inefável IAO; assim dizemos que o Inefável está oculto e é revelado pelo Nascimento, Morte e Ressurreição de Cristo; e além disso os Sinais do Luto da Mãe, do Triunfo do Destruidor, e do Renascimento do Filho, dão a forma das letras L.U.X., Lux, cujas letras (novamente) são ocultas e reveladas pela Cruz  a Luz da Cruz. Outros exemplos serão encontrados em Uma Nota Sobre o Gênesis. Um dos mais famosos é o Mene, Tekel, Upharsin de Daniel, o profeta imaginário que viveu sob Belshazzar, o rei imaginário.

MNA. O Enforcado, Morte, o Tolo = “Sacrificado à Morte por tua Tolice”.
ThKL. O Universo, A Roda da Fortuna, Justiça = “A fortuna de teu reino está no Equilíbrio”.
PRSh. A Torre Destruída, o Sol, o Juízo Final = “Arruinada está tua glória, e terminada”.
Mas não podemos deixar de pensar que esta exegese deve ter sido um trabalho muito difícil.

Poderíamos ler mais facilmente:

MNA. Sacrificar à morte é tolice.
ThKL. Teu reino será afortunado, porque é justo.
PRSh. A Torre de tua glória perdurará até o Último Dia.
Pronto! isso não levou nem dois minutos; e Belshazzar nos exaltaria mais do que a Daniel.

Ou, por Yetzirah: “O ar é Seu equilíbrio”, como está escrito: “Deus criou o firmamento, e dividiu as águas que estão abaixo do firmamento das águas que estão acima do firmamento”.

Ou, por significado: “O boi e o arado”, ou seja, “Ele é tanto matéria quanto movimento”.

Leituras Místicas das Letras do Alfabeto
(Observe as Cartas do Tarô, e Medite)

ALP. A Tragédia da Tolice é a Ruína.
BITh. O Prestidigitador com o Segredo do Universo.
GML. O Santo Anjo Guardião é alcançado por Auto Sacrifício e Equilíbrio.
DLTh. O Portão do Equilíbrio do Universo. (Observe D, o maior caminho bilateral.)
HH. A Mãe é a Filha; e a Filha é a Mãe.
VV. O Filho é (apenas) o Filho. (Estas duas letras mostram a verdadeira doutrina da iniciação conforme dada em Liber 418; em oposição ao Exotericismo Protestante).
ZIN. A resposta dos Oráculos é sempre Morte.
ChITh. A Carruagem do Segredo do Universo.
TITh. Aquela que rege a Força Secreta do Universo.
IVD. O Segredo do Portão da Iniciação.
KP. Nos Rodopios está a Guerra.
LMD. Por Equilíbrio e Auto Sacrifício, o Portão!
MIM. O Segredo está oculto entre as Águas que estão acima e as Águas que estão abaixo. (Símbolo, a Arca contendo o segredo da Vida carregada sobre o Seio do Dilúvio abaixo das Nuvens).
NVN. A Iniciação é guardada em ambos os lados pela morte.
SMK. Autocontrole e Auto Sacrifício governam a Roda.
OIN. O Segredo da Geração é Morte.
PH. A Fortaleza do Altíssimo. (Observe P, o caminho bilateral mais baixo).
TzDI. Na Estrela está o Portão do Santuário.
QVP. Ilusória é a Iniciação da Desordem.
RISh. No Sol (Osíris) está o Segredo do Espírito.
ShIN. A Ressurreição está oculta na Morte.
ThV. O Universo é o Hexagrama.
(Outros significados servem a outros planos e a outros graus).

Verdadeiramente, não há um fim para esta maravilhosa ciência; e quando o cético zomba “Com todos estes métodos alguém pode tirar todas as coisas a partir do nada”, o Cabalista sorri de volta com sublime retórica, “Com estes métodos Alguém de fato criou todas as coisas a partir do nada”.

Além destes, ainda há um outro método — um método de alguma importância para os estudantes do Siphra Dzeniouta, a saber, as analogias obtidas a partir das formas das letras; estas frequentemente são interessantes o suficiente. א, por exemplo, é um ו entre um י e י, somando 26. Assim יהוה ‎26 = ‎א‎, 1. ‎Portanto Jeová é Um. Mas seria tão pertinente quanto continuar com 26 = 2 × 13, e 13 = Achad = 1, e, portanto, Jeová é Dois.

Então isso é um absurdo. Sim; mas também é um arcano!

Quão maravilhosa é a Cabala! Quão grande é sua segurança contra os profanos; quão esplêndidos são seus segredos para os iniciados!

Verdadeiramente e Amém! no entanto, aqui novamente estamos naquele antigo dilema, de que deve-se conhecer a Verdade antes que possamos confiar na Cabala para mostrar a Verdade.

Como o imortal larápio:

“Bill não machucaria nem mesmo um bebê — é um parceiro em quem pode confiar,
Ele é gente fina quando você o conhece; mas primeiro você tem que conhecê-lo.

Portanto, aqueles que se dedicaram ao estudo acadêmico de seus mistérios só encontraram uma vara seca: aqueles que compreenderam (favorecidos por Deus!) encontraram ali a vara de Arão que floresceu, o Cajado da própria Vida, sim, o venerável Liṅgaṃ de Mahā Śiva!

Cabe a nós seguir as pesquisas de Frater P. sobre a Cabala, demonstrar como a partir desse armazém de quebra-cabeças de crianças, de contradições e incongruências, de paradoxos e trivialidades, ele descobriu o próprio cânone da Verdade, a autêntica chave do Templo, a Palavra daquela poderosa Combinação que abre a Câmara-do-Tesouro do Rei.

E o que segue é o Manuscrito que ele nos deixou para nossa instrução.