domingo, 16 de fevereiro de 2025

Diabolicon


Diabolicon é o livro que conta a história por trás da Bíblia pelo ponto de vista do diabo. Ele narra a origem e rebelião de Lúcífer, as Guerras dos Anjos e o projeto de “salvação” da humanidade contato por meio dos testemunhos feitas por alguns dos principais demônios envolvidos. Essa obra já foi igualada ao Codex Giga, a famosa ‘bíblia do diabo’ que supostamente surgiu em um mosteiro beneditino medieval quando um monge vendeu sua alma a Lúcifer em troca de conhecimento. Ele teria sido escrito a mão livre pelo próprio Demônio em uma única noite. Mas enquanto o Codex Giga é uma lenda cristã o Diabolicon é um livro real escrito por Michael Aquino no V Anno Satannas, época em que era um dos principais sacerdotes da Igreja de Satã.


Nesta época contudo Aquino era um soldado americano em um dos maiores massacres da história moderna, a guerra do Vietnã. Tomando parte da destruição sem sentindo e da matança indiscriminada de homens, mulheres, crianças, soldados e civis, feita em nome da liberdade e da verdade, Aquino foi tocado por uma “sabedoria antiga” que o atormentou dia e noite, até que passou para o papel o que lhe era ensinado nos momentos em que sua visão se tornava clara e a voz invisível se fazia presente para ele.


Ao terminar de escrever e revisar a a obra Aquino enviou uma cópia a Anton LaVey, fundador e sacerdote maior da Igreja de Satã que respondeu:


“Recebi com segurança a cópia que me enviou do Diabolicon. É realmente uma obra que deixará um impacto duradouro. Feita de uma maneira atemporal e com completa consciência. Tão impressionado fiquei que selecionei algumas passagens para usar em minhas leituras pessoais na cerimônia desta tarde, que presta homenagem as obras dos Mestres Satânicos do passado, como Maquiavel, Nietzsche, Twain, Hobbes, etc… Você tem minha sincera gratidão por este belo presente que graciosamente nos deu, e tenha certeza que ele assumirá um papel importante em nossa Ordem.” [fonte: Temple of Set]


Este não foi a único ritual a usar trechos deste livro. De fato, a forma como a narração foi escrita a torna bastante adequada para visualizações e propósitos cerimoniais.  O Diabolicon passou a ser um dos documentos internos do grupo e circulava por meio de cópias entre os sacerdotes. Ele só foi revelado aos não membros da Igreja de Satã seis anos depois quando Aquino saiu da organização para fundar o Templo de Set, uma dissidência da Igreja de Satã de cunho mais iniciático.

Babalon e seus Mistérios


“BABALON é nossa Mãe, mas quem é ela? Ela é simplesmente tudo. O que você está vendo, o que está bebendo, o que está vestindo, a maneira como o cabelo cheira, a maneira como o barulho do lado de fora atinge a janela, o cachorro etc. Tudo isso é Babalon, toda a realidade material. Ela é a Mãe Divina, a portadora da Luz e das Trevas e a Ela somos subjugados por sua autoridade majestosa.”

– Tau Nahash, A Emanação Babalon


A partir do sistema de Magick de Crowley, ela é retratada como a Mulher Escarlate, a Grande Mãe e Mãe das Abominações. Sua forma divina é a da prostituta sagrada e seu principal símbolo é o Cálice do Graal. Seu consorte é o Caos, o ‘Pai da Vida’, a forma masculina do Princípio Criativo. Babalon é frequentemente descrita como uma mulher carregando uma espada e cavalgando a Besta com a qual Aleister Crowley se identificou pessoalmente. Em um sentido mais geral, Babalon representa a mulher liberada e a expressão do impulso sexual.


Etimologia e referências bíblicas

Em primeiro lugar, a forma divina de Babalon parece derivar de uma passagem no Apocalipse, uma fonte de grande inspiração para a cosmologia de Crowley. No Apocalipse, encontramos esta passagem:


“3 E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor escarlate, que estava cheia de nomes de blasfêmia e tinha sete cabeças e dez chifres. 4 E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, adornada com ouro, e pedras preciosas, e pérolas, e tinha na mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição. 5 E, na sua testa, estava escrito o nome: Mistério, a Grande Babilônia, a Mãe das Prostituições e Abominações da Terra. 6 E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração.”


Apocalipse 17:3-6 (tradução de Sower).


O nome Babalon pode ser derivado de várias fontes. Primeiro, há uma óbvia semelhança com a Babilônia. Babilônia era uma grande cidade na Mesopotâmia, a fonte da cultura suméria. A divindade Ishtar tem uma semelhança bastante assombrosa com a Babilônia de Crowley. A própria Babilônia é uma cidade frequentemente citada na Bíblia, geralmente como uma imagem do paraíso caída na ruína, um aviso contra a maldição da decadência:


“1 E, depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. 2 E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, e abrigo de todo espírito imundo, e refúgio de toda ave imunda e aborrecível! 3 Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição. Os reis da terra se prostituíram com ela. E os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.

4 E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas. 5 Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela.” Apocalipse 18:1-5 (tradução Sower).


Outra possibilidade deriva da palavra Enoquiana BABALOND, que é traduzida como “meretriz”. Esta é provavelmente a explicação mais provável desde que a “Visão e Voz” foi obtida por Crowley através de viagens astrais seguindo o sistema de magia Enoquiana.


Crowley provavelmente escolheu a grafia Babalon por seu significado Cabalístico. Ao substituir a letra ‘y’ da Babilônia por um ‘a’, a palavra ‘AL’ aparece no centro da palavra. Tudo se decompõe então da seguinte forma: Bab-al-on. Bab é a palavra árabe para “porta”; “AL” é a Chave da Legislação da Liberdade, e também o nome cabalístico para Deus; “ON” é o nome da cidade egípcia que os gregos chamaram de Heliópolis, a Cidade das Pirâmides. Por gematria, Babalon, באבאלען, é igual a 156, que é o número de quadrados em cada tablete dos elementos do sistema Enoquiano de Dee e Kelly. Estas placas são identificadas com a Cidade das Pirâmides, sendo cada quadrado a base de uma pirâmide.


Babalon, a Porta da Cidade das Pirâmides

No sistema Magick, o adepto chega à etapa final quando deve atravessar o Abismo, aquele lugar selvagem do nada e da dissolução. Choronzon (veja nosso estudo sobre Choronzon) reside neste lugar e seu papel é encurralar o viajante neste mundo de ilusões. Entretanto, Babalon está apenas do outro lado acenando para o adepto. Se o adepto se entrega a Ela – o símbolo deste ato é o derramamento do sangue do adepto em seu Graal – ele então se imbui dela para renascer como mestre e santo que reside na Cidade das Pirâmides. Este processo é lindamente descrito no 15º Aethyr da Visão e da Voz.


O conceito contido na imagem de Babalon é o de um ideal místico, a busca de tornar-se um com o todo. Este processo exige necessariamente a recusa de negar qualquer coisa, de se tornar perfeitamente passivo para o mundo, de permitir que todas as experiências ocorram, de se entregar em uma enxurrada de sensações. Através disto, o místico entra em contato direto com a vida, formulando assim o vinho Graal, sendo o entendimento destilado que é derivado da experiência bruta. Este processo tem sua analogia no trabalho da Senhora da Noite.


Babalon é descrita em vários textos de Thelema, mas seu aspecto mais edificante está na “Visão e Voz” na passagem que explica a função do Cálice:


“Que ele olhe dentro da taça cujo sangue está misturado, pois o vinho da taça é o sangue dos santos. Glória a Mulher Escarlate, Babalon a Mãe das Abominações a qual cavalga a Besta, pois ela derramou o sangue deles em cada um dos cantos da terra e veja! Ela o misturou na taça de sua prostituição.


Com o hálito de seus beijos ela o fermentou e ele se tornou o vinho do Sacramento, o vinho do Sabbath; e da Santa Assembleia ela o verteu para seus adoradores que se embriagaram e assim, face a face, contemplaram meu Pai. Deste modo tornaram-se dignos de compartilhar do Mistério desse cálice sagrado, pois o sangue é a vida.”


(Esse vinho é tal que sua virtude irradia através da taça e cambaleio sob a sua intoxicação. E cada pensamento é ceifado por ele. Ele continua sozinho e seu nome é Compaixão. Por “Compaixão” entendo o sacramento do sofrimento compartilhado pelos verdadeiros adoradores  do Altíssimo. É um êxtase no qual não existe traço de dor. A sua passividade (=paixão) é como a rendição do eu ao amado.)”


A Visão e a Voz, 12th Aethyr, Aleister Crowley.


A grafia de seu nome como ‘Babalon’ só foi revelada na visão do 10º Aethyr, onde este nome é usado para banir as forças de Choronzon. A descoberta da forma do Nome representa a bem sucedida travessia do Abismo por Crowley e a entrada na Esfera de Binah que é atribuída a Babalon.


A Cidade das Pirâmides é o lar místico dos adeptos que atravessaram com sucesso o Grande Abismo, aqueles que derramaram seu sangue no Graal de Babalon. Eles destruíram seu ego, de modo que agora são apenas grãos de poeira. Eles se tornaram crianças dentro de Babalon e lá eles têm o sagrado nome: Nemo. No sistema A∴A∴, eles são chamados de “Mestres do Templo”.


A Grande Prostituta

Babalon leva este título porque não recusa ninguém e ainda exige um grande preço – o sangue do adepto e sua identidade de ego como um ser terreno. Este aspecto de Babalon é descrito com mais detalhes pelo 12º Aethyr:


“Esse é o Mistério de Babilônia, a Mãe das abominações, e esse é o Mistério dos seus adultérios, pois ela se entregou a tudo que vive e assim tornou-se parte desse mistério. E por ter feito a si mesma uma serva de cada um, tornou-se senhora de tudo. Tu não podes compreender sua glória.”


“Bela és tu, Ó Babalon, e desejável, pois tu te entregaste a tudo que vive e tua fraqueza sobrepujou tua força. Pois essa união tu “compreendeste”. Por isso tu és chamada Compreensão, Ó Babilônia, Senhora da Noite!”


O papel da Mulher Escarlate

Embora Crowley escrevesse frequentemente que a Babalon e a Mulher Escarlate são uma só pessoa, também há momentos em que a Mulher Escarlate é vista como uma manifestação representativa ou física do princípio feminino universal. Em uma nota no Liber Reguli, Crowley menciona que dos “Deuses do Éon”, a Mulher Escarlate e a Besta são “os emissários terrestres desses Deuses”. Ele então escreve em seus Comentários:


“É necessário dizer que a Besta parece ser um indivíduo definido; ao perceptivo, o homem Aleister Crowley”. Mas a Mulher Escarlate é um oficial substituível quando surge a necessidade. Assim, até a presente data deste escrito, Anno XVI, Sun in Sagittarius, houve muitos detentores deste título.”


A Grande Mãe

Dentro da Missa Gnóstica, Babalon é mencionada no Credo Gnóstico:


“E eu creio em uma Terra, a Mãe de todos nós, e um Ventre onde todos somos gerados e para onde todos deveremos retornar, Mistério dos Mistérios, de Seu Nome BABALON”.


Babalon é identificada com Binah na Árvore da Vida, a esfera que representa a Grande Mãe e as deusas-mães Ísis, Bhavani e Muat. Além disso, ela representa todas as mães físicas.


Babalon no capítulo 49 do Livro das Mentiras:


“AS FLORES DE WARATAH


Sete são os véus da dançarina do harém d’ELE.


Sete são os nomes, e sete são as lâmpadas ao lado da cama Dela.


Sete eunucos A guardam com espadas desembainhadas; Nenhum

Homem aproxima-se Dela.


Em seu copo de vinho estão as sete torrentes de sangue dos Sete

Espíritos de Deus.


Sete são as cabeças d’A BESTA na qual Ela Cavalga.


A cabeça de um Anjo: a cabeça de um Santo; a cabeça de um Poeta:

a cabeça de Uma Mulher Adúltera: a cabeça de um Homem Valoroso; a

cabeça de um Sátiro; e a cabeça de um Leão-Serpente.


Sete letras tem Seu mais sagrado nome, que é:


BABALON 7 7, 77, 77, 7


Este é o Selo sobre o Anel que está no Indicador d’ELE: e este é o

Selo sobre as Tumbas daqueles a quem Ela assassinou.


Aqui está sabedoria. Que aquele que tem Compreensão conte o

Número de Nossa Senhora; pois que ele é o Número de uma Mulher; e Seu Número é Cento e Cinquenta e Seis.”


Sobre este capítulo, Crowley faz o seguinte comentário:


“49 é o quadrado de 7.


7 é o número passivo e feminino.


O capítulo pode ser lido em conexão com o capítulo 31, pois ELE

(N. Trad.: IT, no original em inglês) reaparece.


O título, a Waratah, é uma voluptuosa flor de cor escarlate, comum

na Austrália, o que conecta este capítulo com os de número 28 e 29; no entanto, isso é apenas uma alusão, pois o assunto do capítulo é NOSSA SENHORA BABALON, a qual é concebida como a contraparte feminina d’ELE.


Isso não confirma muito a teogonia comum ou ortodoxa do capítulo 11; mas deve ser explicado pela natureza ditirâmbica deste capítulo.


No parágrafo 3, NENHUM HOMEM é, claramente, NEMO, o Mestre do Templo. “Liber 418” explicará a maioria das alusões neste capítulo.


Nos parágrafos 5 e 6, o autor identifica-se claramente com a BESTA referida no livro, no Apocalipse e em LIBER LEGIS. No parágrafo 6, a palavra “anjo” talvez se refira à sua missão, e a palavra “leão-serpente” ao sigilo de seu decano ascendente. (Teth = Cobra = espermatozoide e Leo no Zodíaco, o qual tem, como Teth, forma de serpente. θ escrevia-se originalmente {Sol} = Lingam-Yoni e Sol.)


O parágrafo 7 explica a dificuldade teológica referida acima. Há

apenas um único símbolo, mas este símbolo tem muitos nomes: destes nomes BABALON é o mais sagrado. Este é nome ao qual se refere em “Liber Legis” 1, 22.


Repare que a figura de BABALON, ou seu sigilo, é um selo sobre

um anel, e este anel está no dedo d’ELE.


Isto identifica ainda mais o símbolo consigo próprio. Repare que este selo, a não ser pela ausência de margem, é o selo oficial da A.·.A.·.


Compare com o Capítulo 3. Diz-se também ser este o selo sobre as tumbas daqueles que foram por ela assassinados, que são os Mestres do Templo. Conectando com o número 49, ver “Liber 418”, 22o Aethyr; bem como as fontes usuais.”


Livro de Mentiras – Aleister Crowley – Tradução de Philippe Pissier.


A Mulher Escarlate e o Livro da Lei

Capítulo I:


“15. Agora vós sabereis que o sacerdote e apóstolo escolhido do espaço infinito é o príncipe-sacerdote a Besta; e na sua mulher chamada a Mulher Escarlate todo o poder é concedido. Eles deverão reunir minhas crianças em sua congregação: eles deverão trazer a glória das estrelas para os corações dos homens.


16. Pois ele é sempre um sol, e ela uma lua. Mas é para ele a chama alada secreta, e para ela a luz estelar arqueada.”


Capítulo III:


“43. Que a Mulher Escarlate tome cuidado! Se piedade e compaixão e ternura visitarem seu coração; se ela deixar o meu trabalho para brincar com velhas doçuras; então a minha vingança será conhecida. Eu matarei a sua criança: Eu trarei desarmonia ao seu coração; Eu a banirei dentre os homens; como uma rameira encolhida e desprezada ela se arrastará por entre ruas sombrias e úmidas, e morrerá de frio e de fome.


44. Porém que ela se levante em orgulho! Que ela me siga no meu caminho! Que ela trabalhe a obra de perversidade! Que ela mate o seu coração! Que ela seja escandalosa e adúltera! Que ela seja coberta de joias, e ricos vestidos, e que ela seja desprovida de vergonha perante todos os homens!


45. Então Eu a erguerei aos pináculos do poder: então Eu gerarei dela uma criança mais forte do que todos os reis da terra. Eu a satisfarei com prazer: com a minha força ela verá e descobrirá na adoração de Nu: ela alcançará Hadit.”


Babalon nos outros escritos de Crowley

“Nas horas escuras da terra, quando a superstição cristã caiu tão mal sobre os povos da Europa, quando nossa Ordem Santa foi espalhada e a santidade de seus preceitos violados, alguns guardaram a Verdade em seus corações, &, amantes da Luz, eles carregavam a Lâmpada da Virtude sob o manto do sigilo. & estes, em certas estações do ano, foram à noite por caminhos abertos ou escondidos para as charnecas e montanhas, & lá dançaram juntos, & por jantares estranhos e vários feitiços, eles O chamaram, a quem o inimigo na ignorância chamou de Satanás, & que foi na verdade o Grande Deus Pan ou Baco, ou mesmo Bafômetro que os Templários adoraram em segredo, & como os Ilustres Cavaleiros do VI, da Ordem Sagrada Kadosh, aprenderam a adorar todas as Companheiras do Santo Graal, ou Babalon a Bela, ou mesmo o Zeus Apolo dos Gregos.


E cada um, quando introduzido neste santuário, foi feito um companheiro do encarnado pela Consumação do rito do Matrimônio. Considere isto.”


De Nuptiis Secretis, V DO BANHO DOS ADEPS, Aleister Crowley.


Nos emblemas da O.T.O., Babalon está associado ao ovo: “O Ovo é posto pela ‘Águia Branca’ (mulher) e é-lhe atribuído o número 156; é, portanto, a manifestação de Babalon. O Veículo do Ovo é o Fluido Vaginal; portanto, não é o Ovum. Mas é antes o poder de magia da mulher. Ele é fertilizado pelo Esperma, que é congênito à natureza do Ovo. O homem também deve estar em sintonia com a mulher, um elo mágico deve ser desenvolvido entre eles.”


Cada ato de sofrimento, cada ato de sacrifício, cada ato de vida que flui através do homem como a corrente de sangue que rega cada parte do ser, torna-se um fardo para o Adepto. Ele então derrama tudo no copo de BABALON, a Mulher Escarlate, o que ele adquiriu e o que ele se tornou. Em seu Liber Cheth vel Vallum Abiegni, lemos:


“Você derramará seu sangue, que é sua vida, no cálice dourado da fornicação”. Você deve mesclar sua vida com a vida universal. Você não deve guardar uma gota dela. Então seu cérebro ficará mudo e seu coração deixará de bater, e toda a vida se afastará de você..”


Jack Parsons e o Liber 49

Este livro contém a experiência mágica de invocar um Ser Elemental, a Deusa Babalon, e os seus resultados, como interpretado por Jack Parsons, Frater 210, da Ordo Templi Orientis.


Eis o que Parsons escreveu sobre isso em março de 1946 e.v.: “Esta força [a de Hórus] é totalmente cega, dependente dos homens e mulheres em quem se manifesta e a quem guia. É óbvio que esta orientação tende para uma catástrofe. Esta tendência se deve principalmente à nossa falta de compreensão de nossa própria natureza. O desejo reprimido, os medos, o ódio resultante do engano do amor tomaram uma direção homicida e suicida. Este impasse é quebrado pela encarnação de outra força, chamada Babalon. A natureza desta força está relacionada ao amor, compreensão e liberdade dionisíaca e é o contrapeso necessário para a manifestação de Hórus.”


“Deve-se lembrar que toda atividade humana, depois que as funções vitais são cumpridas, surge da necessidade de amar ou da necessidade de ser amado. É verdade, portanto, que na compreensão de todo poder é concedido. Uma compreensão do princípio da bipolaridade deve deixar isso suficientemente claro”.


Para Kazim: “Abyssus abyssum invocat”.


***


Ecclesia babalon e Literatura Adicional

A Ecclesia Babalon  (Instagram) é uma organização religiosa internacional independente fundada em 2018 nos Estados Unidos, e atualmente com sede no Brasil e presença em diversos estados. Unindo a tradição gnóstica, o esoterismo sacramental, ocultismo e magia sob a Lei de Thelema, a Ecclesia Babalon é herdeira do sacerdócio gnóstico apostólico das Ordens Esotéricas Gnósticas Sacramentais.


A Ecclesia Babalon se orienta pelo Código Iluminista Livre e defende que:


1. O crescimento espiritual é incompatível com o autoritarismo.

2. A iluminação requer uma abordagem experimental não dogmática.

3. Uma sociedade livre deve buscar estar constantemente atualizada.

4. Somos facilitadores. Nós fazemos o trabalho, não extraímos juramentos ou obrigações, nem exigimos crenças dogmáticas.

Setianismo Draconiano


Antes do início dos tempos, tudo era um eterno mar de Caos amorfo. A escuridão, o silêncio e o vazio reinavam e apenas os oito deuses da inexistência existiam nesse Caos sem fim. Esses oito deuses do Caos reinaram sobre os oceanos negros do Caos; Nun, e juntos eles reinaram sobre a não-ordem original.


Estes deuses eram Ogdoden; Os oito animais, que se chamavam: Nun e Nunet, os deuses do mar sem fundo, Heh e Hehet, os deuses do espaço infinito, KEK e Keket, os deuses da escuridão e Amun e Amunet, os deuses do invisível.


Por causa de todas as possibilidades disponíveis no Eterno Caos, que foi dito que as energias viriam a formar o espírito do demiurgo Atum-Rá que começou a tomar forma na amorfa escuridão do mar. Quando o espírito Demiurgo tinha crescido bastante forte, começou sua natureza falsa e suja afetar o ambiente imediatamente ao seu redor.


Este ocorreu até o primeiro Lótus subir das profundezas. Abrir lentamente o azul da flor de Lotus, e suas pétalas revelarem o demiurgo, na forma de um jovem Deus, que estava sentado em meio ao ouro. A luz, que não estava em harmonia com o escuro Caos, fluiu para fora do corpo da criança “divina”. As crianças que estavam no Demiurgo Atum-Rá conseguiram com sucesso conter a sua luz imunda que rodeava e passaram para a escuridão caótica.


Mas as forças do Caos nunca foram derrotadas pelo demiurgo indigno, o ambiente caótico o rodeava em forma de cobras, monstros demoníacos e dragões terríveis. Pois o Caos original e os oito Ogdoden, cuja escuridão caótica estava contaminada por Atum-Rá, começaram a ferver de ira.


A partir das águas negras de Nun, ergueu-se o mais terrível de todos os dragões.


O nome do dragão da morte era Apep e seu único propósito na existência era destruir Atum-Rá e extinguir a sua luz para assim, restaurar a pura escuridão primordial.


Mas, então, Atum-Rá, que estava cercado e cego pela sua própria luz, sentiu a presença do colérico Dragão do Caos, o poderoso Apep. Ele se encheu de medo e percebeu o quão só estava em uma guerra que ele deliberadamente começou contra as eternas forças do Caos.


Essa solidão tornou-se insuportável e Atum-Rá ansiava por outros seres que o apoiariam e o confortariam. Por isso, Atum-Rá, criou da sua primeira ejaculação, e sua vontade, Shu, deus do Ar, e Tefenet, deusa da Umidade. Mas devido ao fato de Atum-Rá estar tão cheio de medo dos poderes do Caos Colérico, cuja presença era constante, deixou que Shu e Tenefet caíssem nas profundezas do caótico oceano. O Demiurgo Atum-Rá, então entrou em pânico, ele arrancou um de seus olhos e encheu-o com as suas forças para que o brilho fosse de sua luz.


Atum-Rá chamou o olho de sua filha e nomeou-a Hathor, e depois a mandou para fora na escuridão para procurar seus filhos desaparecidos. A luz do olho forçou através da escuridão do Caos e conseguiu encontrar Shu e Tefenet, trazendo-os de volta para Atum-Rá.


Em recompensa a ela, o demiurgo colocou o olho na sua testa, na forma de uma grande cobra venenosa, a cobra Uraeus. Ele prometeu que seu poder seria sempre grande, e que no futuro os deuses e os homens deveriam temê-la.


Em seguida, Atum-Rá abraçou seus primeiros filhos, Shu e Tefenet, e chorou de felicidade e alívio.


Mas o que Atum-Rá não sabia é que estavam portando a Chama Negra, como sabemos, Shu e Tefenet estavam em um mar de Caos, ambos estavam estuprados pelo Dragão do Caos Colérico, e as sementes do dragão tinham penetrado profundamente em Shu e Tefenet e se esconderam em suas formas.


Esta semente anticósmica; semente-dragão, que com a ajuda da primeira descendência de Atum-Rá, penetrou através da aura protetora do Demiurgo, e que será responsável pela guerra final entre a luz e as trevas, transformou-se em flor para ajudar a dilacerar interiormente a criação de Atum-Rá.


Entretanto Shu e Tefenet, que pela magia de Apep, não sabiam sobre o anticósmico ato de estupro, amavam um ao outro e eventualmente, Tefenet deu à luz a gêmeos, do qual eram Geb, deus da Terra, e Nuit, a bela deusa dos céus.


Ambos sem descobrir, transferiram a semente do nosso senhor Apep para Nuit e Geb. A semente do mal; a semente anticósmica, agora estava dormindo no céu e na terra, esperando pacientemente para volta do nosso pai Apep para ascender as forças escuras na matéria. O Grande dragão da morte, Apep, estava fora das barreiras de luz, no entanto, estava sob total controle de si mesmo, que ele através de sua ação astuta teve o sucesso de penetrar na criação do Demiurgo. O terrível dragão que vivia no mar do Caos Colérico, poderia agora, graças à essência anticósmica da sua semente maligna, monitorar os eventos do mundo desprezível do Demiurgo.


Pela segunda vez, o silêncio foi quebrado em meio ao Caos que uma vez tinha sido mares tranquilos. Mas desta vez foi a risada de nosso pai que cortou a profanada quietude.


Apep agora sabia que ele iria ganhar a guerra final contra o deus sujo de luz criadora.


Geb amava sua irmã Nuit e durante longos séculos eles se abraçaram, desconhecendo a essência escura que eles carregavam dentro de si, Nuit pressionou os céus contra Geb/terra, de tal maneira que não havia espaço para mais nada existir entre eles.


Quando o demiurgo Atum-Rá viu isso, ele ficou com ciúmes, pois ele tinha criado esses deuses para fazer-lhe companhia, e agora parecia que nenhum deles se preocupava com ele.


Eventualmente, Atum-Rá comandou Shu (ar) que era pai de Geb e Nuit para que separasse os dois. Como o deus do ar era obediente, Shu, guiou seu próprio filho, Geb, e em sua mão aberta, ele levantou a sua filha, Nuit, segurou-a no alto de seu irmão, separando céus e terra.


O ciumento e tolo Atum-Rá não se contentava com isso, pois sabia que Nuit durante sua associação com Geb engravidou. Por isso, ele colocou uma maldição sobre Nuit, para que ela em nenhum dos dias no ano no qual ele havia estabelecido pudesse ter filhos.


Geb, que agora estava sob os pés de seu pai, lutou para se libertar, e Nuit chorava lágrimas escuras, tentando correr para baixo, mas um ao outro não poderiam se alcançar novamente.


O Demiurgo, que tinha cansado desses deuses ingratos, criou muitas outras criaturas das quais ele esperava que fossem mais fiéis a ele. Entre estes estava Thoth, que viria a ser um dos mais sábios dos deuses.


Quando Thoth viu o belo corpo da triste Nuit, que estava estendido acima da terra, ele se sentiu triste por ela e decidiu ajudá-la.


Thoth inventou o “Jogo Senet” e desafiou os outros deuses para jogar com ele por alguns dias, eventualmente conseguiu Thoth ganhar tanto tempo com os outros deuses que durou cinco dias. O Demiurgo já havia decidido que cada ano seria composto por 360 dias, mas o Thoth astuto adicionou o tempo que ele tinha ganhado, e assim ele criou cinco dias extras. Estes dias extras não foram incluídos na maldição de Atum-Rá, de modo que Nuit agora seria capaz de alimentar seus filhos neste tempo extra.


No primeiro dia Nuit deu à luz a uma criança que já havia sido coroada rei por ela mesma; e foi nomeado como Osíris.


No segundo dia, Nuit deu à luz a sua filha, Isis, que mesmo antes dela nascer, estava caindo de amor para com o fraco Osíris.


A semente do mal, que se escondia no interior de Nuit, tinha instruções a partir do Dragão da Morte, Apep, para penetrar mais profundamente na criação do Demiurgo, preenchendo Nuit poderosamente. Mas quando a semente do mal, cujo nome era ISFET, viu Osíris encolhido dentro do útero de Nuit, ela sabia que Osíris não era digno de ser permeado da essência mais íntima do dragão. ISFET, que podia ver no vazio chamado futuro, viu que o destino de Osíris era para ser derrotado, desmembrado e para sempre condenado à morte por um deus mais poderoso, por isso escolheu ISFET não fundir-se através do corpo de Osíris para renascer.


O mesmo com a segunda prole de Nuit; Isis foi analisada e rejeitada pela ISFET antes do seu nascimento.


ISFET que podia ver o futuro, viu que Isis viria a representar a natureza, as leis cósmicas e da criação da forma causal. Isso encheu ISFET de nojo e ódio, portanto, escolheu ISFET não fundir-se com o corpo da criada prostituta Isis.


Mas, durante o terceiro dia, antes que Nuit desse à luz ao seu terceiro filho, ISFET recebeu a ordem de nosso pai, Apep, que dizia que o tempo havia chegado para ela tomar forma e ocupar Nuit em seu terceiro filho, cujo nome foi definido como Set.


Quando ISFET ouviu a voz do dragão em sua mente, ela partiu mais uma vez pronta para examinar. Ela viu que o grande Set que estava no útero de Nuit tinha seus sonhos escuros de dominação mundial e Caos. Isso encheu o ISFET de alegria. ISFET contemplou o futuro, por ter certeza de que Set era o ser correto para se conectar a ela.


Ela viu Set sentado em um trono negro de ônix, cercado pelos corpos desmembrados de todos os deuses cósmicos que abaixo de seus pés estariam, então ISFET riu ao ver o demiurgo Atum-Rá, com a própria cabeça decepada. ISFET ficou muito feliz, pois ela agora sabia que o destino de Set era lutar contra a ordem cósmica (Maat), cujo derrotará os indignos deuses. ISFET penetrou em nome de Apep no corpo de Set e fez com que ele acordasse.


O grande Set, que agora possuía o colérico poder do Caos, abriu os seus brilhantes olhos vermelhos, revelando sua Khem Sedjet (Chama Negra) e gritou seu ódio.


Set que sabia que ele era o mais poderoso entre os deuses, estava cheio de ódio para com sua mãe Nuit. Pois ele sabia que era seu direito, como o mais forte, ter sido o primogênito. Mas ao invés disso Nuit teve a indignidade de ter dado à luz a Osíris primeiro, portanto, lhe dando a coroa. Set estava possuído por uma raiva profana, rasgou Nuit, internamente abrindo-a emergindo do ventre, a partir do qual ele forçou-se para fora.


Desta forma mais natural, nasceu nosso rei. Durante este nascimento aterrorizante, Nuit gritou de dor e chorou sangue, mas nenhum entre os outros deuses se atreveu a ajudá-la.


Quando Set se arrancou do corpo de Nuit, ele amaldiçoou os outros apavorados deuses e afastou-se para o deserto vermelho, que se tornaria um de seus muitos reinos. Por isso, foi ele o eleito para ser o deus solitário e orgulhoso, do qual seria o portador do Caos e provocador de tempestades dentro do Cosmos.


No quarto dia, o dia após o nascimento de Set, Nuit se recuperou o suficiente para dar à luz a sua quarta prole e segunda filha, que se chamou Néftis.


Néftis, também chamada de Nebhet, odiava seu irmão Set do qual tinha deixado- a sozinha. Pois, mesmo antes do nascimento tinha Néftis conhecido a terrível força de Set, e esperava ela que, assim como Isis se casou com Osíris, iria se casar com o poderoso Set.


Mas Set, que zombava da fraqueza dos deuses, não ficou interessado no amor, devido a isso, Néftis se juntou com os outros deuses, os mesmos que iriam acabar em guerra com Set.


O Demiurgo, que se tornou intoxicado e cego pelo poder que ele tinha sobre os outros deuses, que viviam para servi-lo, criou muitos outros deuses e deusas. Ele encheu do Céu à terra e debaixo da terra com inúmeros espíritos, animais, demônios e outros deuses menores. Um desses deuses, no qual o demiurgo em seu confuso e embriagado estado havia criado, foi nomeado Khnum.


Khnum foi encarregado para criar as formas que o demiurgo queria encher sua criação, como foi dito.


O Demiurgo ordenou Khnum a criar os primeiros seres humanos usando Geb (argila/terra). Como parte da semente de Apep estava adormecida dentro de Geb, esta veio à vida.


Esta parte da semente do dragão colérico era chamada de Khem Sedjet, ou seja, a Chama Negra.


A Khem Sedjet de Apep foi despertada pelos gritos do além e governada por instintos compartilhando o Caos em 72 chamas. As chamas se espalharam e se esconderam no fundo da lama, da qual Khnum fez o uso para dar forma à nova criação; o homem.


Assim 72 formas humanas foram invadidas pela Khem Sedjet, a essência antes da vida que Atum-Rá tinha os dado.


Assim misturando a porção da semente de Apep dentro de Geb, em 72 pessoas selecionadas. Estes 72 filhos do dragão, vivem além dos portões do Nun, o lugar sem lei, do qual nosso pai Apep faz parte.


Nós, que somos Magistas Sacerdotes e Sacerdotisas do Caos, somos devidamente assim, pelas diferentes partes e aspectos das originais Khem Sedjet (Chamas Negras) que trabalham dentro de nós.


Nossa forma cósmica pode morrer, mas as nossas Chamas Negras, que fazem parte do outro lado do Cosmos, que é o Caos, são eternas, sem fim.


Estamos na criação de Atum-Rá, onde a semente de Apep queima. Com a nossa amorfa e devoradora Chama Negra e nosso pai Apep e, juntamente com nosso poderoso rei de nome Set, somos nós, os eleitos, para restaurar o Caos primordial e quietude.


Para ISFET a Khem Sedjet é mais forte que Maat, sendo Apep e Set mais forte que toda legião de deuses cósmicos indignos.


Da mesma forma, nós também somos os 72 mais fortes do que o resto da humanidade desprezível. Para cada um de nós; para quem possui a Chama Negra, pode se ver além do momento finito e ver o infinito.


Quando as 72 chamas se reunirem e der vida a 218 novas chamas, o sol de Atum-Rá para sempre será extinto, em seguida, Set tomará o seu lugar como o eterno vencedor, assentado no trono negro de Ônix. Porque nós somos a essência escura do dragão. Aquele que enxerga no escuro vazio que é o futuro, sabe que a vitória final pertence ao nosso poderoso pai, Apep.

História do Tantrismo


Os traços mais primevos de Magia Sexual são encontrados na adoração pré-histórica da Grande Mãe, cuja natureza era celebrada na mudança das estações e cuja presença era experienciada através de fenômenos naturais. Esta forma primitiva de Magia Sexual era basicamente animista e traços de seu simbolismo gerador e religioso têm sido encontrados e datados até por volta de 18 mil anos a.C. nas paredes de cavernas do Paleolítico. Exceto por estes traços precoces, os primeiros registros de adoração tântrica são encontrados numa região conhecida como a Tartária.


A Tartária


Uma ideia predominante na antropologia moderna é que a disseminação do pensamento e práticas Xamânicas e Tântricas originaram-se de uma área central de difusão. A região mais favorecida por aqueles que abraçam esta teoria é a do deserto de Gobi. Tal deserto é uma terra de lendas e magia, era conhecida pela tradição como a terra dos Tártaros ou Tartária. Embora haja pouca informação restante a respeito deste título, menciona-se sobre a terra grega de Tartarus, que existia nas areias profundas e sem sol além de Hades, para onde os Titãs haviam sido banidos por um Aeon. Em sua ‘Doutrina Secreta’ Blavatsky sugere que a Tartária era o lar da Grande Fraternidade Branca e que já havia sido um grande mar continental, no centro do qual residiam os remanescentes da raça que nos precedera e que detinha grande poder e sabedoria. Portanto, na literatura Teosófica, a Tartária é vista como o ponto de difusão para a sobrevivência de uma raça de uma época muito antiga.

Esta teoria não é apenas encontrada na literatura teosófica, de fato muitas tradições sustentam uma idéia similar e a lenda da Tartária em si mesma pode encontrar paralelos nas lendas de Thule no misticismo nórdico, a fabulosa lenda de Dilmun no pensamento sumério e a terra da Grande Fraternidade Branca, que era conhecida como Agharti Shamballa. Shamballa é o título dado à Tartária nas lendas do oriente, é dito que esta era a terra dos deuses, que ensinaram a mais antiga Gnosis aos discípulos humanos. Uma estranha lenda é também contada sobre o que aconteceu com Shamballa, é dito que uma batalha irrompeu entre os praticantes do CMD de Shamballa e os praticantes do CME de Agharti. Tal batalha teria durado vinte anos com o resultado do desperdício das terras, restando o que vemos hoje no deserto de Gobi. A sobrevivência do Tantra se deu com os Agharti indo viver no subsolo e levando consigo os segredos, durante muitos anos fundindo os mistérios do CMD e do CME e propagaram estes ensinamentos aos preparados através dos antigos e secretos Tantras. Esta propagação de ensinamentos também tomou lugar pela migração dos remanescentes destas fabulosas civilizações através de Uddiyana.


A Uddiyana


A Uddiyana é uma região localizada no vale Swat no norte do Afeganistão, acreditando-se ser esta a região que recebera alguns dos remanescentes de Agharti, sendo também dito que outros esconderam-se no subsolo para formar uma colônia nas profundezas da terra. Em Uddiyana o ensinamento do Tantra floresceu e foi desenvolvido numa fina arte, há rumores de que Uddiyana era governada por mulheres e que era conhecida como Stri-Rajya, o reino das mulheres. Em Uddiyana foi usada a sabedoria do Tantra com uma nova fúria religiosa, sendo a sabedoria secreta ensinada através de um sistema de iniciação em graus em conclaves fechados. Nestes conclaves eram praticadas as artes da adoração Fálica, magia, tantrismo, YabYum, ritos heterossexuais e homossexuais e uma grande variedade de outras formas de feitiçaria. Tsiuen Tsang (por volta de 650 d.C.) escreve sobre as seitas por ele encontradas em suas jornadas através destas regiões. Ele nos conta sobre um mundo estranho de monastérios regidos por mulheres, promiscuidade sexual, trabalho criativo e artes de magia. A religião Uddiyana teve uma fantástica influência na formação da filosofia tântrica, não apenas a espalhando para os reinos de Bengala e Assam, onde estas artes foram finalmente refinadas para um novo nível de sutileza, mas Uddiyana produziu uma longa lista de mestres e discípulos. Algumas das mais notáveis ‘crianças de Uddiyana’ incluem Chang Tao Ling (+ 200 d.C.), o fundador do Taoísmo moderno, Shenrab (+ 500 d.C.), sistematizador da religião tibetana Bon Po e Matsyendra (+ 800 d.C.) fundador da seita Natha.


Alquimia Sexual Chinesa


Os ensinamentos do Tantra chinês tomam a forma de Alquimia Sexual, sendo sua origem não plenamente determinada. Entretanto, a influência de dois mestres de magia, Hsuang Ti e Lao Tse, teve o profundo efeito de trazer os ensinamentos do Tantra chinês para um cânone mais organizado e refinado. Lao Tse foi o autor do Tao Teh Ching e fundador do Taoísmo, sendo este um intrincado sistema de misticismo baseado nas interações do Yin e do Yang, as duas energias cósmicas opostas primais, ainda que complementares. Estas interações do Yin e do Yang são tratadas no I Ching e formam a base do conhecimento terápico, mágiko, místico, filosófico, do controle da respiração e das secreções, extensão da saúde e outros aspectos do sistema chinês de alquimia. Embora possa ser realmente difícil retratar a Lao Tse muita de ‘sua’ filosofia, sua vida tornou-se uma lenda, sendo iluminador o estudo de seus ensinamentos. Chang Tao Ling oferece um sistema centrado no entendimento sexual da alquimia chinesa e esquematiza um programa detalhado de trabalho de fisiologia sexual, ritualística e ocultismo.


A Religião Bon do Tibet


Há rumores lendários que um dos portões da tribo remanescente de Agharti, agora vivendo dentro da terra em cavernas subterrâneas, está no Tibet. O Tibet é uma nação de mágika e ritualística, sendo a religião Bon a sobrevivente das práticas xamânicas nativas na forma externa do Budismo. Foi primeiramente sistematizada por Shenrab por volta de 300 d.C., que formou um sacerdócio tântrico e um cânone autorizado. Há dez graus distintos no Sacerdócio Bon, sendo o décimo não registrado e conhecido apenas pelos mais altos adeptos, enquanto que os outros nove são abertos para a classe de sacerdotes genéricos. Embora eles envolvam um sistema extremamente complexo de demonologia e ritual, seu poder não pode ser negado. As tradições do Bon cobrem um espectro completo de prática oculta incluindo artes divinatórias, oráculos, exorcismo, evocação, vampirismo, teorias post-mortem, como a do Bardö (o estado após a morte), tratando de 360 formas de morte e muito mais. Em 750 d.C. uma revisão da religião Bon tomou lugar sob a orientação de Padma Sambhava, o então príncipe de Uddiyana. O Bon foi reorganizado numa linha com vários sistemas de Tantra de Uddiyana e foi então formulado num sistema mais refinado de prática mágika e tântrica. O Tantrismo no Tibet é associado com muitas artes obscuras de feitiçaria e portanto afastado por muitas das seitas budistas mais ortodoxas. Contudo, mesmo os Dalai Lamas envolveram-se em muitas de suas práticas. O quinto Dalai Lama, por exemplo, que morreu em 1680 d.C. estudou profundamente os mistérios do Tantra, sendo que muitas das suas canções e poemas de amor ainda são estudados por muitos magos sexuais. Diz-se que quando ele foi questionado a respeito de seu uso de ritos sexuais, ele disse :

“ Sim, é verdade que eu tenho mulheres mas você que acha-me errado também as tem e a cópula para mim não é a mesma coisa para você.”


O Tantra na Índia


Há histórias de cultos fálicos primevos e ritos de fertilidade na Índia, entretanto, até a migração dos Uddiyana via Kashmir e Himalaia para Deccan no sul e Bengala no leste, o Tantrismo não havia realmente começado a firmar-se nas mentes e corpos do povo hindu. Em Bengala a tradição do Tantra era a mais forte, que até linhagens de reis, os Palas (760 – 1142 d.C.) e os Senas (1095 – 1119 d.C.) fundaram um grande número de escolas e universidades tântricas. Durante este período até mesmo as côrtes reais tinham seus astrólogos residentes e altos sacerdotes tântricos, apenas no fim do século treze isto foi destruído com as invasões de hordas muçulmanas.

Os mistérios tântricos, contudo, ainda sobrevivem em várias seitas secretas e semi-secretas da Índia. As duas mais importantes destas seitas tântricas budistas são a Kalachakra (Culto da Roda de Kali) e a Vajrayana (Culto do Trovão). À parte de seitas hindus, existem muitas, a tradição tântrica no hinduísmo é excepcionalmente forte e toma uma grande variedade de formas, algumas destas sendo os Shaivitas (Culto a Shiva), Shaktitas (Culto a Shakti), Sauras (Culto a Shani ou Saturno), Kaulas (Culto a Kali) e os Ganapatyas (Culto a Ganesha). Além disso, há várias derivações, por exemplo, dos Shaivitas derivam os Lakulishas, que adoram Shiva como o senhor do cajado, e os Pashupatas, que adoram Shiva como o senhor das bestas, cada uma enfatizando diferentes facetas do mesmo sistema religioso.


Primórdios da Magia Sexual Ocidental


Os ensinamentos do Tantra vagarosamente passaram ao ocidente, sendo os registros mais antigos os trabalhos de Edward Sellon por volta de meados do século XIX e os muitos textos escritos por John Woodroffe. Sir John era um juíz de alto escalão em Calcutá, que traduziu para o inglês a maioria dos textos originais de tantrismo pela primeira vez. Vintras (1875), Boullan (1893) e Van Haecke (1912) foram alguns dos mais velhos ocidentais a revelarem um completo sistema de magia sexual. Seu sistema era baseado no uso de ritos sexuais em conjunção com a criação de formas astrais, incluindo o que eles chamavam de ‘Humanimaux’, elementares meio animal, meio humanos. Seu sistema enfatizava a possibilidade de imortalidade através da sexualidade e usa um largo espectro de técnicas sexuais. Vintras pode ser entendido como tendo reavivado uma tradição ocidental esotérica de magia sexual, cuja origem pode ser rastreada de volta ao Gnosticismo do primeiro século da era cristã. Embora haja pouca imformação disponível parece que um sistema baseado numa síntese de conhecimento mágiko e sexual da Tartária estava sendo ensinado por várias fraternidades na região do Mar Morto. Estas fraternidades, uma das quais era conhecida como ‘os Essênios’, estavam envolvidas num sistema de magia muito parecido com os ensinados no Tibet e na Índia. Já está demonstrado que Jesus foi iniciado numa destas fraternidades e que muito do Gnosticismo original formou-se desta maneira. Certamente os trabalhos de John Allegro decifram muito do Novo Testamento através deste elemento tântrico. O problema é que os ensinamentos gnósticos de Jesus foram suprimidos e um evangelho mais social foi colocado para o público. Por sorte, contudo, o professor Ormus ( 6 d.C.) renovou o ensinamento da doutrina tântrica e permitiu sua sobrevivência até quando os Cavaleiros Templários e a Ordem de Sião tomaram esta tarefa. Outras ordens mais tardias de orientação Rosacruz e Maçônica também levaram adiante o ensinamento em segredo. O tantrismo de Randolph Paschal (1875) demonstra uma mistura de tantrismo gnóstico e tártaro. Tendo viajado bastante, desenvolveu um sistema ocidental de tantra, que mais tarde foi adaptado na estrutura maçônica da OTO original.


O Trabalho de Gurdjieff


Gurdjieff viajou através das regiões da outrora Suméria, da Mongólia e do Tibet e foi treinado pelo mestre Karagoz, um dos últimos mestres remanescentes do Tantra da Tartária. Após radicar-se em Paris, Gurdjieff desenvolveu e ensinou um sistema baseado numa síntese de dança e misticismo Sufi bem como na Gnosis Tântrica original. Seu comportamento sexual era selvagem e imprevisível, muito parecido com seu contemporâneo Aleister Crowley. Seu sistema sobrevive ainda hoje e oferece muito ao estudante de magia moderna.


Aleister Crowley e a O.T.O.


A Ordem do Templo do Oriente foi formada em 1902 por Karl Kellner, baseada no arcano tântrico esquematizado nos trabalhos de Randolph Paschal. A estrutura da ordem utilizava um sistema de dez graus, os seis primeiros sendo maçônicos, com o conhecimento sexual sendo revelado apenas nos quatro graus restantes e mesmo neles, numa forma muito mais teórica que prática. Após um breve período de existência veio a cair sob supervisão de Aleister Crowley, que inovou seus ensinamentos de um misticismo pseudo-maçônico para uma Magia do Novo Aeon. Ele também adicionou um grau extra, o décimo primeiro grau, de acordo com certos requerimentos tântricos específicos. A nova OTO como construída por Crowley marcou o ressurgimento da tradição original tântrica da Tartária.

A história da OTO após seu óbito parece extremamente confusa, deixando a impressão que ele assim o quis, sendo seus estudantes desta maneira forçados a permanecerem ‘em terra’. Embora haja várias reclamações sobre o título da OTO, não é nosso objetivo adentrar uma consideração sobre as várias reclamações de validade, ou falta dela. Após o óbito de Crowley, um vórtice astral foi criado para segurar o conhecimento da magia sexual. Este vórtice, escola ou loja é conhecido como o Santuário Soberano Astrum Argentinum. Esta loja tem muitos representantes físicos, embora qualquer um reclamando autoridade, baseado em qualquer evidência, física ou astral, deve ser duvidado. A Astrum Argentinum confirma o Tantra Tártaro bem como esquemas de vários derivativos da magia sexual como encontrados nos sistemas hindu e chinês. Esta corrente confirma os ensinamentos de Agharti e sua aparição posterior no mito de Shaitan dos Yezidis e no Tantra Draconiano do Antigo Egito.

A Magia Sexual obscura de Agharti reapareceu novamente, num sistema que une técnicas tanto simbólicas quanto físicas e que formula uma nova e pura ética baseada na beleza e majestade do Santuário Mais Interno da Vontade.

Sua mensagem é clara, o caminho da liberdade está contido dentro de nossas mentes e corpos, não há necessidade em se olhar além!

Metafísica do Sexo


Tínhamos indicado já na Introdução ser próprio dos Tantras uma espécie de enquadramento histórico da orientação que os caracteriza. Partindo da concepção duma involução crescente que se verificou no ciclo atual da humanidade, com uma sucessão de quatro idades, e tendo constatado que nos encontramos agora na última destas idades, denominada a «idade escura» (Kali-yuga), época de dissolução, de preponderância das forças elementares, quase como que a de uma Shakti sem freios, e onde se perdeu quase totalmente a espiritualidade das origens, a via indicada como sendo a que convém a uma tal situação é a que se poderia caracterizar pela fórmula de «cavalgar o tigre». Trata-se do princípio de não evitar uma força perigosa, nem de lhe opor diretamente resistência, mas de se unir a ela e manter essa posição com firmeza, esperando sempre poder, no fim, triunfar. É esse o motivo pelo qual os Tantra renunciaram ao vínculo do segredo que se impunha outrora relativamente a certas doutrinas e práticas da «Via da Mão Esquerda», devido ao seu perigo e à possibilidade de abusos, aberrações e incompreensões (NOTA 23). O princípio fundamental dos ensinamentos secretos comuns quer à corrente hinduísta, quer à corrente budista dos Tantra (correspondendo à segunda essencialmente à chamada Vajrayâna) é a capacidade de transformação do veneno em remédio ou «néctar», é o uso para fins de libertação das mesmas forças que conduziram, ou podem conduzir, à queda e à perdição. Diz-se que se emprega «o veneno como antídoto para o veneno». Um outro princípio tântrico afirma não estar estabelecido que «fruição» e «libertação» (ou separação, renúncia) se excluam uma à outra necessariamente como pretendem as escolas unilateralmente ascéticas. Propõe-se como objetivo, realizar as duas simultaneamente e estar assim apto a alimentar o desejo e a paixão, mantendo-se, ao mesmo tempo, livre. Certos ensinamentos deste tipo tinham sido considerados tais que não deveriam ser revelados a todos. Dizia-se num texto que se tratava duma via «tão difícil como andar sobre o fio duma espada ou de segurar um tigre pela trela» (NOTA 24). Em que medida, tendo em vista o que acabamos de expor, os métodos tântricos se podem adaptar verdadeiramente aos dias de hoje em que faltam completamente à grande maioria dos homens e das mulheres as qualificações necessárias para afrontar tais riscos, é caso que deverá ser devidamente ponderado. Seja como for, deve recordar-se àquele que pensa poder o tantrismo oferecer um cômodo álibi espiritual para se abandonar aos seus instintos e sentidos, que se pressupõe em todas estas correntes uma iniciação e uma consagração preliminares e a inserção do indivíduo numa determinada comunidade ou cadeia (Kula) que lhe forneça uma força protetora, e, de um modo geral, uma ascese sui generis uma enérgica disciplina e autodomínio, de modo a poder dedicar-se às práticas de que iremos falar. Deve também sublinhar-se que se encontra uma premissa idêntica em outras correntes que, embora tivessem proclamado a «anomia», a libertação do espírito de qualquer vínculo ou norma de moral corrente, só as obtinham no termo duma via cheia de dificuldades. Os Ismaelitas submetiam-se ao período do Sheikh da Montanha e verificavam-se fatos idênticos nas correntes anteriormente indicadas, como as dos «Irmãos do Livre Espírito», Begardos e dos Ortilibianos, a propósito das quais se escreveu: «Antes de chegarem ao ponto de lhes ser permitido qualquer prazer, submetiam-se às provas mais duras; a sua vida era idêntica à que levava nas ordens mais severas; a sua aspiração era a de quebrar a própria vontade, anular a sua pessoa para a voltarem a encontrar como uma glória pura no esplendor divino… Era preciso orar, meditar, exercitar-se nos atos que mais nos repugnam. Mas uma vez atingida a liberdade de espírito, tudo era permitido (NOTA 25).»


As raízes do tantrismo conduzem-nos por sua vez frequentemente ao substrato arcaico da Índia aborígine onde figura não somente o motivo central de Deusas do tipo sháktico, mas também um conjunto de práticas e de cultos orgíacos. Encontram-se num domínio que confina com a feitiçaria, formas obscuras de tantrismo, ritos através dos quais o homem procurava captar certas entidades femininas elementares — yakshînî, yoginî, dakinî — consideradas por vezes servas da deusa Durgâ, outras vezes como emanações dessa deusa, mas frequentemente, como uma mistura de temas anímicos — fascinando-as e dominando-as por meio de encantamento na pessoa duma mulher real, enebriando-se e possuindo fisicamente esta mulher em lugares selvagens, nos cemitérios ou nas florestas, com o fim de obter poderes especiais (NOTA 26). Reaparece, assim, nestas práticas, embora duma forma grosseira, o regime das evocações já por nós estudado no capítulo precedente nas suas múltiplas variantes, com a diferença, porém, de que neste regime se insere agora o fato sexual concreto. Se, por um lado, a mulher que se pretende «demonizar» e depois violentar, constitui o objeto dos ritos obscuros que acabamos de mencionar, servirá também de tema fundamental nas formas superiores de magia sexual tântrica e vajrayânica. Nestas formas o conceito do casal humano que se transforma em incarnação momentânea do par divino e eterno passa, antes de mais nada, do plano ritual e geral das hierogamias ao plano operacional. Os princípios ontológicos de Shiva e de Shakti ou de outras divindades equivalentes presentes no corpo do homem da mulher deverão ser primeiramente realizados; será necessário atingir, ritual e sacramentalmente, um estado onde se toma consciência da natureza mais profunda, sentindo-se o homem e a mulher efetivamente Shiva e Shakti. Esta é a premissa duma união sexual que deixa de ter um caráter somente físico e carnal para apresentar também um caráter mágico, cujo centro de gravidade se desloca num plano subtil (aquele já por nós considerado, ao afirmarmos que o fato magnético de todo o amor ou desejo sexual intenso consiste numa «embriaguez ou congestão de luz astral») correspondendo o seu clímax e o seu êxtase supremos à ruptura de nível da consciência individual e à brusca realização do estado não-dual (NOTA 27). Este é o caso-limite da chamada «via do desejo» — Kâmamarga — que foi considerada na tradição hindu ao lado de outras vias de libertação, de consciência, de ação, etc.


Consideremos mais pormenorizadamente os diversos aspectos da prática tântrica (NOTA 28): O ponto de partida é, por um lado, a capacidade de obter uma sensação ou percepção particular da natureza feminina, e para tal, será necessário recordar o que já afirmamos a propósito da sua nudez. Se para estas escolas toda a mulher encarna Shakti ou Prakrti, uma mulher nua exprimirá ritualmente essa mesma força no estado puro, elementar, primário, não ligado a qualquer forma, não encoberto pela individualização; ao despojar-se de todo o seu vestuário é como se a mulher se oferecesse aos olhares dessa essencialidade. M. Elíade escreve a este propósito : «A nudez ritual da yoginî (da companheira do vîra) tem um valor místico intrínseco: se perante a mulher nua o homem não descobre no seu ser mais profundo a mesma emoção aterradora que se experimenta perante a revelação do Mistério cósmico, não há um rito (na sua união com ela) mas apenas um ato profano com todas as consequências que daí derivam», pois nesse caso a utilização da mulher, em lugar de fazer afrouxar o vínculo que liga à existência condicionada, reforçá-lo-á (NOTA 29). Nas formas mais elaboradas do tantrismo da Mão Esquerda corresponde a esta condição subjetiva à qual se associa um regime de intensas visualizações, isto é, de projeções mentais na mulher duma imagem cultual vitalizada, um processo de certo modo objetivo, para o qual se emprega o termo técnico de âropa, e que significa «estabelecimento duma qualidade diferente», isto é, num sentido rigoroso, de transubstanciação, na mesma acepção em que o cristianismo emprega esta palavra para o mistério das espécies eucarísticas efetuado pelo sacerdote e segundo o qual se verificaria nelas a presença real de Cristo. O autor hindu já citado diz-nos a este respeito que através do âropa a forma física (rúpa) não é negada, mas que cada um dos seus átomos é penetrado pelo svârûpa, isto é, pelo elemento primordial não físico que constitui ontologicamente a sua essência (NOTA 30). Isto aplica-se, pois, à mulher. Estará qualificada para a prática sexual uma jovem devidamente iniciada e instruída na arte das posições mágicas (mudrâ) tendo o seu corpo sido despertado e tornado vivo por meio do nyâsa (NOTA 31). O nyâsa é um processo sacramental através do qual se impõe, induz ou desperta em diversos pontos do corpo (nos seus «pontos de vida») um fluido divino. Este fato pode ser considerado como um equivalente da «demonização» da mulher a que já nos referimos nas práticas obscuras acima indicadas, através dum aumento do fludio natural, que na mulher comum alimenta o magnetismo sexual e constitui a base da sua fascinação. Uma das designações atribuídas às jovens que se ocupavam nestes ritos era, de resto, mudrâ; esta expressão deixou perplexo os orientalistas mas é, contudo, bastante clara: mudrâ (literalmente: sigilo) é o nome dos gestos ou posições mágico-rituais adoptadas pelos yogui para ativar ou obstruir o circuito de certas correntes de força subtil do organismo. A mulher desempenha esta mesma função em elevado grau durante o ato sexual mágico, daí resultando (também relacionado talvez com as mudrâ propriamente ditas, ou seja, com as posições especiais por ela adotadas no ato do amor) essa denominação ser transferida para a sua pessoa.


A jovem escolhida para estas práticas diferencia-se, sob este aspecto, das mulheres utilizadas nos simples ritos orgíacos, assim como, vê-lo-emos brevemente, se modifica nos dois casos o regime do ato sexual. «Os Fiéis do Amor» referiam-se à «dama do milagre», aqui fala-se da «mulher de exceção» (viçesha rati) cuja substância se tomou a mesma da mulher transcendente ou divina — Râdhâ, Durgâ, Candalî, Dombi, Sabaja-Surdarî, etc. (por vezes identificada com a própria Kundalinî sob a forma personificada duma deusa); diz-se ser com ela, e não com uma mulher comum, a sâmânya-rati, que se pode realizar no ato sexual aquilo que estas escolas denominam o sahaja, o estado primordial não-dual que produz a libertação já durante a vida (NOTA 32). Isto não deve, todavia, fazer-nos pensar em algo que se pareça com uma vaga idealização da mulher utilizada. Em ambientes deste gênero exaltamse, por vezes, e indicam-se até como as mais capazes, jovens dissolutas de casta inferior embora se alegue para tal fato uma justificação simbólica: no seu modo de viver fora das normas sociais e morais da religião corrente estas jovens refletem, de certo modo, o estado de «matéria-prima» não associada a uma forma (NOTA 33). Isto constitui uma diferença mais específica do que mágica relativamente ao matrimôniorito, das uniões tipo sacralizado, no quadro institucional e de casta de que já falamos. Trata-se mais uma vez do conceito especial da virgindade já por nós explicado (pág. 189 e segs.) denominando-se «prostitutas virgens» — veshyâ Kumârika — as jovens usadas no culto Kaula, uma subdivisão do culto tântrico. As escolas vishnuitas de orientação tântrica consideram o parakîyâ, isto é, o amor ilegítimo, como, por exemplo, a união com uma mulher muito jovem ou com uma mulher que não seja a própria esposa (ou, por outras palavras: uma das esposas, uma vez que a poligamia é admitida nesta civilização) como a forma de amor mais elevado. Nas discussões retóricas que no Bengala tiveram uma importância idêntica à dos «Cursos de Amor» medievais do Ocidente, os partidários das uniões conjugais viram-se sempre derrotados pelos que defendiam as uniões livres ou ilegítimas; este é o motivo pelo qual se indicou freqüentemente, como um dos modelos divinos que o casal humano deveria imitar e encarnar, o casal legitimo, mas adúltero, formado por Râdhâ e Krishna (NOTA 34). Para justificar esta concepção, alega-se, por outro lado, uma razão psicológica, isto é, o fato de não se poder esperar normalmente duma união conjugal uma intensidade emotiva e uma paixão idêntica à que é despertada em situações irregulares ou excepcionais como as que foram citadas; e por outro, novamente uma razão simbólica: a correspondência da realidade a um símbolo; tende-se ao incondicionado, e a união secreta fora de qualquer sanção ou vínculo social, infringindo-os até, simboliza de modo mais adequado a «ruptura imposta por toda a experiência religiosa autêntica» (deveríamos, na verdade, dizer aqui, iniciática) (NOTA 35). M. Eliade observa, a este respeito, que aos olhos do Hindu o simbolismo conjugal (o «Esposo» e a «Esposa») usado na mística cristã não sublinha suficientemente o desprendimento de todos os valores morais e sociais que se impõem àquele que tende ao absoluto: donde a escolha como modelo ideal e mítico (NOTA 36) dum casal como o de Râdhâ e Krishna e como companheiros dos Siddha e dos Vîra, jovens sem limitações de casta, em que se tinha menos em conta a pessoa do que um certo poder ou fluido especial capaz de alimentar um processo intenso de «combustão». Se ao homem de temperamento fraco estava interdita a utilização de outras mulheres para além da sua, essa restrição, segundo a opinião predominante nos Tantra hinduístas, desaparecia sem que qualquer outra, extrínseca, lhe fosse feita, para aqueles que tinham atingido o estado de sidha-vîra. Mencionamos já a graduação da nudez feminina — e do seu sentido simbólico e ritual — e de fato de somente o iniciado em grau elevado dever servir-se de mulheres completamente nuas. Para designar a jovem emprega-se também a expressão ratî que significa literalmente o objeto de rasa, da embriaguez ou da emoção intensa. A escola Sahajiyâ distingue três tipos de ratî: a sâdharani, isto é, a mulher comum que não procura no ato sexual senão a sua satisfação imediata, a sâmanjasâ, aquela que procura uma participação com o homem; a samarthâ, a jovem capaz de um abandono total e superindividual. Afirma-se que somente esta constitui o tipo desejável de jovem (NOTA 37). Também Kâma, o desejo, e os seus diversos graus, se torna objeto de distinções extremamente elaboradas nos vários textos. Na sua essência, opõe-se ao desejo animal aquilo a que poderia chamar-se «O Grande Desejo que une o corpo ao espírito, muito para além da mera união dos corpos no Pequeno Desejo» (NOTA 38).


Será, pois, interessante notar nas jovens em questão um pormenor que indica a exclusão de possibilidade demétrica (materna) relativamente à afrodisíaca ou dúrgica: nas práticas do tipo tântrico não são admitidas as mulheres que já foram mães. A teoria que provavelmente serve de base a tal norma é resumida pela seguinte máxima dum autor moderno (NOTA 39): «Assim como a mulher perde a sua virgindade física com a primeira cópula, também perde a sua virgindade mágica tornando-se mãe.» Ao tornar-se mãe deixa, pois, de poder ser utilizada nas práticas de tipo superior.


Na medida em que o ato de amor humano deve reproduzir um gesto divino, o tipo de união de deus com a deusa predominante na iconografia deveria fazer supor que o tantrismo da Mão Esquerda adotava como posição ritual fundamental a do viparîta-maithuna, caracterizada pela imobilidade do homem. A parte as razões simbólicas já indicadas, certas razões de ordem prática desempenharam provavelmente também um papel na escolha desta posição para o ato de amor. E sobretudo ao homem que deve ser dada a possibilidade de exercer durante o ato sexual uma concentração particular quanto ao que se passa e toma forma na sua consciência, a fim de reagir como convém, e isto é seguramente mais fácil para ele se o seu corpo se mantiver imóvel. A posição é confirmada, por outro lado, por uma das designações adotadas neste meio quer para a mulher, latâ, quer para o ato, latâsadhâna, porque latâ (no seu sentido literal: liana ou planta trepadeira) está justamente relacionada com uma das posições assumidas pela mulher nesta forma invertida de ato sexual (os tratados de erótica profana utilizam neste caso designações como latâveshtitaka e vrkshâdhirûdhaka). A expressão que se encontra nos textos é, geralmente, «abraçado pela mulher» e não vice-versa, o que nos leva igualmente a pensar que ela desempenhou um papel ativo. Assim, também neste plano são ativados os significados metafísicos correspondendo, segundo o que dissemos anteriormente, à essência do masculino e do feminino.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Mago Negro

 

El término mago negro se utiliza para denominar a un hechicero cuyas habilidades están relacionadas con prácticas tachadas de oscuras y malignas y, por lo tanto, prohibidas. Como por ejemplo, mediar y trabajar con entidades espirituales malignas. Dichos magos suelen poseer un poder superior a los de los hechiceros corrientes. Cabe destacar que le está prohibido realizar cualquier conjuro mágico hacia un familiar, ya que esto le traería graves consecuencias no deseadas.

Habilidades

Los magos negros deben su poder a un conjunto de prácticas entre las que destacan:

La creación de gemas de sangre u Ópalos que permiten al creador, establecer un vínculo telepático entre el portador y el creador en caso de ser (el primero) un ser humano o formar una alianza de esencias entre el mago y un ser de naturaleza distinta a la del creador (demonios, espectros...) llamado también "servus" (esclavo en latín). Este último uso es la habilidad más poderosa y peligrosa de los nigromantes y le permite utilizar la energía del ser al que están vinculados junto con la propia para llevar a cabo sus conjuros y hechizos lo que aumenta considerablemente sus propias fuerzas. Sin embargo, la desventaja de la unión de esencias reside en la imposibilidad del mago de mantener vínculos con más de un servus por lo que su poder, aunque superior al común, es limitado.
La absorción de las energías de otros seres vivos como fuente de poder externa. Dicha habilidad no solo permite al mago recuperar su poder más rápidamente si se ha agotado tras un enfrentamiento sino que concede al hechicero la capacidad, aún más importante, de sobrepasar los límites naturales de su propia fuerza mágica. Los magos que practican esta habilidad son, en teoría, los más poderosos ya que a diferencia de los nigromantes, que también poseen una fuente de poder externa, sus servus poseen en teoría un poder ilimitado pues pueden absorber las energías de tantos sujetos como deseen. Sin embargo esta habilidad es difícil de aprender tanto por su complejidad como por la escasez de conocimientos referidos a ella lo que explica la escasez de magos negros que la practiquen.

Tipos de magos negros

Los practicantes de la llamada magia negra se pueden clasificar en:

Nigromantes: Son aquellos magos especializados en el estudio de la muerte y del control tanto de cadáveres como de los seres de otros planos además de otras capacidades que, aunque son de uso casi exclusivo de los nigromantes, también son practicadas por los magos comunes como la creación de engendros. La nigromancia difiere con todas las formas de hechicería ya que necesita conjuros para su realización es decir, se vale de fórmulas mágicas. Dichos conjuros no son más que palabras del Lenguaje Demoníaco o Idioma Antiguo. Incluso el aprendizaje de este idioma con fines académicos está penado con la ejecución. Al nigromante se lo puede reconocer porque suele llevar ropas rojas, grises o negras y por portar un anillo o un báculo con una gema granate, el Ópalo que lo vincula con su servus. Sin embargo estos datos son insuficientes ya que los nigromantes pueden portar vestimentas de otros colores y carecer de anillo o báculo ya que la creación de Ópalos es en extremo compleja. Además de la resurrección de cadáveres y de la ocasional creación de Ópalos, los nigromantes suelen ser expertos en la creación de engendros práctica que puede realizarse sin usar conjuros pero de manera muy deficiente. Consiste en la mutación de seres vivos generalmente con fines bélicos que en la mayoría de casos tanto valiéndose de la hechicería (sin fórmulas mágicas) como usando la nigromancia (con conjuros) suele producir engendros mal formados cuyos únicos sentimientos son el dolor, el odio y por supuesto la sumisión ante su creador.
Magos negros: Son los magos que practican la absorción de energía. A pesar de que practican un arte prohibido, a diferencia de la nigromancia, éstos magos negros se valen de la hechicería como forma de usar su magia. La mayoría de magos negros poseen esclavos con una energía mágica considerable a los que les bloquean los poderes para usarlos como fuentes para incrementear su poder mágico. Esto es posible ya que la absorción de energías no tiene porque matar al donante ya que la defunción solo se produce en el caso de que se le arrebate completamente la energía. Suelen ser personas solitarias que únicamente toleran la compañía de sus esclavos, los cuales se encargan tanto de la tareas domésticas como de cederle energía a su amo.