domingo, 4 de fevereiro de 2018

Controle Onírico pela Magick Sexual


Kenneth Grant
Aleister Crowley and the Hidden God, Capítulo 6. Skoob Books, 1992.


Nós alcançamos um estágio em nossa investigação onde, tendo explicado o sistema de magick peculiar de Crowley como um desenvolvimento dos métodos ocultos representados por e nos Tantras (particularmente os Lingacaras e os Yonicaras), nós podemos ir a frente para examinar seu significado como um método conscientemente aplicado de controle onírico pela magick sexual.

É necessário explicar que o estado de sonho não abrange somente os sonhos que ocorrem durante o sono, mas também delírios ou ilusões, devaneios, fantasias, alucinações, visões e o mundo da mente em geral. O estado de sonho (swapna) abrange a vasta gama de atividade mental e astral que está confinada por um lado pelo vazio livre de pensamento do sono sem sonho (sushupti) e por outro lado pelas atividades do corpo no estado de vigília (jagrat). Todas estas atividades têm sua origem no estado de sonho, quer elas se manifestem como reflexos instintivos ou atos volitivos por assim dizer.

Dion Fortune enfatizava a importância do sonho-desperto conscientemente controlado.1Baseando suas práticas em aspectos dos Exercícios Espirituais do Santo Inácio de Loyola, ela demonstrava o valor mágico do “sonho real”, uma expressão derivada do famoso romance de George du Maurier, Peter Ibbetson. A teoria é que se um homem compuser uma visão com suficiente intensidade ela induz uma abstração tão total dos sentidos que o sonhador se funde com um sonho desperto, onde ele é o criador e mestre de suas próprias fantasias. Se poderosamente formulado, ele concretiza, reifica, e assume uma realidade equivalente em grau – e frequentemente até mais – do que aquele que é experienciado no estado de vigília comum. As vantagens de se ser capaz de induzir tal estado são evidentes, particularmente se forem estudados sob o prisma da psicoterapia. As limitações, de um ponto de vista mágico, são também evidentes.

Crowley inverteu o processo criando o caminho para uma forma de controle onírico que capacita o sonhador a fazer infinitamente mais do que abstrair seus complexos no nívelswapnico, pois o sonho com intenção é uma atuação consciente no plano astral. Meramente traduzir as fantasias de alguém para o pano astral, contudo, é uma experiência regressiva que, embora possa ela ser tão lúcida quanto um sonho induzido por drogas, é contudo não mais uma admissão de falha de ligar a terra ao sonho e influenciar o mundo objetivo. Embora elementos externos sejam em última análise ilusórios, eles são não menos do que os resultados de desejos obscuros e impulsos que existem nos níveis astrais. O verdadeiro controle onírico, portanto, não somente requer a satisfação do desejo (i.e. a realização da vontade) em um estado de sonho, mas, como observado por Austin Spare, requer a representação viva dele agora na total consciência de vigília no mundo desperto.

É pouco provável que Spare e Fortune praticassem algum tipo de controle onírico que tenha tornado possível para eles, em suas respectivas esferas, colher o benefício total de uma prática deste nível. Parece que Fortune não foi bem sucedida na real-ização de seu sonho, e Spare traduziu suas vívidas experiências internas em uma quantidade massiva de arte que o mundo ainda não avaliou apropriadamente. Crowley, por outro lado, conectou a terra sua Grande Obra e a Corrente que ele iniciou está agora, mais de cinquenta anos após a sua morte, inspirando multidões a se apegarem à liberdade individual desde que Adam Weishaupt e os Illuminati transmitiram a fagulha que deu início à conflagração que mudou a história da humanidade no séc. XVIII.

Em tempos mais recentes o ocultista Alemão Eugen Grosche também parece ter estado consciente da ciência dos kalas. Em seu Blätter für Lebenkunst privadamente circulado, ele mostrou como a polaridade sexual requerida pode ser induzida por passes manuais feitos sobre as zonas erógenas do corpo da mulher selecionada como um canal para transmissão de forças mágicas. Esses passes ou mudras, embora feitos manualmente ou com uma baqueta previamente carregada com ojas, pode – embora nem sempre precise – carregar a superfície do corpo da mulher. A idéia é despertar os pranas corpóreos causando sua convergência sobre o muladharacakra ou a yoni. Os pranas saturam aKundalini, já inflamada pela respiração rítmica, mantra, dança que leva ao êxtase (especialmente a dança do ventre que provoca o fogo latente) e coito sexual no qual a mulher inibe seu orgasmo. Crowley frequentemente suplementava essas técnicas com álcool e drogas a fim de induzir um estado de tumescência. Quando a mulher tiver sido excitada ao grau máximo, e não antes, o magista começa os passes mágicos. As mudrascoletam os ojas que são acumulados nas zonas erógenas2 até que o potencial mágico da mulher esteja completamente concentrado na yoni. O sucesso é indicado por um violento tremor na região genital e, em casos extremos, o corpo inteiro é convulsionado em paroxismos que marcam a retirada da energia dos vários cakras. Não se deve dar continuidade a este estado; se ele continua, é um sinal que a purificação das nadis3 não foi propriamente alcançada.

É neste estágio, após o corpo ter alcançado a quietude, que alguns operadores absorvem os kalas ou vibrações vaginais acumulados no cálice mágico. Eles aparecem na forma de fluidos sexuais, mas os kalas não são as secreções sexuais ordinárias como compreendido pelos fisiologistas; eles são fluidos carregados com energia mágica que representam o potencial total da Mulher como um agente ou veículo da Deusa que é poderosa no momento de dar a luz a qualquer coisa desejada.

Concernente a este estágio do rito, uma forte controvérsia surge em relação a uma maneira correta de se obter o Décimo Quinto Raio vital ou Kala; pois quando a mulher realmente se torna a Deusa Quinze ela se torna oracular, uma força sobre-humana capaz de salvar ou, se o rito foi apropriadamente desenvolvido, de fulminar qualquer pessoa que se aproxime dela. Daí os ferozes semblantes das dakinis (rainhas-bruxas) representadas nos sagrados emblemas Tibetanos. Em termos orientais, o procedimento errado neste estágio do rito é condenado como avedico, i.e. contrário aos Vedas e, portanto herético. Isso inclui a embebeção real dos fluidos pelo cunilíncuo, embora algumas seitas tântricas sigam a prática de exercitar regularmente a língua em um movimento de ordenha que a prolonga [o êxtase] suficientemente para permitir a exploração profunda da vagina. Os tipos mais elevados de cuni-líncuos são desenvolvidos sem o contato físico, mas este método é um segredo fortemente guardado nos círculos tântricos Hindus e Budistas. AHathayogapradipika e a Shivasamhita, que Crowley menciona no Magick como famosos tratados Hindus de certas práticas físicas, descrevem um método conhecido comoVajrolimudra nos quais os fluidos são absorvidos via o pênis, que é utilizado como um cifão. A prática guiada por um guru experiente é requerida para que a utilização do pênis seja feita com precisão adequada. Não há registros que provem a utilização desta fórmula por Crowley. Este oli, como é chamado, parece ser Védico e, portanto aceitável como prática Hindu ortodoxa.i

A Grande Mudra (Mahamudra) do Culto Theriônico é exibida na Estela da Revelação.4Ela mostra a Deusa estelar Nuit arqueada sobre o celebrante do Rito; e isto é precisamente a postura ou mudra conhecida como Kailasa Prastara do Shri Cakra,5 no qual uma folha de bhurja é colocada debaixo da vulva da Sacerdotisa para receber oskalas magnetizados. A folha é passada ao redor de um Círculo após o feitio da fórmula da Comunhão Sagrada, quando o Cálice de Caris é oferecido aos celebrantes do Ágape, a festa de amor dos Gnósticos. Foi o “sangue” de Caris, a fêmea salvadora, que precedeuo sangue de Cristo; daí sua eficácia quando comparada com seu mais recente substituto masculino. Que era um substituto e não uma contra-parte é provado pela falha na fórmula Cristã; os Gnósticos representavam a tradição anterior e genuína.6

Nesta situação é apontado, talvez mais vividamente do que em qualquer outro lugar, a luta eterna entre os elementos shaktas e shaivas. No Culto de Thelema o conflito é finalmente reconciliado pela exaltação da Criança, ou a essência combinada de ambos os cultos, mas Horus a Criança é a criança da Mãe solteira, e o componente masculino (bindu) que a engendrou, embora presente, é desconhecido. Como está escrito no AL: “No globo Eu sou, em qualquer lugar, o centro, enquanto Ela, a circunferência, é em parte alguma encontrada.” A concepção Romana da Mãe Virgem foi uma má interpretação deste simbolismo. Daí a definição de Crowley sobre a Trindade Thelêmica contendo a Besta, a Prostituta e o Bastardo. Eu expliquei completamente este conceito no meu livro anterior.7

Não existe em nenhuma parte dentro da Filosofia de Thelema o ascetismo praticado pelos Cristãos, cujos sacerdotes negam o próprio sacramento do qual eles mesmos devem sua existência! A fórmula de Thelema – amor sob vontade – está em concordância com as leis naturais, não a blasfêmia contra elas.

Tendo concentrado ojas no muladharacakra, o magista pode ou absorvê-los imediatamente ou proceder com o rito e, pela manipulação magnética, tomar a energia estágio por estágio, realizando em uma rota o potencial de cada cakra. Ou, ele pode despertar e dirigir a energia para um cakra específico como p.e. o ajnacakra e explorar os aethyrs.

A Mulher Escarlate é o Portal da Visão, e é neste estágio do rito que o controle onírico se torna possível, pois o operador estabelece contato direto com o estado swapnicoenquanto permanece desperto; ele é capaz de controlar a visão da Vidente (i.e. a Mulher Escarlate) enquanto ela a desenvolve.

Crowley utilizou muitas videntes no curso de sua carreira; oito foram de importância fundamental. A lista dada no Capítulo Dois é datada do período de Cefalù-Tunísia (1920-3) quando ele compunha seu longo comentário sobre o AL. Seus Diários Mágicosposteriores mostram que muitas candidatas aspiraram ao ofício de Mulher Escarlate, a maioria delas sendo rejeitadas por uma razão ou outra.

Foi observado por vários críticos de Crowley que as mulheres que realmente se qualificavam para o papel de Mulher Escarlate quase sempre terminavam seu ofício em hospícios ou instituições similares. Isto pode ser verdade, mas não é uma critica válida aos métodos de Crowley, pois o que não é considerado é que um tipo especial de temperamento é requerido para se estabelecer contato com um estado onírico ainda em estado de vigília. As mulheres Ocidentais que possuem os traços requeridos são raras, e uma vez que elas não possuem a vantagem hereditária de iniciação nas técnicas ocultas – como possuem certas mulheres Africanas e Orientais – o impacto súbito da energia mágica na personalidade feminina Ocidental tende a causar distúrbios de insanidade. Tais mulheres, portanto facilmente astralizam; mas é a falta de preparação prévia nas mulheres Ocidentais que resulta na demência definitiva. Considere que – mesmo no Oriente – as atuais condições modernas tornam quase impossível encontrar mulheres com aptidão necessária; quantos problemas deve Crowley ter sofrido para encontrar parceiras mágicas após o colapso ocorrido na Abadia de Cefalù? Se as Experiências de Cefalù tivessem se sucedido de maneira promissora no exterior talvez nós tivéssemos hoje um núcleo Thelêmico poderoso capaz de transmitir a Corrente para nós, seus herdeiros e sucessores. Como se encontra, nós somente podemos preservar a fórmula, confiantes de que o atual renascer da magick trará genuínas Sacerdotisas para servir a Nossa Missa.

Deveria estar claro para qualquer pessoa com experiência na operação astral do controle onírico que existe na verdade nada senão um estado de vigília da consciência. Nós chamamos de estado onírico aquele estágio logo após os sonhos terem cessado; durante este estado nenhum sentido de ilusão é experimentado. Similarmente, o estado de sono com sonho é descrito como estado oblívio ou de esquecimento somente a partir de um estado de vigília. Enquanto o sushupti (sono sem sonho) esta sendo experienciado há, ao contrário, Consciência Total, Consciência Completa, não de nada – pois isso é impossível – mas do Self (Atman). Atman é Consciência Pura, i.e. Self sem qualquer mácula do ego. O pensamento não existe em sushupti, a própria mente, que é senão o funcionamento do pensamento, não existe neste estado; a mente não é uma entidade em si mesma. Portanto, durante os três estados existe presente somente consciência desperta, i.e. vívida, consciência imediata. No jagrat (estado de vigília) a realidade é mascarada por objetos, que são pensamentos cristalizados; no estado de sonho (swapna) a realidade é obscurecida por pensamentos que aparecem tão reais para o sonhador quanto os “objetos” no estado de vigília. No estado de sushupti (sono profundo e sem sonho) a realidade é mascarada pela ausência de pensamento, e este estado é confundido pelos não-iluminados como inconsciência ou vazio. A ausência de mentação é tomada para subentender a ausência do Self; na verdade ela indica a presença do Self em seu puro estado, destituído de todos os atributos, i.e. pensamentos. A Consciência Pura é a única realidade porque ela é o único fator comum a todos os três estados. Não existe sonho ou sonhador; existe somente Realidade, i.e. Consciência não fragmentada por sujeito e objeto. Se este substrato é realizado ele brilhará, totalmente não obscurecido, e o organismo automaticamente funcionará com espontaneidade perfeita em todos os estados.

Por que então usar sexo, álcool, drogas, mantras, dança e etc.? A utilização deles é somente um auxiliar para aqueles que não realizaram a Unidade dos Três Mundos (ou Estados). Pela utilização destes auxiliares, é despertada e mais tarde controlada, a consciência primeva que está adormecida como Kundalini Shakti. Ela que deve ser despertada a fim de vitalizar e integrar os três estados de consciência é representada por uma serpente de três voltas e meia “dormindo” na base da espinha. O meio representa um número entre os números, o espaço entre espaços onde a eternidade habita e transcende os três estados; onde todo sonho, todo pensamento, toda atividade, funde-se na Clara Luz.

Shakti é o espelho de Shiva, portanto o despertar do Fogo Primevo na Sacerdotisa meramente segue a ascensão da energia em Shiva (o Sacerdote);8 não sendo desta maneira, o processo não alcançará os resultados mais elevados, embora seja extenso em escopo ou potencial seus efeitos colaterais possam ser.

Os resultados mais elevados são místicos; eles concentram a Graça da Suprema Shakti(Kali) que concede Kaivalya.9 Todos os resultados menores são de um caráter mágico; eles levam por ou em graus a última Realidade. A sensibilidade aumentada, a consciência exaltada, a consciência total, é o objetivo do rito. O evitar do embotamento da sensibilidade e a consequente inércia produzida por uma sobre-irritação dos “vasos da terra”10 é uma grande preocupação das Sacerdotisas. No The Zoetic Grimoire of Zos,11Austin Osman Spare se refere às Rainhas-Bruxas que punem aqueles que se submergem na sensualidade como resultado da inércia produzida por sobre-estimulação. O método de Crowley para despertar a Serpente de Fogo é contido em um trabalho intitulado Da Lucidez Erato-Comatosa baseado nos experimentos de Ida Nellidoff do Nono Grau, O.T.O.12

Existem muitas referências nos Tantras do poder investido nas Sacerdotisas para corrigir pela punição os erros de procedimentos nos rituais. A Deusa ritual “deveria ser jovem, bem desenvolvida, sem filhos, saudável e celibatária; ela deveria ser treinada no pranavamantra13 e sua utilização; ela deveria ser capaz de usar todas as setas dos sentidos em suas reversões,14 e deveria ser capaz de governar e punir aqueles que erram durante o ritual”.15

A consciência total deve ser mantida durante o processo de absorção do mundo onírico,16 e daí para frente para o Mundo Criativo de Briah.

Como Spare demonstrou, o verdadeiro Sabbath das Bruxas possuía como objetivo (e ainda possui) a “reificação do sonho inerente”, que é outra maneira de se dizer que se tornar consciente ou realizar o sonho deve ser uma capacidade idêntica à experiência de vigília. Na terminologia de Crowley o “sonho inerente” é a Verdadeira Vontade, que é o objetivo do magista para encarnar.

O Sabbath de superstição popular é uma caricatura grotesca, quando ele não é uma paródia deliberada do rito secreto que visava despertar a Mulher Serpente pelo uso positivo da Corrente Sexual. O coven dos treze representa o verdadeiro cakra ou Círculo Kaula. Treze é um número lunar par excellence, o número da fêmea e suas manifestações periódicas. Isso porque o número treze foi considerado amaldiçoado pelos aderentes dos cultos solares. Mas existe outra implicação qabalística no sentido de que 13 é 31 ao inverso, e 31 é o número do AL (Horus), de LA (Nuit) e de ShT (Seth), a soma destes três 31s constitui a Corrente 93 representada por Shaitan-Aiwaz cuja a fórmula éamor17 sob vontade.18

No O Livro da Lei uma alusão direta é feita a esta fórmula de reversão: “Está um Deus a viver em um cão? Não! mas os altíssimos são nossos.”ii Nos primeiros Sabbaths um “deus” aparecia na forma de um grande cão; ou seja, o Grão-Mestre ou Chefe-Celebrante assumia a forma divina do típico cão do fogo estelar que era identificado no antigo Egito com Sothis e com o calor feroz dos dias de cão.

A doutrina da reversão dos sentidos é tão antiga que nós encontramos referência a ela como uma tradição já decadente nos Tantras muito anterior a era Cristã. Os Siddhas deTâmil, em particular, referem-se a práticas nas quais a absorção da urina feminina e esterco incinerado19 formavam partes de um rito de purificação praticado por aqueles que adoravam a Deusa na forma de uma mulher viva. Em um comentárioiii secreto sobre estas práticas aparecem as seguintes observações interessantes:

O Vama Marga leva a retroversão das funções; o ritmo é também retrovertido; morte, o acompanhamento da vida, deixa de ser o que é; ela é um tipo de Viparita Karani (permanecendo de cabeça para baixo) que é aconselhada como uma assistência na prática do Yoga; as coisas que provocam nojo são analisadas, tornadas puras, e o valor delas sendo extraído, são utilizados na Perfeição do Homem. A urina da fêmea jovem e saudável que contém as secreções internas de vários órgãos de valor terapêutico e de grande importância para saúde é utilizada como um veículo para absorção de tônicos e etc. As fezes, oxidadas como orientado na Kalagnirudra Upanishad, são misturadas com a urina e assimiladas conforme requerido. A ciência antiga da organoterapia do Oriente20 diz que estes produtos são de valor muito potente e não imaginado; estes antigos não obtinham seus extratos de glândulas endócrinas de gatos, cães ou porcos sem cérebro ou mortos (dos quais a ciência “pura” dos tempos modernos os obtém), mas dos excrementos dos seres humanos vivos nos quais existem substâncias de muito maior valor do que pode ser encontrado em animais mortos.

E em outro lugar do mesmo comentário:

No Tantra Shakta, viparita karani consiste na absorção habitual de coisas repulsivas tais como urina, fezes – sendo de vaca ou humana é somente um detalhe – mênstruo e bindu; mais além, alguns (Adeptos) tiravam seus nutrientes do anus e bebiam em seus próprios órgãos sexuais [...]. Enquanto os Hatha Yogins também absorviam os fluidos das fêmeas da maneira explicada acima, o Tantra Shakta refere-se somente aqueles atos de viparita e vamon que são descritos quando o contato físico é desaprovado. Viparita é o exercício de abolir o nojo através da absorção de coisas repulsivas que são úteis; através da apreciação da presença do feio em mulheres horrorosas, mas bem dotadas; através da prática de atitudes não convencionais e nojentas, de maneira intencional que traga vantagens espirituais; o viver uma vida melhor do que em um ambiente de puritanismo e falsa modéstia. Esta atitude é uma consequência natural, afetando a mente cuja atitude muda quando a Kundalini começa a tomar seu curso de viparita(retorno) [...].

Austin Spare, um genuíno expoente destes Mistérios, diz a respeito do verdadeiro Sabbath:

A Bruxa usualmente engajada é velha, grotesca, mundana e libidinosamente inclinada, e é tão sexualmente atraente quanto um cadáver: contudo ela se torna um veículo de total consumação. Isso é necessário para a transformação da cultura estética pessoal, que é a partir daí destruída. A perversão é utilizada meramente para superar o preconceito moral ou a conformidade. Pela persistência, a mente e o desejo se tornam amorais, focalizados e tornados inteiramente receptivos, assim a força de vida do Id está livre de inibições anteriores ao controle final.

Spare similarmente acreditava que a “cultura estética pessoal como o valor tem destruído uma afinidade mais carinhosa do que qualquer outra crença; mas aquele que transmuta o feio tradicionalmente em outro valor estético tem novos prazeres além do medo”.

A mais recente caricatura destas antigas doutrinas nos ritos revoltantes do Sabbath Negro, que consistia em uma mera inversão das práticas Cristãs,21 são os ecos distorcidos de uma doutrina que possuía em seu coração o verdadeiro samadrishti, o que caracteriza os níveis mais exaltados de espiritualidade.

O Alquimista medieval talvez tenha chegado o mais próximo possível da doutrina pura com sua análise de substâncias popularmente consideradas sujas. Ele sabia que entulho era uma forma externa do Deus Oculto; que o ouro resplandecente de valor inestimável ficava nos minérios e metais que repeliam aqueles que não conseguiam distinguir entre o que possui valor e o que não possui.

Nesta conexão, uma das principais formas divinas consideradas sagradas nos cultos primevos era o porco, consagrado a Tifon, o senhor das trevas na Tradição Draconiana. O porco fora considerado um animal sujo pelos cultos posteriores, pois ele era o único animal conhecido a comer os excrementos humanos. É significante que os Judeus o rejeitaram como animal abominável quando eles mudaram o culto de adoração estelar doEl Shaddai (Al-Shaitan) para o culto do Jeová paternalista e solar. Mas o porco era originalmente um glifo de suma santidade, por conta de uma doutrina que envolvia a absorção de substâncias que os não-iniciados rejeitavam como repelentes; o que, na verdade, elas são, em sua forma não regenerada e não sacramental. Quando purificadas e consagradas ao serviço da Deusa, elas se tornam auxiliares de sumo valor para o despertar da Serpente de Fogo. “Toda comida é intencionada para alimentar não o corpo, mas a Kundalini, daí os extratos da urina, fezes e fluidos menstruais. Não é necessário submeter-se a qualquer ginástica ou exercícios fatigantes durante o treino da Kundalini – o mais leve exercício a afeta; e tudo é alegria a partir daí, sendo a atenção e a visão devotadas a ela.”22

O famoso ou talvez infame Rito dos Cinco Ms (Panchamakaras)23 envolve o uso de substâncias que o indivíduo dos tempos atuais, educado com falsos valores Cristãos, vê como repulsivo. Existe uma referência a este Rito em Liber VII.24 Crowley traduz a doutrina em termos de afinidade química e repulsão, ambos sendo aspectos do Ágapeque significa “amor” em seu sentido total de atração-repulsão, amor-ódio. Em Liber AlephCrowley explica que o montante de energia e êxtase desengajados pela união com elementos novos e frequentemente contrários é mais profunda, mais feroz e mais significativa do que a união de similares:

[...] através de repetidos Casamentos vem Tolerância, de forma que o Êxtase não mais aparece. Assim, seu meio grão de Morfina, que a princípio lhe abria as Portas do Céu, de nada vale ao auto-envenenador após um Ano de Prática diária. Também o Amante não encontra mais Alegria em União com sua Amante, tão cedo a Atração original entre eles é satisfeita por repetidas Conjunções. Pois esta Atração é um Antagonismo; e quanto maior a Antinomia, mais forte a Pujança do Magnetismo, e a Quantidade de Energia liberada pelo Coito. Assim, na União de Semelhantes, como a de Alógenos uns com os outros, não existe grande Paixão ou Força explosiva; e o Amor entre duas Pessoas de Semelhante Caráter e Gosto é plácido, e sem Transmutação a Planos mais elevados.

[...] toda Oposição é em sua Natureza um Sofrimento, e a Alegria consiste na Destruição da Díada. Portanto, tu deves sempre procurar aquelas Coisas que te são venenosas, e isto no mais algo Grau, e fazê-las tuas pelo Amor. Aquilo que repele, aquilo que desgosta, tu deves assimilar nesta Senda de Complecção. Porém, não descanses na Alegria da Destruição de todo Complexo em tua Natureza, mas avança àquele ultimal Casamento com o Universo cuja consumação te destruirá por completo, deixando somente aquele Nada que era antes no Princípio [...].25

O celebrado devoto Bengali de Kali, Shri Ramakrishna, observa também – com maior apresso – a habilidade do iluminado em fazer nenhuma distinção do conteúdo de uma lata de lixo e um prato preparado por um gourmet. Esta suprema atitude ou mudra é exemplificada pelo devoto de Kali que desenvolve seus ritos misteriosos no solo de cremação iluminado pela radiação maligna de uma lua minguante manchada de sangue na escuridão da noite; circundado pelos corpos decadentes dos mortos, seus murmúrios mântricos são acompanhados pelas ululações da hiena. Contudo, este smashanam (solo de cremação) é para o devoto não mais do que a yoni semeada de flores da Deusa, onde todos os desejos atingem a satisfação final e a última extinção na pira funerária:

Tu és a coisa mais bela, mais branca que uma mulher na coluna desta vibração.
Eu me lanço verticalmente como uma flecha e me torno aquilo acima.
Mas isso é morte, e a flama da pira.
Ascende na flama da pira, Ó minha alma! Teu Deus é como o frio vazio do mais extremo céu, no qual tu irradias tua pequena luz.
Quando tu me conheceres, Ó Deus vazio, minha chama expirará completamente em Teu grande N.O.X.26

A palavra Nox ou Noite, contém a chave para esta passagem assim como contém a chave para fórmula de Nuit arqueada sobre o celebrante derramando seus kalas sobre ele. Isso pode ser explicado qabalisticamente bem como literariamente por N.O.X., NOTz = 210, que é o número de uma fórmula secreta chamada Ompedha,27 uma palavra que contém 3x70 (i.e. 210), as Três Fases do Nada; Nada ou Nuit nos três mundos ou estados de consciência desperta, consciência com sonho e sono profundo ou estado de vazio. 210 também é o número da reversão, confusão, portanto, a reversão dos sentidos já descrita acima. No comentário de Crowley sobre Nox, o ‘N’ é equiparado com Mentu (o falo), o ‘O’ com Amoun (o Deus Oculto), o ‘X’ com Isis (como virgem, i.e. adormecida, não-desperta).

Em outras palavras, agora é prontamente compreensível que àquilo que é sonhando (sendo o sonho magicamente controlado) é mais real do que a experiência desperta.

O Livro dos Mortos Egípcio é o Grimório mais antigo e detalhado para aqueles que querem “sair para luz” na luz da consciência total além dos três estados. Similarmente, o AL é para aqueles que, como Austin Spare parafraseou “reificarão o sonho inerente”. No AL também existe ênfase no elemento “sujo” da Gnose pré-Cristã: “O melhor sangue é da lua, mensalmente: em seguida o sangue fresco de uma criança, ou destilando da hoste do céu: em seguida de inimigos; em seguida do sacerdote ou dos adoradores: finalmente de alguma besta, não importa qual. Isto queimai: disto fazei bolos & comei para mim.”28

A reversão dos sentidos ao ponto onde a repulsão e a atração negam-se um ao outro em um orgasmo supremo constitui o ágape, ou a “festa do amor dos super-sensualistas”. Esta festa foi referida por Spare no seu The Book of Pleasure, “festa do amor dos super-sensualistas” sendo o título de uma ilustração que infelizmente fora omitida do livro. É fácil imaginar o que ele teria retratado se nós considerarmos a natureza da refeição em termos dos Rituais dos Tantras Shaktas do Vama Marga. Spare fazia questão de coabitar sexualmente com os tipos mais inimagináveis de mulheres repulsivas. Isso me faz lembrar de um anúncio para modelos que Crowley compôs durante sua estadia no Greenwich Village, Nova Iorque:

PROCURA-SE
Anões, Corcundas, Mulheres tatuadas, Mulheres muito feias, Aleijões de todos os tipos, Mulheres de cor, somente se excepcionalmente feias ou deformadas, para pousar para artista. Se candidatar por carta com uma fotografia.

A predileção de Spare por mulheres feias, especialmente monstros de todos os tipos aqui ilustrados, com clitóris hipertrofiados, foi baseado na doutrina da reversão dos sentidos. Mas um comentador contemporâneo de uma das formas mais secretas de adoração tântrica enfatiza a não-necessidade de buscar mulheres incomuns:

Bhagavati, vós cuja importância principal na adoração é o bhaga, a saída genital. Vossa natureza é sempre nova; sempre fresca é sua secreção [...]. Todo dia o néctar das mulheres é fresco, sem pecado; ele é o Sadharana em mulheres comuns e normais [...] não há a necessidade de caçar mulheres extraordinárias. O que quer que saia das mulheres como osesha e o seshee, a forma dual de natureza, o bindu e o rajas, e sua mistura no shivambhu, ou urina, sai das belas fêmeas. Esta é a ciência dos Bhairavas, as deificações com face de cão que existem desde os tempos remotos de uma nação Egípcia; cão, por assim dizer, porque eles valorizavam suas excreções, o sesha do metabolismo humano; cão, porque os participantes não conheciam o Medo, Bhairava [...].

A técnica para cultivar a inversão dos sentidos é descrita pelo mesmo comentador, e ela é de importância vital para a compreensão do Culto de Crowley, bem como o de Spare e outros, eu o coloco a disposição por completo:

Tanto quanto possível, e para se obter os melhores resultados, deveria haver um cultivo dos elementos exteriores para com os internos. Existe a reversão do sentido do paladar ao virar a ponta da língua de forma a fazer a úvula voltar para cima, e, por sua vez, fechar o buraco do palato; existe a reversão do sentido de tato por ser negativo a qualquer coisa com que se possa travar contato mantendo um tipo de intocabilidade interior através da repulsão de si mesmo; existe a reversão do sentido do olfato através da extração do prazer por coisas nojentas, mas valiosas, tais como a urina e fezes, e através da busca por odores potentes, como nos sulcos e secreções das mulheres. Fazendo esta busca de maneira sistemática, profunda e científica será compreendido que o processo de envelhecimento pode ser detido e invertido pelo uso do nojo e a utilização de fêmeas jovens como já era feito há tempos pelo Rei Davi e Salomão.

A Corrente Shaitan-Aiwass de Crowley, O Culto Zos Kia de Spare, o Culto de Cthulu de Lovecraft, são diferentes manifestações de uma fórmula idêntica – aquela do controle onírico. Cada um destes magistas viveu suas vidas dentro dos limites do contexto dos mitos do sonho cósmico que, de alguma forma eles retransmitiram ou transmitiram para o homem de ouras dimensões. A fórmula do controle onírico é em um sentido usada pelos artistas criativos, embora poucos sucederam em trazer a consciência humana para tal forte proximidade com outras esferas.

Embora as pessoas não estejam geralmente conscientes das influencias sutis que Crowley recebia e transmitia, no entanto o colapso de fórmulas religiosas obsoletas, a mudança abrupta de valores e a habilidade presente de certos tipos de mente para reagir a Corrente mostram claramente que Crowley, Spare, Lovecraft, Grosche, Fortune e etc. não são os originadores de tal Corrente, mas meramente seus transmissores. Esta é a pedra de toque do real valor e grandeza da arte: age ela como um canal para tais influências cósmicas ou, como tanto da assim chamada arte “moderna”, ela é meramente a expressão de uma psique privada e deslocada, defeituosamente conectada ou mesmo inteiramente cortada de suas fontes extradimensionais de Energia criativa que inspira todos os artistas verdadeiros?

Não é fácil e às vezes é excessivamente difícil distinguir entre duas formas de expressão, que podem ser divididas neste exemplo – e este exemplo somente – em atos de ‘magia’ branca e negra. A arte de Lovecraft teria sido negra na verdade caso tivesse ela sido engendrada, como ele supôs, das profundezas de sua própria psique desconectada. Se este não foi o caso, creio ter demonstrado.

Notas

1. Veja O Touro Alado, O Deus com Pé de Bode, e etc.

2. As localizações precisas destes marmas são sempre mantidas em segredo.

3. A complexa rede de filamentos nervosos que transportam os ojas para diferentes partes do corpo – tais como os mamilos das mamas – para causar ereção no início do intenso excitamento sexual.

4. Veja Figura 3.

5. Veja Figura 2.

6. Veja The Natural Genesis (Massey), Vol. II, pág. 355, 365.

7. O Renascer da Magia, Capítulo 3.

8. Compare Liber A’ash vel Capricorni Pneumatici, versículo 16: “[...] Compreende que a rendição da Yoni é una com o alongamento do Lingam.”

9. “É no vazio de Kali que se é concedido o Kaivalya” (i.e. a liberação final da existência condicionada). Kâmadhenu Tantra.

10. “Vem! irritemos os vasos da terra: eles destilarão vinho estranho.” Liber Liberi vel Lapidis Lazuli, III:24.

11. Texto não publicado de Austin Osman Spare.

12. Veja Capítulo 9.

13. O pranava mantra é OM. Aqui ele se refere à vibração criativa básica que é o mantrapeculiar da Serpente de Fogo.

14. Veja abaixo.

15. Comentário tântrico de um Iniciado contemporâneo.

16. Swapna, ou, em terminologia qabalística, Yetzirah, o Mundo da Formação.

17. Ágape=93.

18. Thelema=93.

19. O termo esterco de vaca, como empregado nos Tantras, é um eufemismo para sua contra parte humana.

20. Também conhecida antigamente no Ocidente como Alquimia ou Arte Hermética.

21. Tais como a retroversão da oração do “Pai Nosso”; o beijo obsceno aplicado ao ânus da besta; o ato de sujar o crucifixo com a urina da prostituta e assim por diante.

22. De um comentário secreto. Cf. Liber Astarté vel Berylli.

23. Os cinco makaras são madya (vinho), mamsa (carne), meena (peixe), mudra(atitudes) e maithuna (congresso sexual).

24. Liber Liberi vel Lapidis Lazuli, III:37.

25. Liber Aleph. Extratos dos Capítulos 22 e 23.

26. Liber Liberi vel Lapidis Lazuli, I:36-40.

27. AL III:34.

28. AL III:24-25.


Notas de Fernando Liguori

i. A vajrolī-mudrā é um procedimento haṭha-yogī (tântrico) onde o sêmen, carregado com os fluídos vaginais, é sugado através da uretra do pênis. O processo é descrito com precisão na Haṭhapradīpikā e leva anos de treinamento para sua perfeição. A intenção é não desperdiçar nem o material bruto que fora perdido, embora já não carregado com tanta energia (ojas). Mestres modernos adaptaram essa prática a sociedade, de modo que qualquer um possa fazê-la sem maiores restrições. Trata-se da contração voluntária da uretra combinada com prāṇa-nigraha e prāṇāyāma, isolando os esfíncteres do ânus e o assoalho pélvico.

ii. Em inglês Deus = God (AL) é o reverso de Cão = Dog (LA).

iii. O comentário tântrico referido por Grant aqui é O Comentário Anandalahari, escrito por David Curwen, um eminente membro do Soberano Santuário da Gnose, IX° O.T.O., conhecido na Ordem como Frater Ani Abthilal. Fora este Adepto o responsável pela iniciação de Grant no Círculo Kaula.

ChAYOGA: O Yoga Das Sombras


Faz o que tu queres há de ser tudo da lei.

Há uma porta na alma que se abre para Deus e outra que se abra para as Profundezas. Não tenham dúvida: as Profundezas emergem assim que a porta é efetivamente aberta.
Tifon, Juggernaut e Hécate não eram menos divinos dos que os deuses do mundo superior, e os ofícios de Canídea eram provavelmente, a sua maneira, tão sagrados quanto os mistérios pacíficos de Ceres.A.E. Waite


Aideia de que o universo é constituído por forças desequilibradas buscando completude na união com outras forças desequilibradas reside no cerne da doutrina qabalística das Qliphoth, as forças desajustadas da criação. No Gênesis, I: 27 encontramos: Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Se nos colocarmos no lugar dos antigos hebreus e olharmos para este versículo do Livro de Moisés com a mesma sacralidade deles, torna-se impossível o início de uma investigação profunda.

Mesmo antes do nascimento, o bebê no útero encontra no seu pequenino polegar da mão ainda em formação uma fonte de conforto e autocarinho. É o polegar em oposição aos outros quatro dedos que nos torna capazes de construir ferramentas, armas e produzir o fogo desde o inicio dos tempos. A mão distingue primatas de seres humanos no reino animal e é um símbolo perfeito da supremacia da raça humana. Por essa razão, a mão sempre foi objeto de especulação e meditação entre os qabalistas mais antigos.

Os qabalistas do passado nos ensinaram que o alfabeto hebraico é uma ferramenta de criação revelada por Deus aos anjos que instruíram Adão. A letra hebraica para mão é Yod «y», a décima letra do alfabeto e cujo valor gemátrico também é dez. Yod pode ser considerada a letra-mãe ou a letra-fonte de todo alfabeto hebraico, uma vez que todas as outras letras são variações de Yod.

A mão possui quatro dedos e um dedão que os dá suporte, quer dizer, quatro regidos por um. Os qabalistas do passado, portanto, propuseram que a «mão» do Criador – a mecânica do desenvolvimento em evolução – trata-se de uma unidade absoluta manifesta através de um processo quádruplo. Essa fórmula é universal e permeia todos os níveis de existência e consciência. Expressando a mecânica dessa observação fundamental, os místicos qabalistas incorporaram a fórmula em um conceito único de Deus, expresso em um nome de quatro letras: hvhy «IHVH».

Essas quatro letras, hvhy, representam quatro mundos descendentes através do qual o processo de criação se realiza:

y Atziluth, o Mundo Arquetípico, é o mais sublime, sutil e perfeito de todos os mundos (ou planos de existência). Em Atziluth, os aspectos feminino e masculino do Absoluto se encontram em perfeita unidade e bem-aventurança. Os outros três mundos abaixo deste são o produto desta união, que fica mais densa na medida em que se manifesta. Atziluth pode ser considerado a vontade do Absoluto em sua forma mais pura.

h Briah, o Mundo da Criação, é onde a Luz Prístina de Atziluth começa a se organizar. Essa é a morada dos anjos mais sublimes e elevados e pode ser considerado o coraçãodo Absoluto.

v Yetzirah, o Mundo da Formação, é onde a organização fundamental de Briah torna-se específica. Aqui ocorre a formação hierárquica dos anjos, com seus deveres estabelecidos. Yetzirah é a mente do Absoluto.

h Assiah, o Mundo Material, é onde se manifesta a impureza produzida pela degeneração da luz primordial na medida em que ela atravessa (ou passa) através dos três mundos acima, se cristalizando na forma do mundo material como o conhecemos, a natureza e a existência humana.

Tradicionalmente, o Reino dos Qliphoth está associado a Assiah. As Qliphoth são as cascas ou receptáculos que nos três mundos superiores atuam suportando e mantendo aluz primordial na medida em que ela desce, mas após servir ao propósito da criação/manifestação, eles são descartados como lâmpadas queimadas em Assiah. Estas cascas são constituídas dos elementos mais grosseiros dos outros três mundos e comportam forças extraordinariamente perturbadoras. Não são espíritos no verdadeiro sentido da palavra, mas receptáculos sem rumo que procuram em vão se preencher com a luz primordial. No entanto, a luz primordial não se manifesta em Assiah da forma sutil que se manifesta nos outros três mundos. Por conta disso, as Qliphoth são desprovidas de energia pura, tornando-se, por assim dizer, vácuos desestruturados que buscam sugar o máximo de luz possível dos habitantes de Assiah, o que inclui a todos nós.

Portanto, as Qliphoth manifestam as qualidades avessas/contrárias dos outros três mundos acima. Assim, o que uma vez foi Kether, a pura essência da unidade, agora se manifesta como Thaumiel, Gêmeos de Deus. O nome significa «gêmeo» ou «deus gêmeo». Representado por dois príncipes malignos, Thaumiel apresenta a polaridade máxima da dualidade. Como as duas faces de Jano, os dois príncipes malignos olham e direções contrárias. Thaumiel é a inversão total dos princípios de Kether. Da mesma maneira, a harmonia representada por Tiphereth encontra sua total oposição em Thagirion, Litígio. O nome significa «disputa» ou «discórdia». A parte de todas as associações mitológicas, Thagirion representa a natureza antinomiana que opera contra as leis que regem o universo e a criação. Cada Qlipha recebe um nome pejorativo devido sua ação, uma antítese da ordem estabelecida pelas Sephiroth no momento da criação.

As Qliphoth são, portanto, o dejeto da criação. Uma anti-estrutura demoníaca na Árvore da Vida, no entanto, essencial ao processo de criação. Seus habitantes são criaturas titânicas, gigantescas que executam o trabalho sujo de construir e sustentar o mundo material como o percebemos. A Tradição Oculta diz que eles são perigosos quando estão desordenados, descontrolados, ignorados ou não são conhecidos. De fato, muito daquilo que acreditamos ser nós mesmos, quer dizer, o corpo, a mente e a personalidade, pode ser considerado receptáculos qliphóticos da essência sutil e incompreendida que representa nossa verdadeira identidade.

O reino dos Qliphoth é uma sombra que está sempre conosco e quando nos esquecemos dela, podemos nos ver engolidos por seu tamanho. A Magia Tifoniana trata enfaticamente da exploração deste universo. Os métodos para isso são inúmeros, mas o mais efetivo é a sábia utilização da Corrente Ofidiana ou magia sexual.

No velho Testamento, as Qliphoth constituem o corpo do Grande Dragão das Profundezas, Leviathan. Seu corpo é mutável e polimórfico, suas partes constituintes constantemente apodrecem e caem, elementos dispersos que se unem para criar novas formas. O corpo de Leviathan não é apenas uma imagem de mutabilidade do universo físico, mas também da alma humana que, incompleta por natureza, busca estabilidade através da união com suas forças desequilibradas. O primeiro passo na realização da Grande Obra é transmutar, através do poder da magia, as Qliphoth ou as forças desequilibradas do universo que se encontram no processo de imcompletude da materia transiente e peresível, unindo-as com suas contrapartes opostas, as forças equilibradas do universo, predominantemente constantes. A injunção amor sob vontade é uma fórmula mágica de aplicação universal. Somente o amor pode unir o dividido. Através da Corrente 93 ou Verdadeira Vontade o amor pode ser direcionado adequadamente para a consciência total-abrangente de Nuit.

As Qliphoth podem ser consideradas conchas ocas, prontas a receber o influxo da Verdadeira Vontade (Corrente 93), tomando direção a partir desse processo. Trata-se de um ajustamento, a aplicação das Leis de Maat. Ra-Hoor-Khuit, o deus de guerra e vingança, é o responsável pela aplicação deste ajustamento, causando mudança e movimento para que o equilíbrio possa ser estabelecido através da união das forças opostas. Nesse processo a instabilidade cessa e os componentes dispersos são arranjados em uma estrutura coesa, equilibrada. Na doutrina qabalística das Qliphoth, Leviathan trata-se, portanto, de uma força interna ou ímpeto em direção ao equilíbrio ou cura de forças antagônicas e dispersas em nós mesmo. Os qabalistas do passado afirmam que não se trata de uma força nociva, mas ao contrário, uma força oculta positiva, exposta com muita clareza na cultura tântrica através da doutrina da kuṇḍalinī.

Eu sou a secreta Serpente enrolada pronta para saltar: em meu enrolar está o prazer. Se Eu ascendo completamente minha cabeça, Eu e minha Nuit somos um. Se Eu inclino para baixo minha cabeça, e verto veneno, em seguida é arrebatado da terra, e Eu e a terra somos um.
Existe grande perigo em mim; pois quem não entender estas runas deverá efetuar uma grande falha. Ele deverá arruinar-se dentro do fosso chamado Porque, e lá ele deverá sucumbir com os cães da Razão.

A alma cujo desejo de união e completude não é alimentado pela Verdadeira Vontade ou Corrente 93 deverá efetuar uma grande falha, pois iniquivocadamente será enganado pelos cães da razão, o Ego que perece no Abismo, o fosso chamado Porque.

Leviathan, o Grande Dragão das Profundezas com sua calda escamosa é representado pelo símbolo do ouroboros, cuja atribuição planetária é Saturno. Os gregos chamavam Saturno de Cronos, o tempo. O ouroboros é uma imagem do processo perpétuo de criação, destruição, dispersão e assimilação de todas as formas que animam o universo. A Grande Obra trata-se, portanto, do resgate da alma de sua queda, quer dizer, trata-se de livrá-la das forças que lhe conectam apenas com as conchas ocas e vazias das Qliphoth que, sujeitas ao tempo, são perpetuamente consumidas por Saturno que no mito devora os próprios filhos. Para transcender o tempo, a alma deve conquistar oconhecimento de Hadit:

Vede! os rituais do velho tempo estão sombrios. Deixai aqueles nocivos serem abandonados; deixai aqueles válidos serem clarificados pelo profeta! Em seguida deverá este Conhecimento prosseguir acertadamente.

Para conhecer Hadit e livrar-se das escamas do dragão a alma deve superar a tração de Saturno. Saturno é o regulador do universo físico e os rituais que atrelam a alma a este universo estão sombrios, pois levam a morte. Todos os rituais devem, portanto, ser dirigidos a Nuit, cujo corpo infinito de estrelas não pode ser mensurado pelas medidas e leis das forças mutáveis da Natureza:

Se os rituais não forem sempre para mim: logo aguardai os terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuit!

A liberação da alma do julgo da morte ocorre através da maestria do poder do dragão. A alma deve transcender o dualismo do universo fenomênico através de sua iniciação nos mistérios da auto-polarização. Isso envolve a utilização da força mágica de vida incorporada no dragão: o corpo físico e o sentido de egoidade. Somente nessa conquista pode a alma proclamar:

Eu sou o Senhor do Duplo Bastão de Poder; o bastão da Força de Coph Nia - porém minha mão esquerda está vazia, pois Eu tenho esmagado um Universo; & nada permanece.

A força do dragão é centrípeta, quer dizer, ela move-se em direção ao centro. É no propósito de estabilizar-se no centro que o dragão busca se unir a forças complementares. No entanto, a única união centrípeta realmente duradoura é aquela que ocorre fora dos ciclos do tempo. No momento em que a alma conquista sua imortalidade após sua gradual construção, as conchas ocas das Qliphoth se ajustam a percepção da Luz (LVX) e a cabeça do dragão se despedaça no Grande Mar de Binah acima do Abismo (NOX). No momento em que o dragão não mais excede suas convulções, quer dizer, quando suas violições são interrompidas, então o volátil se estabiliza. Na medida em que Leviathan busca completude na união dos opostos, permanece oco, vazio, sem luz e instável, um exemplo dos aspectos sombrios e qliphóticos completamente descontrolados. Mas quando ele se une na eternidade fora e além dos ciclos do tempo, sua manifestação deixa de ser demoníaca e se transforma na vibração daemonica. É quando os Qliphoth são transmutados e não estão mais sujeitos a morte e destruição. É nisso que consiste o trabalho do ChAYOGA, o Yoga das Sombras.

ChAYOGA soma 93, a Corrente da Verdadeira Vontade cuja fórmula é o amor sob vontade. ChAYOGA, portanto, consiste no yoga da transmutação qliphótica na busca do aperfeiçoamento e liberação eterna da alma.

Ao preparar este ensaio sobre incursões astrais nos Túneis de Seth, levei em consideração que o leitor já está familiarizado com a linguagem thelêmica e com os totens e teratomas da Gnose Tifoniana. Portanto, não se trata de um passo-a-passo para iniciantes. Ao trabalhar com os Qliphoth espera-se que o leitor tenha alguma experiência em magia, tradição tântrica e cultos das sombras. Caso contrário, é bem possível que esteja perdendo tempo e quem sabe, em nome da experiência, estará cavando uma cova bem larga e profunda. Portanto, na preparação desse material não me preocupei com os aspectos básicos da magia ou de seu treinamento, passando direto ao aspecto prático do trabalho, com instruções gerais acerca da preparação e execução. Como se trata de um ensaio sobre Teurgia Ofidiana, também levo em condireção que o leitor já está familiarizado com a fórmula da magia sexual da O.T.O., amplamente discutida em ensaios anteriores.


Amor é a lei, amor sob vontade.

Boca da Yoginī


Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Reverenciai-me com fogo & sangue. Reverenciai-me com espadas & com lanças. Deixai a mulher estar cingida com a espada adiante de mim: deixai sangue fluir em meu nome. Calcai abaixo o Gentio; esteja sobre eles, ó guerreiro, Eu vos darei a carne deles para comer.Para perfume combine farinha & mel & resíduos espessos de vinho tinto: em seguida óleo de Abramelin e óleo de oliva, e depois amacie & modere com rico sangue fresco. O melhor sangue é da lua, mensalmente: em seguida o sangue fresco de uma criança, ou destilando da hoste do céu: em seguida de inimigos; em seguida do sacerdote ou dos adoradores: finalmente de alguma besta, não importa qual.

Esse texto é uma reflexão enquanto na escrita de meu novo livro, A Tradição Tifoniana na Magia Moderna. Nos últimos 15 anos, tenho tentado rastrear a Tradição Tifoniana no escopo geral do tantrismo hindu e essa busca me levou a uma pesquisa profunda nas escrituras «śāstras» da cultura tântrica e kaula-tantras. A imersão no sânscrito em sua versão iniciática me possibilitou pesquisar direto na fonte, sem a intervenção da opinião ou erro de traduores. Kenneth Grant (1924-2011), um dos últimos discípulos de Aleister Crowley (1875-1947) foi à chispa que incendiou essa fogueira ao dizer que a tradição tântrica é a mais fiel repositária da Gnose Tifoniana nos tempos modernos.

Essa imersão fez com que eu considerasse o AL vel Legis da maneira como Kenneth Grant o via, um grimório tântrico fiel a Tradição Tifoniana, cheio de cifras tântricas acessíveis apenas ao iniciado nos mistérios. E com o tempo isso se provou verdade para mim assim como era para ele. Através do estudo das Trilogias Tifonianas é possível receber lampejos de uma corrente mágica muito antiga, a mesma que alimenta as chaves iniciáticas contidas no AL.

A Tradição Tifoniana trata da adoração da Grande Mãe ou Deusa. Tecnicamente, o termotifoniano se refere a essa tradição no Egito especificamente. Em um contexto global, o nome de referência a essa corrente mágica é Tradição Draconiana. Em meus textos, no entanto, utilizo as duas palavras livremente.

Segundo Kenneth Grant, o AL vel Legis contém fórmulas legítimas da Tradição Tifoniana em sua recessão tântrica. Esses versos acima transmitem uma gnose muito antiga. Antes de suas reformas no Sul e Norte da Índia e do renascimento medieval da Tradição Kaula, os primeiros clãs «kula» envolviam a adoração de terríveis yoginīs, lideradas pelo temeroso Śiva na forma de Bhairava e sua esposa, a Deusa sob inúmeros aspectos: Aghoreśvarī, Umā, Caṇdī, Śakti etc. Essas yoginīs eram herdeiras ou avatāres da Mãe «matṛkā» na forma de Yakṣiṇīs e Grahaṇīs, uma miríade de bruxas praeter-humanas na forma híbrida entre humanos e plantas, animais e minerais. Essas yoginīs viviam no limiar entre o divino e o demoníaco e possuíam sua contra parte feminina, a sacerdotisa engajada no rito, que orava sobre suas vítimas «paśu», consumindo seus fluídos vitais. Esse tipo de adoração foi pervertida e as yoginīs começaram a receber oferendas na forma de sangue sacrificado e alimentos. Mas na gnose primordial, o sacrifício no altar da Deusa eram as secreções depositadas em sua vulva, a boca da yoginī. Uma vez gratificadas pelo sacrifício do sêmen, as yoginīs se manifestavam na forma humana como uma jovem donzela, concedendo a seus devotos poderes psíquicos «siddhis», principalmente o poder de voar, quer dizer, projetar-se astralmente.

Através desse procedimento, a possessão ou incorporação das yognīs através da sacerdotisa, produzia-se o kulajñāna, a gnose kaula através do kulamṛta, o néctar ou sangue da Deusa. Este conferia a seus adeptos poderes psíquicos, liberação espiritual «jīvamukti» vivendo e gozando do mundo «bhoga». Os kaula-tantras trazem relatos dessas yoginīs sendo adoradas por seus devotos «paśu», que são devorados por elas, devido a fúria de sua manifestação e a ignorância de si mesmo. No entanto, o vīra, por mérito próprio, o adestramento de sua Verdadeira Vontade, é capaz de travar contadosexual com estas terríveis e poderosas bruxas, doando-lhes energia vital «vīrya», carregada de ojas, dentro da yoni ou Boca da Deusa. Por intermédio delas ele se torna no siddha «perfeito», senhor de si mesmo. Ao invés de devorá-lo, como no caso do paśu, elas oferecem então sua essência, os kālas da Deusa.

Nesse papel, a sacerdotisa do rito se torna a kulagocāra, o canal de acesso ao clã ekulāgamā, àquela cujo sangue dá vida ao clã. Neste caso, o sangue é a menstruação. A Deusa atua no corpo da sacerdotisa e através de sua vulva e emissões vaginais, secreções e menstruação, transmite o poder de todo o cosmos, contido na própria sacerdotisa.

Somente através dessa abordagem o kulamārgi acessa a essência da Deusa. Ele é entãoinseminado pela Deusa ou, mais apropriadamente, ensanguentado pela Deusa, a descarga menstrual da sacerdotisa. A vulva da sacerdotisa, a boca da yoginī, portanto, é o portal de acesso ao clã «kula». Ao consumir o rajāpana, descarga menstrual carregada com ojas, o kulamārgi tem acesso à linhagem espiritual da Deusa, quando recebe seusobrenome de iniciação. Ele se torna no Consorte da yoginī, voando com ela através dos aeons.
A Grã-Sacerdotisa, dessa forma, é a śukradevī, a deusa do sêmen ou a bindupuṣpā, àquela que mensura o sêmen de Śiva-bhairava na forma do kulamārgi.

O AL vel Legis, portanto, traz em suas cifras iniciáticas mistérios ocultos e filosofia tântrica prática que somente anos de imersão e tradição oral podem revelar. Os versos acima contêm fórmulas mágicas de profunda iniciação que este texto buscou elucidar e eu convoco todos a Ordo Tifoniana Oculta para aprenderem esses mistérios.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Astrologia Draco-Estelar



Agora, ergue-se Ra-Hoor-Khuit,
e o domínio é estabelecido
na Estrela da Chama.

Liber CCXXXI

O Draconiano, quando em contato com as pulsantes-energias que tipificam as realidades objetivas por detrás da Árvore da Vida, sofre o que chamamos de ‘aceleramento espiritual’. Se o corpo não for devidamente preparado para estas operações, padece em sofrimento. Mas o Draconiano, descartando a possibilidade de adorar algo que esteja fora de si mesmo, constrói seu Kiblah espiritual na alma, para que bênçãos desmedidas jorrem sobre si.

O siddhi mágico associado ao 15° kala ou Túnel de Seth, cuja Sentinela éHemethterith, é a Astrologia que, do outro lado da Árvore, possui uma conotação muito diferente da aprendida nas escolas esotéricas modernas, pois esta Astrologia é a verdadeira ciência da Estrelas ou kalas.

A prática com os Caminhos da Árvore da Vida e seus correspondentes Túneis de Seth na Árvore da Morte capacitaram-me a estabelecer um exato sistema mágico-sexual baseado nos anos de práticas e constantes exercícios com a Corrente Ofidiana como exposta pelo Soberano Santuário da Gnosis da O.T.O.

Este sistema mágico-sexual fora desenvolvido para que o Adepto de Alto-Grau da O.T.O. possa, efetivamente, trabalhar com a ‘Astrologia Draco-Estelar’ ou ‘Ciência das Estrelas’ ou kalas.

O Soberano Santuário possui três Graus ativos: VIII°, o IX° e o XI°.[1] Destes três Graus ativos, o VIII° possui três divisões, o IX° possui duas divisões, e o XI° uma divisão. Existem outras divisões que ainda serão divulgadas; para presente instrução, as aqui citadas bastam.

O VIII° possui uma natureza masturbatória, o IX° envolve o coitus propriamente dito, e o XI° comporta o uso da corrente lunar, i.e. a menstruação feminina. A seguinte tabela classifica este sistema de magick sexual adotado pelo Soberano Santuário da O.T.O.

Grau
Divisão
Método
Descrição
Kala






VIIIº
VIII°
Sacerdote (solitário)
Para Ritos que envolvem Consagração.
15° kala
VIII°

VIII°(-)


Sacerdotisa (solitária)
Para Ritos que envolvem Consagração.
Para consagração de talismãs e materialização de novos parceiros (pela atração) como oposta à consagração de idéias ou projetos, a corrente lunar é empregada.


13° kala
18° kala
VIII°
Sacerdotisa peloSacerdote
Via língua para indução de Transe, Visão.
VIII°(2)
Sacerdotisa peloSacerdote
Via mãos para indução de Êxtase, Oráculos.
VIII°
Sacerdote pelaSacerdotisa
Via boca nutrição mágica e revigoramento sexual.
16° kala
VIII°(2)
Sacerdote pelaSacerdotisa
Via mãos para energização do corpo, glamour mágico-sexual e atração.
14° kala

VIII°(+)

Sacerdote (solitário)
(Besta Terrestre): com a utilização de máscaras animalescas para operações de licantropia e a reencarnação de atavismos.

27º kala

VIII°(-)

Sacerdotisa (solitária)
(Feitiçaria Oceânica): com máscaras animalescas para operações de feitiçaria e o lançamento de ilusões.

29° kala



IX°
IX°(+)
Sacerdote eSacerdotisa
(Supernal de dia): congresso natural para Operações de Criação, Intuição e Inspiração.
19° kala

IX°(-)

Sacerdote eSacerdotisa
(Infernal à noite): congresso não-natural para Operações de Zumbeísmo, Postura da Morte e Controle Onírico.

24° kala
XI°
XI°
Sacerdote eSacerdotisa
Durante o eclipse da lua para Operações de materialização e reificação.
26° kala

Pela utilização desta ciência mágico-sexual, o Draconiano é capaz de dominar a prática da ‘Astrologia Draco-Estelar’ canalizando do Vazio, as emanações trasplutonianasvia Túneis de Seth.

O trabalho espiritual com o 15° kala é iluminado pelos kalas da Estrela, conhecida no Livro de Thoth como a ‘Filha do Firmamento que habita entre as águas’. Ela é o aspecto-Mãe do 13° kala (a Virgem) e do 14° kala (a Prostituta). Sua letra sendo h, o Pentagrama é seu selo. As duas águas que representam o 15 ° kala – são respectivamente o sangue da virgem filha e o leite da mãe anciã.

A citação logo acima neste documento, retirada de Liber 231, faz referência à criança Horus manifesta como Ra-Hoor-Khuit como Filho da Mãe. Horus e Seth jamais se manifestam separados, pois um é a sombra-aspecto do outro. Portanto, um animal consagrado a este kala é o pavão, adorado pelos Yezidis do deserto como um totem deShaitan.

O lócus de adoração Yezidi é Yesod, a Fundação. Este é um dos aspectos de Seth pois ele é a base ou trono de Isis. Seth, i.e. Hoor-paar-Kraat, como ‘Fundação’ é oSilêncio ou a base que formula a manifestação de Ra-Hoor-Khuit.

Chokmah, a Esfera das Estrelas, manifesta seus kalas ao longo do 15° Túnel para dentro da Esfera do Filho-Sol, Ra-Hoor-Khuit, Tiphereth. Entretanto, a energia estelar que encarna sua luz através deste Túnel é simbolizada pela Estrela-Cão, Sothis, e a natureza da Criança nasce na Célula de Hemethterith no sentido satânico procriado pelo método mágico que envolve a utilização do ‘Olho de Seth’, i.e. o XI° O.T.O.

A O.T.O. comporta os mistérios microcosmicos da natureza. Todo membro que trabalha nesta ‘Ordem Tântrica Ocidental’ tem por natureza de metodologia mágica, interpretar todo o simbolismo dentro de si mesmo, levando-o para seu Templo (corpo) e utilizando-o para formular sua Criança.

Horus representa o Principio Imortal do homem, simbolizado pelo Sol no macrocosmo e pelo Falo no microcosmo. Contudo, este simbolismo é imperfeito, pois nem o sol e nem o falo em si mesmos têm poder além daquele que flui através deles a partir de outra fonte. No caso do sol este poder é refratado através de Sirius, a Estrela de Seth. No caso do falo, é este mesmo fogo, mas adaptado a um propósito diferente. Ambos são aspectos criativos do único fogo, mas suas funções são diferentes em escopo e magnitude. O sol encharca a terra com seus raios criativos; o falo encharca o ventre com sua semente. A energia que flui através do sol e através do falo é conhecida pelo nome de Horus. Ela possui dois aspectos. O aspecto lunar conhecido como Hoor-paar-Kraat, significa o recolhimento em silêncio da Energia para a quiescência anterior a sua projeção pela fórmula de Ra-Hoor-Khuit. A fórmula de Hoor-paar-Kraat implica que o magista silenciosamente concentre suas forças mentais em direção a um ponto. Ele vibra os Nomes Divinos; isso cria um stress na luz astral. Ele então prossegue para a fórmula de Ra-Hoor-Khuit. A corrente transbordante de energia ilumina a imagem e a arremessa para dentro da luz astral cravando-a nos campos mórficos. O método de vibrar a imagem e mergulhá-la nas profundezas do estrato inconsciente é pelo sistema de símbolos descritos no meu artigo O Sabbath das Bruxas & a Reencarnação de Obsessões Primevas.

A fórmula de Horus é dupla: Harpocrates representa o silêncio como conseqüência da impregnação; e é o silêncio gestatório da escuridão e o crescimento da umidade a partir de onde a semente se move no ventre e junta seus elementos apropriados ao redor de si mesma antes de encarnar no astral e posteriormente no universo físico. Nesta interpretação, a fórmula de Ra-Hoor-Khuit precede a de Harpocrates. Ra-Hoor-Khuit é o Senhor do Aeon de Horus, o “deus de Guerra e de Vingança” que vinga a morte de seu pai, o abuso de sua mãe. O Sinal de Horus é o sinal da penetração no Véu de Isis. A fórmula de Harpocrates está implícita neste gesto. É de importância vital que o nome mágico seja corretamente vibrado na luz astral; uma imagem mal formada resultará em aborto. A fórmula de Horus é então a fórmula deste Aeon, e é a partir dela que o magista entra no Soberano Santuário de Nu-Isis.

A Isis terrestre (a Mulher Escarlate) tem seu foco de irradiação e influência através da Lua. No macrocosmo a Lua ilumina a terra à noite; no microcosmo ela ilumina a fase negra, à noite Draconiana do ciclo feminino. Esta Corrente é hostil ao não iniciado, mas o Adepto está consciente de um perfume sutil nela, uma vibração que compartilha da Isis Celestial, Nu-Isis, Ela que tem seu foco de radiação – macrocosmicamente falando – em um planeta transplutoniano que carrega seu nome. No microcosmo sua influência age através de uma certa emanação ódica ou perfume que os Adeptos orientais já há muito conheciam como o 15º kala.

A Isis Celestial é Nuit, Nossa Senhora das Estrelas. Sua contra parte terrestre é Luna, também uma senhora das estrelas, mas de uma maneira diferente, pois ao passo que os raios da Lua são vermelhos como o sangue de Tifon e Seth, as estrelas de Nuit são vermelhas com as vibrações marciais que ardem com o perfume sutil no núcleo de Netuno.

Horus é a criança natural de Nuit; Seth é a criança negra das correntes lunares, assim como Cain era filho de Adão através de Lilith e Abel (Baal) filho de Adão através de Eva.

Assim, Marte tem uma importância influência ao longo do 15° Túnel pois ele é o aspecto-Força da Deusa, assim como Luna é o aspecto refletivo do glamour criativo: um engendra seres de força e fogo; o outro, fantasmas de encantamento e corrupção, sem alma e negros.

O pavão na Índia é consagrado a Kartikeya, a divindade marcial do panteão Draco-Hindu.

Este Túnel ainda comporta uma importante peculiaridade. No sistema mágico-sexual Afro-Draconiano, a deusa Odudua[2] aparece neste Túnel na forma da Grande Mãe, daí a conexão com – e as duas águas. A deusa Iyemoja[3] (grafia original Afro-Draconiana) também aparece neste Túnel. Seu nome significa ‘Mãe dos Peixes’. Ela fora estuprada por seu filho, Orungan,[4] e dividida em dois extremos: –.

No sistema mágico-sexual Afro-Draconiano, as seguintes divindades são atribuídas na Árvore da Vida como se segue, seguindo sempre a grafia Draconiana original:

Sephiroth e Caminhos
Qliphoth e Túneis
Divindades Afro-Draconianas
1
Kether
Thaumiel
Obatalá.

2

Chokmah

Ghagiel
Obatalá; Orixá nla; Ala-morere;Orixá kpokpo; Alabalache;Orixá oginia; Anansi.
3
Binah
Satariel
Odudua; Iya Agba; Ile.
4
Chesed
Gha’agsheblah
Xangô; Jakuta.
5
Geburah
Golachab
Ùgùn (Ogoun Badagris).
6
Tiphereth
Thagirion
Xangô.
7
Netzach
A’arab Zaraq
Ifá; Odudua; Bango.
8
Hod
Samael
Aje Chaluga.
9
Yesod
Gamaliel
Iyemoja.
10
Malkuth
Lilith
Dada; Ilé; Orixá Oko.
11
Liga 1 a 2

Amprodias

Aféfé; Oye; Orungan.
12
Liga 1 a 3
Baratchial
Osanyin; Aroni.

13

Liga 1 a 6

 

Gargophias

Oshu. Buho (mensageiro deAje, a Feiticeira); Oxóssi;Iyemoja; Aidowedo; Togo;Nansi.
14
Liga 2 a 3
Dagdagiel
Odudua; Ilé; Champanâ.
15
Liga 2 a 6
Hemethterith
Ùgùn; Xangô (aspecto marcial).
16
Liga 2 a 2
Uriens
Ifé; Ilé.
17
Liga 3 a 6
Zamradiel
Ibeji; Oro.
18
Liga 3 a 5
Characith
Abiku; Elere; Ojehun; Opin Ijehun; Ebi.
19
Liga 4 a 5
Temphioth
Dangbe; Aidowedo;Manamana; Selwanga.
20
Liga 4 a 6
Yamatu
Ilé Orishi Oko; Chougoudou.
21
Liga 4 a 7
Kurgasiax
Xangô.
22
Liga 5 a 6
Lafcursiax
Egungun.
23
Liga 5 a 8
Malkunofat
Olokun; Olosa, Oya; Oba.
24
Liga 6 a 7
Niantiel
Aidowedo; Ere; Dange.
25
Liga 6 a 9
Saksaksalim
Aidowedo; Ocu-maré.
26
Liga 6 a 8
A’ano’nin
Elegbá; Exu; Ongogo Ogo;Elegbara; Odun.
27
Liga 7 a 8
Parfaxitas
Ùgùn; Ogoun Badagris.
28
Liga 7 a 9
Tzuflifu
Odudua; Odo Iyemoja; Iyewa.
29
Liga 7 a 10
Qulielfi
Iyemoja; Ifé; Adie-Irana.
30
Liga 8 a 9
Raflifu
Orun; Eledá; Andanlosan;Ajahuto.
31
Liga 8 a 10
Shalicu
Manamana; Orun-apadi;Egungun.
32
Liga 9 a 10
Thantifaxath
Zangbeto; Ogboni; Egungun;Buje; Orun-rere; Odun.


Sendo Ùgùn a deidade deste Túnel no sistema Afro-Draconiano, sua natureza é marcial.

Este kala de Marte, presidido por Áries, pertence ao aspecto ferro de Xangô e aÙgùn com sua manamana ou ‘Cadeias de Fogo’. Este kala é de suma importância uma vez que precede o 16° kala. Aqui o simbolismo marcial com sua violência, seu calor e energia assinalam o poder feminino ao extremo e isso é comprovado pelo kala que o precede e o kala a sua frente, i.e. o 14º kala de Odudua e o 16° kala de Ifé. O simbolismo é facilmente compreendido quando visto que a deusa Erzulie é o aspecto amável deOdudua, mas converte-se em violência via a corrente marcial do 15° kala tipificada pela demoníaca Erzulie bom rouge, cujos ritos se caracterizam pela utilização do sangue e a sexualidade desmedida. Os dois aspectos são similares a Bâst, a Gata do Norte eSekhet, a Gata ou Leoa do Sul. Na Índia, o simbolismo é de Bhavani e Kali.

O trabalho com este Túnel fora realizado no Nu-Isis Templum O.T.O. sob a fórmula de um Rito Afro-Draconiano. Sua fórmula é a da Magia Kahuna, onde primeiro ocorre à identificação com o corpo astral como trampolim para chegada em outros níveis de consciência. Neste Ritual, essa identificação ocorre com Exu, que nesta fórmula de trabalho é atribuído a Yesod como as forças e poderes do corpo astral em completa harmonia com as forças Yetzáricas da Árvore da Vida.

Exu é o manipulador da matéria astral. Como um Orixá Telúrico, é responsável pelos entrecruzamentos vibracionais e manifestador da Luz e Esplendor dos Orixás. É ele quem transmite a Força-Vontade dos Orixás através do esplendor latente nele que é a Luz propriamente dita.

Todos os deuses possuem uma contra-parte astral. Na Doutrina Afro-Draconiana,Exu é a contra parte astral dos Orixás. Cada um dos Orixás possuem, dentro de suas respectivas vibrações, uma Legião de Exus que manifestam no astral o Esplendor e a Força do Orixá.

Como era o objetivo da operação o trabalho com o 15° kala alinhado a Corrente Afro-Draconiana, o Orixá de trabalho, nesta ocasião, fora Ùgùm. O Orixá Menor de trabalho fora o Caboclo Ùgùm Delê, cujo Exu Guardião ou a ligação com os Orixás é oSr. Exu Tranca-Ruas.

Após a identificação do Sacerdote com seu Exu Obarah ou Exu Pessoal, o Sr. Exu Sete Lanças, ouve a identificação do Sacerdote com o Pai Ubiratan das Sete Covas, que na linhagem Afro-Draconiana aqui esboçada, é a representação da sabedoria de seuDaemone pessoal.

Somente depois destes procedimentos e inter-procedimentos (banimento,circumbulação, consagração, invocações, assunções e etc.) é que houve a entrada emDaäth. A corrente lunar já havia sido previamente invocada por Sóror Tanith (que não se encontrava nesta operação) imbuindo o sigilo de trabalho daquela noite com os kalaslunares.

Frater Aussik adentrou aos Túneis de Seth por Daäth utilizando o yantra recebido por Frater SMH ADM Aiwass, 45 U, Preceptor da O.T.O. no Rio de Janeiro.[5]

Este yantra tem a peculiaridade de puxar o magista, através de seu vórtice, que ocorre quando dharana é obtida, para dentro do Túnel que deseja trabalhar.

Pelo método do VIII° O.T.O., 718 transformou-se e em uma hiena para adentrar a este Túnel. Entretanto, o vácuo criado pelo yantra o arremessou para dentro dos mares de Hemethterith. Ele ficara assustado, entretanto, as criaturas hostis daquele universo não o atacavam. Ele olhara para cima e via Nuit derramar seus kalas sobre ele. Neste momento, sua armadura negra brilhava como uma estrela incandescente.

Ele no silêncio da semente tipificada por Hoor-paar-Kraat que prenuncia a manifestação de Ra-Hoor-Khuit, consagrou com sua vontade o sigilo previamente preparado. Quando assim o fez, encarnou uma obsessão atávica similar a dos últimos trabalhos.

Esta operação teve como finalidade dar reforço aos últimos trabalhos feitos pelo Sacerdote e a Sacerdotisa.

[1] Para uma explanação sobre o X° O.T.O. veja a instrução ‘Reis da Terra’ e a ‘Lança de Seth’, vol. II, no. 5.
[2] Orixá Yorubano, ora masculino, irmão de Obatalá (nome Africano de Orixalá); ora feminino, é esposa deste, simbolizando a ‘Mãe Terra’, sendo Obatalá o céu. Sendo o nome de origem Odùdúwà, i.e. Odù = ‘cabeça para abô’;dú = ‘jorrou’; wà = ‘existência’. Literalmente, ‘cabeça de onde jorra a vida’.
[3] Orixá de rios e correntes e especialmente do rio Ogun (Ùgùn). Filha de Obatalá e Odudua. Em algumas mitologias Afro-Draconianas ela é considerada Mãe de todos os Orixás, representando assim a gestação e a procriação.
[4] O Elemento Ar, Espírito Santo. Senhor do Ifá.
[5] Veja doc. 015 da O.T.O. para a visualização deste yantra.