quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Exu (orixá)

 

Exu (em iorubá: Èṣù) é o Orixá da comunicação e da linguagem: assim, atua como mensageiro entre os seres humanos e as divindades, dentre outras muitas atribuições. É cultuado no continente africano pelo povo iorubá, bem como em cultos afro-descendentes, como no candomblé baiano, no tambor de mina maranhense, dentre outros. Apesar do nome idêntico, não deve ser confundido com os exus da Umbanda (também chamados "exus catiços"), que possuem cosmologia diferente.

Orixá Exu recebe diversos nomes de acordo com a função que exerce ou com suas qualidades: Elebá, Legba ou Ẹlẹ́gbára, - pelo sincretismo com este vodum dos fons -, mais Exu Bará ou Ibará, Alaqueto, Abô, Odará, Aquessã, Lalu, Ijelu (aquele que rege o nascimento e o crescimento de tudo o que existe), Ibarabô, Iangi, Baraqueto (guardião das porteiras), Lonã (guardião dos caminhos), Iná (reverenciado na cerimônia do padê).

Brasil
No Brasil, Exu é percebido como um orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira coerente. No candomblé, Exu é o orixá mensageiro, um ser intermediário entre seres humanos e divindades: por essa razão, nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas antes de qualquer outro orixá.

No Brasil, Exu é muito conhecido como o "orixá do lado de fora", como guardião da parte exterior dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Também está intimamente ligado aos caminhos e, especialmente, às encruzilhadas.

Exu também está ligado à sexualidade e fertilidade masculinas. O caráter sexual de Exu é menos pronunciado do que o de Lebá (vodum daomeano com características e atribuições semelhantes), mas suas estatuetas mais antigas apresentam caráter fálico muito acentuado.

Na nação angola, Exu recebe o nome de Aluvaiá ou Pambu Njila. No candomblé jeje é chamado Lebá.

Arquétipo
A ambivalência é a marca registrada da personalidade de Exu no Brasil. É visto como o mais humano dos orixás: nem completamente mau, nem completamente bom. Possui caráter irascível, astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente e que gosta de suscitar dissensões e disputas quando não devidamente propiciado.

Os filhos de Exu são pessoas que possuem personalidade e caráter ambíguos, não obedecendo aos conceitos que a sociedade aceita como normais. São vistos como matreiros, brincalhões, moleques, animados, espertos e de pensamento ágil. Às vezes tornam-se insolentes e desrespeitosos, porque não ligam para as convenções sociais.

Generalidades
O culto de Exu no Brasil apresenta as seguintes características gerais:

Dia da semana: segunda-feira.
Elementos: fogo ou terra;
Símbolo: ogó (bastão de madeira em formato fálico),
Cores: vermelho e preto;
Bichos: cabritos, galos, preás, igbin;
Saudação: Laroiê!

África
Na África, como no Brasil, Exu exerce as funções de mensageiro e intermediário entre os seres humanos e as divindades; associado, assim, com as encruzilhadas. Também entende-se Exu como o orixá da ordem, do equilíbrio, da organização e da disciplina, possuindo forte relação com orixá Orunmilá. Teria ainda recebido de Olodumarê a função de guardião do axé.

No continente africano, Exu não é compreendido nem cultuado como um orixá maligno, e sim "neutro como o próprio axé".

Outros países
Cuba
Em Cuba, é chamado de Elebará, Eleguá. É uma das deidades da religião ioruba. Na santería, é sincretizado com o Santo Niño de Atocha ou com Santo Antônio de Pádua. É o porteiro de todos os caminhos, da montanha e da savana, é o primeiro dos quatro guerreiros junto a Ogum, Oxum e Oxóssi.

Tem 201 caminhos, suas cores são o vermelho e o preto e seus números são 3 e 7. É o comunicador e Ifá lhe deu quatro búzios para falar com ele. Ele está presente no início da vida e também na hora da morte.

Haiti
No vodu haitiano, é chamado de Papa Lebá e Petro, Maitre Carrefour ("dono da encruzilhada"). É o intermediário entre os loás e a humanidade. Está em uma encruzilhada espiritual e dá (ou nega) permissão para falar com os espíritos de Guinee, e acredita-se que fale todos os idiomas humanos. Ele é sempre o primeiro e o último espírito invocado em qualquer cerimônia.

Na República Dominicana, é cultuado como vodum Lebá, e, em Trindade e Tobago, como Exu.

Epítetos
Exu recebe diversos nomes, de acordo com a função que exerce ou com suas qualidades: Elebá ou Elebará, Bará ou Ibará, Alaqueto, Abô, Odará, Aquessã, Lalu, Ijelu (aquele que rege o nascimento e o crescimento de tudo o que existe), Ibarabô, Iangi, Baraqueto (guardião das porteiras), Lonã (guardião dos caminhos), Iná (reverenciado na cerimônia do padê).

Olojá, o senhor do mercado
Nas comunidades tradicionais de matrizes africanas é possível ouvir, com muita regularidade, que “tudo no candomblé, como no mundo, é uma troca, circulação”. A figura do mercado, ao menos para as culturas iorubás, tem um lugar bem interessante para pensar essa questão. É no mercado, o Ọjà ou, possivelmente denominado, mercado-ojá, onde circulamos o que temos/produzimos, para receber outras coisas em troca, já que o trabalho para produzir qualquer coisa, não pode ser restituído, mas compensado com aquilo que eu não tenho, onde o que produzi adquire valor para troca.

Olojá, título dado em muitos candomblés ao Exu senhor do mercado, é a divindade responsável pela circulação desses elementos, que além de compensar um trabalho pelo outro, pode também fazer com que esse movimento de compensação crie laços de sociabilidade. E é aí que o mercado iorubá se distingue do mercado capitalista: enquanto este é um lugar de acumulação que, muitas vezes, passa pela expropriação e exploração, os primeiros são responsáveis por criar laços de responsabilidade pelo trabalho das outras pessoas que produziram, produzem e produzirão aquilo do que eu preciso, mas não sou capaz de produzir em determinado momento.

Demonização de Exu
Desde a época das primeiras traduções inglesas de palavras iorubá em meados do século XIX, Èṣù foi traduzido como "diabo" ou "satã". O primeiro exemplo conhecido disso veio do "Vocabulary of the Yoruba" de Samuel Ajayi Crowther (1842), onde suas entradas para "Satanás" e "Diabo" tinham Exu em inglês. Dicionários subsequentes ao longo dos anos seguiram o exemplo, permeando a cultura popular e as sociedades iorubá também. Ultimamente, muitas campanhas online foram criadas para protestar contra isso, e muitos ativistas trabalharam para corrigi-lo. Também houve um grande número de trabalhos acadêmicos examinando o erro de tradução. A tradução no Google Tradutor assumiu os mesmos erros de tradução anteriores. Isso levou a uma série de campanhas on-line até 2016, quando o linguista e escritor nigeriano Kola Tubosun, então funcionário do Google, mudou pela primeira vez para conotações menos depreciativas. Quando as alterações foram revertidas, ele as alterou novamente em 2019. A tradução de Èṣù para o inglês agora permanece "Èṣù", enquanto "diabo" e "satan" são traduzidos para "bìlísì" e "sàtánì", respectivamente.
"Sobre Exu, além de suas atribuições mais conhecidas, embrenhamo-nos em uma de suas mais complexas e poderosas qualidades – como O Guardião do Axé – que, recebendo a réplica desta força neutra de Olodumarê (Fálàdé, 1998, p. 494), coloca-a à disposição de todos, seja para os homens ou para os orixás, confirmando que Exu de mal ...., nada tem ..., mas ao contrário, apenas age com justiça. Suas ações para com os seres humanos são altamente benéficas, auxiliadoras e produtivas para aqueles que fazem uso adequado de seu livre-arbítrio e que, com retidão, se portam de maneira condigna para com os princípios e padrões morais e religiosos, seja em relação a si mesmo, seja em relação ao meio ambiente em que vive.
Recordando uma frase citada: "(...) Isto acontece por que algumas pessoas erroneamente possuem a convicção que Eṣu é o opositor Satanás (Fálàdé, 1998, p. 493)" e que, além disso, o que faz com que os sacerdotes sejam bons ou maus não é o simples fato de administrar o Axé, e sim a forma que deliberadamente usam este Axé, podemos dizer que isto é uma questão humana de caráter, e nada tem a ver com o poder divino do Axé. O que podemos dizer de Exu, que recebeu e administra a cópia do próprio Àṣẹ de Olódùmarè? Exu é igualmente neutro como o próprio Axé, por isso é o guardião do Axé.
Como Odará recebe, como Elebará, faz acontecer, e como Ojixé (Òjíṣé). conduz o retorno. Tudo isso é "Exu – Olodumarê assim determinou." (Abimbola, 1975, p. 3) Será que ele é tão terrível e mau quanto querem dele fazer? Como ele pode ser tão temível se é tão neutro como o Axé? Quando narramos o Odù Iwori-Ofun (Bascom, 1969, pp. 310-311), vimos que simplesmente Exu cumpriu seus desígnios de forma imparcial.
As explanações aqui realizada efetivamente enalteceram Exu, porém, cabe tecer algumas considerações sobre a absurda questão, mesmo por sincretismo, de que o Exu seja o diabo das religiões cristãs e/ou o mal absoluto tratado pelas religiões ocidentais, que diferem totalmente dos conceitos da religião dos orixás (orixaísmo) (Barretti Fº, 2010), praticada na chamada Iorubalândia e nas descendentes da diáspora.
Que fique registrado que a religião dos orixás, praticada em qualquer parte do mundo, independentemente do nome regional adotado, respeita, mas não reconhece a Bíblia como uma de suas diretrizes sagradas, tampouco o Alcorão e a Torá. Para os orixaístas, trata-se apenas de livros religiosos, assim como tantos outros.
O orixaísmo oriundo da tradição oral, portanto ágrafa, apesar de já contar com muitos escritos, reconhece apenas a "oralidade" dos Itã-Odu, os Itã-Mimo- Oxá (Ìtán-Mimó Òòṣà; histórias sagradas dos orixás) como o único "livro ou fala sagrada" a serem adotadas e que também reconhece os ditames do corpo "literário" do oráculo de Ifá, os Odu Ifá, cujo governo pertence à divindade Orumilá, portador de imensa sabedoria e conhecido como Ibiqueji Olodumarê (Ibìkejì Olódùmarè; a segunda pessoa de Olodumarê).
Conceitos religiosos europeus e asiáticos não faziam parte das tradições iorubás antes das colonizações, nem das religiões dela descendentes na diáspora, tampouco antes dos senhores de escravos imporem aos africanos o catolicismo, entre outras religiões.
As formas deturpadas, aculturadas e sincréticas que impuseram e continuam a se impor à religião, nos dias de hoje, foram e ainda o são, os maus frutos decorrentes do processo da escravatura nas Américas e das colonizações europeias impostas a povos africanos. (Conferir em: "Os Clérigos Nativos Yorùbá.")
Conceitos cristãos como os de alma, céu, inferno e purgatório encontraram terreno fértil para se propagar nas já contaminadas tradições iorubás e de suas descendentes, seja por missionários, seja por agentes governamentais e seja por autores pertencentes a outras culturas e/ou crenças que registraram as tradições, os costumes e religião dos iorubás, escritos e interpretados pela ótica do colonizador e/ou opressor. E o pior, os registros decorrentes dessas interpretações (que até hoje continuam) criaram "falsas" tradições, que se tornaram "verdades literárias inquestionáveis" e vitimam a religião iorubá até hoje. (Conferir em: Dos Yorùbá ao Candomblé Kétu – Os Autores)
Um fato muito importante e que deveria ser totalmente condenável é que sempre que se estuda ou se faz pesquisa no campo das religiões comparadas, os parâmetros e os referenciais são sempre os do cristianismo, islamismo e outras religiões aplicados à religião tradicional dos iorubás. A recíproca, infelizmente, nunca é verdadeira, pois, se assim o fosse, teríamos inúmeras e novas variáveis a serem avaliadas, para o bem da religião tradicional iorubá e de suas descendentes." (Barretti Fº, 2010, pp. 132-133).

Religiões afro-brasileiras

 

As religiões afro-brasileiras são aquelas originadas na cultura dos diversos povos africanos trazidos como escravos ao Brasil entre os séculos XVI e XIX, tendo um importante papel na preservação das tradições culturais dos diferentes grupos étnicos negros (afro-brasileiros). Atualmente há também um grande número de brancos e outros grupos étnicos que aderem a tais religiões, em especial o candomblé e a umbanda.

Várias religiões afro-brasileiras absorveram, em maior ou menor grau, influências de religiões vindas da Europa, como o catolicismo e o espiritismo, e dos povos ameríndios. Além disso, elas recebem diversas denominações regionais.

História
Em quatro séculos de tráfico negreiro, cerca de 3,5 milhões de africanos aportaram no Brasil na condição de escravos, o equivalente a 37% do total da população do continente americano. Originários de diversas etnias: iorubás, fons, maís, hauçás, eués, axântis, congos, quimbundos, umbundos, macuas, lundas e diversos outros povos, cada qual possuía sua própria religião e cosmogonia.

As religiões afro-brasileiras formaram-se em diferentes regiões e estados do Brasil e em diferentes momentos da história. Por isso, elas adotam não só diferentes formas rituais e diferentes versões mitológicas derivadas de tradições africanas diversificadas, como também adotam nome próprio diferente.

Além disso, as religiões tradicionais africanas, bem como o islamismo, dos chamados malês (como os maís e hauçás), entraram em contato e absorveram maiores ou menores quantidades de elementos de religiões indígenas, do Catolicismo e, mais recentemente, da Doutrina Espírita.

Entretanto, podem ser estabelecidas duas linhas principais de religiões africanas que tiveram maior influência no Brasil:

As religiões dos negros bantos, vindos do sul e oeste da África (Angola, República Democrática do Congo), que originaram diferentes cerimônias celebradas especialmente no Rio de Janeiro (como o candomblé bantu, e a umbanda). São também elementos folclóricos bantos, por exemplo, as festas de bumba-meu-boi, lutas de capoeira, jogos de dança, e o samba;
As religiões dos negros iorubás e jejes, originados da Costa da Mina (em especial a Nigéria), cuja influência é predominante no Nordeste brasileiro, com os candomblés baianos (como o candomblé Queto e o candomblé jeje).
A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente. Quando, nas últimas décadas do século XIX, no período final da escravidão, os povos africanos trazidos em levas para o Brasil foram assentados nas cidades, puderam viver com maior contato uns com os outros, num processo de interação e liberdade de movimentos que antes não conheciam. A fixação urbana dos escravizados forneceu as condições favoráveis à sobrevivência de algumas tradições religiosas africanas, com o aparecimento de grupos de culto organizados.

Estatísticas
Segundo dados do censo oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010, apenas 0,3% da população brasileira se declarou como adepta de religiões de origem africana. A Região Sul é a que apresenta a maior população relativa (0,6%), enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram as menores (0,1%).

O censo revelou ainda uma forte concentração de afro-religiosos em municípios do sul do Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, bem como na zona pantaneira do Mato Grosso do Sul, nas zonas metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Triângulo Mineiro, no Recôncavo Baiano e nas proximidades da cidade de Codó (Maranhão). Nesses locais, o percentual varia de de 0,6% a 5,9% dos habitantes destes municípios, índices muito acima da média nacional.

Os cinco estados com a maior proporção de afro-religiosos são o Rio de Janeiro (1,61% ), Rio Grande do Sul (0,94%), São Paulo (0,42%), Bahia (0,33%) e Mato Grosso do Sul (0,26%).

Características
Crenças
No tocante especificamente ao candomblé, crê-se na sobrevivência da alma após a morte física (os Eguns), e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados (os Orixás, cultuados coletivamente), não materializam; caso não divinizados (os egunguns), materializam em vestes próprias para estarem em contato com os seus descendentes (os vivos), cantando, falando, dando conselhos e auxiliando espiritualmente a sua comunidade. Observa-se que o conceito de "materialização" no Candomblé, é diferente do de "incorporação" na Umbanda ou na Doutrina Espírita.

Em princípio os Orixás só se apresentam nas festas e obrigações para dançar e serem homenageados. Não dão consulta ao público assistente, mas podem eventualmente falar com membros da família ou da casa para deixar algum recado para o filho. O normal é os Orixás se expressarem através do jogo de Ifá (oráculo) e merindilogum.

Dependendo da nação ou linha de candomblé, os candomblés tradicionais não fazem, a princípio, contato com espíritos através da incorporação para consultas, sendo a prática possível, porém não aceita.

Já o candomblé de caboclo tem uma ligação muito forte com caboclos e exus que incorporam para dar consultas, sendo estes caboclos diferentes daqueles cultuados na umbanda.

Existem ainda os candomblés cujos pais de santo eram da umbanda e passaram para o candomblé que cultuam paralelamente os Orixás e os guias de umbanda.

No candomblé, todo e qualquer espírito deve ser afastado principalmente na hora da iniciação, para não correr o risco de um deles incorporar na pessoa e se passar por orixá. O iaô recolhido é monitorado dia e noite, recorrendo-se ao Ifá ou jogo de búzios para detectar a sua presença. A cerimônia só ocorre quando este confirma a ausência de eguns no ambiente de recolhimento.

Afastam-se todo e qualquer espírito (egum), ou almas penadas, forças negativas, influências negativas trazidas por pessoas de fora da comunidade. Acredita-se que pessoas trazem consigo boas e más influências, bons e maus acompanhantes (espíritos). Através do jogo de Ifá, poder se determinar se essas influências são de nascimento Odu, de destino ou adquiridas de alguma forma.

Os espíritos são cultuados, nas casas de candomblé, em uma casa em separado, sendo homenageados diariamente, uma vez que, como Exu, são considerados protetores da comunidade.

Existem orixás que já viveram na terra, como Xangô, Oiá, Ogum, Oxóssi. Viveram e morreram. Os que teriam feito parte da criação do mundo teriam se retirado para o Orum, caso de Obatalá e outros chamados Orixá funfum (branco).

Existem as árvores sagradas, que são as mesmas das religiões tradicionais africanas, onde os orixás são cultuados pela comunidade, como é o caso de Irocô, Apaocá, Acocô, e também os orixás individuais de cada pessoa, que são parte do Orixá em si e a ligação da pessoa iniciada com o orixá divinizado.

Ou seja, numa pessoa que é de Xangô, seu orixá individual seria uma parte daquele Xangô divinizado com todas as suas características ou, como chamam, arquétipo.

Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o orixá pessoal é uma manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado; outros dizem ser uma incorporação, mas isso é rejeitado por muitos membros do candomblé que justificam que o culto aos egunguns não é de incorporação e sim de materialização. Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do candomblé.

Iniciação
Nas religiões afro-brasileiras, vários termos são usados para designar iniciação.

Cada uma das religiões tem seus termos próprios, iniciação, feitura, feitura de santo, raspar santo, são mais usados nos terreiros de candomblé, Candomblé de Caboclo, Cabula, Omolocô, tambor de Mina, Xangô do Nordeste, Xambá, no Batuque usa-se o termo fazer a cabeça ou feitura. No Culto de Ifá e no Culto aos egunguns usam o termo iniciação porém os preceitos são diferentes das outras religiões.

No candomblé o período de iniciação é de, no mínimo, sete anos. Se inserem os rituais de passagem, que indicam os vários procedimentos dentro de um período de reclusão, que geralmente é de 21 dias (podendo chegar a 30 dias dependendo da região), o aprendizado de rezas, cantigas, línguas sagradas, uso das folhas (folhas sagradas), catulagem, raspagem, pintura, imposição do adoxu e apresentação pública. É individual e faz parte dos preceitos de cada pessoa que entra para a religião dos orixás.

No candomblé Jeje, a iniciação ao culto dos voduns é complexa e longa, de, no mínimo, sete anos. O período de reclusão pode chegar a durar um ano, que pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados, dentro do convento ou terreiro humpame, onde os neófitos são submetidos a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.

A princípio, nessas cerimônias, tem de haver o desprendimento total. Na iniciação considera-se que é necessário morrer metaforicamente para renascer com outro nome para uma nova vida. No candomblé Queto, há o Oruncó do Orixá (só dito em público no dia do nome). Já no Candomblé bantu, além do nome do inquice (jamais revelado), há também a dijina pela qual será chamado o iniciado pelo resto da vida.

Quando uma pessoa iniciada morre é feito o desligamento do Egum, Invumbe, na cerimônia fúnebre e no Axexê, conhecido pelos nomes de sirrum e zerim, que varia dependendo do grau iniciático do falecido.

Objetos de culto
São considerados objetos sagrados de culto nas religiões afro-brasileiras os atabaques, assentamentos, roupas, fio de contas e adereços dos Orixás.

Sincretismo
Uma característica muito presente nas religiões afro-brasileiras é o sincretismo religioso. Herkowitz (1958, apud HURBON, 1987) utiliza o conceito de reinterpretação para explicar esse fenômeno, o processo pelo qual antigas significações são atribuídas a novos elementos ou novos valores, o que muda a significação cultural das formas antigas". A reinterpretação se faz em função do quadro cultural preexistente e das novas reorientações que ele se dá em presença de situações novas.

No caso da escravidão africana nas Américas, "as antigas significações" se referem à bagagem cultural do povos africanos traficados, que tiveram de se adaptar às "situações novas", ou seja, a negação de suas culturas em terras americanas e a imposição do catolicismo ou do protestantismo, dependendo da região.

Roger Bastide não nega o conceito de reinterpretação de Herkowitz, mas defende que a reinterpretação também está ligada às estruturas e mobilidades sociais. Defende que o fenômeno da reinterpretação está em parte condicionado pela discriminação entre classes sociais e em parte condicionado pela discriminação racial dentro da Igreja (como ocorreu no Brasil). Distingue ainda a aculturação material (com suporte nos conteúdos culturais em contato, onde está inserido o sincretismo religioso) e a aculturação formal (baseada na mudança de mentalidade).

Essas, entre outras hipóteses, explicam como foi possível no Brasil a existência, por exemplo, do culto a Ogum (orixá guerreiro dos iorubás) "disfarçado" de reverência ao guerreiro católico São Jorge da Capadócia. Ou ainda, a correlação entre os santos gêmeos São Cosme e São Damião e os os ibêjis, orixás gêmeos dos iorubás.

Orixás e santos católicos
O sincretismo dos orixás com os santos católicos pode variar entre Umbanda e Candomblé, bem como de região para região ou de templo para templo.

Orixá

Santo católico [13]

Oxalá

Deus Pai

Jesus Cristo (em especial, Senhor do Bonfim)

Xangô

Moisés

Santo Antônio

São Jerônimo

São João Batista

São José

São Judas Tadeu

São Pedro

Ogum

Santo Antônio

São Jorge

Oxóssi

São Jorge

São Sebastião

Oxum

Nossa Senhora Aparecida

Nossa Senhora das Cabeças

Nossa Senhora da Conceição

Nossa Senhora de Fátima

Nossa Senhora de Lourdes

Nossa Senhora de Nazaré

Iansã

Santa Bárbara

Santa Catarina

Santa Joana D'Arc

Nanã

Sant'Ana

Iemanjá

Nossa Senhora das Candeias

Nossa Senhora da Conceição

Nossa Senhora da Glória

Nossa Senhora dos Navegantes

Obaluaiê/Omulu

São Lázaro

São Roque

Exu

Santo Antônio

São Miguel Arcanjo[14]

Oxumarê

São Bartolomeu

Obá

Santa Joana D'Arc

Ibejis

São Cosme e Damião

São Crispim e Crispiniano

Tempo

São Lourenço

Oçânhim

São Benedito

Euá

Nossa Senhora das Neves

Santa Luzia

Orumilá

Nenhum

 

Principais religiões
As religiões afro-brasileiras possuem diferentes influências e denominações regionais. Dentre as religiões com influência principal das culturas "sudanesas", isto é, dos povos iorubás e jejes, estão:

Babaçuê (PA)
Batuque (RS)
Candomblé jeje (BA)
Candomblé Queto (BA, RJ, SP)
Tambor de Mina (MA, PA)
Xangô (PE)
Entre as religiões com influência dos povos bantos (quimbundos), estão:

Cabula (ES)
Candomblé bantu ou angola (BA, RJ, SP)
Candomblé de caboclo (BA)
Catimbó (PB, PE)
Macumba (RJ, SP)
Pajelança (AM, PA, MA)
Toré (SE)
Umbanda (RJ, SP e todo o Brasil)
Xambá (AL, PB, PE)
Enfim, outras religiões afro-brasileiras:

Culto aos egunguns (BA)
Encantaria
Catimbó-jurema de terreiro
Jarê (Chapada Diamantina)
Jurema sagrada
Quimbanda
Quiumbanda
Omolocô
Terecô

Palo Mayombe


Palo ou Las Reglas de Congo são grupos de denominações estreitamente relacionadas, de origem bantu, desenvolvidas em Cuba por escravos oriundos da África Central. Outros nomes associados aos diversos ramos desta religião incluem: Palo Monte, Palo Mayombe, Brillumba e Kimbisa.


A palavra palo foi aplicada a esse culto devido ao uso de estátuas entalhadas em madeira (ou palo; em português, 'pau') no altar. Outra hipótese, mais próxima da religião, aponta a equivalência entre as palavras "palo" e 'árvore', sendo as árvores os locais onde habitam os espíritos, segundo as religiões africanas.

Os seguidores do Palo são denominados paleros ou Nganguleros. A participação nestes grupos é precedida de uma cerimônia de iniciação, realizada em uma "casa" ou templo.

A estrutura hierárquica segue o modelado de uma família, o que é especialmente significativo, dado que, durante a escravidão africana, as famílias de sangue foram separadas, e as linhagens, quebradas.

No universo Bantu, Deus é conhecido como Zambi. Os espíritos cultuados no Palo são os ampungos. Cada ampungo controla um determinado aspecto ou domínio da vida e da natureza.

O Palo tem suas raízes na bacia do Congo, na África Central, de onde muitos africanos foram levados, como escravos, para Cuba. Assim, grande parte dos cantos litúrgicos Palo Monte e invocações é formulada em uma mistura de espanhol e congo. Outras influências foram introduzidas em razão da presença do culto em outros países da América Latina. Durante meados do século XX, o Palo começou a difundir-se fora das comunidades cubanas, nos Estados Unidos, na Venezuela, Colômbia e Porto Rico. Afro-latinos e anglo-americanos aderiram a essa tradição. A religião permanece completamente cubana quanto ao caráter, no entanto, é assim que é praticado em sua forma tradicional.

O número de seguidores de Palo em Cuba não é conhecido, presume-se que um baixo índice de cubanos, especialmente nas zonas de Havana, Matanzas e nas zonas orientais da ilha, acredita em todos ou na maioria de seus princípios.

Sistema de crenças e rituais
O sistema de crenças em "Palo" reside em dois pilares: A crença nos poderes naturais e a veneração dos espíritos de seus ancestrais. Os objetos naturais e especialmente os bastões, são considerados com poderes frequentemente ligados aos poderes infundidos pelos espíritos. Esses objetos são conhecidos como inganga e são o objeto central dos rituais mágicos e da prática religiosa de Palo. Um certo número de espíritos chamados ampungos habitam dentro de inquice (Medicina sagrada). Os ampungos são bem conhecidos no nome e ritual e são reverenciados como deuses. Eles são as entidades poderosas, mas localizadas abaixo do Deus Zambi, o Alto ou Zambi.

O culto e a prática de Palo estão centrados no altar ou receptáculo conhecido como inganga ou Prenda. É um espaço consagrado, cheio de terra sagrada, gravetos, restos humanos e outros objetos. Cada prenda esta dedicada a um espírito inquice especifico. Este espaço religioso esta também habitado por uma pessoa morta ou o espírito de uma pessoa morta (em raras ocasiões, o ancestral direto do dono do objeto), que serve de guia para todas as atividades religiosas relacionadas ao inganga.

Os métodos de adivinhação usados em Palo são vários. Um chamado Chamalongo utiliza conchas ou discos de vários materiais, frequentemente cascas duras de Coco. Um método mais tradicional, chamado Vititi Mensu para "ver ou adivinhar" é usando o chifre de um animal santificado coberto com um espelho.

Sincretismo
O sincretismo religioso, em particular o uso da cruz cristã e imagens de Santos Católicos como representações de inquice, podem ser vistas em algumas casas Palo chamadas Palo Cristiano, mas em outras casas chamadas Palo Judío (sem qualquer relação com a religião judaica), não há combinação com imagens católicas. O termo "judeu" é antes uma espécie de abreviatura metafórica para se referir àqueles que se recusam a se tornar cristãos, é o caso do Congo puramente africano.

O Reino do Congo tinha se convertido oficialmente ao catolicismo, enquanto era uma nação independente durante os anos 1400 e que o movimento sincrético afro-católico se estendeu durante a era da escravidão. Atingindo maior altura sob a liderança de Kimpa Vita (Um profeta congolês, 1684-1706), que promoveu Santo Antonio de Pádua como "um segundo Deus". Portanto, é evidente que muito do sincretismo dado em Palo Cristiano, em oposição ao Palo Judío, teve suas origens na África e não em Cuba.

A identidade de inquice é nebulosa porque os autores, por outro lado, consideram intrusos da religião ou das casas de Palo Cristiano tentaram associar inquice com os Orixás da Santería, que é uma religião diferente. Assim, a entidade "Nsambi Munalembe" (também conhecida como "Nsasi" senhor dos "7 raios" e outros nomes diferentes) foi equiparada a Santa Barbara (no catolicismo) ou Xangô na Santería.

A causa do sincretismo com o espiritismo de Allan Kardec, em muitas Casas Palo se oficia uma Missa espiritual, em razão de identificar aos espíritos principais que ajudarão a desenvolver uma vida. Esses guias geralmente falam por possessão e podem dar conselhos diretos.

Religiões relacionadas
As religiões do Congo vieram para a América através de diferentes rotas além de Cuba. No Brasil as religiões do Congo são conhecidas como Umbanda, Quimbanda Candomblé do Congo ou do Candomblé de Angola. O mais próximo da tradição de Palo Cubano é a Quimbanda.

Na Jamaica, Bahamas e Ilhas Virgens as religiões baseadas no rito do Congo são chamadas Kumina ou quando são vistas como formas mágicas sem o ritual litúrgico que são chamados Obeah .

Intimamente relacionado a Palo na prática mas, como Obeah que deixa de lado os aspectos teológicos e litúrgicos, é a forma de magia popular conhecida como hoodoo (azar), conjuração ou trabalho com raízes. A notável semelhança entre essas tradições é que o centro dessas crenças está no rito do Congo.

Panteão
O nível mais alto do panteão da religião Palo é ocupado pelo Deus criador, Zambi. Os ampungos (kimpungulu) são espíritos ou divindades encapsulados em navios ou centros (inquices) representando aspectos da natureza, como trovão, agricultura, vento. Outros espíritos habitam nos inquices são os Nfuri (espíritos vagabundos ou fantasmas), Bakalu (espíritos ancestrais) e Nfumbe (espíritos anônimos)

Deuses mais altos
Zambi - Ele não é atualmente considerado um ampungo, mas um deus alto, criador do universo. Equivalente a Olorum da mitologia iorubá .
Lungombe (Lukankanse, Kadiampembe) - Entidade negativa Zambi, em muitos aspectos semelhante ao demônio cristão.
Ampungo
Kobayende (Cobayende, Pata Llaga, Tata Pansua, Tata Nfumbe, Tata Funde, Tata Fumbe, Pungun Futila, Tata Kañeñe) - deus da morte, deus das doenças associadas com São Lázaro, equivalente a Obaluaiê.
Mariguanda - guardião da porta entre a vida e a morte. Associado com Santa Teresa e Oiá/Iansã
Gurunfinda - deus da floresta e ervas. Associado com São Noberto Nonato ou São Silvestre, equivalente a Ossaim.
Nkuyu (Nkuyo, Mañunga, Lubaniba, Lucero) - Divindade de florestas e estradas, orientação e equilíbrio. Associado com San Antonio, equivalente a Exu.
Má Lango (Madre de Agua, Kalunga, Mama Kalunga, Pungo Kasimba, Mama Umba, Mbumba Mamba, Nkita Kiamasa, Nkita Kuna Mamba, Baluande) - deusa da água e fertilidade. Também conhecida como a Virgen de Regla, padroeira do porto de Havana, equivalente a Iemanjá.
Chola Wengue (Mama Chola, Chola nengue) - Deusa da riqueza e prazeres. Associado com La Virgen de la Caridad del Cobre, santa padroeira de Cuba, eq. Oxum.
Kimbabula (Kabanga, Madioma, Mpungo Lomboan Fula, Nsambia Munalembe, Tonde, Daday, Munalendo, Padre Tiempo) - Deus da adivinhação e dos ventos. Associado a San Francisco, eq. Orunmila.
Watariamba (Watariamba, Nkuyo Lufo, Nguatariamba Enfumba Bata, Saca Empeño, Cabo Rondo, Vence Bataya) - dios de la caza y la guerra. Asociado con San Juan Bautista, eq. Oxóssi
Nsasi (Nsambi Munalembe, Siete Rayos, Mukiamamuilo, Nsasi) - deus do trovão e fogo, equivalente a Santa Bárbara, e a Xangô.
Ma Kengue (Yola, Tiembla Tierra, Pandilanga, Mama Kengue) - espírito de sabedoria e justiça. Este mpungo está associado com a Virgen de las Mercedes e Obatalá.
Sarabanda (Zarabanda, Rompe Monte) - divindade do trabalho e força. Associado com San Pedro, equivalente a Ogum.

Religião do Palo

 

O Palo – também chamado de Las Reglas de Congo –  é uma religião que se desenvolveu em Cuba entre os escravos da África Central e seus descendentes da Bacia do Congo, uma das regiões mais extensas do continente africano. Seu nome vem da palavra em espanhol “palo” (pau) em referência ai uso de estátuas de madeira nos altares. Trata-se de uma denomnação completamente diferente das mais conhecidas Santeria e Ifa cubanos. Os seguidores do “Palo” são denominados “paleros” ou Nganguleros”.

As Regras do Congo são o resultado da transculturação dos credos bantús, e reunião de distintos grupos étnicos com diferentes níveis culturais. Pelo ano 1700 saíram de África grupos de tribos Nganga e chegaram a Cuba com o Lucumi, com o Abakua, com o Arara, com o Palo Monte Mayombe, Briyumba ou Brillumba, Malongo, Kimbisa.  Estas regras se misturaram em Cuba tando origem ao Kimbiza que significa Cruzado e dai nasceu o Palo Monte Mayombe Kimbiza. Kimbiza é portanto a forma misturada de praticar a religião. Essa modalidade do culto rapidamente se estendeu e superou todas as outras.

O Palo Cruzado é ainda a modalidade tipicamente cubana por incorporar em sua fundação as práticas de Palo Monte junto com, crenças ameríndias, do espiritualismo, do cristianismo, de Abakua, de Lukumi, Yoruba e outras muitas mais. Tal mistura criou diferentes linhas de prática religiosa que só nos últimos trinta anos tem buscado uma unificação, em especial pelo trabalho da Regra Kimbiza Sagrada Sarabanda.

Hierarquia espiritual no Palo

O Palo entende que existe uma divindade suprema, chamada Nsambi. Força criadora e regente que governa todos os seres do universo.

Nas casas de Palo Cruzado a pratica ocorre ao redor de uma hierarquia de espíritos, chamados Mpungos  ou Nkisi, que são forças, que são equivalentes aos Orishas da Santeria ou ao Loas do Vodou e compartilham muitos dos seus nomes e características.

Abaixo dos Mpungos na hierarquia espiritual temos aios

• Eggun – Espíritos ancestrais muito antigos e  de grande poder.

• Mfumbe – falecidos, fantasmas, espíritos dos mortos em geral

• Nkitas – Espíritos elementares das árvores, dos rios, do ar, etc.


Nganga – A Prenda

Muita das práticas de Palo se centra ao redor de canalizar o poder de estes espíritos elementares para os propósitos temporais e espirituais. Isto se consegue com sacrifícios e oferendas, e na prática da magia.

A ferramenta central de adoração de Palo é A Prenda, ou Nganga. A Prenda é um caldeirão consagrado do ferro, que contem o Guia do iniciado. A Prenda se enche de uma variedade de coisas que facilitam a comunicação com os espíritos: ossos, terra para os espíritos dos mortos; as árvores e as ervas sagradas, etc. coisas que alguns assumiram que são elementos da “obscuridade” ou do mal, são de facto elementos de práticas xamânicas muito antigas.

Os espíritos de Palo se comunicam com a prática do espiritismo, ou a mediunidade e com a adivinhação.  No c hamalongos usa-se conchas de diversos materiais, muitas vezes cascas de coco e no Vititi Mensu se usa a trompa animais consagrados. Todos estes métodos são aprendidos pelos iniciados.

Santeria


A Santería tem as suas raízes na religião iorubá, o cristianismo e as religiões dos povos indígenas das Américas. O povo iorubá escravizado contribuiu vários costumes religiosos, incluindo um sistema de transe e adivinhação para se comunicar com seus ancestrais e divindades, sacrifícios de animais, e tambores e danças sagrados. A necessidade de preservar as suas tradições num ambiente cultural, levou os escravizados em Cuba a fundirem os seus costumes com aspectos do catolicismo, especialmente a partir do ano de 1515. A população santérica pratica a adoração de entidades através da oralidade.


A Santería tem uma visão de mundo homogênea, discreta, completamente explícita e centrada em um "apunhado" de deidades iorubás e informada por um conjunto fixo de textos orais conhecidos como patakines que transmitem histórias parecidas com as parábolas da bíblia e outros personagens fixos. Sua lista de rituais, canções, orações e saberes herbais são frequentemente apresentados em termos prescritivos e livros como manuais de instruções. Essa maneira de definir a Santería, que certamente é verdadeira para muitos santeros, claramente se refere à metaculturalidade. Não há indícios de debate sobre rótulos como “religião”, nenhum indício de sobreposição com outras religiões cubanas, e nenhum indício de desacordos ou lutas sobre o significado e a filiação dentro das fileiras de praticantes. Para entender completamente tais retratos da Santeria seria necessário traçar suas origens em gêneros, tais como manuais religiosos escritos por praticantes, estudos folclóricos cubanos e relatos antropológicos estruturalistas de religiões não ocidentais, e pensar sobre como os autores e consumidores de religiões não ocidentais pensam. (WIRTZ, 2007, p. 25).

Tendo como forma principal de transferência de conhecimento a oralidade, pode ser destacado os meios de aprendizagem santerica, como constituido por ideias e historias ao logo de gerações.

Transferência de costumes
Os Santeros falam sobre a sua história e a importância do passado no presente mais frequentemente através do idioma do parentesco ritual. Relacionamentos de padrodelação ligam os iniciados de Santería a linhagens rituais que remontam a várias gerações e unem praticantes vivos a “casas de rituais”. As requisitadas invocações rituais que abrem todo tipo de atividade ritual, conhecida como moyubá, exigem que os santeros recitem os nomes dos rituais. aqueles que eles consideram fazer parte de sua linhagem ritual. Outras seções da lista de invocação falecidas e vínculos vivos na linhagem ritual do santero, cuja cooperação é necessária para que ocorra uma comunicação adequada com os orichas. (WIRTZ, 2007, p. 53).

Muitos ativistas de direitos dos animais atacam a prática da Santeria de sacrifício animal, declarando que é cruel. Os seguidores de Santeria alegam que as matanças são conduzidas da mesma maneira que animais são abatidos para consumo e isto não é necessariamente sádico.

Em 1993, a Corte Suprema dos Estados Unidos estabeleceu que leis de crueldade contra animais dirigidas especificamente contra a Santeria eram inconstitucionais e a prática não viu nenhum desafio legal significativo desde então.

Costumes
A distinção dos adeptos pode ser reparada através de vestimentas e formas de convívio em sociedade, sendo muito bem representada na cidade de Havana, Cuba.

Os santeros não se preocupam apenas com a linhagem ritual durante as cerimônias. Eles também se referem frequentemente a laços de parentesco ritual ou diferenças entre linhagens rituais na conversa cotidiana. Os santeros às vezes reconheciam tacitamente as responsabilidades do parentesco ritual quando pediam favores, exigiam respeito ou atenção, pediam ajuda ou conselhos para uma cerimônia ou decidiam ensinar algo a alguém. Frequentemente os ouvi mencionar explicitamente tais ligações, como quando um padrinho lembrava a sua afilhada que o respeitasse como padrinho ou quando um santero disse a um santerista sênior que ele a chamou em sua invocação porque ela estava presente para a iniciação dele. (WIRTZ, 2007, p.53).

Práticas
A forma de prática religiosa apresentada na santeria pode ser encontrada em livros e principalmente através da oralidade, encontrada por sua vez em casas de encontros.

A santería não usa um credo central para suas práticas religiosas; embora seja entendido em termos de seus rituais e cerimônias.  Esses rituais e cerimônias acontecem no que é conhecido como uma casa-templo ou casa de santos (casa dos santos), também conhecida como ilé. A maioria dos ilé está nas casas dos sacerdotes e sacerdotisas iniciados. Os santuários Ilé são construídos, pelos sacerdotes e sacerdotisas, para os orichás diferentes, o que cria um espaço para o culto, chamado de igbodu (altar). Em um igbodu há uma exibição de três tronos distintos (cobertos com cetim azul royal, branco e vermelho) que representam os assentos das rainhas, reis e os guerreiros deificados. Obtendo os ilekes, médio assento, os guerreiros, assento, pós-iniciação, clero, são exemplos de rituais que serão melhores exemplificados ao longo do trabalho. (WIRTZ, 2007, p. 85).