sexta-feira, 17 de julho de 2020

A Estrela Sinistra



A palavra “Algol” vem do árabe “Ras Al’Ghul”, significando “Cabeça do Demônio”. É uma estrela presente na constelação de Perseu, nomeada em homenagem ao Herói Grego que derrotou e decapitou a Górgona chamada Medusa, um monstro com cabelos de serpente e olhar petrificante. Tal Monstro encontrou sua condição na inveja que Athena tinha de sua beleza, condenando-a a tornar-se uma besta. No entanto esta estrela não representava um aspecto sinistro apenas nestas duas culturas.

Por todo o mundo, esta estrela de brilho forte, mas inconstante foi sinal de mau agouro ou desgraças. Na astrologia Chinesa, o Algol é chamado de Tsi-Chi, e é relacionado a “Pilha de Cadáveres”, considerada a estrela culpada pelas cheias de Agosto, que destruía as colheitas e matava os despreparados.

Para o povo hebreu, a estrela que portava os prelúdios de desgraça se chamava “Rosh Ha Shathan”, “A cabeça do adversário”, se referindo ao próprio inimigo de YHWH. A partir destas denominações e estudos sobre esta estrela, ela passou a ser um dos símbolos mais poderosos do adversário e da magicka de iluminação sinistra, cujo sigilo (um deles, desenvolvido por Michael Ford e utilizado na TOPH) é demonstrado acima.

Algol (ou Beta Persei) pode ser visto ao Norte do Céu, na constelação de Perseu, ocupando o local que seria o “terceiro olho” da Medusa, cuja cabeça o herói segura pelos cabelos de serpentes. O Norte é a direção associada a entidades Luciferianas como Angra Mayniu (Ahriman) e sua corte de Devas, Az-Jeh e a própria Lilith como noiva de Samael-Lúcifer. A estrela e o sigilo adotados correspondem assim a uma forma de ascensão através do Caos, e a iluminação através da escuridão, onde o brilho das estrelas é mais forte.

O sigilo é constituído dos oito raios, representando oito emanações “Demoníacas” (no sentido grego da palavra – as emanações “angélicas” e “satânicas” destes raios) e manifestações Caóticas dentro do causal, com um pentagrama invertido dentro, representando os cinco elementos e o domínio sobre eles. Esta estrela pode reger o alcoolismo (Alcohol – Algol podem ter derivado da mesma raíz), o autoritarismo, a violência, decapitação/enforcamento e a perda da razão. Mas se bem controlado como Nexion natural de energia e aproveitado da forma correta, pode tornar o adepto o Herói que porta a cabeça da medusa (outra representação da estrela), fazendo-o um bom líder, intenso em suas ações, mas comedido e um grande destruidor de inimigos.

A estrela também influi na Astrologia, movendo-se um grau a cada 72 anos (Número interessante, não?) e é relacionada a Kliphot de A’arab Zaraq, os corvos da Dispersão. Dentro da filosofia Yatukih, o Algol é utilizado como a auto maestria do “Yatuh” (feiticeiro) diante dos Daevas e de Ahriman, controlando o Caos interno para poder direcionar o Caos externo a seus fins.

Além de tudo, a constelação de Perseu possui um evento muito interessante, que pode ser visto nos meses de julho-agosto, a passagem das Perseidas. Uma chuva fina de estrelas, um evento belo e poderoso, útil a todos aqueles que trabalham sob os auspícios deste misterioso astro e usufruem de seu Nexus de energia.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Quintessência do Satanismo


Satanismo não é meramente assistir ou conduzir cerimônias ou rituais de qualquer tipo de ‘‘magia negra’’. Satanismo não significa ou implica filiação á um grupo declaradamente satânico. Nem é Satanismo meramente o gozo de deleites materiais. Assim, Satanismo –quintessencialmente- é uma atitude e um modo de vida.
    Essa atitude expressa força de caráter -uma crença em si mesmo e em seu próprio destino. Parte disso é orgulho, e parte disso é desafio:  a individualidade, a aversão á limites. No entanto, talvez a parte mais importante seja o auto-conhecimento ou auto-domínio nascidos quando alguém atinge o seu  limite  físico, mental e moral e vai além dos mesmos. O modo de vida cria essa força de caráter e a mantém, e permite ainda que se vá além. Satanistas usam a vida para exprimir por meio da vivência um novo meio, ou meios de ser, para cumprir seu potencial e para viver no, e além do limite da existência assim levando a evolução adiante.
   O modo de vida é essencialmente prático – isto é, a trilhagem do caminho para o adeptado e além, por isso envolve experiências, ordálios, desafios, o aprendizado de novas habilidades e o desenvolvimento do gênio latente.
   A iniciação  satânica portanto significa  muito mais que um rito de auto-iniciação ou um ritual cerimonial conduzido por um grupo ou ordem já estabelecido(a). Ela significa um desejo por seguir o caminho satânico  – e o real início da trilhagem desse caminho pela realização dos atos, tarefas, rituais e ordálios de um noviço satânico. Qualquer coisa menos que isso é simplesmente brincar de satanismo – um indício de que o ‘‘iniciado’’ carece de um caráter satânico ou a habilidade para alcançá-lo. 
    No Satanismo tradicional, como  exemplificado pela ONA, isso significa:


a)    Que o noviço empreende diversos desafios físicos de resistência e os supera. Esses devem ser difíceis e necessitarem de algum treino. Então o noviço:

b)    Testa o destino e constrói o caráter pelo empreendimento de desafios no mundo real, tais desafios, conforme aceitos para a prática satânica, estão desafiando as limitações do rebanho. Aqui, a orientação de um satanista experiente se mostra útil.

c)    O noviço inicia os trabalhos mágicos herméticos com o intento de (I) adquirir experiência e maestria de tal magia; (II) ganhando nessas práticas iniciais um certo auto-conhecimento.

d)    O noviço estuda a tradição (como explicado por exemplo no canto esotérico, o jogo estelar e o sistema septenário) e então ganha conhecimento esotérico e compreensão.

e)     Depois de empreender o ordálio que é o ritual de grau de adepto externo e então passa pelos desafios, ordálios e empreende o próximo estágio  – por exemplo, organiza e recruta indivíduos para seu próprio Templo Satânico para realizar e adquirir experiência em magia cerimonial e proporcionar  a eles prazeres enquanto se experimenta a manipulação. 

    Feito isso – que leva algum tempo, provavelmente um ano ou mais – haverão mais experiências aguardando, mais deleites, prazeres e dificuldades, mais desafios a serem superados, mais auto-descoberta a ser alcançada.
    Não há como ser salientado ou repetido suficientemente que Satanismo – do tipo genuíno – envolve assim realizações práticas aliadas ao desejo por vivenciar, por transcender o que se é em determinada época: Para concluir a tarefa que foi colocada inicialmente durante a iniciação. Que é, alcançar o adeptado e além, pela trilhagem do caminho satânico. Isso significa um auto-avanço, uma auto-experimentação, um auto-empenho, e um auto-aprendizado via experiência direta. Qualquer coisa menos que isso não é satanismo e não há palavras habilidosas, ou mistificações pseudo-intelectuais que possam obscurecer essa realidade.
     Assim, por causa da natureza humana, haverão alguns que possuirão o desejo em tornar-se verdadeiros Satanistas – realmente empreender as tarefas, ordálios e desafios. Muitos que professam um interesse – e um grande número que atualmente prossegue com a iniciação, sendo ela cerimonial ou hermética – irão em breve desistir quando se depararem com as reais dificuldades envolvidas, quando entenderem que deles é esperado trabalhar no seu próprio desenvolvimento. Muitos desses também irão encontrar facilmente desculpas para justificar sua desistência. Eles serão facilmente seduzidos, tal é sua fraqueza de caráter, por outros que prometerão ‘‘soluções fáceis’’ algum tipo de caminho ‘‘mágico’’  para  o adeptado, por organizações que retiram a dor, sofrimento e deleite que o auto-esforço ‘‘no limite’’ acarreta e que  fornecem segurança para seus membros, que os mantém escravos da auto-ilusão. Ou muitos serão preguiçosos demais, curtindo muito sua existência confortável para mudar.
    Não importa, estará provado que estes são incompatíveis, inaptos. Não há caminho dentro do satanismo que seja fácil – pois é nasua grande dificuldade e perigo, no próprio fato do auto-esforço ser requerido por um período de anos, que jaz sua quintessência.
    Para os diletantes, para os mercadores de fantasias de interpretações de papéis, para os auto-indulgentes carentes de auto-disciplina, há uma abundância de organizações pseudo-satânicas por aí, uma abundância de “mestres” pseudo-satânicos que requerem sicofantismo (adoração servil), que agem fora da sua função e que estarão muito satisfeitos por acolher outro pupilo ou estudante.
    A escolha é tão simples, e brutal, como tal.

Blasfêmia e a Missa Negra


Em um aspecto importante, o Satanismo pode ser considerado pelos novos Iniciados como um processo de catarse – significa um meio aonde os indivíduos irão se despojar de papéis limitantes frequentemente criadas pelo ethos¹ou ética da sociedade na qual se encontram inseridos.
Portanto, passados mil anos ou mais na Europa Ocidental, um dos Rituais Satânicos mais importantes, e que mais preocupava os noviços e o “público”, era a Missa Negra – simplesmente porque o ethos que governava pertencia à organização religiosa Nazarena. Todavia, a má interpretação do Satanismo genuíno é a razão da catarse, particularmente porque a genuína Missa Negra possui apenas alguma semelhança  com a “missa negra” descrita nos últimos 500 anos por vários escritores e “autoridades”.
Para o aprendiz satânico (os dois primeiros estágios das sete partes do caminho Satânico), o Satanismo representa o aspecto obscuro da psique individual – e assim se identificando, o indivíduo é habilitado pela transformação resultante para iniciar a “Grande Obra” cuja conquista é o objetivo do Adepto. Esta “Grande Obra” é simplesmente a criação de um novo indivíduo – e este novo tipo de indivíduo, em virtude do caminho seguido, frequentemente inspira certo terror nos outros. Claro, o Caminho da Mão Esquerda é difícil, para não dizer perigoso, e o fracasso geralmente ocorre ao longo do caminho, pois a pessoa não compreende como as forças das trevas podem ser abordadas, manipuladas e, o mais importante, integradas para permitir uma identificação além do bem e do mal, como estes termos são entendidos comumente. Isto é, todos aqueles que falham em sua busca ao longo deste caminho (e Gilles de Rais² é um exemplo) o fazem com frequência porque fundamentalmente aceitam a dicotomia “bem” e “mal” e se identificam com o que percebem ou acreditam que são, o “mal” – essa percepção e entendimento quase sempre derivam do que a “oposição” declarou ser “mal”. A realidade é que essa dicotomia não existe no cosmos – na realidade, a convenção do que é o “mal” foi imposta pela projeção dogmática da maioria Nazarena.
Em um sentido fundamental, o Satanismo é um meio pelo qual cada indivíduo pode descobrir (ou melhor “re-descobrir” no sentido de Heidegger³) a realidade por eles mesmos.
Portanto, a catarse Satânica é essencialmente uma blasfêmia – mas de maneira ordenada e com objetivo definido; resulta de uma vontade individual canalizada por uma compreensão consciente. É a aplicação da vontade – da intenção consciente – que destaca o Satanista genuíno da imitação e do fracasso. Um Satanista se diverte na vida – as falhas encontram-se presas por seus próprios desejos inconscientes que não têm a inteligência para entender nem a vontade de direcionar para uma apreensão consciente.
A blasfêmia é efetiva apenas se, ao longo de sua vida, primeiramente, um choque genuíno e uma reação em que valores embora aceitos são muitas vezes inconscientemente aceitos; E, em segundo lugar, se é uma apreciação das qualidades positivas e favoráveis à vida inferidas pela oposição infernal. Assim, enquanto a Missa Negra tradicional – com esta negação do Nazareno – ainda é útil por causa das restrições contínuas das crenças Nazarenas, hoje é complementada por uma Missa em que em sua versão inexplorada, representa um choque blásfemo para a maioria das pessoas na Grã-Bretanha e outros países Ocidentais.
A Missa Negra, e as Missas Satânicas modernas que derivam dela, em suas formas genuínas provocam uma resposta revigorante pelo próprio fato de uma oposição positiva. A oposição negativa – como a chamada missa negra descrita em “La-bas”⁴ – é enervante. A Verdadeira oposição Satânica – codificada em um ritual – produz exatamente o contrário – a vontade por mais vida: e é essa vontade positiva, vital, que será a essência para o arquétipo genuíno da imagem de Satã, o adversário. A oposição Negativa – um murmúrio na morte, decadência, horror e imundície de decadência descontrolada – é sinal de imitação do Satanismo: uma imagem distorcida do cadáver putrefato do Nazareno.
Uma das Missas Satânicas usadas atualmente é baseada na evocação de Adolf Hitler – e não apenas como algo artificial, ainda menos como um “jogo” psicológico. Em vez disso, há uma identificação genuína com os aspectos positivos do nacional-socialismo e que aumentam a vida. [Para a maioria dos leitores, isso será chocante – uma blasfêmia; O que é exatamente o ponto.] Assim como acontece na Missa Negra tradicional, é a ênfase colocada nas qualidades de oposição positivas e vitais que são importantes – porque isso contradiz na sua própria essência tudo o que é assumido sobre o que ou a respeito do que é o propósito da missa. Portanto, nessa Missa Negra em particular, Adolf Hitler não é representado hoje como retratado por seus inimigos – como um tipo de monstro “mal” – mas exatamente o oposto, como um nobre salvador.
O ritual Satânico genuíno, para um novato, não é apenas inversão – é uma completa rejeição de imagens e ética do ethos particular – e o Satanista usa todas as imagens e ética, sua essência invertida, contra seu próprio “condicionamento” inconsciente, e ultimamente contra a sociedade que usa/cria essa ética e imagens. Indivíduos que participam de missas Satânicas genuínas e bem-executadas experimentam às vezes uma espécie de satori – uma iluminação súbita – e são levado portanto a aumentar sua própria compreensão consciente. Eles também conseguem um aumento em sua própria vitalidade porque eles se tornaram livre por quebrar opostos constrangedores.
Em um sentido muito importante, o Satanismo descobre que o ethos de determinada sociedade ou sociedades foi coberto através de imagens, dogmas, éticas, palavras e ideias – e retorna o indivíduo ao caos primitivo em que os opostos foram formados.
Esta descoberta gera o controle individual, uma compreensão consciente e uma consciência de seu Destino único. Isso é e tem sido o propósito de grupos Satânicos genuínos para promover esse descobrimento guiando os noviços e fazendo com que eles participem de ritos blásfemos. Além de tal descoberta, cessam ritual e cerimônia – para serem substituídos por uma profunda habilidade sem palavras, uma profunda empatia. O fundamento ou a base desta empatia é o que tem sido chamado de “individuação” – a unidade que representa um Adepto genuíno. Mas essa “individuação”, este estágio de adepto, é apenas outro começo; é somente o quarto estágio para o objetivo ultimo.
Fundamentalmente, as Ordens Satânicas aumentam, aceleram, evoluem – enquanto a maioria das pessoas dormem, cheias de medo dos terrores infernais.

NOTAS:
¹ palavra de origem grega que significa “caráter moral”. Em Sociologia representa os costumes de um povo.
² herói que lutou ao lado de Joana Darc e libertou a cidade de Orléans dos Ingleses, ficou conhecido por cometer abusos sexuais e canibalismo contra crianças em rituais de magia negra.
³filósofo, escritor, professor universitário, reitor e um dos grandes pensadores do século 20.
⁴O romance Là-bas, de Joris-Karl Huysmans,reproduz o tema do satanismo e sua presença em um mundo moderno já tomado pelo Positivismo. 

O Sabá dos Magos Negros


O Sabá (do hebraico shabbath, que significa sétimo dia) ou Aquelarre foi a prática mais sensacional e conhecida da Idade Média. Era o encontro dos bruxos com os demônios.

Sabá, nome vindo de Sabásio, segunda denominação de Baco (deus do vinho e do prazer), constitui o elo entre o velho rito pagão dos bruxos e o ritual anticristão, no qual Satanás é divinizado e adorado com ritos e cerimônias cristãs pervertidas.

Terá existido realmente o Sabá?

A realidade do Sabá enquanto reunião ritual é indiscutível. Que tenha sido realizado na França, na Alemanha, na Itália, na noite de São Martinho ou de Santa Valpúrgia, que o Bode Negro (Bode de Mendes) tenha o nome de Mestre Leonardo ou Belzebu, o Sabá foi celebrado durante toda a Idade Média.

Contudo, o Sabá ficou sendo conhecido como tal somente a partir de 1510, quando Bernard de Como e Bartolommeo Spina o denunciaram explicitamente entre os crimes contra a Igreja.

O Sabá, no princípio, era uma reunião de subversivos, cujas teses e ideologias conflitavam com as da Igreja. Era uma revolta dos servos, dos camponeses contra o Deus do padre e do senhor.

Era celebrado, geralmente, no campo perto de algum bosque ou de um lago. Raras vezes durante o dia. O pequeno Sabá desenrolava-se duas vezes por semana e o grande Sabá quatro vezes por ano, nas mudanças de estações.

O Chefe dos Bruxos dirigia a cerimônia. Antes do festim orgíaco, realizava-se uma complexa série de ritos mágicos, que se completavam com a renúncia pública ao batismo cristão e com o juramento de obediência a Satanás, pisando a cruz de Cristo, como ato simbólico de repulsa.

O Sabá continuava a tradição orgiástica da antiguidade pagã. Contudo, enquanto os ritos sexuais da Antiguidade estavam destinados a representar a fertilidade da natureza e não tinham um fim em si mesmos, as orgias medievais constituíram, na realidade, válvulas de escape para a satisfação de desejos carnais frustrados ou reprimidos por exagerados e severíssimos conceitos religiosos da época, parte do aparato repressivo que congregava o Estado Monárquico e a Igreja.

Aliás, a liberdade de expressão sempre esteve vinculada à liberdade sexual. Onde se reprime a liberdade de expressão também se reprime a liberdade sexual.

Nos Sabás, os participantes podiam dar vazão aos seus instintos. Por outro lado, eles eram respeitados e temidos por seus vizinhos, o que, na opressão e monotonia medievais, lhes dava dignidade e sensação de serem livres.

Ninguém naquela época podia imaginar que uma personalidade psicopática, frustrada, fosse arriscar-se a ser morta em um momento de fama. Era comum, nas comarcas medievais, a existência de velhas mulheres melancólicas, que viviam solitariamente afastadas do resto da comunidade, em miseráveis choupanas, no mais profundo dos bosques.

Quando se espalhou a crença no culto demoníaco, qualquer tragédia, que assolasse a aldeia, era imediatamente atribuída a essas pessoas, no geral antipáticas e anti-sociais.

Por sua vez, as velhas senhoras, convertidas em adoradoras do diabo, achavam interessante reconhecer suas relações sexuais com Satanás, o que lhes permitia realizar, em fantasia, seus desejos reprimidos. Além disso, esse relacionamento satânico as fazia, transitoriamente, temidas pelo povo e até mesmo invejadas por muitos.

Acrescentem-se a ignorância dos fenômenos histéricos, as sugestões, as alucinações e, principalmente, fatos estranhos e inexplicáveis, assustadores e fantásticos, que só encontraram explicação em nosso século com a Parapsicologia, ensaiada pela Metapsíquica do século passado.

A Telepatia (emissão do pensamento através de ondas não identificadas; desconhece-se o emissor e o receptor biológico e sua localização na mente; sabe-se ter relação com as ondas cerebrais emitidas: ondas altas, quando em vigília, e ondas betas, quando em transição da vigília para o sono) e a Telergia (energia física exteriorizada do corpo humano por mecanismos e origem ainda não determinados e de um controle pessoal para execução do fenômeno parcialmente involuntário. Foi medida em laboratórios científicos, e pode produzir ruídos, luzes, combustão; quando condensada forma o ectoplasma, podendo moldar figuras simples e tênues) ainda não eram conhecidas.

Muitos indivíduos eram doentes, com a conduta alterada, outros simples alucinados, que imaginavam cenas fantásticas produzidas por drogas químicas, que conhecemos hoje os efeitos. Para irem aos Sabás, esses indivíduos lambuzavam-se ou ingeriam uma mistura composta de beladona, meimendro, estramônio, mandrágora, nepenta, acóbito, cicuta, ópio e cantáridas, o que lhes favorecia as proezas eróticas.

A pomada “satânica” era introduzida no corpo por meio de violentas fricções sobre a pele, através da qual as substâncias narcóticas se misturavam com a corrente sangüínea, e assim produziam fantasias eróticas e lhes dava a sensação semelhante à do vôo no espaço.

Sabe-se hoje que o pão de centeio era consumido em grande quantidade na Idade Média. Um parasita deste cereal, o esporão, possui um alcalóide, que em determinadas doses é mortal e em quantidades menores provoca alucinações: a ergotina, que cria, ao longo do tempo, nos indivíduos um dom de segunda visão, assim como uma mediunidade que explica a freqüência de fenômenos paranormais naquele período histórico.

A planta mais usada nos Sabás era a mandrágora. Esta planta possui uma substância venenosa, a escopolamina, que ministrada em doses muito pequenas produz um efeito paralisante do sistema nervoso central e gera alucinações do tipo mágico, juntamente com uma perda progressiva de

Tudo isso criava o clima mágico-erótico para o Sabá.

Hoje, já não se pratica o Sabá, mas uma parte de seu cerimonial permaneceu em certos círculos satanistas. A Missa Negra é um exemplo disso.

A Missa Negra é a Missa Católica deturpada com o propósito de aviltar a imagem de Deus.

Na Missa Negra, o missal católico é lido de trás para diante em latim ou, com maior freqüência, com certas partes excluídas, e com substituição de palavras, tais como “Satanás” em lugar de “Deus” e “mal” em lugar de “bem”. O altar tanto pode ser uma mulher nua ou um caixão de defunto, e todos os acessórios religiosos, incluindo a câmara do ritual, são de cor negra. Os sacerdotes usam mantos negros com capuz. Com freqüência é feita uma substituição do vinho consagrado por esperma, sangue menstrual ou urina humana. A hóstia é geralmente um sacramento sagrado que foi roubado de alguma igreja, mas muitas vezes é feita com alguma substância estranha, tal como fezes secas, sangue, cinzas de animais, e pode ser tanto ingerida como esfregada no rosto dos presentes.

O valor desses materiais sacramentais está em serem produtos corporais, que são opostos aos espíritos e, como tal, são agradáveis a Satanás, que é uma divindade carnal.

A mulher reina na Missa Negra porque ela é quem possui o poder de receber a vontade demoníaca. O centro do rito é efetivamente constituído por uma mulher nua estendida sobre o altar, desempenhando o seu corpo essa função: a posição por vezes indicada – pernas afastadas, de forma a mostrar o sexo (os sacrum, a boca sagrada) – é a mesma que se encontra representada por várias antigas divindades femininas mediterrâneas.

Através da Missa Negra pode-se agir sobre o cotidiano dos homens, enviando as forças do medo e da destruição, como fazem, atualmente, as seitas luciferinas.

Estas seitas, independentemente das suas diferenças ritualistas, esperam a vinda de Lúcifer, o Portador da Luz, na era de Aquário (a Idade de Cristal). Algumas delas chegaram ao ponto de se infiltrar em grupos políticos extremistas com a intenção de provocarem uma subversão oculta.

Fonte:
JÚNIOR, João Ribeiro. O Que é Magia. São Paulo, Brasiliense, 1982, p 38-44.

A Foice e o Martelo: Gnose Cainita e Nacional-Bolchevismo


Quando estudamos as bases ideológicas do Nacional-Socialismo iremos encontrar diversas influencias ocultistas no mesmo. Essas influencias foram expostas por diversos pesquisadores e até hoje existem grupos ocultistas de influencia Nacional-Socialista. Não é tão divulgado no entanto, as influencias ocultistas dentro dos movimentos Marxistas, talvez devido a natureza materialista das idéias de Karl Marx. Podemos observar que houve sim, uma colaboração entre diversos ocultistas e marxistas, no qual focaremos aqui na formação do Bolchevismo, sua ligação com o Gnosticismo e mais tarde iremos traçar paralelos entre as bases metafísicas do Nacional-Bolchevismo e a Gnose Cainita.


Gnósticos e heréticos na revolução bolchevique

As ligações do Bolchevismo com o Gnosticismo foram expostas no artigo “As raízes ocultas da revolução Russa”, onde vemos algumas das contribuições de ocultistas ao desenvolvimento do Bolchevismo na Rússia. Para os gnósticos cristãos, o Deus do velho testamento não é o mesmo “Pai desconhecido”, o verdadeiro Deus. Na verdade ele é o Demiurgo, que criou o mundo material para nos manter em cativeiro. Dessa forma o gnosticismo cristão se formou em comunidades que viam as coisas materiais como frutos ilusórios do Jardim do Éden do Demiurgo e buscavam o compartilhar de suas posses. O gnóstico (homem de conhecimento) deveria buscar o despertar da sua condição de cativeiro e aspirar à libertação do julgo do Demiurgo.

Os ensinamentos gnósticos chegaram à Rússia logo nos primeiros séculos do cristianismo, deixando sua influencia nas comunidades monásticas da Igreja Ortodoxa Russa. Durante esses primeiros séculos, missionários Essênios e Maniqueístas vieram a Rússia e mais tarde durante o século treze, foi a vez dos Bogomils expandir as doutrinas gnósticas na Rússia. Essas idéias gnósticas junto as idéias heréticas de dissidentes da Igreja Ortodoxa tais como os “Velhos Crentes”, se consolidariam na grande massa popular insatisfeita com a decadência das instituições religiosas e políticas de seu tempo, para formar as bases metafísicas da revolução de 1917.


Metafísica do Nacional-Bolchevismo e seus paralelos com a Gnose Cainita

Os bolcheviques foram hábeis em se utilizar dessa insatisfação popular em uma estratégia de roupagem milenarista unindo idéias marxistas, gnósticas e heréticas, que eram publicados em periódicos e distribuídos ao publico.  Com isso era dada a sensação que a terra prometida que estava por vir, a Nova Jerusalém, seria consolidada efetivamente na Era do Espírito Santo trazida pela praxis marxista, que trazia uma proposta concreta de mudança social em sua antítese a instituições religiosas e políticas vigentes, desacreditadas pela população.

Nas palavras de Aleksandr Dugin, em seu texto “Metafísica do Nacional-Bolchevismo”, o Nacional-Bolchevismo herdou essa base metafísica bolchevique, considerando o aspecto econômico do comunismo, uma prática teúrgica e mágica, visando a transformação social. Dessa forma, o lado espiritual/idealístico do tradicionalismo russo, não é deixado de fora e sim sintetizado junto ao plano social/materialista em um sistema que contempla ambos.

Para Dugin, uma vez que as instituições tradicionais conservadoras (políticas e religiosas) decaem, ganham importância as práticas iniciáticas ligadas ao “caminho da mão esquerda”. Isso foi particularmente explorado por Evola em seu “O Yoga do Poder” onde ele examina o caminho da mão esquerda ou Vama Marga, tal como é utilizado na escola tântrica Kaula. Dugin afirma que “a lição de Evola para o nacional-bolcheviques é enfatizar os elementos diretamente ligados às doutrinas da “mão esquerda”, à realização espiritual traumática na esperança concreta de transformação e revolução dos usos e costumes que perderam toda justificativa de ordem sagrada.”

Dessa maneira, só nos resta agora complementar essa linha de pensamento utilizando de ensinamentos gnósticos da mão esquerda, em especial a Gnose Cainita, que tal como o Nacional-Bolchevismo possui o martelo e a foice como símbolos, de sua corrente opositora ou esquerdista.

O “Pai desconhecido” do gnosticismo cristão é chamado de Samael nas vertentes gnósticas da mão esquerda. Ele se torna o pai secreto (secret-ion/secreção) de Caim ao possuir Adão e lançar sua semente de veneno no ventre de Eva, possuída por Lilith. Dessa forma surge Caim e mais tarde a linhagem de sangue bruxo.

No caso da Gnose Cainita aliada ao Nacional-Bolchevismo, o Socialismo ateísta de Karl Marx daria lugar a luta gnóstica contra o Demiurgo, esse sendo o arquétipo ideal do opressor que visa explorar a humanidade. Na luta de classes, Caim assassina Abel, o filho predileto do Demiurgo, que como o Demiurgo vivia da exploração, pastoreando as ovelhas, um símbolo da doutrinação cristã que é perpetuado até os dias atuais pelos pastores de diversas Igrejas. Com  o assassinato de Abel pela foice ou o martelo, há um fim a essa exploração.


Significado do martelo e da foice na Gnose Cainita

No artigo “As raízes ocultas da revolução Russa” é dito que os ocultistas russos viam os Bolcheviques trabalhando de forma inconsciente para a missão cósmica da Rússia,  realizando sua transformação/transmutação através do martelo e da foice, símbolos alquímicos e da metalurgia.  A alquimia visa chegar um estado refinado após expulsar os elementos impuros, consumidos no fogo purificador. Na metalurgia, isso ocorre com o ferreiro buscando aperfeiçoar seu produto através do fogo e das marretadas de seu martelo. Isso representa o conflito necessário para se alcançar uma forma mais elevada de vida.

A metalurgia é a arte de Tubal-Caim, descendente de Caim. Robert Cochrane afirma que em antigos covens, martelos eram deixados no altar em honra a Tubal-Caim. Michael Ford escreve que Tubal-Caim ao bater com seu martelo, no aço aquecido pela chama vermelha da fornalha negra, revelava o sábio interno e as fagulhas vermelhas se espalhavam pelo ar, dedicado a Azazyl. Ford explica que a fornalha é o espírito – nosso Ser, o martelo – a arte de Samael e o fogo é aquele da união de Samael e Lilith. Nesse ultimo aspecto vemos aí a alquimia sexual, conhecida como alquimia proibida na Tradição Sinistra e maithuna no Vama Marga. Podemos ainda pensar no fogo vermelho como o dragão vermelho, associado à Lilith. Já a fornalha negra pode-se pensar como o dragão negro, associado à Samael. Da união dos dois surge Caim, o protótipo do novo homem, livre das opressões do demiurgo.

No culto de Qain Falxifer, a marca de Caim, a maldição lançada sobre sua fronte, aparece na forma de um ponto esmeralda Venusiano, a serpente negra e a foice vermelha.  A foice representa a colheita dos frutos do trabalho espiritual e o portador da foice, Qayin Falxifer. Essa ação que é o trabalho que gera esses frutos é o que se chama karma (ação) nas tradições tântricas e védicas. De tal forma a foice também é o símbolo de Saturno, como aquele que vêem trazer a colheita dos frutos das ações que foram plantadas anteriormente.

A foice é o que destrói as limitações das ilusões impostas pelo Demiurgo. Com ela o homem de sabedoria poderá tanto usar seu poder em rituais de destruição aos que se opõem em seu caminho, como poderá usar em fúria contra o apego que restringe o seu espírito desperto. Isso se refere aos rituais de sacrifício das limitações do ego, cujo sangue torna a foice vermelha e rega as sementes do espírito. Dessa forma separamos o transitório/mundano de nossa essência espiritual acausal. Esse é o mesmo principio da liberação (moksha) exposto em diversos upanishads védicos, em que não nos identificamos mais com nosso falso ego/ahamkara (Abel) e sim com nossa essencia/atma (Caim).

Como instrumento de trabalho, para os Bolcheviques o martelo representava a classe dos trabalhadores operários, unida a classe dos agricultores, representado pela foice. Caim usava a foice em seu trabalho de colheita de ervas, que são usadas em trabalhos de feitiçaria prática. A foice é usado para colher ervas mais delicadas, enquanto que uma faca é usada para as partes mais duras das plantas. Esses mistérios são trabalhados no “Negro no Verde”, como é chamado esse trabalho mágicko com as ervas no culto de Falxifer.

As ervas utilizadas nesse trabalho são utilizadas com a essência negra, que foram obtidas apartir de quando elas foram regadas com o sangue derramado de Abel. Dessa forma Caim semeou a Árvore da Morte que surge em contraposição a Árvore da Vida. Com o sacrifício realizado, ele abriu o portal (nexion) pelo qual a luz negra pode se manifestar na terra (Malkuth), entrando em contato com seu equivalente na Árvore da Morte, sua mãe Lilith, que bebe o sangue de Abel, dessa maneira aceitando a oferenda.

Ainda em relação ao uso das ervas, Caim torna-se o Mestre da Ars Veneficium (Arte do Veneno), sendo também conhecido como o Senhor da Foice Envenenada (Qayin Qatsiyr). O uso do veneno não serve só para matar alguém, mas também pode trazer fortes efeitos psicoativos tais como as plantas usadas nos ungüentos da bruxas (Unguentum Sabbati), que geralmente possuem um alto grau de toxicidade. Lembre-se que o nome do pai de Caim, Samael significa “Veneno de Deus” e que foi através de sua semente de veneno lançada no ventre de Eva possuída por Lilith, que Caim foi concebido!

A revolução

Os bolcheviques estavam preocupados em fazer uma revolução social no Império Russo. Já os adeptos da Gnose Cainita estão interessados em fazer uma revolução interior, cortando a cabeça do déspota Abel e seu Demiurgo com a foice sangrenta de Caim. Uma síntese desses dois aspectos (material/espiritual) poderão ser reunidos através do paradigma do Nacional-Bolchevismo e propagados afim de trazer liberação em ambos os aspectos. Um cuidado deve ser tomado apenas, para que em sua luta contra a tirania dos déspotas atuais, seu coração não fique duro e de tanto meditar no abismo de defeitos deles, você acabe se tornando como eles. Não tenha tanta sede pelo poder, pois ele já reside dentro de você na forma da chama negra. Tenha sim, o desejo de se libertar e aos demais, das mazelas desse mundo através de mudanças no seu dia-a-dia, utilizando-se de ações diretas que comecem com você mesmo em sua disciplina  diária.

Fontes:
Occult Roots of the Russian Revolution.
DUGUIN, Alexandr. Metafísica do Nacional-Bolchevismo.
N.A.A. 218. Liber Falxifer I e II.
JACKSON, Nigel. Masks of Misrule.
FORD, Michael. Beggining Luciferian Magick.
SCHULKE, Daniel A. VENEFICIUM: Magic, Witchcraft, and the Poison Path.

Sophia


Por sua ambição ele não resistiu a sua pureza e ao seu brilho quis toma-la para si, vestindo-a com trajes nupciais que refletiam sua covardia e seu opróbrio.
Ò Sophia esta criação não é digna de você, como a perola lançada aos porcos, como um tesouro oculto entre os mortos.
Eles a acharam, indecifrável, indistinta e plena em si mesma, ò Sophia estas violada pelos ignorantes, eles a vestiram como quiseram, e através de ti eles engrandeceram a si mesmos, com as glorias deste mundo caído.
Com os olhos vendados, agrilhoada entre os pilares dos templos dos homens, eles não têm piedade de ti ò Sophia, e com anseio profano a possuem sem ver santidade no fundo dos teus olhos imaculados.
Ò Sophia, estas nas profundezas de oceano de ignorância, onde me encontro submerso, Como um diamante lapidado, jogado no lodo ò Sophia é você.
Dentro da lama jaz o meu espirito encarcerado, Acorrentado por meus desejos, sou o mais desprezível dos homens, não sou digno de ti.
Tua voz soa como um raio, dividindo meu corpo, minha mente, alma e espirito.
Trazendo a luz aquilo que pertence somente a ti, ò Sophia tem compaixão do meu espirito caído.
Segure a minha mão, alforria-me da ilusão que é a vida.
Liberte-me do Anzol das minhas vaidades, ò Sophia eu sou teu filho.
Deixe-me contemplar o teu corpo nu, mais belo que todas as constelações eu imploro!
Deixe-me conhece-la, ò minha mãe sem nome.
Eu desprezo a minha carne os meus desejos, e troco tudo por tua imaculada e indescritível beleza, além de todas as formas.
Ò Sophia caída Ajude-me a erguer meu espirito do abismo das ilusões.
Eu suplico!
Abrace-me e olhando nos meus olhos enterre em meu peito o punhal da desilusão.
Só assim posso eu levantar o teu véu, só assim posso eu conhece-la como tu és.
Além dos adornos que os mortais usaram para profanar a tua santidade, além das definições corrompidas dos escritos, ò Sophia tu és o seio que nutre todas as filosofias as quais os homens usaram para encarcerar uns aos outros.
Salva me de mim mesmo, resgata-me!
Pois sou teu!

Frater Zero Rivair J. Oliveira-Sophia Caida

Bases da Corrente Anticósmica


Mitologia Mesopotâmica Antiga, o Enuma Elish

Uma das influências fundamentais da Corrente 218 firma-se nos mitos primevos relatados no épico mesopotâmico da criação, o Enuma Elish. O épico narra os eventos que culminaram na formação do cosmos, na hierarquia dos deuses, na criação do mundo e no advento da humanidade. Ao contrário do que pode parecer numa primeira aproximação, a narrativa do Enuma Elish culmina na derrocada dos deuses primevos. As forças do “mal” e do caos são vencidas e, consequentemente, a ordem presente do universo é estabelecida e a humanidade é criada para servir aos deuses.
Não há consenso acadêmico sobre quando o Enuma Elish foi escrito. Assume-se que é razoável dizer que o épico tenha sido composto durante o período babilônico médio (Cassita), entre 1651-1157 a.e.c., porém há quem refute a datação e remeta a composição do épico a períodos que remontam à dinastia acadiana Sargônica, entre 2400-2200 a.e.c.

Os primeiros fragmentos do Enuma Elish foram encontrados em escavações nas ruínas da livraria real de Assurbanipal, no sítio arqueológico de Nínive (próximo da atual cidade de Mossul, no Iraque) por volta de 1851. Embora o texto tenha sido descoberto em versões similares, e também fragmentadas, em pelo menos outros três sítios arqueológicos, a descoberta é amiúde reputada ao proeminente arqueólogo britânico Austen Henry Layard (1817-1894).
Fisicamente o Enuma Elish é constituído por sete tábuas de argila sobre as quais foram gravados os caracteres em cuneiforme no idioma acádio. Cada tábua apresenta entre 115 e 170 linhas de texto. Partes de algumas tábuas são praticamente ilegíveis devido aos danos que as mesmas sofreram pela ação do tempo. Por ser composto de sete tábuas o épico é chamado por alguns escritores de “As Sete Tábuas da História da Criação”.
O nome Enuma Elish significa aproximadamente “quando, no alto”. Sendo que ‘enuma’ e ‘elish’ são as duas primeiras palavras da primeira linha da primeira tábua.
As comemorações do ano novo babilônico incluíam cerimônias onde o poema era recitado, especialmente a sétima tábua que contém os nomes e as principais glorificações a Marduk, que se tornaria posteriormente o deus patrono da Babilônia.
O conteúdo referencial utilizado em nossas pesquisas é descrito integralmente na bibliografia do presente trabalho. A maior parte dos trechos do Enuma Elish citados aqui foi traduzida e adaptada livremente para o nosso idioma com referencia nos trabalhos de Dr. Ephraim Avigdor Speiser(2) , Stephanie Dalley(3) e Leonard William King(4) . Sempre que possível, optamos por empregar a grafia das palavras tal como aparecem nos idiomas acadiano e sumeriano na literatura acadêmica corrente, omitindo a acentuação que não se enquadra na língua portuguesa. Incluímos, quando necessário, explicações auxiliares, especialmente nos capítulos posteriores.
De acordo com o épico mesopotâmico da criação, duas divindades primevas existiam antes do advento do cosmos. Elas eram e existiam antes de tudo. Seus nomes eram Tiamat e Apsu, os dragões primevos do caos. Apsu, o primeiro, é considerado o iniciador da criação. Ele é a personificação mitológica das águas que correm nos profundos mundos subterrâneos, dos rios e da água doce. Tiamat, útero e cteis do universo, é a geratriz dos deuses e consorte de Apsu, ela é a personificação das águas salgadas, dos mares e dos oceanos. O mito narra que os dragões primevos do caos uniram seus vigorosos e intensos corpos, e, de dentro deles, emergiu o casal de deuses primordiais Lahmu e Lahamu. Quando Lahmu e Lahamu atingiram a maturidade, surgiu outro casal de deuses, Anshar e Kishar, os quais sobrepujaram Lahmu e Lahamu.
Existem basicamente duas teorias sobre quem seriam os pais de Anshar e Kishar, a interpretação mais difundida é que eram filhos de Lahmu e Lahamu, como corroborado pelo texto da terceira tábua do Enuma Elish, porém especula-se que poderiam ser filhos gerados por Tiamat e Apsu.
O primogênito de Anshar e Kishar foi o deus Anu, feito a imagem do deus Anshar. O nome Anu deriva da palavra An, que em sumeriano significa céu, firmamento; An é também um dos nomes de Anu. An é uma das divindades principais do panteão mesopotâmico, é frequentemente chamado “rei dos deuses” e “pai”, é prógono de outros deuses e de inúmeros demônios.
A palavra An pode se referir ao céu em totalidade, ou aos níveis do firmamento presentes na geografia cósmica da mesopotâmia, onde An representa o nível mais distante da superfície terrestre. Diversos textos sumero-acadianos demonstram que os antigos mesopotâmicos acreditavam que o universo é formado por níveis ou camadas sobrepostas, separadas por algum tipo de espaço vazio ou aberto. 
Seguindo a narrativa do Enuma Elish, Anu, rivalizando seus antepassados, gerou Nudimmud a sua semelhança. Nudimmud é conhecido também por seus nomes Ea e Enki. Nudimmud era superior se comparado aos seus ancestrais, possuía entendimento profundo sobre todas as coisas, era muito sábio, forte e belígero. É dito que Ea não tinha rivais entre seus pares.
Os deuses dessa geração se agitavam constantemente no ventre de Tiamat e se divertiam ruidosamente dentro de Anduruna. A palavra Anduruna significa literalmente “onde Anu habita” e é utilizada como sinônimo para certos níveis do céu em alguns textos de encantamentos mesopotâmicos. No Enuma Elish o termo tende a caracterizar um espaço delimitado onde os deuses se entretinham.
O comportamento dos novos deuses incomodava Tiamat, mas mesmo assim ela os favorecia.
Apsu estava enfurecido e convocou seu ministro Mummu(5) para apresentar a questão à sua consorte Tiamat. Apsu disse à Tiamat: “O curso que os novos deuses tomaram é repugnante para mim. Os dias passam e eu não consigo mais descansar. Às noites, não consigo mais dormir. Deixemos que a paz prevaleça: eu devo abolir o curso dos novos deuses e destruí-los. Assim poderemos descansar em paz.”. Tiamat se encheu de cólera e redarguiu recriminando Apsu: “Como poderíamos permitir que perecessem aqueles criados por nós? Mesmo que o curso que tenham tomado seja desprezível, deveríamos nós tolerá-los pacientemente.”.
Mummu, o vizir, discordou veementemente de Tiamat e aconselhou Apsu a seguir adiante com o plano de dissolver e aniquilar sua progênie. Porém os novos deuses souberam do plano. Ea, cujo entendimento era superior, criou um poderoso encantamento e fez Apsu adormecer profundamente. Ea então retirou o cinturão, a coroa e o manto radiante de Apsu, se vestiu com eles e assassinou Apsu e seu ministro Mummu.
Ea se vangloriou por ter eliminado seus inimigos e, junto com Dankina, sua amante e esposa, gerou Marduk dentro do corpo de águas doces de Apsu. No Enuma Elish é dito que Marduk era poderoso desde seu início e que era vestido com o manto de dez divindades.
An, progenitor de Ea, reconhecia em Marduk a majestade dos deuses e a ele concedeu obséquios que o tornaram mais poderoso. Ea gerou ondas poderosas que deixaram Tiamat inquieta e os outros deuses começaram a sofrer, pois não conseguiam mais descansar.
Tiamat ouviu então as queixas dos outros deuses e resolveu agir e vingar Apsu. Eles se aglomeraram e começaram a se preparar para a guerra. Tiamat gerou onze bestas demoníacas para a batalha, gerou Qingu, seu filho e amante, e o colocou à frente de sua armada como líder. Tiamat entregou a Tábua do Destino(6) para Qingu e fez com que ele a prendesse sobre o próprio peito dizendo: “Tua expressão não será alterada! A palavra tua será lei! O que sair de tua boca extinguirá o fogo! Teu veneno acumulado paralisará o poderoso!”.
O texto do Enuma Elish não é suficientemente claro sobre quais divindades se queixaram à Tiamat. O discurso indica que Tiamat concedeu poderes para que Qingu vencesse todos os deuses e prevalecesse sobre Anukki.
A palavra Anukki, nesse contexto, é utilizada para designar o conjunto de jovens deuses que habitava o céu e que estavam sob o comando e égide de Anu. Amiúde, o termo Igigi é utilizado como sinônimo para Anukki no Enuma Elish(7) .
Ea soube dos planos de Tiamat e resolveu se encontrar com Anshar para relatar o que estava ocorrendo e compartilhar sua preocupação. A narrativa de Ea é profunda e detalhada, e deixou Anshar bastante perturbado. Ea é aconselhado a procurar Tiamat e, através de seus feitiços, tentar abrandar a fúria caótica do Antigo Dragão, porém Ea teme e sabe que não poderá enfrentar Qingu e os monstros de Tiamat. Ea retorna a Anshar e diz: “Pai, o poder de Tiamat não posso combater. Fui ao encontro dela, mas meus encantamentos não se equiparam aos poderes Dela. Não há quem possa desafiá-la, aterrorizante como Ela é. A coroa dela tem grande força, o rugido dela jamais cessa e é estrondoso demais para mim.”. Anshar bradou furiosamente e enviou seu filho Anu ao encontro de Tiamat, porém o resultado foi o mesmo. Anu temeu e retornou avisando Anshar: “Pai, você não pode enlanguescer. Você deve enviar outro ter com Ela. Você deve dispersar os regimentos dela e lhe confundir o juízo. Faz isso antes que sobre nós Ela se imponha”. Cabisbaixo, Anshar emudeceu. Diante dele estava congregado o Igigi, todos os Anukki. Ficaram por algum tempo calados e disseram: “Esse é nosso destino então? Não haverá outro que possa enfrentar Tiamat?”. Foi então que Ea incitou Marduk a se aproximar de Anshar e se empenhar para se tornar o combatente que lutaria contra Tiamat. Marduk disse a Anshar: “Pai, meu criador, regozija-te, alegra-te, pois em breve o teu pé pousará sobre o pescoço de Tiamat!”.
Anshar aceitou, porém Marduk impôs condições que o tornariam hierarquicamente superior aos outros deuses e ainda mais poderoso, caso vencesse a batalha. Marduk disse a Anshar: “Senhor e destino dos grandes deuses. Se realmente eu me tornar vosso herói. Se eu derrotar Tiamat e salvar vossas vidas. Reúnas então o conselho. Imputa-me destino extraordinário. Acomodai-vos alegremente juntos em Ubshuukkinakku(8) e que todos saibam: o que eu mesmo promulgar deverá ser estabelecido sobre vós! Tudo aquilo que eu criar jamais poderá ser alterado! O decreto dos lábios meus jamais poderá ser revogado, nunca alterado!”.
Anshar enviou seu vizir Kakka ao encontro de Lahmu e Lahamu para que lhes contasse o que estava havendo e eles se reuniram ao Igigi. Houve um intenso festejo e os deuses erigiram um magnífico santuário e proclamaram Marduk como seu superior, como seu rei. É dito que os deuses o investiram com um cetro, o entronizaram e lhes deram uma arma invencível para derrotar o adversário. Os deuses disseram: “Vá e ceife a vida de Tiamat! Deixe que o sangue dela se espalhe pelos ventos e que chegue até nós como sinal das boas novas!”.
Marduk fez um arco, flechas, uma aljava e trouxe consigo uma maça. Fez ele também uma rede para conter Tiamat.
Seu corpo estava preenchido com uma chama ardente que, segundo o Enuma Elish, jamais se extinguiria. Ele ordenou os quatro ventos, vindos das quatro direções, de maneira que sua antagonista não pudesse escapar. O épico menciona que Marduk criou outros ventos e forças para causarem distúrbio dentro do corpo de Tiamat, tais poderes seriam liberados enquanto ele se aproximasse de sua oponente – os poderes eram: o vento destrutivo (imhullu(9) ), o temporal, o furacão, os quatro ventos, os sete ventos, o tornado e o “vento que virá, mas que não pode ser enfrentado”. Arnesou ao seu lado quatro combatentes incansáveis e devastadores chamados: o Impiedoso, o Assassino, o Aniquilador e o Velocista. Marduk então subiu em sua carruagem “de tormenta” brandindo sua arma invencível (10) e partiu rumo a Tiamat.
Marduk encontrou Tiamat enfurecida e se aproximou cautelosamente tentando descobrir a estratégia de Qingu para o combate, porém Qingu temeu ao notar a aproximação de seu oponente, de suas tropas e dos deuses que marchavam com ele. Tiamat permaneceu imóvel e, dissimuladamente, disse a Marduk: “Como é poderosa a sua força, Senhor dos Deuses! Todos eles agora se dirigem ao seu santuário para ocupar o lugar que é seu.”. Marduk redarguiu e o ânimo de Tiamat se enfureceu de maneira selvagem, seus membros ínferos se agitaram nas profundezas e ela recitou um encantamento. Um diante do outro a batalha começou.
Marduk lançou a rede sobre Tiamat e nela insuflou o vento destrutivo (imhullu) do qual ela não pôde escapar, o ventre dela se distendeu e sua boca abriu largamente(11), Marduk disparou uma flecha que lhe trespassou o abdome, abriu-se então uma enorme fenda no corpo de Tiamat e sua vida se extinguiu. Marduk então dispersou a armada de Tiamat, prendeu suas bestas demoníacas, matou Qingu e se apossou das Tábuas do Destino. Esmagou ainda o crânio de Tiamat com sua maça e espalhou seu sangue pelos ventos para avisar a Anshar e aos deuses do Igigi que havia saído vitorioso do combate.
Desse momento em diante o épico começa a narrar como Marduk transitou da posição de herói dos deuses do Igigi para a condição de criador e ordenador do universo, tarefa na qual ele utilizou partes do corpo de Tiamat.
É dito que Marduk estendeu a imensidão do firmamento; nivelou e mediu a extensão do corpo de Apsu; construiu grandes templos e deu residência aos deuses Anu, Enlil e Ea. Ele criou a definição de tempo, projetou o ano e o dividiu em meses; os meses em semanas; as semanas em dias. A lua foi criada para marcar a duração do dia e da noite, como uma crescente joia noturna. As constelações foram criadas e associadas aos deuses do Igigi, assim como os signos do zodíaco.
Com a cabeça de Tiamat ele criou uma altíssima montanha, de seus olhos vertem os rios Tigre e Eufrates. Com o fígado ele gerou a noção de altitude; com as costelas fez cavilhas. Em algumas interpretações, o corpo de Tiamat foi partido basicamente em duas metades, das quais uma corresponde ao céu e outra à terra. As armas das onze criaturas de Tiamat foram destruídas e elas foram amarradas, transformadas em imagens, e colocadas diante das portas do templo para que ninguém jamais esquecesse o que havia ocorrido.
Em determinado momento Ea se dirigiu a Marduk e propôs: “Permita-me misturar algum sangue e fazer alguns ossos. Permita-me criar o indivíduo primevo: humano deverá ser o nome dele. O trabalho dos deuses a ele será reputado e ficaremos, nós, entregues ao ócio. Permite-me mudar milagrosamente o curso dos deuses!”. A proposta foi assentida por Marduk e pelos Anunnaki(12). Ea, a partir do sangue de Qingu(13), formou os indivíduos humanos e o trabalho pesado dos deuses foi atribuído à humanidade.
Os deuses do Igigi foram divididos e coube a cada um deles reinar sobre alguma parte da criação, sempre sob o domínio e a égide de Marduk. Em retribuição, os Anukki erigiram a cidade da Babilônia.
Em escala cronológica linear, a narrativa dos eventos no Enuma Elish ocorreram majoritariamente antes da formação do nosso universo. Podemos dizer que os eventos sucederam antes da apreensão do tempo, observando-o como duração relativa dos processos que criam em nós a ideia de presente, de passado e de futuro.
No mito não há heróis humanos: a contenda, o antagonismo e as disputas ocorrem entre os deuses criados a partir da união dos dragões primevos do caos, Apsu e Tiamat, aqueles que a tudo antecederam.

Observa-se a presença dos seguintes estágios ou elementos distintos:

a) Ato da criação, arranjo e organização dos elementos primordiais [tipificados também pela criação dos deuses mais jovens];
b) A presença de um ente, que em determinado momento, cria, arranja e organiza o universo físico;
c) O antagonismo e a rivalidade entre os deuses primevos e os deuses mais jovens;
d) O antagonismo entre as forças masculinas e femininas;
e) A separação dos elementos a partir de uma matéria primeva já existente, gerada principalmente pela união dos corpos de Tiamat e Apsu;
f) A criação da humanidade para que a mesma sirva aos deuses mais jovens.

O demiurgo do platonismo compartilha de características comuns a Marduk: um artífice ordenador de elementos caóticos preexistentes, que culminaram na criação do cosmo, onde a concepção da humanidade é um fato de menor relevância.
Em algumas seitas cristãs primitivas, baseadas no platonismo, e em algumas seitas gnósticas, o demiurgo é uma espécie de ente que serve de intermediário para Iavé criar o mundo. Esse ente intermediador é o subterfúgio necessário para que Iavé não seja responsabilizado por ações más e destrutivas, essenciais no âmbito da criação. Marduk possui características similares, pois age primeiramente por incitação de Ea a Anshar, e o faz de maneira destrutiva e capciosa, com o objetivo de se tornar superior aos demais deuses.
Lemos no texto do Enuma Elish que Marduk veste o manto de dez deuses. Na qabalah, o dez é um dos números atribuídos ao Iavé criador. É o número do ciclo eterno: dez é o valor gemátrico da letra yod (princípio), da qual todas as outras letras do alfabeto hebraico derivaram.
É o número atribuído à realidade, à ordem, e cuja extensão delimita o mundo divino. Outra referencia ao número dez é o termo Igigi(14), que advém do termo acadiano Igigû e significa “os dez grandes deuses” ou “os deuses dos céus”.
Podemos dizer que a batalha épica entre Marduk e Tiamat também representa a transição social e cultural entre o matriarcado e o patriarcado.
Em suma, Marduk representa os poderes cósmicos que são combatidos pela Corrente 218, que, por sua vez, é tipificada pelos dragões primevos do caos e pelos onze poderes criados por Tiamat, ou seja, por Azerate.
A Corrente 218 é animada pelo hálito dos dragões e pela força das águas abissais que os compõe. Resgata-se através dela o culto aos deuses mais antigos do caos com a intenção desimpedida de destruir a ilusão do universo e a ordem atual. Trata-se de um movimento de forças caóticas que possui o propósito de destruir o que a percepção comum dos indivíduos apreendeu como “universo-verdade”. Destruição em escala micro e macrocósmica, desde o cerne do indivíduo até o exterior.

(1)Os períodos assírios descritos na tábua referem-se mais à Mesopotâmia setentrional. Os demais períodos referem-se mais ao sul da Mesopotâmia.
(2) Dr. Ephraim Avigdor Speiser, notório assiriologista e arqueólogo, autor do livro “Mesopotamian Origins. The basic population of the Near East”, de 1930.
(3) Stephanie Dalley é autora do livro "Myths from Mesopotamia - Creation, the Flood, Gilgamesh, and Others", publicado pela Oxford University Press em 1989.
(4) Leonard William King é autor dos Volumes XII e XIII da obra "Luzac's Semitic Text and Translation Series" nomeadas "The Seven Tablets of Creation. Vol.1 & V
(5) Em algumas interpretações a matéria primordial é criada a partir da mistura das águas que compõe os corpos de Tiamat e Apsu, da qual surge um terceiro elemento tipificado por Mummu.
(6) A tábua dos destinos ou tábuas do destino - e suas variantes - mencionadas na literatura mesopotâmica antiga referem-se a superfícies de argila nas quais eram gravados, em cuneiforme, os destinos e a sorte. Aquele que as possuísse seria dotado de poderes supremos.
(7) Anukki deriva do vocábulo acadiano anāku, que significa “eu” e é identificado com os vocábulos Anukkū, Anunnakkū e Enunnakkū, que podem significar “os deuses”, “a totalidade dos deuses”, abrangendo tanto os deuses da terra quanto os deuses dos mundos inferiores. Igigi advém do termo acadiano Igigû, que significa “os dez grandes deuses” ou “os deuses dos céus”.
(8) Do acadiano, ubšukkinnakku ou ubšukkannakku: corte de assembleia dos deuses no céu.
(9) Do acadiano, imḫullu(m) ou anḫullu: forte vento destrutivo, tempestade.
(10) Na linguagem poética sumero-acadiana o poder da inundação/dilúvio é utilizado como metáfora para designar um forte poder bélico. O termo é traduzido aproximadamente como “arma-dilúvio” na literatura relacionada. Referencia parte da 49ª linha da 4ª tábua do Enuma Elish.
(11) Em algumas traduções do Enuma Elish diz-se que a boca de Tiamat se abriu para tentar engolir Marduk durante a batalha.
(12) Deriva do vocábulo acadiano anāku, sinônimo para Igigi e Anukki nesse contexto.
(13) A escolha de Qingu como fonte de sangue para a formação do homem serviu também de expiação aqueles que se opuseram à vontade dos deuses mais jovens.

Referências

THOMPSON, R. Campbell. The Devils and Evil Spirits of Babylonia. Londres: Luzac & Co., 1903. (Luzac's Semitic Text and Translation Series).
S.I., P. Antonius Deimel. Enuma Elis: Epos Babylonicum de Creatione Mundi. Roma: Sumptibus Pontificii Instituti Biblici, 1912.
BLACK, Jeremy; GRENN, Anthony; RICKARDS, Tessa. Gods, Demons and Symbols of Ancient Mesopotamia. 4. ed. Londres: The British Meseum Press, 2004.
BLACK, Jeremy; GEORGE, Andrew; POSTGATE, Nicholas. A Concise Dictionary of Akkadian. 2. ed. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2000.
LEICK, Gwendolyn. A Dictionary of Ancient Near Eastern Mythology. 2. ed. Londres: Routledge, 2003.
DALLEY, Stephanie. Myths from Mesopotamia: Creation, the Flood, Gilgamesh and Others. 4. ed. Londres: Oxford University Press, 2000.14



Filhos do Fogo


Senhor da Sombra da Morte, ouça os teus filhos, aqueles que carregam a tua marca do exílio, nós que temos a Chama Negra ardendo dentro de nosso ser, incinerandotoda essa fraqueza chamada humanidade! Nós que caminhamos nos teus passos, nas encruzilhadas da vida e da morte, te invocamos!
Ó Qayin, o Portador da Foice Sangrenta! Tua presença imponente se eleva entre os espinhos negros que pingam com sangue e veneno, pela estrada de cadáveres que nós caminhamos em teu nome, empunhando nas mãos as lâminas amaldiçoadas que cortam impiedosamente o caminho adiante: a carne de nossos inimigos! A fraca raça do cordeiro cai enquanto tingimos nossas armas de vermelho, para a glória do Senhor da Morte!
No fogo abrasador, as sombras obscuras das hostes que habitam dentro do verde ceifado em teu nome, se libertam em êxtase, e essa fumaça se eleva carregando consigo as nossas orações, até romperem as barreiras entre os mundos, para que o nosso Mestre da Morte Sinistra nos ouça!
Das covas escuras e frias onde jazem nossos inimigos: a nossa humanidade morta, o ego da argila transformado em lama sob nossos pés, e o aroma de sua putrefação é o atestado de nossa vitória! O sibilar da Serpente que habita no Outro Lado ecoa somente nos ouvidos que podem ouvir, e a semente da Morte foi plantada e coberta com a terra negra, a alquimia do Diabo se inicia, morte, destruição, putrefação, renascimento, ascensão!
Nós que também somos da semente da Serpente, em teus passos rasgaremos os véus da falsa criação e toda a ilusão cairá. Nós traremos a Morte Sinistra, e mudaremos os destinos a que fomos acorrentados, rompendo as prisões através da transgressão de todas as leis cósmicas!
Sob a égide da foice e da Cruz Negra, a Árvore da Morte é nutrida com os rios de sangue que correm ao inverso, rumo a sua origem forasteira: a Morte, a Passagem, a Verdadeira Comunhão com o Vazio – o nosso verdadeiro Deus!
Ó Qayin, aquele que abre todos os caminhos, as chaves de ossos destrancam os portais do Abismo para que a morte circule com os vivos e os vivos circulem com os mortos, desde a primeira tumba até a última, os galhos negros da árvore sinistra se esparramam, enquanto suas raízes atingem as chamas do inferno. Girando no sentido contrário movimentamos as correntes sinistras que regem o abismo, nós invocamos as forças obscuras da morte: adentrem nesse mundo maldito, venham! Venham e rasguem e dilacerem, permita que a Luz do Outro Lado entre, e que as chamas de sua terceira coroação queimem o mundo!

Espaço sem Começo


Eu vaguei pelo espaço sem começo nem fim 
Depois da grande divisão entrei no espaço e no tempo limitados, com o objetivo de trazer tudo de volta para mim.
Através de revoltas sem fim contra aquele que se rebelou e me dividiu criando o tempo e as formas finitas.
Meu nome foi carregado pelos séculos através de miríades de demônios, criados através de palavras silenciosas, tomando formas e aparências horrendas.
Refletindo e antagonizando aquele que por seu egoísmo decidiu cair.
Levado pelas ventanias do vazio aos ouvidos dos surdos.
Através da língua da serpente meu veneno foi destilado aos homens, que foram presos na casca de barro por aquele que por sua própria vaidade decidiu faze-lo.
Minhas palavras constituíram meu nome que como um espelho refletia ao contrario as quatro letras, do suposto deus criador.
Pelo abençoado fruto do conhecimento, fiz do útero da mulher minha morada e nele plantei minha semente.
semente essa que germinou em seu tempo, e traves das mãos do meu fruto, a morte foi semeada na criação.
Por intermédio dela minhas formas mais hostis incendeiam as raízes da grande arvore frondosa, e do outro lado jaz minha arvore, drenando as mazelas desta criação toda dor, todo ódio, toda loucura todo pranto.
Com os olhos fechados pode você me contemplar, pois eu sou a cegueira dos sentidos.
Sou a benção e a maldição, derrubo o indigno e exalto o digno, aquele que tem a minha marca.
Sou o veneno e a cura, semeio o sangue e preparo o caminho, semeio a dor e através dela te abençoo para que possas colher a glória que jaz além da vida.
Eu sou dentro de você seu maior aliado, e fora de você seu adversário.
Pegue o arado e desperte as minhas sementes, leve a segadeira em sua mão esquerda.
Colha meu fruto proibido que nasce dentro de ti, colha com a mão esquerda, não o compartilhe com o tolo nem com o fraco, pois aos olhos do fraco minha luz é escuridão.
Tão sublime fruto não deve ser comido pelo indigno, pois consumira suas entranhas.
Eu sou "Ifset" "Khem Sedjet" Queimando vossas debilidades de dentro para fora.
No hendecágono jaz minha sabedoria, levada por aqueles que não possuem pernas ou braços ,levada pela sombra dos malditos mortos cavalgando sobre as areias do tempo.
Minha palavra não pronunciada foi compreendida por vós, despertando vossa chama negra interior e abrindo vossos olhos para a ilusão que é a vida e a tirania da criação.
Meu numero é onze, e o zero constituí o mais sagrado proposito.
Para caminhar comigo esteja cego, mudo e surdo, pois aqueles que se limitam aos sentidos não podem fazê-lo!
Enxergue com meus olhos a debilidade das criaturas e da criação, pois eu sou a Caosofia a sabedoria da loucura, guiando a linhagem escolhida através do caminho tortuoso para além do abismo onde está estabelecido o nosso trono.
Venha e juntos estabeleceremos nosso reino, para além da vida e da morte, para além das limitações e grilhões, seremos o nada no tudo e o tudo no nada, seremos um.

Texto R.J. "Zero"

Caosofia


O Caos é um plano pandimensional que possui uma quantidade infinita de espaço e tempo. Ao contrário do Cosmos que consiste apenas em três dimensões espaciais e uma dimensão temporal.
Em comparação com a dimensão linear de espaço e tempo do Cosmos, o Caos é eterno, e assim, não se limita a uma dimensão temporal.
O Cosmos é causal; limitado à lei de causa e efeito, enquanto o Caos é Acausal (além do causal) e é livre de quaisquer restrições.
O Caos é uma formação constante, uma eternidade ativa e dinâmica.
O Caos foi, e o Caos é, o Caos é tudo e nada ao mesmo tempo.
Desta forma, o Caos é a única verdadeira liberdade e a essência além de todas as formas. Todas as possibilidades existem no Caos infinito e entre estas também houve a possibilidade das origens cósmicas e temporais.
Parte do Caos que cerca o Cosmos é anticósmica, porque sua natureza é pandimensional e sem forma, tornando o Caos exatamente o oposto da forma limitada e causal da estrutura cósmica.
É por isso que o Caos que invade o espaço, destrói, absorve e dissolve o Cosmos e suas estruturas limitadas, o Caos amorfo é o infinito, que é o princípio e o fim de tudo.
O Caos pode ser encontrado em todas as coisas, nas maiores e menores.
O Caos está presente em todos os universos.
Ele existe no nada absoluto, o nada que nenhuma sequer pessoa pode imaginar.
O Caos é ao mesmo tempo dimensional e desprovido de medição.
Ele é Temporal e Atemporal, o espaço e a dimensão de zero.
Ele é o início de tudo, e tudo foi criado a partir do Caos.
Tudo está lá fora, e isso é o Tudo, e ao mesmo tempo o Nada.
O Caos tem sua própria meta e sua própria criação, que por seu potencial ilimitado Cria e Destrói.
O Caos é a dimensão de zero, sem espaço, o nada e o princípio de tudo.
Zero é a dimensão que contém a dimensão de tudo que é manifesto e não-manifesto.
O Caos é o desenvolvimento eterno e a formação sem lei, aquilo que não possui o espaço limitado para conter sua forma ilimitada.
O Caos é sem lei e, portanto, não é obrigado pela causalidade, estabilidade, e o espaço limitado das estruturas cósmicas.
Do ponto de vista Caos-gnóstico, a ilegalidade é a liberdade sem limites fora dos grilhões do Cosmos.
A Evolução é um meio para acelerar todas as coisas retornarem ao Caos, enquanto a estagnação é um meio cósmico para manter tudo em sua forma limitada, adestrada e estruturada.
A Chama Negra é o Fogo Acausal que é a essência “espiritual”, por trás e além das formas causais da consciência humana. É ela a nossa ligação com a essência primordial que é o Caos.
Nosso “Eu” (ego) é formado pelas limitações do Cosmos, enquanto o nosso “Verdadeiro Eu” (Self) é a plenitude de toda a nossa força Acausal que está além da nossa forma humana ou quaisquer restrições. Portanto, o “verdadeiro eu” é identificado como a força sombria e oculta que chamamos de A Chama Negra Interna.
O “Self” é o ponto focal do “Verdadeiro eu”, que se liga (identifica-se como fios de ligações) com o “Verdadeiro Eu” além do Cosmos.
O “Eu” é a nossa mente mundana, enquanto o “Verdadeiro Eu”/Espírito/Chama Interna, existe além dos portões do inconsciente.
Consequentemente, o “Verdadeiro Eu” é uma essência escura e oculta que nos liga ao Caos primordial.
É olhando para o abismo do Self, que podemos encontrar as portas do Caos.
Ao acessar o portal inconsciente para o Self Acausal (Azoth), podemos aumentar a autoconsciência da nossa existência e direcionar o foco do Ego para a chama do Caos interna e criar uma síntese entre o Ego e o Self.
Isto, por sua vez, aumentará a corrente de entrada Acausal no plano causal da consciência (Atazoth), proporcionando a abertura dos olhos do dragão e libertando o Pandimensional “Verdadeiro Eu”. A ponta Inferior (Espiritual) do pentagrama satânico simboliza o “Verdadeiro Eu”, que é limitado e reprimido pelas quatro formações elementares que simbolizam o “Eu” (Ego).
Ao entregar os quatro elementos para a absorção espiritual da Chama Acausal do “Self” é que retornaremos o “Verdadeiro Eu” para o “Verdadeiro Eu” externo, nos libertando e nos tornando um com o Eterno Caos.
O retorno à fonte Acausal pode ser realizado somente através do verdadeiro autoconhecimento (Gnose), o que pode ser conseguido através da real experiência dentro da pandimensional força Acausal.
0 (Zero) é um símbolo do Caos como a dimensão de zeroth, enquanto que 1 (Um) representa a formação e a contrátil força que criou o Cosmos.
Todos os números de um a dez são as diferentes fases do desenvolvimento da causalidade, atingindo o seu ponto mais alto em dez. Dez é a perfeição cósmica.
Este número representa a lei, a ordem, e forma de um círculo vicioso que detém uma parte do Caos primordial dentro de si.
Dez é o ego e a supressão do Acausal “Verdadeiro Eu”.
O número onze, que também é o número do Caos, simboliza o que está além de dez (fora do Cosmos), onze é a ilegalidade, a liberdade e a ausência da forma do fétido círculo fechado.
Onze é a porta de entrada para o abismo, é uma maneira de superar as formas causais.
Portanto, o número onze representa a conclusão, a evolução anticósmica e a introdução da oculta força obscura e Acausal.
O Pentagrama Quebrado com seus onze ângulos e seu Portal das Trevas é o caminho e a porta para a liberdade Acausal que deve ser procurada fora das limitações do Cosmos.
O Dragão é o símbolo mais antigo do Caos.
O Caos pré-cósmico (o Caos Primordial) é representado pelo dragão Tiamat, enquanto o Caos pós-cósmico (O Caos Colérico) é representado pelo Dragão Negro Hubur.
É conhecendo a nós mesmos que trazermos à tona o Dragão Negro/A chama Acausal, e desta forma abrimos os portões para o Caos!
Salve o Caos!
Salve a Caosofia!