sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Shobogenzo

Shōbōgenzō (正法眼蔵? lit. "Tesouro do Olho do Dharma Verdadeiro") foi escrito pelo mestre Zen japonês Dogen entre 1231 e 1253 (ano da morte de Dogen). Diferentemente dos escritos anteriores sobre Zen provenientes do Japão, o Shobogenzo foi escrito em japones e não em chinês como era o costume. Outros trabalhos de Dogen, como o Eihei Koroku e o Shobogenzo Sanbyakusoku foram escritos em chinês. O Shobogenzo Sanbyakusoku (ou Shinji Shôbôgenzô) é composto de cerca de trezentos koans, e não deve ser confundido com o Shobogenzo que é objeto do presente artigo (também conhecido como Kana Shobogenzo).

Kana Shōbōgenzō

Os diferentes textos—referidos como fascículos—que compõe o Kana Shōbōgenzō foram escritos entre 1231 e 1253—o ano da morte de Dogen (Dōgen, 2002, p. xi).

Mosteiro Zen Morro da Vargem

Mosteiro Zen Morro da Vargem é o primeiro mosteiro zen-budista da América Latina, localizado em Ibiraçu, Espírito Santo.

Fundado em 1974 pelo mestre Ryohan Shingu, o mosteiro, localizado a 350 metros de altitude, tem como trabalhos a formação de monges segundo as tradições orientais e a educação ambiental.

Shikantaza



Shikantaza (只管打坐?) é um termo japonês sinônimo de "zazen". Foi introduzido por Dogen Zenji. É associado primariamente à escola zen soto. Significa, literalmente, "apenas sentar".

Shikantaza é um conceito da escola soto de zen que descreve a meditação zazen. Embora a prática de zazen, meditação sentada que une atenção e concentração, pareça visar a certos objetivos e utilizar de certos métodos, a ideia veiculada pela shikantaza é a de que o zazen não deve ser praticado perguntando-se sobre a prática, ou esperando obter-se qualquer benefício, mas simplesmente sentando-se.

Shikantaza, portanto, não possui qualquer técnica separada da atitude mental própria à prática do zazen. Consiste em se separar, no sentido de deixar as sensações e pensamentos emergirem até que desapareçam, sem tentar prolongá-los nem eliminá-los. Desta forma, os pensamentos desaparecem por si mesmos, pelo fato de que o meditante não busca nada em particular.

O shikantaza aponta para a consumação da prática: o despertar da natureza búdica presente em cada um, cuja manifestação era entravada pelo apego, inclusive apego pela própria prática.

Moksha



Moksha (sânscrito: मोक्ष, liberação) ou Mukti (sânscrito: मुक्ति, soltura) refere-se, em termos gerais, à libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual. Na mais alta filosofia hindu, é visto como a transcendência do fenômeno de existir, de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa (carma). Significa a dissolução do senso do ser individual, ou ego, e a avaria total do nama-roopa (nome-forma). No hinduísmo, é visto como uma analogia ao nirvana, embora o budismo tenda a diferir uniformemente da leitura da libertação do Vedantismo Advaita. O jainismo também tem, como meta, o Moksha.

Os principais sistemas filosóficos do hinduísmo consideram que uma entidade viva, especialmente aquela que estiver utilizando um corpo humano, deve ter por objetivo alcançar três metas na vida: kama ou desfrute material dos sentidos; artha ou desenvolvimento econômico e dharma ou religiosidade mundana; ou tri-varga: धर्म = dharma, अर्थ = artha, कर्म = karma.

Kama é o desejo mais ardente, pois como desfrute material entende-se as atividades sexuais, tão bem codificadas no clássico Kama-sutra, além do desfrute do paladar (toda cultura tem seus requintes gastronômicos), do sentido da visão (paisagens), da audição (música, narrativas agradáveis) e do tato (o sentido empregado no sexo é principalmente a sensibilidade táctil).

Para satisfazer o desejo de Kama a entidade viva deve se empenhar em artha, ou atividades realizadas para o desenvolvimento econômico tais como o trabalho em suas diferentes formas. Sem recursos materiais auferidos por artha a entidade viva dificilmente consegue satisfazer seus desejos do kama.

E dharma são as atividades de religiosidade mundana, tais como a moral e os bons costumes, essenciais para se alcançar artha e kama. Uma pessoa sem disciplina, que usa drogas, que não se veste bem, etc. terá dificuldade para se empenhar no trabalho. Num sentido mais profundo, dharma significa retidão e "aquilo que sustenta", a lei moral; estar em harmonia com a lei universal.

É assim que se forma o caminho de trivarga, ou metas ordinárias da existência mundana: dharma gera artha, que compra kama. Moksha é considerada como a meta que está além do trivarga, para aqueles que já estão liberados destas atividades mundanas que prendem as demais entidades vivas, e o paramapurusha-artha, ou o objetivo primordial que uma entidade desfrutando existência mundana deve se empenhar em alcançar.

Satori

Satori (悟り) (悟 chinêswù ; coreano 오) é um termo japonês budista para iluminação. A palavra significa literalmente "compreensão". É algumas vezes livremente tratada como sinônimo de Kensho, mas Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do kensho, que não é um estado permanente de iluminação mas uma visão clara da natureza última da existência, o satori refere-se a um estado de iluminação mais profundo e duradouro. É costume portanto utilizar-se a palavra satori, ao invés de kensho, quando referindo-se aos estados de iluminação do Buda e dos Patriarcas.

Segundo D. T. Suzuki, "Satori é a raison d'être (Razão de ser) do Zen, sem o qual o Zen não é Zen. Portanto todo o esforço, disciplinário ou doutrinal, é dirigido ao satori."

Sanbo Kyodan



A Sanbō Kyōdan (Japonês: 三宝教団,"Escola dos Três Tesouros") é a escola de Zen mais recente do Japão. Foi fundada em 1954 por Yasutani Hakuun, discípulo e sucessor de Harada Daiun. Ambos foram treinados e receberam a transmissão do Dharma na escola Soto, e Harada também completou o treinamento de koans da escola Rinzai. Ainda assim, sentiam-se insatisfeitos com a prática de Zen disponível no Japão.

Para Harada, o Zen no Japão do século XX havia se tornado um sistema formalizado de rituais vazios, em que poucos praticantes realmente atingiam a iluminação, e seus templos haviam se transformado negócios de família, passados de pai para filho, onde os monges limitavam-se a oficiar funerais.

Assim, a Sanbo Kyodan foi fundada para ser uma escola que congregasse tantos as práticas da Soto quanto as da Rinzai, e se focasse em atingir o Satori. Aceitando na prática que tanto monges quanto leigos podem atingir a iluminação, ambos tinham tratamento igualitário, podendo inclusive receber a transmissão do Dharma e ocupar cargos de liderança na hierarquia da escola. Além disso, movidos pelo espírito libertário do Japão pós-guerra, a Sanbo Kyodan recebeu e treinou ocidentais, tanto zen-budistas quanto de qualquer outra religião. Por isso, apesar de ser uma escola pequena no Japão, a Sanbo Kyodan exerceu grande influência no Zen praticado no Ocidente -- mestres como Robert Aitken, Philip Kapleau e o padre Hugo Enomiya-Lassalle foram formados lá.

Abades da Sanbō Kyōdan

Yasutani Hakuun, 1954-1970
Yamada Koun, 1970-1989
Kubota Jiun, 1989-2004
Yamada Ryoun, desde outubro de 2004

Ōbaku



A escola Ōbaku ou Ōbaku-shū (黄檗宗?), frequentemente denominada a terceira seita do Zen Budismo no Japão, foi estabelecida em 1661 por uma pequena facção de mestres da China e seus estudantes japoneses no Mampuku-ji em Uji, Japão. Hoje o Mampuku-ji funciona como o templo Obaku central, com 420 subtemplos espalhados pelo Japão (em 2006).  Além de sua contribuição para a cultura do Zen no Japão, a escola Obaku também "disseminou muitos aspectos da cultura do período Ming" no país. Muitos dos monges que vieram da China eram excelentes calígrafos, e o fundador da Obaku, Yinyuan Longqi, e outros dois mestres Obaku, Mokuan Shōtō e Sokuhi Nyoitsu, tornaram-se conhecidos como os "Obaku no Sanpitsu" (ou, os "Três Pincéis do Obaku"). Steven Heine escreveu, "As áreas onde a influência do — ou da reação ao — Obaku deixaram uma marca no Budismo japonês são inúmeras, e o seu impacto atingiu até mesmo os campos das técnicas culturais japonesas, tais como impressão e pintura.[3] A medicina e arquitetura chinesas também foram introduzidas, bem como a prática de "escrita do espírito"—praticada por monges Obaku os quais diziam-se poder comunicar-se com Chen Tuan.

Originada da linhagem (ou, escola) de Linji e portanto compartilhando uma relação tipo familiar com a escola Rinzai do Japão, o enfoque Obaku da prática revela a influência chinesa nos dias de hoje. Historicamente a escola Obaku é as vezes denominada "Nenbutsu Zen" — uma caracterização pejorativa com o objetivo de descrever seu uso de "práticas Zen e Terra Pura." Helen J. Baroni escreveu que nos dias de hoje, "Com poucas exceções notáveis, como o estilo do canto dos sutras (que ainda é feito numa aproximação do dialeto de Fujian), os templos e monastérios Obaku são muito semelhantes aos seus vizinhos Rinzai." Estatisticamente a menor escola/seita Zen no Japão moderno, a Obaku também assemelha-se à Rinzai-shu no fato de que é conhecida por ser mais conservativa e de inclinação intelectual que a Sōtō-shu.

História

O desenvolvimento da escola Obaku no Japão começou por volta do ano 1620, um período no qual imigrantes chineses estavam indo para Nagasaki, Japão, devido a um decreto pelo shogunato permitindo comerciantes chineses de conduzir seus negócios lá. Os comerciantes chineses, por sua vez, começaram a requisitar que monges da China viessem a Nagasaki "para atender às necessidades religiosas de sua comunidade e construir monastériosno estilo Ming tardio com os quais eles eram familiares." A comunidade chinesa, portanto, ficou animada quando o fundador da escola Obaku, um mestre da escola Linji chamado Yinyuan Longqi (J. Ingen Ryuki), chegou em Nagasaki vindo da China em 1654 com um pequeno grupo de discípulos chineses. Além disso, Yinyuan também estava feliz de sair da China, que experimentava uma guerra terrível. Yinyuan foi para lá com o objetivo declarado de ajudar o crescimento de três templos subdesenvolvidos fundados por imigrantes chineses na cidade. Estes templos de Nagasaki eram conhecidos como os três "templos da boa sorte," respectivamente Kōfuku-ji, Fukusai-ji e Sōfuku-ji. Com o tempo muitos japoneses ouviram falar de seus ensinamentos e viajaram a Nagasaki para vê-lo, alguns dos quais juntaram-se à sua comunidade e tornaram-se seus discípulos. Tendo planejado ficar no Japão por um curto período de tempo, Yinyuan foi persuadido por um grupo de seus estudantes japoneses a ficar no Japão; este grupo conseguiu permissão governamental para que ele se mudasse para Kyoto, onde seu estudante Ryūkai Shōsen queria que ele se torna-se o abade d templo Rinzai Myoshin-ji. Autoridades dentro da organização Rinzai não se interessaram muito pela idéia, principalmente devido a desacordos dentro da congregação com relação à questão se Yinyuan ensinasse um Zen muito chinês para o gosto japonês. Consequentmente, Yinyuan começou a construção do atual templo chefe da Obaku conhecido como Ōbaku-san Mampuku-ji em 1661 em Uji na prefeitura de Kyoto (Ōbaku-san sendo o nome da montanha). Isto marca o início da escola Obaku de Zen Budismo no Japan.

A construção foi completada em 1669, no estilo arquitetônico chinês da dinastia Ming. Com autorização dos líderes bakufu locais (i.e. Tokugawa Tsunayoshi), o Obaku-shu emergiu para revitalizar a prátic Rinzai no Japão. A prática no Mampuku-ji era diferente da de outros templos e monastérios Rinzai do Japão durante este período, sendo muito mais no estilo chinês. Yinyuan trouxe consigo aspectos do Budismo esotérico e do Terra Pura. Segundo Heinrich Dumoulin, "Para a prática Zen em geral, zazen (meditação sentada) e a prática de koan são centrais, ao passo que cerimônia de culto possuem uma importância secundária. Como Obaku pertencia à tradição Rinzai, zazen e koan eram partes da vida diária, mas o ritual também tinha um lugar de grande importância." Além disto, os monastérios e templos Obaku passaram a ser governados por uma doutrina conhecida como Ōbaku shingi, que importou práticas chinesas como a recitação (dharani) do nenbutsu e "procurou preservar o caráter chinês do grupo." Obaku também cantava sutras derivados do Budismo Terra Pura com música chinesa.

Após o retiro de Yinyuan em 1664 e morte em 1673, outros monges que vieram ao Japão por volta da mesma época que ele ajudaram a continuar a tradição da prática em Mampuku-ji. O mais importante de seus discípulos foi Mokuan Shōtō, que tornou-se o segundo abade de Mampuku-ji em 1664. Durantes seu anos de formação, Mampuku-ji foi muito popular no Japão com muitosadeptos vindo ao templo para instrução. De acordo com o livro Últimos Dias da Lei, "Pelo próximo século, Manpuku-ji foi liderado por monges imigrantes chineses, e eles mandaram seus seguidores japoneses fundar outros templos. O Zen Obaku espalhou-se rapidamente pelo país." Pelo meno um abade de Mampuku-ji durante este período inicial da história do Obaku provou ser controverso. Seu nome era Tu-chan Hsing-jung (Dokutan Shōtei), e ele serviu como o quarto abade de Mampuku-ji. Críticos o acusaram de levar a ênfase da recitação do nenbutsu no Mampuku-ji longe demais, e ele é chamado pejorativamente hoje em dia "Nenbutsu Dokutan."

Talvez o mais importante praticante de Obaku além de Yinyuan Longqi foi Tetsugen Dōkō, um japonês que viveu entre 1630 e 1682. Tetsugen é lembrado por ter transcrito o Tripitaka chinês do período Ming para blocos de madeira—conhecido como o Tetsugen-ban ou Ōbaku-ban (ban significa edição). Tendo estudado Jodo Shinshu do Japão, Tetsugen encontrou Yinyuan pela primeira vez em 1655 em Kofukuji em Nagasaki e acabou juntando-se à escola Obaku. O primeiro abade japonês do Mampuku-ji assumiu a liderança do Obaku em 1740, um certo Ryūtō Gentō. A partir de 1786 até os dias de hoje, o Obaku tem sido liderado exclusivamente por japoneses.

Características

As práticas monásticas da Obaku-shu eram determinadas principalmente pelo Ōbaku shingi (ou, regras Obaku), composto em 1672 com dez seções indicando o regime de prática no Mampuku-ji. Steven Heine escreveu que "O texto refletia algumas poucas evoluções que haviam tido lugar nos monastérios chineses desde Yuan, mas era exatamente na tradição das regras clássicas de pureza como o Chanyuan qingui e o Chixiu baizhang qingqui." É interessante notar que o ramo Rinzai Myoshinji escreveu seu próprio conjunto de regras monásticas (escrito por Mujaku Dōchū) em resposta a isto em 1685. Claramente Myoshinji estava preocupado sobre a perda de estudantes para a Obaku, que estavam crescendo em popularidade. "A ênfase da Obaku nos preceitos e a observação estrita das regras monásticas do Ōbaku shingi parece ter estimulado e encorajado alguns mestres japoneses com inclinações similares. Na escola Sōtō, por exemplo, os mestres chineses influenciaram os códigos monásticos de reformadores tais como Gesshū Sōko e Manzan Dōhaku que haviam estudado sob mestres Obaku."

A escola Obaku enfatizava a adoção de vários preceitos e também observava o Vinaia e o Dharmagupta bem como tradução de sutras. Mas talvez a característica mais óbvia para o povo japonês era o uso do nembutsu e também o uso do "koan nembutsu." Isto compreendia a prática de recitar o nome de Amitabha durante a prática do koan, "Quem recita?" Embora estranha aos japoneses (apesar desta "prática dupla" ter sido introduzida no Japão já no século XIII), isto era muito comum no Ch'an do período Ming, onde não havia divisão sectária entre budistas Terra Pura e praticantes de Ch'an. Steven Heine escreveu que, "...independente de sua inclusão de elementos do Terra Pura, o fato permanece que a escola Obaku, com sua prática de zazen em grupo nas plataformas do salão de meditação e sua ênfase na observação dos preceitos, representava um tipo de disciplina monástica bem mais rigorosa que qualquer outra escola de Budismo existente naquela época no Japão." Como resultado dessa ênfase, muitos mestres Rinzai e Sōtō passaram a reformar e revitalizar suas próprias instituições monásticas, como por exemplo o mestre Rinzai Ungo Kiyō que começou até mesmo a implementar a prática do nenbutsu no regime de treinamento no Zuiganji. T. Griffith Foulk escreveu que, "Os seguidores de Hakuin Ekaku (1687—1769) tentaram eliminar os elementos de Zen Obaku que eles achavam questionáveis. Eles suprimiram a prática Terra Purade recitar o nome do Buda Amida, diminuíram a ênfase no Vinaia e substituíram o estudo dos sutras pela ênfase nas coleções tradicionais de koan." Além disso, os sutras budistas na Obaku-shu continuam a ser cantados em chinês até os dias de hoje. Mampukuji também é conhecido pelo seu estilo de culinária vegetariana conhecida como Fucha Ryori, introduzida por Yinyuan e seu grupo.

Templos notáveis

Templo chefe

Mampuku-ji A construção iniciou em 1661 e foi concluída em 1669. Localizado em Kyoto, Mampuku-ji serve como o templo chefe da escola Obaku. É um "exemplo raro" de um templo construido puramente no estilo arquitetônico do período Ming chinês no Japão.

Subtemplos

Fukusai-ji Fundado em 1628 em Nagasaki e posteriormente destruido em 1945, Fukusai-ji foi reconstruido no fomato de uma tartaruga com uma estátua de aluminio de 18 m de altura de Kannon, a Bodhisattva da compaixão.

Kofuku-ji (Nagasaki)
Ryūshin-ji
Shōhō-ji (Gifu)
Sōfuku-ji (Nagasaki)
Toko-ji
Zuishō-ji