quarta-feira, 26 de junho de 2024

O que é Kimbanda


Muitos escritores de livros de Umbanda separam Kimbanda de Quimbanda, o que é um grande erro! São apenas grafias diferentes, a primeira é a representação gráfica da língua Quimbundo ou Umbundu e a outra do Português, que significam a mesma coisa. Os portugueses transliteraram a palavra kimbanda para quimbanda, sendo este termo mais utilizado fora de Angola.


Crê-se, no Brasil, infelizmente, que Kimbanda ou Quimbanda seria uma prática de “magia negra”, com a utilização dos Exus e Pombagiras – Bombogiras, Pombogiras (do Kimbundo: Mpambu Nzila (ou Njila) – “Caminho que se entrecruza”) para a realização de feitiços e trabalhos maléficos. Dão a essas entidades o status de criaturas malévolas por excelência, sendo a Kimbanda o culto ou prática onde eles devem se manifestar. O intuito desse artigo é evitar esse entendimento errôneo.


Quero destacar, inicialmente, que a Kimbanda (ou a palavra em português Quimbanda) não tem nada a ver com os demônios da Goécia, “Magia Negra”, ou qualquer coisa nesse sentido, nem mesmo o trabalho exclusivo com Exus e/ou Pombagiras. Esse entendimento também é errôneo! O panteão da Kimbanda possui todos os seres que se manifestam na Umbanda e em outros cultos afro-brasileiros ou afro-ameríndios, tais como Preto(a)s-Velho(a)s, Caboclos etc.


Não se aguenta mais atribuírem à Kimbanda um culto satânico (no mau sentido) de destruição e morte. Chega dessas parvalhices e imbecilidades! Veem-se sites, aos montes, afirmando que Exu Marabô é o demônio Put Satanakia ou que Exu Tranca-Ruas é o demônio Tarchimache. Quanta irresponsabilidade! O pior é que muitos acreditam nisso!!! Apenas como esclarecimento: esses nomes vêm do livro chamado de Grande Grimório, escrito pelo Papa Honorius I ou Honorius III (não se sabe ao certo), fruto da imaginação demoníaca que os católicos medievais tinham a respeito do mundo espiritual, que deveria ser habitado por demônios e seres malévolos.


Alguns ditos “acadêmicos” de Umbanda escrevem muitos disparates a respeito do vocábulo Kimbanda, tal como o “Mestre” Itaoman, influenciado pela Umbanda Esotérica de W.W. da Matta e Silva que diz, referindo-se a uma pretensa guerra mágica espiritual entre o “bem e o mal”:


“Ergueu-se, assim, dos confins do Reino das Sombras, sob o impulso do ódio de uma das partes e da maldade da outra, do sangue derramado pelos dois lados, uma ‘Corrente Maléfica’, que atraiu os piores Magos Negros de todas as épocas, formando-se a ‘Kimbanda’, que é o ponto de perversidade das raças martirizadas.”1


Nós não mais podemos ler tantos absurdos como, por exemplo, o que escreve MAES (1997, 165-166), “canalizador” de uma bazófia transmissão do espírito Ramatis:


“o umbandista é o médium, o cavalo, o mago ou o filho do terreiro que deve praticar unicamente o bem; o quimbandeiro é o médium, o cavalo, o mago ou o filho do terreiro que pratica exclusivamente o mal. O primeiro é o intérprete das origens angélicas, o segundo é o marginal, o feiticeiro o discípulo das fontes diabólicas.”2


Quanta imbecilidade em tão poucas linhas! Será que isso foi realmente “canalizado” de um espírito “de luz”, como se apregoa? É claro que não! Isso apenas representa a pequenez mental do pretenso médium, este sim nas trevas da ignorância! O que escreve é a vazão de seus pensamentos tacanhos e sem conhecimento, eivados por uma total ignorância da origem histórica dos cultos afro-brasileiros. É exemplo claro do racismo e intolerância que existe em nosso país.


A Kimbanda, assim como todos os demais cultos afro-brasileiros ou afro-ameríndios, tem panteão próprio, bastante semelhante à Umbanda brasileira e que não tem nenhuma ligação com o mal, com anjos caídos e com demônios. Aos idiotas e imbecis que pensam diferente só dou um conselho: aprimorem-se!!


Inicialmente quero destacar que este artigo tem como base a obra “O que é Umbanda”, de Armando Cavalcanti Bandeira (Rio de Janeiro: Ed. Eco, 1973, pág. 31-37), utilizando-se, ainda, várias fontes de pesquisa, inclusive de textos escritos em Angola e em outros países.


ANÁLISE

Tem havido muita confusão entre os termos umbanda e quimbanda, inclusive nos significados etimológicos.


Há páginas e mais páginas escritas sobre o uso do termo Umbanda. Quer-se acreditar que a primeira vez que foi empregado teria sido na famosa reunião espírita em Niterói – Rio de Janeiro, quando houve a segunda manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas (no dia 15 de novembro de 1908). Este fato é o mito fundador da Umbanda. No entanto, é inverídico. Conforme exporemos ao longo deste artigo, ver-se-á que a palavra Umbanda já havia sido registrada no Séc. XVII em terras, hoje, Angolanas.


Queremos, de uma vez por todas, dizer que aquilo que as pessoas dizem modernamente ser Kimbanda ou Quimbanda não tem nada a ver com a origem do termo. O uso incorreto da palavra Kimbanda ou Quimbanda é fruto do mar de ignorância histórica que banha nossos Terreiros de cultos afro-brasileiros. A má fama da Kimbanda ou Quimbanda advém de desgraças históricas: a escravização e a imposição do cristianismo católico em terras Bantu3.


No final do Séc. XV Dom João de Portugal enviou uma expedição ao Congo, comandada pelo navegador Diogo Cão, composta por padres, monges, soldados, camponeses e profissionais liberais com o intuito de formar uma sociedade nos moldes europeus. Esse envio foi em atendimento à requisição do Rei, o Manicongo, que foi batizado Católico e queria que seu reino fosse como a Europa. O Manicongo enviou seu neto a Roma (Vaticano) para estudar e se tornar Padre. Este, Dom Henrique I, foi o primeiro Bispo negro (1521). O Manicongo e seus sucessores obrigaram todos os súditos a se tornarem católicos. No entanto, essa não foi uma opção agradável a eles, sendo que muitos preferiram se manter ligados a sua religião tradicional.


Dessa forma, aqueles que praticavam o catolicismo eram considerados “homens de Deus”, pois seguiam uma religião correta. Aqueles que seguiam a religião tradicional, como a Kimbanda, entre outros cultos tradicionais bantu, foram considerados “homens do diabo”, pois professavam uma religião primitiva e atrasada, típica do demônio. Esse entendimento chegou até nós por meio da escravização, pois os que se negavam a se converter, de boa vontade, ao catolicismo eram feitos escravos.


Em que pese a negativa de conversão, ainda assim, antes de serem embarcados nos navios negreiros, os escravizados eram “batizados” à força. “Em Angola os escravos eram batizados enquanto aguardavam embarque nos barracões dos portos portugueses quando recebiam um nome cristão”.4 O batismo católico compulsório, feito antes do embarque nos navios, não livrava os escravos de serem humilhados pelos traficantes, que os tratavam como “seguidores do demônio”.


Ao chegarem aqui, esses escravizados continuaram com sua prática religiosa, mesmo sofrendo todo tipo de perseguição, utilizando-se de vários subterfúgios para isso, como a sincretização de seu panteão com os santos católicos, por exemplo (algo que já havia acontecido em África e não somente nas Américas). Aliado a isso houve uma incorporação do valor “ser do demônio” como uma estratégia de proteção, pois ao assumirem serem adeptos da Kimbanda causavam medo nos senhores feudais e em outros negros, que, por receio, muitas das vezes, não os agrediam e lhes davam um status superior.


Além da escravização e da imposição do catolicismo na África há outro motivo que nunca poderá ser olvidado: o preconceito, oriundo do racismo, conforme apontam Phaf-Rheinberger & Pinto:


“A Umbanda vem de Angola. Neste país o termo [Umbanda] significa “medicina tradicional” ou “prática tradicional de cura”. Aquele que é responsável por essa prática médica é chamado de Kimbanda. No Brasil esse conceito angolano foi reinterpretado. Umbanda tornou-se algo como uma religião que promove o contato com o mundo transcendental, através da iniciação do médium (gn). Da mesma forma é usada, por vezes, como sinônimo do conceito brasileiro de magia branca (magia boa, magia de cura). A palavra Kimbanda surge no Brazil com a grafia Quimbanda, mudando-se totalmente seu sentido original. Não se refere mais a uma pessoa, mas a uma força oposta à magia de cura, sendo chamada de magia negra. Por que isso aconteceu? Reinterpretações possuem um propósito psicológico. Elas satisfazem as necessidades das pessoas que podem ser inconscientes. Estamos assistindo ao que uma sociedade essencialmente racista está fazendo com a terminologia africana. Enquanto a Umbanda, com uma prática de cura de fundo religioso, é aceita no Brasil, o praticante africano desta arte de cura não é aceito. Assim, a ideia original do termo quimbanda foi despersonalizada. Tornou-se um símbolo das forças do mal, da bruxaria. Os conceitos angolanos originais do termo foram reinterpretados em termos de uma dicotomia bastante racista, sendo o negro sinônimo de demoníaco e o branco de bondoso.”5


Como bem aponta ORTIZ, houve, no Brasil, um abandono dos significados originais dos vocábulos Kimbanda e Umbanda, até opô-los sistematicamente, considerando Kimbanda como “magia negra” e Umbanda “magia branca”.


“No Brasil ocorre uma separação da arte do Kimbanda, de sua pessoa de sacerdote-feiticeiro; o Kimbanda é expulso para a região da Quimbanda enquanto parte de seu saber, a Umbanda, é reinterpretado segundo os valores da sociedade brasileira. Uma curiosa inversão se opera: a Umbanda transformar-se em magia branca em oposição à Quimbanda, magia negra.”6


Para BANDEIRA (p. 34) a palavra Kimbanda, oriunda da língua Quimbundo, não pode ser confundida com feiticeiro, pois designa funções diferentes: “o curandeiro é o Kimbanda, o feiticeiro é o Muloji”. Para afirmar isso, vale-se das palavras do Padre Antônio Miranda de Magalhães, que viveu muitos anos em Angola e publicou o livro Alma Negra, editado em Lisboa, em 1936, no qual afirma que o “mezinheiro, preparador de ervas, não deve ser confundido com o feiticeiro”7. Ilustra isso com uma expressão, em quimbundo, que define muito bem a diversidade funcional entre os dois: “O KIMBAND ‘EKI KI MULOJI É” (Este curandeiro não é feiticeiro); e outra frase: “NGEJIAMI UMBANDA” (Conheci a arte de curar).


BANDEIRA (P. 34) nos lembra que em 1894 Heli de Chatelain, em seu livro Folktales of Angola, registrava o termo Umbanda e Kimbanda e mostrava a sua derivação gramatical e significado, como é encontrado em qualquer dicionário Quimbundo, assim, nada há de mais claro e positivo. Isso vai de encontro aos inúmeros livros umbandistas que afirmam que o termo foi utilizado pela primeira vez no Brasil, quando do evento conhecido como a segunda manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ora, sabe-se que quando do início da Umbanda havia uma luta para dar um nome adequando àquele movimento. Primeiramente se pensava em usar o termo Embanda (uma corruptela clara de Imbanda, plural de Kimbanda, que será explicado ao longo deste artigo), porém não soava bem. Houve também, a proposta de se utilizar Alabanda, pois segundo alguns autores um dos espíritos incorporados por Zélio de Moraes era um malaio muçulmano (conhecido como Orixá Malet), portanto Alabanda seria traduzido como da “banda de Alá”. Entretanto, a melhor opção encontrada foi o uso do termo já grafado (desde o séc. XVII) e conhecido entre os descendentes angolanos, ou seja, o termo Umbanda.


Etimologicamente o substantivo KIMBANDA (que significa, em Angola, curandeiro, médico ocultista), sendo que ao se substituir o prefixo KI por U, forma-se um nome abstrato, o qual designa arte ou ofício. UMBANDA, então, é a arte de curar, ofício de ocultista.


BANDEIRA (p. 34) afirma, em sintética análise de obras que consultou (as quais foram referenciadas por este articulista para que o leitor possa, ele mesmo, aumentar suas pesquisas) que Umbanda teria os seguintes significados:


“Termo da língua quimbundo, comum a várias tribos e línguas africanas especialmente entre os Umbundos e, segundo o etnólogo Carlos Estermann é bastante usado entre os Nhaneka-Umbi e igualmente conhecido pelos Cunhamas, embora nestes com menos frequência em seus cultos; entretanto não se restringe a Angola, pois, é encontrado na Guiné nos cânticos de invocação espiritual. Abrange alguns significados semelhantes: arte de curar, magia, segundo o Padre Domingos V. Balão e J. Cordeiro da Mata.”8


“[…] bruxaria, magia, arte ou magia de encantar.”9

“[…] ciência médica ou ciências médicas; originando-se de KIMBANDA, médico.”10

“[….] arte de curar originando-se do verbo KUBANDA, subir, de onde deriva o vocábulo KIMBANDA, curandeiro, do qual resulta o substantivo UMBANDA.”11

BATSTONE, por sua vez, traz definições ao vocábulo Umbanda:


“A palavra Umbanda vem originalmente da língua Kimbundo (uma das línguas falada em Angola) sendo usada para descrever objetos religiosos e o líder religioso, também chamado de Kimbanda. No Brasil a palavra Umbanda foi aplicada, a partir dos anos 1930 (gn), para designar um novo sistema religioso de grande apelo para a classe média, que sintetizou elementos nativos brasileiros, bem como elementos africanos e europeus. Da cultura indígena se apropriou do herbalismo e da imagem heroica do Caboclo; dos africanos se apropriou de elementos rituais do Candomblé, da Europa absorveu o catolicismo popular e o espiritismo de Allan Kardec.”12


O etnólogo e historiador Oscar Ribas, define a Umbanda como ciência de Quimbanda13, referindo-se sobre a origem quanto ao termo “Kubanda”. BANDEIRA supõe que Kubanda se trata do verbo “subir”, pois o espírito “segundo a concepção bantu, vem de baixo (da terra) para cima, e não de cima para baixo, como os espíritas acreditam”.14


BANDEIRA (p.35) cita a etnologista Ana de Sousa Santos, do Instituto de Investigação Científica de Angola, que faz um estudo detalhado sobre o vocábulo Kimbanda e sua relação com o termo Kubanda:


“Se na combinação de regras gramaticais se pode aceitar o modo como se articula o prefixo e radical de “Kubanda” para resultar “KIMBANDA”, e a relação desses vocábulos com Umbanda tal como apresenta Cavalcante Bandeira, de acordo com o que preceitua José L. Quintão , a verdade é que em razão funcional e etimológica do termo ‘Kubanda’ tal ligação deve ser rejeitada. Por isso, diz muito bem o autor: “Não podemos entender a modificação de sentido por falta de relação direta ou indireta da palavra ‘banda’ que hoje na concepção usada não tem qualquer relação com o Quimbanda. De fato, o termo “quimbanda” (quimbanda), a nosso ver não derivou de “Kubanda”, subir, galgar, mas certamente de “kubanda” (note-se que há variações e pronúncia) consertar, remendar. Ora, visto uma das funções do curandeiro ser exatamente a de consertar os males físicos dos mortais, é muito natural que dali proviesse sua origem, ou então de “Kubanda”, sinônimo de prescrever, visto que receita, aconselha, prescreve, etc (…) mas há mais, também ao verbo “kubanda” é atribuído o significado de desvendar. Outorgando-se à missão do “kimbanda” cuidar do mistério das enfermidades psíquicas que, como se sabe, para isso, esse agente recorre às cerimônias de adivinhação, assim se estabelece mais uma relação entre “Kubanda” e “Kimbanda”. Quanto à “kubanda” (ou banda) com o significado de subir, só aparece em toda a atividade de “quimbanda” e em práticas religiosas ou mágicas religiosas, pelo menos dentro do que temos conhecimento durante as sessões dos “ilundu” (espíritos), quando o médium começa a entrar em transe, mas só no sentido de incitamento e aplauso. Com respeito ao vocábulo Umbanda, se ele não pode servir para rotular um culto africano, como muito bem salienta Cavalvanti Bandeira, pode-se admitir que entre os bantos ele seja como que uma convergência de elementos culturais religiosos. Em Luanda, tem a Umbanda ainda hoje uma feição característica apreciável como expressão de um processo ritualista orientado por uma entidade – a mãe de umbanda – (Mamy ia umbanda) – ou pai de umbanda (Pai ia umbanda), conforme for o sexo feminino ou masculino. Modernamente há nesta sociedade quem traduza essa expressão por madrinha ou padrinho.”15


JAMES e BROADHEAD na obra Historical dictionary of Angola dão o seguinte significado à palavra Kimbanda: “Adivinho que herdou ou adquiriu as habilidades necessárias para se comunicar com o mundo espiritual”.16 Acrescentam que “o Kimbanda pode manter contato com os espíritos dos antepassados para saber se eles foram ofendidos por alguém e, em caso afirmativo, como resolver a questão”17.


O escritor, músico e compositor Nei Lopes, em seu famoso Novo Dicionário banto do Brasil, dá para o vocábulo Quimbanda um dos seguintes significados:


“Sacerdote de cultos de origem banta. Do quimbundo kimbanda, sacerdote e médico ritual correspondente ao quicongo nganga. O termo se distingue de outro como o quimbundo muloji e o quicongo ndoki, que designam o feiticeiro, agente de práticas que objetivam malefícios.”18


Assim, o Kimbanda é um médico, que utiliza a Umbanda, ciência(s) médica(s). No Candomblé de tradição banto, ou conhecido como Candomblé Angola, Kimbanda é o nome do Rito praticado, sendo o Sacerdote chamado de Táta Kimbanda (Pai de Quimbanda), assim como é chamado, também, no culto de Kimbanda, o Sacerdote.


Para RIBAS o Kimbanda desempenha as funções de adivinho e de médico, ambas necessárias para a cura de doenças. Cita outros agentes religiosos angolanos tais como muloji (feiticeiro), o kilamba (ministro do culto de espíritos ctónicos designados por yanda19), ou múkua-mbamba (homem-do-chicote que persegue os feiticeiros). Para o autor “os dois primeiros agentes, o kimbanda e o mulôji, distinguem-se na sua prática e ciência, respectivamente umbanda, como arte de curar e uanga, como feitiço, malefício”20.


Continua RIBAS:


“O adivinho que promove a ligação entre vivos e mortos pode acumular o papel do Kimbanda, o que detém poderes para curar doenças do corpo ou da alma, mediante rituais de invocação dos espíritos dos antepassados, oferendas e “limpeza” dos elementos atingidos pelo malefício.”21


TENGUNA diz que:


“Os sacerdotes encarregados de chamar os espíritos do passado, do funeral do rei e da investidura de um novo rei, dos rituais de iniciação na idade adulta das moças e rapazes eram chamados de kimbandas, pessoas de ambos os sexos, especialmente preparados para exercer essas funções e era entre eles que se encontravam os ‘artistas’: os contadores de histórias, os músicos, os dançarinos e os artistas plásticos, os escultores e os pintores de estatuetas e das máscaras. Chamavam os espíritos benéficos e tinham, evidentemente, competência de curar doenças e resolver conflitos sociais. Faziam-no frequentemente por adivinhação, ou seja, consultando os espíritos. […] Também havia espíritos do mal. Estes não eram chamados pelo Kimbanda e sim pelo Muloji (o feiticeiro ou bruxo) e eram pagos para causar desgraças a alguém.”22


O etnólogo Arthur Ramos em seu livro “O Negro brasileiro” nos informa:


“O grão-sacerdote chama-se quimbanda (ki-mbanda), ao mesmo tempo médico, adivinho e feiticeiro. Em Angola, fazem os negros a distinção entre o “Kimbanda Kia Dihamba”, o verdadeiro chamador ou invocados dos espíritos e o “Kimbanda Kia Kusaka” ou feiticeiro que cura doenças. Costumam, ainda, em algumas regiões de Angola, fazer a distinção entre o “Nganga” ou “Ganga” (derivado do “nganga”, senhor) que seria o cirurgião principal, o verdadeiro sacerdote e o Quimbanda o curandeiro. No Brasil o mesmo Embanda (Imbanda) cumpre as duas funções.”23


Em Angola a palavra Imbanda24 (Embanda) é o plural de Kimbanda. Já ‘Mbanda (Umbanda) é a arte de curar desenvolvida e praticada pelos Imbanda”25 banto, de Angola, passada por tradição oral de geração em geração com bastante zelo. Esta arte ainda é praticada em toda Angola como parte do sistema religioso tradicional. Muitas gerações angolanas foram salvas de pestes, epidemias, doenças incuráveis, doenças espirituais e emocionais, por meio desta arte milenar de curar. Desde tempos mais remotos Angola foi sempre terra de muitas artes curativas, praticadas pelos Imbanda, também conhecidos como Otyimbanda (curandeiros).


O poeta português Tomaz Vieira da Cruz, que viveu muitos anos em Angola, nos brinda com um belo poema, chamado “Buzi”. Em uma das estrofes desse poema lemos:


“Buzi, ó flor do Songo [cidade angolana],

para males da muxima [coração],

Kimbanda não tem milongo!” [cura].26


O Vocabulário Kimbundo-Português de Alberto Oliveira Pinto nos traz a palavra Kimbanda com o seguinte significado: “Kimbanda (plur. Imbanda) – Especialista de magia Mbundu e Imbangala, havendo vários tipos, consoante o espírito que tratavam e os meios que utilizavam (t. kimbundu).”27


O Kimbanda também lança mão de métodos de adivinhação e vatícinio, sendo os mais conhecidos o transe, o muxacato, jimbamba (búzios), ngombo ya cisuka (tipo de adivinhação), o trabalho com os Inkice (divindades semelhantes aos Orixás), etc. Por meio desses vários métodos o kimbanda desvenda as origens das doenças, indica às pessoas as causas ambientais, espirituais ou mágicas das doenças e as aconselha com receitas da mesma ordem, não deixando, nunca, de recorrer à farmácia da natureza. Faz, também, o diagnóstico tradicional e já utilizava, no passado, antes da colonização, p.ex., o cordão umbilical para tratar doenças da infância. A zooterapia foi também muito usada, para tratar doenças mentais. A massagem tradicional angolana foi e ainda é muito usada pelos Imbanda.


O Jornal de Angola, edição de 24/09/2010 traz uma reportagem sobre o Kimbanda (Sacerdote) Xanene, personagem importante da região de Lobito, uma cidade do Estado de Benguela, Angola:


“Xanene é um kimbanda bastante conhecido na cidade do Lobito pelo tratamento que faz com raízes, pós, fumaças e banhos. A sua acção curativa tem maior incidência nas pessoas com problemas psíquicos. São vários os pacientes que depois de passarem por hospitais, clínicas, centros de medicina natural e ervanárias, o procuram. A maior parte dos doentes que passa pelas suas mãos regista melhorias, por isso vai tratar doentes a todas as regiões do país, inclusive a Luanda. Fruto do seu trabalho, é um dos poucos kimbandas reconhecido pelas autoridades provinciais, podendo tratar os pacientes em sua casa, no bairro do Alto Esperança, na cidade do Lobito, onde tem quartos para internamentos.”28


Na província do Bengo estão situados os dois principais centros de devoções de Angola, onde o sincretismo entre as tradições angolanas e católicas, andam de mãos dadas: Igreja da Santa Ana, em Caxito na capital do Bengo e Senhora da Muxima, no município de Muxima, província do Bengo. Desde o século XVI, nas Igrejas da Santa Ana e da Senhora da Muxima, durante os 365 dias do ano, ora-se com a fé que move montanhas. Pela intercessão dessas duas poderosas “intercessoras divinas”, milagres sem conta, aconteceram no passado e continuam a acontecer na vida dos angolanos. Lamentável a falta de divulgação desses milagres. Os rios Bengo, kwanza, Ndanji, lagoa da Ibendua e outros cursos de água, fazem parte do grande misticismo do Bengo, pela crença popular na kianda (singular de yanda) a divindade feminina da mitologia Banto, que vive nas aguas do planeta. Rituais da Sagrada Tradição angolana, são realizados, desde os tempos mais remotos, nos rios e lagoa aqui mencionados. Artes curativas tradicionais são mais uma evidência do misticismo do Bengo. Umbanda é uma das artes de curar desenvolvida e praticada pelos povos banto, e continuada pelos seus descendentes, os angolanos. A Umbanda é praticada em toda Angola e na diáspora banto, como parte dos sistemas religiosos dos povos banto e angolano.


Ignorantes, que desconhecem tudo aquilo que escrevemos anteriormente, falam as piores sandices que se podem imaginar, citando, por exemplo, a chamada “kimbanda malei”, sendo esta oriunda da “má lei” para alguns idiotas ou do termo malê (do yorùbá Ìmàlè), que designa o seguidor da religião islâmica, dizendo que a Kimbanda seria a reunião das práticas dos feiticeiros muçulmanos.


Um “autor” de historinhas “para boi dormir”, escreveu o seguinte absurdo:


“Malei é uma palavra que realmente deriva do povo Malê – portanto encontramos uma forte presença de magia árabe/sufi e Marabô realmente é o chefe dessa linha, por causa de sua conexão com os feiticeiros muçulmanos do norte da África Ocidental, chamados de Marabos [Marabouts]”.


É difícil de entendermos como alguém pode se dizer kimbandeiro e escrever essa idiotice, que não possui nenhuma base. Vamos esclarecer, então:


Malei vem do Orixá Mallet que Zélio Fernandino de Moraes, o precursor da Umbanda, incorporava. Zélio dizia que o Orixá Mallet era um “tipo de Ogum” e que o protegia;

Malê não era um povo, mas era como os yorùbá (grupo etnolinguístico que está distribuído em vários países da África Ocidental) não muçulmanos chamavam os negros muçulmanos, conforme citei anteriormente. A palavra yorùbá que dá origem ao termo é Ìmàlè;

O Exu Marabô, ao qual o “autor” se refere, cujo nome não tem nenhuma ligação com o termo Marabout, pois este é o professor de Alcorão, conselheiro político e religioso; alguns Marabout praticam a medicina tradicional africana, sendo que na linguagem berbere é sinônimo de santo, enquanto que o nome Marabô, dado ao Exu (Orixá), vem da seguinte cantiga, feita em língua Yorùbá (portanto não tem nada a ver com a língua Kimbundu):

“A jí kí Barabo ẹ mo jùbá, àwa kò ṣé

A jí ki Barabo e mo jùbá,

e ọmọdé kọ èkọ́ kí Barabo ẹ mo juba

Ẹlẹ́gbára Èṣù l’ọ̀nà”


Tradução:

Acordamos e cumprimentamos (saudamos) Barabo,


que vós não nos façais mal


Acordamos e cumprimentamos (saudamos) Barabo,


A criança aprende na escola que deve saudar Barabo,


Senhor da Força, Èṣù dos caminhos.


Portanto, vê-se, claramente que Barabo é um Oriki, uma louvação, a Èṣù, que pelo uso lingüístico acabou se tornando Marabô.


CONCLUSÃO

As práticas dos Imbanda (plural de Kimbanda), provenientes de crendices ou não, são artes que existem realmente e as terapêuticas tradicionais dão e sempre deram muito bom resultado. Sem terem apoio da ciência moderna, ou da medicina ocidental, os Kimbanda (Imbanda), prestam um serviço à comunidade, sendo capazes de diagnosticar, prevenir, tratar e curar as doenças próprias da época, hereditárias ou não. Com os seus conhecimentos e experiência em terapêuticas obtidas a partir dos seus conhecimentos da natureza e dos recursos naturais agrícolas, florestais, hídricos, e minerais os kimbanda asseguraram, no passado, a saúde pública em Angola. Presentemente, apesar de continuarem com as suas práticas de medicina tradicional, são mais procurados pelas suas capacidades como xamâs.


Desde a antiguidade, Angola foi sempre terra de muitas artes curativas, praticadas pelos imbanda. Homens e mulheres, verdadeiros artesãos da cura, abençoados por Nzambi (Deus) com o dom de curar, conhecedores e bastante experientes em terapias sobrenaturais e naturais. Os grandes mestres Kimbanda, da região dos Ambundu, eram e são da província do Bengo, nomeadamente do Dande. Eles asseguraram, durante muitos séculos, a saúde publica em todas as tribos de Angola, sem necessitar de fundos internacionais ou apoios de governo e/ou da OMS (Organização Mundial da Saúde). Para promover e salvar esse grande carisma de curar, oferecido por Nzambi (Deus) aos angolanos, está-se, hoje, a organizar na diáspora, a revista M’banda, de medicina natural angolana, onde as terapêuticas são organizadas a partir de recursos naturais, agrícolas, florestais, marinhos, hídricos e minerais de Angola. No passado, famílias portuguesas, aderiam a esta arte, para resolver situações que a medicina não conseguia debelar. A terapêutica tradicional angolana comporta duas partes distintas: parte sobrenatural e a parte farmacológica.


O Kimbanda, aquele que está apto a oferecer a cura física e espiritual das pessoas, sempre trabalhou a fim de restaurar a ordem moral da comunidade em que estava inserido. O universo moral banto, oferecido pelas artes do Kimbanda, foi explicitamente usado como um escudo psicológico, que deu à população grande nível de autoconfiança e lhes permitiu enfrentar a dominação e exploração levada à cabo pela colonização portuguesa. Era o que lhes dava alento para continuarem a sobreviver.


Durante a cruenta guerra civil em Angola, acontecida depois da independência desse país, os Imbanda tiveram papel preponderante, pois eram eles que ofereciam auxílio psicológico às vítimas da guerra (vítimas de estupro, soldados em crise, órfãos, viúvas etc). Como é possível uma arte tão bela e maravilhosa ter recebido a pecha, em nossa pátria, de coisa do mal, do demônio, da ignorância? Ora, poupem-me!!!!


A diferenciação que muito se faz entre Umbanda e Quimbanda, infelizmente, se dá pelo projeto iniciado nos anos 1940 de embranquecimento da Umbanda, fruto do racismo e do eurocentrismo que grassava na classe média daquela época. O 1º Congresso de Espiritismo de Umbanda foi o carro-chefe desse entendimento, quando se concluiu que era necessário tirar da Umbanda “as práticas primitivas dos negros africanos”. Dessa forma, a Quimbanda seria o contraponto da Umbanda, esta dos brancos e evoluídos, aquela dos negros e atrasados. Uma dicotomia que se observa na sociedade em geral. Não podemos mais admitir isso! É chegada a hora de haver seriedade naquilo que se faz e pratica.


Para encerrar, quero dizer que o simples fato de inúmeras pessoas que se auto-intitulam “Pais de Santo” ou “Mães de Santo”, dizerem que praticam a Quimbanda, que trabalham com Exus e Pombagiras, que são aptos a fazer malefícios, feitiços e amarrações, prometendo trazer “a pessoa amada em sete dias ou seu dinheiro de volta”, não faz com que a Quimbanda se resuma ao que falam. São um bando de safados e sem-vergonha, que exploram as crendices dos incautos. Mais uma vez, poupem-me!!!


REPERCUSSÕES

Depois da publicação deste texto na “Internet” pela primeira vez, recebi muitas mensagens de felicitações e agradecimento, em que pese algumas opiniões contrárias que foram escritas. Uma delas me chamou atenção e pelo respeito que tenho pelo interlocutor que ma escreveu, colo-a abaixo e tentarei respondê-la em seguida:


“Desculpe Mário. Não vou entrar em detalhes, mas o texto está incorreto. A Kimbanda é um culto feiticeiro, e a Umbanda é um culto religioso. São coisas diferentes. O praticante e iniciado em Kimbanda é o Kihuendê, termo que significa, feiticeiro, necromante, comunicador dos mortos. Falam muita bobagem por aí de fato. Várias delas, por exemplo, ao dizer que um Exu (ou Mavambo) seria um ser de luz, um escravo de Orixá ou, um espírito em evolução. Muito pelo contrário. São seres noturnos e contraproducentes. Um Kihuendê é um feiticeiro, não um curandeiro. Todas as visões que ocorrem na Umbanda são visões externas à Kimbanda, que é um culto totalmente diferente, separado e independente da Umbanda. Seres da Kimbanda manifestam-se na Umbanda. O oposto não ocorre”.


Bom, como disse antes, em respeito ao autor dessas afirmações, pessoa que conheço há anos, passo a me debruçar sobre suas palavras. Em primeiro lugar temos que lembrar que a palavra Kimbanda vem do idioma Kimbundu, portanto é sobre essa língua que a discussão deve andar.


1º. A Kimbanda não é um culto feiticeiro, conforme apontei em todo o texto. A etimologia da palavra, escrita em vários dicionários que citei, bem como outras fontes que empregam a palavra, são unânimes em afirmar que Kimbanda se refere ao curandeiro, adivinho, mago, erveiro, raizeiro etc. A palavra também se confunde com a própria prática, reconhecida como o nome da religião praticada em partes de Angola;

2º. A palabra Kihuende, que é sinônima de Kihénde, segundo o Dicionário Kimbundu-Português (ASSIS JÚNIOR, 1947, p. 119) quer dizer: “Presidente, dirigente. Chefe de uma assembléia, reunião, junta, tribunal ou congresso. Pessoa mais importante pela sua hierarquia ou mérito.”29 Não quer dizer aquilo que o interlocutor afirma, então.

3º. Mavambo não é uma palavra da língua Kimbundu, mas do léxico Shona, língua falada por um dos subgrupos (os Shona) dos povos banto que não falavam Kimbundu, cujo significado é “começo, início”, ou seja, refere-se ao culto que se deve fazer a Mavile, um dos nomes de Mpambu Nzila, ou seja, deve-se cultuar Mavile primeiro, antes dos demais Mukixi (divindades). Podemos ver as misturas lingüísticas em rituais dos povos banto da diáspora.

4º. Exus (ou Mavambos como diz o interlocutor) são seres noturnos? Talvez! Entretanto, dizer que são contraproducentes há uma distância muito grande. Segundo o dicionário Aurélio contraproducente quer dizer: “que prova o contrário do que se pretendia; que tem resultado contrário ao que se pretende”. Com essa definição da palavra, não posso entender que Exu ou Mavambo seja contraproducente, pois ele não é uma prova ou o contrário do que se queria provar.

5º. O interlocutor tem razão quando afirma que Kimbanda e Umbanda são cultos diferentes e independentes, mas discordo que seres que se manifestam na Umbanda não podem se manifestar na Kimbanda. Ora, afirmarmos isso é dizer que o mundo espiritual é cartesiano, formado por categorias que não se misturam. Sabemos, há muito tempo, que isso não é verdade. O mundo espiritual é permeado de trocas e ações dos agentes espirituais são intercambiáveis todo o tempo.

REFERÊNCIAS

[1] Itaoman, Mestre. Pemba: a grafia sagrada dos Orixás. Brasília: Thesaurus, p. 137, 1990.


[2] MAES, Ercílio. A Missão do Espiritismo. Rio de Janeiro: Ed. Do Conhecimento, 1967, pp. 165-166.


[3] Constitui um grupo etnolinguístico localizado especialmente na África subsaariana, que engloba aproximadamente de 400 subgrupos étnicos diferentes.


[4] BOXER, C.R. A idade de ouro do Brasil. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1969, p. 29.


[5] PINTO, Tiago de Oliveira. Crossed Rhythms: african structures, brazilian practices, and afro-brazilian meanings. In: PHAF-RHEINBERGER, Ineke & PINTO, Tiago de Oliveira (orgs.). AfricAmerica: itineraries, dialogues and sounds. Frankfurt: Vervuert Verlag, 2008, PP. 161-162.


[6] ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 133.


[7] MAGALHÃES, António Miranda. A alma negra. In: Cadernos Coloniais, nº 40. Lisboa: Editorial Cosmos, p. 07, 1938.


[8] Apud BAIÃO, Domingos Vieira. O Kimbundu sem Mestre. Porto: Imprensa Moderna, 1946, p. 22 e MATTA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de diccionario Kimbundu-Portuguez. Lisboa : Typographia e Stereotypia Moderna da Casa Editora Maria Pereira, 1893, p. 43.


[9] Apud ASSIS JÚNIOR, António de. Dicionário Kimbundu-Português. Luanda: Santos e Cia, 1884, p. 17.


[10] MAIA, Antônio da Silva. Lições de gramática de quimbundo (português e banto – dialecto omumbuim, língua indígena), apud GABELA, Amboim. Quanza Sul, Angola e Africa Ocidental Portuguesa. Luanda: Edição do Autor, 1964.


[11] Apud ESTERMANN, Carlos. Etnografia do Sudoeste de Angola: Os Povos não-Bantos e o Grupo Étnico dos Ambós. Lisboa: JIU, Vol. I, 1960a [29 canções; 23 adivinhas; 19 provérbios; 12 orações (e várias); 40 narrativas da Comunidade Ovambo]


[12] BATSTONE, David B. et alli. Lieberation theologies, postmoderity and the Américas. New York: Routledge, 1997, p. 108.


[13] RIBAS, Oscar. Ilundu: espíritos e ritos angolanos. Porto: Edições ASA, 1989, p. 27.


[14] Cf. Id., pp. 24-32.


[15] SANTOS, Ana de Sousa. Subsídio etnográfico do povo da ilha de Luanda. In: Memórias e trabalhos do Instituto de Investigação Científica de Angola: estudos etnográficos: Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, Nº. 2, p. 129, 1960.


[16] JAMES, W. Martin & BROADHEAD, Susan Herlin. Historical dictionary of Angola. Oxford: Scarecrow Press, p. 79, 2004.


[17] Idem.


[18] LOPES, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.


[19] Divindades do mar.


[20] RIBAS. Op. Cit, p. 28.


[21] Id., p. 24 e 52.


[22] TENGUNA, Ribeiro. Quanto vale a vida do Africano: uma narrativa fiel de como a ganância dos países ricos, a ineficiência da ONU e a corrupção de governos do continente afro destruíram a África e os africanos. São Paulo: Biblioteca 24×7, 2008, p. 156.


[23] RAMOS, Arthur. O negro brasileiro. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1951, p. 101.


[24] Para um melhor entendimento da palavra Imbanda veja o site “Ritos de Angola”, disponível em: http://www.ritosdeangola.com.br/page.php?132 , um excelente site de informações sobre os bantus e sua religiosidade.


[25] LIBBY, Douglas Cole & FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, p. 297, 2006.


[26] CRUZ, Tomás Vieira da. Buzi. Lisboa: Secretaria Geral do Ministério do Ultramar e da Junta de Investigações do Ultramar, Estudos Ultramarinos: literatura e Arte, nº 3, 1959, p. 244.


[27] Disponível em: http://www.multiculturas.com/angolanos/alberto_pinto_kimb_port_vocab.htm, Acesso em 10/02/2010.


[28] SILVA, Jesus. Medicina natural só em último caso. Luanda: Jornal de Angola, 24/09/2010.


[29] ASSIS JÚNIOR, A. de. Diccionário Kimbundu-Português. Luanda: Argente, Santos & Cia, 1947, p. 119.


sexta-feira, 10 de maio de 2024

Libro Negro Del Satanismo Babu Sotito Jaideaux

Este libro, secreto hasta ahora, es el resultado final de una recopilación de datos que se ha transmitido durante siglos y siglos. Desde su primera versión, se ha escrito en tinta verde. Y el verde se ha convertido en una tradición en este manual de satanismo. Una tradición que mantenemos, fieles al original.


- El Preámbulo


Los Ritos: Es muy difícil describir el uso de los ritos satánicos debido a la falta de coordinación. Sin embargo, es posible presentar, entre las muchas, cinco ceremonias características ofrecidas al quíntuple Satán, Lucifer, Lusbel, Asmodeus y Belial. En cada uno de estos ritos, uno de los asistentes (el que debe ser honrado), completamente desnudo, es ungido por la sacerdotisa (con miel, leche, aceite vegetal, grasa animal o una mezcla de semen, menstruo, sangre, vino y agua). Tras las consagraciones, cada asistente se lamerá el cuerpo (no la cabeza, las manos, los pies, las piernas y las rodillas). El "lameculos" recibirá bendiciones especiales de los poderes infernales.


La unción de miel se hace en los equinoccios (con la respectiva oración añadida a la oración del día de la semana); la unción de aceite vegetal se hace en los solsticios; la unción de leche se hace en los novilunios; la unción de grasa animal se hace en los plenilunios; y finalmente, cada dos meses (seis veces al año) se hace la unción mixta (semen, menstruo, sangre, vino y agua) con la Oración de los Puntos Cardinales, añadida a la oración del día de la semana. Antes del ceremonial, se presentan en coro las ofrendas de los respectivos elementos. Todas las reuniones son crueles (debe sacrificarse al menos una persona viva) y cada tres años la historia debe ser un niño menor de un año, posiblemente no bautizado.


El Credo Satánico se pronuncia los viernes y normalmente ese día se prepara la confesión pública, en la que el creyente, en voz baja, anuncia los actos realizados para mayor gloria de las fuerzas infernales.


La comunión consiste en beber de un cáliz común (¿sangre?) y comer una bola de carne cruda (¿animal?); existe una variante en la que se unta un trozo de pastel con una mezcla (heces, orina y huevo batido)


La persignación imita a la católica, con cinco toques en el cuerpo. La cruz se suprime o se muestra invertida. La estrella de cinco puntas invertida es su signo. Hay trece ceremonias en total, distintas entre sí, con algunas variaciones. En un culto ordinario, los ritos se realizan tal y como se explican y se numeran del 1 al 15 en la primera parte del Índice. Con excepción de los números 8 (Confesión Pública) y 13 (Credo Satánico), implican la totalidad del ceremonial diario, que comienza con la Oración Privada ante el Altar hasta la Clausura, con el fin de preparar al público para la orgía final en penumbra. Como observación final, durante la bendición satánica, completamente desnudos, los fieles se tiran al suelo, colocando sus lenguas en el suelo.


En sentido general, el culto se basa en pedir la protección de Satán y otras entidades oscuras e incitar a sus huestes a practicar el mal contra los cristianos que los perseguían, llevando a sus seguidores a la hoguera.


Existe también un lenguaje especial en el que "¡Ethan!" corresponde al significativo "¡Amén!" del catolicismo: "¡Har Har!" indica incitación, como si se dijera "¡Más Más!"; "Escriba" significa "copista de textos"; "Babu" es la voz semítica, que determina "anciano", "sabio", "ilustre", "maestro", etc., y procede de "Bab", que significa "puerta", "entrada", "iniciación".


Del Libro: El Libro Negro en sí es una colección de obras de varios Babus y fue escrito -según los informes- en diferentes épocas. Los satanistas afirman que se completó hacia el año 1000 y que desde entonces no se ha añadido ni disminuido nada.


Representa la reacción de los podridos, los rechazados, los perseguidos, los agraviados, frente a una sociedad egoísta dirigida por los nobles y el clero. El dios de los ricos no atendía a los desafortunados, y éstos buscaron protección en la propia fe cristiana frente a una entidad poderosa que luchaba contra la divinidad. Por esta razón, el satanismo reacciona contra la Trinidad y, en particular, contra Jesús y la Virgen María. Nacido en el ambiente cristiano de la Edad Media, el satanismo es en realidad el propio catolicismo vuelto del revés, que se esfuerza por hacer más execrables, tétricas y sexuales las ideas de pureza, esplendor y castidad preconizadas por la Iglesia.


La obra nunca se ha impreso, sino que es copiada de congregación en congregación por escribas especializados. Escrita en letra cursiva, redonda y en tinta verde, ningún hombre que no sea satanista puede verla y pocos de sus adeptos pueden manipularla. Las personas que no han hecho un pacto con Satán tienen prohibido copiar las más mínimas líneas. Perseguidos por el Santo Oficio (la Inquisición), los satanistas escondieron su misal para la posteridad execrada.


En resumen, el Libro Negro es una copia del misal católico. Se basa en el número cinco, ya que el cristianismo ha adoptado el tres y el siete. Por ello, presenta cinco entidades superiores: Satán, Lucifer, Lusbel, Asmodeo y Belial.


Satanismo: Se desconoce la relación entre el satanismo y la astrología, pero debe existir un entrelazamiento, ya que se mantiene la idea de metales correspondientes a los planetas y días de la semana; se incluyen en este grupo las festividades lunares (novilunia y plenilunia) y los equinoccios y solsticios. La magia mimética está representada en el culto maldito en diferentes ritos.


La propia mitología cristiana, que reconoce la lucha entre ángeles buenos y malos, la tentación sufrida por Jesús, etc. proporciona los elementos fundamentales del culto. En última instancia, esta creencia está arraigada en el catolicismo y no se extinguirá mientras haya fe en las Sagradas Escrituras.


En la invocación de la novilunión están presentes Diana y Selene (de la mitología grecorromana) y Lilith (de los mitos judíos), y parece que sólo en este rito se pronuncian estos nombres.


Se diferencia de la brujería en que es anterior al cristianismo y rinde homenaje a los dioses del paganismo, especialmente Diana, Luna y Venus.


Entre los autores que han estudiado el satanismo figuran Guaita, Garçon, Michelet, Papus, Eliphas Levi, etc. Este último presenta un grabado en el que muestra que la sombra de la mano que bendice puede representar al Diablo. Helena Blavatsky asegura que el Diablo es el inverso (o ausencia) de Dios, así como la oscuridad es el inverso de la luz.


Del Material: En las ceremonias ordinarias utilizan 13 débiles (de 33), 24 vasijas (de 42), un metal (de 7), 3 jofainas (de 5), una planta, un perfume, una pintura, todos los instrumentos musicales (11); también utilizan una flor, una tiza de color y una fruta en determinados días de la semana. En estos días, no hay flores el domingo, pero se utilizan las cinco flores el martes; no hay tiza el sábado, pero se utilizan los cinco colores el miércoles; no hay fruta el jueves, pero se utilizan las cinco frutas el lunes.


Debido a la repetición de materiales, se utilizan 29 unidades de los 20 elementos masculinos; 21 unidades de los 20 elementos femeninos; 61 unidades de los 32 elementos neutros o andróginos; en total, 111 en cada reunión. Hay 27 ritos y oraciones, 37 ofrendas, 49 consagraciones y 8 cantos, en total 121, pero sólo se utilizan 32 oraciones esenciales y 3 cantos (5 x 7) en cada servicio.


Babu Sotito Jaideaux


El bien y el mal (prefacio)


Dios y el Diablo constituyen una bipolaridad natural, concebida por la religión para explicar toda la estructura de los fenómenos de la naturaleza. A Dios se le atribuyen todos los elementos de bondad, perfección y felicidad, mientras que al Diablo se le atribuyen la malignidad, la perversión y la imperfección.


Sin embargo, aún hoy es difícil determinar qué podría designarse como el bien y el mal, ya que estas dos ideas se entremezclan y, a pesar de ser opuestas, se perpetúan mutuamente en sus atributos, alterando sus predicados en una interdependencia inconstante y eterna.


Lo que ahora puede ser descrito como "bueno y bien" se convertirá, dentro de unos días, en un tremendo "mal" y, viceversa, lo que puede ser descrito como "malo y perverso" pronto se convertirá en un excelente "bien".


Cuando te ponen una inyección, sientes el dolor de la aguja; el acto de inyectar el líquido suele ser doloroso, pero las consecuencias deberían ser curación, salud, bienestar, etc. Un helado tomado cuando estás sudando es un beneficio agradable que anula el estado reseco de tu garganta y te satisface; sin embargo, esta satisfacción puede traerte la gripe, un dolor de garganta o una enfermedad peor.


Esta transposición del bien y del mal, y viceversa, en el sector material tiene una correspondencia en los otros sectores, moral y espiritual. Según los conceptos filosóficos, el Bien debe estar de acuerdo con el deber, la perfección, la felicidad, la virtud, el honor, la justicia, la armonía y la utilidad, a los que se suelen añadir, no siempre correctamente, el amor, la beneficencia, la conveniencia y la ventaja, mientras que el Mal determina lo que perjudica, causando pena, aflicción, calamidad, daño y dolor.


Sin embargo, la perfección y la felicidad son conceptos morales que no existen en la práctica, y sólo se aceptan en un sentido ideal. La virtud, el honor, la justicia y el deber representan ideas que varían según la ocasión, según una supuesta necesidad, y no existe una delimitación perfecta de las mismas. La armonía es un indicador excesivamente vago que varía de un hombre a otro y de un momento a otro. La utilidad, tal vez el más importante de los conceptos morales expuestos, también viola su significado ante una enorme cantidad de predicados.


Las siguientes palabras (amor, beneficencia, convivencia y ventaja) se basan en un fundamento egoísta, en el que el interés propio es inexorable y también tiene una determinación variable.


En un sentido general, es necesario que algo se considere "útil" para que sea un bien, y este predicado de utilidad varía según afecte o beneficie a los propios intereses.


El Bien es la meta más elevada hacia la que pueden converger los esfuerzos combinados de la sensibilidad, la voluntad y la inteligencia, aseguran los moralistas. Puede dividirse en:


1) bien físico, basado en los sentidos, que determina la satisfacción, el placer y el bienestar;


2) el bien moral, basado en la voluntad y el carácter, que da como resultado la virtud o el honor;


3) el bien espiritual, basado en el intelecto y la fe, que pretende llevar a la razón la alta verdad y finalidad de las cosas.


Los filósofos no se ponen de acuerdo sobre la determinación del Bien. Aristipo, por ejemplo, admite que el bien supremo es el placer inmediato; Epicuro lo considera el interés personal. Aristóteles lo señala como la felicidad resultante de la actividad humana; Auguste Comte lo presenta como altruismo; y los estoicos lo declaran una virtud.


Según Nietzsche, la idea del Bien varía según la persona que emite el juicio:


"Preguntad a los esclavos qué es malo y señalarán al personaje que para la moral aristocrática es bueno, es decir, ¡el poderoso, el dominador!". Este filósofo también asegura que la expresión latina "bonus" (bueno) puede traducirse por "guerrero", remontándola a su forma antigua "duonus", de "duo" (disputa), de la que se formó "duellum" (duelo), y la palabra "bellum" (guerra) nos trajo la belleza, la hermosura.


Nietzsche afirma que las expresiones "noble y nobleza" se aceptan en el sentido de "correcto, bueno, perfecto", y se basan en las propias palabras que presentan la aristocracia (gobierno de los elegidos), las estirpes feudales, del mismo modo que en gaélico celta se encuentra la voz "fin-gal", que significa "pelirrojo", característica de los celtas-galeses, pueblo que dominaba a los hombres de pelo negro, en consecuencia, "siervos, no-nobles, no-buenos".


El filósofo continúa diciendo que la palabra latina "malus" (malo) está relacionada con la griega "melas" (negro), que designa a los hombres de piel negra u oscura y pelo negro, con base sobre todo en el norte de África, de donde eran traídos los esclavos. También introdujo la palabra "shlicht" (plebeyo, simplón, jornalero). Este pensador acepta que todo mal está justificado siempre que un dios lo apruebe y se sienta satisfecho contemplándolo.


En las guerras primitivas, los nombres de los pueblos vencidos se convirtieron en sinónimos de malo, malvado, esclavo. La voz "eslavo" hunde sus raíces en pasajes en los que Dios se complace en la muerte de los vencidos e incluso ordena cambios o inversiones de estos conceptos, como encontramos en la actitud del Papa Inocencio III, que se rebeló contra el parto y presentó un catálogo de las debilidades y miserias del hombre "en la procreación impura, en la nutrición nauseabunda en el seno materno, en la mala calidad de la sustancia de la que procede lo humano: mal olor, secreción de humores, orina, excrementos".


Nietzche afirma categóricamente que todas las cosas consideradas buenas han sido malas en otras épocas y viceversa. Leibnitz presenta tres clases de mal: moral, el llamado "pecado"; físico, origen del sufrimiento; y metafísico, basado en la imperfección inherente al hombre. Para la teología, el mal es la privación del bien, que es la bendición suprema de la divinidad; así, el mal sería la supresión de la bendición divina.


En la teoría evolucionista, el mal es una etapa necesaria en la realización de una mejor marcha progresiva, en busca de un "mal menor", ya que es imposible alcanzar el verdadero bien. El monismo acepta la idea de que el mal es naturalmente intrínseco al hombre y el bien sólo puede manifestarse mediante un esfuerzo especial.


En un sentido general, el mal es imperfección, por tres razones: por la imposibilidad de alcanzar el estado de bondad; por su intento de adquirir algo ideal que nunca se logra o completa; por su oposición al concepto de perfección, que simboliza la bondad, que a la humanidad le interesa o desea buscar. Si el mal no realiza, concluye o perfecciona, se convierte en nada, ya que quien no hace, no tiene.


Si Stuart Mill presenta el bien como de interés general, hay que admitir que el mal actúa según el interés particular.


El hecho de que los pueblos primitivos personificaran las ideas condujo a la existencia simbólica de entidades que representaban cualquier factor que demostrara disgusto, sufrimiento, derrota, enfermedad, etc. El horror a las cosas que causaban miedo (las tinieblas, la ignorancia, el abismo, la serpiente, etc.) y a las que causaban o fomentaban dolor (la muerte, las espinas, las enfermedades, las heridas) se personificaba en seres que se oponían a los designios de los supuestos dioses protectores que, poco a poco, se convirtieron en símbolos de factores benéficos (protección, victoria, salud, etc.).


Debemos recordar que cuando el hombre inventó las almas y los dioses, descuidó sus cualidades morales. Un alma podía tener pretensiones simultáneas de beneficiar y traer el mal a los creyentes. Este temor pronunciado a las "almas de otro mundo" tiene hoy su fundamento en este concepto. En realidad, la idea ambivalente del Bien-Mal, en todos sus diversos grados, sólo se separó cuando se formaron las religiones organizadas.


Incluso puede aceptarse que todos los dioses tenían mayor propensión a hacer el mal que a hacer el bien. Se trataba de un premio muy raro concedido a cierto grupo privilegiado de adoradores. El culto primitivo se basa en el horror y el miedo que emanan de los dioses que los propios hombres inventaron ("Es cosa terrible caer en manos del Dios vivo" - Carta a los Hebreos, 10:31). Tal vez pasaron miles de años antes de que los pueblos primitivos concibieran la idea de un dios justo y equitativo, que recompensaba a sus adoradores y castigaba a los que no le adoraban. Incluso hoy encontramos pueblos que reconocen la necesidad de adorar primero a los dioses malos y luego venerar a los dioses buenos. Los yezidíes de la Turquía asiática adoran a Satán en forma de pavo real, alegando que, como es bueno, el dios no requiere reverencia ni sumisión, pero como es malvado, les obliga a mantener una adoración constante. El candomblé, la umbanda, el vudú y otras tradiciones africanas mantienen la costumbre de reservar primero los alimentos sagrados para Exu, Legbá y otras entidades vengativas. Sólo después de que éstos hayan sido servidos, los creyentes pasan a venerar a los demás orixás y lois.


Curiosamente, Satanás no es presentado en el Antiguo Testamento como un ser poderoso, sino como un siervo obediente, enteramente sometido a la voluntad de Dios. En las nueve citas del Libro de Job, siempre actúa de acuerdo con la divinidad. Las dos citas restantes (I Crón. 21:1 y Zacarías 3:1-2) lo muestran todavía como un espíritu tentador, sin demostración de su futuro poder, que adquiriría con la aparición del cristianismo. En el Nuevo Testamento su personalidad se magnifica y su valor se hace casi equivalente al de la propia divinidad. La voz de Satán, mencionada doce veces en el Antiguo Testamento, procede del nombre Satán, de Sheitan (acusador, provocador). Algunos eruditos creen que esta entidad sólo se incluyó en los escritos judíos tras el regreso de la cautividad babilónica. Caldea y Asiria tenían un dios del Viento del Norte que, cuando soplaba, traía miasma y quizás fiebres entre los pueblos que le temían. Llamado Stanu por los asirios, fue rebautizado Satanu por los babilonios. Este apodo dio origen a la expresión Satán y, más tarde, Satanás. 


En el Nuevo Testamento, el nombre Diablo se encuentra como sinónimo de ángel perverso, derivado de Diabolos (lo que se opone); la voz griega Aaimov (Denon), que significa "espíritu", como el cristianismo llegó a representar a Satán y sus secuaces. Se sabe que Asmodeo es un espíritu perverso originario de los persas, que aceptaban la existencia de Ashma-Daeva, siervo de Angro-Mainyus, el espíritu de las tinieblas o del mal. La realidad es que el pueblo judío desconocía la existencia de una entidad específicamente maligna, porque para ellos Dios era el Señor y podía conceder tanto el bien como el mal.


Con el advenimiento del cristianismo, Satán alcanzó inmensos poderes y casi llegó a ser equivalente a la divinidad. Con el auge del Islam, este concepto se incorporó a la creencia musulmana y Sheitan se convirtió en una entidad poderosa. La expresión alcarómica "Iblis", que alude a Satán, tiene su origen en la creencia preislámica en la existencia de un espíritu maligno con ese nombre. Pronto Sheitan e Iblis se fusionaron, aumentando aún más el poder maligno.


El cristianismo adoptó los diversos tipos de infierno (inferius) de las distintas religiones, y el islam también aceptó estas mansiones, que eran lugares de tormento reservados a los malvados, al igual que el cielo (paraíso) era el lugar de los bienaventurados. Fruto del paganismo egipcio-griego-romano, el infierno acabó siendo el reino de Satanás, el rival de la Trinidad, el perpetuo tentador de los creyentes. La escatología cristiana acepta que, cerca del regreso de Jesús a la Tierra, los ángeles entablarán una lucha en la que dominarán a Satanás y sus secuaces, encadenándolo durante mil años.


Hoy en día existe un número infinito de seres diabólicos, de poderes diversos pero terribles, y muchas personas, temiéndolos y respetándolos, tratan de evitar su ira y su venganza. Poco a poco se convierten en adoradores del terrible dios maligno y dejan atrás sus creencias en las deidades que difunden la luz. Estas últimas, debido a su tolerancia y misericordia naturales, no buscan dañar a los seres humanos; por esta razón no exigen adoración ni culto.


Sin embargo, las entidades infernales no son celosas y se esfuerzan por ser veneradas, prometiendo colaborar con quienes las adulan. Esta es, en pocas palabras, la base para creer y adorar a los espíritus malignos.


Babu Sotito Jaideaux


Satanismo - Invocación a Lusbel

 

Guía nuestros pasos Lusbel,

Tráenos la felicidad

Y danos la copa de miel

Más dulce que la miel en verdad...

Nos traes el placer de tu látigo,

La eterna alegría del sufrimiento.

En tu fuerza, a través de la noche,

Danos ahora sufrir...

Guía nuestros deliciosos pasos,

¡Tráenos los bienes del infierno!

Ve en este pobre juglar

¡El vigor del verso eterno!

Danos el amor de los inmortales

¡Como una cosecha para la rebelión!

Guía nuestros pasos Lusbel,

¡Tráenos tu maldición!

Hiere con tu dardo cruel

¡Mi cuerpo en depravación!

En sufrimiento, en amargura,

hiérenos con tu tridente...

De este castigo nace el amor...

Nos traes tu fuego ardiente...

Satanismo - Canticos


De Lucifer vislumbré

La prédica del verdadero amor

Que señala su gran ley,

Que salva a todo pecador.

Ya no tengo pecado

Por haberme rendido a Satanás...

No tengo castigos

Y ahora vivo en buena paz...

Ninguna desgracia de este mundo

No me hiere, no me extravía...

Promesas de Jesús sucio

Las desecho sin favor...

Anhelo la pureza del infierno,

Ya no quiero aceptar a Jesús:

Anhelo el poder eterno

¡Que siempre me trae mayor luz!

Cantaremos el resplandor

Del infierno y las almas condenadas

Que ahora prevalecerán

¡Su tardía venganza!

Cantaremos la gran victoria

De Brahman, el dios poderoso...

Satán, dios supremo de la gloria,

Satán, el dios libidinoso...



Campeones

Somos los campeones,

Luchamos con fervor,

Aplastemos con nuestros talones

A todos nuestros adversarios...

Luchamos contra el enemigo

¡En esta lucha por Satán!

No huimos del peligro

Levantando la fe pagana!...

A los combatientes derrotados

¡No concedemos el perdón!

Sólo liberamos a los conversos

Que adoran al Dragón!...

Somos los campeones,

Soldados del Rey del Mal!...

No tengamos compasión

De aquellos que niegan a Belial!...

Somos los campeones,

Con Satanás como general:

Derrotemos a los intrusos

En esta batalla final...



La bandera

Iza la bandera de la pena

Izad la bandera de la desgracia,

Porque Satanás es el Señor de este mundo,

¡Inspirando cada vida libertina!

¡Poderes nefastos de la noche!

Infames espectros malditos,

Merecemos vuestros azotes

¡Excitando todas las malas acciones!

(coro)

¡Izad, izad el estandarte!

Levantad, levantad el estandarte

Ese será nuestro camino

¡Para alabar la atroz perdición!

Levantad el estandarte de la pena

Izad el estandarte de la desgracia

Porque el Satán de este mundo es el Señor

¡Inspirando cada vida libertina!

¡Poderes nefastos de la noche!

Infames espectros malditos,

Merecemos vuestros azotes

Excitando todas las malas acciones!...

(coro)

¡Invocad a la Falange del Mal!

Suplicad la protección del Infierno

Más venganza o fatal perdición

¡Condenación o castigo eterno!

Concede una maldición a los humanos

Que no desean disfrutar de sus pecados

Sin conocer los verdaderos arcanos

¡Que redimen al culpable del mal!

(coro)

Satanismo - Invocación


 Ven, Todopoderoso

¡Adorable Corruptor!

Belial, oh Caprichoso,

¡Trae ahora tu terror!

Ante el altar de la virulencia

Nos postramos con fervor;

Bendice a esta audiencia,

¡Oh Sublime Seductor!

Ven, contempla al fiel rebaño,

¡Oh Señor de la Condenación!

Levanta nuestro buen Lusbel

¡El estandarte del Dragón!

Ven, Señor de la Enfermedad

¡Extiende tu aflicción!

Señor de las Calamidades

¡Trae tu condenación!

Ven y desciende sobre este altar

¡Erigido en tu alabanza!

Consagra este lugar,

¡Ven, Satán, oh Perversor!

Ilumina nuestras mentes

¡Concede más furor!

Y seamos todos creyentes

¡Bajo la bendición del Señor!

Satanismo - Pentacróstico


Siempre servicial y adorable

Amplio afecto y honor

Incomparable ternura y afecto

Atestiguan tu gran valor

En tu gracia hipnotizadora.

Señor del mundo y de la materia

escucha el canto del amor:

Todo mal y miseria

Por favor, aléjalo de nosotros

En el resplandor de la luz actinherente.

Somos fieles adoradores

Ahora somos tus esclavos

También tus simples siervos...

Aunque pobres innobles,

¡No tenemos otros amos!

Sufren feroz persecución

A los que quieren honrar

a la Trinidad, a Cristo y a la Salvación!...

Al rito maldito del altar

Nunca ofrezcáis vuestro perdón!...

La aflicción sopla por la humanidad,

Suscitas el mal, la locura y la guerra,

Traes rencor y enfermedad,

Alejas la fe de toda la tierra,

¡Niégale el bien, dale el mal!...

Salmo a Satanás


 Satanás, guárdame con tu poder,

de esta manera soy cuidadoso,

Venceré a las huestes de Jesús

Para aumentar tu reinado.

Traes más pena y dolor al mundo:

Que cada cristiano se hunda en su pecado,

Que lo hace más perverso y malhechor,

Que se aleja del Cristo perdido...

Es necesario para tu victoria

Que el hijo de Dios sea rechazado

Y su escoria domine el mundo

Y los valores cristianos sean eliminados...

Perteneces al Dios Supremo, al Rey Primado,

Baja a la tierra y quédate a mi lado

Y fundaré un reino para Satanás,

sin Dios, sin creencia y sin amor frustrado.

Traes desgracia al mundo engañado,

Dañado por la religión,

Que predica la fe en un Cristo descreído,

Que predice la remisión a los desafortunados.

Maldito sea el Dios mentiroso

Que promete salvar al injusto

Si acepta a un judío abominable,

El deshonrado Jesús crucificado.

La Trinidad debe ser eliminada,

Destruir la fe y todo el Apostolado...

Debemos levantar nuestro mal

Y conquistar el mundo y nuestro destino...

Luchemos contra el Hijo de María

Y al Espíritu de Dios tan execrado!...

Acabemos con esta idolatría

Y adoremos a Satanás, el amado Maestro!...