segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Catecismo de Alquimia


Pequeno Catecismo da Alquimia


P. O que é o estudo principal de um Filósofo?

R. É a investigação das operações da Natureza.


P. Qual é o fim da Natureza?

R. Deus, que é também o seu começo.


P. De onde todas as coisas são derivadas?

R. De uma natureza única e indivisível.


P. Em quantas regiões a Natureza está separada?

R. Em quatro regiões esplendidas.


P. Quais são elas?

R. O seco, o úmido, o quente e o frio, que são as quatro qualidades elementares, de onde todas as coisas se originam.


P. Como a Natureza é diferenciada?

R. No masculino e no feminino.


P. A que podemos comparar a Natureza?

R. Com Mercúrio.


P. Dê uma definição concisa da Natureza.

R. Ela não é visível, embora funcione visivelmente; pois é simplesmente um espírito volátil, realizando seu ofício nos corpos, e animada pelo espírito universal – a respiração divina, o fogo central e universal, que vivifica todas as coisas que existem.


P. Quais deveriam ser as qualidades que os examinadores da Natureza possuem?

R. Eles devem ser como a própria Natureza. Ou seja, devem ser verdadeiros, simples, pacientes e perseverantes.


P. O que importa, em seguida, absorver a atenção deles?

R. Os filósofos devem verificar cuidadosamente se seus projetos estão em harmonia com a Natureza, e que sejam de um tipo possível e alcançável; se eles realizariam por seu próprio poder qualquer coisa que normalmente é realizada pelo poder da Natureza, eles devem imitá-la em todos os detalhes.


P. Que método deve ser seguido para produzir algo que seja desenvolvido a um grau superior ao que a própria Natureza  desenvolve.

R. A forma de seu aperfeiçoamento deve ser estudada, e isto é invariavelmente operado por meio de uma natureza semelhante. Por exemplo, se for desejado desenvolver a virtude intrínseca de um determinado metal além de sua condição natural, o químico deve se valer da própria natureza metálica, e deve ser capaz de discriminar entre suas diferenciações masculinas e femininas.


P. Onde a natureza metálica armazena suas sementes?

R. Nos quatro elementos.


P. Com que materiais o filósofo sozinho pode realizar qualquer coisa?

R. Com o germe da matéria dada; este é seu elixir ou quintessência, mais precioso de longe, e mais útil, para a artista, do que a própria Natureza. Antes que o filósofo tenha extraído a semente, ou germe, a Natureza, em seu nome, estará pronta para cumprir seu dever.


P. O que é o germe, ou semente, de qualquer substância?

R. É a mais sutil e perfeita decocção e digestão da própria substância; ou, melhor, é o Bálsamo de Enxofre, que é idêntico à Umidade Radical dos Metais.


P. Por que esta semente, ou germe, é engendrada?

R. Pelos quatro elementos, sujeitos à vontade do Ser Supremo, e através da intervenção direta da imaginação da Natureza.


P. Depois de que maneira os quatro elementos operam?

R. Por meio de um movimento incessante e uniforme, cada um, de acordo com sua qualidade, depositando sua semente no centro da terra, onde é submetido à ação e digerido, e é posteriormente expulso em direção ao exterior pelas leis do movimento.


P. O que os filósofos entendem pelo centro da terra?

R. Um certo lugar vazio onde nada pode descansar, e cuja existência é assumida.


P. Onde, então, os quatro elementos expulsam e depositam suas sementes?

R. No ex-centro, ou na margem e circunferência do centro, que, depois de ter se apropriado de uma porção, expulsa o excedente para a região de excrementos, escoriações, fogo e caos sem forma.


P. Ilustre este ensinamento através de um exemplo.

R. Pegue qualquer mesa de nível, e coloque em seu centro um vaso cheio de água; cerque o vaso com várias coisas de várias cores, especialmente sal, tomando cuidado para que uma distância adequada interfira entre todas elas. Em seguida, despeje a água do vaso, e ela fluirá em riachos aqui e ali; um encontrará uma substância de cor vermelha, e assumirá um tom de vermelho; outro passará sobre o sal, e contrairá um sabor salino; pois é certo que a água não modifica os lugares que ela atravessa, mas as diversas características dos lugares mudam a natureza da água. Da mesma forma, a semente que é depositada pelos quatro elementos no centro da terra está sujeita a uma variedade de modificações nos lugares por onde passa, de modo que toda substância existente é produzida à semelhança de seu canal, e quando uma semente, ao chegar a um determinado ponto, encontra terra pura e água pura, resulta uma substância pura, mas o contrário em um caso oposto.


P. Depois de que maneira os elementos procriam esta semente?

R. Para a completa elucidação deste ponto, deve-se observar que existem dois elementos grosseiros e pesados e dois que são voláteis em caráter. Dois, da mesma forma, são secos e dois úmidos, um dos quatro sendo na verdade excessivamente secos, e o outro excessivamente úmido. Eles também são masculinos e femininos. Agora, cada um deles tem uma marcada tendência a reproduzir sua própria espécie dentro de sua própria esfera. Além disso, eles nunca estão em repouso, mas estão sempre interagindo, e cada um deles separa, de e por si só, a porção mais sutil. Seu lugar geral de reunião é no centro, mesmo o centro do Arqueus, aquele servo da Natureza, onde vindo misturar suas várias sementes, eles agitam e finalmente as expulsam para o exterior.


P. Qual é a verdade e a primeira substância de todos os metais?

R. A primeira matéria, propriamente dita, é dual em sua essência, ou é em si mesma de natureza dupla; sendo uma, no entanto, não pode criar um metal sem a concordância da outra. A primeira essência esplendida é uma umidade aérea, misturada com um ar quente, na forma de uma água gordurosa, que adere indiscriminadamente a todas as substâncias, sejam elas puras ou impuras.


P. Como esta umidade foi nomeada pelos filósofos?

R. Mercúrio.


P. Pelo que ela é governada?

R. Pelos raios do Sol e da Lua.


P. Qual é a segunda questão?

R. O calor da terra – de outra maneira, aquele calor seco que é chamado de enxofre pelos filósofos.


P. O corpo material inteiro pode ser convertido em semente?

R. Sua centésima parte, ou seja, que é secretada no centro do corpo em questão e pode, por exemplo, ser vista em um grão de trigo.


P. De que serve a maior parte da matéria no que diz respeito à sua semente?

R. É útil como uma salvaguarda contra o calor excessivo, frio, umidade ou aridez e, em geral, toda inclemência nociva, contra a qual atua como um envelope.


P. Aqueles artistas que fingem reduzir toda a matéria de qualquer corpo em semente obteriam alguma vantagem do processo, supondo que fosse possível realizá-lo?

R. Nenhuma; pelo contrário, seu trabalho seria totalmente improdutivo, pois nada do que é bom pode ser realizado por um desvio dos métodos naturais.


P. O que, portanto, deve ser feito?

R. A matéria deve ser efetivamente separada de suas impurezas, pois não existe nenhum metal, que seja puro, que esteja totalmente livre de imperfeições, embora sua extensão varie. Agora todas as superfluidades, cortices e escória devem ser descascadas e expurgadas da matéria para que se descubra sua semente.


P. O que deve receber a mais cuidadosa atenção do Filósofo?

R. Certamente, o fim da Natureza, e isto não é de forma alguma procurado nos metais vulgares, pois, tendo estes já saído das mãos do feitor original já não é mais encontrado neles.


P. Por que razão exatamente?

R. Porque os metais vulgares, e principalmente o ouro, estão absolutamente mortos, enquanto os nossos, pelo contrário, estão absolutamente vivos, e possuem uma alma.


P. O que é a vida dos metais?

R. Não é outra substância que o fogo, quando ainda estão imersos nas minas.


P. O que é a morte deles?

R. Sua vida e morte são na realidade um princípio, pois eles morrem, como vivem, pelo fogo, mas sua morte é de um fogo de fusão.


P. Depois de que maneira os metais são concebidos no ventre da terra?

R. Quando os quatro elementos desenvolveram seu poder ou virtude no centro da terra, e depositaram sua semente, o Arqueus da Natureza, no curso de um processo destilatório, os sublima superficialmente pelo calor e energia do movimento perpétuo.


P. Em que se resolve o vento quando é destilado através dos poros da terra?

R. Ele se resolve em água, de onde tudo brota; neste estado é apenas um vapor úmido, do qual se desenvolve posteriormente o princípio principal de todas as substâncias, que também serve como o primeiro assunto dos Filósofos.


P. O que é então este princípio, que é utilizado como primeiro assunto pelos Filhos do Conhecimento na realização filosófica?

R. É esta matéria idêntica, que, no momento em que é concebida, recebe uma forma permanente e imutável.


P. São Saturno, Júpiter, Marte, Vênus, o Sol, a Lua, etc., dotados separadamente de uma semente individual?

R. Uma é comum a todas elas; suas diferenças devem ser explicadas pela localidade da qual derivam, para não falar do fato de que a Natureza completa seu trabalho com muito mais rapidez na procriação da prata do que na do ouro, e assim dos outros metais, cada um em sua própria proporção.


P. Como o ouro é formado nas entranhas da terra?

R. Quando este vapor, do qual falamos, é sublimado no centro da terra, e quando passou por lugares quentes e puros, onde uma certa graxa sulfurosa adere aos canais, então este vapor, que os filósofos denominaram seu Mercúrio, se adapta e se une a esta graxa, que ela sublima consigo mesma; de tal amalgamação produz-se uma certa impureza, que, abandonando a forma vaporosa, assume a da graxa, e é sublimada em outros lugares, que foram limpos por este vapor precedente, e a terra de onde, consequentemente, foi tornada mais sutil, pura e úmida; ela preenche os poros desta terra, é unida a ela, e o ouro é produzido como resultado.


P. Como Saturno é engendrado?

R. Ocorre quando a referida untuosidade, ou graxa, passa por lugares que são totalmente impuros e frios.


P. Como a Vênus é engendrada?

R. Ela é produzida em localidades onde a própria terra é pura, mas é misturada com enxofre impuro.


P. Que poder possui o vapor, que mencionamos recentemente, no centro da terra?

R. Por seu contínuo progresso, tem o poder de rarefazer perpetuamente tudo o que é rude e impuro, e de atrair sucessivamente para si tudo o que é puro ao seu redor.


P. Qual é a semente do primeiro assunto de todas as coisas?

R. A primeira questão das coisas, ou seja, a questão dos princípios básicos é gerada pela Natureza, sem a ajuda de qualquer outra semente; em outras palavras, a Natureza recebe a matéria dos elementos, de onde ela subsequentemente traz a semente.


P. O que, absolutamente falando, é, portanto, a semente das coisas?

R. A semente de um corpo não é outra coisa que um ar congelado, ou um vapor úmido, que é inútil, exceto que é dissolvido por um vapor quente.


P. Como é composta a geração de sementes no reino metálico?

R. Pelo artifício de Arqueus os quatro elementos, na primeira geração da Natureza, destilam um vapor de água pesado no centro da terra; esta é a semente dos metais, e é chamada de Mercúrio, não por causa de sua essência, mas por causa de sua fluidez, e pela facilidade com que aderirá a tudo e a cada coisa.


P. Por que este vapor é comparado ao enxofre?

R. Por causa de seu calor interno.


P. De que espécies de Mercúrio somos nós para concluir que os metais são compostos?

R. A referência é exclusivamente ao Mercúrio dos Filósofos, e em nenhum sentido à substância comum ou vulgar, que não pode se tornar uma semente, visto que, como outros metais, já contém sua própria semente.


P. O que, portanto, deve realmente ser aceito como o assunto de nossa matéria?

R. Somente a semente, senão o grão fixo, e não todo o corpo, que é diferenciado em enxofre, ou macho vivo, e em mercúrio, ou fêmea viva.


P. Qual operação deve ser realizada em seguida?

R. Eles devem ser unidos, de modo que possam formar um germe, após o qual procederão à procriação de um fruto que esteja de acordo com sua Natureza.


P. Qual é a parte do artista nesta operação?

R. O artista não deve fazer nada além de separar o que é sutil do que é grosseiro.


P. A que, portanto, toda a combinação filosófica é reduzida?

R. O desenvolvimento de um em dois, e a redução de dois em um, e nada mais.


P. A quem devemos recorrer para a semente e a vida das refeições e dos minerais?

R. A semente dos minerais é propriamente a água que existe no centro. E o coração dos minerais.


P. Como a Natureza opera com a ajuda da Arte?

R. Toda semente, qualquer que seja sua espécie, é inútil, a menos que por Natureza ou Arte seja colocada em uma matriz adequada, onde recebe sua vida pela cocção do germe! e pela congelação da partícula pura, ou grão fixo.


P. Como a semente é posteriormente nutrida e preservada?

R. Pelo calor de seu corpo.


P. O que é, portanto, realizado pelo artista no reino mineral?

R. Ele termina o que não pode ser acabado pela Natureza por causa da crueza do ar, que permeou os poros de todos os corpos por sua violência, mas na superfície e não nas entranhas da terra.


P. Que correspondência tem os metais entre si?

R. É necessário para uma compreensão adequada da natureza desta correspondência considerar a posição dos planetas, e prestar atenção a Saturno, que é o mais alto de todos, e depois é sucedido por Júpiter, em seguida por Marte, o Sol, Vênus, Mercúrio e, por último, pela Lua. Deve-se observar que as virtudes influentes dos planetas não ascendem, mas descem, e a experiência nos ensina que Marte pode ser facilmente convertido em Vênus, não Vênus em Marte, que é de uma esfera inferior. Assim, também, Júpiter pode ser facilmente transmutado em Mercúrio, porque Júpiter é superior a Mercúrio, sendo um segundo depois do firmamento, o outro segundo acima da Terra, e Saturno é o mais alto de todos, enquanto a Lua é a mais baixa. O Sol penetra em tudo, mas nunca é amelhorado por seus inferiores. É claro que existe uma grande correspondência entre Saturno e a Lua, no meio da qual está o Sol; mas a todas estas mudanças o Filósofo deve se esforçar para administrar o Sol.


P. Quando os Filósofos falam de ouro e prata, dos quais extraem sua matéria, devemos supor que eles se referem ao vulgar ouro e prata?

R. De modo algum; a prata e o ouro vulgares estão mortos, enquanto os filósofos estão cheios de vida.


P. Qual é o objetivo da pesquisa entre os Filósofos?

R. Proficiência na arte de aperfeiçoar o que a Natureza deixou imperfeito no reino mineral, e a obtenção do tesouro da Pedra Filosofal.


P. O que é esta Pedra?

R. A Pedra nada mais é do que a umidade radical dos elementos, perfeitamente purificada e educada em uma fixação soberana, o que a faz realizar coisas tão grandiosas para a saúde, sendo a vida residente exclusivamente no radical úmido.


P. Em que consiste o segredo da realização deste admirável trabalho?

R. Consiste em saber como passar da potencialidade para a atividade o calor inato, ou o fogo da Natureza, que está encerrado no centro da umidade radical.


P. Quais são as precauções que devem ser tomadas para evitar falhas no trabalho?

R. Grandes cuidados devem ser tomados para eliminar os excrementos da matéria, e para conservar nada mais que o miolo, que contém todas as virtudes do composto.


P. Por que este medicamento cura todas as espécies de doenças?

R. Não é por causa da variedade de suas qualidades, mas simplesmente porque fortifica poderosamente o calor natural, que estimula suavemente, enquanto outros físicos o irritam por uma ação muito violenta.


P Como você pode me demonstrar a verdade da arte na questão da tintura?

R. Em primeiro lugar, sua verdade se baseia no fato de que o pó físico, sendo composto da mesma substância que os metais, ou seja, o mercúrio líquido tem a faculdade de se combinar com estes na fusão, uma natureza abraçando facilmente outra que é como ela mesma. Em segundo lugar, vendo que a imperfeição dos metais de base se deve à crueza de seu mercúrio, e somente a isso, o pó físico, que é um mercúrio maduro e decocado, e, em si mesmo um fogo puro, pode facilmente comunicar-lhes sua própria maturidade, e pode transmutá-los em sua natureza, depois de ter atraído sua umidade bruta, ou seja, seu mercúrio, que é a única substância que os transmuta, sendo o resto nada mais que escoriações e excrementos, que são rejeitados em projeção.


P. Que caminho o Filósofo deve seguir para o conhecimento e execução do trabalho físico?

R. Aquilo que foi seguido precisamente pelo Grande Arquiteto do Universo na criação do mundo, observando como o caos foi evoluído.


P. Qual foi o problema do caos?

R. Nada mais poderia ser do que um vapor úmido, porque só a água entra em todas as substâncias criadas, que terminam todas num termo estranho, sendo este termo um assunto próprio para a impressão de todas as formas.


P. Dê-me um exemplo para ilustrar o que você acabou de dizer.

R. Um exemplo pode ser encontrado nas produções especiais de substâncias compostas, cujas sementes invariavelmente começam por resolver-se a si mesmas em um certo humor, que é o caos da matéria em particular, de onde se origina, por uma espécie de irradiação, a forma completa da planta. Além disso, deve ser observado que a Sagrada Escritura não faz nenhuma menção a nada, exceto à água como o sujeito material sobre o qual o Espírito de Deus brotou, nem a nada, exceto à luz como a forma universal das coisas.


P. Que benefício o Filósofo pode tirar destas considerações, e o que ele deve comentar especialmente no método de criação que foi perseguido pelo Ser Supremo?

R. Em primeiro lugar ele deve observar a matéria da qual o mundo foi feito; ele verá que desta massa confusa, o Artista Soberano começou extraindo luz, que esta luz no mesmo momento dissolveu a escuridão que cobria a face da terra, e que ela serviu como a forma universal da matéria. Ele então perceberá facilmente que na geração de todas as substâncias compostas, ocorre uma espécie de irradiação e uma separação da luz e da escuridão, em que a Natureza é uma copista sem desvios de seu Criador. O Filósofo entenderá igualmente depois de que maneira, pela ação dessa luz, o empireano, ou firmamento que divide as águas superiores e inferiores, foi produzido posteriormente; como o céu foi cravejado de corpos luminosos; e como surgiu a necessidade da Lua, que se devia ao espaço que intervinha entre as coisas acima e as coisas abaixo; pois a Lua é uma tocha intermediária entre os mundos superior e inferior, recebendo as influências celestiais e comunicando-as à Terra. Finalmente, ele entenderá como o Criador, na coleta das águas, produziu a terra seca.


P. Quantos céus você pode enumerar?

R. Apropriadamente existe apenas um, que é o firmamento que divide as águas das águas. Entretanto, são admitidos três, dos quais o primeiro é o espaço que está acima das nuvens. Neste céu as águas são rarefeitas, e caem sobre as estrelas fixas, e é também neste espaço que os planetas e as estrelas errantes realizam suas revoluções. O segundo céu é o firmamento das estrelas fixas, enquanto o terceiro é a morada das águas supracelestiais.


P. Por que a rarefação das águas está confinada ao primeiro céu?

R. Porque está na natureza das substâncias rarefeitas subir, e porque Deus, em Suas leis eternas, atribuiu sua própria esfera a tudo.


P. Por que cada corpo celeste gira invariavelmente em torno de um eixo?

R. É em razão do impulso primordial que recebeu, e em virtude da mesma lei que fará com que qualquer substância pesada suspensa de um fio gire com a mesma velocidade, se o poder que impulsiona seu movimento for sempre igual.


P. Por que as águas superiores nunca descem?

R. Por causa de sua extrema rarefação. É por esta razão que um químico hábil pode tirar mais proveito do estudo da rarefação do que de qualquer outra ciência.


P. Qual é o problema do firmamento?

R. É o ar propriamente dito, que é mais adequado do que a água como meio de luz.


P. Após a separação das águas da terra seca, o que foi realizado pelo Criador para originar a geração?

R. Ele criou uma certa luz destinada a este escritório; Ele a colocou no fogo central, e moderou este fogo pela umidade da água e pela frieza da terra, de modo a manter um controle de sua energia e adaptá-la ao Seu desenho.


P. Qual é a ação deste fogo central?

R. Ele opera continuamente sobre a matéria úmida mais próxima, que se exalta em vapor; agora este vapor é o mercúrio da Natureza e a primeira matéria dos três reinos.


P. Como o enxofre da Natureza é formado posteriormente?

R. Através da interação do fogo central e do vapor mercurial.


P. Como é produzido o sal do mar?

R. Pela ação do mesmo fogo sobre a umidade aquosa, quando a umidade aérea, que está contida nela, foi exalada.


P. O que deve ser feito por um Filósofo verdadeiramente sábio quando ele já dominou a fundação e a ordem no procedimento do Grande Arquiteto do Universo na construção de tudo o que existe na Natureza?

R. Ele deve, na medida do possível, tornar-se um fiel copista de seu Criador. No caos físico ele deveria fazer seu caos como o original realmente foi; ele deveria separar a luz da escuridão: ele deveria formar seu firmamento para a separação das águas que estão acima das águas que estão abaixo, e deveria realizar sucessivamente, ponto por ponto, toda a sequência do ato criativo.


P. Com que esta grande e sublime operação é realizada?

R. Com um único corpúsculo, ou corpo minúsculo, que, por assim dizer, não contém nada além de fezes, sujeira e abominações, mas de onde se extrai uma certa umidade tenebrosa e mercurial, que contém em si tudo o que é exigido pelo Filósofo, porque, de fato, ele não está em busca de nada mais do que a cabana do verdadeiro Mercúrio.


P. De que tipo de mercúrio, portanto, ele deve se valer para realizar o trabalho?

R. De um mercúrio que, como tal, não é encontrado na terra, mas é extraído de corpos, mas não de mercúrio vulgar, como foi falsamente dito.


P. Por que este último é inadequado para as necessidades de nosso trabalho?

R. Porque o sábio artista deve levar em conta que o mercúrio vulgar tem uma quantidade insuficiente de enxofre, e deve, portanto, operar sobre um corpo criado pela Natureza, no qual a própria Natureza uniu o enxofre e o mercúrio que é o trabalho do artista para separar.


P. O que ele deve fazer posteriormente?

R. Ele deve purificá-los e juntá-los de novo.


P. Como você denomina o corpo do qual temos estado falando?

R. A PEDRA RUDE (RUDE STONE), ou Caos, ou Iliaste, ou Hyle – aquela massa confusa que é conhecida mas universalmente desprezada.


P. Como você me disse que Mercúrio é a única coisa que o Filósofo deve absolutamente entender, você vai me dar uma descrição circunstancial dela, de modo a evitar uma concepção errônea?

R. Em relação a sua natureza, nosso Mercúrio é duplo – fixo e volátil; em relação a seu movimento, é também duplo, pois tem um movimento de subida e de descida; pelo de descida, é a influência das plantas, pelo qual estimula o fogo inclinado da Natureza, e este é seu primeiro ofício anterior à congelação. Por seu movimento ascensional, ela sobe, procurando ser purificada, e como esta é após a congelação, é considerada a umidade radical das substâncias, que, sob sua vil escoriação, ainda preserva a nobreza de sua primeira origem.


P. Quantas espécies de umidade você supõe estar em cada coisa composta?

R. Existem três – o Elementar, que é propriamente o vaso dos outros elementos; o Radical, que, falando com exatidão, é o óleo, ou bálsamo, no qual reside toda a virtude do sujeito – por último, o Alimentício, o verdadeiro dissolvente natural, que desenha o fogo interno inclinado, causando corrupção e obscuridade por sua umidade, e fomentando e sustentando o sujeito.


P. Quantas espécies de Mercúrio são conhecidas pelos filósofos?

R. O Mercúrio dos Filósofos pode ser considerado sob quatro aspectos; o primeiro tem o título de Mercúrio dos corpos, que na verdade é sua semente oculta; o segundo é o Mercúrio da Natureza, que é o Banho ou Vaso dos Filósofos, caso contrário o radical úmido; ao terceiro foi aplicada a designação, Mercúrio dos Filósofos, porque é encontrado em seu laboratório e em suas mineradoras. É a esfera de Saturno; é a Diana dos Sábios; é o verdadeiro sal dos metais, após a aquisição dos quais se pode dizer que o verdadeiro trabalho filosófico começou verdadeiramente. Em seu quarto aspecto, é chamado de Mercúrio Comum, que ainda não é o do Vulgar, mas é propriamente o verdadeiro ar dos Filósofos, a verdadeira substância média da água, o verdadeiro fogo oculto e secreto, chamado também de fogo comum, porque é comum a todos os mineiros, pois é a substância dos metais, e daí derivam sua quantidade e qualidade.


P. Quantas operações artísticas estão incluídas em nosso trabalho?

R. Há apenas uma, que pode ser resolvida em sublimação, e sublimação, segundo Geber, nada mais é do que a elevação da matéria seca pela mediação do fogo, com aderência a seu próprio vaso.


P. Que precaução deve ser tomada na leitura dos Filósofos herméticos ?

R. Sobre este ponto, deve-se ter muito cuidado, sobretudo, para que o que dizem sobre o assunto não seja interpretado literalmente e de acordo com o mero som das palavras: Pois a letra mata, mas o espírito dá vida.


P. Que livros devem ser lidos para se conhecer nossa ciência?

R. Entre os antigos, todas as obras de Hermes devem ser estudadas especialmente; no lugar seguinte, um certo livro, intitulado A Passagem do Mar Vermelho, e outro, A Entrada na Terra Prometida. Paracelso também deve ser lido antes de todos entre os escritores mais antigos e, entre outros tratados, seu Caminho Químico, ou o Manual de Paracelso, que contém todos os mistérios da física demonstrativa e a Cabala mais arcana. Esta rara e única obra manuscrita existe apenas na Biblioteca do Vaticano, mas Sendivogius teve a sorte de levar uma cópia, o que ajudou na iluminação dos sábios de nossa ordem. Em segundo lugar, Raimundo Lulio deve ser lido, e seu Vade Mecum acima de tudo, seu diálogo chamado Árvore da Vida, seu testamento, e seu codicilo. No entanto, deve haver uma certa precaução em relação aos dois últimos, pois, como as de Geber, e também de Arnold de Villanova, elas abundam em receitas falsas e ficções fúteis, que parecem ter sido inseridas com o objetivo de disfarçar mais efetivamente a verdade dos ignorantes. Em terceiro lugar, o Turba Philosophorum, que é uma coleção de autores antigos, contém muito que é materialmente bom, embora também haja muito que não tem valor. Entre os escritores medievais, Zachary, Trevisan, Roger Bacon e um certo autor anônimo, cujo livro se intitula Os Filósofos, deve ser mantido especialmente alto na estimativa do estudante. Entre os moderados, os mais dignos de serem premiados são John Fabricius, François de Nation e Jean D’Espagnet, que escreveu Physics Restored, embora, para dizer a verdade, ele tenha importado alguns preceitos falsos e opiniões falaciosas em seu tratado.


P. Quando o Filósofo pode se aventurar a empreender o trabalho?

R. Quando ele for teoricamente capaz de extrair, por meio de um espírito bruto, um espírito digerido de um corpo em dissolução, que digeriu o espírito, ele deve voltar a se juntar ao óleo vital.


P. Explique-me esta teoria de uma maneira mais clara.

R. Ela pode ser demonstrada mais completamente no processo real; a grande experiência pode ser realizada quando o Filósofo, por meio de uma menstruação vegetal, unido a um menstruum mineral, é qualificado para dissolver um terceiro menstruum essencial, com o qual os menstruums unidos ele deve lavar a terra, e então exaltá-la em uma quintessência celestial, para compor o relâmpago sulfuroso, que penetra instantaneamente nas substâncias e destrói seus excrementos.


P. Essas pessoas têm um bom conhecimento da Natureza que finge fazer uso do ouro vulgar para a semente, e do mercúrio vulgar para o dissolvente, ou da terra na qual ele deve ser semeado?

R. Certamente não, porque nem um nem o outro possuem o ouro-agente externo, porque foi privado dele por decocção, e o mercúrio porque nunca o teve.


P. Ao procurar esta semente aurífera em outro lugar que não seja no próprio ouro, não existe o perigo de produzir uma espécie de monstro, uma vez que parece estar se afastando da Natureza?

R. É sem dúvida verdade que no ouro está contida a semente aurífera, e que em condição mais perfeita do que em qualquer outro corpo; mas isto não nos obriga a fazer uso do ouro vulgar, pois tal semente é igualmente encontrada em cada um dos outros metais, e nada mais é do que aquele grão fixo que a Natureza infundiu na primeira congelação do mercúrio, todos os metais tendo uma origem e uma substância comum, como será finalmente revelado àqueles que se tornarem dignos de recebê-la por aplicação e estudo assíduo.


P. O que se segue a esta doutrina?

R. Segue-se que, embora a semente seja mais perfeita em ouro, ela pode ser extraída muito mais facilmente de outro corpo do que do próprio ouro, sendo outros corpos mais abertos, ou seja, menos digeridos, e menos restritos em sua umidade.


P. Dê-me um exemplo tirado da Natureza.

R. O ouro vulgar pode ser comparado a um fruto que, tendo chegado a uma maturidade perfeita, foi cortado de sua árvore e, embora contenha uma semente mais perfeita e bem digerida, se alguém a colocar no solo, com vistas à sua multiplicação, muito tempo, problemas e atenção serão consumidos no desenvolvimento de suas capacidades vegetativas. Por outro lado, se um corte, ou uma raiz, for retirado da mesma árvore, e igualmente plantado, em pouco tempo, e sem problemas, ele brotará e produzirá muitos frutos.


P. É necessário que um amador desta ciência entenda a formação de metais nas entranhas da terra, se ele deseja completar seu trabalho?

R. Tão indispensável é um conhecimento tal que se alguém falhar, antes de todos os outros estudos, em se aplicar a sua realização e imitar a Natureza ponto por ponto, ele nunca conseguirá realizar nada além do que não vale nada.


P. Como, então, a Natureza deposita metais nas entranhas da terra, e do que ela os compõe ?

R. A Natureza os fabrica todos a partir de enxofre e mercúrio, e os forma através de seu duplo vapor.


P. O que você quer dizer com este duplo vapor, e como os metais podem ser formados por ele?

R. Para uma compreensão completa desta questão, é preciso primeiro afirmar que o vapor mercurial é unido ao vapor sulfuroso em um lugar cavernoso que contém uma água salina, que serve como sua matriz. Assim é formado, primeiro, o Vitriol da Natureza; segundo, pela comoção dos elementos, desenvolve-se a partir deste Vitriol da Natureza um novo vapor, que não é nem mercurial nem sulfuroso, mas está aliado a estas duas naturezas, e isto, passando por lugares aos quais a graxa de enxofre adere, é unido com ela, e de sua união produz-se uma substância glutinosa, caso contrário, uma massa sem forma, que é permeada pelo vapor que preenche estes lugares cavernosos. Por este vapor, agindo através do enxofre que contém, são produzidos os metais perfeitos, desde que o vapor e a localidade sejam puros. Se a localidade e o vapor são impuros, resultam metais imperfeitos. Os termos perfeição e imperfeição têm referência a vários graus de mistura.


P. O que está contido neste vapor?

R. Um espírito de luz e um espírito de fogo, da natureza dos corpos celestes, que propriamente deve ser considerado como a forma do universo.


P. O que representa este vapor?

R. Este vapor, assim impregnado pelo espírito universal, representa, de maneira bastante completa, o caos original, que continha tudo o que era necessário para a criação original, ou seja, a matéria universal e a forma universal.


P. E não se pode, não obstante, fazer uso do mercúrio vulgar no processo?

R. Não, porque o mercúrio vulgar, como já foi dito claramente, é desprovido de agente externo.


P. De onde vem que o mercúrio comum está sem seu agente externo?

R. Porque na exaltação do duplo vapor, a comoção tem sido tão grande e penetrante, que o espírito, ou agente, evaporou-se, como ocorre, com semelhança muito próxima, na fusão de metais. O resultado é que a única parte mercurial é privada de seu agente masculino ou sulfuroso, e consequentemente nunca pode ser transmutada em ouro pela Natureza.


P. Quantas espécies de ouro são distinguidas pelos Filósofos?

R. Três tipos: Ouro Astral, Ouro Elementar e Ouro Vulgar.


P. O que é ouro astral?

R. O Ouro Astral tem seu centro no sol, que o comunica através de seus raios a todos os seres inferiores. É uma substância ígnea, que recebe uma emanação contínua de corpúsculos solares que penetram em todas as coisas sencientes, vegetais e minerais.


P. A que você se refere sob o termo Ouro Elementar ?

R. Esta é a porção mais pura e fixa dos elementos, e de tudo o que é composto por eles. Todos os seres subluntários incluídos nos três reinos contêm em seu centro mais íntimo um grão precioso deste ouro elementar.


P. Dê-me alguma descrição do Ouro Vulgar ?

R. É o mais belo metal de nosso conhecido, o melhor que a Natureza pode produzir, tão perfeito quanto inalterável em si mesmo.


P. De que espécie de ouro é a Pedra Filosofal ?

R. É da segunda espécie, como sendo a porção mais pura de todos os elementos metálicos após sua purificação, quando é chamada de ouro filosófico vivo. Um perfeito equilíbrio e igualdade dos quatro elementos entram na Pedra Física, e quatro coisas são indispensáveis para a realização da obra, a saber, composição, alocação, mistura e união, que, uma vez realizada de acordo com as regras da arte, gerará o legítimo Filho do Sol, e a Fênix que nasce eternamente de suas próprias cinzas.


P. O que é realmente o ouro vivo dos Filósofos?

R. É exclusivamente o fogo de Mercúrio, ou aquela virtude ígnea, contida na umidade radical, à qual já comunicou a fixidez e a natureza do enxofre, de onde emanou, o caráter mercurial de toda a substância do enxofre filosófico, permitindo que ele seja alternadamente chamado de mercúrio.


P. Que outro nome também é dado pelos filósofos ao seu ouro vivo ?

R. Eles também o chamam de seu enxofre vivo, e seu verdadeiro fogo; eles reconhecem sua existência em todos os corpos, e não há nada que possa subsistir sem ele.


P. Onde devemos procurar nosso ouro vivo, nosso enxofre vivo, e nosso verdadeiro fogo ?

R. Na casa de Mercúrio.


P. Pelo que este fogo é alimentado ?

R. Pelo ar.


P. Dê-me uma ilustração comparativa do poder deste fogo ?

R. Para exemplificar a atração deste fogo interior, não há melhor comparação do que aquela que deriva do raio, que originalmente é simplesmente uma exalação seca, terrestre, unida a um vapor úmido. Pela exaltação, e assumindo a natureza ígnea, ela age sobre a umidade que lhe é inerente; isto atrai a si mesma, transmuta-a em sua própria natureza, e então rapidamente se precipita na terra, onde é atraída por uma natureza fixa que é como a sua própria.


P. O que deve ser feito pelo Filósofo depois de ter extraído seu Mercúrio ?

R. Ele deve desenvolvê-lo a partir de sua potencialidade em atividade.


P. A natureza não pode fazer isso por si mesma?

R. Não; porque ela pára logo após a primeira sublimação, e fora da matéria que está assim disposta, os metais engendram.


P. O que os Filósofos entendem por seu ouro e prata?

R. Os Filósofos aplicam ao seu enxofre o nome de Ouro, e ao seu Mercúrio o nome de Prata.


P. De onde eles são derivados?

R. Eu já afirmei que eles são derivados de um corpo homogêneo no qual são encontrados em grande abundância, de onde também os Filósofos sabem extrair tanto por um processo admirável, quanto inteiramente filosófico.


P. Quando esta operação tiver sido devidamente realizada, a que outro ponto da prática eles devem se aplicar em seguida?

R. À confecção do amálgama filosófico, que deve ser feita com muito cuidado, mas só pode ser realizada após a preparação e sublimação do Mercúrio.


P. Quando seu assunto deve ser combinado com o ouro vivo?

R. Somente durante o período de amálgama, ou seja, o enxofre é introduzido nele por meio da amálgama, e a partir daí há uma substância; o processo é abreviado pela adição de enxofre, enquanto a tintura ao mesmo tempo é aumentada.


P. O que está contido no centro da umidade radical ?

R. Ele contém e oculta o enxofre, que é coberto com uma casca dura.


P. O que deve ser feito para aplicá-lo à Grande Obra ?

R. Deve ser tirado, de seus laços com habilidade consumada, e pelo método de putrefação.


P. A Natureza, em seu trabalho nas minas, possui um vácuo menstrual que se adapta à dissolução e liberação deste enxofre?

R. Não; porque não há movimento local. Poderia a Natureza, sem assistência, dissolver, apodrecer e purificar o corpo metálico, ela mesma nos forneceria! Pedra Física, que é enxofre exaltado e aumentado em virtude.


P. Você pode elucidar esta doutrina através de um exemplo?

R. Através de uma ampliação da comparação anterior de um fruto, ou uma semente, que, em primeiro lugar, é colocada na terra para sua solução, e depois para sua multiplicação. Agora, o Filósofo, que está em condições de discernir o que é boa semente, a extrai de seu centro, a consagra a sua terra propriamente dita, quando está bem curada e preparada, e aí a rarefaz de tal forma que sua prolífica virtude é aumentada e multiplicada indefinidamente.


P. Em que consiste todo o segredo da semente ?

R. No verdadeiro conhecimento de sua própria terra.


P. O que você entende pela semente no trabalho dos Filósofos ?

R. Eu entendo o calor interior, ou o espírito específico, que está encerrado no radical úmido, que, em outras palavras, é a substância média da prata viva, o esperma próprio dos metais, que contém sua própria semente.


P. Como você liberta o enxofre de suas ligações?

R. Pela putrefação.


P. O que é a terra dos minerais ?

R. É o seu próprio vácuo menstrual.


P. Que dores devem ser tomadas pelo Filósofo para extrair a parte que ele requer?

R. Ele deve tomar grandes dores para eliminar os vapores fétidos e os enxofre impuros, após o que a semente deve ser injetada.


P. Com que indicação o Artista pode ter certeza de que ele está no caminho certo no início de seu trabalho?

R. Quando ele descobre que o dissolvente e a coisa dissolvida são convertidos em uma forma e uma matéria no período de dissolução.


P. Quantas soluções você conta no Trabalho Filosófico?

R. Existem três. A primeira solução é aquela que reduz o corpo bruto e metálico em seus elementos de enxofre e de prata viva; a segunda é a do corpo físico, e a terceira é a solução da terra mineral.


P. Como o corpo metálico é reduzido pela primeira solução em mercúrio, e depois em enxofre?

R. Pelo fogo artificial secreto, que é a Estrela Ardente.


P. Como é realizada esta operação?

R. Extraindo do sujeito, em primeiro lugar, o mercúrio ou vapor dos elementos e, após a purificação, usando-o para liberar o enxofre de suas ligações, por corrupção, da qual a negritude é a indicação.


P. Como é realizada a segunda solução ?

R. Quando o corpo físico é resolvido nas duas substâncias mencionadas anteriormente e adquiriu a natureza celestial.


P. Qual é o nome que é aplicado pelos filósofos à matéria durante este período?

R. É chamado de Caos Físico, e é, de fato, a verdadeira Primeira Matéria, um nome que dificilmente pode ser aplicado antes da conjunção do homem – que é o enxofre – com a mulher – que é a prata.


P. A que se refere a terceira solução?

R. É a umectação da terra mineral e está intimamente ligada à multiplicação.


P. Que fogo deve ser utilizado em nosso trabalho ?

R. Aquele fogo que é usado pela Natureza.


P. Qual é a potência deste fogo?

R. Ele dissolve tudo o que existe no mundo, porque é o princípio de toda dissolução e corrupção.


P. Por que ele também é chamado de Mercúrio ?

R. Porque é em sua natureza aérea, e um vapor muito sutil, que participa ao mesmo tempo do enxofre, de onde contraiu alguma contaminação.


P. Onde este fogo está escondido ?

R. Ele está escondido no assunto de arte.


P. Quem está familiarizado com este fogo e pode produzi-lo?

R. É conhecido dos sábios, que podem tanto produzi-lo quanto purificá-lo.


P. Qual é a potência essencial e característica deste fogo ?

R. É excessivamente seco, e está continuamente em movimento; procura apenas desintegrar e produzir coisas da potencialidade para a atualidade; é que, em uma palavra, que vindo sobre lugares sólidos nas minas, circula em forma de vapor sobre a matéria, e a dissolve.


P. Como este fogo pode ser mais facilmente distinguido?

R. Pelos excrementos sulfurosos nos quais está envolto e pelo ambiente salino com o qual está revestido.


P. O que deve ser acrescentado a este fogo para acentuar sua capacidade de incineração nas espécies femininas?

R. Por causa de sua extrema secura, necessita ser umedecido.


P. Quantos fogos filosóficos você enumera ?

R. Existem em todos os três – o natural, o não natural e o contra-natural.


P. Explique-me estas três espécies de fogos.

R. O fogo natural é o fogo masculino, ou o agente principal; o antinatural é o feminino, que é o dissolvente da Natureza, alimentando uma fumaça branca, e assumindo essa forma. Esta fumaça é rapidamente dissipada, a menos que muito cuidado seja exercido, e é quase incombustível, embora por sublimação filosófica ela se torne corpórea e resplandecente. O fogo contra-natural é aquele que desintegra os compostos e tem o poder de desintegrar o que tem sido “ligado muito de perto pela Natureza”.


P. Onde se encontra nosso assunto?

R. Ele pode ser encontrado em qualquer lugar, mas deve ser procurado especialmente na natureza metálica, onde está mais facilmente disponível do que em qualquer outro lugar.


P. Que tipo deve ser preferido antes de todos os outros ?

R. O mais maduro, o mais apropriado e o mais fácil; mas deve-se tomar cuidado, antes de tudo, para que a essência metálica esteja presente, não apenas potencialmente, mas na realidade, e que haja, além disso, um esplendor metálico.


P. Está tudo contido neste assunto?

R. Sim; mas a Natureza, ao mesmo tempo, deve ser ajudada, para que o trabalho seja aperfeiçoado e apressado, e isto pelos meios que são familiares aos graus superiores da experiência.


P. Este assunto é extremamente precioso?

R. É vil, e originalmente é sem elegância nativa; se alguém disser que é vendável, é a espécie a que se refere, mas, fundamentalmente, não é vendável, porque é útil somente em nosso trabalho.


P. O que contém nossa matéria?

R. Ela contém Sal, Enxofre e Mercúrio.


P. Qual é a operação mais importante a ser realizada?

R. A extração sucessiva do Sal, do Enxofre e do Mercúrio.


P. Como isso é feito ?

R. Por sola e perfeita sublimação.


P. O que é, em primeiro lugar, extraído ?

R. Mercúrio na forma de uma fumaça branca.


P. O que segue?

R. Água ígnea, ou enxofre.


P. O que então?

R. Dissolução com sal purificado, em primeiro lugar volatilizando o que é fixo, e depois fixando o que é volátil em uma terra preciosa, que é o vaso dos filósofos, e é totalmente perfeito.


P. Quando o Filósofo deve iniciar seu empreendimento ?

R. No momento do amanhecer, pois sua energia nunca falha.


P. Quando ele poderá descansar?

R. Quando o trabalho tiver chegado a sua perfeição.


P. Em que hora termina o trabalho ?

R. Meio-dia, ou seja, o momento em que o Sol está em seu poder máximo, e o Filho da Estrela do Dia em seu esplendor mais brilhante.


P. Qual é a palavra passe da Magnésia?

R. Você sabe se eu posso ou devo responder: Eu guardo minha fala.


P. Dê-me a saudação dos Filósofos.

R. Comece; eu lhe responderei.


P. Você é um aprendiz de filósofo?

R. Meus amigos, e os sábios, me conhecem.


P. Qual é a idade de um Filósofo ?

R. Do momento de suas pesquisas ao de suas descobertas, o Filósofo não envelhece.


Meditação Alquímica


Dois pontos quase que universais e aparentemente contraditórios em todos os tratados de alquimia da antiguidade é que todos eles dizem estar guardando um segredo em metáfora e todos dizem abertamente que é um segredo e uma metáfora. Por isso diziam “Aurum nostrum non est aurum vulgi“: Nosso ouro não é o ouro vulgar. Não seria isso contraditório? Se fosse um segredo não seria melhor esconder o fato de que é uma metáfora? Os alquimistas parecem não pensar assim.


Essa obscuridade é, em parte, uma tentativa de transcender as limitações da linguagem comum, convidando os praticantes a explorar os significados em um nível mais profundo. Assim como uma maneira de falar sobre níveis de consciência para os quais a pessoa talvez ainda não tenha nenhuma experiência ou ponto de referência. Inclusive é muito comum que professores de meditação façam a mesma coisas utilizando metáforas e parábolas para transmitir sabedoria espiritual, buscando uma compreensão além das palavras convencionais.


Isso permite uma série de leituras diferentes de um mesmo tratado, tal como ocorreria em uma leitura de tarô ou em uma interpretação astrológica. Nenhuma dessas interpretações deve esgotar o tema e, sabendo que a busca é individual, os alquimistas nunca tiveram a necessidade de atingir um consenso universal mas isso não muda o fato que algumas interpretações são mais úteis do que outras. Continuemos portanto a analise dos processos alquímico como uma instrução para o que chamamos hoje de Meditação, a fim de ilustrar  exemplo. O trabalho alquímico é meditativo e o trabalho meditativo é alquímico. Não há diferença entre ambos pois tudo acontece internamente, mesmo que seus efeitos possam eventualmente se manifestar externamente.


I.N.R.I

Os alquimista dizem por exemplo que corpo e espírito  devem ser combinados e submetidos ao fogo. A fórmula I.N.R.I significa exatamente isso: “Ignis Natura Renovatur Integra”: “Pelo Fogo toda natureza se renova”. Este conceito pode ser facilmente relacionado com a prática da Kundalini Yoga. Na alquimia, o fogo é utilizado para purificar e transmutar elementos, enquanto na Kundalini Yoga, o Fogo interior desencadeia um processo de renovação e ascensão espiritual.  A combinação do corpo físico (representado pela coluna) e a dimensão espiritual (simbolizada pelos chakras) é essencial para desencadear um processo de elevação espiritual. O Fogo por sua vez seria a própria Kundalini, a energia espiritual adormecida que reside na base da coluna vertebral. A frase “Ignis Natura Renovatur Integra” (“Pelo Fogo toda natureza se renova”) pode ecoar a ideia de que a Kundalini, como um fogo interior, capaz de renovar integralmente a natureza humana, conduzindo a uma transformação profunda e espiritual.


Os alquimistas de fato tem muito a dizer e muito disseram sobre o fogo. Para citar apenas o emblema XXIX do Atalanta Fugiens:


Onde a salamandra vive mais poderosa é no fogo ardente

Ela não teme as armadilhas e Vulcano:


Da mesma forma, a Pedra não rejeita os fogos cruéis das chamas, pois nasceu no fogo permanente

Aquele que é frio, o calor extingue e fica live.

Mas este é quente e o calor o ajuda.


Assim como na alquimia, onde o fogo é símbolo de purificação e transformação, na Kundalini Yoga, esse fogo interior é central para o processo de renovação e ascensão espiritual. Uma das formas mais consagradas de se fazer isso é pela meditação.


Ora et Labora

Os alquimistas dizem também que a Oração precede e se alterna com o Trabalho: “Ora et labora”. Esta formula traduzida significa “Ora e trabalha” e encontramos paralelo a ela nos primeiros dois passos da Yoga Patañjali. Na verdade a semelhança chega a ser assustadora. Yama refere-se aos princípios éticos universais (não matar, não roubar, não mentir, etc..) enquanto Niyama engloba os princípios do trabalho pessoal (purificação, contentamento, esforço, vigilia de si mesmo e devoção). Portanto tanto “Ora et labora” como “Yama e Niyama’ estão ensinando que não adianta nada você se dedicar a alquimia ou meditação se no dia a dia você esquece tudo o que aprendeu e não se esforça para preservar em seu cotidiano aquilo que conquistou. Então antes de começar qualquer prática de alquimia corrija seus caminhos e busque uma vida equilibrada, combinando espiritualidade, trabalho e ética. Se você está em busca de uma forma bem estruturada de fazer isso recomendo a leitura de meu livro “Principia Alchimica.” onde além de meditação falo sobre outras técnicas alquímicas de espagiria, magia bem como sobre a história e simbolismo profundo da alquimia.


Mas Orar para quem você pode perguntar? São tantas as religiões que qualquer escolha parece ser assombrada pela multidão de deuses renegados.  Patanjali dizia que Yama e Niyama devem ser feitos em devoção ao Īśvara, o Ilimitado, o Absoluto e a unidade essencial existente no universo. Já os alquimistas sempre seguiram a religião de seu pais como diz o Fama Fraternitatis “vestir-se segundo o costume do país em que residissem.”. Ora et Labora é também uma chave  que transcende qualquer sectarismo religioso: O.R.A.E.T.L.A.B.O.R.A “Omnia Religio Ad Eternam Tranquillitatem Lucis Amorem Benedictionem Orbe Laborat, Amen.” (Todas as Religiões Trabalham pela Tranquilidade Eterna, Luz, Amor e Bênção no Mundo, Amém)


V.I.T.R.I.O.L

O conceito alquímico das quatro fases, representadas pela fase negra, branca, amarela e vermelha, pode ser correlacionado com as distintas etapas da meditação. A fase negra, associada à putrefação dos metais, encontra um paralelo na meditação inicial, onde se busca soltar e deixar ir as tensões e pensamentos intrusivos, permitindo uma depuração mental. A fase branca, envolvendo a destilação e purificação, reflete a subsequente etapa da meditação, onde a mente se aprimora na claridade através da concentração focalizada, eliminando impurezas mentais. A fase amarela, marcada pela circulação, se assemelha a levar essa concentração a um outro nivel de sutileza, focando na experiência amorosa e movendo-se além dos limites convencionais e explorando estados mentais mais amplos. Por fim, a fase vermelha, onde os elementos se fundem para criar a Pedra Filosofal, pode ser comparada ao ápice da meditação, onde a mente e o espírito se unem em um estado de serenidade profunda, atingindo uma compreensão mais elevada. Vitriol significa “Sulfeto”, mas sua chave é “Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem” (“Visite o interior da Terra retificando e você encontrará uma pedra escondida”) ressoa, sugerindo que, ao explorar os recantos internos da mente durante a meditação, é possível descobrir uma sabedoria oculta e transformadora.


Solve et Coagula

O princípio alquímico do “Solve et Coagula”, que significa “dissolver e coagular” pode ser relacionado de maneira profunda com os processos de desconcentração e concentração, diferentes práticas meditativas. Dissolução (ou Desconcentração) envolve alcançar uma substância mais elevada soltando e dissolvendo a dissolver a atenção de todo fenômeno mental que for possível. Em contrapartida, o Coagulação reúne os elementos purificados para criar algo novo por meio do direcionamento da mente em um ponto focal.  Em última instância a verdadeira Coagulação é o Nascimento e a verdadeira Dissolução é a Morte. Guadadas as devidas proporções na prática da meditação alquímica a Coagulação é qualquer momento contemplativo enquanto que a Dissolução é a busca pela integração. Desconcentração real portanto, só ocorre (quando ocorre) no Rubedo.


Natura Dux

Outro princípio alquímico que se relaciona fortemente com a meditação é a noção de “Imitação da Natureza”. Toda arte espiritual que se guie pela resistência e negação da natureza está fadada e reforçar o que busca combater. Dai a importância de trabalhar com os ritmos naturais e processos inatos do universo. Como formulou Jung: “Aquilo que você resiste, persiste”. Assim, o caminho de desenvolvimento interior deve necessariamente refletir a ordem natural das coisas. A prática é guiada pela observação consciente dos fenômenos do corpo e a do espírito tais como se apresentam. Por isso os alquimistas não descartam os metais menores, mas os utilizam e os transformam com serenidade e consciência buscando um entendimento mais profundo da própria natureza que é observada. Vejamos agora com mais profundidade as relações entre as quatro fases da alquimia como etapas dentro de uma jornada meditativa.


O Vaso Hermético

A Meditação começa com a observação do ambiente ao seu redor. Você já criou o melhor laboratório possível, então não adiante lutar contra os estímulos que se apresentarem aos sentidos.  Use todos os sons, luzes, cheiros e incômodos físicos que se apresentarem ao seu favor. Observe cada um por um breve momento simplesmente aceitando que todos eles existem e não se apegando a nenhum. Para alguns o desafio será uma coceira para outros um barulho. A chave aqui é não combater mas novamente “trabalhar com a natureza”. Ao aceitar os estímulos sensoriais do ambiente durante a meditação, não estamos apenas cientes de sua presença, mas também aprendemos a não nos deixar envolver por eles. É assim que se  ‘sela o vaso hermeticamente’. O trabalho então pode começar.


Nigredo

A trabalho em negro na alquimia envolve a putrefação dos metais, e pode ser comparada aos momentos iniciais da meditação para aqueles que estão começando. Assim como observamos, aceitamos a existência das sensações dos sentidos (Chumbo), agora fazemos os mesmos com fenômenos psíquicos que se apresentarem, sejam Sentimentos (Cobre), Pensamentos (Ferro) ou Intenções (Estanho), apenas observe-os passando como quem observa nuvens no céu ou carros em uma estrada. Este “Observador” que não é nenhum destes metais é chamado de Mercúrio e é quem faz a ponte para  Prata e para o Ouro.


Nos primeiros momentos da meditação, é natural sentir uma agitação mental, deixe acontece. A fase negra pode ser percebida como um processo inicial de desintegração e novamente neste estágio é crucial não resistir às distrações, mas sim permitir que elas se dissolvam naturalmente. Os alquimistas chamavam este processo de putrefação e o tinham como uma etapa essencial, no começo pode feder, mas depois se integra a natureza. Os praticantes iniciantes podem abraçar a turbulência inicial na meditação como parte integrante do caminho para a tranquilidade interior. Essa fase negra é um ponto de partida, uma oportunidade para estabelecer as bases para a quietude e a concentração que se seguirão na jornada meditativa.


Albedo

A fase branca na alquimia, que envolve a destilação, pode ser equiparada à prática de Dhāraṇā no contexto do sistema ióguico de Patanjali, refere-se à concentração intensa da mente em um único ponto ou objeto. Assim como a destilação alquímica visa separar e purificar os elementos, Dhāraṇā envolve a focalização mental para alcançar uma clareza e pureza de pensamento.


Durante a meditação, a fase branca alquímica é refletida quando os praticantes direcionam sua atenção para um objeto de concentração, seja um som (mantra), uma imagem (Iantra) ou uma ideia abstrata.


Tal como os budismo tibetanos que usa complexas mandalas e canticos elaborados para meditar, os alquimistas contemplam seu trabalho no laboratorio, mas também iluminuras, cartas do tarô, textos poeticos e música sacra. O livro Atalanta Fugiens já mencionado em particular foi criado com o objetivo de fornecer um emblema, uma música e um tema de meditação unificados para serem contemplados em conjunto de forma a preencher completamente a mente por um período de tempo determinado. A meditação pelos emblemas do Atalanta tem vantagens de facilitar a imersão total em uma experiência sensorial completa que engajando diferentes facetas da mente. A estrutura do livro foi pensada como uma espécie de meditação guiada que utiliza a dimensão simbólica da tradição alquímica.


Por um lado a meditação orientada pelos emblemas e fugas tem muito a ensinar, por outro podem estimular a imaginação, promover rompantes de intuição e desencadear insights criativos que podem ser obstáculos aos meditadores menos experientes. O desafio é não sair do emblema. Quando uma lembrança, uma emoção ou um estimulo externo lhe distrair retorne para o emblema e para a música serenamente. Se você conseguir manter-se no Emblema I por cinco minutos apesar das distrações, talvez este seja um caminho para você.


Se sua mente divagar tente se concentrar em temas mais simples como uma vela acesa ou um jardim,  a chamada Colheita do Orvalho. A forma mais acessível de iniciar-se na meditação é usar sua própria respiração. Sidarta Gautama obteve a iluminação usando apenas esse método. A vantagem é que seu corpo já sabe respirar, então não há necessidade de forçá-lo a fazer de um jeito específico. A acrescente o Mercúrio da observação e se ajudar na concentração conte ciclos de 10 contanto 1 para cada inspiração ou expiração. O risco aqui é o tédio, o desinteresse e o sono. Por isso seja curioso e interessado observando como cada respiração é diferente da anterior. Essa concentração profunda permite que a mente se liberte de distrações, consolidando a energia mental e preparando o terreno para estágios das próximas fases. Se quaisquer metais menores se manifestarem faça a mesma coisa dos passos anteriores, apenas observe-os e deixe-os se afastar.


Citrinitas

Nem todos os alquimistas falam desta fase, porque de fato a Pedra Filosofal é possível sem ela. O trabalho em amarelo é como que uma versão mais refinada da fase branca. A mente foi disciplinada e agora é capaz de se concentra-se em um único ponto. Ela esta pronta portanto para ser elevado em uma oitava mais alta. O paralelo com a meditação está na prática da Metta Bhavana, a prática budista de Meditação no Amor Universal ou a chamada Oração do Coração na tradição mística cristã.  Assim como na alquimia, em que os elementos purificados circulam para se fundir em uma forma superior, a Metta Bhavana envolve a circulação ativa e compassiva do amor e da benevolência em todas as direções. Citrinitas é o “retorno ao sagrado” no sentido de ser uma expansão do amor e compaixão e equanimidade com todos os seres.


Rubedo

No trabalho em vermelho espírito e corpo estão em via de se tornar um, e deste casamento surgirá a Pedra Filosofal. Há aqui uma correspondência exata com o estado de absorção total alcançado na meditação profunda e que Patajali chamou de Dhyāna a etapa meditativa em que o fluxo do pensamento é suspenso e portanto ocorre a superação de todas as dualidades. Ambas as práticas, alquimia e Dhyāna, compartilham a ideia central de transformação e transcendência, explorando os domínios internos para atingir os estados mais elevados possíveis de consciência e entendimento.


O Rubedo é como a Contemplação Cristã, a forma como esta etapa vai se manifestar vai depender muito das etapas anteriores e do seu histórico geral. Nas primeiras vezes que tentar “esvaziar a mente” provavelmente vai ser invadido por todo tipo de sensações, sentimentos, pensamentos e desejos. Em vez de se esforçar para eliminá-los deixe que venham e passem pacientemente. Após isso você se aproximará do limiar quando o chamado “Guardião do Umbral” pode se manifestar. A experiência pode ser um pouco assustadora para quem não está preparado mas é inofensiva, também não vale a pena ficar brigando com ele, apenas deixe que se vá. Então com o tempo poderá receber alguns pensamentos que são como inspirações, mensagens elevadas e insights poderosos. Eles não são ainda o objetivo do Rubedo, mas podem ser muito úteis e instrutivos.  Em um dado momento você chegará num ponto além do discurso mental, permaneça o quando puder lá pois está em vias de ocorrer a fusão do pequeno e do grande alquimista. Também aqui não tenha pressa nem ânsia por resultados.


Lapidem Philosophorum

Quando a fusão é completa ocorre os alquimistas dizem que chegaram à Pedra Filosofal, Santa Tereza à União Mística, os iogues ao Samādhi e os budistas ao Nirvana. Por fim fica claro porque tanto alquimistas como professores de meditação usam metáforas. Não há palavras para descrever com exatidão esta experiência. Podemos apenas usar um jargão para explicar o outro, uma metáfora para esclarecer a anterior.


A Pedra Filosofal é tida como uma Panaceia, um remédio universal capaz de dominar todos os metais e como exposto neste artigo fica fácil compreender os paralelos com os benefícios da mente que conquistou a clareza, tranquilidade e equilíbrio e se tornou capaz de transcender as vicissitudes da vida. Os Metais Menores do Chumbo, Cobre, Ferro e Estanho ainda estão lá em nossas Sensações, Sentimentos, Pensamentos e Intenções, mas são transformados pelo Mercúrio em Prata e Ouro e os impulsos descontrolados são transformados pela mente meditativa.


Um ponto importante é cultivar a paciência. Não tenha pressa para passar de uma etapa para a outra e persiste no fechamento do vaso de hermes o tempo que precisar. Tanto a Kundalini Yoga como a Meditação Budistas e a Alquimia são estruturadas de forma gradual por uma razão. Os praticantes avançam em diferentes estágios, trabalhando sistematicamente com o corpo, a mente e a energia espiritual. Não ignore nenhum dos conselhos dados neste artigo e não pule etapas para que seu trabalho seja feito de maneira segura e progressiva.


Por outro lado os benefícios são perceptíveis na primeira semana. Hoje temos dados estatísticos para comprovar que a prática da meditação frequentemente conduz a uma redução do estresse, maior clareza mental, controle emocional, uma compreensão mais profunda dos pensamentos e intenções, relacionamentos mais saudáveis e maior eficiência e produtividade no trabalho.


Em última análise, a Pedra Filosofal alquímica de fato é um remédio universal pois transcende as limitações mentais, promovendo um estado de bem-estar, integração e uma compreensão mais profunda do eu. O principal ganho é poder levar o que você produzir em seu laboratório para o seu dia a dia. Uma mente capaz de observar a si mesmo de não se apegar a qualquer fenômeno mental é algo precioso para se ter e que vale a pena trabalhar. Algo que nos fará ter uma vida mais plena e é também a melhor coisa que podemos fazer para nos preparar para o momento de nossas mortes.


Glossário alquímico:


Segue um breve glossário que será usado. Seu simbolismo está extremamente simplificado para esta prática. Para uma visão bem mais aprofundada do simbolismo alquímico consulte o Principia Alchimica


Chumbo: Sensações físicas

Cobre: Sentimentos

Ferro: Pensamentos

 Estanho: Intenções

 Mercúrio: Atenção

Nigredo: Purificação dos Metais

Albedo: Aprimoramento dos Metais

Citrinitas: Sacralização dos Metais

Rubedo: Compreensão real


I. Selando o Vaso de Hermes

Escolha um lugar tranquilo e livre de distrações. Se possivel tome algumas gotas de uma tintura de uma planta mercurial e faça uma breve oração pela sabedoria.

Sente-se com a coluna reta e descanse as mão sobre as pernas. Mantenha os olhos ainda abertos mas sem se prender a visão nenhuma em particular.

Faça sete respirações profundas inspirando pelo nariz profundamente duas vezes antes de soltando pela boca uma vez. Respire forte o bastante para alguém que tivesse na sala pudesse ouvir você respirando.

Fechar os olhos e permitir que qualquer estímulo externo se apresente: luz, som, humidade, vento, cheiros, seu peso no chão, o toque das suas roupas, etc… Você já buscou criar um bom ambiente mas não faz sentido “brigar” com cada estímulo que chegar até você. Apenas reconheça cada um deles sem se fixar em nenhum deles.

Nos primeiros dias medite apenas até este ponto por 5~10 minutos e pule para a parte IV: Encerramento. No dia que sentir que está em paz com seu entorno continue.


I. Nigredo: A Decomposição dos Metais

O objetivo do nigredo é purificar os metais de seus grânulos de forma a capacitá-los para as próximas etapas.


Decomposição do Chumbo:

Observe seu próprio corpo sondando-o do topo da cabeça até os dedos dos pés com uma luz em uma máquina copiadora. Observe a sensação física de cada parte sem tentar mudá-la apenas identificando pontos de relaxamento ou tensão. Note que você não é suas sensações, você é quem as experimenta.

Decomposição do  Cobre:

Observe agora sua predisposição emocional como um todo. Não force nem julgue o que encontrar apenas tome ciência dos sentimentos, emoções que surgirem. Deixe aflorar qualquer sentimento particularmente forte que tenha tido nos últimos dias e seja testemunha disto julgar a si mesmo ou a suposta causa. Depois retorne para o aqui e agora e sinta suas emoções atuais. Note que você não é seus sentimentos, você é quem os sente.

Decomposição do Ferro:

Agora observe seus pensamentos abstratos: memórias, projeções, imagens, mas também discursos internos e histórias que conta para si mesmo. Deixe emergir o que quer que tenha orbitado sua mente ultimamente, mas observe o pensamento desapegadamene e deixe-os passar.  Note que você não é nenhum desses pensamentos, acima deles, você é aquele que  pensa.

Decomposição do Estanho

Observe agora seus planos, propósitos, desejos e motivações. Eles são os mesmos de ontem, de uma semana ou de um ano atrás? E agora quais são? Deixem que se apresentem quaisquer intenções, e propósitos mas sem os forçar. Note que você tem muitas intenções e algumas delas podem ser opostas umas as outras. Você não precisa lidar com tudo isso agora. Apenas reconheça-os e deixe-os passar.

Observe estas Sensações, Sentimentos, Pensamentos e Intenções como nuvens: distantes, passageiras e impermanentes. Agora estão aqui, agora não estão. Ao reconhecê-los sem resistência eles naturalmente se diluem e nos purificam os metais.


Chumbo purificado nos dá o poder da Concentração. Cobre purificado nos dá Harmonia. Ferro purificado nos dá Foco. Estanho purificado nos dá Vontade. Se juntarmos Concentração, Harmonia, Foco e Vontade com a Atenção do Mercúrio adquirimos a Concentração de Acesso necessária para as próximas fases onde a Prata e o Ouro nos aguardam.


Dedique alguns dias para meditar no Nigredo antes de prosseguir. Nesta ocasiões pode pular em seguida para a parte IV: Encerramento. Em mais ou menos uma semana de prática avance para o próximo passo. Para trabalhos específicos do Nigredo estenda esse momento o quanto quiser.


II. Albedo: A Destilação da Consciência

Como somos nós que criamos nossos pensamentos e motivações vamos criar uma para agora. Lembre a si mesmo do porque estar fazendo este exercício.  Qual sua motivação? Formule em uma frase simples e lembre-se de incluir os benefícios que as pessoas do seu entorno também desfrutação com esta prática.

Concentre-se em sua própria respiração. Não é preciso ensinar o corpo a respirar, ele já sabe fazer isso. Apenas observe. Para ajudar conte de 1 a 10 incluindo nessa contagem cada inspiração e expiração. Quando acabar recomece a contagem. Tanto na Dissolução como na Coagulação, quando surgir em sua mente qualquer pensamento que o afaste da pura observação classifique o fenômeno como Chumbo, Cobre, Ferro ou Estanho e deixe-o ir retornando suavemente ao seu foco.

Se desejar este é o momento ideal para fazer um exercício de Imaginação Ativa. Escolha um ponto de concentração. Pode ser um emblema do Atalanta Fugiens, uma carta de tarô, uma vela ou sua própria respiração. É importante manter-se o mais interessado, objetivo e curioso possível. Concentre-se neste ponto focal mas não pense sobre ele.

Medite até este ponto por alguns dias e pule para a parte IV: Encerramento. Após alguns dias prossiga o roteiro. Para trabalhos específicos do Albedo estenda esse momento o quanto quiser.


III. Citrinitas: A Sublimação Amorosa

Deixe seu ponto focal de lado e feche os olhos.

Escolha uma palavra com o significado mais sagrado que puder. Algo que verdadeiramente toque seu coração como uma ideia elevadíssima: Luz, Paz, Amor, Deus, INRI, Tao, Iesu-Maria, Buda, Allah, OM etc.

Repita o nome mentalmente várias vezes suave e lentamente até sentir que seu coração está preenchido e então silencie a mente.

Sempre que um outro fenômeno mental se manifestar repita gentilmente a palavra sagrada escolhida e silencie.

Alternativas para o Citrinitas para usar no lugar da palavra sagrada:


Uma pequena oração como “Ave Maria..“” ou “Namo Amitaba Buda” “Hare Krishna..” ou “La ilaha il Allah”, conforme sua tradição.

Uma frase significativa como “que todos os seres possam livrar-se do sofrimento e encontrar a Paz”

Um simples sentimento de amor e benevolência por todos os seres.

A própria presença divina do Sagrado sem nenhuma palavra de apoio.

Descubra o que funciona melhor para você. Medite até este ponto por alguns dias antes de continuar. Comece com cinco minutos de Citrinitas e pule para a parte IV: Encerramento.


IV. Rubedo: A Conjunção

Após as três etapas anteriores abandone agora qualquer foco e concentração e deixe a mente completamente livre para fazer o que quiser. Apenas contemple o que vier. Comece com um minuto ou dois e encerre e vá aumentando este tempo aos poucos.

Quatro coisas podem acontecer, mas o fracasso é impossível:

Pensamentos aleatórios: Neste caso simplesmente identifique se é um agregado de Chumbo, Cobre, Ferro ou Estanho e se desapegue como anteriormente. Você está se aperfeiçoando o Mercúrio.

Sensações de frio nos membros. Neste caso você está se aproximando do limiar do umbral, não permaneça nele, apenas siga para o encerramento por hoje e repita no outro dia.

Insights e intuições elevadas: Não são pensamentos como os anteriores e você prontamente os reconhecerá pelo que são. Agradeça as lições e depois tome nota. Você está aperfeiçoando a Prata.

Não acontecer nada: Este é o melhor dos casos pois você se aproxima do que Jean Dubuis chamou de Experiência da Eternidade, a não-dualidade. Esta vacuidade fora do tempo e espaço é o Ouro dos filósofos que estamos procurando.

Em minha experiência a concentração nos emblemas tendem a resultar em experiências de Prata, o que pode ser bastante instrutivo e inspirador. Por outro lado o foco apenas na respiração tem resultado em experiências de Ouro com maior frequência e intensidade.


No início será dificil manter este momento por mais de um minuto. Mas em para trabalhos específicos do Rubedo estenda esse momento o quanto quiser.


IV. Encerramento

Mantenha os olhos fechados e observe sem forçar nada sua própria respiração.

Aos poucos retorne ao ambiente prestando atenção aos sons e estímulos do lugar

Abra os olhos devagar e permanece ainda sem se mexer por um breve instante. Tente trazer a consciência meditativa para o que quer que vá fazer em seguida.


Conclusão

Este modelo é o que tenho usado por algum tempo. Sinta-se livre para adaptá-lo para sua própria realidade. Lembre-se que a Meditação é uma Alquimia Mental. Ela não esgota a tradição alquímica nem substitui a reforma moral da Alquimia Espiritual ou os benefícios práticos da Espagiria. Todas estas são ferramentas que quando usadas de forma inteligente colaboram umas com as outras. Alquimia é mais do que uma única prática isolada, ela é uma cultura e não há nada mais próprio desta cultura do que o empirismo e a experimentação.


Os Quatro Fogos da Alquimia


Para os alquimistas, o Fogo era o Elemento mais importante, e eles o consideravam o agente universal de transformação que tornava a alquimia possível. “A alquimia é apenas aquilo que torna puro o impuro por meio do Fogo”, disse Paracelso. E também: “Embora nem todos os fogos queimem, é apenas o Fogo e continua a ser o Fogo que nos interessa.”


Os alquimistas reconhecem quatro graus ou tipos de fogo com os quais realizam suas transformações. Vamos dar uma olhada mais de perto em cada um.


Fogo Elementar

O grau mais baixo de fogo é conhecido como Fogo Elementar, que é o fogo comum com o qual todos estamos familiarizados. “O Fogo Elementar, que é o fogo de nossos fogões”, escreveu o filósofo-alquimista francês Antoine Joseph Pernety em 1758, “é impuro, grosso e ardente. Este fogo é cortante e corrosivo, muitas vezes malcheiroso, e é conhecido pelos sentidos. Tem por morada a superfície da terra e nossa atmosfera e é destrutiva; fere os sentidos, queima, digere, inventa e não produz nada além de calor. É externo ao alquimista e separativo.”


Fogo Celestial

O grau mais alto de fogo é o Fogo Celestial, que é o fogo branco brilhante que emana da Mente Única de Deus e representa o poder da vontade divina. “O Fogo Celestial é muito puro, simples e não queima em si mesmo”, disse Pernety, “ele tem por esfera a região etérea, de onde se dá a conhecer até mesmo para nós. O Fogo Celestial brilha sem queimar e não tem cor nem cheiro. É gentil e conhecido apenas por suas operações.”


Fogo Central Criador

Entre os graus mais baixos e mais altos de fogo há mais dois tipos. Um é o Fogo Central escondido dentro da matéria em seu próprio centro. O Fogo Central é o fogo da criação, a Palavra de Deus embutida em todos os objetos manifestados. Segundo Pernety: “O Fogo Celestial passa para a natureza do Fogo Central; torna-se interno, engendrando na matéria. É invisível e, portanto, conhecido apenas por suas qualidades. O Fogo Central está alojado no centro da matéria; é tenaz e inato na matéria; está digerindo, amadurecendo, nem quente nem queimante ao toque.”


Fogo Secreto

Os alquimistas raramente falam do quarto grau de fogo, embora o considerem o fogo primário com o qual o verdadeiro alquimista trabalha. Eles se referem a ele apenas como seu Fogo Secreto. “O fogo do sol não poderia ser esse Fogo Secreto”, sugere Pernety. “É desigual e não penetra. O fogo dos nossos fogões, que consome as partes constituintes da matéria, não poderia ser o único. O Fogo Central, que é inato na matéria, não pode ser aquele Fogo Secreto tão elogiado, porque esse calor é muito diferente dentro dos três reinos; o animal a possui em um grau muito maior do que a planta”.


A verdadeira natureza do Fogo Secreto foi escondida em mitos e lendas ao longo dos tempos. “Em alegorias e fábulas”, confirma Pernety, “os filósofos deram a este Fogo Secreto os nomes de espada, lança, flechas, dardo, etc. É o fogo que Prometeu roubou do céu, que Vulcano empregou para formar os raios de Júpiter e o trono de ouro de Zeus”.


A partir das pistas de Pernety, talvez possamos descobrir a verdade sobre o Fogo Secreto. Parece que o Fogo Secreto tem uma direção ou evolução e se comporta com propósito como uma espada ou flecha. Também sabemos que os animais possuem mais do que as plantas e que é um segredo antigo passado de alquimista em alquimista em mitos e lendas.


Vamos procurar mais pistas. Franz Hartmann, um médico alemão do século XIX, foi outro alquimista que escreveu abertamente sobre o Fogo Secreto. Em seu livro Alquimia, ele admitiu: “O Fogo Secreto dos alquimistas às vezes é descrito como um poder de trabalho serpentino no corpo do acético. É um poder elétrico, ígneo e oculto, uma força eletro-espiritual de poder criativo.”


Qualquer alquimista que se preze sabe o que significa a palavra-código “serpentina”. Desde os dias de Thoth e Hermes, a serpente simboliza a força vital, a energia básica de animação que encontra expressão em nossa sexualidade e estado de saúde. A força vital é a Quintessência da matéria, o oculto Quinto Elemento, a centelha divina interior que dá vida a todas as coisas. Acabamos de desvendar um dos maiores segredos da alquimia – o Fogo Secreto dos alquimistas é a própria força vital, e é um ingrediente importante em seu trabalho. É algo que o alquimista tenta acumular, controlar e acrescentar a seus experimentos.

Thelema - Liber Os Abysmi vel Daath

 

1. Este livro é o Portão do Segredo do Universo.

2. Que o Adepto Isento adquira os Prolegômenos de Kant, e estude-os, prestando atenção especial às Antinomias.

3. Também a doutrina de Causalidade de Hume em seu “Inquérito”.

4. Também a discussão de Herbert Spencer sobre as três teorias do Universo em seus “Primeiros Princípios”, Parte I.

5. Também os Ensaios de Huxley sobre Hume e Berkeley.

6. Também os Ensaios de Crowley: Berashith, Tempo, O Soldado e o Corcunda, etc.

7. Também a “Lógica” de Hegel.

8. Também as “Perguntas do Rei Milinda” e os Sūtras budistas que tratam de Metafísica.

9. Que ele também seja proficiente em Lógica. (Lógica Formal, Keynes.) Além disso, que ele estude quaisquer obras clássicas para as quais sua atenção for suficientemente dirigida no curso de sua leitura.

10. Agora que ele considere problemas especiais, como a Origem do Mundo, a Origem do Mal, o Infinito, o Absoluto, o Ego e o não-Ego, o Livre-Arbítrio e o Destino, e outros que possam atraí-lo.

11. Que ele demonstre com sutileza e exatidão as falácias de todas as soluções conhecidas, e que ele busque uma solução verdadeira por seu correto Ingenium.

12. Em tudo isso, que ele seja guiado apenas por clara razão, e que ele forçosamente suprima todas as outras qualidades, como a Intuição, a Aspiração, a Emoção e qualidades semelhantes.

13. Durante essas práticas, todas as formas de Arte Mágica e Meditação estão proibidas para ele. É proibido tentar buscar qualquer refúgio de seu intelecto.

14. Então que sua razão se choque repetidamente contra o muro em branco de mistério que o confrontará.

15. Assim também o seguinte é dito, e nós não negamos.

Por fim sua razão assumirá a prática automaticamente, suâ sponte, e ele não terá nenhum descanso dela.

16. Então todos os fenômenos que se apresentarem a ele parecerão sem sentido e desconexos, e o seu próprio Ego se dividirá em uma série de impressões que não têm relação uma com a outra, ou com qualquer outra coisa.

17. Então que este estado se torne tão agudo que é na verdade Insanidade, e que isto continue até a exaustão.

18. A duração desse estado será de acordo com uma certa tendência mais profunda do indivíduo.

19. Pode terminar em verdadeira insanidade, o que conclui as atividades do Adepto durante a presente vida, ou pelo seu renascimento em seu próprio corpo e mente com a simplicidade de uma criancinha.

20. E então ele encontrará todas as suas faculdades intactas, no entanto limpas de uma maneira inefável.

21. E ele recordará a simplicidade da Tarefa do Adeptus Minor, e se aplicará a ela com energia revigorada de uma maneira mais direta.

22. E em sua grande fraqueza pode ser que por algum tempo a nova Vontade e Aspiração não sejam fortes, no entanto, não sendo perturbadas por aquelas ervas daninhas da dúvida e da razão que ele arrancou, elas crescem imperceptivelmente e facilmente como uma flor.

23. E com o reaparecimento do Santo Anjo Guardião, ele pode receber as mais altas consecuções, e tornar-se verdadeiramente preparado para a experiência completa da destruição do Universo. E pelo Universo Nós não queremos dizer aquele Universo fútil que a mente do homem pode conceber, mas aquele que é revelado à sua alma no Samādhi de Atmadarśana.

24. Daí ele pode entrar em uma comunhão real com aqueles que estão além, e ele será competente para receber comunicação e instrução diretamente de Nós.

25. Assim Nós o prepararemos para o confronto com Choronzon e o Ordálio do Abismo, quando o tivermos recebido na Cidade das Pirâmides.

26. Assim, sendo de Nós, que o Mestre do Templo realize aquele Trabalho que é designado.

(No Liber CDXVIII há um relato adequado deste Ordálio e Recepção. Veja também Liber CLVI para a preparação.)

27. Também a respeito da Recompensa disso, de sua entrada no Palácio da Filha do Rei, e daquilo que acontecerá depois disso, que seja entendido pelo Mestre do Templo. Não alcançou ele o Entendimento? Sim, em verdade, não alcançou ele o Entendimento?

Thelema - Khabs Am Pekht

 

Primeiramente, que a tua atenção se volte para este planeta, como o Êon de Hórus se manifesta pela Guerra Universal. Este é o primeiro resultado grande e direto do Equinócio dos Deuses, e é a preparação dos corações dos homens para receber a Lei.

Deixa-Nos lembrá-lo de que esta é uma fórmula mágica de escopo cósmico, e que é dada em detalhes exatos na lenda do Velocino de Ouro.

Jasão, que nesta história representa a Besta, primeiro preparou um navio guiado pela Sabedoria ou Atena, e esta é sua aspiração à Grande Obra. Acompanhado por muitos heróis, ele chega ao lugar do Velocino, mas eles não podem fazer nada até que Medeia, a Mulher Escarlate, coloca em suas mãos uma bebida “drogada com sonolência, sonífera com papoula e heléboro branco” para o dragão. Então, Jasão é capaz de subjugar os touros, sagrados para Osíris, e simbólicos de seu Êon e da Fórmula Mágica do Auto Sacrifício. Com estes, ele ara o campo do mundo e semeia ali “os terríveis dentes da aflição, o estoque cadmiano da velha miséria de Tebas”, que se refere a uma certa fórmula mágica anunciada pela Besta que é familiar para ti, mas inadequada para o profano e, portanto, não mais indicada neste lugar. Dessa semente, homens armados ganharam vida; mas, em vez de atacá-Lo, “a loucura mútua atinge os guerreiros desenfreados e a ira feroz invade seus corações de fúria e, com os braços ocupados, eles caem uns sobre os outros silenciosamente, e matam e matam”. Agora, então, o Dragão estando adormecido, podemos passar silenciosamente por ele e “dobrando os galhos daquele feiticeiro Carvalho, com um forte puxão arrancar o Velocino de Ouro”.

Vamos apenas nos lembrar de não repetir o erro de Jasão e desafiar Ares, que é Hórus em seu humor de guerreiro, que o guarda, para que Ele também não nos ataque com loucura. Não! mas que tudo seja feito para a glória de Ra-Hoor-Khuit e o estabelecimento de Seu reino perfeito!

Agora, ó meu filho, tu sabes que é Nossa vontade estabelecer esta Obra, cumprindo plenamente o que Nos é ordenado no Livro da Lei, “Ajuda-me, ó guerreiro senhor de Tebas, em meu desvelar diante das Crianças dos homens!” — e é Tua Vontade, manifestando como tu fizeste na Esfera de Malkuth, o mundo material, fazer a mesma coisa de um modo ainda mais imediato e prático do que naturalmente apelaria para alguém cuja manifestação está no Céu de Júpiter. Portanto, agora Nós respondemos à Tua petição filial que Nos pede bom conselho sobre os meios a serem empregados para estender a Lei de Thelema para todo o mundo.

Portanto, dirija agora a atenção para mais perto do próprio Livro da Lei. Nele encontramos uma regra de vida absoluta, e instruções claras sobre todas as emergências que possam acontecer. Quais são então as próprias direções Dele para a frutificação Daquela Semente Inefável? Rogo-te que note a confiança com a qual podemos prosseguir. “Eles reunirão minhas crianças em seu cercado: eles trarão a glória das estrelas para dentro dos corações dos homens”. Eles “hão”; não há dúvidas. Portanto, não duvides, mas ataca com toda a tua força. Rogo-te também que note esta palavra: “A Lei é para todos”. Portanto, não “escolha pessoas adequadas” de acordo com a tua sabedoria mundana; pregue a Lei abertamente para todos os homens. Em Nossa experiência, Nós descobrimos que os meios mais improváveis produziram os melhores resultados; e de fato é quase a definição de uma verdadeira Fórmula Mágica que os meios devem ser inadequados, racionalmente falando, para o fim proposto. Rogo-te que note que Nós estamos obrigados a ensinar. “Ele deve ensinar; mas ele pode fazer severos os ordálios”. No entanto, isso se refere, como é evidente no contexto, à técnica da nova Magia, “os mantras e encantamentos; o obeah e o wanga; o trabalho da baqueta e o trabalho da espada”.

Rogo-te que note a instrução em CCXX I:41–44, 51, 61, 63 κ.τ.λ. sobre a qual Nós entramos em detalhes em nosso folheto “A Lei da Liberdade”, e em cartas privadas destinadas a ti e a outros. A pregação aberta desta Lei, e a prática destes preceitos, despertará discussão e animosidade, e assim te colocará sobre uma tribuna de onde tu poderás falar ao povo.

Rogo-te que note este conselho: “Lembrai-vos todos vós de que existência é pura alegria; de que todos os sofrimentos são apenas como sombras; eles passam & estão acabados; mas existe aquilo que resta.” Pois esta doutrina confortará muitos. Também há esta palavra: “Eles se regozijarão, nossos escolhidos: quem se lamenta não é de nós. Beleza e força, riso pulante e langor delicioso, força e fogo, são de nós.” De fato, de todos os modos, tu podes expor a alegria da nossa Lei; ou melhor, tu transbordarás de sua alegria, e não terás necessidade de palavras. Além disso, seria impertinente e tedioso chamar novamente a tua atenção para todas aquelas passagens que tu conheces tão bem. Rogo-te que note que em matéria de instrução direta há o suficiente. Considere a passagem “Escolhei uma ilha! Fortificai-a! Cercai-a de instrumentos de guerra! Eu vos darei uma máquina de guerra. Com ela vós golpeareis os povos; e nenhum ficará de pé diante de vós. Espreitai! Retirai-vos! Sobre eles! esta é a Lei da Batalha de Conquista: assim será minha adoração em volta de minha casa secreta.” A última frase sugere que a ilha pode ser a Grã-Bretanha, com suas Minas e Tanques; e é notável que certo irmão envolvido com a A∴A∴ esteja no mais secreto dos Conselhos de Guerra da Inglaterra neste instante. Mas é possível que toda esta instrução se refira a algum tempo futuro quando a nossa Lei, administrada por alguma Ordem como a O.T.O., que se ocupa de assuntos temporais, terá peso nos conselhos do mundo, e será desafiada pelos pagãos, e pelos seguidores dos deuses caídos e dos semideuses.

Rogo-te que note o método prático de superar a oposição dado em CCXX III:23–26. Mas isto não é para o Nosso propósito imediato nesta epístola. Rogo-te que note a instrução nos versículos 38 e 39 do Terceiro Capítulo do Livro da Lei. Ela deve ser citada na íntegra.

“De forma que tua luz está em mim; & sua chama rubra é como uma espada em minha mão para impelir tua ordem.”

Isto é, o próprio Deus está em chamas com a Luz da Besta, e ele mesmo impelirá a ordem, através do fogo (talvez significando o gênio) da Besta.

“Existe uma porta secreta que Eu farei para estabelecer teu caminho em todos os quadrantes (estas são as adorações, como tu escreveste), como é dito:

A luz é minha; seus raios me
       Consomem: eu fiz uma porta secreta
Para o Lar de Rá e Tum,
       De Khephra e de Ahathoor.
Eu sou teu Tebano, Ó Mentu,
O profeta Ankh-af-na-khonsu!

Por Bes-na-Maut meu peito bato;
       Pela sábia Ta-Nech lanço meu feitiço.
Mostra teu esplendor-estrelado, Ó Nuit!
       Convida-me para dentro de tua Casa habitar,
Ó cobra alada de luz, Hadit!
Mora comigo, Ra-Hoor-Khuit!”

No comentário no Equinox I VII esta passagem é virtualmente ignorada. É possível que essa “porta secreta” se refira aos quatro homens e quatro mulheres mencionados posteriormente no “Trabalho de Paris”, ou pode significar a criança noutro lugar predita, ou alguma preparação secreta dos corações dos homens. É difícil decidir sobre tal ponto, mas podemos ter certeza de que o Evento mostrará que as palavras exatas foram sombreadas de modo a nos provar a presciência absoluta da parte Daquele Anjo Santíssimo que proferiu o Livro.

Além disso, rogo-te que note, no verso 39, como o assunto procede:

“Tudo isto” — ou seja, o próprio Livro da Lei.

“e um livro para dizer como tu chegaste aqui”, ou seja, algum registro como no The Temple of Solomon the King.

“e uma reprodução desta tinta e papel para sempre”, ou seja, por algum processo mecânico, com possivelmente uma amostra de papel semelhante ao empregado.

“— pois nisto está a palavra secreta & não apenas no Inglês —”

Compare com CCXX III: 47, 73. O segredo ainda é secreto para Nós.

“e teu comento sobre este o Livro da Lei será impresso belamente em tinta vermelha e preta sobre belo papel feito à mão;”, ou seja, explique o texto “para que não haja tolice” como diz acima, CCXX I:36.

“e a cada homem e mulher que tu encontras, fosse apenas para jantar ou beber a eles, esta é a Lei a dar. Então talvez eles decidam permanecer nesta bem-aventurança ou não; não tem importância. Faze isto rápido!”

A partir disso, é evidente que um volume deve ser preparado como indicado — a Parte IV do Livro 4 pretendia cumprir esse propósito — e que esse livro deve ser distribuído amplamente, de fato para todos com quem se tem relações sociais.

Não devemos adicionar pregação e coisas semelhantes a este presente. Eles podem aceitá-lo ou recusá-lo.

Rogo-te que note o versículo 41 deste capítulo:

“Estabelece em tua Kaaba um escritório; tudo deve ser bem feito e com jeito de negócios.”

De fato, esta é uma instrução muito clara. Deverá haver uma organização de negócios centralizada e moderna na Kaaba — que Nós achamos que não quer dizer Boleskine, mas sim qualquer sede conveniente.

Rogo-te que note no verso 42 deste capítulo, a injunção: “Sucesso é tua prova; não discutas; não convertas; não fales demais!” Isso não é nenhum obstáculo para uma explicação da Lei. Podemos ajudar os homens a arrebentar seus próprios grilhões; mas aqueles que preferem a escravidão devem poder fazê-lo. “Os escravos servirão.” A excelência da Lei deve ser demonstrada por seus resultados sobre aqueles que a aceitam. Quando os homens nos veem como os eremitas de Hadit descritos em CCXX II:24, eles se determinarão a imitar nossa alegria.

Rogo-te que note toda a implicação do capítulo de que, mais cedo ou mais tarde, devemos quebrar o poder dos escravos dos deuses-escravos por meio de lutas reais. Em última análise, a Liberdade deve contar com a espada. É impossível tratar nesta epístola dos vastos problemas envolvidos nessa questão; e eles devem ser decididos de acordo com a Lei por aqueles em autoridade na Ordem quando chegar a hora. Tu notarás que Nós te escrevemos mais como um membro da O.T.O., do que em tua capacidade como membro da A∴A∴, pois a primeira organização é coordenada e prática, e se preocupa com coisas materiais. Mas lembre-se disto claramente, de que a Lei vem da A∴A∴, não da O.T.O. Esta Ordem é apenas o primeiro dos grandes corpos religiosos a aceitar esta Lei oficialmente, e todo o seu Ritual foi revisado e reconstituído de acordo com esta decisão. Então agora, deixando o Livro da Lei, rogo-te que note as seguintes sugestões adicionais para estender o Domínio da Lei de Thelema em todo o mundo.

1. Todos aqueles que aceitaram a Lei devem anunciar o mesmo no intercurso diário. “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei” será a forma invariável de saudação. Estas palavras, especialmente no caso de estranhos, devem ser pronunciadas com uma voz clara, firme e articulada, com os olhos francamente fixos na pessoa saudada. Se o outro for de nós, que ele responda “Amor é a lei, amor sob a vontade”. Esta última sentença também deve ser usada como saudação de despedida. Por escrito, onde quer que saudações sejam usuais, deve ser como acima, abrindo “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei”, e fechando “Amor é a lei, amor sob vontade”.

2. Reuniões sociais devem ser realizadas sempre que for conveniente, e nelas a Lei deve ser lida e explicada.

3. Os folhetos especiais escritos por Nós, ou autorizados por Nós, deveriam ser distribuídos a todas as pessoas com quem aqueles que aceitaram a Lei possam estar em contato.

4. Enquanto se aguarda o estabelecimento de outras Universidades e Escolas de Thelema, bolsas de estudo e grupos de leitura e coisas do tipo devem ser fornecidos nas Escolas e Universidades existentes, de modo a assegurar o estudo geral dos Nossos escritos, e aqueles autorizados por Nós, como pertencentes ao Novo Êon.

5. Todas as crianças e jovens, embora não sejam capazes de compreender os céus mais exaltados do nosso horóscopo, podem sempre ser ensinadas a governar as próprias vidas de acordo com a Lei. Nenhum esforço deve ser poupado para levá-los a essa emancipação. A miséria causada às crianças pela operação da lei dos deuses escravos foi, pode-se dizer, o primum mobile da Nossa primeira aspiração de derrubar a Lei Antiga.

6. Todos se esforçarão constantemente, por todos os tipos de meios, em aumentar o poder e a liberdade da Sede da O.T.O .; pois assim haverá eficiência na promulgação da Lei. Instruções específicas para a extensão da O.T.O. são dadas em outra epístola.

A prática constante dessas recomendações desenvolverá a habilidade naquele que pratica, de modo que novas ideias e planos sejam desenvolvidos continuamente.

Além disso, é correto que cada um se ligue a um Juramento Mágico para que ele possa tornar a Liberdade perfeita, mesmo que por uma amarra, como em Liber III está devidamente escrito. Amém.

Filho, agora rogo-te que note de que casa Nós escrevemos estas palavras. Pois é uma pequena cabana vermelha e verde, no lado oeste de um grande lago, e está escondida na mata. Portanto, o Homem está em desacordo com a Madeira e a Água; e, sendo um magista, Se determina a tomar um desses inimigos, a Madeira, que é tanto o efeito quanto a causa daquele excesso de Água, e o compele a lutar por Ele contra o outro. Então o que Ele faz? Ele toma para si o Ferro de Marte, um Machado e uma Serra e uma Cunha e uma Faca, e por meio deles Ele divide a Madeira contra si mesma, cortando-a em muitos pedaços pequenos, de modo que ela já não tenha mais força contra a Sua vontade. Ótimo; então Ele pega o Fogo de nosso Pai o Sol, e o coloca diretamente em linha de batalha contra aquela Água por Seu exército de Madeira que ele conquistou e perfurou, construindo com ela uma falange como um Cone, que é a mais nobre de todas as figuras sólidas, sendo a Imagem do Próprio Falo Sagrado, que combina em si a Linha Reta e o Círculo. Filho, assim Ele faz; e o Fogo acende a Madeira, e seu calor afugenta a Água. No entanto, esta Água é um adversário ardiloso, e Ele fortaleceu a Madeira contra o Fogo, impregnando-a com muito de sua própria substância, como se fosse por espiões na cidadela de um aliado que não é totalmente confiável. Portanto, o que o Magista deve fazer agora? Ele deve primeiro expulsar completamente a Água da Madeira por uma invocação do Fogo do Sol nosso Pai. Ou seja, sem a inspiração do Mais Alto e Santo, nem mesmo Nós poderíamos fazer qualquer coisa. Então, filho, o Magista começa a colocar Seu Fogo na Madeirinha seca, e ela acende a Madeira de tamanho médio, e quando esta arde intensamente, finalmente os grandes troncos, apesar de totalmente verdes, são incendiados.

Agora, filho, escutai esta Nossa repreensão, e empresta o ouvido do teu entendimento à parábola desta Magia.

Temos para todo o Começo do Nosso Trabalho, louvor eterno ao Seu Santo Nome, o Fogo do nosso Pai o Sol. A inspiração é nossa, e é nossa a Lei de Thelema que incendiará o mundo. E Nós temos muitas varinhas secas, que acendem rapidamente e queimam rapidamente, deixando a Madeira maior sem queimar. E os grandes troncos, as massas da humanidade, estão sempre conosco. Mas a nossa maior necessidade é daqueles feixes de lenhas médias que por um lado são prontamente inflamadas pelas pequenas Madeiras e, por outro, perduram até que os grandes troncos queimem.

(Veja como é triste, disse o Macaco de Thoth, que alguém seja tão santo que não possa cortar uma árvore e cozinhar sua comida sem preparar um discurso Moral longo e entediante!)

Que esta epístola seja copiada e circulada entre todos aqueles que aceitaram a Lei de Thelema.

Receba agora Nossa bênção paterna: que a bênção do Criador-de-Tudo esteja sobre ti.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Thelema - Liber A vel Armorum

 

O Pentáculo.
Pegue cera pura, ou uma placa de ouro, de prata dourada ou de Electrum Magicum. O diâmetro deve ser de oito polegadas, e a grossura de meia polegada.

Que o Neófito por sua compreensão e ingenium elabore um símbolo para representar o Universo.

Que seu Zelator o aprove.

Que o Neófito o entalhe sobre sua placa, com sua própria mão e arma.

Que quando terminada ela seja consagrada conforme ele tem a habilidade de realizar, e mantida embrulhada em seda verde esmeralda.

A Adaga.
Que o Zelator pegue um pedaço de aço puro, bata nele, o afie, o aponte, o lustre, de acordo com a arte do ferreiro de espadas.

Além disso, que ele pegue um pedaço de madeira de carvalho, e esculpa um punho. O comprimento deve ser de oito polegadas.

Que por sua compreensão e ingenium elabore uma Palavra para representar o Universo.

Que seu Practicus a aprove.

Que o Zelator a entalhe sobre a sua adaga com sua própria mão e instrumentos.

Além disso, que ele doure a madeira do punho.

Que quando terminada ela seja consagrada conforme ele tem a habilidade de realizar, e mantida embrulhada em seda amarelo ouro.

A Taça.
Que o Practicus pegue um pedaço de Prata e molde a partir dele uma taça. A altura deve ser de oito polegadas, e o diâmetro de três.

Que por sua compreensão e ingenium elabore um Número para representar o Universo.

Que seu Philosophus o aprove.

Que o Practicus o entalhe sobre sua taça com sua própria mão e instrumento.

Que quando terminada ela seja consagrada conforme ele tem a habilidade de realizar, e mantida embrulhada em seda azul celeste.

O Báculo.
Que o Philosophus pegue uma barra de cobre, do comprimento de oito polegadas e diâmetro de meia.

Que ele molde sobre o topo uma chama tripla de ouro.

Que por sua compreensão e ingenium elabore um Ato que represente o Universo.

Que seu Liminis Dominus o aprove.

Que o Philosophus o realize de tal forma que o Báculo possa participar nele.

Que quando terminado ele seja consagrado conforme ele tem a habilidade de realizar, e mantido embrulhado em seda escarlate fogo.

O Lampião.
Que o Dominus Liminis pegue chumbo, estanho e mercúrio puros; com platina, e, se for necessário, vidro.

Que por sua compreensão e ingenium elabore um Lampião Mágico que queimará sem pavio ou óleo, sendo alimentado pelo Æthyr.

Isso ele realizará secretamente e à parte, sem pedir o conselho ou a aprovação de seu Adeptus Minor.

Que quando consagrado o Dominus Liminis o mantenha na câmara secreta da Arte.

Isso então é aquilo que está escrito: “Estando equipado com armadura completa e armado, ele é semelhante à deusa”.

E novamente, “eu estou armado, eu estou armado”.

Thelema - Liber A’ash vel Capricorni Pneumatici

 

0. Carvalho nodoso de Deus! Em teus ramos o relâmpago está aninhado! Acima de ti se pendura o Falcão Sem Olhos.

1. Tu és maldito e negro! Supremamente solitário naquela charneca de matagal.

2. Acima! As nuvens rubras pairam sobre ti! É a tempestade.

3. Há um corte flamejante no céu.

4. Acima.

5. Tu és lançado nas garras da tempestade por um æon e um æon e um æon. Mas tu não dás a tua seiva; tu não cais.

6. Somente no final tu desistirás da tua seiva quando o grande Deus F. I. A. T. for entronado no dia do Sê-Conosco

7. Pois duas coisas estão terminadas e uma terceira coisa é iniciada. Ísis e Osíris são entregues ao incesto e ao adultério. Hórus salta triplamente armado do ventre de sua mãe. Harpócrates seu gêmeo está escondido dentro dele. Set é a sua santa aliança, que ele mostrará no grande dia de M. A. A. T., que está sendo interpretado o Mestre do Templo da A∴, A∴, cujo nome é Verdade.

8. Agora nisto o poder mágico é conhecido.

9. É como o carvalho que se endurece e aguenta a tempestade. Ele é castigado pelo tempo e desfigurado e confiante como um capitão-do-mar.

10. Ele também se estica como um cão na coleira.

11. Ele tem orgulho e grande sutileza. Sim, e também alegria!

12. Que o magus aja assim em sua conjuração.

13. Que ele se sente e conjure; que ele se aproxime naquela contundência; que ele levante em seguida inchado e tenso; que ele afaste o capuz de sua cabeça e fixe seu olho de basilisco sobre o sigilo do demônio. Então que ele oscile a força dele para frente e para trás como um sátiro em silêncio, até que a Palavra rompa de sua garganta.

14. Então que ele não caia exausto, mesmo que o poder tenha sido dez mil vezes o humano; mas aquilo que o inunda é a infinita misericórdia do Genitor-Genetrix do Universo, do qual ele é o Recipiente.

15. Nem te enganes. É fácil distinguir a força viva da matéria morta. Não é mais fácil distinguir a cobra viva da cobra morta.

16. Também a respeito de votos. Seja obstinado, e não seja obstinado. Entenda que a rendição da Yoni é uma com o alongamento do Lingam. Tu és ambos estes; e teu voto é apenas o sussurro do vento no Monte Meru.

17. Agora tu me adorarás que sou o Olho e o Dente, o Bode do Espírito, o Senhor da Criação. eu sou o Olho no Triângulo, a Estrela de Prata que vós adorais.

18. eu sou Baphomet, que é a Palavra Óctupla que será equilibrada com o Três.

19. Não há ato ou paixão que não será um hino em minha honra.

20. Todas as coisas santas e todas as coisas simbólicas serão meus sacramentos.

21. Esses animais são sagrados para mim; o bode, e o pato, e o asno, e a gazela, o homem, a mulher e a criança.

22. Todos os cadáveres são sagrados para mim; eles não serão tocados salvo em minha eucaristia. Todos os lugares solitários são sagrados para mim; onde um homem se reúne em meu nome, lá eu saltarei no meio dele.

23. eu sou o deus hediondo; e quem me domina é mais horrível do que eu

24. No entanto eu dou mais do que Bacchus e Apollo; minhas dádivas excedem a oliva e o cavalo.

25. Quem me adora deve adorar-me com muitos ritos.

26. eu sou oculto com todas as ocultações; quando o Mais Santo Ancião é despojado e conduzido pelo mercado eu ainda sou secreto e separado.

27. A quem amo eu castigo com muitas varas.

28. Todas as coisas são sagradas para mim; nenhuma coisa é sagrada de mim.

29. Pois não há santidade onde eu não estou.

30. Não temas quando eu caio na fúria da tempestade; pois minhas bolotas são sopradas longe pelo vento; e em verdade eu ressuscitarei, e minhas crianças ao meu redor, para que elevemos nossa floresta na Eternidade.

31. Eternidade é a tempestade que me cobre.

32. eu sou Existência, a Existência que não existe salvo através de sua própria Existência, que está além da Existência de Existências, e enraizada mais profundamente que a Árvore-de-Nenhuma-Coisa na Terra de Nenhuma-Coisa.

33. Agora portanto tu sabes quando eu estou dentro de ti, quando o meu capuz está espalhado sobre o teu crânio, quando a minha força é maior do que o Indus redigido, e tão irresistível quanto a Geleira Gigante.

34. Pois assim como tu és diante de uma mulher lasciva em Tua nudez no bazar, sugado pelas astúcias e sorrisos dela, assim tu és inteiramente e não mais em parte diante do símbolo do amado, embora ele seja apenas um Pisacha ou um Yantra ou um Deva

35. E em tudo tu criarás a Bem-Aventurança Infinita, e o próximo elo da Corrente Infinita.

36. Essa corrente vai da Eternidade à Eternidade, sempre em triângulos — não é meu símbolo um triângulo? — sempre em círculos — não é o símbolo do Amado um círculo? Nisso está toda a ilusão da base do progresso, pois todo círculo é semelhante e todo triângulo é semelhante!

37. Mas o progresso é progresso, e o progresso é arrebatamento, constante, deslumbrante, chuvas de luz, ondas de orvalho, chamas do cabelo da Grande Deusa, flores das rosas que estão ao redor do pescoço dela, Amém!

38. Portanto, levanta-te como eu estou levantado. Contenha-se como eu sou mestre em realizar. No final, seja o fim muito distante como as estrelas que se encontram no umbigo de Nuit, mata-te a ti mesmo como eu no final sou morto, na morte que é vida, na paz que é mãe da guerra, na escuridão que segura luz em sua mão como uma meretriz que arranca uma joia das narinas dela.

39. Assim portanto o princípio é deleite, e o Fim é deleite, e deleite está no meio, assim como o Indus é água na caverna da geleira, e água entre as colinas maiores e as colinas menores e através das muralhas das colinas e através das planícies, e a água na boca disso quando salta para o poderoso mar, sim, para o poderoso mar.

[A Interpretação deste Livro será dada aos membros do Grau de Dominus Liminis ao aderir, cada um com seu Adeptus.]