terça-feira, 8 de outubro de 2024

Thelema - Tiān Dào ou A Sinagoga de Satã



Publicação da A∴A∴

em Classe C


Meu objetivo, todo sublime,

Alcançarei no devido tempo —

Fazer com que o castigo seja adequado ao crime —

Que o castigo seja adequado ao crime!


W. S. GILBERT.


I

俗 薄[2]

(“A Decadência dos Costumes.”)

Como ninguém pode ter a presunção de duvidar da demonstração de São Tomás de Aquino de que este mundo é o melhor de todos os mundos possíveis, segue-se que a condição imperfeita das coisas que estou prestes a descrever só pode ser obtida em algum outro universo; provavelmente o assunto todo é apenas fruto de minha imaginação doentia. No entanto, se esse for o caso, como podemos reconciliar a doença com a perfeição?


Claramente há algo errado aqui; o aparente silogismo, sob exame, acaba sendo um entimema com uma premissa maior suprimida e impossível. Não há progressão nestas linhas, e o que eu tolamente confundi com uma maneira fácil e agradável de introduzir a minha história prova-se apenas como o mais fechado dos becos sem saída.


Portanto, devemos começar pelo processo simples e austero de começar.


A condição do Japão era perigosamente instável naquela época (que época? Aqui imediatamente já temos problemas com o historiador. Mas deixe-me dizer que não aceitarei nenhuma interferência na minha história por parte de todas essas pessoas sensíveis e tolas. Estou seguindo direto ao ponto, e se as críticas forem desfavoráveis, sempre se tem o recurso do suicídio). A aristocracia guerreira da Câmara Alta havia sido tão diluída por comerciantes bem-sucedidos que a adulteração se tornara uma virtude tão altamente lucrativa quanto o adultério. Na Câmara Baixa, os cérebros ainda eram estimados, mas haviam sido interpretados como a destreza de passar em exames.


A recente extensão da franquia para atender as mulheres havia tornado a Yoshiwara[3] a mais formidável das organizações políticas, enquanto o físico da nação havia sido seriamente prejudicado pelos resultados de uma lei que, assegurando em caso de ferimento ou doença uma competência de uma vida inteira na ociosidade, que eles jamais poderiam obter de outra maneira pelo mais árduo trabalho, encorajava todos os trabalhadores a serem totalmente descuidados com sua saúde. De fato, o treinamento dos serviçais naquela época consistia apenas em instruções práticas cuidadosas na arte de cair de escadas; e o homem mais rico do país era um ex-mordomo que, tendo quebrado a perna em nada menos que trinta e oito ocasiões diferentes, havia adquirido uma pensão que colocava a de um marechal de campo completamente no chinelo.


No entanto, até então, o país ainda não estava irremediavelmente condenado. Um sistema de intrigas e chantagens, elaborado pelas classes governantes com o mais alto grau de eficiência, atuou como um poderoso contrapeso. Em teoria, todos eram iguais; na prática, os oficiais permanentes, os verdadeiros governantes do país, eram um corpo distinto e confiável de homens. O interesse deles era governar bem, pois qualquer perturbação civil ou estrangeira sem dúvida teria soprado as faíscas do descontentamento até se tornarem a chama de uma revolução.


E houve descontentamento. Os comerciantes malsucedidos estavam amargurados com a Câmara Alta; e aqueles que falharam nos exames escreveram palavrões terríveis contra a tolice do sistema educacional.


O problema é que eles estavam certos; o governo na prática estava indo bem o suficiente, mas na teoria estava mal das pernas. Em vista do crescente clamor, as classes dos oficiais ficaram perturbadas; pois muitos deles eram inteligentes o suficiente para ver que um sistema completamente irracional, por mais que funcione na prática, não pode ser mantido para sempre contra os ataques daqueles que, embora possam ser secretamente estigmatizados como doutrinadores, podem apresentar argumentos sem resposta. O povo tinha poder, mas não razão; assim estavam suscetíveis às falácias que eles achavam ser a razão e não ao poder que eles imaginavam ser tirania. Uma plebe inteligente é dócil; uma massa educada espera que tudo seja lógico. Os sofismas superficiais do socialista eram inteligíveis; eles não poderiam ser refutados pelas proposições mais profundas e, portanto, ininteligíveis, dos conservadores.


A multidão conseguia entender a semelhança superficial entre bebês; eles não conseguiam entender que as circunstâncias da educação e do meio ambiente constituíam apenas uma pequena parte do equipamento de um ser consciente. O brutal e verdadeiro “Você não consegue fazer uma bolsa de seda com a orelha de um porco” foi esquecido pelas falácias suaves e plausíveis de escritores como Ki Ra Di[4].


De fato, a situação se tornou tão grave que as classes governantes haviam abandonado todos os dogmas do Direito Divino e afins como insustentáveis. A teoria da hereditariedade havia desmoronado, e o enobrecimento dos comerciantes a tornava não apenas falsa, mas ridícula.


Consequentemente, os encontramos envolvidos na tarefa tola de defender as anomalias que repugnavam a nação por uma campanha de sofismas gritantes e venais. Eles não enganavam ninguém e apenas inspiravam o desprezo, que poderia ter sido inofensivo, com um ódio que ameaçava envolver a comunidade em um abismo das mais formidáveis convulsões.


Tal era o fio de navalha sobre o qual pisavam os pés instáveis da república quando, alguns anos antes da data de minha visita, o filósofo Kwaw desembarcou em Nagasaki depois de um mergulho emocionante saindo do continente.


II

獨 立[5]

(“Permanecendo Só.”)

Kwaw, quando atravessou o Mar Amarelo, tinha trinta e dois anos. Os vinte equinócios anteriores haviam passado por sua cabeça enquanto ele vagava, único inquilino humano, entre as ruínas colossais, porém desprezíveis, de Wēihǎiwèi[6]. Seus únicos companheiros eram o leão e o lagarto, que frequentavam os restos em ruínas dos aposentos dos oficiais; enquanto no pequeno cemitério os cascos do burro selvagem batiam (inutilmente, se ele quisesse acordá-los) sobre as tumbas dos desportistas que antes lotavam aqueles salões desolados.


Durante esse período, Kwaw dedicou toda a sua atenção à busca da filosofia; pois as vastas quantidades de excelentes lojas abandonadas pelo exército britânico não o deixavam ansioso de fome.


No primeiro ano, ele disciplinou e conquistou seu corpo e suas emoções.


Nos seis anos seguintes, ele disciplinou e conquistou sua mente e seus pensamentos.


Nos dois anos seguintes, ele reduziu o Universo ao Yáng e ao Yīn e a suas permutações nos trigramas de Fúxī e aos hexagramas do Rei Wén.


No último ano, ele aboliu o Yáng e o Yīn, e se uniu ao grande Dào.


Tudo isso era muito satisfatório para Kwaw. Mas até mesmo sua estrutura de ferro ficou um pouco enfraquecida pela dieta invariável de provisões enlatadas; e talvez tenha sido apenas por virtude desse talismã[7]




que ele tenha obtido sucesso em sua famosa tentativa de superar os feitos do Capitão Webb[8]. Sua recepção também não foi nada menos que um triunfo. Uma nação tão atlética como a japonesa não podia deixar de honrar uma conquista tão soberba, embora isso lhes custasse caro, já que a Liga da Marinha (por uma série de movimentos políticos) obrigou o partido no poder a triplicar a Marinha, construir uma linha contínua de fortes ao redor da costa, e gastar muitos bilhões de ienes na criação científica de uma espécie de tubarão mais voraz do que até agora infestara suas praias.


Então eles carregaram Kwaw sobre os ombros até o Yoshiwara, o cumprimentaram e chamaram os indianos, e reuniram seus pertences pessoais como relíquias, e doutra forma seguiram os costumes da melhor sociedade de Nova York, enquanto a banda alemã acompanhava o famoso Ka Ru So com a seguinte agradável balada:


Refrão.


Sopre o gongo, bata a flauta!

Sejamos todos felizes!

Estou em festa com beribéri

Agudo, crônico.


I.


Segunda-feira sou um bicho magro.

Parecido com o Félicien Rops[9].

Sopre o címbalo, bata a cítara!

Terça-feira eu tenho hidropisia.


Refrão.


II.


Na quarta-feira sintomas cardíacos;

Na quinta-feira diabéticos.

Sopre o violino, dedilhe o tambor!

Sexta-feira eu sou parético.


Refrão.


III.


Se no sábado meus inimigos

Se reunirem em densas legiões,

Então suponho que no domingo,

Serei sepultado[10]!


Refrão.


Não é preciso estar intimamente familiarizado com o temperamento japonês para entender que Kwaw e seu feito foram esquecidos em poucos dias; mas um Daimiô[11] rico, com gosto pela observação, resolveu questionar Kwaw quanto à finalidade de sua entrada no país de uma maneira tão estranha. Será mais simples se eu reproduzir por extenso a correspondência, que foi transmitida via telegramas.


Quem é o vosso honorável ser e por que vossa excelência prestou a nós, mero gado, a distinta graça de uma visita?

O verme nojento que vos fala é o grande Dào. Eu humildemente imploro ao vosso sublime brilho que o esmague como vosso escravo.

Lamento que grande dedo seja algo ininteligível.

Grande Dào — T.A.O. — Tao.

O que é o grande Dào?

O resultado da subtração do universo de si mesmo.

Bom, mas este cão em decomposição é incapaz de conceder o sublime desejo de vossa excelência, mas, pelo contrário, rogaria sinceramente à vossa brilhante serenidade que cuspa sobre vosso “joro”[12] rastejante.

Profundo pensamento assegura ao vosso suplicante cabeça de besouro que vossa nobreza gloriosa deve encontrá-lo antes que a controvérsia possa ser decidida.

Verdade. Vossa sublimidade condescenderia em contaminar-se por entrar no casebre miserável desse varredor de imundície?

Esperai um dragão leproso com beribéri no magnífico palácio celestial de vossa alta poderosidade amanhã (quinta-feira) à tarde às três em ponto.

Assim se conheceram Kwaw, o poeta-filósofo da China; e Juju[13], o padrinho de seu país.


Que momento sublime na eternidade! Aos nomes de Josué e Ezequias, adicione o de Kwaw! Pois embora estivesse atrasado quinze minutos para o compromisso, os ponteiros voltaram no cronômetro de Juju, de modo que nenhuma sombra de desconfiança ou aborrecimento nublasse o êxtase daquele evento supremo.


III

顯 質[14]

(“A Manifestação da Simplicidade.”)

“O que”, disse Juju, “Ó grande Dào, você recomenda como remédio para os males de meu país infeliz?”


O sábio respondeu da seguinte maneira: “Ó poderoso e magniloquente Daimiô, sua aristocracia não é uma aristocracia, porque não é uma aristocracia. Em vão você busca alterar essa circunstância pagando os vermes nocivos do Dai Li Pai Pur para escrever falsidades tolas, sustentando que sua aristocracia é uma aristocracia porque é uma aristocracia.


“Assim como Heráclito superou a antinomia de Xenófanes e Parmênides, de Melisso e o eleático Zeno, e Ēns[15] e Não-Ēns pelo seu Tornar-se, deixe-me dizer-lhe; a aristocracia será uma aristocracia se tornando uma aristocracia.


“Ki Ra Di e seus amigos de cara suja desejam nivelar as boas práticas com as más teorias; você deveria se opor a eles nivelando a má teoria às boas práticas.


“Aqueles que te invejam se gabam de que você não é melhor do que eles; prove a eles que eles são tão bons quanto você. Eles falam de uma nobreza de tolos e patifes; mostre a eles homens sábios e honestos, e o gengibre socialista não ficará mais quente na boca individualista.”


Juju grunhiu concordando. Ele quase dormiu, mas Kwaw, absorvido em seu assunto, nunca notou o fato. Ele continuou com a vivacidade de um rolo compressor e o vigor direto e intencional de uma borboleta hipnotizada. “O homem é aperfeiçoado por sua identidade com o grande Dào. Secundariamente, ele deve ter equilibrado perfeitamente o Yáng e o Yīn. Mais fácil ainda é governar a estrela sêxtupla do Intelecto; enquanto para a base o controle do corpo e de suas emoções é o primeiro passo.


“O equilíbrio é a grande lei, e o equilíbrio perfeito é coroado pela identidade com o grande Dào.”


Ele enfatizou essa sublime afirmação com um deliberado golpe no abdômen protuberante do digno Juju.


“Eu rogo para que continue seu discurso honroso!” exclamou o Daimiô semi-desperto.


Kwaw continuou, e acho justo dizer que ele continuou por um longo tempo, e que, por você ter sido tolo o suficiente para ler até aqui, não tem desculpas por ter sido tolo o suficiente para ler ainda mais.


“A fenacetina é uma droga útil para a febre, mas ai do paciente que a absorver em colapso. Como o calomel é um remédio perigoso na apendicite, não condenamos seu uso em indigestões simples.


“Como é acima, é abaixo! disse Hermes o três vezes grande. As leis do mundo físico têm paralelos precisos nas esferas moral e intelectual. Para a prostituta, prescrevo um curso de treinamento pelo qual ela compreenderá a santidade do sexo. A castidade faz parte desse treinamento, e esperaria vê-la um dia como uma feliz esposa e mãe. Para a puritana, prescrevo igualmente um curso de treinamento pelo qual ela compreenderá a santidade do sexo. A falta de castidade faz parte desse treinamento, e esperaria vê-la um dia como uma feliz esposa e mãe.


“Ao fanático, recomendo um curso de Thomas Henry Huxley; ao infiel, um estudo prático da magia cerimonial. Então, quando o fanático tiver conhecimento e o infiel tiver fé, cada um pode seguir sua inclinação natural sem preconceitos; pois ele não mergulhará mais em seus excessos anteriores.


“Assim também aquela que era prostituta por paixão nata pode se entregar com segurança ao prazer do amor; aquela que por natureza é fria pode gozar de uma virgindade de forma alguma prejudicada por seu curso disciplinar de promiscuidade. Mas uma entenderá e amará a outra.


“Fui acusado de agredir o que é comumente conhecido como virtude. É verdade; eu odeio ela, mas somente na mesma medida em que odeio o que é comumente conhecido como vício.


“Portanto, é preciso reconhecer que quem está levemente desequilibrado precisa de uma correção mais branda do que quem é obcecado pelo preconceito. Há homens que têm um fetiche por limpeza; eles devem trabalhar na oficina de um alfaiate e aprender que a sujeira é a marca do trabalho honroso. Existem aqueles cujas vidas se tornaram miseráveis por causa do medo de infecção; eles veem bactérias do tipo mais mortal em todas as coisas, exceto nas soluções de ácido carbólico e cloreto de mercúrio com as quais combatem histericamente seus inimigos invisíveis; tais pessoas eu enviaria para morar no bazaar de Delhi, onde ocasionalmente aprenderão que a sujeira faz pouca diferença, afinal.


“Há homens lentos que precisam de alguns meses de experiência na agitação dos currais; há homens de negócios apressados que devem viajar pela Ásia Central para adquirir a arte do repouso.


“Isso tudo no que concerne ao equilíbrio, e dois meses por ano cada membro de suas classes governantes deve passar por esse treinamento sob orientação especializada.


“Mas e o Grande Dào? Durante um mês a cada ano, cada um desses homens buscará desesperadamente a Pedra dos Filósofos. Pela solidão e jejum o homem do social e do luxo, pela embriaguez e deboche o austero, pelo flagelo aqueles que têm medo da dor física, pelo repouso os inquietos e pelo trabalho os ociosos, pelas touradas os humanitários, e pelo cuidado de crianças pequenas os insensíveis, por rituais os racionais e pela filosofia os crédulos, esses homens, ainda que desequilibrados, procurarão alcançar a unidade com o grande Dào. Mas para aqueles cujo intelecto é purificado e coordenado, para aqueles cujos corpos estão sadios e cujas paixões são ao mesmo tempo ansiosas e controladas, será lícito escolher seu próprio caminho para o Objetivo Único; a saber, a identidade com aquele grande Dào que está acima da antítese de Yáng e Yīn.”


Até mesmo Kwaw se sentiu cansado e se dedicou ao saquê com soda. Revigorado, ele continuou: “Os homens que desejarem, por meio disso, se tornarem os salvadores de seu país serão chamados de a Sinagoga de Satã, para se manterem afastados da amizade dos tolos que confundem os nomes pelas coisas. Haverá mestres da Sinagoga, mas eles nunca procurarão dominar. Abster-se-ão com muito cuidado de induzir qualquer homem a buscar o Dào de outra maneira que não a do equilíbrio. Desenvolverão a genialidade individual sem considerar se, na opinião deles, sua fruição tenderá ao bem ou ao mal de seu país ou do mundo; pois quem são eles para querer interferir com uma alma cujo equilíbrio foi coroado pelo mais sagrado Dào?


“Os mestres serão grandes homens entre homens; mas entre grandes homens eles serão amigos.


“Visto que o equilíbrio se tornará perfeito, alguém maior do que Napoleão surgirá, e os pacíficos se alegrarão com ele; alguém maior do que Darwin, e o ministro em seu púlpito dará graças a Deus.


“O infiel instruído não zombará mais do frequentador da igreja, pois ele será obrigado a ir à igreja até que tenha visto os pontos positivos e negativos; e o devoto instruído não detestará mais o blasfemador, porque ele riu com Ingersoll[16] e Saladino[17].


“Dê ao leão o coração do cordeiro, e ao cordeiro a força do leão; e eles se deitarão lado a lado em paz.”


Kwaw parou, e a respiração pesada e regular de Juju garantiu que suas palavras não haviam sido desperdiçadas; finalmente aquela alma inquieta e atormentada encontrara um repouso supremo.


Kwaw bateu no gongo. “Cumpri minha tarefa”, disse ele ao major-domo subsequente, “rogo que saia para ausentar-me da Presença”. “Peço à sua excelência que me siga”, respondeu o magnífico funcionário, “seu senhorio me ordenou que eu assegurasse que vossa santidade fosse suprida de tudo que desejar”. Então o sábio riu alto.


IV

任 信[18]

(“Coisas nas Quais Crer.”)

Seis meses se passaram, e Juju, agitado em seu sono, lembrou-se dos deveres da cortesia, e pediu por Kwaw.


“Ele está na propriedade de sua senhoria em Nikko”, os servos se apressaram em responder, “e ele virou todo o lugar de cabeça para baixo. Milhões de ienes têm sido gastos mensalmente; ele até hipotecou esse mesmo palácio em que sua senhoria dormia; um grupo de loucos tomou as rédeas do governo —”


“A Sinagoga de Satã!” ofegou o Daimiô ultrajado.


“— E você é aclamado por toda parte como o Padrinho do seu país!”


“Não me diga que a guerra britânica terminou desastrosamente para nós!” e ele pediu pelo aparato elaborado do hari-kari[19].


“Pelo contrário, meu senhor, o ridículo Sa Mon, que nunca iria para o mar porque tinha medo de ficar enjoado, embora seu gênio para estratégia naval não tivesse igual nos Sete Abismos da Água, depois de um mês como clandestino em um barco de pesca (por ordem de Kwaw) assumiu o posto de Almirante da Frota e infligiu uma série de derrotas completas e esmagadoras sobre os Almirantes britânicos, que, embora estivessem na água a vida inteira, omitiram incompreensivelmente qualquer conhecimento realmente preciso dos sistemas metafísicos de Sho Pi Naour[20] e Ni Tchze[21].


“Novamente, Hu Li, o gênio financeiro, que até então era praticamente inútil para seu país por causa da feiura e deformidade que o levou a evitar a sociedade de seus companheiros, foi obrigado por Kwaw a se exibir como uma aberração. Uma quinzena disso o curou da timidez; e em três meses ele quase dobrou a receita e reduziu pela metade os impostos. Vossa senhoria gastou milhões de ienes; mas hoje é um homem mais rico do que quando vossa excelência foi dormir.”


“Vou ver este Kwaw”, disse o Daimiô. Os servos então admitiram que o Mikado[22] em pessoa estava esperando na porta do palácio por mais de três meses, com o objetivo de pedir permissão para conduzi-lo até lá, mas que ele não estava disposto a perturbar o sono do Padrinho de seu país.


É impossível descrever a cena emotiva quando esses dois seres magnânimos derreteram (por assim dizer) nos braços um do outro.


Chegaram à propriedade de Juju em Nikko, que maravilha esses dignos expressaram ao ver os meios simples pelos quais Kwaw havia realizado seus milagres! Em uma clareira de cerejeiras e hibiscos brilhantes (e de quaisquer outras árvores bonitas que você possa imaginar), havia um edifício simples de pedra, que afinal não custara milhões de ienes, mas apenas alguns milhares. Sua altura era igual à sua largura, e seu comprimento era igual à soma dessas, enquanto a soma dessas três medidas era precisamente igual a dez vezes a idade de Kwaw em unidades da palma de sua mão. As paredes eram tremendamente grossas e havia apenas uma porta e duas janelas, todas no olho do pôr do sol. Não se pode descrever o interior do edifício, porque isso estragaria toda a diversão para outras pessoas[23]. Precisa ser visto para ser entendido, em todo caso; e lá está, até hoje, aberto a qualquer pessoa que seja forte o suficiente para forçar a porta.


Mas quando eles chamaram por Kwaw, ele não foi encontrado. Ele havia deixado homens treinados para conduzir a disciplina e as iniciações, sendo este último o objetivo principal do edifício, dizendo que sentia saudades dos leões e dos lagartos de Wēihǎiwèi e que, de qualquer maneira, não desfrutara de uma nadada decente há muito tempo.


Infelizmente, há pouco espaço para dúvidas de que as novas e vorazes espécies de tubarões (as quais o patriotismo japonês gastara tamanhas quantias de dinheiro para criar) são responsáveis pelo fato de que ele nunca mais foi visto.


O Mikado chorou; mas, alegrando-se, exclamou: “Kwaw nos encontrou como uma multidão confusa e zangada; ele nos deixou como uma república diversa, porém harmoniosa; e nunca devemos esquecer que não apenas desenvolvemos homens de gênio em todos os ramos da vida prática, mas muitos de nós tiveram nosso equilíbrio coroado por aquela suprema glória da humanidade, a realização de nossa identidade com o grande e sagrado Dào.”


Com isso, ele reservara nada menos que trezentos e sessenta e cinco dias por ano, e um dia extra a cada quatro anos, como dias de júbilo especial.


[1] «“O Caminho do Céu”.»

[2] «De acordo com um dicionário, também pode significar vulgaridade»

[3] «Yoshiwara era um famoso distrito vermelho japonês, que ficava na região da atual Tóquio. Foi criado com o objetivo de distrair a população e evitar que se envolvessem em intrigas políticas. Muitas prostitutas e prostitutos eram vendidos pelas suas próprias famílias ainda jovens, e passavam o resto de suas vidas tentando quitar a dívida ou se casar com uma pessoa poderosa que pudesse pagar por sua liberdade.»

[4] «James Keir Hardie (1856-1915), um político escocês que foi um dos responsáveis pela fundação do Partido Trabalhista do Reino Unido.»

[5] «De acordo com um dicionário, também pode significar: independência, soberania, autonomia.»

[6] «Atual Wēihǎi, é uma cidade no leste da China, na província de Shāndōng.»

[7] «Este é um quadrado mágico do capítulo XXV da terceira parte do Livro da Magia Sagrada de Abramelin o Mago. O capítulo dá quadrados para “Caminhar sobre a Água e operar debaixo da Água”. Este quadrado de Nahariama (“um rio de águas”) tem o poder de “nadar por 24 horas sem se cansar”.»

[8] «Capitão Matthew Webb (1848-1883) foi a primeiro pessoa a atravessar o canal inglês a nado, sem meios artificiais»

[9] «Félicien Victor Joseph Rops (1833-1898), ilustrador belga.»

[10] «No original há uma piada de beri-beri (beribéri) com beri-beried (beried = sepultado).»

[11] «Título de poderosos senhores feudais japoneses que governavam vastos territórios»

[12] «Prostituto.»

[13] «Talvez o trocadilho seja com Juji Nakada (1870–1939), um evangelista cristão japonês.»

[14] «De acordo com um dicionário, também pode significar: qualidade, manifestação do assunto ou questão.»

[15] «Latim para “ser”»

[16] «Robert Green Ingersoll (1833-1899), conhecido como “O Grande Agnóstico”, famoso por ridicularizar as crenças religiosas e promover o pensamento livre e o humanismo»

[17] «Ṣalāḥ ad-Dīn Yūsuf ibn Ayyūb (1137-1193), foi o primeiro sultão do Egito e da Síria, e liderou a campanha militar dos muçulmanos contra as crusadas cristãs»

[18] «De acordo com um dicionário, também pode significar confiança ou confiar em algo»

[19] «Um ritual de suicídio japonês, as vezes cometido quando a pessoa sentia que havia perdido a honra.»

[20] «Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão»

[21] «Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão.»

[22] «Título do Imperador do Japão.»

[23] «A descrição de um templo maçônico.»


Thelema - A Missa da Fênix


Publicação da A∴A∴ em Classe D


[Atenção: este é um ritual religioso que foi originalmente publicado em 1913 no contexto de um sistema de uma ordem iniciática. Nós somos expressamente contra a prática de automutilação, e sugerimos que seja utilizada uma ferramenta sem fio e que o ferimento seja mera figura de linguagem.]


O Magista, com o peito nu, fica diante de um altar sobre o qual estão seu Buril, Sino, Turíbulo e dois dos Bolos de Luz. Ele alcança o oeste além do Altar com o Sinal do Entrante, e exclama:


Salve Rá, que em tua barca navegas

Para dentro das Escuras cavernas!


Ele dá o sinal de Silêncio, e pega o Sino, e Fogo, em suas mãos.


Ao leste do Altar, estou de prontidão,

Com luz e músicka em minha mão!


Ele bate o Sino Onze vezes 3 3 3 — 5 5 5 5 5 — 3 3 3 e coloca o Fogo no Turíbulo.


O Sino toco, o Turíbulo inflamo

E o misterioso Nome chamo.


ABRAHADABRA


Ele bate o Sino Onze vezes.


Agora eu começo a rezar: Tu Criança,

Santo e imaculado é Teu nome!

Teu reino é vindo: a Tua vontade realizada.

Aqui está o Sangue; aqui está o Pão

Pela meia noite até o Sol me traga!

Me salva do Bem e do Mal!

Que Tua coroa una de todas as Dez

Mesmo aqui e agora seja minha. AMÉM.


Ele coloca o primeiro Bolo no Fogo do Turíbulo.


Enquanto este Bolo-Incenso o fogo consome,

Ouve estas adorações de Teu nome.


Ele as faz como em Liber Legis, e bate o Sino novamente Onze vezes. Então ele faz o sinal apropriado com o Buril sobre seu peito.


Vê como sangra a ferida em meu peito

Pelo sinal sacramental que foi feito!


Ele coloca o segundo Bolo na ferida.


Estanco o Sangue que a hóstia toca

Enquanto o alto sacerdote invoca!


Ele come o segundo Bolo.


Presto o Juramento e como este Pão,

Enquanto eu me inflamo em oração:

“Nenhuma culpa ou graça esperes:

Esta é a Lei: FAZE O QUE TU QUERES!”


Ele bate o Sino Onze vezes, e exclama


ABRAHADABRA.


Entrei com pesar; agora deixo

      Com benção e regozijo,

Para tomar meu deleite,

      Entre os que estão vivos.


Ele segue em frente.


Comentário (ΜΔ)

Este é o número especial de Hórus; é o sangue hebraico, e a multiplicação de 4 por 11, o número da Magick, explica 4 em seu melhor sentido. Mas consulte especificamente os relatos das circunstâncias do Equinócio dos Deuses no Equinox I, vii.


A palavra “Fênix” pode ser considerada como incluindo a ideia de “Pelicano”, um pássaro que nas fábulas alimenta seus jovens com o sangue de seu próprio peito. No entanto as duas ideias, embora cognatas, não são idênticas, e “Fênix” é o símbolo mais preciso.


Este capítulo é explicado no Capítulo 62.


Seria impróprio comentar mais sobre um ritual que foi aceito como oficial pela A∴A∴.


Thelema - Liber XXXVI – A Safira Estrela


Publicação da A∴A∴ em Classe D


Que o Adepto esteja armado com sua Cruz Mágicka [e provido de sua Rosa Mística].


No centro, que ele dê os sinais de L.V.X.; ou se ele os conhecer, se ele quiser e ousar fazê-los, e puder manter-se silente quanto a eles, os sinais de N.O.X. sendo os sinais de Puer, Vir, Puella, Mulier. Omita o sinal de I. R.


Então que ele avance para o Leste, e faça o Hexagrama Santo, dizendo: Pater et Mater unus deus Ararita.


Que ele dê a volta até o Sul, faça o Hexagrama Santo, e diga: Mater et Filius unus deus Ararita.


Que ele dê a volta até o Oeste, faça o Hexagrama Santo, e diga: Filius et Filia unus deus Ararita.


Que ele dê a volta até o Norte, faça o Hexagrama Santo, e então diga: Filia et Pater unus deus Ararita.


Então que ele retorne ao Centro, e assim para O Centro de Tudo (fazendo a Rosa Cruz conforme ele pode saber como) dizendo: Ararita Ararita Ararita.


(Nisto os Sinais serão aqueles de Set Triunfante e de Baphomet. Também aparecerá Set no Círculo. Que ele beba do Sacramento e que ele transmita o mesmo.)


Então que ele diga: Omnia in Duos: Duo in Unum: Unus in Nihil: Haec nec Quatuor nec Omnia nec Duo nec Unus nec Nihil Sunt.


Gloria Patri et Matri et Filio et Filiæ et Spiritui Sancto externo et Spiritui Sancto interno ut erat est erit in saecula Saeculoum sex in uno per nomen Septem in uno Ararita.


Então que ele repita os sinais de L.V.X., mas não os sinais de N.O.X.: pois não é ele que se erguerá no Sinal de Ísis Regozijando.


Comentário (ΛΣ)

O Safira Estrela corresponde ao Rubi Estrela do Capítulo 25; 36 sendo o quadrado de 6, como 25 é de 5.


Este capítulo dá o verdadeiro e perfeito Ritual do Hexagrama.


Seria impróprio comentar mais sobre um ritual oficial da A∴A∴.

Thelema - Um Relato da A∴A∴


Um Relato da A∴A∴[1]

Primeiramente Escrito na Linguagem de sua Época pelo


Conselheiro Von Eckartshausen[2]


e Agora Revisado e Reescrito na Cifra Universal


sub figūrā XXXIII[3]


Publicação da A∴A∴ em Classe C


É necessário, meus queridos irmãos, dar-lhes uma ideia clara da Ordem interior; daquela comunidade iluminada que está espalhada por todo o mundo, mas que é governada por uma verdade e unida em um espírito.


Essa comunidade possui uma Escola, na qual todos os que têm sede de conhecimento são instruídos pelo próprio Espírito da Sabedoria; e todos os mistérios da natureza são preservados nesta escola para os filhos da luz. O conhecimento perfeito da natureza e da humanidade é ensinado nesta escola. É dela que todas as verdades penetram no mundo; ela é a escola de todos os que buscam a sabedoria, e é só nessa comunidade que a verdade e a explicação de todos os mistérios são encontradas. É a mais oculta das comunidades, contudo contém membros de muitos círculos; nem existe qualquer Centro de Pensamento cuja atividade não seja devido à presença de um de nós mesmos. Desde sempre houve uma escola exterior baseada na interior, da qual ela é apenas a expressão externa. Desde sempre, portanto, houve uma assembleia oculta, uma sociedade dos Eleitos, daqueles que buscaram e tiveram capacidade para a luz, e essa sociedade interior era o Eixo da R.O.T.A. Tudo o que qualquer ordem externa possui em símbolo, cerimônia ou rito é a letra externamente expressa daquele espírito da verdade que habita no Santuário interior. Tampouco é a contradição da exterior qualquer barreira à harmonia da interior.


Por isso esse Santuário, composto por membros amplamente dispersos mas unidos pelos laços do amor perfeito, se ocupa desde os primeiros tempos em construir o grande Templo (através da evolução da humanidade) pelo qual o reino da L.V.X. se manifestará. Essa sociedade está na comunhão daqueles que têm maior capacidade para a luz; eles estão unidos em verdade, e o seu Chefe é a própria Luz do Mundo, V.V.V.V.V., o Ungido na Luz, o único professor para a raça humana, o Caminho, a Verdade e a Vida.


A Ordem interior foi formada imediatamente após a primeira percepção da herança mais ampla do homem ter surgido sobre o primeiro dos adeptos; ela recebeu dos Mestres em primeira mão a revelação dos meios pelos quais a humanidade poderia ser elevada aos seus direitos e libertada de sua miséria. Ela recebeu a carga primitiva de toda revelação e mistério; recebeu a chave da ciência verdadeira, tanto divina quanto natural.


Mas conforme os homens se multiplicavam, a fragilidade do homem exigiu uma sociedade exterior que velasse a interior e ocultasse o espírito e a verdade na letra, porque muitas pessoas não eram capazes de compreender a grande verdade interior. Portanto, as verdades interiores foram envoltas em cerimônias externas e perceptíveis, de modo que os homens, pela percepção da exterior, que é o símbolo da interior, pudessem gradualmente se tornar aptos a se aproximar das verdades espirituais interiores com segurança.


Mas a verdade interior sempre foi confiada a aquele que em seu dia teve a maior capacidade para a iluminação, e ele se tornou o único guardião do Encargo original, como Sumo Sacerdote do Santuário.


Quando se tornou necessário que as verdades interiores fossem envoltas em cerimônia e símbolo exteriores, devido à verdadeira fraqueza dos homens que não eram capazes de ouvir a Luz da Luz, começou o culto exterior. No entanto, era sempre o tipo ou símbolo do interior, ou seja, o símbolo do Sacramento verdadeiro e Secreto.


O culto externo nunca teria sido separado da revelação interior senão pela fraqueza do homem, que tende muito facilmente a esquecer o espírito na letra; mas os Mestres estão atentos ao notar em todas as nações aqueles que são capazes de receber luz, e essas pessoas são empregadas como agentes para espalhar a luz de acordo com a capacidade do homem e para revivificar a letra morta.


Por intermédio desses instrumentos, as verdades interiores do Santuário foram levadas a todas as nações e modificadas simbolicamente de acordo com seus costumes, capacidade de instrução, clima e receptividade. De modo que as formas externas de toda religião, culto, cerimônias e Livros Sagrados em geral tenham mais ou menos claramente, como seu objetivo de instrução, as verdades interiores do Santuário pelas quais o homem será conduzido ao conhecimento universal da Verdade Absoluta única.


Quanto mais o culto externo de um povo permaneceu unido com o espírito da verdade esotérica, mais pura é a sua religião; mas quanto maior é a diferença entre a letra simbólica e a verdade invisível, mais imperfeita tornou-se a religião. Por fim, pode ser que a forma externa tenha se separado completamente da sua verdade interior, restando somente observações cerimoniais sem alma ou vida.


No meio de tudo isso, a verdade repousa inviolável no Santuário interno.


Fiel ao espírito da verdade, os membros da Ordem interior vivem em silêncio, mas em verdadeira atividade.


No entanto, além do seu santo trabalho secreto, de tempos em tempos eles optaram por ação estratégica política.


Assim, quando a Terra foi quase totalmente corrompida por causa da Grande Feitiçaria, os Irmãos enviaram Maomé para trazer a liberdade à humanidade pela espada.


Tendo sido o sucesso apenas parcial, eles levantaram um Lutero para ensinar a liberdade de pensamento. No entanto, essa liberdade logo se transformou em uma escravidão mais pesada do que antes.


Então os Irmãos entregaram ao homem o conhecimento da natureza, e as suas chaves; contudo, isso também foi impedido pela Grande Feitiçaria.


Agora, finalmente, de maneiras anônimas, como um dos nossos Irmãos têm agora em mente declarar, eles trouxeram Alguém para entregar aos homens as chaves do Conhecimento Espiritual, e por Sua obra Ele será julgado.


Esta comunidade interior de luz é a reunião de todos aqueles capazes de receber luz, e é conhecida como a Comunhão dos Santos, o receptáculo primitivo de toda força e verdade confiadas a ela desde o princípio dos tempos.


Por meio dela, agentes da L.V.X. foram formados em todas as épocas, passando da interior para a exterior, e comunicando o espírito e a vida à letra morta, como já foi dito.


Esta comunidade iluminada é a verdadeira escola de L.V.X.; tem sua Presidência, seus Doutores; possui uma regra para estudantes; tem formas e objetos de estudo.


Também tem graus para o desenvolvimento sucessivo para altitudes mais elevadas.


Esta escola de sabedoria foi sempre escondida o mais secretamente do mundo, porque é invisível e submissa unicamente a governo iluminado.


Nunca foi exposta aos acidentes do tempo e à fraqueza do homem, porque apenas os mais aptos foram escolhidos para ela, e aqueles que selecionaram não cometeram nenhum erro.


Através desta escola foram desenvolvidos os gérmens de todas as ciências sublimes, as quais foram recebidas primeiramente pelas escolas externas, então vestidas em outras formas e, portanto, degeneradas.


De acordo com o tempo e as circunstâncias, a sociedade dos sábios comunicou às sociedades exteriores seus hieróglifos simbólicos a fim de atrair o homem às grandes verdades de seu Santuário.


Mas todas as sociedades exteriores subsistem somente em virtude da interior. Assim que as sociedades externas desejam transformar um templo da sabedoria em um edifício político, a sociedade interior se retira e deixa apenas a letra sem o espírito. É assim que as sociedades secretas externas de sabedoria não passaram de telas hieroglíficas, a verdade permanecendo inviolável no Santuário para que nunca seja profanada.


Nesta sociedade interior, o homem encontra a sabedoria e com ela Tudo – não a sabedoria deste mundo, que é apenas conhecimento científico que gira em torno do exterior mas nunca toca o centro (no qual está contida toda a força), mas a verdadeira sabedoria, compreensão e conhecimento, reflexos da iluminação suprema.


Todas as disputas, todas as controvérsias, todas as coisas pertencentes aos falsos cuidados deste mundo, discussões infrutíferas, gérmens inúteis de opiniões que espalham as sementes de desunião, todos os erros, cismas e sistemas são banidos. Nem a calúnia e nem o escândalo são conhecidos. Todo homem é honrado. Só o amor reina.


No entanto, não devemos imaginar que esta sociedade se assemelha a qualquer sociedade secreta, reunida em determinados momentos, escolhendo líderes e membros unidos por objetivos especiais. Todas as sociedades, sejam quais forem, podem buscar esse círculo iluminado interior. Esta sociedade não conhece nenhuma das formalidades que pertencem aos anéis externos, o trabalho do homem. Neste reino de poder cessam todas as formas externas.


L.V.X. é o Poder sempre presente. O maior homem de seu tempo, o próprio chefe, nem sempre conhece todos os membros, mas no momento em que é necessário que ele realize qualquer objetivo, ele com certeza os encontra de prontidão pelo mundo.


Esta comunidade não possui barreiras externas. Aquele que pode ser escolhido é como o primeiro; ele se apresenta aos outros sem presunção, e ele é recebido pelos outros sem ciúmes.


Se for necessário que os verdadeiros membros se encontrem juntos, eles se encontram e se reconhecem com perfeita certeza.


Nenhum disfarce pode ser usado, nem a hipocrisia nem a dissimulação podem esconder as qualidades características que distinguem os membros desta sociedade. Toda a ilusão desaparece, e as coisas aparecem em sua verdadeira forma.


Nenhum membro pode escolher outro; é necessária escolha unânime. Embora nem todos os homens sejam chamados, muitos dos chamados são escolhidos, e isso ocorre assim que se tornam aptos para a admissão.


Qualquer homem pode procurar a entrada, e qualquer homem que esteja dentro pode ensinar outro a procurá-la; mas só aquele que está apto pode chegar lá dentro.


Homens despreparados causam desordem na comunidade, e a desordem não é compatível com o Santuário. Assim, é impossível profanar o Santuário, uma vez que a admissão não é formal, mas real.


A inteligência mundana busca este Santuário em vão; infrutíferos também serão os esforços da malícia em penetrar esses grandes mistérios; tudo é indecifrável para aquele que não está maduro; ele não pode ver nada e nem ler nada no interior.


Aquele que está apto é ligado à corrente, talvez muitas vezes onde ele pensou menos provável, e em um ponto em que ele mesmo não sabia nada.


Tornar-se apto deve ser o único esforço daquele que procura sabedoria.


Mas há métodos pelos quais a aptidão é alcançada, pois nesta santa comunhão está o armazém primitivo da ciência mais antiga e original da raça humana, também com os mistérios primitivos de toda a ciência. É a única e realmente iluminada comunidade, que é absolutamente detentora da chave de todo mistério, que conhece o centro e a fonte de toda a natureza. É uma sociedade que une força superior à sua própria, e conta com membros de mais de um mundo. É a sociedade cujos membros formam a república do Gênio, a Mãe Regente do Mundo inteiro.


«Originalmente publicado nas páginas 4 a 13 do The Equinox Vol. I Nº 1, em março de 1909. Seu conteúdo é descrito como: “Um relato básico e sugestivo do trabalho da Ordem e sua relação com o homem médio.”» 


«Este texto é uma adaptação feita por Crowley de um trecho do livro A Nuvem Sobre o Santuário, de Karl von Eckartshausen, um filósofo e místico católico alemão.» 


«Sobre a catalogação sob o número 33, o autor afirma: “Este número é dado por motivos maçônicos.”» 

Thelema - Liber Libræ


Publicação da A∴A∴

em Classe B


Emitida por ordem de:


D.D.S. 7○=4□ Præmonstrator

O.S.V. 6○=5□ Imperator

N.S.F. 5○=6□ Cancellarius


0. Aprende primeiro — Ó tu que aspiras à nossa antiga Ordem! — que Equilíbrio é a base do Trabalho. Se tu mesmo não tens um alicerce firme, sobre o que tu ficarás para dirigir as forças da Natureza?


1. Então saiba que já que o homem nasce neste mundo em meio à Escuridão da Matéria e à disputa de forças conflitantes; portanto, seu primeiro esforço deve ser o de buscar a Luz através de sua reconciliação.


2. Então, tu que tens provações e problemas, regozija-te por causa deles, pois neles há Força, e por sua via se abre um caminho para a Luz.


3. Como de outra forma, ó homem, cuja vida é apenas um dia na Eternidade, uma gota no Oceano do tempo; como, se tuas provações não fossem muitas, tu poderias purificar tua alma da impureza da terra?


É só agora que a Vida Superior é ameaçada por perigos e dificuldades; não tem sido sempre assim com os Sábios e Hierofantes do passado? Eles foram perseguidos e injuriados, eles foram atormentados pelos homens; no entanto através disso também aumentou sua Glória.


4. Portanto alegra-te, Ó Iniciado, pois quanto maior a tua prova, maior o teu Triunfo. Quando os homens te injuriarem, e falarem falsamente contra ti, não disse o Mestre: “Abençoado és tu!”?


5. No entanto, ó aspirante, que as tuas vitórias não te tragam Vaidade, pois com o aumento do Conhecimento virá o aumento da Sabedoria. Aquele que conhece pouco, pensa que conhece muito; mas aquele que conhece muito aprendeu sobre sua própria ignorância. Vês um homem sábio em sua própria presunção? Há mais esperança em um tolo do que nele.


6. Não sejas precipitado em condenar os outros; como tu sabes que em seu lugar tu poderias ter resistido à tentação? E mesmo assim, por que tu deverias desprezar alguém que é mais fraco do que ti?


7. Portanto, tu que desejas Dons Mágicos, tenha certeza de que tua alma é firme e inabalável; pois é lisonjeando as tuas fraquezas que os Fracos ganharão poder sobre ti. Humilha-te diante do teu Self, mas não tema nem homem e nem espírito. Medo é o fracasso, e o precursor do fracasso: e coragem é o princípio da virtude.


8. Portanto, não temas os Espíritos, mas seja firme e cortês com eles; pois tu não tens direito de desprezá-los ou ofendê-los; e isso também pode te desviar. Comanda-os e bana-os, amaldiçoa-os pelos Grandes Nomes se necessário for; mas não os zombes ou injuries, pois desta forma tu seguramente serás levado ao erro.


9. Um homem é o que ele faz de si mesmo dentro dos limites fixados pelo seu destino herdado; ele é uma parte da humanidade; suas ações afetam não só o que ele mesmo chama, mas também todo o universo.


10. Venere, e não negligencie, o corpo físico, que é a tua conexão temporária com o mundo externo e material. Portanto, que o teu Equilíbrio mental esteja acima da perturbação por eventos materiais; fortalece e controle as paixões animais, discipline as emoções e a razão, nutre as Aspirações Superiores.


11. Faze o bem aos outros apenas por fazer, não por recompensa, não pela gratidão deles, não por simpatia. Se tu és generoso, não desejarás que teus ouvidos sejam agraciados por expressões de gratidão.


12. Lembre-te de que a força desequilibrada é maligna; que a severidade desequilibrada é apenas crueldade e opressão; mas também que a misericórdia desequilibrada é apenas fraqueza que permitiria e instigaria o Mal. Age apaixonadamente; pense racionalmente; sê Tu mesmo.


13. Verdadeiro ritual é tanto ação quanto palavra; é Vontade.


14. Lembre-te de que esta terra é apenas um átomo no universo, e que tu mesmo és apenas um átomo sobre a mesma, e que, mesmo que tu te tornastes o Deus desta terra sobre a qual tu te arrastas e rastejas, que tu serias, mesmo assim, apenas um átomo, e um dentre muitos.


15. No entanto, tenha o maior auto respeito e, para esse fim, não peque contra ti mesmo. O pecado que é imperdoável é conscientemente e deliberadamente rejeitar a verdade, temer o conhecimento porque ele não gratifica os teus preconceitos.


16. Para obter Poder Mágico, aprende a controlar o pensamento; admite apenas as ideias que estão em harmonia com o fim desejado, e não toda Ideia dispersa e contraditória que se apresenta.


17. Pensamento fixo é um meio para um fim. Portanto, preste atenção ao poder do pensamento silencioso e da meditação. O ato material é apenas a expressão externa do teu pensamento, e por isso foi dito que “pensar tolice é pecado”. Pensamento é o início da ação, e se um pensamento casual pode produzir muito efeito, o que o pensamento fixo não pode fazer?


18. Portanto, como já foi dito: Estabelece-te firmemente no equilíbrio das forças, no centro da Cruz dos Elementos, aquela Cruz de cujo centro a Palavra Criativa proferiu no nascimento do Universo alvorecendo.


19. Portanto, sê rápido e ativo como os Silfos, mas evite frivolidades e caprichos; sê energético e forte como as Salamandras, mas evite irritabilidade e ferocidade; sê flexível e atento a imagens como as Ondinas, mas evite ociosidade e inconstância; sê laborioso e paciente como os Gnomos, mas evite a grosseria e a avareza.


20. Assim gradualmente desenvolverás os poderes da tua alma e te tornarás apto a comandar os Espíritos dos elementos. Pois se convocasses os Gnomos para gratificar tua avareza, tu não mais os comandaria, mas eles te comandariam. Tu abusarias dos seres puros dos bosques e das montanhas para encher teus cofres e satisfazer tua fome de Ouro? Tu rebaixarias os Espíritos do Fogo Vivo para servir tua ira e ódio? Tu violarias a pureza das Almas das Águas para gratificar a tua luxúria de devassidão? Tu forçarias os Espíritos da Brisa da Noite a ministrar tua loucura e capricho? Saiba que com tais desejos tu só podes atrair o Fraco, não o Forte, e neste caso o Fraco terá poder sobre ti.


21. Não há seita na verdadeira religião, portanto, tome cuidado para que não blasfemes o nome pelo qual outro conhece seu Deus; pois se tu fazes isso em Júpiter, tu blasfemarás יהוה e em Osíris יהשוה . Pedi e vós tereis! Procurai e vós encontrareis! Batei e será aberto para vós!


Thelema - Liber XXV - O Rubi Estrela

Publicação da A∴A∴ em Classe D

25

ΚΕΦΑΛΗ ΚΕ

O Rubi Estrela

[Tradução da versão publicada em The Book of Lies, 1913.]


De frente para o Leste, no centro, inspira profunda profunda profundamente, fechando tua boca com teu dedo indicador direito pressionado contra teu lábio inferior. Então subitamente lançando a mão para baixo com um grande movimento circular para trás e para fora, expelindo forçadamente teu fôlego, exclama: ΑΠΟ ΠΑΝΤΟϹ ΚΑΚΟΔΑΙΜΟΝΟϹ.


Com o mesmo dedo indicador toca tua testa, e diga ϹΟΙ; teu membro, e diga Ω ΦΑΛΛΕ[1]; teu ombro direito, e diga ΙϹΧϒΡΟϹ; teu ombro esquerdo, e diga ΕϒΧΑΡΙϹΤΟϹ; então junta tuas mãos, entrelaçando os dedos, e exclama ΙΑΩ.


Avance para o Leste. Imagina fortemente um Pentagrama, da maneira correta, em tua testa. Trazendo as mãos até os olhos, lança-as para a frente, fazendo o sinal de Hórus e ruja ΧΑΟϹ. Recolha tua mão no sinal de Hoor-paar-Kraat.


Dê a volta para o Norte e repita; mas grita BABAΛON.


Dê a volta para o Oeste e repita; mas diga ΕΡΩϹ.


Dê a volta para o Sul e repita; mas vocifera ΨϒΧΗ.


Completando o círculo no sentido anti-horário, recolha-te para o centro e aumenta tua voz no Paian, com estas palavras ΙO ΠΑΝ, com os sinais de N.O.X.


Estenda os braços na forma de um Tau e diga em voz baixa, porém clara: ΠΡΟ ΜΟϒ ΙϒΓΓΕϹ ΟΠΙϹΩ ΜΟϒ ΤΕΛΕΤΑΡΧΑΙ ΕΠΙ ΔΕΞΙΑ ϹϒΝΟΧΕϹ ΕΠΑΡΙϹΤΕΡΑ ΔΑΙΜΟΝΕϹ ΦΛΕΓΕΙ ΓΑΡ ΠΕΡΙ ΜΟϒ Ο ΑϹΤΗΡ ΤΩΝ ΠΕΝΤΕ ΚΑΙ ΕΝ ΤΗΙ ϹΤΗΛΗΙ Ο ΑϹΤΗΡ ΤΩΝ ΕΞ ΕϹΤΗΧΕ.


Repita a Cruz Cabalística, conforme acima, e termina conforme tu começaste.


Comentário (ΚΕ)

25 é o quadrado de 5, e o Pentagrama tem a cor vermelha de Geburah.


O capítulo é uma versão nova e mais elaborada do Ritual do Pentagrama de Banimento.


Seria impróprio comentar mais sobre um ritual oficial da A∴A∴.


Liber XXV

O Rubi Estrela.

[Tradução da versão publicada em Magick in Theory & Practice, 1929.]


De frente para o Leste, no centro, inspira profunda profunda profundamente, fechando tua boca com teu dedo indicador direito pressionado contra teu lábio inferior. Então subitamente lançando a mão para baixo com um grande movimento circular para trás e para fora, expelindo forçadamente teu fôlego, exclama: ΑΠΟ ΠΑΝΤΟΣ ΚΑΚΟΔΑΙΜΟΝΟΣ.


Com o mesmo dedo indicador toca tua testa, e diga ΣΟΙ; teu membro, e diga Ω ΦΑΛΛΕ[2]; teu ombro direito, e diga ΙΣΧϒΡΟΣ; teu ombro esquerdo, e diga ΕϒΧΑΡΙΣΤΟΣ; então junta tuas mãos, entrelaçando os dedos, e exclama ΙΑΩ.


Avance para o Leste. Imagina fortemente um Pentagrama, da maneira correta, em tua testa. Trazendo as mãos até os olhos, lança-as para a frente, fazendo o sinal de Hórus e ruja ΘΗΡΙΟΝ. Recolha tua mão no sinal de Hoor-paar-Kraat.


Dê a volta para o Norte e repita; mas diga NUIT.


Dê a volta para o Oeste e repita; mas sussurra BABALON.


Dê a volta para o Sul e repita; mas vocifera HADIT.


Completando o círculo no sentido anti-horário, recolha-te para o centro e aumenta tua voz no Paian, com estas palavras ΙΩ ΠΑΝ, com os sinais de N.O.X.


Estenda os braços na forma de um Tau e diga em voz baixa porém clara: ΠΡΟ ΜΟϒ ΙϒΓΓΕΣ ΟΠΙΧΩ ΜΟϒ ΤΕΛΕΤΑΡΧΑΙ ΕΠΙ ΔΕΞΙΑ ΧϒΝΟΧΕΣ ΕΠΑΡΙΣΤΕΡΑ ΔΑΙΜΟΝΟΣ ΦΕΓ ΕΙ ΓΑΡ ΠΕΡΙ ΜΟϒ Ο ΑΣΤΗΡ ΤΩΝ ΠΕΝΤΕ ΚΑΙ ΕΝ ΤΗΙ ΣΤΗΛΗΙ Ω ΑΣΤΗΡ ΤΩΝ ΕΞ ΕΣΤΗΧΕ.


Repita a Cruz Cabalística, conforme acima, e termina conforme tu começaste.


[1] O sentido secreto destas palavras deve ser procurado em suas numerações.


[2] O sentido secreto destas palavras deve ser procurado em suas numerações.


Thelema - Liber Turris vel Domus Dei

 

Publicação da A∴A∴
em Classe B

Imprimatur:
N. Fra A∴A∴

0. Esta prática é muito difícil. O estudante não pode esperar por muito sucesso a menos que tenha dominado completamente o Āsana, e obtido sucesso muito definido nas práticas de meditação de Liber E e Liber HHH.

Por outro lado, qualquer sucesso nessa prática é de um caráter excessivamente alto, e o estudante está menos sujeito a ilusões e auto ilusões nela do que em quase qualquer outra que Nós tornamos pública.

[A prática de meditação em Liber E consiste na restrição da mente a um único objeto predeterminado e imaginado exterior ao estudante, simples ou complexo, em repouso ou em movimento: as de Liber HHH em fazer com que a mente passe por uma série predeterminada de estados: o Rāja Yoga dos hindus é essencialmente uma extensão dos métodos de Liber E para objetos interiores: o Mahāsatipaṭṭhāna dos budistas é essencialmente uma observação e análise dos movimentos corpóreos. Enquanto a presente prática difere radicalmente de todas estas, é da maior vantagem estar familiarizado na prática com cada uma delas, primeiramente no que diz respeito a suas dificuldades incidentais, e em segundo lugar, a seus resultados apurados em relação à psicologia. ED.]

1. Primeiro Ponto. O estudante deve primeiramente descobrir para si a posição aparente do ponto em seu cérebro onde os pensamentos surgem, se houver tal ponto.

Se não houver, ele deve buscar a posição do ponto onde os pensamentos são julgados.

2. Segundo Ponto. Ele também deve desenvolver em si mesmo uma Vontade de Destruição, até mesmo uma Vontade de Aniquilação. Pode ser que ela seja descoberta a uma distância incomensurável de seu corpo físico. No entanto, ela deve ser alcançada, ele deve se identificar com ela mesmo até a perda de si mesmo.

3. Terceiro Ponto. Então que esta Vontade observe vigilantemente o ponto onde os pensamentos surgem, ou o ponto onde eles são julgados, e que todo pensamento seja aniquilado conforme é percebido ou julgado[1].

4. Quarto Ponto. Em seguida, que todo pensamento seja inibido em sua concepção.

5. Quinto Ponto. Em seguida, que até mesmo as causas ou tendências que se não forem checadas resultam em pensamentos sejam descobertas e aniquiladas.

6. Sexto e Último Ponto. Que a verdadeira Causa de Tudo[2] seja desmascarada e aniquilada.

7. Isto é aquilo que foi dito pelos sábios da antiguidade sobre a destruição do mundo pelo fogo; sim, a destruição do mundo pelo fogo.

8. [Isso e os versos seguintes são de origem moderna.] Que o Estudante se lembre de que cada Ponto representa uma consecução definida de grande dificuldade.

9. Que ele não tente o segundo até que esteja bem satisfeito com seu domínio sobre o primeiro.

10. Esta prática é também aquela que foi mencionada por Fra P. em uma parábola como segue:

11. Imunda é a fortaleza do ladrão, cheia de ódio;
Ladrão estrangulando ladrão, e companheiro em guerra com companheiro
Enfrentando invasores selvagens, todos abandonados ao Acaso!

Não há nem saúde nem felicidade ali.
A hombridade é covardia, e a virtude é pecado.
Escuridão intolerável a encobre.

Nem o coração do inferno tem um nuance tão nocivo;
Ainda assim, inofensiva e ilesa, e sem desespero,
Definha em sua prisão uma donzela incorrupta.

Confinada pelo mago mestre para seu desejo,
Ela desconcerta suas seduções e sua ira,
Orando pelo fogo de Deus que tudo aniquila.

O Senhor dos Exércitos deu ouvidos a seu canto:
O Senhor dos Exércitos ficou furioso com sua injustiça.
Ele soltou o cão do céu da sua correia.

Violento e vívido bateu o relâmpago do raio.
De uma só vez a torre balançou e rachou sob seu açoite,
Queimou com fogo inextinguível; se tornou cinzas.

Mas aquele mesmo fogo que sufocou a contenda do ladrão,
E atingiu a luxúria e a vida de cada ser,
Tornou a doce donzela em uma esposa alegre.

12. E esta:

13. Há um poço diante do Grande Trono Branco
Que está sufocado pelo detrito de eras;
Entulho e argila e sedimento e pedra,
Deleite dos lagartos e desespero dos sábios.

Apenas o relâmpago de Sua mão que repousa,
E ainda repousará quando o tirano usurpador cai,
Pode purificar aquela região selvagem de vontades e perspicácias,
Fazer jorrar aquela fonte em salas eternas.

14. E esta:

15. Enxofre, Sal e Mercúrio:
Dos três, qual é o mestre?

Sal é a Senhora do Mar;
Senhor do Ar é Mercúrio.

Agora pela graça de Deus aqui está o sal
Fixado sob a abóbada violeta.

Agora pelo amor de Deus purifique-o
Com nosso orvalho Hermético certo.

Agora por Deus em quem confiamos
Seja nosso sal sófico combustão.

Então finalmente o Olho verá
Três em Um e Um em Três,

Enxofre, Sal e Mercúrio,
Coroados pela Alquimia Celestial!

Ao Um que enviou os Sete
Glória no Céu Altíssimo!

Para os Sete que são os Dez
Glória sobre a Terra, Amém!

16. E das dificuldades desta prática e dos Resultados que a recompensam, que estas coisas sejam descobertas pelo correto Ingenium do Practicus.

[1] Esta é também a “Abertura do Olho de Śiva”. ED.

[2] Māyan, o Magista, ou Māra. Também O Habitante do Umbral em um sentido muito exaltado. ED.