sábado, 2 de novembro de 2024

Thelema - O Templo do Rei Salomão

 

[Liber LVIII é composto pela Parte V da série “O Templo do Rei Salomão”, que foi publicada originalmente ao longo dos números do periódico The Equinox, narrando a carreira iniciática de Frater Perdurabo – Aleister Crowley.]

Grande como foram as realizações de Frater P. nas antigas ciências do oriente, rapidamente e seguramente como ele passou em nem mesmo um ano a estrada árdua que tantos falharam em atravessar em uma vida toda, satisfeito consigo mesmo como estava — em certo sentido — com seu próprio progresso, ainda assim não era por estes caminhos que ele estava destinado a alcançar o Limiar Sublime do Templo Místico. Pois embora esteja escrito “Para o mortal perseverante os imortais abençoados são rápidos”, ainda assim, não fosse doutra forma, nenhum mortal não importa quão perseverante poderia atingir a costa imortal. Como está escrito no Quinquagésimo Capítulo do Evangelho de São Lucas, “E quando ele ainda estava distante, seu Pai o viu e correu”. Se não tivesse sido assim, o pesaroso Pródigo, exausto por seus deboches anteriores (visões astrais e magia) e sua labuta mental mais recente (yoga) nunca teria tido a força para alcançar a Casa de seu Pai.

São Lucas omitiu um pequeno ponto inexplicadamente. Quando um homem está tão faminto e tão cansado quanto estava o Pródigo, ele está apto a ver fantasmas. Ele está apto a abraçar sombras, e bradar: “Pai!” E, o demônio sendo sutil, capaz de se disfarçar como um anjo de luz, ele faz com que o Pródigo precise passar por algum teste de veracidade.

Alguns grandes místicos estabeleceram a lei “Não aceite nenhum mensageiro de Deus”, bana todos, até que finalmente o próprio Pai apareça. Um conselho da perfeição. O Pai de fato envia mensageiros, como aprendemos em São Marco XII; e se nós os apedrejamos, nós podemos quem sabe em nossa cegueira apedrejar o próprio Filho quando ele for enviado.

Portanto não é um conselho vão de “São João” (1 João iv. 1), “Teste os espíritos, se eles são de Deus ou não”, e não é nenhum erro quando “São Paulo” reivindica o discernimento de Espíritos como sendo o ponto principal da armadura da salvação (I Cor. xii. 10).

Agora, como Frater P. ou outra pessoa testaria a verdade de qualquer mensageiro alegando vir do Altíssimo? No plano astral, seus fantasmas são facilmente governados pelo Pentagrama, pelas Armas Elementais, pelos Robes, pelas Formas-de-deuses, e tais brinquedos infantis. Nós colocamos fantasmas para perseguir fantasmas. Nós tornamos o nosso Scin-Laeca puro e rígido e brilhante, todo glorioso internamente, como a filha autêntica do Rei; ainda assim ela é só a filha do Rei, o Nephesch adornado: ela não é o próprio Rei, o Santo Ruach ou mente do homem. E como vimos no nosso capítulo sobre Yoga, esta mente é o próprio álamo; e como podemos ver no último capítulo do Star in the West de Capitão Fuller, esta mente é a própria cabine de comando da contradição.

Então qual é o padrão da verdade? Que testes devemos aplicar à revelação, quando nossos testes de experiências se acham deficientes? Se eu devo duvidar de meus olhos que me serviram (bem, no geral) por tantos anos, não devo duvidar muito mais de minha visão espiritual, minha visão recém-aberta como a de um bebê, minha visão que não foi testada pela comparação e que não foi criticada pela razão?

Felizmente, existe uma ciência que pode nos auxiliar, uma ciência que, propriamente compreendida pela mente iniciada, é tão absoluta quanto a matemática, mais autossuficiente do que a filosofia, uma ciência do próprio espírito, cujo professor é Deus, cujo método é tão simples quanto a Luz divina, e tão sutil quanto o Fogo divino, cujos resultados são tão límpidos quanto a Água divina, permeando tudo como o Ar divino, e sólida como a Terra divina. A Verdade é a fonte, e Economia o curso, daquela correnteza maravilhosa que derrama suas águas vivas no Oceano da certeza apodítica, a Verdade que é infinita em sua infinidade, como a Verdade primordial com a qual é idêntica, que é infinita em sua Unidade.

Precisamos dizer que falamos da santa Cabala? Ó ciência secreta, sutil e sublime, quem te chamará sem veneração, sem prostração da alma, espírito e corpo diante de teu Autor divino, sem exaltação da alma, do espírito e do corpo quando por Seu favor eles se banham em Sua Luz lustral e ilimitável?

Aqui deve-se primeiro falar da Cabala Exotérica a ser encontrada nos livros, uma casca daquele fruto perfeito da Árvore da Vida. Em seguida, lidaremos com ensinamentos esotéricos dela, conforme Frater P. foi capaz de compreendê-los. E destes nós daremos exemplos, mostrando a falsidade e a absurdidade do caminho não-iniciado, a verdade e a razoabilidade puras do Caminho oculto.

Para o estudante não familiarizado com os rudimentos da Cabala, nós recomendamos o estudo da Introdução de S. L. Mathers à sua tradução dos três livros principais do Zohar, e a “Introdução ao Estudo da Cabala” de Westcott. Nós nos aventuramos a anexar algumas citações do primeiro documento, que mostrarão os princípios elementares do cálculo. O livreto do Dr. Westcott é principalmente de valor por sua hábil defesa da Cabala contra o exotericismo e literalismo.