quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A Gênese Satânica


Anton Szandor LaVey foi o Pai do Satanismo Moderno, alguns diriam até do Satanismo como um todo. Embora esta filosofia e estética sejam tão antigas quanto a humanidade, foi ele que deu pela primeira vez na história uma estrutura organizada para que fossem celebradas como uma religião completa.

Entendendo que, de uma forma ou outra, sempre nos agarramos a dogmas e rituais, ele os utilizou para criar a mais laica e humana, demasiadamente humana, de todas as religiões. LaVey não foi um profeta, não foi um enviado de outro mundo, não foi à reencarnação de qualquer outra grande figura e sequer acreditava em tais bobagens. Este é um ponto importante, por isso vou ressaltá-lo: o Satanismo é uma religião que foi inventada.

É claro, todas as religiões foram inventadas. Mas os satanistas simplesmente admitem isso e não fingem ser donos de uma revelação mística. O seu fundador foi simplesmente um homem à frente de seu tempo. Libertário, de intelecto afiado e dono de um senso raro de oportunidade. Ele nasceu em 11 de Abril de 1930 e seu nome era Howard Stanton Levey. É certo que LeVey soube forjar sua imagem como ninguém, não é a toa que ele mais tarde reescreveria o próprio nome e passasse a se chamar Anton Szandor LaVey.

Pouco depois do seu nascimento sua família decide deixar Chicago e muda-se para a baía de São Francisco. Desde cedo LaVey aprendeu a importância de cultuar uma imagem poderosa e, propositalmente, encheu a história de sua vida com mitos e boatos que não podem ser confirmados, dentre os quais talvez o mais gritante seja o de foi iniciado no ocultismo graças a sua avó Cigana, Luba Koltan, que supostamente lhe contava histórias de superstições sobre vampiros e magia negra de sua terra natal, a Transilvânia. Existem sérias dúvidas se Luba sequer existiu, mas seja como for, o certo é que Anton desde jovem tinha um gosto pelas trevas e adorava ler qualquer coisa que se relacionasse a elas. Sabe-se que, em sua juventude, seus livros de estimação foram "Frankenstein" de Mary Shelly, "Drácula" de Bram Stocker e "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson. Também era leitor assíduo da popular revista “Weird Tales” e devorava qualquer produção Hollywoodiana que flertasse como terror.

A pré-adolescência de LaVey foi durante a Segunda Guerra Mundial e neste período fascinou-se por manuais militares e catálogos de armas. Rapidamente descobriu que, se alguém assim quisesse, poderia comprar armas e munições suficientes para criar o seu próprio exército privado. Nos idos de 1945, um dos tios de LaVey foi contratado para ser Engenheiro Civil no Exército de Ocupação da Alemanha vencida e Anton teve a chance de viajar com ele. Lá, pode ver filmes da realidade nazista confiscados, os quais tinha recebido a informação de conterem partes de rituais da Black Order of Satan, que supostamente fazia parte do Terceiro Reich. Novamente temos aqui um fato sem muita credibilidade, pois nessa época ele teria apenas 15 anos.

Algo que não pode ser questionado entretanto é sua verve artística e estética. Na prematura idade de cinco anos seus pais já haviam descoberto seu talento musical, quando entrou em uma loja de música e tocou um harpa sem qualquer instrução prévia. Mais tarde, aprendeu a tocar muitos instrumentos, incluindo o violino. Aos 10 anos aprendeu sozinho como tocar piano e aos 15 já era o segundo oboísta na Orquestra Sinfônica do Ballet de San Francisco. Foi este talento que levou LaVey a decidir deixar a escola e juntar-se ao Circo Clyde Beatty em 1947, com apenas 17 anos.

No circo foi contratado, primeiro, como estivador, depois tornou-se responsável pelas jaulas dos animais e, por fim, se tornou responsável por alimentar os grandes felinos. Anton desenvolveu então uma relação íntima com os animais e, provavelmente, começou a perceber que nossos irmãos de quatro patas não eram tão diferentes assim de nós. Ele passava boa parte de seus dias ao lado de predadores em cativeiro. Predadores em cativeiro... não é esta também uma ótima descrição do homo sapiens de hoje? A diferença é que ao contrário dos animais, nós carregamos nas mãos a chave de nossas jaulas.

Não demorou para que ele dominasse a psicologia animal e se transformasse em um ótimo domador, capaz de lidar com oito Leões Nubianos e quatro Tigres de Bengala numa única jaula. Uma noite, enquanto trabalhava no circo, o tocador de calíope habitual embebedou-se e não podia atuar. LaVey prontamente voluntariou-se para o seu lugar e foi um sucesso tão grande que se tornou no tocador de calíope oficial do Circo Beatty.

Quando a temporada do circo acabou, LaVey viu-se desempregado. Seguindo o conselho de alguns dos seus colegas decidiu procurar trabalho em feiras e parques de diversões. Devido a seus talentos musicais, rapidamente conseguiu emprego nas bares locais tocando calíope, órgão Wurlitzer e até mesmo um Hammond. Depois passou a tocar em shows de strip clubs femininos nas noites de sábado e aos domingos de manhã na tendas de espetáculos religiosos. Putas de noite e pastores de manhã. Foi ali que ele descobriu em primeira mão a hipocrisia presente na Igreja Cristã:

”Nas noites de sábado eu podia ver homens assistirem lascivamente as garotas seminuas dançando no show e, no domingo de manhã, quando eu tocava órgão na tenda do culto, eu via os mesmos homens sentando com suas esposas pedindo a Deus que os perdoasse e os purgasse de seus desejos carnais. E no próximo sábado eles visitariam o show novamente ou podiam ser vistos à noite em outros locais de indulgência. Eu soube então que as Igrejas Cristãs estão repletas de hipocrisia e que a natureza carnal do homem se manifestará não importa o quão purgada e combatida seja pelas religiões da luz branca.”

Se não somos santos, por que mentir para nós mesmos dizendo que o somos? Não podemos lutar contra nossa própria natureza. LaVey, trabalhando na indústria do entretenimento, entendeu isso com perfeição. Comédia, espetáculo, diversão, nudez, brincadeiras, delícias para todos os gostos e sentidos. Crianças querem se divertir como crianças e adultos querem se divertir como adultos. Podemos temporariamente nos enganar mas, dado tempo o suficiente, todo joelho se dobrará para a carne. Todo faquir vai acabar dormindo até mais tarde e todo padre tem uma revista pornográfica escondida debaixo da cama. Por mais que esta ou aquela religião nos proíba, inadvertidamente retornaremos para o momento em que deixaremos seus livros sagrados de lado por um tempo e nos entregaremos aos prazeres do mundo.

LaVey não percebeu na época mas começava ai a gênese do Satanismo Moderno.

Com vimos no capítulo anterior, Lavey passou uma temporada de sua vida trabalhando em casas burlescas e clubes noturnos nos arredores de Los Angeles, como tocador de órgão. Uma noite, enquanto trabalhava no Mayan Club, conheceu uma atriz chamada Norma Jeane que tinha conseguido trabalho como bailarina. Essa atriz logo mudaria seu nome para Marilyn Monroe e, conta a lenda, ela e Anton tiveram um rápido caso. Apesar da relação apenas ter durado algumas semanas deixou no jovem LaVey, que contava com 18 anos uma marca muito forte. Anos mais tarde, uma das posses mais preciosas de LaVey seria um calendário de Marilyn nua, com a dedicatória: "Caro Tony, Quantas vezes você já não viu isto! Com amor, Marilyn". Após o fim da sua suposta relação com Marilyn, Anton decidiu mudar-se para São Francisco. Lá, continuou a trabalhar como músico para vários shows de strip-tease e outras reuniões de entretenimento adulto. Também conseguiu trabalho como fotógrafo na Paramount Photo Sales, onde tirou fotografias a mulheres em várias fases de stripping, conhecimento que mais tarde seria útil no emprego de fotógrafo policial.

Quando a Guerra da Coreia começou Anton ponderou sobre a possibilidade de ser arrastado para dentro do exército. Lutar pela pátria estava longe de suas prioridades. Por isso de modo a poder evitar este possível destino em 1949 inscreveu-se na Faculdade de São Francisco, no curso de Criminologia, mesmo sem nunca sequer ter acabado o secundário. Como deve se lembrar, ele havia fugido de casa para ir trabalhar no Circo, assim, mesmo sem a educação fundamental completa, ele conseguiu entrar diretamente na faculdade. Foi mais ou menos nesta época que conheceu sua primeira esposa, Carole Lansing, num parque de diversões nas praias de San Francisco. Os pais de Carole de início estavam desconfiados das intensões de Anton, mas rapidamente se habituaram a ele e deram permissão para os dois se casarem. Anton e Carole casaram-se em 1951 e um ano depois nascia a primeira filha de LaVey, Karla Maritza LaVey.

De modo a poder sustentar sua família, LaVey decidiu usar os seus talentos de fotografia e a sua educação em Criminologia para conseguir trabalho como fotógrafo na Polícia de São Francisco. Um emprego que abalou profundamente e causou fortes impressões nele, aprimorando ainda mais seu senso estético e sua visão da realidade humana. Suas fotos registraram as mais sangrentas e grotescas cenas, fruto de um universo essencialmente indiferente para as súplicas humanas: crianças fuziladas na calçada, motoristas que atropelam e fogem, maridos brutalmente ciumentos, esposas vingativas, corpos boiando na baía de São Francisco, homens mortos por seus irmãos, garotinhas estupradas e estripadas, mães dando surras em seus bebês e filhos espancando seus pais idosos. Como poderia haver um “plano maior” para tão insensata carnificina? Como pode haver um Deus cuidando de toda esta gente? Por que tanta dor e sofrimento? LaVey registrou em seus filmes a maior prova de que o Deus judaico/cristão não existe: o sofrimento humano.

Ele diz: “Não há Deus. Não há nenhuma deidade suprema todo poderosa nos céus, que se preocupe com a vida dos seres humanos. Não há ninguém lá em cima que se importe. O ser humano é o único Deus. O ser humano deveria ser ensinado a responder a si mesmo e aos outros homens quanto à suas próprias ações.”

A espetáculo do burlesco humano testemunhado no circo e o grotesco do mundo fotografada nas ruas formaram a síntese do Satanismo que logo começaria a ganhar forma. Depois de dois anos, graças à sua própria personalidade e interesses pessoais, foi dada a LaVey a responsabilidade adicional de tomar conta das "Chamadas 800", que era o código para as chamadas estranhas. Antevendo os chamados Arquivos–X em algumas décadas, ele investigava de tudo, desde visões de OVNIs a relatos de fantasmas, casas assombradas e todo o resto que pertencesse ao sobrenatural. Nos anos seguintes Anton ganhou uma grande reputação como um dos primeiros "caça-fantasmas" da nação.

LaVey percebeu desde cedo que vivia em uma época de mudanças e que faltava muito pouco para o espírito de liberdade explodir sem nenhum controle como jamais visto na história. Em breve uma América branca, machista, protestante e conservadora assistiria ao movimento feminista queimando soutiens, aos panteras negras ganhado as olimpíadas, à valorização da liberdade e do hedonismo entre os jovens, uma revolução “espiritual” movida a drogas capitalizada em Woodstock e uma subseqüente fragmentação religiosa para algo cada vez mais mutante e individual.

Com olfato apurado, LaVey sabia que havia a necessidade de dar forma e voz a todas estas mudanças, era necessária uma oposição pública à estagnação que, em especial, o Cristianismo havia nos trazido. LaVey não estava simplesmente no lugar certo e na hora certa, ele era também a pessoa certa. Acima de tudo ele sabia que novos tempos estavam chegando e que se não fizesse alguma coisa neste sentido, outra pessoa o faria, e provavelmente com muito menos talento do que ele.

Viu que deveria haver um novo arauto para a senso de justiça e liberdade que estava se formando, alguém que entendesse as dores e prazeres do ser humano, que dividisse conosco nossas próprias paixões e fraquezas mas que ainda assim fosse um modelo de vida, força e sabedoria. Ele começou a perceber que a maior parte de nosso progresso, seja na ciência, na política ou na filosofia, foi feito por aqueles que se rebelaram contra “Deus”, a "Igreja", as "Autoridades" ou quem quer que ditasse o status quo de uma dada sociedade.

Era necessário um representante para este espírito revolucionário, criativo e irrepreensível, que sempre habitou nos homens e mulheres superiores e que fervilhava como nunca nos tempos de então. Só havia única figura que preenchia com perfeição este espaço, e isso estava bem claro para LaVey desde o começo de sua vida, uma deidade cuja rebeldia e natureza apaixonada havia sido descrita tanto com admiração como com medo desde o obscuro principio de nossa história: Satã, Lúcifer, ou popularmente, o Diabo.

Por qualquer nome que tenha sido chamada, esta figura sempre assombrou a humanidade tentando-a com as doces delicias da vida e iluminado-a com mistérios ocultos antes destinado apenas aos deuses. O diabo sempre defendeu que o homem deveria experimentar, e não simplesmente acreditar. Ele foi sempre aquele para quem, com segurança, podíamos pedir poderes e que sabia vingar-se e retribuir justamente as pessoas segundo seu merecimento. Satã nunca foi um deus etéreo do além, mas sempre uma deidade carnal e terrena - e mais importante: presente! Ao invés de criar pecados para aumentar a culpa, Satã sempre encorajou a indulgência. De todas as figuras mitológicas criadas pelo homem, Lavey nos mostrou que o diabo foi à única deidade que realmente soube nos entender.

The Black House

Em 1955, LaVey cansou-se da carreira como fotógrafo policial e decidiu deixá-la de modo a ter mais tempo para se concentrar nas arte negras e em si mesmo. Tornou-se exorcista e hipnotizador, fortalecendo os seus ganhos tocando órgão. Mudou-se também com a sua família para um apartamento perto da praia. Foi nessa altura que Anton comprou de um ex-colega do circo o seu primeiro animal de estimação - um leopardo negro de dez semanas, chamado Zoltan. LaVey costumava levar Zoltan a passear na praia, onde era com certeza o par mais excêntrico que passeava pela área, para o horror dos pedestres.

Conforme a fama local aumentava, LaVey começou a receber a imprensa para falar sobre suas práticas singulares e estranho animal de estimação. Ele atraiu muitas personalidades invulgares que se juntaram ao grupo de amigos que fez durante os seus anos de circo e puteiros. Ele organizava reuniões dentro de sua casa que logo ficaram mal faladas. Quando os rumores sobre o que estava exatamente acontecendo dentro das paredes da sua casa  começaram a espalhar, Anton decidiu mais uma vez que precisava se mudar-se. Ele procurou então uma casa grande o bastante para receber seus amigos e longe dos seus vizinhos curiosos, um lar que que pudesse decorar à sua imagem. Anton conseguiu tal lugar na R a California 6114. Nascia a infame "Black House", onde LaVey morou até à sua morte em 1997.

A Black House é um personagem à parte na história do Satanismo Moderno, visto que nela ocorreram as primeiras reuniões, os primeiros rituais, e onde LaVey escreveu a maior parte de seu material publicado. Construída em um estilo virtóriano, ela era seria com o tempo conhecida como a residência de LaVey e como a futura sede física da Church of Satan. A casa em questão já era coberta de lendas, antes mesmo de LaVey a comprar, e provavelmente este foi um dos fatores decisivos que o fez optar por sua aquisição.

O primeiro proprietário da casa foi um capitão da marinha que aportou pela última vez na Califórnia em 1887. Nascido na Escócia passou seus seis anos de casamento vivendo feliz no novo mundo. Até que sua mulher desapareceu em circunstancias misteriosas. Após uma série de buscas infrutíferas o capitão foi embora da América, supostamente amaldiçoou o lugar e nunca mais foi visto.

Quando foi conhecer a casa pela primeira vez a mulher que a apresentava já estava desanimada, pois sabia que tinha um verdadeiro elefante branco na mão, mal sabia ela que o comprador ela tão excêntrico quanto aquilo que estava para ser comprado. Ela mostrou a ele cada um dos 13 quartos e revelou que o local já tinha sido usado diversas vezes para realizar seções espíritas e portanto a casa estava coberta de passagens secretas, painéis escondidos e mecanismos maliciosos capazes de fazer o bolso dos charlatões continuarem cheios de grana no final de cada mês.

No inicio do século a casa havia sido usada para abrigar um hotel de má reputação que levou o nome da rua em que estava. O 'Hotel Califórnia' seria mais tarde relembrado pelo grupo Eagles em sua música de mesmo nome em uma referência explícita a Anton LaVey e sua Igreja com a qual tiveram estrito contato durante a década de 70. Depois do grande terremoto de São Francisco em 1906, uma enorme lareira foi construída no salão principal com as pedras supostamente trazidas de ruínas na Inglaterra. Incrivelmente negras e incrivelmente duras elas poderiam de fato ser associadas aos antigos altares druidas. A lareira foi construída de modo relativamente desproporcional e seria vista como grotesca e pouco prática para qualquer um, exceto LaVey. Eventualmente este salão principal se tornaria a câmara ritual onde seriam executados os primeiros ritos do Satanismo Moderno e a lareira, a base de seu altar.

A primeira coisa que Anton fez ao mudar para a casa foi pintá-la inteiramente de preto. Após uma infrutífera procura ele concluiu que não havia qualquer nenhuma tinta preta no mercado que fosse tão negra quando ele gostaria, então usou tinta náutica para submarinos para conseguir o resultado desejado. As mudanças internas foram menores, mas não foram poucas; papeis de parede, assoalho para trocar, bonecos de cera, e algumas outras reformas. De qualquer forma o Halloween se aproximava e LaVey estava pronto para mostrar sua casa para os amigos em grande estilo.

Ele organizou a primeira das festas noturnas que a Black House passou a oferecer. Foi um sucesso estrondoso, não somente pela “festa temática” ser muito bem preparada, mas pela curiosa lista de convidados que faziam da festa um lugar muito interessante de se estar. Ao se notar rodeado de pessoas notáveis que ouviam suas ideias e curtiam bons momentos juntos ficou óbvio para LaVey que novos eventos, ainda mais ousados e grandiosos, deveriam ser organizados.

Morbitvs Vividvs

Uma Breve História do Satanismo



Desde a mais alta Antigüidade, sempre houve deuses relacionados com a Sombra, como o Set egípcio e a Kali hindu, oriundos do Paganismo. Com o advento da idéia do Satan bíblico, nunca houve nenhuma organização satânica plenamente estabelecida, pelo simples fato de que seria imediatamente exterminada pela Igreja Católica.

A maioria das seitas “satanistas” eram na realidade pagãs e hereges, sendo as primeiras praticadas pelos que cultuavam deuses mais antigos, antes do advento do Cristianismo, e as segundas pelos que adotavam idéias diferentes em relação ao cristianismo, como, por exemplo, duvidar da virgindade da mãe de Jesus. Não adiantava o argumento cristão de que Deus era infinitamente mais poderoso do que Satan, pois, enquanto Jeová preocupava-se apenas com a salvação das almas, o seu arquiinimigo concretizava os anseios humanos de poder, volúpia e riqueza.

No passado, existiu apenas um caso documentado de missa negra. A missa negra seria uma forma extrema e radical de se descondicionar do cristianismo. Na verdade, nada tinha de Satanismo, mas de anticristismo. Era uma liturgia anticlerical que se praticaria de qualquer jeito no Ocidente, sendo um ato de blasfêmia, não de afirmação; uma apagada cópia do credo cristão, na qual Satan transforma-se numa caricatura de Jesus. Seria celebrada por um padre herege do catolicismo. Ocorreu no século XVII, praticada por Catherine Deshayes, mais conhecida como Madame Voisin, que passou uma imagem totalmente infame do Satanismo. La Voisin, além de receitar poções de veneno para as damas da corte que queriam se livrar dos seus maridos e amantes, também realizava vários rituais macabros para pura diversão dos nobres decadentes da corte do rei Luís XVI, com a participação do abade Guibourg e vários outros padres#, amealhando uma boa fortuna de dinheiro. A coisa tornou-se tão escandalosa, que Madame foi arrolada num processo e, por fim, queimada na praça de Grève em 22 de fevereiro de 1680, tendo bem o destino que merecia.

O consenso histórico moderno acerca do Satanismo revela que, malgrado alguns grupos acreditassem estar adorando Satan, na verdade se tratavam de grupos antisociais locais. Durante todo o período do Cristianismo, qualquer grupo era considerado satânico, conforme a mente das autoridades. É risível o fato de que os grandes bruxos estavam muito bem acobertados pela instituição que viria em seu encalço, caso se dessem a conhecer. Nunca houve mais feitiçaria do que nos anais da própria Igreja Católica, haja vista a existência de papas, como Benedito IX, João XX, os Gregórios VI e VII e Honório, o Grande, conhecidos como magos e necromantes.

O Satanismo deu seus primeiros sinais de vida através da criação do Hell Fire Club, no século XVIII, por Sir Francis Dashwood, que “orientou a condução de rituais repletos de diversão bem suja, e certamente o proveu de um colorido e inofensivo psicodrama para muitos guias espirituais do período”, menciona LaVey. Na verdade, era a proto-existência do Satanismo, ainda bem distante de sua realidade atual. Dele participaram muitas pessoas influentes da coroa britânica, como John Montagu (Lord Sandwich), e até mesmo o americano Benjamin Flanklin, conforme relato de Cecil B. Currey#. Há, ainda, a referência ao partido político Whig, onde jovens lordes formariam parte do grupo de Sir Francis. Os repórteres, ao denunciarem “a maneira herege e profana” como se davam as reuniões, levou o Rei George I a exigir a total extinção da ordem.

No final do século XIX e início do XX, começaram a surgir instituições de cunho thelemico, como a Ordem dos Templários do Oriente e Ordem da Estrela de Prata, que, contraditoriamente, buscaram eliminar qualquer conotação com o Satanismo, ao mesmo tempo em que Crowley usava o moto de To Mega Therion, A Grande Besta. É compreensível que Crowley, sendo rebento de uma era vitoriana extremamente rígida, tivesse de obrar com determinada cautela, caso contrário não haveria nada demais em aceitar a referida associação. Ou, ainda, que tentasse dissociar Thelema de idéias relativas ao satanismo tradicional, na verdade inexistente, fruto da histeria cristã.

Em 1904, houve a recepção do Liber Al Vel Legis, transmitido por Aiwaz a Crowley, que mais tarde admitiu: “Aiwaz não é uma simples fórmula, como muitos nomes angélicos, mas ele é o verdadeiro, o mais antigo nome do Deus dos Iezides e, assim, remonta à mais alta antigüidade. Nosso trabalho é, portanto, autêntico; a redescoberta da Tradição Sumeriana.” Ora, o deus dos Iezides era Shaitan, que se originara de Set. Portanto, a doutrina thelemica, eliminando-se alguns ranços osirianos, pode ser considerada a primeira manifestação do arquétipo de Satan no século XX. Atualmente, há ordens assumidamente satânicas no exterior que usam o referido Liber em seus estudos#, entendendo seus três capítulos como as três manifestações de Satan.

Neste momento, torna-se importante um adendo. Apesar de não existirem organizações satânicas no passado remoto, não significa que não houve satanistas. Pelo contrário, são inúmeros os indícios da presença de satanistas na história, mas não de conformidade com a literatura cristã, e sim pelo fato de o satanista ser, acima de tudo, uma pessoa totalmente emancipada. Alguns nomes, como Rasputin, Cagliostro, Giosue Carducci, Fernando DePlancy, Nietzsche, John Milton, Al Capone e muitos outros são provas de que o satanista nasce em qualquer meio social. Eles foram de facto satanistas.

Qualquer pessoa que seja, ou tenha sido no passado, emancipada de quaisquer grilhões escravizantes da religião, da política, da economia, da cultura ou do que for, é satanista. Tal pessoa possui o amor-próprio plenamente desenvolvido, a primar pela liberdade como sua única lei, sem se impor a nenhuma regra de conduta arbitrada por terceiros, que, evidentemente, tergiversará sua expressão e vontade individuais sob a tirania dissimulada (ou não) de um vampirismo psíquico.

Lord Ahriman, publicado originalmente no “Satanomicon”
















A História do Satanismo



"Você nunca deve perder a visão de quem e o que você é e que grande ameaça você pode ser em sua enorme existência. Nós estamos fazendo história agora, todos os dias." 
- Falta de Perspectiva, O Sexto pecado satânico, Anton Szandor LaVey


Esta é um a obra sobre o desenvolvimento histórico do Satanismo como algo realmente vivido e praticado e não como mera história de horror cristão e especulações teológicas. Dedico-a à memória de meu irmão em Satã, Betopataca e agradeço as prodigiosas lenbranças adentradas em anos do nobre Zarco Câmara, sem cuja ajuda este livro não seria o que é. Também agradeço os caros Pharzhuph, Obito, Malachi, Cognatus, Sergio Telhes e Elmer H. Bells.
Embora relativamente jovem comparada às demais expressões religiosas o Satanismo Moderno se dirige para sua quinta década e, em 2016, o completará seu primeiro meio século. O chamado Satanismo Tradicional possui uma suposta antiguidade, mas suas expressões atuais são inegavelmente recentes. Polêmicas a parte, conhecer o passado nos dará um senso histórico essencial, capaz de nos motivar para quaisquer caminhos que queiramos segui. Este é o objetivo deste livro.

O livro é dividido em três partes:

A primeira contará como foi a formação do Satanismo da Church of Satan. Aqui minhas fontes foram os livros 'Church of Satan', de Blanche Barton, 'Church of Satan' de Michael Aquino e as biografias 'Devils’s Avenger' de Peter H. Gilmore e 'Secret Life of a Satanist' novamente de Blanche Barton. Também achei por bem incluir um texto de Lord Ahriman sobre a pré-história do Satanismo, suas influências históricas anteriores a 1966.

A segunda parte fala sobre a evolução do Satanismo após a decadência administrativa da Church of Satan nos anos 70 e as novas organizações e correntes satânicas que surgiram desde então. Com isso não estou dizendo que as concepções mais recentes de Satanismo sejam melhores ou mais evoluídas que as de LaVey. Apenas cito como nasceram alguns grupos e estilos mais recentes de Satanismo e faço uma interpretação do que trouxeram de novo.

A terceira parte é sobre o que Frater Asmodeus chamou de 'Satanismo da Terra Brasilis'. Traz a formação do Satanismo Nacional e o desenvolvimento de suas particularidades. Entendo que temos hoje algo de valor graças a alguns autores nacionais e a existência prévia de alguns grupos. Essa história vai do primeiro levante satânico que ocorreu no Rio de Janeiro nos anos 90 vai até pouco antes do apoio que o Templo de Satã recebeu da assim chamada, Escola Invisível em São Paulo no início do milênio. Para esta parte da obra usei de minhas próprias memórias e conversas com seus vários protagonistas, em especial o já citado irmão Zarco.

A versão original deste livro foi concluída em 2006 e era de circulação exclusiva do Templo de Satã. Quando começou a circular entre os membros e amigos, eu não fazia ideia do retorno que me traria. Como um verdadeiro incêndio na floresta o livro foi passando de mão em mão, logo para alguns amigos de fora e por fim para outros grupos. Recebi mensagens de vários locais do país me congratulando e querendo saber mais sobre as fontes.  O movimento satânico no Brasil é maior do que eu pensava. Os Satanistas são poucos sim, mas são mais do que se pensa e estão em lugares que poucas pessoas imaginam.

Foi por sugestão de um deles que coloquei este livro no Morte Súbita e inclui o Morte Súbita na história. Também deles veio a sugestão de incluir como anexos o 'Decretos Primeiro' e o 'Decreto Segundo' do Templo de Satã pois poderiam servir de referência para grupos futuros que possam surgir a partir daqui. De fato é um modelo interessante que deve ser conhecido seja para aperfeiçoar ou criticar. Entendo que a tecnologia de hoje substitui alguns pontos do 'Decreto Segundo' mas é a primeira vez que ele é disponibilizado ao público geral desde a fundação do Templo.

Hoje 'A História do Satanismo' é um livro mais completo e organizado, mas acaba abruptamente. Isso é proposital. Talvez assim esta obra possa transmitir melhor a principal lição que tem para passar. A lição de que a história não está terminada e de que alguém vai ter que protagonizar o próximo capítulo. Talvez seja você.

Morbitvs Vividvs 

Anno Satanas XLVIII



A cultura Draco-Luciferiana



Na busca pelo autoaperfeiçoamento, pelo autoconhecimento e pela liberdade psicomental, o iniciado em si mesmo educa sua vontade, exercita o livre-pensar, a psiconáutica e desenvolve a criação visionária. Dentro do contexto filosófico oculto, do gnosticismo ofita esquerdo e do draconismo, o indivíduo procura englobar em sua bagagem cultural as ciências arcanas e “malditas” e os quatro grandes pilares do conhecimento humano, a saber: ciência, religião, filosofia e arte em seus aspectos mais ocultos, criativos e práticos para a experiência da consciência individual.

Mas todo esse conhecimento adquirido deve ser profundamente compreendido e internaliz do para que se torne sabedoria. É importante "filtrar" com discernimento a cultura, o conhecimento, as informações que se adquire, pois todo e qualquer conhecimento internalizado pode se converter em néctar ou veneno. O néctar proporciona clareza de pensamento, organização intelectual e consciência iluminada (ou luciférica); o veneno se espalha na constituição humana, dispersando e confundindo todo o conhecimento não compreendido e não assimilado, distorcendo a realidade, distorcendo o entendimento e podendo causar algum nível de distúrbio psicomental.
Assim, a cultura pessoal de cada indivíduo autoconsciente, de cada filósofo livre, de cada luciferiano e de cada draconiano, deveria ser relativamente ampla e abrangente, dentro do possível. Porém, não é o que ocorre com relação à grande maioria das pessoas, geralmente (muito) comuns e correntes. Há pessoas, ou grupos, com matéria mental ainda muito crua e rudimentar, mesmo na atualidade com tantas tecnologias e informações acessíveis a muitos. Por outro lado, há também aqueles de inteligência mediana muito específica, condicionada, um tipo bastante comum de "inteligência de ofício", útil somente para a atividade profissional estritamente mundana e corriqueira, o que é diferente da inteligência (de “ofídio”) mais expandida daqueles que se interessam por conhecimentos além do comum e corrente, além da prosaica vida mundana cotidiana, limitada, insossa e sem maiores expansões psicomentais.
A inteligência expandida encontra o meio de se manifestar somente no influxo psicomental de indivíduos abertos, receptivos, conectados aos planos “invisíveis” (pode-se ver a mente?) de luz e trevas (a essência de toda manifestação), demonstrando uma avançada compreensão interior devido ao seu próprio grau evolutivo individual. Pessoas tais possuem inquietudes e vontade pelo saber, capacidade de descobrir as coisas por si mesmas e sede de conhecimentos. Essa arte de descobrir, de adquirir conhecimento e experiência, de solucionar problemas por meio da inteligência, etc., é o que se chama de heurística, seja na ciência, na religião, na filosofia ou na arte, os quatro grandes pilares do conhecimento que devem formar um todo na mente e na vida do indivíduo consciente, do gnóstico ofita (ou draco-luciferiano).

Heuristicamente, o pilar da ciência, ou gnosis (conhecimento), representa o fundamento intelectual com a experiência direta das causas e efeitos das coisas, vivenciando as próprias verdades. O método científico é aplicado pelo inciado draconiano em suas próprias experiências, observando, analisando, experimentando e comprovando suas próprias teorias e hipóteses sobre questões ocultistas, expansão da mente, psiconáutica, etc. Isso o leva ao autoconhecimento, à verdadeira gnose pessoal, para além do mero cientificismo "desumano", mecanoide e meramente materialista. A ciência é a mente elevada autoconsciente (a “com-ciência”), o pensamento livre e esclarecido e o discernimento racional para a aquisição experiência gratificante da mente, das emoções e do corpo, para aquisição de cultura superior e de conhecimento científico útil e prático para o próprio desenvolvimento do indivíduo.

O pilar da religião, ou melhor da autodeificação, representa a experiência direta da emoção superior consciente, algo apenas vivenciado no interior de cada um. É a união da Individualidade (Lúcifer, Logos Luciférico, Daimon) com as forças da natureza e do universo. A religião do verdadeiro agape é o verdadeiro amor devocional por si mesmo enquanto entidade evolutiva autoconsciente, e não tem nada a ver com as inúmeras religiões venenosas, dogmáticas e coercivas instituídas pelo mundo afora. Trata-se de uma experiência supranormal e extremamente marcante vivida e provada para si próprio e para mais ninguém. A religião do verdadeiro agape certamente não é a religião do fanatismo das massas; não é a religião fundamentalista que cultua as guerras, a dor, o sofrimento, a tristeza e dissemina a confusão mental; não é a religião da enfermidade psicomental, da estagnação e da acídia, ou seja, da preguiça e desolação do espírito (supra) humano e da inteligência. A religião do agape é a viagem do indivíduo em seu próprio interior, um mergulho em suas próprias emoções primitivas (e psicomentais) que jazem no próprio abismo (Daath, “Conhecimento”) microcósmico, seja por meio da ritualística ou por meio da psiconáutica neuroquímica controlada, ou seja lá o que for.

O pilar da filosofia, ou sophia (sabedoria), é a busca da verdade individual que só tem fundamento e valor para o próprio buscador; é a busca pela realização do ideal fundamental latente no indivíduo. Ao contrário de muitos filósofos que parecem estéreis, aprisionados em seus labirintos intelectuais, o filósofo oculto pragmático emprega meios tais como sistemas metafísicos, ritualística, meditação, projeção da consciência, psiconáutica, entre outros, para a experiência da Individualidade, para a aquisição de sabedoria acerca de si e do universo, na medida em que isso seja possível. Teoricamente, a filosofia é o sistema que estuda a natureza de todas as coisas e suas relações. Na filosofia oculta e no gnosticismo ofita, sophia conduz à paz ataráxica, impertubável, do espírito, ao bem-estar, à alegria, à satisfação e ao prazer.

O pilar da arte, ou thelema (vontade) é o fundamento das ideias intuitivas, da vontade criadora e realizadora. A arte só pode expressar a criatividade se houver verdadeira vontade, impulso e ousadia, livre de limitações impostas e oriundas das repressões sociorreligiosas. Arte é a capacidade de realizar a obra sobre si mesmo, de aperfeiçoá-la com vontade forte. Na filosofia oculta e no draconismo, arte é o conjunto de conhecimentos, capacidades e talento para concretizar ideias, sentimentos e visões de maneira estética e "viva" por meio de imagens (pintura, escultura), sons (música) e palavras (literatura). A verdadeira arte realizada através de thelema (vontade) está muito longe da pseudoarte grosseira, antiestética, de mau gosto e desonesta que "artistas" estereotipados e pedantes produzem sem nenhuma inspiração autêntica. A verdadeira arte se realiza sob vontade para manifestar porções do próprio Ser (a Individualidade luciférica).

Assim, no draconismo (ou gnosticismo ofita, ou luciferianismo, como se queira definir) os quatro pilares do conhecimento, como demonstrados aqui, sustentam o indivíduo e o conduzem ao autoaprimoramento, ao autoconhecimento e à evolução contínua...

Adriano Camargo Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, Draconismo, Mão Esquerda e é estudioso de simbologia e mitologia comparadas. Possui diversos livros publicados e escreve também para a Revista Universo Maçônico, para o Jornal Madras, para o site Morte Súbita, para o Zine Lucifer Luciferax e para blogs pertinentes. Contatos com autor pelo site: http://adrianocamargomonteiro.blogspot.com

Magia(k) Luciferiana


“Deixa que eu, junto a Ti sob a Árvore da Ciência, Repouse, na hora em que, sobre a fronde, hás de ver seus ramos como um Templo novo se estender!”.

Charles Boundelaire

O Luciferianismo possui uma ampla diversidade de rituais, sendo que cada denominação possui características próprias no modo de trabalhar sua parte ritualística. Devido às diferentes e numerosas influências as quais o Luciferianismo foi submetido, como pôde ser visto anteriormente, arriscaria dizer que a Magia(k) Luciferiana é uma das mais ricas que podemos encontrar dentro do Left Hand Path. Este capítulo será dedicado ao estudo da ritualística do Luciferianismo Tradicional, e algumas vezes será comentada também a visão Satânica sobre o assunto, para mostrar sua diferença.
A Magia(k) Luciferiana é essencialmente magia(k) interna, embora também seja utilizada a magia(k) externa em suas duas variações, a Hermética e a Cerimonial. O ritual hermético é aquele que é realizado solitariamente pelo praticante, enquanto que o ritual cerimonial é realizado em grupo, dentro de um Templo ou em um local dedicado às cerimônias. É um ritual mais complexo para ser realizado, pois envolve a utilização de armas mágicas, vestimentas e demais itens determinados em uma cerimônia já formulada para um certo fim, e que deve ser executada geralmente em dias, horários ou períodos determinados. Além disso, é necessário que o praticante esteja em contato com algum Templo ou grupo Luciferiano/Satânico para realizá-lo, pois é necessário mais de um indivíduo para sua execução.

O porque da ênfase na magia(k) interna vai ser mais facilmente entendido depois da explicação da diferença entre magia(k) externa e interna. A magia(k) interna é aquela que como o próprio nome diz, envolve mudanças no indivíduo, não apenas em seu estado de consciência, através da utilização de certas "técnicas" mágicas, mas principalmente no indivíduo como um todo. Ora, sendo o Luciferianismo uma filosofia que gira em torno do desenvolvimento do indivíduo até que este alcance a perfeição, nada mais lógico que o tipo de magia(k) preferencialmente utilizada seja a que envolva mudanças no próprio indivíduo. Afinal, quem não consegue mudar a si mesmo, menos ainda conseguirá mudar eventos a seu favor. Isto deve ser um pensamento constante na vida de um Luciferiano.

A magia(k) externa é aquela que envolve mudanças externas de acordo com a vontade do magista. A magia(k) externa tende a causar extremo fascínio nos praticantes, porém temos que lembrar que ela está subordinada à magia(k) interna, podendo apenas ser bem executada quando o praticante já possuir algum conhecimento e controle sobre si mesmo e assim, sobre o "mundo" que o cerca. A seguir comentarei algumas idéias polêmicas que giram em torno de um ritual satânico segundo a crença popular, além de passagens, simbologias e instrumentos utilizados.

Escrito por Lilith Ashtart - For my Fallen Angel HP

O Sacrifício sob a ótica Luciferiana


Neste tópico trataremos sucintamente a respeito de um tema muito polêmico que é a realização do sacrifício nos rituais Luciferianos e Satânicos. Não há como deixar de tratar deste assunto aqui, já que muitas vezes a mídia, pouco interessada em conhecer o assunto, vincula como sendo sacrifícios satânicos os rituais de outras crenças, como por exemplo, a quimbanda e o candomblé, ou mesmo o ato praticado por pessoas pouco saudáveis mentalmente, comprometendo toda uma filosofia. Este não é um tópico para defender o satanismo, classificando-o de “a boa filosofia”. É apenas um tópico que relatará os fatos como estes realmente são.

A visão Luciferiana a respeito do sacrifício não está relacionada à do sacrifício físico, mas sim do s crifício simbólico. Um Luciferiano sabe que o sacrifício físico é totalmente desprovido de sentido, não cooperando em nada para sua evolução. Sob a ótica Luciferiana, o sacrifício tem que vir de si mesmo, simbolicamente: o sacrifício de medos, costumes, idéias, sentimentos ou qualquer fator que interfira negativamente na descoberta ou realização de nossa verdadeira Vontade.

Sendo assim, o sacrifício não é apenas realizado pelo Luciferiano como parte de seus rituais, mas sim em todos os momentos de sua vida, por sua escolha.

Quase todos os grupos satânicos tratam desta questão. Apresentarei aqui a visão dos maiores expoentes de suas respectivas deno inações, embora nada deva ser generalizado. Esta é uma importante advertência, ainda mais quando tratarmos do Satanismo Tradicional.

O Satanismo moderno apresenta em sua obra básica, “The Satanic Bible” de Anton Szandor LaVey, um subtítulo dedicado exclusivamente a este assunto: “Sobre a escolha do sacrifício humano”. Neste texto LaVey critica o sacrifício tanto humano como animal alegando que um magista verdadeiro deve ser capaz de retirar toda a força necessária para um ritual de si mesmo, de seu próprio corpo, ao invés de através do sacrifício de uma vítima que não está ali por sua própria vontade. A visão sobre o sacrifício humano fica bem clara nesta passagem: “O uso do sacrifício humano em um ritual satânico não implica em ser o sacrifício utilizado para “apaziguar os deuses”. Simbolicamente a vítima é destruída através de trabalhos de feitiçaria ou maldição, que levam a uma destruição mental ou emocional do “sacrificado” de maneira que não seja atribuída ao magista.” Este enfoque em o ritual não ser utilizado para apaziguar os deuses têm sua explicação já mencionada anteriormente, quando tratamos das denominações Luciferianas. O Satanista moderno, não acreditando em um deus além dele mesmo, não atribui sentindo em um sacrifício realizado a alguém.

O assunto também é tratado no subtítulo “As onze regras satânicas da Terra”. Entre estas regras, as três últimas reafirmam o que foi dito acima.

No Satanismo Tradicional este é um tópico que requer certo cuidado para ser tratado, para evitar como dito acima, que ocorra generalização. Isto porque é aqui que se encontra a única exceção dentro do Satanismo que defende o sacrifício, a Order of Nine Angles (ONA). Embora ela seja o maior expoente do Satanismo Tradicional, não conheço nenhum outro grupo sério desta denominação que compartilhe da mesma visão. Eu mesma tenho a ONA como uma de minhas principais influências, embora não concorde apenas com sua visão sobre o sacrifício (minha visão é a Luciferiana), mas com outros pontos também. Muitos devem se perguntar: mas se não concorda com tantas coisas, como pode tê-la como influência?  E é nesta resposta que se encontra o exemplo da aplicação de muito que já foi discutido acima: eu não aceito uma visão por inteiro, sem questionar, mas antes filtro o que ela traz de útil em si para ser utilizado. Lembre-se que o que é útil para mim, nem sempre é para os outros, por isso apenas podemos julgar sob nosso ponto de vista, mas não como sendo a única verdade. É por isso que colocarei esta visão aqui, para que cada um julgue conforme a sua verdade, sendo que a minha já foi exposta acima.

A ONA trata do sacrifício em vários de seus manuscritos, tanto o animal como o humano, como por exemplo, em “A Gift for the Prince - A Guide to Human Sacrifice”, “Sacrifice”, “Culling - A Guide to Sacrifice I & II”, “Guidelines for the Testing of Opfers”, “Victims - A Sinister Exposé”, “A Complete Guide to the Seven-Fold Way”, entre outros. 

O sacrifício de um animal é visto como algo necessário para que o neófito realize antes de sua iniciação. Este animal, contudo, deve ser selvagem, e ser caçado com armas primitivas, sendo proibido o uso da arma de fogo. O mesmo animal deve ser consumido após sua caça. Com isso espera-se que o neófito sinta as adversidades, exercite seu pensamento e lógica, tenha uma variada quantidade de sentimentos, e consiga lidar com eles, desenvolvendo seu lado “negro” para sair do que é comumente experimentado no ordinário. 

Quanto ao sacrifício humano, eles o classificam em três tipos: os voluntários, os involuntários e aqueles que ocorrem, por exemplo, durante uma guerra. O sacrifício voluntário envolve uma vítima que se submete por sua própria vontade ao ritual, dedicado a Lúcifer ou à sua noiva na tradição satânica, Baphomet. Este tipo de sacrifício ocorreria a cada dezessete anos, em um ritual denominado de “Ceremony of Recalling”. O membro do grupo se ofereceria por acreditar que esta vida é apenas um portal para o acausal, que não apenas é importante saber como viver, mas também como e a hora de morrer, e que aquela seria este momento. O escolhido atingiria então o grau de Immortal, vivendo no acausal onde teria a função de atingir a mente dos não-iniciados.

Tratando-se de um sacrifício involuntário, as vítimas então seriam escolhidas não pelo desejo de algum dos participantes, mas principalmente através de testes que revelassem sua verdadeira natureza. As pessoas envolvidas não saberiam (logicamente) que estariam sendo testadas, e aquela que não correspondesse ao esperado seria a escolhida. Estes testes seriam como que incidentes que ocorrem no dia-a-dia, nos quais as qualidades pessoais deveriam se sobressair. Um dado importante encontra-se no manuscrito “Satanism, Sacrifice and Crime - The Satanic Truth” : a vítima nunca será uma criança. A explicação deste fato está em que é necessário que a pessoa tenha pelo menos o mínimo de idade para ser capaz de fazer suas próprias escolhas, e analisar suas conseqüências. Na ONA, a idade mínima para uma pessoa se tornar neófita é a de dezesseis anos, quando então ela já poderá começar a trilhar seu próprio caminho. Antes disso, embora haja cerimônias de batismo, por exemplo, será apenas uma simbologia utilizada pelos pais, mas a crença nunca deverá ser imposta no futuro, ela deve ser de única escolha do indivíduo.

Muitas histórias já ocorreram de problemas envolvendo as práticas de tais atos em diferentes países, principalmente nos Estados Unidos, alguns deles tendo ligação supostamente com a ONA. Digo supostamente, pois não posso afirmar a veracidade destes fatos, embora eles tenham vindo até o meu conhecimento. O fato é que entre os meios utilizados para este tipo de sacrifício estão as utilizações de três métodos: o primeiro através de magia, o segundo diretamente através do sacrifício da vítima em um ritual, e o terceiro através de assassinato ou “acidente”.

 O argumento utilizado pela ordem para justificar tais atos são vários, entre eles o de estarem eliminando os fracos e a “doença” do mundo, e que o que fazem não é criminal, já que o crime deveria ser julgado pela intenção da realização do ato, e não o ato em si. 

A intenção final seria a de conduzir esta energia que é liberada durante o sacrifício para um determinado fim, armazená-la em alguma peça, como por exemplo, um cristal, ou ainda deixá-la se perder pela natureza. O único manuscrito que diz que este sacrifício poderia também apenas ser simbólico é o “Sacrifice”, talvez já um escrito que responda de certa forma as conseqüências que um ato deste pode ter.


Escrito por Lilith Ashtart, 2001

Entrevista Adriano Camargo Monteiro


Adriano Camargo Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, Draconismo e é estudioso de simbologia e mitologia comparadas e membro de diversas Ordens. Possui diversos livros publicados sobre o caminho da mão esquerda e participa do projeto Morte Súbita com a publicação de artigos. Também escreve para a Revista Universo Maçônico, para o Jornal Madras, para o Zine Lucifer Luciferax e para outros sites.

Conte um pouco sobre sua história. Como nasceu seu interesse pelas artes ocultas?

Sempre, desde criança (pelo que me lembro), fui atraído pelo sobrenatural, pelo mistério, por segredos e pela "aura misteriosa e oculta" das coisas. Assim, sempre busquei as manifestações culturais que refletissem isso, seja na arte, na

úsica, na literatura, no cinema, etc. Desse modo, fui me aprofundando nos estudos, buscando livros “estranhos”, ingressando em Ordens e Escolas e praticando conforme fosse possível.


Fale um pouco sobre suas obras.

Minhas obras podem ser lidas (e estudadas) aleatoriamete, porém a obra Sistemagia é mais avançada sob o aspecto prático da Magia, requer discernimento, visão ampla, heurística, raciocínio analógico e capacidade autossuficiente de aplicar seu conteúdo. A Revolução Luciferiana pode ser introduzir o estudante ao assunto, fornecendo também alguns rituais e apresentando-lhe ideias novas, se for o caso. A Cabala Dracon ana amplia os conhecimentos sobre o assunto. Contudo, as três obras citadas são importantes, cada uma abordando um aspecto distinto da Magia (abrangendo ciência, religião, filosofia e arte).

Para você o que é Magia?

Magia é um meio de tornar um indivíduo melhor em todos os aspectos, de ir além do comum e corrente; é um meio de autodesenvolvimento e evolução do Eu.


Como suas práticas ocultas influênciam no seu contidiano?

 O conhecimento adquirido é aplicado no cotidiano conforme seja requerido e conforme seja possível, já  que nem todo conhecimento oculto convém usar na vida comum, devendo ficar “oculto” na intimidade autoconsciente do magista e de seu círculo “secreto”, de seu templo de Magia.

Você acredita que a Magia traz em si uma armadilha pela idéia de que estalando os dedos possa conseguir qualquer coisa?

Nesse sentido sim, há pessoas que “caem’ numa armadilha e que se decepcionam, pois a Magia de fato não é para toda e qualquer pessoa, e aqueles que não têm continuidade de própósitos, compreensão e vontade verdadeira sucumbem e são afastados por si mesmos dessa Via. Ou seja, a Magia e a Filosofia Oculta não são para meros curiosos ou interesseiros; de fato, a Magia e o Oculto se guardam a si mesmos.

Fale um pouco de sua visão sobre Deus.

 “Deus” realmente pode ter muitas definições, e eu mesmo não me fixo em uma única. Conforme nosso conhecimento e experiência se expandem e se desenvolvem, nossa ideia de Deus também se modifica, pois nossa visão e conceitos sempre serão baseados em nossas experiências. Deus/a em primeiro lugar é para mim o meu Logos individual, meu Eu verdadeiro (não a personalidade comum e corrente que se manifesta no cotidiano social). Como psiconauta científico, Deus também pode ser definido como sistema nervoso, mente expandida, consciência supranormal, etc. Enfim, as definições de Deus podem ser muitas, mas jamais devem ser dogmáticas e fundamentalistas.

Quem é Lúcifer para você? Existe diferença entre Lúcifer e Satã?

Em primeiro lugar, Lúcifer e Satã não são o Diabo. Tanto Lúcifer como Satã têm seus equivalentes em outros povos, em outras mitologias, etc., e jamais podem ser vistos como coisas diabólicas, pois o Diabo não existe.
Tradicionalmente Lúcifer é o Portador da Luz, Luz essa que só pode ser vista sobre o fundo negro das Trevas. Portanto, as Trevas são essencias para a manifestação da Luz (que jamais pode ser total e absoluta, pois se fosse assim, essa Luz nos tornaria cegos, sendo necessário, portanto, a interação da Luz com a aconhegante e repousante Noite). A Luz de Lúcifer é a luz da inteligência, da autoconsciência, da mente expandida, da sabedoria (Sophia) humana, sobre-humana, natural e cósmica. Lúcifer é o Eu, o Logos individual, o Deus/a de cada um, com todas as atribuições mencionadas, que se manifesta no Iniciado e para o Iniciado.

Satã tem diversos nomes, tais como Shaitan, Set, Saturno, Shiva, o destuidor das Ilusões do mundo comum e corrente e detestado exatamente por isso! Daí ser ele o “Adversário” das massas condicionadas e inconscientes no mundo prosaico, presas às Ilusões e na estagnação. Satã também é a força impetuosa que impulsiona o indivíduo a progredir, é a força agressiva para enfrentar as dificuldades da vida material, para enfrentar os problemas do mundo, para transpor as barreiras que nos impedem de crescer, de aprender. Satã é a força que agrega todos os nossos instintos (de sobrevivência, de fome, de reprodução, de busca pelo prazer, etc.) para que possamos vivenciar todos os tipos de experiências que são assimiladas pela Individualidade, pelo Eu.

Mas tanto Lúcifer quanto Satã têm seus símbolos, personificações, zoomorficações, tipificações, arquétipos, etc.

O que você acha do inferno?

O inferno não existe como as pessoas comumente entendem (ou existe, se elas querem acreditar numa ilusão forjada). “Inferno” simplesmente quer dizer “o que está embaixo”, “inferior”. E aquilo que é inferior depende muito do referencial e do ponto de vista de cada um, com suas devidas justificativas e idiossincrasias. Para mim, o inferno pode ser este mundo se eu vivenciar experiências que considero inferiores. Assim como o paraíso também pode ser este mundo se eu vivenciar experiências que eu considero superiores, prazerosas, gratificantes, não importando os dogmas, os fundamentalismos e as limitações alheias. Os deuses de um povo são diabos para o inimigo desse povo; o céu de alguém (ou de uma religião ou dogma) pode ser o inferno para outra pessoa... É o que de fato ocorre...

Quais suas fontes de inspiração e consulta para escrever seus livros?

De modo geral, minhas inspirações vêm da observação e experiência, mas para confrontar dados e certas informações, para estimular insights, ou pelo prazer do conhecimento, leio de tudo (força de expressão, pois ninguém é capaz de ler tudo o que existe). Entretanto, dou preferência para obras de filosofia oculta em geral, religiões comparadas, grimórios, simbologia, mitologia, mas também filosofia acadêmica, ciência e “pseudo”-ciência (fringe science), psicologia, literatura clássica, artes.
     
O que falta para a cena ocultista nacional?

Mais ousadia, mais vontade, mais autores ocultistas e livre-pensadores, mais escritores livres de dogmas, mais estudiosos e praticantes sérios e com continuidade de propósitos.

Como você aprecia o trabalho de Aleister Crowley?

O trabalho de Crowley teve muito impacto e importânica na filosofia oculta ocidental, trazendo coisas até  então não muito exploradas pelos ocidentais urbanizados e abrindo terreno para mais explorações e desenvolvendo certos conteúdos, práticas e conceitos da Magia. Mas, é claro, que nem tudo o que ele fez pode ser aproveitado por todo e qualquer indivíduo. Há coisas que são muito pessoais e particulares e que serviram apenas para ele. Infelizmente, o que existe ainda hoje é uma falta de discernimento e de seletividade com relação à obra de Crowley. Isso pode ser evidenciado num afetado crowleyanismo que pode ser visto em thelemitas (ou falsos thelemitas, pois suas vontades parecem ser a do Crowley) fundamentalistas por aí afora.

Qual sua opinião sobre o satanismo moderno, tal como exposto por Anton LaVey?

Como em tudo na vida, é preciso peneirar. LaVey apresentou ideias úteis que servem para qualquer indivíduo que queira viver mais livre e cuidar melhor de si, buscando os prazeres sem medo, sem as ideias de culpa, pecado e condenação que permeiam a grande parte da sociedade. Apresentou ideias que deveriam ser o normal para qualquer pessoa que busca melhorar a si mesmo de maneira consciente e deliberada. Por outro lado, o satanismo de LaVey parece se apegar às ideias judaico-cristãs, buscando combatê-las por oposição dentro dos próprios dogmas judaico-cristãos. Ou seja, o satanismo laveyano tem como referencial os próprios dogmas que busca inverter, o que acho descenessário quando já não se vive sob o látego desses dogmas religiosos; não há o que renunciar quando não se acredita nos dogmas vigentes, quando não se vive sob eles. Uma renúncia implica em abandonar algo com certo sacrifício, sendo assim não há o que abandonar quando alguém já não segue os dogmas, não há grilhões para se desfazer se a pessoa já é livre disso. Portanto, o referencial dogmático judaico-cristão como objeto de blasfêmia sistematizada é desnecessário e sem sentido para qualquer indivíduo livre, pois um blasfemo só pode ser alguém que vive dentro desse dogma e que já tenha acreditado nele, e que num determinado momento se volta contra ele. A inversão do dogma religiosos demonstra uma certa crença nesse dogma e uma necessidade de libertação (pois ainda não se é livre) pelas mais variadas razões. O ideal é ignorar o dogma, monstrando que ele não tem qualquer importância (e se defendendo de ataques, quando necessário, logicamente). Os dogmas religiosos não têm qualquer importância na intimidade daquele é livre e segue apenas sua Vontade.

Há  também os adolescentes satanistas “de farmácia” imaturos que não sabem nada sobre o assunto nem sobre o que querem atacar ou se revoltar. Preferem “brincar” de fazer terror sem qualquer embasamento ou discernimento, mas da Magia e do Ocultismo de verdade, e com responsabilidade, eles nem chegam perto.

Quero ressaltar também que o LHP (o Caminho da Mão Esquerda) não é satanismo, como muitos pensam, mas sim uma Via que valoriza sobretudo a mulher, o sexo (a magia sexual em contexto ritualístico) e as sombras (forças do subconsciente) como repositório de conhecimento oculto e expriência que dever ser buscado, empreedendo a prática da filosofia oculta, invocações, evocações, etc.

Muito da cultura luciferiana no Brasil ainda está presa à cultura afro. Livros como o de São Cipriano são muito populares em terreiros, inclusive pela temática folclórica. Como você enxerga estas relações?

O luciferianismo (ou draconismo) é bastante abrangente exatamente porque busca o conhecimento em todas as suas formas e graus, na medida em que isso seja possível. Porém, há necessidade de discernimento quando se está iniciando nessa Via. E arquétipos ou manifestações luciferianas sempre existiram em todos os povos, em todas as culturas e mitologias do mundo, desde a Antiguidade. Mas não considero que os livros mencionados, ou outros de orientação semelhante, sejam pura e autenticamente luciferianos, apesar de serem úteis como bagagem de conhecimento de todo estudioso.

 Tente encaixar as suas crenças na moral social vigente. Você  usa termos negativos e positivos, "bem" e "mal" em sua crença?

Depende do ponto de vista, do conhecimento individual e da experiência. Por exemplo, o Deus que muitos consideram bom, outros consideram a verdadeira malignidade, e assim por diante. É claro que há muitos equívocos coletivos sobre isso e muitas inversões de valores. Mas eu uso esses termos, sem qualquer dogmatismo, para indicar aquilo que me prejudica (mal) ou prejudica outros gratuitamente de algma maneira, ou para indicar aquilo que me traz prazer, saúde, alegria, conhecimento, etc. (bem). Porém, a questão do mal é muito complexa e vai além do mal ordinário, corriqueiro e comum perpetrado por pessoas desprezíveis, cruéis e atrasadas no mundo e que abunda nas lamentáveis notícias. Essa questão está além dos clichês e dos dogmas, está mesmo em “regiões” do conhecimento ininteligíveis para as grandes massas, em “regiões” em que o mal é entendido de outra maneira, numa dimensão ancestral, cósmica e primeva, sem qualquer ligação com as ideias equivocadas sobre diabo e inferno.

Quais seus planos para o futuro? Algum livro novo em vista?

Mais dois livros para serem lançados pela Madras Editora, possivelmente em 2010. Um é sobre ritualística e o outro é de orientação mais filosófica.

Uma palavra final para quem está começando agora?

Busque o conhecimento, estude bastante, leia obras sérias e diversificadas, compare os autores, pratique e vivencie a teoria por meio da experiência individual. Enfim, liberte sua mente, revolucione sua consciência!