quinta-feira, 19 de outubro de 2017

9 Declaraçoes Satanicas


1. Satan representa indulgência, em vez de abstinência!

2. Satan representa existência vital, em vez de sonhos espirituais!

3. Satan representa sabedoria pura, em vez da auto-ilusão hipócrita!

4. Satan representa bondade para quem a merece, em vez de amor desperdiçado aos ingratos!

5. Satan representa vingança, em vez de virar a outra face!

6. Satan representa responsabilidade para o responsável, em vez de se ligar a vampiros espirituais!

7. Satan representa o homem como um outro animal, algumas vezes melhor, mais frequentemente pior do que os outros que caminham de quatro, porque em seu "divino desenvolvimento espiritual e intelectual", se tornou o animal mais viciado de todos!

8. Satan representa todos os denominados pecados, pois eles se direcionam a uma gratificação física, mental e emocional!

9. Satan tem sido o melhor amigo que a igreja já teve, pois ele cuidou dos seus negócios todos esses anos!

Anton Szandor Lavey

Pecados Satânicos


1. Estupidez – Está no topo da lista dos pecados satânicos. O pecado capital do Satanismo. É uma pena que a estupidez não seja dolorosa. Ignorância é uma coisa, mas a estupidez prospera cada vez mais na nossa sociedade. Ela depende da fé das pessoas em tudo o que lhes dizem. A mídia promove uma estupidez cultivada como uma postura que não só é aceita, mas também louvada. Os satanistas devem aprender a ver através dos truques e não podem se dar ao luxo de ser estúpidos.

2. Pretensão – O exibicionismo vazio pode ser muito irritante e não põe em pratica as regras fundamentais da Magia Inferior. Situa-se no mesmo patamar da estupidez que mantém o dinheiro em circulação hoje em dia. Todos são levados a crer que são grande coisa, sendo ou não capazes de atender a essa expectativa.

3. Solipsismo – Pode ser muito perigoso para os satanistas. É projetar suas reações, respostas e sensibilidades em alguém que provavelmente é muito menos equilibrado que você. É o erro de esperar que as pessoas lhe retribuam com a mesma consideração e respeito que você naturalmente lhes concede. Elas não o farão. Em vez disso, os satanistas devem esforçar-se para aplicar o ditado: “Faça aos outros o que eles lhes fizerem”. É trabalhoso para a maioria e requer constante vigilância, para não incorrer na confortável ilusão de que todos são como você. Como já foi dito, certas utopias seriam ideais em uma nação de filósofos, mas infelizmente (ou talvez, felizmente de um ponto de vista maquiavélico) estamos longe desse ponto.

4. Autoengano – Faz parte das Nove Declarações Satânicas, mas merece ser repetido aqui. Outro pecado capital. Não se deve venerar nenhuma das vacas sagradas que nos apresentem, incluindo nisso os papéis que se espera que desempenhemos. O autoengano só é bem vindo quando for divertido e consciente. Só que, então, não será autoengano.

5. Conformismo de Rebanho – Um pecado obvio do ponto de vista satânico. É aceitável conformar-se aos desejos de outrem, desde que, no fundo, isso o beneficie. Mas só os tolos seguem o rebanho, permitindo que uma entidade impessoal lhes diga o que fazer. A chave é escolher um mestre criteriosamente, em vez de ser subjugado pelos caprichos de muitos.

6. Falta de Perspectiva – Outro pecado que pode causar muito sofrimento a um satanista. Nunca esqueça quem e o que você é e que ameaça pode ser só pelo fato de existir. Estamos fazendo historia agora, a cada dia. Sempre mantenha a visão histórica e social mais ampla em mente. Essa é uma importante chave tanto para a Magia superior quanto para a inferior. Observe os padrões e encaixe peças de acordo com a sua vontade. Não se deixe levar pelas restrições do rebanho – saiba que está trabalhando em um nível completamente diferente do resto do mundo.

7. Esquecimento e Ortodoxias Passadas – Note que essa é uma das chaves para a lavagem cerebral das pessoas, fazendo-as aceitar como novo e diferente algo que, no passado, teve ampla aceitação, mas agora é apresentado em nova embalagem. Espera-se que nos empolguemos com o gênio do criador e nos esqueçamos do original. Isso leva a uma sociedade descartável.

8. Orgulho Contraproducente – Essa segunda palavra é importante. Orgulho é ótimo até o momento em que se passa a jogar o bebê junto com a água da banheira. A regra do Satanismo é: se isso funciona para você, ótimo. Mas, se deixar de funcionar, você for encurralado e a única saída for dizer: “Desculpe, eu me enganei, gostaria que pudéssemos chegar a um acordo”, faça-o então.

9. Falta de estética – Essa é a aplicação física do fator equilíbrio. A estética é importante na Magia inferior e deve ser cultivada. É óbvio que, na maioria das vezes, ninguém consegue ganhar dinheiro algum fora dos padrões clássicos da beleza e da forma, e, assim, em uma sociedade consumista, as pessoas são desencorajadas nesse sentido, porem uma sensibilidade para a beleza, para o equilíbrio, é uma ferramenta satânica essencial e deve ser aplicada para se obter uma maior eficiência mágica. Não se trata do que se espera que seja agradável – mas do que é. A estética é algo pessoal, o reflexo da própria natureza de cada um, mas existem configurações universalmente agradáveis e harmoniosas que não devem ser negadas.

Por: Anton Szandor LaVey

11 Mandamentos Satanicos de Anton Lavey


Para sermos verdadeiros satanistas, mudanças de atitudes, pensamentos e comportamentos devem ocorrer.

Para isto, alguns fundamentos devem ser observados e vividos.

Vejamos alguns deles:

Seguem abaixo os 11 mandamentos da Igreja de Satã:

1. Não dê sua opinião ou conselho a não ser que lhe seja pedido.

2. Não conte seus problemas a outras pessoas a não ser que esteja seguro de que elas queiram ouvi-los.

3. Quando estiver na casa de outra pessoa, demonstre respeito ou então não vá até lá.

4. Se um convidado em seu lar irritá-lo, trate-o cruelmente e sem piedade.

5. Não faça avanços sexuais a não ser que lhe seja dado um sinal de acasalamento.

6. Não pegue o que não lhe pertence a não ser que seja um fardo para a outra pessoa e esta queira se livrar do objeto.

7. Reconheça o poder da magia se você já a utilizou com sucesso para obter algo desejado. Se você nega o poder da magia depois de ter recorrido a ela com sucesso, perderá tudo o que conseguiu.

8. Não se preocupe com algo que não tenha a ver com você.

9. Não machuque crianças pequenas.

10. Não mate animais não humanos a não ser que seja atacado ou para alimento.

11. Quando estiver em território aberto, não incomode ninguém. Se alguém o incomodar, peça que pare. Se não o fizer, destrua-o.


Anton Szandor Lavey

Ritual de Auto-Iniciação Luciferiano

Introdução
A iniciação é um ritual presente em quase todas as religiões do mundo, sejam elas representantes do Velho ou do Novo Aeon. Ela pode estar presente de forma explícita ou não; ser executada logo nos primeiros anos de vida do indivíduo (e assim este ser iniciado independente de sua vontade) ou quando este desejar tê-la; ser realizada através de um ritual hermético ou cerimonial.
O primeiro propósito da iniciação é colocar o indivíduo em contato com a egrégora da respectiva filosofia que ele está adentrando. Este passo cumpre-se em todas as iniciações, sejam elas voluntárias ou não. Porém o real objetivo da iniciação só é atingido com a escolha voluntária do iniciado: quando ele assume um compromisso consigo mesmo de vivenciar aquela filosofia. Para isso ele deve de livre vontade aceitá-la, pois nada que é imposto é vivido em sua plenitude. Quando utilizo a palavra "aceitar" não me refiro simplesmente ao ato banal de seguir dogmas pré-estabelecidos por outrem. Ao contrário: é de suma importância que ele descubra dentro de si qual sua verdade, mesmo que inicial, para assim aceitá-la e dedicar-se a aprimorá-la cada vez mais, até que possa descobrir sua verdadeira Vontade.
Sendo assim a iniciação pode ocorrer mesmo sem a realização de um ritual, já que é a aceitação de uma verdade e compromisso consigo mesmo para atingir determinada meta. A realização do ritual, porém, é um modo a mais de afirmar este compromisso.
Todos sabemos que é muito mais fácil trabalhar com elementos reais do que apenas mentalmente. Ao executar um ritual, estaremos envolvendo elementos físicos como símbolos, cores, palavras que refletirão em nossa mente, facilitando então alcançarmos nosso objetivo através de uma maior concentração, envolvimento... Mergulharemos mais profundamente dentro de nós mesmos e do próprio Cosmos, em todas as suas manifestações.
O ritual que forneço a seguir é uma sugestão de um auto-ritual de iniciação Luciferiana. Seria interessante o leitor mudar o que achar necessário para se adaptar à sua própria filosofia, caso deseje realizá-lo.

Ritual
Preparação do Templo

Deve ser traçado um círculo na cor verde grande o suficiente para que dentro dele possa ser  montado o altar. Ele não pode atrapalhar os movimentos durante a execução do ritual.
O altar deve situar-se ao leste, e acima deste devem estar os seguintes materiais: três pequenas fontes dispostas como vértices de um triângulo eqüilátero, uma vela negra disposta ao centro, uma adaga, um cálice contendo vinho tinto, uma corda representando o açoite (caso não possua um), um recipiente contendo óleo de oliva, outro contendo sal e uma imagem de Serpente ou Dragão.
Ao redor do círculo, em seu lado externo, devem ser acesas 11 velas vermelhas, distribuídas de forma eqüidistantes. Dentro do círculo devem ser colocados, nos pontos cardinais: trigos (ao norte), uma vela (ao sul), incenso (ao leste) e um recipiente com água (ao oeste).

Outros materiais necessários

Uma rosa vermelha, uma coroa confeccionada com folhas de louro, vestes nas cores branca e dourada. Estas vestes, compostas por um robe branco adornado de dourado, devem ser colocadas dobradas perto do altar.
O Ritual
Este ritual exige um local em que a/o aspirante tenha completa privacidade.
Ele/a deve estar  nu/a no centro do círculo com os braços abertos em forma de cruz. Na mão esquerda encontra-se a rosa vermelha. Em sua cabeça deve estar a coroa. Nesta posição deve se manter durante alguns minutos enquanto visualiza uma corrente contínua de luz descendo sobre sua cabeça, passando para seu corpo e este distribuindo-a para todo o círculo, que se preenche de luz enquanto fora dele há apenas trevas. Quando sentir o círculo saturado por esta luz deve então dirigir-se ao altar e dizer, depositando a rosa:

“A ti, oh bela ASTAPHE, ofereço-te esta rosa escarlate, da cor de teu amado. Que sua luz ilumine e guie meus caminhos tanto nesta noite ainda mergulhada em trevas como na aurora que está a ser  anunciada.”

A seguir deve, em sentido anti-horário, posicionar-se ao Norte.
Após traçar o pentagrama de invocação da terra, mantrar o nome Zimimay.
Ao Oeste deve-se traçar o pentagrama de invocação da água e mantrar o nome Corson.
Ao Sul deve-se traçar o pentagrama de invocação do fogo e mantrar Gaap. Ao Leste traçar o pentagrama de invocação do ar e mantrar Amaymon. Retornar ao centro do círculo na posição inicial e proclamar:

“A Vós convoquei, oh Grandes Reis, para que assistam-me em minha revelação a vós. Que meu grito ecoe por todo o CHAOS. Que todo ser do Cosmos saiba quem sou. Sou um(a) filho(a) de Deuses, possuindo a divindade em mim. À mim as estrelas brilham, à mim os ventos cantam, à mim as flores enfeitam os caminhos. Pois Eu sou aquele(a) que é filho(a) de Lúcifer, cuja essência encontra-se em toda a criação. Nele foi meu princípio, nele será meu fim. Minha Vontade é voltar a Ti, oh Pai, e aqui selo meu compromisso contigo. Pai ilumina-me com teu conhecimento; Mãe banha-me com Teu sangue. À Vós adoro pois encontrei-os em mim mesmo(a).
Assistam o renascimento da Estrela da Manhã, sob o signo de fogo da estrela de cinco pontas! À mim toda a criação curva-se em respeito, louvor e devoção”.

Dirija-se ao altar. Pegue um pouco do sal e coloque na fonte superior. Pegue mais um pouco e jogue sobre a chama que se encontra ao centro e diga:

“Que a constância do Sal se reflita em meus pensamentos”.

Pegue a adaga e coloque-a sobre o lado direito do peito, de maneira simbólica, dizendo:

“Que o sangue que preenche o cálice seja o mais puro e divino”.

Devolva ao altar. Pegue no açoite e diga:

“Que meu corpo lembre-se que na severidade também se encontra o amor”.

Devolva ao altar. Pegue a taça e diga:

“Que o entendimento traga a harmonia”.

Beba e então devolva ao altar. Vista as roupas que estão ao lado do altar. Por fim pegue o frasco com óleo e passe um pouco sobre a cabeça, dizendo:

“Por minha Vontade consagro-me à Grande Obra, e assumo o lugar que tenho nela por direito.  A partir deste momento não apenas mais recebo luz, mas a emano de mim mesmo (a). Conheçam-me por quem sou, lembrem-se de meu nome: ......................... (diga o nome que deseja assumir).

Agradeça e dê a ordem de partida a todos os seres presentes, em especial aos quatro grandes Reis.

Apague a vela do altar e em seguida as que estão ao redor do círculo.

(Fonte:  Lilith Ashtart )

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Fraternitas Templi Satanis - F'T'S'


Trataremos agora de um momento invulgar na história do satanismo no Brasil. Esse capítulo em especial só foi possível graça ao meu irmão em Satã, Zarco Camara, que disponibilizou alguns dos arquivos "Biblos Tenebrae", como eram chamados os arquivos internis e levantou outros dados de sua própria memória. Após o final da IDL o momento era tal que surgiam e sumiam sociedades e grupos satânicos pelo país seguindo o ciclo descrito no capítulo anterior sobre o grupo ADLUAS bem próprio das zonas autónomas temporárias. Mas alguma coisa diferente acontecia com alguns dos membros do circulo mais interno da antiga Igreja de Lúcifer.

Estes membros foram, nominalmente o próprio Lord Ahriman, o irmão Betopataca que por toda a década de 90 possuíram um íntimo contacto. Desta maneira, inconscientemente um elo foi formado e pouco depois enriquecido com a entrada de Gwaihir. Havia entre eles a necessidade de continuar a exploração do satanismo que havia sido iniciada na IDL e que era enriquecida com influências de outras escolas como a Thelema, o Vampirismo, Parapsicologia, Alquimia Negra, entre outras. Tal elo culminou na formação de um "grotto" no Rio de Janeiro de nome Irmandade de Baphomet, contendo sob sua égide inicialmente somente estes três indivíduos. 

A razão de existência do grupo era não apenas a formação de um "grupo satânico" como aconteceu com outros grupos, mas manter viva a corrente do pensamento satânico nacional e a chama luciferina que havia sido acessa com a Igreja de Lúcifer. A verdade era que o nosso satanismo já era bem diferente do que havia la fora. Havia sido atingido um patamar superior que simplesmente não podia ser jogado fora. Enquanto LaVey e cia propunham um egoísmo puramente hedônico descobrimos aqui os perigos da egolatria e o caminho para a descoberta e forja do Eu Superior. Fizemos possível o materialismo místico, como ficará claro na descrição do Sigilo do grupo abaixo.

O que se segue é a descrição do mesmos segundo os arquivos da ordem. Escreve Betopataca:

"Tal Sigilo da Irmandade de Baphomet(IdB), possui um triângulo eqüilátero(todos os ângulos-lados iguais). O triângulo é um símbolo,representante do Fogo e da elevação pelo Azoth ("Fogo de Satã").Este é eqüilátero para representar a igualdade entre os Irmãos do "grotto" (sem graus;sem hierarquia estagnada). Na ponta inferior esquerda coloca-se a letra “E”(de "Ethos");na ponta inferior direita coloca-se a letra “H”(de "Helius");na ponta elevada-superior coloca-se a letra “B”(de "Baphometis").Esta ordem de escrita foi usada pois o poder vem de cima,do LOGOS(Baphomet),até nós(vide que Baphomet é correlacionado por algumas escolas de pensamento com “Ain Soph”).Nós,através da "Ethos" e da Magnum Opus Solis - "Helius" -,vamos até Ele num eixo de baixo para cima.

Dentro do triângulo,existe um "octagon"(octágono). Foi usado o octágono,pois este representa a Magia (vide a proposta de "Magia Octarina Caotecista") que estaria no cerne do grupo,assim como o nome do LOGOS(Baphomet) possui 8 letras. A própria Magia é a Manifestação do Self e de Baphomet, vide a seguinte passagem do "Liber A'Ash vel Capricorni Pnenumatici"(que retrata a natureza e controlo da Magia no Homem e de seu manifestador-Baphomet) recebido por Aleister Crowley:"Eu sou Baphomet,que é a Palavra Óctupla que será equilibrada com Três". A excertada passagem do Liber,também faz uma conexão do oito com o Três (que é representado no sigilo criado pelo triângulo o qual engloba o octágono,equilibrando-o). No centro do octágono,vê-se o símbolo de Baphomet(pentagrama-invertido).Já que no cerne da manifestação mágica(o Octágono),estaria o próprio Baphomet(uma união de nossos SAG's;o LOGOS em si). Além do que,8(número de pontas do octágono) x 3(número de pontas do triângulo) x 5(número de pontas do pentagrama-invertido) = 120 = 1 + 2 + 0 = 3(o ternário perfecto;Terceiro Aeon - Hórus - )."

Fraternitas Templi Satanis (F’T’S’)

Foi deste núcleo de três satanistas que no início do século XXI, a Irmandade de Baphomet deu então lugar a Fraternitas Templi Satanis (F’T’S’). Na opinião do autor que lhes escreve este foi o momento mais criativo, poderoso, intenso e importante para o fortalecimento do identidade do satanismo no Brasil e sua evolução para muito além dos pressupostos iniciais de LaVey. Sem ele provavelmente o progresso feito na Igreja de Lúcifer teria se perdido. O sigilo do grupo e sua explicação abaixo fica evidente a evolução do "Satanismo da Terra Brasilis" (termo cunhado pelo irmão em Satã, Frater Asmodeus) e as demais correntes existentes até então:

Continua Betopataca nos arquivos da ordem:

"O nome “aberto” ou “vulgar” da Ordem,escrito em Latim,está intimamente conectado ao ideário geral que a mesma transmitia ou tencionava ostentar.”Fraternitas” significa “Fraternidade”;”Templi” quer dizer “[do] Templo”; “Satanis” pode ser traduzido,aproximadamente,como “de Satã”.Assim a tradução derradeira do nome da Ordem,seria:“Fraternidade do Templo de Satã”.”Satã” é a emanação directa do LOGOS/Baphomet presente em todo Ser Humano,simboliza o próprio princípio de “Oposição” e “Acusação”(para maiores informações,um estudo semântico e etimológico da palavra “shaitan”,que deu origem ao verbete “Satã”,é deveras revelador e sugerido) absolutamente indispensável para um processo iniciático segundo os ditames da SOMBRA em suas acepções junguianas e horusianas.O verbete “Templo” traz em si a idéia “sacralidade”,local onde os ritos são empreendios e a própria divindade faz-se presente lambendo o praticante com o “divino elã”,dotando-o de “entusiasmo”(palavra que advém do grego “enthousiasmós” e significa “cheio de deuses”).O vocábulo “Fraternidade” dá uma noção de “Irmandade”,é a “Congregação” que erige um “Templo” para Si-Mesmo,a fim de que desta sorte atinja-se de maneira singular e solitária-sinestésica a plena articulação com o LOGOS através da emanação taxionomizada como “Satã”(que é e não-é o adepto,como qualquer arquétipo que o valha).

O Triângulo Invertido representa o princípio aquoso.A Ordem possui princípio aquoso,pois movimenta-se perante a Sociedade e pelo Senso Comum de comum acordo com a filosofia do “wu-wei”(Não-Agir),uma proposição conectada ao Tao(“Na Verdade,’wu-wei’ é uma das atividades mais enérgicas[...].” – Henri Borel”;”Às vezes,o que parece ação tem a essência vazia de um não-agir perfecto.”- Luis Carlos Lisboa).Da mesma sorte que o triângulo inverso,conecta a Ordem a um princípio de estar articulada com o Sol_Negro/LOGOS à guisa de emanação directa do próprio.O triângulo inverso pode ser visualizado como um “Y”,o que se conecta directamente a idéia do “Y Alquímico” (falado no ensaio,de mesma graça,da autoria de Betopataca) e que portanto une todos os integrantes da Ordem com a Santíssima Ponte 9=0 ao passo que estes trabalham com a egrégora da Ordem em seus ritos.Este é eqüilátero para representar a igualdade entre os Irmãos da Ordo(sem graus;sem hierarquia estagnada).

O hexagrama unicursal da Besta,representa o próprio Macrocosmo(as supernas cabalísticas refletidas nos três princípios alquímicos e vice-versa) e arranja-se o símbolo pelo qual se desvela a Besta/Satã.

O pentagrama inverso é o símbolo de Baphomet/LOGOS e Microcosmo.Muitos hei de inferir que o símblo do Microcosmo seria o pentagrama comum,ou seja,com sua ponta para cima.Contudo,deve-se notar que o paradigma de elevação espiritual sofreu uma “Underhüng”(Reversão) no Novo Aeon,estando a verdadeira Iluminação na Matéria e carnalidade da Existência ao invés do Espírito.Desta sorte,a ponta do pentagrama foi invertida.A transcendência Microcosmial,não mais sucede-se em duas instâncias metafísicas(Mundo das Idéias x Mundo Imanente ou Espírito x Carne),e sim numa SÓ INSTÂNCIA(a “transcendência” é dentro da própria articulação da Imanência como esta dá-se no Eterno Presente).

A “interdigitação” entre o pentagrama inverso e o hexagrama unicursal da Besta é reveladora.Demonstra a própria articulação UNA que existe entre Microcosmos x Macrocosmos,e desta maneira simboliza a própria ideologia heraclítica da F’T’S’:Não existe diferença de instâncias.A completude está no UNO/TODO/Tao/Physis/LOGOS.Toda distinção entre Ser x Cosmos e Macrocosmos x Microcosmos é apenas aparente e os limites fundem-se num processo de,arituclada,Tensão x Retorno.Assim como tal interrelação é um indicativo de que maneira Satan,hexagrama,pode ser vistoriado como uma emanação-Tensão do LOGOS(pentagrama inverso) e,impreterivelmente,leva a um Retorno a este Mesmo(que é um dos “objetivos” gerais que a Ordem pretende empreender em seus Membros com suas práticas e pressupostos teóricos).

Se somar-se o número de pontas do hexagrama com o número de pontas do pentagrama inverso,vê-se o resultado final como 11.Onze é o número de Nuit,próprio Amor(princípio Feminino) o qual leva o Adepto - através do “Amor sob Vontade” - para o princípio das sendas iniciáticas (representada pelo Arcano-Maior da “Lua” do “Tarot de Toth”).Desta sorte,a Ordem é um princípio de auxílio ao Adepto no seu caminhar e metamorfismo pelas sendas da iniciação.Pode-se observar que o número de pontas do pentagrama inverso(5),se colocado em apêndice com o número de pontas do hexagrama(6), dá “56”.Cinqüenta e seis é o número de “Babalon” uma das configurações de Nuit,a grande hieródula que leva ao despedaçamento do Homem no Abismo de Daath(a fim de que este atinja Tiphareth e eleve-se até as supernas,por consegüinte) e realiza a Iluminação pela Sombra e luxúria(Indulgência) ao invés de celibato(abstinência).

Se multiplicarmos o número de pontas do pentagrama inverso(5) pelo número de pontas do hexagrama unicursal da Besta(6),o resultado de tal operação multiplicado pelo número de pontas do triângulo invertido(3),ter-se-á como resultado 90.Fazendo um somatório de nove(9) com zero(0),tem-se como derradeiro resultado o número nove(9). Nove é o próprio número de Satan(para maiores informações fitar o ensaio “Numerologia Satânica” do líder da CoL,Rev.Frederick Nagash),o que conecta a Ordem ao Princípio de Articulação com a Emanação do LOGOS(ShTn).Além do que o número 90 traz a mente a noção da ponte 9=0,aceita pela F’T’S’ como um de seus postulados teóricos e práticos.

O nome greco-latino “velado” ou “mágico” da Ordem é “Ethos Phosporus Satanis”( E’P’S’).”Ethos” tem como significância “Irmandade”,”Phosporvs” significa “Lucífero”; ”Satanis” pode ser traduzido,com algum grau de proximidade,por “Satã”.”Satã” representa “Oposição”.”Lúcifero” é aquilo ou aquele que possui qualidade ou correlação de “Lúcifer”:“Lvx Ferre”(“O Portador da Luz”,ou,ainda,”O Doador da Luz”).Lúcifer,segundo os antigos conhecimentos gnósticos,faz-se o escriba cósmico que leva o Adepto às portas da Gnosis(em sua acepção de verbete primeva).Desta maneira,desvela-se claramente um dos postulados pelo quais se serve a Ordem:”Iluminação pela Oposição”.A Iluminação pelo Caminho da Sombra ou de Sirius.Desta maneira,“Ethos Phosporus Satanis” é a “Irmandade [que] Ilumina pela Oposição”,a antinomia causadora do metamorfismo em plena alteridade(“Batalhar como Irmãos,avesso do Ragnarök”- Betopataca).

A relação “Satã Lucífero”,pode ser vista sob um prisma sexual também.”Lúcifer” era correlaciondo com “Vênus”,o qual por sua vez sempre foi louvado como o corpo celeste de “Ishtar”(aquela que pode ser vista como Babalon,já que ambas possuem mesmo apanágio e características).”Satã” por sua vez é a Grande Besta(“Mega Therion”) e relaciona-se,intimamente,com um princípio masculino-satírico(vide sua iconografia e conceituação clássica com pernas de bode,chifres e de encarnação da luxúria-copuladora-fálica).Desta forma,a expressão “Satã-Lúcifero“ é uma amostração clara do binômio Babalon-Therion como constatado no Arcano-Maior de nome “Luxúria” do “Tarot de Toth”.Em suma,a própria Ordem em seu interno,práticas e articulação como emanação do LOGOS,estimula entre seus Membros a união Yoni + Lingam que gera como resultado YoniLingam ou Androgenia,a união de Kteis + Falo...articulação-completude de TODAS as cousas."


Sobre os membros

A produção interna de estudos e rituais da FTS foi algo admirável, muito disso foi usado posteriormente pelo Templo de Satã. Em que pese a Fraternitas Templi Satanis de fato ter possuído um sistema de filiação aos interessados a verdade é que lá dentro só se entrava por convite e ainda assim apenas se o novo membro fosse aprovado por todos os membros anteriores por unanimidade. Uma única bola branca no saco significaria recusa do candidato. De fato, quando fui convidado recusei num primeiro momento pois já participava do ADLUAS e não queria dividir minha Vontade, contudo os 'grandes antigos' estavam lá e formavam um grupo que até hoje não se iguala a nenhum outro que testemunhei. Orgulho-me de ter meu motto entre os arquivos da ordem que segue sem alteração:

Lord Ahriman: Um dos co-fundadores da Ordem, dessarte como uma das mais importantes figuras do escurejado cenário satânico brasileiro.Sendo o idealizador,resistente líder e organizador da "Igreja de Lúcifer",apresentara-se o primo indivíduo a professar, fora de círculos individuais e silentes,o Satanismo.Do seu esforço bandeirante,surgiu a primeira versão em português da "Satanic Bible"("Bíblia Satânica"),a qual se desempanou o fundamental alicerce a viabilizar qualquer discussão sóbria no tópico Satanismo em nosso idioma.Com o Delta-Tempo,retirou-se enquanto membro ativo graças uma pregressa e excruciante enfermidade.

Betopataca: Outro co-fundador da Ordem,auto-iniciara-se no Satanismo porventura na mesma época de Lord Ahriman,contudo somente pôde maximizar sua percepção e prática quando,timidamente,participou da IdL. Por seu fomento e apoio da irmandade perenal de Lord Ahriman,quiçá se convertera naquele que gerou às condições de possibilidade efetivas ao surgimento da F'T'S'.Seu amplo alicerce pensante,confirmado por sua diversificada e aprofundada formação acadêmica, conjunto a série de vivências como membro de múltiplas ordens ocultistas,trouxe uma complexidade ao material engendrado na E'P'S'.Afastou-se, definitivamente,de atividades ordenáticas no intuito de combater uma neoplasia.

Gwaihir: O derradeiro co-fundador.bFôra iniciado no Satanismo e Thelema,através de Betopataca. Sua titânica verve,acidez crítica e ceticismo incontestável foram a tônica necessária à formação prima da "Fraternitas Templi Satanis".Sua produção escrita sempre se descortinara limitada,principalmente graças ao gigântico rigor que exigia de tudo e mais ainda de si próprio.Sua ausência foi duramente sentida,logo no apogeu de manifestação da confraria,quando abraçou  uma existência mais comezinha e apartada do Ocultismo.

DarkHella: Desvendou-se a primeira a ingressar na, sedimentada enquanto tal,Fraternitas Templi Satanis (E'P'S).Sua gênese ritualística e doutrinária primeva, abancavam-se no Ásatrú apesar de sua inquestionável articulação ética e,posteriormente,epistemológica com inúmeros conceitos satânicos.Sua sagacidade em termos tecnológicos e boa-vontade para com os propósitos da Ordem,revelaram-se vitais aos primeiros passos da popularização digital de material produzido por seus membros.Aspecto de vultoso relevo, igualmente,compôs-se sua divulgação de material de cunho mitológico norreno o qual influenciou em não desprezível escala os expedientes mágicos da F'T'S'. Quase na mesma duração de Gwaihir, pediu seu afastamento para dedicar-se exclusivamente ao seu trabalho na área de Informática.

Darkvelvet: Uma das menos propaladas e,decerto, mais importantes figuras a engrossar as fileiras deste "conglomerado satânico".Compôs-se uma auto-iniciada no Satanismo e Thelema,contudo teve seus estudos e práticas ampliados sob os auspícios de Betopataca.Por petição deste,ingressou na Ordem aonde se destacou por seu olhar apurado,temperança e um uso indefectível do kairós[discurso que se dá no momento conveniente,aproveitando a oportunidade aberta no instante mesmo].Sua paixão no lograr da Ordem,condensou-se em um trabalho arquivístico interminável em prol de ordenar com fino acabamento à produção textual dos demais membros.Com a saída de Betopataca, visou debalde manter a F'T'S sobrevivente.

Bastard Obito :Arranja-se uma persona de suma-importância para o Satanismo e Kaoísmo nacionais, conforme se desvela um dos primeiros a gratuitamente divulgar na Rede textos e materiais desta espécie.Seu valioso ingresso,significou a continuação e aprimoramento do "mourejo digital" que a priori se dava aos encargos de DarkHella.Jamais,de modo notório,poder-se-ia deixar de comentar sua imprescindível importância como "experimentador mágico" sem par.Devido à sua permanente prática na "degustação" dos mais plurais "sabores" imagináveis a um magista,viu-se o emergir na Ordem de uma estrutura mágica exponencialmente mais abalizada em solidificar quaisquer anseios por pluralismo ritual. Com a saída de Betopataca, almejou dar continuidade à Ordem junto com Darkvelvet mas,ao que consta, terminou por volver todos seus esforços na manutenção e ampliação de seu "portal eletrônico ocultista":"Morte Súbita Inc.".

Morbitvs Vividvs: Figura de importância satânica desde os idos da Igreja de Lúcifer,a qual foi um valioso participante.Em termos iniciais demonstrou-se resistente à sua entrada na F'T'S',conforme se dedicava mais a um projeto de cunho kaoísta nomeado ADLUAS. Contudo, desde o instante que decidiu por aquiescer às solicitações de integração à Fraternidade,fez-se um de seus mais ativos elementos.Durante sua condição de plena integração,deu à luz a uma pletora inacreditável de material escrito dotado de insofismável qualidade.Sua "usina de idéias", converteu-se em um inextingüível combustível para série de projetos futuros que,com a extinção da Fraternitas Templi Satanis,viram-se infelizmente perdidos.Com o findo da Fraternidade, uniu-se de forma ativa com Obito no projeto "Morte Súbita Inc.".

CROM: Por intervenção e influência diretas de Betopataca,realizou seu "batismo ígneo" nas chamas satânicas.Como deságüe natural,adentrou na F'T'S', incrementando-a com sua pujança jovial,finíssima ironia e humor apto a suscitar um divertimento reflexivo.Sua participação mágica e dialógica, compunha-se minguada,todavia seus ensaios e humorísticos escritos recompensavam esta suposta falta.Tendo logrado uma assaz próxima relação com Darkvelvet,tentou conjuntamente com esta manter,embalde,vívida a Ordem.

DarkPhilosopher: Ente há muito imiscuído ao underground metálico tupiniquim,ingressou no Satanismo com a intervenção de Betopataca.Através de convite de Ahriman,fez-se um membro maravilhosa-mente belicoso da "agremiação demoníaca".Suas bases intelectuais na Física e Ciências Duras, fomentaram um nível de discussão e crítica afinados com expedientes científicos em todas camadas do grupo.Apesar do forte lado cientificizante,gerou artigos e ensaios dotados de uma latente veia estética. Abandonou a Fraternitas Templi Satanis à medida em que se viu atirado em uma "crise espiritual", transformada em conversão ao Cristianismo.

ADLUAS

Com o fim oficial da Igreja de Lúcifer em 2000 o que aconteceu foi que todos os grottos espalhados pelo Brasil estavam por conta própria, ou seja completamente independentes. Alguns simplesmente não estavam prontos para seguirem sozinhos, estes definharam e desapareceram. Outros ansiavam por essa liberdade para crescerem da sua própria maneira. Soube de muitas histórias mas não tive a oportunidade de comprová-las para que possam ser incluídas neste livro. Exceção feita ao grupo que nasceu em Minas Gerais, que por participar conheci de perto sua gênese e evolução. Posso dizer ainda que sua história é bem parecida com a de muitos outros grupos satânicos que existiram na época.

A verdade é que pouco antes do final da Igreja de Lúcifer o grotto de Belo Horizonte já havia declarado sua própria independência. Em 21 de Janeiro de 1999 nasceu assim um grupo conhecido como ADLUAS,  nome este que é uma abreviação de "Aldi Donasdogamatastos Lape Ugegi Angelard a Saitan" que por sua vez é uma frase em enoquiano para  "Grupo do Fogo Infernal para o Crescimento Forte do Pensamento de Satan".

A autonomia intelectual de seus membros com os quais mantive contato nos primeiros anos do segundo milênio ia muito além de apenas ser independentes do que estava acontecendo no Rio de Janeiro. Eles eram na sua própria medida também independentes do próprio satanismo tal como existia na época. Esse processo já começou com a Igreja de Lúcifer, mas foi em Belo Horizonte que amadureceu. A contribuição mais interessante do grupo na minha opinião é a mescla proposta de filosofia Satânica com práticas da Magia Do Caos, na época uma grande novidade entre os ocultistas nacionais, tudo isso sustentado por uma cosmovisão declaradamente Thelemita.

A defesa desta mistura era direta: LaVey ensinou uma filosofia de vida materialista e hedônica voltada ao engrandecimento do Eu e que as crenças em rituais e em magia só fazem sentido quando se esta praticando eles, e que são em si é operações de auto-ilusão dirigida para fins práticos. Por sua vez a magia do caos ensina que quando não estamos praticando magia devemos suspender nossas crenças. O que ADLUAS propunha é portanto algo semelhante ao que os membros da Temple of the Vampire chamam de "Lado Diurno" e "Lado Noturno". Ou seja, em termos de prática magica eles aderem ao caoismo (ou a qualquer coisa que queiram) mas em termos de dia a dia são indivíduos estrategistas  e materialistas, ou seja, satânicos.

Este ambiente permitia no mesmo grupo a existência de indivíduos com visões de mundo muito diferentes, seja políticas, econômicas e até meta-físicas e criou novamente o ambiente criativo onde muitas ideias interessantes surgiram, tanto nos aspectos práticos de magia e vida pessoal como em termos de criações artísticas. De fato disto veio o surgimento da banda Rex Infernus que tornou-se uma espécie de arauto da cosmovisão fractal do grupo.

Em termos de organização o grupo foi também um ótimo exemplo de como quase todos os grupos satânicos funcionavam nessa época, e como muitos continuam funcionando ainda hoje. Ou seja, um grupo inerentemente elitista sem qualquer interesse em angariar novos membros. Um grupo fechado e pequeno exatamente como foi a Igreja de Lúcifer nos seus primeiros anos. O processo de entrada no grupo não era fácil, e era propositalmente difícil. Não bastava o indivíduo conhecer e praticar o satanismo ele precisava ter alguma coisa a acrescentar para ser aceito.

O critério mínimo de entrada era que a pessoa tivesse o domínio sobre sua própria vida. Ela deveria provar que sabe usar conscientemente os 8 circuitos de consciência (Modelados por Timoth Leary) ou ter atingido no mínimo o penúltimo nível em  algumas das ordens iniciáticas tradicionais ou ainda ter atingido o nível de Vampiro Adepto ou Vampiro Mago da Temple of the Vampire. Na prática essa era uma forma de afastar fracassados.

O final do grupo ADLUAS não poderia ser outro. Sendo tão elitista e fechado aconteceu que seus próprios membros foram se destacando em seus empreendimentos e campos de atuação, indo para países diferentes ou para outras regiões do pais para tocar seus próprios empreendimentos e ao se afastarem o grupo se desvaneceu, embora nunca tenha tido um fim oficial.

Essa história é exemplar se repetiu em vários outros estados do pais e ainda hoje se repete. Este é o ciclo de vida de dezenas de capelas e grupos satânicps que pude acompanhar de perto ou de longe. Estes são para mim o exemplo perfeito das 'Zonas Autônomas Temporárias' das quais Hakim Bey falava e do 'Total Environment' que LaVey defendia. Criptosociedades satânica que cujo objetivo é melhorar a vida de seus poucos membros e que quando eles melhoram de vida se desfazem por terem cumprido seu propósito.

Lord Ahriman

O ano de 1997 foi um marco para o Satanismo com a morte de Anton LaVey, mas foi igualmente um marco para o Satanismo Brasileiro, quiçá latino-americano, porque foi o ano em que um homem conhecido como Paulo Machado iniciou seu trabalho de trazer para nosso país a filosofia de vida desenvolvida por LaVey e outros nas décadas anteriores. Morria um mito no Norte, nascia um mito no Sul.

Paulo teve seu primeiro contato com o Satanismo alguns anos antes com as noticias relativas à Church of Satan em meados dos anos 60 e 70. Sempre atraído por tópicos sombrios buscou informações sobre este grupo tão diferente de todas as formas que podia, sem muito sucesso até que em 1993 encomendou uma cópia importada da Satanic Bible por meio de um amigo. Como muitos outros brasileiros depois, identificou-se imediatamente com a proposta de vida contida no livro e entusiasmado com estas idéias tentou entrar em contato com a Church of Satan por carta.

A resposta que obteve foi um balde de água fria. Já naquela época a Igreja de Satã na Califórnia estava vendendo filiações e, o que é pior comercializando postos hierarquicamente elevados dentro da Igreja. Desde aqueles tempos é cobrada uma taxa única de entrada de aproximadamente 100 dólares, mas mesmo uma taxa única parecia a Paulo uma contradição para quem condenava a venda de lugares no céu e uma hipocrisia para quem acusava os pastores e os padres de serem mercantilistas.

Pagar para entrar numa igreja que lhe ensina que você não deve nada a ninguém.... O que poderia ser mas contraditório? Talvez matar em nome de um deus de amor. Recusando-se a aceitar uma taxa para participar de um grupo satânico começou uma busca pessoal por alternativas, até que em 1996 descobriu a existência da “The Church of Lucifer”, uma dissidência da Church of Satan encabeçada pelo Reverendo Frederick Nagash que entre outras particularidades condenava qualquer cobrança dos afiliados.

Comunicando-se somente por correspondências e e-mails Paulo Machado se destacou por sua eloqüência, mesmo sendo estrangeiro e em abril de 1997 fundou no Rio de Janeiro o “quartel-general” brasileiro conhecido como The Church of Lucifer Brazilian Headquarters (COLBH) passando também a adotar o título de Deacon Paulo. Neste momento ele já contava com a companhia de uns poucos companheiros atraídos por seu entusiasmo e idéias, foi nessa época e em sua companhia que adotei o motto de Morbitvs Vividvs. Como eu ainda era de menor de idade, tive que mentir a data de nascimento para ser aceito pelo grupo, mentira da qual até hoje não me arrependo.

A verdade é que este primeiro levante satânico era mais um pequeno grupo de amigos estranhos do que uma organização propriamente dita como as capelas satânicas que surgiriam depois. Mesmo assim deu-se então o inicio de uma fase de produção intelectual bastante intensa, embora com poucos participantes. Deacon Paulo escreveu alguns primeiros modestos ensaios como “Senhor Noel”, “O Vaso Cheio”, “Um Outro Animal” e alguns poemas satânicos em português e inglês como “O Ponto” e “The Dark Element”. Esta coleção de textos é guardada até hoje pelos seus diletos e registram os primeiros escritos genuinamente satânicos feitos em nosso país.

De suas mãos veio além disso a primeira tradução da Bíblia Satânica, foi também parte desta onda de entusiasmo que motivava aquele primeiro grupo. Tratava-se de uma tradução bastante livre e despreocupada porque a ideia original era distribuir o livro somente para os membros do grupo, mas com o fim do mesmo o arquivo acabou vazando para a Internet sendo distribuído por uma infinidade de páginas.

No início de 1998, a Church of Lucifer passou por uma reformulação interna, que entre outras coisas buscou dar ao grupo uma antes inexistente ancestralidade. Quando isso aconteceu Rev. Nagash cortou todos os contatos com os quartéis-generais espalhados pelo mundo, sem dar qualquer explicação aos seus diáconos. Mas era tarde demais para quem pensava que este poderia ser o fim do satanismo nacional. O grupo brasileiro já havia crescido em número e em maturidade e o fato do cordão umbilical ser cortado só lhe fez bem, pois lhe deu independência para crescer suas raízes de modo independente. A Church of Lucifer Brazilian Headquarters passou a adotar o nome “Igreja de Lúcifer”, pois assim já era conhecida entre os seus e Deacon Paulo adotou o moto de Lord Ahriman.

Com a mudança o grupo cresceu e ganhou um novo fôlego e contava com aproximadamente 50 membros nacionais e internacionais. Uma nova leva criativa levou o grupo e Lord Ahriman a escrever seus textos clássico hoje tidos como essenciais para a compreensão da forma como o satanismo se desenvolveu por aqui. Em especial os textos de Lord Ahriman deram um salto de qualidade que até hoje permanece inexplicado. Os ensaios “Caixa de Pandora: emoções negativas”. “Egolatria; A Síndrome da Peneira Furada“ e “O Manto de Carne” foram escritos neste momento e refletiam o desenvolvimento da filosofia deste satanismo eclético que vivemos hoje. Foi motivado por estes textos que na época também comecei a escrever, são daqui os meus primeiros artigos: “Os Dez Mandamentos Satânicos”, “O Fraco Arrependido” e “Eu não respeito” que mais tarde entrariam no Lex Satanicus.

Foi em 98 também que o grupo passou a adotar a organização de grottos nacionais em Porto Alegre, Salvador, São Paulo, Minas Gerais com o grotto central sendo o do Rio de Janeiro. Além de grupos de estudos e práticas regionais a Igreja de Lúcifer se mobilizava de temos em tempos para encontros nacionais, muito embora dificilmente todos os membros aparecessem. Nestes encontros Lord Ahriman falava sobre Satanismo, ocultismo e filosofia, e eram executados rituais em grupos com os participantes dispostos a tal.

Devido ao crescimento desproporcional do grupo, o fortalecimento dos grottos regionais e problemas pessoais entre alguns membros em 2000 a Igreja de Lúcifer dissolveu-se oficialmente. Contudo o Satanismo não enfraqueceu nem um pouco com esse evento já que Lord manteve contato com os antigos membros que lhes eram mais próximos e os grupos de outros estados evoluíam segundo seus próprios caminhos.

Foi a partir daqui que ele se dedicou a escrever seu livro “O Satanomicon” a partir do material acumulado no grupo e desenvolvido posteriormente em diversas conversas com seus irmãos em Satã. O tomo é um documento de aproximadamente 100 páginas tratando de Satanismo, Vampirismo, Thelema, Demonologia Moderna, Filosofia e Ocultismo no qual o autor conclui sua obra de introduzir o pensamento satânico nacional, que honra sua herança LaVeyana, mas é em muitos pontos até mesmo superior a esta. O Livro em si foi entregue de presente para alguns amigos e publicado para o grande público alguns anos depois.

Posteriormente ele lançou ainda outros livros contendo seus ensaios e idéias sobre o Eu e o Mundo, sempre, (mesmo quando tentou evitar) de uma forma satanicamente inspirada. Alguns destes livros foram publicados mas muitos ainda permanecem como material seleto passado de mão em mão, entre eles temos os 'Ensaios do Maleficience', 'Introdução a Magia Satânica' e "O Poder do Eu" o  "Manual do Cafajeste" e o controverso 'O Livro de Satan'

Lord Ahriman foi uma peça chave para formação do Satanismo no Brasil e depois da Igreja de Lúcifer ainda contribui com a fundação de outros grupos de Satanismo, mas nenhum deles tem uma importância histórica tão grande quanto a Igreja de Lúcifer. Seu maior legado contudo não foi a formação deste ou daquele grupo. Sua maior obra não foi tão pouco qualquer um de seus brilhantes textos, mas foi sim ele mesmo e seu exemplo pessoal. Uma lição a ser aprendida por todos os satanistas do Brasil e do mundo.


Morbitvs Vividvs

Order of Nine Angles - ONA


O Pânico Satânico descrito no capítulo anterior, não desapareceu sem antes realizar algumas mudanças importantes no movimento satânico. Foi nesta época complicada que algumas pessoas aproveitaram a má fama do Satanismo para ganharem um pouco de destaque. Pastores, Psicólogos, Policiais... todos queriam aproveitar a febre do momento para ganhar um pouco de notoriedade. Todos, incluindo os próprios Satanistas. Como já se tornara uma fórmula dentro do Satanismo o estigma causador de medo não foi negado mas relido sob uma nova perspectiva. Quando a febre do Ritual de Abuso Satânico ganhou fama internacional, e numa época em que o Satanismo mais causava medo, veio a tona na Inglaterra o Satanismo agressivo da “Order of Nine Angles”, “Ordem dos Nove Ângulos” ou ONA como também é conhecida.

Uma das principais diferenças entre a ONA e o Satanismo anterior é a ênfase na auto-superação seja ela física, mental ou oculta. Em contrapartida ao Satanismo puramente hedônico que existia na América, a ONA inglesa defendia que não existe vitória sem luta e que em busca de se tornar alguém superior o prazer momentâneo deve ser muitas vezes trocado por experiências longas, desgastantes e trabalhosas. Isso não chega realmente a ir contra o Satanismo proposto por LaVey, pois é uma releitra de Epicuro,  mas servia de alerta para que o próprio satanismo não se tornasse um antro de compulsão hedônico e acomodada.

Apesar da antiguidade sugerida pelo grupo não existem registros de tais práticas anteriores ao final do século XX. Ao contrário é possivel traçar a transformação do grupo de bruxaria tradicional em uma ordem satânica por meio do trabalho  de seus protagonistas durante a década de 70. A gênese do grupo se deu quando três grupos (Camlad, Noctulius e Temple of Black Sun) se uniram com o propósito de praticar certas tradições ocultas. Neste momento o enfoque do grupo era a bruxaria tradicional e esta fusão foi liderada por uma mulher da qual sabemos pouco a respeito. Quando Thorold West (Anton Long), então um viajante endinheirado, conheceu esta mulher e foi apresentado por ela a estas tradições ele primeiramente as uniu com o que conhecia de Tantra e Vamachara e iniciou o desenvolvimento do que viria a ser o Caminho Setenário e publicou o "Livro Negro de Satan". A sacerdotisa mudou-se então para a Austrália e Anton Long passou a cuidar do grupo. Nesta época o grupo não chegava a vinte membros e todo material era datilografado e enviado pelo correio ou entregue pessoalmente.

É difícil afirmar exatamente quando o grupo passou a se considerar satanista  mas podemos especular algumas coisas uma vez que existem fontes do início dos anos 70 usando o termo "Satanismo Tradicional". Possivelmente o termo foi cunhado por Anton Long em contraposição ao Satanismo de Lavey que era mais conhecido e como referência a Bruxaria Tradicional que deu origem ao Caminho Setenário. Alguns anos depois David Myatt entra no grupo e usando vários pseudônimos (inclusive Anton Long!) para dar continuidade ao trabalho dando muito mais robustes a tradição. David deu mais forma ao grupo e criou a base de toda sua doutrina. Muitos rituais, cânticos, os Insight Roles, o Opfer, os trabalhos secretos, a hierarquia dos graus, o Star Game e as pesquisas do Acausal e dos Deuses vieram a tona graças a ele.

Foi graças a este trabalho de dabid que nos anos 80 o grupo conheceu uma grande expansão criativa e numérica crescendo por meio de em várias células, chamadas Nexions, espalhadas pela Europa e houve uma grande renovação quando o zine FENRIR passou a ser escrito e distribuído. O famoso “NAOS – Um Guia prático para a Magia Moderna” foi publicado em uma das edições deste zine que entre outras coisas também trouxe o tarot da ordem, ilustrado por Richard Moult (Christos Beest). Beest encabeçou a divulgaçãi da ordem com sua arte e foi o responsável pela "relações públicas" do grupo nesta época. Ele Também publicou neste tempo o intrigante "Diário de um Adepto Interno", relatando os anos que ele morou numa cabana com o Meat e outros membros. Sua permanência dura até 1996 quando deixa a divulgação da Ordem na mão do "Thernn" - mais conhecido hoje como Michael W. Ford, que permanece até o ano 2000 e então se retira para fundar a Order of Phosphorus.

Assim surgiu essa literatura instigante que logo ganhou  adeptos e que é distinguível pela complexidade de sua cosmologia, pela afirmação da sua ancestralidade e por saber tirar proveito de uma imagem sinistra numa época em que o medo pairava no ar. Entretanto o importante não e se a ONA é realmente um grupo milenar como alega ou se foi criado hoje de manhã. O fato é que muito de sua visão de mundo é indiscutivelmente um resgate de raízes e heranças que são encontradas em momentos bem distintos da história como o paganismo europeu pré-cristão e o Reich Alemão. O Templo de Set já se utilizara deste recurso ao identificar o culto do antigo deus egípcio com os princípios do Satanismo, mas a ONA levou esta ideia ao extremo ao estabelecer para os Satanistas não apenas um vislumbre do passado mas toda uma nova forma de se entender a história.

Alektryon Christophoros, mostra muito bem este aspecto do grupo em seu artigo Satanismo Tradicional, Nacional-Socialismo, e o Aeon Faustiano, onde escreve:

“Uma das crenças básicas do Satanismo Tradicional baseia-se no facto de que a sociedade ocidental foi ‘envenenada’ ou empobrecida com valores judaico-cristãos que apenas vieram atrasar a evolução da Humanidade, e a inauguração do Aeon Faustiano: a Nova Ordem Mundial de natureza Elitista e Satânica, em que o poder será entregue à ‘Raça Superior’, a Raça Satânica constituída pelos melhores e mais fortes. Neste aspecto podemos ver uma flagrante correspondência com o Nacional-Socialismo, que em muitos aspectos pode ser visto com uma Religião do Sol, do Führer, do Líder e do Forte. Esta é a Lei Absolutista, a Lei contra o Cristianismo de que Friedrich Nietzsche tão apaixonadamente falou no seu fantástico livro ‘O Anticristo’.”

Estas idéias caíram como uma bomba entre os Satanistas da época que, estimulados com as drásticas mudanças sociais dos anos 60 e 70 e incomodados com o a atitude reacionária da época, queriam novamente ver a chama de Satã arder e transformar o mundo.

O Satanismo torna-se então algo mais grandioso, a preparação para o próximo estágio da humanidade no qual somente uma raça dominará. De todas as etnias, a Raça Satânica se formará e abrirá os portais do Inferno. Segundo tradução de Prmtn Kali & Prmtn Fobus, Anton Long escreve em Uma Introdução ao Satanismo Tradicional: “Para nós, Satanismo é a criação de indivíduos orgulhosos, fortes, de caráter pleno, compreensivos -  indivíduos que foram além da maioria e que representam assim, um tipo mais elevado. Os grupos Satânicos verdadeiros, não procuram seguidores servis, decadentes, fracos. Procuram criar uma elite real - quase uma raça nova de seres. Naturalmente, isto não é fácil - é realmente perigoso. Freqüentemente, novos Iniciados falham por causa da dificuldade ou porque falta-lhes o desejo essencial para ser bem-sucedido. Mas é como a evolução trabalha - os  fortes superam desafios e evoluem; os outros permanecem onde estão, caem, ou são destruídos.”

A Escatologia proposta pelo grupo é tão questionável quanto a de qualquer outra religião, mas ao contrário de muitas outras ela se traduz em algo extremamente prático. Para a Church of Satan, a Era Satânica já era um fato consumado mas para a ONA, esse Novo Mundo não chegaria numa bandeja, devia ser conquistado. Isso faz os satanistas deixam de ser expectadores passivos para se tornam agentes ativos que do campo político ao artístico, das relações pessoais às práticas rituais se preocupam em transformar a terra por meio da invocação das forças por eles chamadas de Deuses Obscuros.

Assim como Anton LaVey, os Satanistas da ONA e todos os Satanistas posteriores por eles influenciados viam nas mudanças sociais sintomas de uma “Nova Era Satânica”. Contudo ao contrário da Church of Satan, a ONA dizia que podíamos e devíamos invocar estas forças transformadoras para acelerar a destruição das coisas antigas e transformar definitivamente as civilizações de nosso planeta. Existe aqui uma certa semelhança com as visões de H.P. Lovecraft, mas também diferenças importantes. Seja como for ambos concordam com uma coisa: Não basta que as estrelas estejam alinhadas, é preciso abrir o portal.

De modo a impulsionar esta missão o grupo desenvolveu um sistema conhecido como a Tradição Septenária organizada numa espécie de Cabala Satânica que levava não só o individuo, mas todo o planeta para o estabelecimento da super-humanidade. Este é outra grande diferença entre as organizações satânicas posteriores. Enquanto que na Church of Satan não havia qualquer preocupação em estabelecer um caminho iniciático no qual o Satanista pudesse se desenvolver e o Templo de Set ainda fornecia apenas uma organização hierarquizada e fechada aos seus membros, a ONA ofereceu abertamente toda uma forte tradição ritualística com a função clara de “guiar seus membros ao longo do caminho difícil e perigoso do desenvolvimento interior com o objetivo de criar um indivíduo totalmente novo”, usando aqui as palavras exatas de alguns documentos da própria ordem.

Isso é feito em primeiro lugar pela “Árvore de Wyrd” que pode ser vista como um mapa da consciência tanto individual como do universo, com chaves a serem ligadas e desligadas, obstáculos a serem vencidos e metas a serem cumpridas para que o domínio satânico possa ser adquirido. Cantos foram revelados, um Tarot sinistro passou a ser usado e toda uma vasta tradição começou a aparecer como apoio a cada um dos sete graus propostos pela organização. No mesmo texto acima citado Anton Long escreve:

“Cada estágio deste caminho tem associado a ele determinadas tarefas, determinadas experiências, que o indivíduo deve empreender por ele mesmo. Isto é, ele sozinho traz a introspecção, o domínio, a compreensão e a habilidade – todos ocultos e pessoais”.

Que contraste foi esse em relação ao Sacerdócio da Church of Satan pelo qual qualquer pessoa podia pagar para ganhar o título de Reverendo! O problema da vulgarizarão do Satanismo pela quantidade de adeptos enfrentado por LaVey foi solucionado pela ONA com a implementação dos Nexus e uma tradição em graus com testes e provações tão duros que simplesmente não podem ser alcançados por qualquer pessoa. Hoje a ONA não é apenas um grupo mas muitos grupos organizados separadamente e mesmo indivíduos isolados que perpetuam a tradição. Como Malachi Azi Dahaka bem colocou em seu artigo "Ordem dos 9 Ângulos I – Origens e Ideais":

"Apesar do nome, a ONA não é uma ordem, oficialmente falando. Ela é um método, um caminho, aplicado por grupos de tribos. Para ser da ONA, basta realizar as práticas e filosofias, mesmo que de forma solitária. Não há líderes, ninguém pra te dizer o que fazer, não há organização oficial, em hipótese alguma existem cobranças sexuais, monetárias ou ingresso de menores de idade (tendo em vista que só se pode exercer o caminho septnário a partir da maturidade). Não há também nenhum “conteúdo ultra secreto” relacionado, não há atividade “oculta na internet ou deepweb” ou algo do tipo. Todo material é aberto aos adeptos que desejarem ter acesso."

Isso não significa que o satanismo tradicional irá substituir o satanismo moderno. Mas a importância da Order of Nine Angles não pode ser negada. Embora por muito tempo tenha sido identificada com o Pânico Satânico de quem é contemporânea e assim criticada por alguns satanistas como um desvio, trata-se apenas de uma outra escola, com seu próprio valor. É difícil não fazer uma comparação com a história do rock: a América trouxe Elvis e LaVey ao mundo e a Inglaterra revidou com Beatles e Satanismo Tradicional. A invasão inglesa no Satanismo é sem igual não porque  os Deuses Obscuros existam como seres sencientes, nem porque o grupo resgatou tradições antigas e nem mesmo porque estão abrindo os “antigos portais”. Mas por um fato muito mais simples: Pela primeira vez o Satanismo deixou de ser uma visão individual e passou a ser um projeto de mundo.

Morbitvs Vividus

Templo do Vampiro


Aparentemente nem só de Satanismo vive Satã. Com a cisão da Church of Satan em 1975 e o sucesso dos grupos que começaram a surgir, o Satanismo deixou de ser apenas uma religião sinistra e abriu portas para algo até então aparentemente inédito. Uma nova estética religiosa. Não demorou muito para que novas crenças começassem a surgir, trazendo consigo não apenas a estética desenvolvida por LaVey, mas toda uma filosofia inspirada pelo espírito que ele libertou nos anos 1960.

Um desses grupos que logo ganhou notoriedade entre os ocultistas e simpatizantes do Caminho da Mão Esquerda veio para preencher uma lacuna criada em 1897 por Bram Stoker. Dentro da filosofia satânica original, Satã não passava de um arquétipo, uma figura mitológica, o que não o impedia de interferir de forma bem real em nosso mundo. Bram Stoker popularizou a imagem do vampiro que, tal qual Satã, foi injustiçada por quase um século. O Vampiro surgia como um aristocrata banido, um ser elitizado e marginalizado ao mesmo tempo. Uma criatura de magia, mas que não se preocupava em fazer o bem para outros. Uma criatura de trevas, poder, ódio. Assim não é surpresa que a inspiração de LaVey tocasse também este ser.

O Temple of the Vampire (Templo do Vampiro) não é propriamente uma organização satanista, mas sua história e filosofia esta tão intimamente ligadas com as organizações citadas anteriormente neste livro, que fica difícil não mencioná-la nesta história. Não existe uma filiação direta entre o Temple of the Vampire e a Church of Satan, mas as duas organizações desfrutam de apreciação pública mútua. Ambas permitem que seus membros participem de ambosos grupos - e o alto escalão, incluindo seus fundadores de fato participam. Entretanto pertencer a um dos grupos não significa necessariamente que a pessoa também participa, ou mesmo tem simpatia, com o outro. Tanto é que os dois grupos pedem que seus membros evitem mencionar juntas a Church of Satan e o Temple of Vampire para evitar que qualquer associação seja implicada diretamente por quem é de fora. 
Para entender a influência do Satanismo neste grupo, basta dar uma rápida lida n'O Credo do Vampiro, um dos textos base do Temple:

"Eu sou um Vampiro.

Eu adoro o meu ego e eu adoro minha vida, pois sou o único Deus que existe.

Eu tenho orgulho de ser um animal predador e eu honro meus instintos animais.

Eu exalto minha mente racional e não acredito que isso seja um desafio da razão.

Eu reconheço a diferença entre o mundo real e a fantasia.

Eu reconheço a fato de que a sobrevivência é a lei mais forte.

Eu reconheço que os Poderes da Escuridão escondem leis naturais através das quais eu posso fazer minha magia.

Eu sei que minhas crenças no ritual são uma fantasia, mas a magia é real e eu respeito e reconheço os resultados da minha magia.

Eu percebo que não há céu como não há inferno e vejo a morte como destruidora da vida.

Portanto eu tirarei o máximo proveito da vida aqui e agora.

Eu sou um Vampiro.

Curve-se diante de mim. "

Muitos Satanistas afirmam cinicamente que basta que você troque a palavra "Vampiro" por "Satanista" e você tem uma nova versão das Declarações Satânicas de LaVey. Mas isso não quer dizer que o Temple of Vampire seja uma versão cosplay da Church of Satan.

Perceba que o Templo do Vampiro foi fundado em 1989 e assim suponho que, por todo contexto do Pânico Satânico, seus fundadores resolveram se afastar do rótulo do diabo e como uma serpente, trocar de pele para tentar algumas coisas novas. Os livros de Anne Rice estavam na moda e o ser vampírico, elegante e bestial, predador e elitista, habitante das trevas e acima da humanidade parecia ser o modelo perfeito. É sintomático o fato de que nesta mesma época Zeena LaVey, aquela filhinha do LaVey que passou pelo batismo satânico, e Nikolas Schreck , seu esposo, fundaram a "Werewolf Order" (Ordem do Lobisomem) explorando as implicações da besta interior e dos escritos da licantropia dentro do satanismo.

O Temple of the Vampire foi então legalmente registrado em Washington por George C. Smith, também conhecido como "Nemo" ou "Lucas Martel". E possui desde então uma série de publicações internas encabeçada pela "Biblia Vampírica". Um fato pouco conhecido, e que novamente justifica a presença do Templo neste livro, é que George Smith era membro do Templo de Set e grande parte do conteúdo de suas bíblias foi originalmente escrito nos três anos em que ele atuava no grupo criado por Michael Aquino.

Smith conseguiu unir o satanismo de LaVey com o misticismo encontrado dentro do Templo de Set. Ele uniu a filosofia materialista com uma série de ideias esotéricas orientais como a Força Vital (Ki), yoga, meditação e embrulhou tudo isso com referências as mitologias assírias e babilônicas. Sua saída para resolver as óbvias contradições que surgiriam entre o objetivismo laveyano e o esoterismo setiano não poderia ser mais criativa. Ele postulou que todo Vampiro possuía dois lados: o Lado Diurno, materialista e o Lado Noturno, voltado as práticas mágicas. A postura é uma formalização e ampliação do próprio conselho de Anton LaVey, que ensinou na Bíblia Satânica que a câmara ritual era o local onde a linha entre fantasia e realidade devia ser apagada.

A organização criada por Nemo também inaugurou uma moda que se repetiria em quase todas as organizações do gênero dai para frente. A alegação de que seus rituais e doutrinas são muito, muito antigos. Os membros do Templo do Vampiro dizem praticar uma religião antiquíssima que foi conhecida com vários nomes no decorrer dos séculos: Ordem do Dragão, Templo do Dragão, Templo da Deusa Dragão Vampírica Tiamat, etc..

Inicialmente qualquer pessoa que comprasse a "Biblia Vampírica" podia ser aceita como parte do grupo. Tempos depois criou-se a opção de inscrição de membro ativo na qual por uma quantia determinada o sócio passava a receber alguns materiais adicionais e seguia uma escalada de cinco graus: O Vampiro Iniciado, o Predador, o Sacerdote, o Feiticeiro e finalmente, o Adepto. Cada grau possui seus próprios ensinamentos, materiais e objetivos, sendo que este tipo de organização é um dos legados do Templo do Vampiro com relação ao Templo de Set. Acima de todos estes graus impera o círculo interno da ordem conhecido como "Ordem de Prometeus" composto basicamente pelos sócios fundadores.

Por fim, não se deve confundir o Vampirismo do grupo com os Vampíros Psíquicos criticados por LaVey na Biblia Satânica. De fato em muitos aspectos trata-sem de duas coisas quase que contrárias uma a outra. O vampiro descrito no livro de lúcifer é um dependente emocional enquanto que o vampiro da TOV é um caçador. Pessoalmente, este autor considera o Vampirismo da Temple of the Vampire como uma modalidade de Satanismo. O nome é outro, a  estética é diferente e ele possui uma metafísica própria que nenhum outro grupo tem, mas mesmo assim sua origem e sua essência estão absolutamente manchadas com a cor do sangue de LaVey.

Morbitvs Vividvs