quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A Magia Sexual de Kenneth Grant II


P A R T E  . I I .

Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.


O Círculo Kaula, citado amplamente por Kenneth Grant em suas Trilogias Tifonianas, é famoso entre os entusiastas da cultura tântrica e principalmente entre os praticantes de neotantrismo. Na literatura ocultista vulgar, o Círculo Kaula é descrito como um culto exótico cujas práticas envolvem o conúbio sexual em grupo em crematórios e cemitérios. A palavra kaula deriva de kula, que significa grupo, família ou clã. O Tantra é uma tradição que nasceu no contexto de clãs organizados, famílias praticantes que trabalhavam em cima de escrituras (śāstra) próprias, quer dizer, grimórios de magia recebidos pela Alta-Sacerdotisa, geralmente a esposa do Guru ou as suvasinīs, ajudantes da Alta-Sacerdotisa, muitas vezes as filhas do casal ou mulheres de fora da família, as dūtīs, que desempenhavam o papel de sacerdotisas auxiliares. Nesse sistema, o Tantra cresceu e floresceu, ganhando linhas distintas de sucessão, criando assim uma grande rede de escolas de iniciação, muitas vezes com a psicologia, mitologia e filosofia distinta de outras escolas.

A abordagem Kaula – e de outros grupos vāmācāra como os nātha-siddhas,kāpālikas e aghorīs – em relação ao corpo, sexualidade e secreções corporais de todos os tipos é positiva: para o kaula-tāntrika nada é repugnante, nojento ou obsceno. É a mente, comportando-se de maneira bipolar entre desejo (rāga) e aversão (dveṣa) que categoriza o que é imprório e o que não é, o que é bonito e o que é feio etc. Através da prática de uma filosofia não-dualista (advaita) – característica das escolas que compõem o Śaivismo da Caxemira(trika) – nada pode ser considerado impróprio, sujo, feio ou degradante. São os estados de dualidade (dvaita) que produzem esse tipo de categorização. Nesse caminho, o kaula-margī cultiva uma atitude diferente em relação ao mundo e a vida. Trata-se de um novo entendimento acerca do universo: a visão da insubstancialidade de todas as coisas.

Abhinavagupta (950-1020 d.C.), considerado o homem mais santo que pisou em solo indiano, fez uma reformulação completa no sistema de iniciação da tradição Kaula por volta do Séc. X. Em seu Tantrāloka, considerado a maior escritura tântrica de todos os tempos, ele afirma que o sexo é o fim do caminho. Por essa declaração ele pretendia orientar que, embora a abordagem Kaula em relação ao sexo seja positiva, não significa que a tradição promova o hedonismo. Ao ser iniciado, o chela (aprendiz) tem de passar por um treinamento que pode durar anos antes de ser instruído pelo guru nas técnicas sexuais de manipulação da kuṇḍalinī-śakti. E dependendo do nível de mente e natureza do aprendiz, o guru pode decidir não lhe orientar em técnicas sexuais. Existem três níveis de adeptos tântricos: i. o paśu (boi), aquele que é dominado por sua natureza instintiva; ii. o vīra (herói), aquele que dominou sua natureza instintiva e é senhor de si mesmo e de sua vontade; iii. o divya (puro/divino), aquele que transcendeu a si mesmo e ao plano da existência. Segundo a tradição tântrica, adeptos de natureza paśujamais podem ser instruídos em técnicas sexuais de iluminação, pois devido a sua natureza instintiva, não utilizarão de forma adequada esta ferramenta. Para estes adeptos, a meditação (yoga) e os rituais de magia são mais adequados. O vīra, por outro lado, é o adepto mais adequado a ser orienado nas técnicas de magia sexual, pois ele transcendeu seus vícios e desejos e empunhol a espada da vontade. O divya, por conta de sua natureza sutil, está além da prática sexualmente orientada e não precisa dela para acessar os segredos da Natureza e do Cosmos.

Um dos aspectos mais famosos do Círculo Kaula e de outras tradiçõesvāmācāra trata-se de uma prática espiritual conhecida como pañca-tattva ou o Ritual dos 5Ms. Esse ritual envolve o consumo de carne, quimiognose, e cópula orientada pelo guru. A abordagem equivocada do neotantrismo popularizou esse ritual, que ficou famoso entre os ocultistas e entusiastas do tantrismo. No entanto, a lógica por trás de uma prática como essa transcende seus elementos físicos, além de ser uma afirmação positiva da vida contra as regras estabelecidas pela tradição védica.

A mulher desempenha o papel mais importante no ritual Kaula. Ela é a incorporação da Śakti e é sua função estabelecer seu poder durante a prática, seja como oráculo, cura ou iluminação espiritual. Dependendo da orientação do guru e do nível de consciência/iniciação de cada discípulo, o ritual pode ter mais participantes, quando ganha o nome de kaula-cakra (Círculo Kaula).

A função do ritual é estabelecer a união entre a Deusa Śakti e seu consorte, o Deus Śiva. Isso ocorre quando a kuṇḍalinī desperta de seu sono nomūlādhāra-cakra e sobe fulminante por cada cakra até atingir o sahasrāra, o lótus de mil pétalas. Trata-se da versão tântrica do Casamento Alquímico dos sacerdotes gnósticos egípcios. O conceito qabalístico equivalente é a Shekinah que saindo de Malkuth e buscando a união com o divino em Kether redime toda a criação.

No seu percurso, a kuṇḍalinī penetra nos cakras, os sete portais da alma. E na medida em que penetra cada um dos cakras a Serpente de Fogo os ativa em toda sua plenitude, proporcionando inúmeras experiências espirituais por quem paça pela experiência. Os cakras regem toda gama de complexidade na personalidade humana e a eles são atribuídos determinados siddhis, poderes paranormais que se manifestam na psique do tāntrika na medida em que ele aprende a manipular as volições da kuṇḍalinī.

Toda a doutrina que envolve os cakras é central nos rituais descritos por Grant. Ele dá muita ênfase a necessidade de manipular o prāṇa através dos cakras da sacerdotisa engajada no rito e dependendo da finalidade do ritual, o prāṇa é manipulado somente dentro de um cakra específico, na intenção dela manifestar sua essência ou vibração através dos kālas secretados pela vagina.

No entendimento de Grant, quando os cakras da sacerdotisa são ativados através da manipulação da Serpente de Fogo com mudrās e passes mágicos, todo o seu corpo passa por uma transformação. O estímulo nos cakras irá liberar na corrente sanguínea um conjunto de hormônios. Isso afetará a qualidade das secreções ou kālas precipitados para fora da vagina. Essas secreções serão então coletadas pelo magista e podem ser utilizadas para variados fins.

Grant incorporou o Tantra e seus conceitos ao sistema de magia cerimonial da Tradição Ocidental de Mistérios. Ele nunca alegou ser um adepto tântrico. Através dos ensinamentos que recebeu de David Curwen (1893-1984) e da literatura que teve acesso na época, Grant incorporava a sua maneira as técnicas tântricas que havia estudado. E na medida em que o grupo da Loja Nova Ísis evoluía nos trabalhos mágicos, ele foi incorporando a mitologia do Necronomicon. Esse conjunto de influências formava o pano de fundo de suas operações de magia. Assim, da mesma maneira que Crowley não pode ser considerado uma autoridade em egiptologia, Grant não pode ser considerado uma autoridade em Tantra. No entanto, sua contribuição a Tradição Ocidental é inestimável. Grant continua sendo o autor que mais falou de Tantra em relação à prática da magia cerimonial. Ele nos proporcionou o Tantra no contexto de Thelema com a autoridade de um acadêmico.

A doutrina dos cakras da tradição tântrica tem seu análogo equivalente em outras culturas. Os egípcios, sumerianos e babilônios com seu sistema de mitologia baseados em suas observações astronômicas; os mitos do misticismo judeu como a Escada de Jacó; a viagem aos céus do xamanismo; a gnose do Necronomicon e o mito chinês do caminhante das sete estrelas da Contelação da Ursa Maior. Todas essas ideias, retornando a cultura arcaica, representam uma condição humana primordial onde à evolução espiritual e a busca pela imortalidade se encontram. Então, o que a doutrina dos cakras e da kuṇḍalinī – e o sistema de magia criado por Grant aliado a ela – nos oferece? A habilidade em reinterpretar os sistemas místicos, mágicos, filosóficos e religiosos da Antiguidade nos termos da psicofisiologia humana.

Dessa maneira, as Sete Estrelas da Constelação da Ursa Maior, os sete planetas da Astrologia babilônica e sumeriana, as sete carruagens damerkavah no misticismo judeu etc. são representados pelos sete cakras do tantrismo. A genialidade de Grant – e antes dele Crowley – em indentificar e fazer analogias como essa as percebendo como algo tangível e real o capacitou a descobrir o Grande Arcano desse mistério, o provendo cominsights para codificar um sistema de magia operativo. O que Kenneth Grant fez foi externalizar os processos internos do kuṇḍalinī-yoga em um sistema de magia cerimonial, possibilitando que um grupo de pessoas pudesse trabalhar dentro de um templo equipado ou que adeptos espalhados pelo mundo pudessem operar sozinhos como zonas de poder ou células ocultas, como oscakras no corpo da sacerdotisa.

Em Aleister Crowley and the Hidden God, Grant delineia um plano geral para um ritual de magia sexual em um capítulo intitulado Controle Onírico pela Magia Sexual. Ele começa introduzindo os três estados de consciência: o estado de vigília, o estado de sonho e o estado de sono sem sonhos. Em seguida ele compara a Zona Malva ao estado de sonho: uma zona de poder intermediária entre o estado de vigília e o sono profundo, sem sonhos. Grant alega que toda atividade se orinina no estado de sonho, seja ela consciente, dirigida pela vontade ou reativa, dirigida pelos instintos. O estado de sonho é o plano onte tanto a atividade astral quanto a atividade mental ocorrem. Este é – também é bom lembrar – o estado que, segundo Lovecraft, o Alto-Sacerdote do Culto de Cthulhu se comunica com seus devotos. No sistema de magia sexual de Kenneth Grant isso não se trata de uma história fictícia.

Grant dá crédito ao ocultista alemão Eugen Grosche (1888-1964) por ter descoberto parte da fórmula mágica. Em suas pesquisas, Grosche utilizou técnicas sexuais de magia para produzir estados de gnose e transe que possibilitavam a experiência onírica consciente. O que Grosche fazia era aplicar a terapia do magnetismo animal de Franz Mesmer (1734-1815). Com um ímã na mão direita e uma barra de ferro na mão esquerda (às vezes água), Grosche excitava a sacerdotisa e em seguida aplicava passes mágicos – que Michael Bertiaux (1935) chamou de passes do transe ofidiano – em seu corpo. Sua finalidade era coletar suas secreções vaginais magnetizadas.Grant utilizou essa técnica em um contexto mais amplo, adicionando exercícios tântricos, formando um método base de trabalho para as operações de magia sexual da Loja Nova Ísis.

Grant utiliza enfaticamente a palavra kāla em suas trilogias, associando a ela as secreções vaginais da sacerdotisa. Especificamente, ele se refere ao período de catamênio onde as essências são secretadas diariamente. Cada dia do ciclo menstrual possui seu kāla peculiar e cada kāla é distintos de outros de certa maneira. Existem quatorze ou quinze kālas, dependend de como são definidos ou divididos. Considera-se que o décimo quinto kāla seja secretado no primeiro dia da menstruação ou o dia em que o fluxo é mais intenso. A associação do calendário lunar e o ciclo menstrual deu origem ao conceito de Deusa Quinze, uma referência direta a deusa Kālī, considerada a forma mais auspiciosa da Śakti. Nesse processo, Deusa Quinze também é o nome dado a Mulher Escarlate, por razões óbvias.

Em um contexto mais apropriado, Grant utiliza a palavra kāla para se referir ao décimo sexto kāla, que ele considera ser o Grande Arcano da magia sexual: a soma total dos valores associados aos outros quinze kālas. Como Grant utiliza o termo kala como um sinônimo geral para as secreções, é possível fazer alguma confusão com essas informações. Isso ocorre porque ele não utilizava a grafia sânscrita correta, que define: kāla como negro ou morto; kalā como descarga menstrual e kala como sêmen. Kalā ainda é um dezesseis avos do diâmetro lunar, e kāla está associado ao conceito de tempo e o planeta Saturno, o que dá uma ideia melhor do entendimento que Grant possuía sobre os kālas. Assim, a palavra kāla no contexto das Trilogias Tifonianas pode ser um sinônimo para negro, morte, descarga menstrual, sêmen, unidade de tempo. A ideia de tempo conecta a palavra kāla ao conceito grego de Cronos ou cronologia.

Existe uma ciência muito sutil por trás da doutrina dos kālas ou secreções vaginais. Dependendo do dia e ciclo lunar que a sacerdotisa se apresenta para o trabalho, o magnetismo e qualidade dos kālas serão afetados. Os hormônios secretados na corrente sanguínea durante o ritual influenciará todo o processo de produção dos kālas. O corpo da sacerdotisa é um laboratório e na medida em que ela conquista níveis avançados em sua iniciação, sensibilidade e discernimento, o laboratório se converte em um templo: suas funções biológicas passam a ter um análogo psicoespiritual que está sob o seu controle – consciente ou inconsciente – durante a operação, quer dizer, ela pode estar em estado de gnose, ocasião em que se tornará oracular, no entanto, por seu treinamento e proficiência em manipular a kuṇḍalinī noscakras, estará apta a responder apropriadamente – mesmo que instintivamente – ao sacerdote.

Outro termo que frequentemente encontramos nas trilogias de Grant e que têm confundido muitos leitores é ojas, que no sânscrito quer dizer vigor, força,poder, energia, luz e ideias cognatas. David Gordon White, eminente estudiosa de religiões comparadas, traduz o termo como fluído vital em sua obra The Alchemical Body: Siddha Traditions in Medieval India. Eu escrevi sobre ojas em Gnose Tifoniana (Vol. I) e Cakra Sādhanā, onde um estudo profundo sobre o termo foi empreendido. Grant utiliza o termo como sinônimo para energia mágica, sendo o resultado natural dos kālas apropriadamente magnetizados. Em outras palavras, os kālas da sacerdotisa em si são considerados magicamente inertes até serem magnetizados pelo sacerdote, quando eles tornam-se saturados por ojas ou energia mágica. O ciclo menstrual – quer dizer, os kālas em seu aspecto físico normal – está conectado aos processos fisiológicos de reprodução. No entanto, quando saturados com energia mágica, os kālas tornam-se ideias para a reprodução da criança mágica, ou seja, um veículo de poder sobrenatural.

A grande mudrā do sistema de magia sexual de Kenneth Grant é a Estela da Revelação onde a deusa Nuit é retratada arqueada sobre a terra. Ele via Nuit arqueada como a contraparte thelêmica de uma postura tântrica para o coito sexual chamada viparita-rati, onde a sacerdotisa senta com a vagina sobre o pênis do sacerdote. Ele chamava essa mudrā de Posição 718. Essa é amudrā simbolicamente retratada nas imagens de Kālī sobre Śiva. Além de ser essa a posição mais ideal para o maithunā, também é a mais adequada para a coleta dos kālas.

No que concerne ao Tantra, Grant estava mais interessado em seu aspecto mágico. E embora ele tenha devotado atenção aos aspectos filosóficos de escolas inidianas como o advaita-vedānta, que influenciou profundamente sua obra – e a de Crowley –, ele ainda menteve o foco na aplicação objetiva do aspecto ritualístico do Tantra. Esse apelo e inclinação a execução cerimonial da magia é o aspecto thelemita de Grant. A cultuta tântrica envove textos sagrados (śāstra), sādhanā (pratica espiritual) e um modo distinto de ver o mundo. O culto thelêmico, por outro lado, pretente ser um movimento espiritual de envergadura global. A abordagem do Tantra é individual, mesmo envolvendo um grupo de pessoas. Thelema, de outra maneira, requer uma abordagem mais ampla, social. Como falei acima, Grant nunca se colocou como uma autoridade em Tantra. Ele utilizou elementos do Tantra dentro da estrutura de Thelema, interpretando muitas passagens do cânone thelêmico nos termos da cultura tântrica e por esse motivo ele via Thelema como o Tantra do Ocidente. Em suas trilogias ele explica inúmeros mitos tântricos no contexto de Thelema. Da mesma maneira, ele interpreta Thelema sob o prisma do Tantra. Na sua visão, Thelema e Tantra são aspectos de uma mesma tradição, a qual ele chama de Tifoniana. Grant declara que o Tantra é o relicário Tifoniano para humanidade.

O que Grant propõe na verdade é uma reiterpretação do Tantra nos termos da Tradição Ocidental de Mistérios, o que seria uma heresia a qualquer tāntrikada Índia. Nesse intuito Grant abraçou a tecnologia espiritual dos Tantras, aplicando a ritualística tântrica nos rituais da Loja Nova Ísis. Seu legado, portanto, é um sistema de magia de aplicação universal com uma linguagem thelêmica.

Trabalhando com o sistema de magia sexual de Kenneth Grant, eu fui capaz de estabelecer um ritual do IX° Grau baseado na Missa Gnóstica de Crowley, o qual denominei O Ritual da Serpente de Fogo. O objetivo deste ritual é a coleta bem sucedida dos kālas da sacerdotisa, secreções vaginais magicamente carregadas com ojas ou energia mágica. O requisito primordial para que este ritual seja bem sucedido é que a sacerdotisa deve ser bem treinada nas técnicas de kuṇḍalinī-yoga, as quais me referi acima. Anexo uma passagem de Gnose Tifoniana (Vol. I) onde esse ritual foi descrito.

Um objetivo do ritual, como mencionei acima, era a produção e coleta bem sucedida dos kālas, as secreções vaginais magicamente carregadas com ojas. O ritual era uma operação altamente complexa, pois os kālas da sacerdotisa estão associados às fases lunares «tithis» e a deidades específicas associadas a cada fase, chamadas de nityas. Um processo altamente meticuloso para alinhar a célula qliphótica, cakra, sandhi e marma, a fase lunar e deidade regente se iniciava para que o processo alquímico do ritual pudesse ser estabelecido com sucesso. Antes de cada ritual Frater Asvk preparava a carta astrológica da operação, quando ele definia a deidade associada à fase lunar e específica ao kāla que a Sacerdotisa Oficiante deveria emitir.
O requisito primordial era que a Sacerdotisa Oficiante pudesse ser uma iniciada capaz de elevar a kuṇḍalinī. Mas nem todas as pessoas estão preparadas a este nível. Como medida paliativa, Frater Asvk insistia que, mesmo que a sacerdotisa não pudesse elevar a kuṇḍalinī por todos os cakras, ela deveria pelo menos ser capaz de liberar o prāṇotthana, a força prânica que desencadeia o despertar real da kuṇḍalinī. Para essa finalidade, a Ordem oferecia um treinamento sistemático em kuṇḍalinī-yoga, sempre direcionado as necessidades e dificuldades pessoais de cada um. Um treinamento tântrico fundamental se iniciava no VII°, o Grau do Mestre do Templo, onde todos recebíamos o Śrī Devī Khaḍgamālā Sādhanā. Esta é uma prática de adoração a Mãe Divina «Śrī Devī» desenvolvida por Frater Asvk para os membros do Círculo Kaula. A palavra khaḍga significa espada e mālā significa guirlanda. A execução deste sādhanā cria uma aura protetora ou guirlanda de espadas sobre o magista. Trata-se de uma jornada através do Śrī Cakra pela recitação dos nomes das 98 yoginīs ou aspectos de devī que «guardam» os pontos de energia do cakra ao longo do caminho.
Qualquer descuido durante a realização da operação poderia resultar em uma prática espiritual predatória, quer dizer, vampirismo. Para evitar isso, todos nós estávamos sempre cientes da proposta e objetivo do ritual, todos em uma mesma corrente de vibração, cientes de todas as implicações mágicas e kármicas.
Às vezes o ritual tinha um contexto todo thelêmico, às vezes era completamente tântrico. Nós executávamos versões diferentes dos rituais thelêmicos tradicionais como o Ritual da Marca da Besta, o Ritual Safira Estrela e o Ritual da Estrela de Sangue. Às vezes o ritual era feito sobre as bases da Bruxaria Therionica e a corrente lunar de Hécate.
Esse ritual sempre era executado por volta da meia noite na primeira noite de Lua Cheia. Em qualquer uma dessas configurações o trono da Sacerdotisa Oficiante ficava no Norte. Isso ocorria porque nesse dia a Lua ficava no quadrante oposto, o Sul, onde ficava o Sacerdote Oficiante. O Sol ficava sobre a sacerdotisa, no Norte. Isso era feito dessa maneira porque o sacerdote assumia a forma divina do deus Candra, transmissor do «néctar da imortalidade», representado astrologicamente pela Lua Cheia. A Sacerdotisa assumia a forma de Sekhmet, a deusa do calor e furor sexual, associada ao Fogo e ao dinamismo da Śakti.
O ápice do ritual ocorria quando o sacerdote precipitava a kuṇḍalinī no corpo da sacerdotisa. O Sacerdote Oficiante executava determinadas mudrās sobre o corpo da sacerdotisa, sem necessariamente tocá-la, fazendo passes magnéticos sobre certas zonas erógenas, às vezes com a Baqueta Mágica e às vezes com as mãos. Nesse momento a sacerdotisa não era sexualmente excitada, evitando o aterramento da energia mágica enquanto mantinha contrações fisiológicas «bandhas» selando e contendo o prāṇa no interior do corpo. Esse estímulo continuava até que a sacerdotisa literalmente tivesse febre. O objetivo desse processo era o despertar da Serpente de Fogo, elevando-a por todos os cakras ao ponto de «queimá-los» a fim de se estimular a produção e secreção de hormônios associados na corrente sanguínea da sacerdotisa. Nesse processo, o sacerdote trazia a sacerdotisa ao ponto do orgasmo, parando momentos antes do clímax. A excitação sexual somente ocorria, através dos procedimentos do VIII° ou IX° Graus, quando a sacerdotisa encontrava-se em dificuldade para atingir o estado de consciência associado ao kāla que deveria produzir. Nesse caso, quando o procedimento era com as técnicas do VIII°, eu e outros acólitos ajudávamos no processo de excitação. Outras vezes, quando o procedimento era através do IX°, então o Sacerdote Oficiante se encarregava de excitar a sacerdotisa. Em qualquer um dos casos, o orgasmo era evitado, pois a energia gerada deve chegar ao ponto de ser carregada magicamente antes de ser liberada na forma de kāla. No momento exato, quando a sacerdotisa chegava ao limite de sua excitação e ao nível de consciência desejado, então o orgasmo era liberado, produzindo o kāla correto associado. O kāla secretado na vulva da sacerdotisa era então coletado pelo sacerdote, às vezes oralmente, na intenção de aumentar seus poderes ocultos ou produzir o contato com forças supramundanas. Às vezes o kāla era coletado sobre talismãs preparados para o objetivo da operação ou em discos de metal alocados sobre os cakras da sacerdotisa durante o ritual. Nas operações, Frater Asvk carregava o ājñā-cakra da sacerdotisa a fim de atrair magneticamente a kuṇḍalinī para sua zona de poder. No último caso, os discos de metal, agora carregados com ojas, eram guardados em um recipiente para serem utilizados depois, em outras operações. Nessas condições os kālas da sacerdotisa eram carregados com a força mágica do ojas, determinando sua eficácia.
Embora a produção dos kālas exigisse uma atenção especial, o objetivo do ritual sempre era a produção da criança mágica. Para isso, a energia masculina é essencial. O fluido seminal do sacerdote é um agente fundamental para o «nascimento mágico». Da mesma maneira que ocorre com os kālas da sacerdotisa, o fluido seminal do sacerdote deve também ser carregado com ojas. O sacerdote deve elevar a kuṇḍalinī por todos os cakras e evitar o orgasmo para não aterrar a energia antes que ela possa ser carregada energeticamente.
Esse é um poderoso ritual de Alquimia Sexual. Na medida em que o executamos, nosso corpo passa por profundas mudanças fisiológicas que se inicia com a secreção de hormônios na corrente sanguínea. Isso altera a respiração, o metabolismo, a qualidade da saliva, do suor, do sêmen e das secreções vaginais. Nessas condições, visões podem ser obtidas. A concentração mantida durante a excitação sexual, seja através do VIII° ou IX° Graus, cria um poderoso estresse psíquico. Em outras palavras, a concentração e o foco mantidos para evitar o orgasmo cria uma reação em cadeia no corpo, fazendo com que suas funções se alterem, abrindo Portais que normalmente estão fechados. Como consequência, o transe é induzido. O resultado do ritual, quer dizer, a Criança Mágica, é visualizado na câmara do ājñā-cakra para que possa ser concebido com estrita economia de meios.


Notas 

[1] Para uma descrição da Tradição Kaula, veja o ensaio Kaula Sādhanā: Uma Doutrina de Mão Esquerda & Sublimação Sexual.
[2] Veja o ensaio Thelema: A Redescoberta da Tradição Sumeriana.
[3] Eu fiz uma tradução desse livro e disponibilizei gratuitamente na internet sob o nome de Aleister Crowley & o Deus Oculto.
[4] Grosche se distanciou da O.T.O. para formar seu próprio grupo também basead nos mesmos mistérios sexuais da O.T.O., a Fraternitas Saturni. Ele e Karl Germer (1885-1962), sucessor direto de Crowley na O.T.O., tiveram alguns problemnas pessoais. O apoio de Grant a Grosche em seuManifesto da Loja Nova Ísis, levou Germer a expulsá-lo da Ordem. Essa expulsão eliminava qualquer possibilidade de Grant reivindicar a liderança da Ordem, por conta de uma carta emergencial lhe conferida por Crowley. Isso levou Grant a fundar sua própria versão da O.T.O. Sobre a história da O.T.O. veja Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O. (Vol. I). Sobre Grant e a Loja Nova Ísis, veja o ensaio A Conexão Curwen.
[5] Veja o livro Cakra Sādhanā: O Despertar da Serpente de Fogo.

A Magia Sexual de Kenneth Grant I



P A R T E  . I .

O sistema de magia sexual delineado neste ensaio foi formulado por Kenneth Grant (1924-2011) para sua própria versão da O.T.O., a qual ele mesmo denominou em 1980 como «O.T.O. Tifoniana», hoje «Ordem Tifoniana». Sua visão do sistema de magia sexual da O.T.O. é bem distinta da visão difundida por seu mestre, Aleister Crowley (1875-1947). Sobre sua interpretação, Grant escreveu:


Crowley também parece ter estado inconsciente que a função real do Qadeshim relacionava-se não a técnica homossexual, mas sim a fórmula aqui discutida. Gerald Massey, antes de Crowley, corretamente avaliou a natureza desta prática em sua elucidação monumental das fases ocultas do pensamento humano em The Natural Genesis, publicado em 1883. Parece portanto altamente provável que a fórmula do Qadeshim envolvia o uso do «vazo impronunciável» que Crowley mal interpretou como o ânus e ao qual ele se referia frequentemente, em conexão com as Operações Mágicas, como p.v.n.
Esta é uma fonte de erro que poderia levar a confusão sem fim se os ocultistas não tivessem em mente a etimologia mágica dos termos empregados. I.e., como sempre, uma chave infalível à natureza dos elementos envolvidos. Considere p.e. a palavra Qesheth, um arco, e Qadosh, aquele que é sagrado ou secreto, i.e. secreção. O arco é um símbolo de Nuit. Em O Livro de Thoth ele é atribuído ao Caminho de Gimel, que por sua vez é atribuída à lua. O título do atu é A Sacerdotisa da Estrela de Prata. Ela é descrita com o arco entre suas coxas. O arco é também o arco-íris, aquela mistura iridescente de kālas que anuncia o dilúvio. Esses são os secretos kālas que o Qadeshim ou as «Prostitutas do Templo» secretam durante as fases de manifestação cíclica. A fórmula era às vezes ideografada como o Olho de Set. Essa era a Estrela de Prata, Sothis, a Estrela da Anunciação. Sua aparição anunciava a inundação do Nilo, o rio cuja rica lama vermelha aluviana literalmente depositava, ou reificava, a terra de Khem (Egito).
Este simbolismo fora explicado em O Renascer da Magia; aqui é necessário somente enfatizar a conexão entre a fase lunar da fórmula e o Olho de Set, conhecido nesta fase como o Hórus «cego», i.e. Horus na escuridão do submundo (Amenta), Hórus em níveis astrais, o Deus que «se manifesta no glamour do transtorno fisiológico».
O antigo saber testemunha a supremacia do p.v.n., não em um sentido anal, mas naquele sentido no qual o Olho de Set é representado pelo kāla lunar de Nuit em suas fases materiais de manifestação como a Mulher Escarlate. Esta fórmula é à base do XIº O.T.O., distinta da prática sodomita com ambos os sexos que – em sua inversão de toda criatividade – relembra as práticas da bruxaria em suas formas mais recentes e degradadas. O genuíno Caminho da Mão Esquerda ou Caminho Retrógrado não envolve práticas não-naturais tais como aquelas que ocasionaram a degeneração dos Mistérios Gregos, mas a utilização da corrente estelar primordial: para consecução mística pela introversão dos sentidos; para consecução mágica pela materialização da vontade-botão formulada em níveis astrais e encarnada no plano de Assiah. Esta é a fórmula do Deus Oculto, Ra-Hoor-Khuit, a Criança Hórus cuja manifestação é tornada possível pela fórmula complementar de Hoor-paar-Kraat, o Horus «cego» cujo poder, ShT (Set), está oculto no veneno da serpente (•), e cujo acesso causa a morte instantânea.
É através da Mulher Escarlate (•), «N», Nun, cujo glifo é o peixe, que Set vibra sua palavra.
A correta interpretação do Rito do Arco-Íris (QShT) e do Rito de Qadosh (QDSh) – i.e. o Olho de Set conforme distinto do Olho de Hórus – deve ser buscada neste simbolismo. Existe uma Deusa Asiática chamada Katesh, Qatesh. Ela é representada de pé sobre uma leoa, carregando em sua mão direita um laço com flores, e em sua mão esquerda duas serpentes. A leoa é Sekhet, típica do calor sexual, representada pelas letras Shin e Teth (ShT); o laço ou anel, as flores e serpentes, são ideogramas da letra Qoph que significa literalmente «a parte de trás da cabeça», que é a sede das energias sexuais no homem. Qoph é atribuída a Chave do Tarot intitulada A Lua; é o aspecto lunar da energia sexual que é representada pelo QTSh ou Qatesh, a Deusa cujo nome retoma sua natureza mística.
Este simbolismo revela a fórmula do XI° O.T.O., que é o reverso e complemento do rito do IX°. Ela não envolve a utilização sodomita do sexo, conforme Crowley supôs, mas o uso da Corrente lunar como indicado em seus Diários Mágicos pela frase El. Rub. (Elixir Rubeus).
Os antigos Mistérios Draconianos do Egito sobre os quais o Culto de Shaitan-Aiwass é em última análise baseado mantêm silêncio em relação a qualquer fórmula sodomita exceto como uma perversão da prática mágica. Nesta Tradição – a mais antiga do mundo – Hórus e Set originalmente representavam o Norte e o Sul; o calor de Set era simbolizado pelo escurecimento ou o crepúsculo do poder do sol no sul, também por Sothis, a Estrela que anunciava a inundação periódica do Nilo, misticamente representado como um fenômeno dos Mistérios Femininos. A lama vermelha, a inundação, o Hórus «cego», o Osíris envolto em ataduras, o sol chorando ou eclipsado, todos eram igualmente simbólicos do ciclo periódico da natureza feminina. Set, como o assento, não simbolizava a fundação literal, mas a fundação no sentido lunar e yesódico do fluxo fisiológico que é a verdadeira base da manifestação e estabilidade. Similarmente, o simbolismo retrógrado da paródia medieval destes Mistérios antigos, com os assim chamados Sabbath das Bruxas e os obscaenum, eram uma referencia ainda possível de se interpretar a fórmula lunar. A má-interpretação destes Mistérios nos termos da sodomia é, para o iniciado, tanto uma perversão da doutrina (e como tal, uma blasfêmia sacramental) quanto o recitar de trás para frente o Pai Nosso e a violação ou profanação do sacramento do Cristianismo ortodoxo.

Para formular seu sistema de magia sexual, Kenneth Grant se baseou no Tantra, provendo um novo entendimento na formula mágica do Soberano Santuário da Gnose. A magia sexual de Aleister Crowley se baseava na tradição da Qabalah, nos Mitos do Santo Graal e na Alquimia operativa. Alinhando as ideias de Crowley com a visão do Tantra, Kenneth Grant desassociou a magia homossexual – magia sexual entre parceiros do mesmo sexo – das técnicas do Soberano Santuário da Gnose, dando ênfase ao papel da sacerdotisa nos rituais.

Para uma compreensão mais ampla da influência do Tantra na prática de magia sexual formulada por Kenneth Grant, é necessário tecer algumas palavras sobre suas ideias acerca da fecundação de uma nova prole ou raça de seres através do intercurso sexual com criaturas espirituais e suas ideias acerca daquilo que ele denominou em suas Trilogias Tifonianas como Círculo Kaula.

Thelemitas em geral estão familiarizados com o tema magia sexual e com o conceito de sexualidade sagrada ou sexialidade ritualizada. Neste caminho, eles não estão longe das ideias de algumas seitas gnósticas, escolas tântricas de mão esquerda (vāmācāra) e alguns seguimentos budistas do Nepal e Tibete. Para Kenneth Grant isso foi uma revelação na qual ele se apoiou para aplicar a filosofia thelêmica em um contexto mais amplo e heterodoxo. Esse conhecimento associado à Gnose do Necronomicon foi o combustível que alimentou as Operações Mágicas da Loja Nova-Ísis, que operou de 1955 a 1962.

Os conflitos que agora assolam o mundo são devido às dores do parto do Aeon de Hórus. Métodos sexuais de se estabelecer contatos com entidades mais evoluídas do que os homens serão aperfeiçoados e já existem sinais de seu desenvolvimento.

Como a Filosofia de Thelema, algumas seitas gnósticas também promulgavam uma visão positiva acerca da união sexual na intenção de reificar as emanações divinas no plano dos discos. Para eles, a união sexual era a representação física dos syzygies, pares macho-fêmea da primeira manifestação do Pai, o que eventualmente resultou na criação como a conhecemos. Essas seitas gnósticas eram descritas como difusoras de sexo licencioso como a imitação do ato de criação. Segundo o historiador April D. DeConick, os gnósticos possuíam uma visão bem distina da sexualidade:

Para os Gnósticos a união conjugal humana é critiva, no entanto, algumas uniões produzem uma prole de tipo superior. A união sexual de tipo superior envolve um tipo distinto de consciência durante o coito, o que garante que a criança produzida seja uma cópia de Deus. O coito não é dirigido ou impulsionado pela luxúria, mas uma questão de Vontade e Intensão.

Nas palavras do Culto Theriônico, amor sob vontade. DeConick continua:

O coito não segue o caminho da luxúria (epithumia), mas ao invés disso, os Gnósticos ensinavam que a Vontade deve ser dirigida a uma finalidade. As Crianças nascidas desse tipo de coito não eram filhas da luxúria, mas filhas da Vontade (thelematos).

Kenneth Grant acreditava veemente nessa visão e como os gnósticos do passado, seguindo os passos de seu mestre Aleister Crowley, ele não via finalidade na atividade sexual corriqueira. Para Grant o sexo casual produzia crianças defeituosas, abortos qliphóticos que drenam a energia humana. Ele se baseia na premissa de que nenhuma causa pode ser impedida de seu efeito. Qualquer descarga de energia, de qualquer natureza, tem um efeito em todos os planos. E se por algum motivo os resultados em um plano são impedidos, eles se manifestam em outro. A descarga de energia nunca é perdida e ela forma uma imagem astral da ideia dominante na mente no clímax da cópula. A expansão da consciência produzida por um orgasmo magicamente controlado projeta no astral a imagem produzida pela mente. Na mente ordinária, essa ideia é geralmente uma imagem luxuriosa. Isso cria uma tendência, um hábito «saṃskāra» que se fixa na mente. Consequentemente isso se torna cada vez mais difícil de controlar. Os membros da O.T.O. são treinados em erradicar essa tendência negativa antes de serem admitidos aoSoberano Santuário da Ordem, pois somente um adepto pode manipular com impunidade a corrente sexual e administrar com sabedoria as volições da Serpente de Fogo. Se o buscador despreparado se aventura nesse terreno perigoso, sua prole mágica será, sem sombra de dúvida, uma horda de obsessores dos mais variados tipos. O abuso e a execução deliberada desse Mistério engendra entidades qliphóticas, fantasmas compostos de matéria tênue que dominam a estrutura psíquica e se alimentam de fluídos nervosos.

A magia sexual, portanto, trata-se do processo de dar vida a uma criança mágica de tipo superior. O coito não é direcionado pelos impulsos volitivos da satisfação pessoal ou ímpeto luxurioso. Este é, por si só, um requerimento que evita a profanação do templo.

Essa ideia não está muito longe do conceito qabalista de se comemorar o Sabbath com o intercurso sexual na finalidade auxiliar os «cacos» - os destroços das Sephiroth como resultado da tentativa estranhamente fracassada da Criação – reunindo-os e redimindo-os em si mesmo e por extensão no mundo para que a Shekinah possa se reunir com seu Noivo. Esses cacos são o Reino dos Qliphoth e Crowley escreveu um estranho e enigmático documento sobre o tema, Liber 231. Esse documento chamou a atenção de Grant que empreendeu pesquisas experimentais sobre ele como pano de fundo para inúmeros rituais da Loja Nova Ísis. Liber 231 é um diagrama dos Túneis de Seth: os Caminhos da Árvore da Morte, o lado noturno da Árvore da Vida. Voltaremos ao Liber 231 ainda nessa introdução.
A fim de compreendermos os rituais de magia sexual executados na Loja Nova Ísis e seus afiliados é preciso desconstruir a atividade sexual, reduzindo-a a seus componentes psicobiológicos. O aspecto grosseiro do coito – os fluídos corporais mais especificamente – são entendidos como um talismã que carrega um poder de influência etérea e mais sutil.

No entanto, isso de nada adiantará se os participantes não estiverem preparados para o ritual. O Mestre Nodens – nome utilizado por Kenneth Grant como Alto-Sacerdote da Loja Nova Ísis – acreditava que todos os participantes deveriam ser bem treinados nas técnicas do kuṇḍalinī-yogacomo o uso adequado da respiração (prāṇāyāma), postura (āsana) e meditação yogī para dirigir o fluxo de prāṇa nas nāḍīs e a elevação da Serpente de Fogo. Este era um requerimento básico, do contrário os rituais seriam apenas um engodo, gestos vazios incapazes de transcender os padrões da mente ordinária. A habilidade em se manter a concentração da mente nas funções física e psicosexual é a chave do sucesso nesse tipo de abordagem ritual. Trata-se de um processo de equilíbrio entre as funções naturais do corpo e suas reações e o esforço no controle da mente sobre essas mesmas funções. O processo torna-se mais difícil pois é requerido que o parceiro ou parceira tenha o mesmo nível de controle e estabilidade da mente. Caso contrário, existe o perigo de que uma vampirização ocorra, sempre por parte daquele mais proficiente no controle das funções da mente.

Um dos requerimentos essenciais para o sucesso em operações de magia sexual é a habilidade de se controlar conscientemente as funções do sistema nervoso autônomo, representadas pelo cérebro reptiliano. Nos termos dokuṇḍalinī-yoga, esse processo trata-se do encontro de prāṇa e apāna na região de samāna-vāyu, no agni-maṇḍala, quando ocorre a explosão interna que libera a a kuṇḍalinī a subir do mūlādhāra ao sahasrāra-cakra. Esse processo é executado através da execução de certos bandhas – contrações musculares que retêm o prāṇa dentro da suṣumnā-nāḍī – e mudrās – posturas corporais – que dão direção a energia.

No sistema de magia sexual formulado por Kenneth Grant, o acróstico «O.T.O.» tem mais relevância como uma fórmula mágica do que uma tradição espiritual. Este acróstico deriva-se do nome Ordo Templi Orientis, organizão espiritual fundada no início do Séc. XX e cujo ensinamento central é a prática sexual ritualizada. Kenneth Grant foi admitido no IX° O.T.O. em 1946. Os Graus superiores da O.T.O. envolvem a prática da magia sexual. Popularmente – e errôneamente – o VIII° Grau lida com práticas autoeróticas, o IX° lida com o coito heretossexual e o XI° lida com o coito homossexual. Mas Grant modificou toda a estrutura. Em Gnose Tifoniana (Vol. III) eu delineei um quadro explicativo:


Grau
Divisão
Método
Descrição






























VIIIº

VIII°
Sacerdote (solitário)
Para Ritos que envolvem Consagração.





VIII°
VIII°(-)


Sacerdotisa (solitária)
Para Ritos que envolvem Consagração.
Para consagração de talismãs e materialização de novos parceiros (pela atração) como oposta à consagração de idéias ou projetos, a corrente lunar é empregada.

VIII°
Sacerdotisa pelo Sacerdote
Via língua para indução de Transe, Visão.

VIII°(2)
Sacerdotisa pelo Sacerdote
Via mãos para indução de Êxtase, Oráculos.

VIII°
Sacerdote pela Sacerdotisa
Via boca nutrição mágica e revigoramento sexual.

VIII°(2)
Sacerdote pela Sacerdotisa
Via mãos para energização do corpo, glamour mágico-sexual e atração.



VIII°(+)

Sacerdote (solitário)
(Besta Terrestre): com a utilização de máscaras animalescas para operações de licantropia e a reencarnação de atavismos.



VIII°(-)

Sacerdotisa (solitária)
(Feitiçaria Oceânica): com máscaras animalescas para operações de feitiçaria e o lançamento de ilusões.






IX°


IX°(+)
Sacerdote e Sacerdotisa
(Supernal de dia): congresso natural para Operações de Criação, Intuição e Inspiração.



IX°(-)

Sacerdote e Sacerdotisa
(Infernal à noite): congresso não-natural para Operações de Zumbeísmo, Postura da Morte e Controle Onírico.


XI°


XI°
Sacerdote e Sacerdotisa
Durante o eclipse da lua para Operações de materialização e reificação.


A criação de uma prole mágica, superior, reside nos Mistérios do IX° Grau, o Casamento Alquímico como sempre é referido. Grant diz:

A vergonha impingida aos Yezidis como adoradores do demônio nasceu da noção do congresso entre entidades humanas e não-humanas; Seres angélicos são a prole deste casamento medonho.

Mas isso não ocorre apenas entre os Yezides do deserto. Os rituais do Círculo Kaula que tanto inflamaram a imaginação de Grant tratam da união sexual entre deuses, não entre seres humanos. Ambos, sacerdote e sacerdotisa – imbuídos da consciência mágica promovida pela assunção das formas divinas – se unem em um casamento místico de proporções alquímicas. Neste estado – e não antes dele – sacerdote e sacerdotisa se abraçam em maithunā, o enlance de amor.

A prática ritualística sob a designação de tantra-vāmācāra envolve o intercurso com entidades prater-humanas, que dizer, que estão muito além da consciência humana, para a produação de uma criança mágica de tipo superior. Eu tenho falado bastante sobre a cultura tântrica. O presente espaço nos dá a oportunidade de avaliar o Tantra e seus conceitos como tratados por Grant em suas trilogias.

Em suas Trilogias Tifonianas, Kenneth Grant faz inúmeras observações acerca do Tantra de Mão Esquerda ou vāmācāra, aos fluídos corporais secretados por sacerdote e sacerdotisa na ocasião da Operação Mágica e a importância do ciclo mesntrual na execução dos rituais. Na sua visão, a Corrente Ofidiana canalizada através dos rituais de magia sexual é capaz de deslacrar portais ocultos para outras dimensões, outros caminhos por trás da Árvore da Vida.

O universo é o corpo da Deusa. Pensando nesse ditado tântrico Grant dava muita atenção ao ciclo lunar da sacerdotisa, mais adequado para as operações de magia sexual. Isso envolve um conhecimento profundo de astologia e astronomia. Quando ele executava rituais psicosexuais com a Gnose do Necronomicon, muita atenção era dada ao movimento das estrelas e posição das contelações. Compreender os movimentos dos astros é parte fundamental no sistema de magia sexual de Kenneth Grant pois o universo é somente a extensão macrocósmica do organismo e o movimento das estrelas são representados no corpo como a dança das secreções.

É portanto possível equacionar os campos de força (a kuṇḍalinī nos cakras) com as forças planetárias e estelares. [...] É possível canalizar a energia estelar ou trans-mundana usando o organismo humano como um condensador. Isso é alcançado explorando-se as zonas de poder apropriadas, após a kuṇḍalinī ter sido animada e magnetizada.

O Círculo Kaula, citado amplamente por Kenneth Grant em suas Trilogias Tifonianas, é famoso entre os entusiastas da cultura tântrica e principalmente entre os praticantes de neotantrismo. Na literatura ocultista vulgar, o Círculo Kaula é descrito como um culto exótico cujas práticas envolvem o conúbio sexual em grupo em crematórios e cemitérios. A palavra kaula deriva de kula, que significa grupo, família ou clã. O Tantra é uma tradição que nasceu no contexto de clãs organizados, famílias praticantes que trabalhavam em cima de escrituras (śāstra) próprias, quer dizer, grimórios de magia recebidos pela Alta-Sacerdotisa, geralmente a esposa do Guru ou as suvasinīs, ajudantes da Alta-Sacerdotisa, muitas vezes as filhas do casal ou mulheres de fora da família, as dūtīs, que desempenhavam o papel de sacerdotisas auxiliares. Nesse sistema, o Tantra cresceu e floresceu, ganhando linhas distintas de sucessão, criando assim uma grande rede de escolas de iniciação, muitas vezes com a psicologia, mitologia e filosofia distinta de outras escolas.



Magia Sexual Gnóstica



O nome Sacerdote de Aether diz respeito um grau de iniciação espiritual ligado aos Mistérios Sexuais da Ordem do Lotus Negro (O.L.N). Essa iniciação só pode ser conferida pelo próprio magista que, através de seus esforços, prova a si mesmo que atingiu o grau de consecução espiritual que o habilita a utilizar este título.
Este é o primeiro de uma série de artigos onde iremos explorar os segredos da Magia Sexual. Na Tradição dos Mistérios esse aspecto da Magia envolve o uso da energia sexual como fonte de poder que pode ser usado para atingir objetivos mágicos, místicos ou espirituais.
A Natureza nos oferece uma grande quantidade de energias e uma que combina a facilidade de acesso aliado a um grande poder é a energia sexual. Entretanto a facilidade de acesso não significa facilidade de uso, todo aprendizado requer sacrifício, perseverança e paciência.
A premissa fundamental da magia sexual é o conceito de que a energia sexual, ou libido, do organismo humano é a força mais poderosa que podemos manipular e que algumas práticas ocultas podem acumular, direcionar ou modificar esta energia de modo a atingir objetivos pré-determinados. Embora possa parecer obvio é importante lembrar que a Magia Sexual é o uso do sexo como uma ferramenta a favor da magia e não a magia como uma ferramenta a favor do sexo.

Fraternidade de Eulis

Os conhecimentos dos Sacerdotes de Aether sobre este tema derivam de fontes diferentes. Uma fonte de inspiração permanente é o trabalho de Paschal Beverly Randolph (1825-1875), um rosa-cruz e ocultista estadunidense iniciado nas seitas tântricas da Síria e da Birmânia.
Randolph era médico, mulato, político liberal e ficou conhecido como a primeira pessoa a revelar a doutrina sexual dos rosa cruzes na América do Norte. Apaixonado desde a infância por ilusionismo e magia, ele foi, numa das suas viagens à Síria, um dos primeiros ocidentais a serem iniciados nos ritos secretos dos ansariehs. Randolph faleceu precocemente à idade de 48 anos, ainda assim até hoje ele é fonte de inspiração para todos que se interessam pelo uso da energia sexual para fins magísticos e espirituais.
Randolph foi amigo pessoal de Eliphas Levi e de Abrahan Lincoln. Ele fundou em 1870 a Eulis Brotherhood (Fraternidade de Eulis) uma fraternidade rosacruz com base na doutrina esotérica da polaridade sexual.
Tendo viajado bastante Randolph estava ligado às correntes iniciáticas orientais, entretanto seu método de magia sexual era eclético e podemos observar influências sufis (esoterismo islâmico), misticismo tibetano, astrologia e espiritismo kardecista além de práticas mágicas gnósticas.
Randolph acreditava numa Presença Inteligente, no poder e na força que refletia no Universo através do Espelho (Akáshico) da Natureza onde passado, presente e futuro se fundem continuamente. Ele afirmava que existem inteligências incorpóreas que habitam outras dimensões do espaço infinito, além das três que conhecemos.
Randolph acreditava (assim como hoje alguns teóricos da física ) que existem mundos paralelos ao nosso Universo e que uma Presença Suprema e diversos seres espirituais habitam esses mundos, aos quais o homem ainda não encontrou meios de acessá-los. Estes mundos são esferas espaciais fluídicas, energéticas e mesmo semi-materiais ao qual apenas aos iniciados foi dada a felicidade de contemplação. Esses mundos, lembra ele, se estendem para o infinito, "povoados de belezas ofuscantes, ornados de nuvens e constelações insensatas, de paisagens sem limite."
Randolph dizia que o iniciado pode ter acesso às dimensões habitadas pelos seres invisíveis e confirmar suas existências através das técnicas cerimoniais e sexuais da Alta Magia.
Assim o contato com outras esferas de vida e consciência é possível, pois estes estão submetidos à certas leis naturais que regem o Universo invisível. A tradição ocultista assevera que existe um sistema de correspondências entre as esferas espaciais, os planetas de nosso sistema solar e os chakras, os centros de energia do corpo sutil. Os planetas trocam energia a todos os instantes com o nossos corpos sutis, aura e chakras. Não estamos fora do Universo, o Universo não está acima de nossas cabeças. Nós fazemos parte do Universo.
O homem é, por assim dizer, um reflexo em miniatura do Universo e até mesmo os seres que habitam os céus também são formados de matéria. Na verdade tudo que existe é matéria em diversos graus de densidade. Nada é puramente “espiritual” no sentido de imaterial. Até mesmo os anjos e demônios – que conceituamos como seres “espirituais” – também são formados de matéria em suas diversas formas. Muitos dos seres ditos “espirituais” possuem forma corpórea feita de uma matéria sutil e “invisível”.

Técnicas de Magia Sexual

Para Randolph apenas o transe mediúnico, ou os meios intelectuais normais, seriam insuficientes para elevar o homem aos planos superiores da Consciência Cósmica.
Um de seus métodos envolvia o uso de espelhos mágicos, magneticamente carregados nos ritos sexuais, para desenvolver a clarividência, lançar encantamentos e como um portal para o intercurso com entidades extradimensionais. 
Através das técnicas de sexo ritual, decretos mágicos, exaltação da consciência (método tibetano chamado sialam), e envultamentos o iniciado podia evocar as imagens desses seres poderosos no espelho negro e obter deles conhecimentos e poderes sobre-humanos.
Acredita-se que com o tempo e prática um iniciado podia contatar um ser de alta hierarquia espiritual e unir-se simbioticamente a Ele para aprender e evoluir. Os tibetanos chamam isso de Tulkuísmo. A consciência de um Ser dos planos interiores prolonga-se na mente de seus "Tulkus", seus mensageiros.

A Doutrina da Polaridade Sexual

Os fluidos sexuais do macho e da fêmea possuem nutrientes tanto físicos quanto para-físicos que, devidamente ativados dentro de um contexto ritualístico, transforma-se em uma poderosa substância que pode ser utilizada para diversos fins tais como ungir e carregar talismãs, amuletos e sigilos, assim como eligires sacramentados para a força e a saúde do magista. Podem ser usados também como oferenda de assentamento para diversas entidades astrais que utilizam esses fluidos para precipitarem efeitos no plano físico.
Os textos alquímico-herméticos do ocidente os fluidos sexuais femininos são chamados de “Leão Vermelho” (o Enxofre Alquímico) e as secreções masculinas como a “Águia Branca” (O Sal Alquímico). A resultante da combinação desses fluidos é simbolizada pelo Mercúrio Alquímico. Já segundo Aleister Crowley em seu livro “Magick in Theory & Practice”, estes fluidos, quando combinados formam uma substância conhecida como Amrita. Esta substância forma a base de muitos trabalhos mágikos, e é também conhecida como a “Pedra Filosofal“.
Os ritos sexuais de Alta Magia frequentemente envolvem a união física entre o sacerdote e a sacerdotisa. Em outro momentos essa união física é irrelevante e pode-se invocar os poderes superiores com a simples tensão polarizada entre os sexos, que por si mesma é o suficiente para abrir um portal dimensional através do qual forças e entidades são atraídas à manifestação.
Seja de uma forma ou de outra a base metafísica desses ritos baseiam-se na doutrina da polaridade sexual que é de perspectiva tântrica. Essa doutrina nos ensina que quando os dois sexos estão unidos eles canalizam as forças duais do Universo, que devem ser descritas como positivas e negativas; os pólos dos pares opostos entre os quais se teceu a urdidura do Universo. Uma regra básica dessa doutrina ensina que quando há polaridade de sexos num templo, a sacerdotisa traz o poder para dentro e o sacerdote o dirige. O sacerdote é a a corrente positiva-solar da Vontade e a sacerdotisa a corrente negativa-lunar da Imaginação. Ainda que no plano e no corpo físico, o homem canaliza as forças vitais positivas, e a mulher as negativas, a posição fica invertida no Plano Astral. Neste plano a mulher é positiva e o homem negativo.
A doutrina da polaridade sexual incorpora os Mistérios da “Serpente de Fogo" , a Kundalini dos hindus onde a sacerdotisa é investida dos poderes de Adi-Shakti (a Deusa Primordial), que é a fonte de tudo, o princípio universal de energia, poder ou criatividade.
A sacerdotisa é a Taça Gloriosa ou Graal que recebe o Poder Elemental do Terceiro Logos ou Espírito Santo (a Kundalini Cósmica). Ela é um receptáculo dos poderes da Deusa Mãe do Mundo conhecida nas culturas arcaicas como Ashera, Isís Urânia, Afrodite Celeste entre muitos outros nomes. E é assim que na condição um Espelho Mágico do Cosmos a sacerdotisa reflete as imagens dos Mundos Superiores, transmitindo visões e sons percebidos apenas por ela.

A Fórmula I.A.O

Esta é a fórmula que acompanha a doutrina da polaridade sexual. Sua origem atual tem roupagem egípcia mas sua aplicação é universal dentro dos ritos de polaridade sexual.
Aplicada na Magia Sexual a Fórmula IAO baseia-se no princípio que os dois sexos canalizam as forças duais da natureza, que devem ser descritas como positivas e negativas (Shiva e Shakty)
 Nos ritos de magia sexual quando se produz a união entre o masculino (solar-positivo) e o feminino (lunar-negativo), o casal abre um Portal espacial para que a energia gerada possa fluir através deles com tremendo poder. A energia assim canalizada pode ser direcionada para fins místicos ou mágicos. Quando místico significa que ela pode ser utilizada para fins iluminatórios ( canalizar ensinamentos, exploração astral etc) ao passo que mágico visa trabalhos de resultados materiais (saúde, prosperidade etc.)
A Fórmula IAO então simboliza as potências ativa e passiva – I e O – unidas por “A” (Apófis), a energia criativa e magnética que cria ao unir as coisas. Em termos egípcios a Corrente Negativa-Lunar simbolizada pela Deusa Ísis ( I ), cujas raízes encontram-se em Binah e a Corrente Positiva-Solar simbolizado por Osíris (O), cujas raízes encontram-se em Chokmah unem-se sexualmente fazendo surgir o êxtase criativo em Daath (Apófís ou Amenta). A energia sexual então é transferida para qualquer uma das sephiroth abaixo do abismo, causando mudança (magia) em conformidade com a Vontade. Em termos de mitologia egípcia Ísis e Osíris eram irmãos gêmeos, que mantinham relações sexuais ainda no ventre da mãe Nuit (a deusa da noite) desta união nasceu o Hórus-mais-velho, a Luz do Mundo.

Talismãs, Oferendas e Intercurso Sexual com Entidades Astrais

No organismo físico, o controle das correntes eletro-magnéticas do Sexo implicam a inibição dos usuais resultados do orgasmo. Ou seja: na Magia Sexual a libido não é atirada a terra, mas é magicamente dirigida para encarnar em uma forma especialmente preparada para a sua recepção, por exemplo: um talismã, um sigilo, um yantra, o selo de um espírito ou qualquer outro veículo para a força astral invocada.
A Magia Sexual é dividida em duas grandes partes: excitação para sublimação e excitação para o orgasmo. Com a sublimação você domina a energia da excitação e a faz girar para dentro e para cima, através dos níveis de densidade, até induzir o transe visionário.
Já na excitação para o orgasmo você obtém a energia da excitação, gira-a para fora e para baixo, em direção a Malkut, até manifestar sua Verdadeira Vontade, por meio da intenção da Obra específica que está executando. Além de sua própria potência, os fluidos sexuais trazem o poder dos chakras neles contidos, fornecendo uma soberba substância para ungir e carregar objetos mágicos como talismãs, amuletos e sigilos, assim como eligires sacramentados para a força e a saúde do magista.
Por isso a necessidade de talismãs, sigilos ou objetos que sirvam para estabelecer um Elo Mágico com o plano físico e “aterrar” o êxtase energético (mana-orenda). Aliás, o sucesso na criação de um Filho Mágico (resultado da magia sexual) vai depender muito de habilidade do iniciado (seja homem ou mulher) de concentrar-se mental, emocional e astralmente no seu símbolo, durante o desenvolvimento do ato sexual, seja este símbolo um sigilo, forma-deus ou imagem final do resultado pretendido.
Mesmo quando o ato sexual é realizado de forma solitária (sem a presença de um parceiro) a doutrina da polaridade sexual ainda está presente pois o iniciado sempre invoca uma força espiritual para efetivar o trabalho mágico. Assim é que o iniciado pode, por exemplo, se oferecer em prazer para uma divindade, anjo ou demônio que tenha relação com aquilo que deseja obter com sua magia. Neste método ele então invoca a entidade para dentro de seu corpo (assunção de formas astrais) e depois oferece a mesma a alegria de seu próprio prazer, permitindo que Ele/Ela o experimente na sua carne.
Na Magia sexual o sangue é muitas vezes substituído pelo sêmen masculino ou feminino como forma de oferenda as divindades e as entidades astrais. Isso remonta práticas antigas de origem pagã onde muitas vezes onde o sangue mestrual, chamado de sangue da Lua, era utilizado em cerimônias de iniciação, e rituais mágicos, que visavam atrair as almas dos antepassados de volta a seu clã.