quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A Magia Sexual de Kenneth Grant I



P A R T E  . I .

O sistema de magia sexual delineado neste ensaio foi formulado por Kenneth Grant (1924-2011) para sua própria versão da O.T.O., a qual ele mesmo denominou em 1980 como «O.T.O. Tifoniana», hoje «Ordem Tifoniana». Sua visão do sistema de magia sexual da O.T.O. é bem distinta da visão difundida por seu mestre, Aleister Crowley (1875-1947). Sobre sua interpretação, Grant escreveu:


Crowley também parece ter estado inconsciente que a função real do Qadeshim relacionava-se não a técnica homossexual, mas sim a fórmula aqui discutida. Gerald Massey, antes de Crowley, corretamente avaliou a natureza desta prática em sua elucidação monumental das fases ocultas do pensamento humano em The Natural Genesis, publicado em 1883. Parece portanto altamente provável que a fórmula do Qadeshim envolvia o uso do «vazo impronunciável» que Crowley mal interpretou como o ânus e ao qual ele se referia frequentemente, em conexão com as Operações Mágicas, como p.v.n.
Esta é uma fonte de erro que poderia levar a confusão sem fim se os ocultistas não tivessem em mente a etimologia mágica dos termos empregados. I.e., como sempre, uma chave infalível à natureza dos elementos envolvidos. Considere p.e. a palavra Qesheth, um arco, e Qadosh, aquele que é sagrado ou secreto, i.e. secreção. O arco é um símbolo de Nuit. Em O Livro de Thoth ele é atribuído ao Caminho de Gimel, que por sua vez é atribuída à lua. O título do atu é A Sacerdotisa da Estrela de Prata. Ela é descrita com o arco entre suas coxas. O arco é também o arco-íris, aquela mistura iridescente de kālas que anuncia o dilúvio. Esses são os secretos kālas que o Qadeshim ou as «Prostitutas do Templo» secretam durante as fases de manifestação cíclica. A fórmula era às vezes ideografada como o Olho de Set. Essa era a Estrela de Prata, Sothis, a Estrela da Anunciação. Sua aparição anunciava a inundação do Nilo, o rio cuja rica lama vermelha aluviana literalmente depositava, ou reificava, a terra de Khem (Egito).
Este simbolismo fora explicado em O Renascer da Magia; aqui é necessário somente enfatizar a conexão entre a fase lunar da fórmula e o Olho de Set, conhecido nesta fase como o Hórus «cego», i.e. Horus na escuridão do submundo (Amenta), Hórus em níveis astrais, o Deus que «se manifesta no glamour do transtorno fisiológico».
O antigo saber testemunha a supremacia do p.v.n., não em um sentido anal, mas naquele sentido no qual o Olho de Set é representado pelo kāla lunar de Nuit em suas fases materiais de manifestação como a Mulher Escarlate. Esta fórmula é à base do XIº O.T.O., distinta da prática sodomita com ambos os sexos que – em sua inversão de toda criatividade – relembra as práticas da bruxaria em suas formas mais recentes e degradadas. O genuíno Caminho da Mão Esquerda ou Caminho Retrógrado não envolve práticas não-naturais tais como aquelas que ocasionaram a degeneração dos Mistérios Gregos, mas a utilização da corrente estelar primordial: para consecução mística pela introversão dos sentidos; para consecução mágica pela materialização da vontade-botão formulada em níveis astrais e encarnada no plano de Assiah. Esta é a fórmula do Deus Oculto, Ra-Hoor-Khuit, a Criança Hórus cuja manifestação é tornada possível pela fórmula complementar de Hoor-paar-Kraat, o Horus «cego» cujo poder, ShT (Set), está oculto no veneno da serpente (•), e cujo acesso causa a morte instantânea.
É através da Mulher Escarlate (•), «N», Nun, cujo glifo é o peixe, que Set vibra sua palavra.
A correta interpretação do Rito do Arco-Íris (QShT) e do Rito de Qadosh (QDSh) – i.e. o Olho de Set conforme distinto do Olho de Hórus – deve ser buscada neste simbolismo. Existe uma Deusa Asiática chamada Katesh, Qatesh. Ela é representada de pé sobre uma leoa, carregando em sua mão direita um laço com flores, e em sua mão esquerda duas serpentes. A leoa é Sekhet, típica do calor sexual, representada pelas letras Shin e Teth (ShT); o laço ou anel, as flores e serpentes, são ideogramas da letra Qoph que significa literalmente «a parte de trás da cabeça», que é a sede das energias sexuais no homem. Qoph é atribuída a Chave do Tarot intitulada A Lua; é o aspecto lunar da energia sexual que é representada pelo QTSh ou Qatesh, a Deusa cujo nome retoma sua natureza mística.
Este simbolismo revela a fórmula do XI° O.T.O., que é o reverso e complemento do rito do IX°. Ela não envolve a utilização sodomita do sexo, conforme Crowley supôs, mas o uso da Corrente lunar como indicado em seus Diários Mágicos pela frase El. Rub. (Elixir Rubeus).
Os antigos Mistérios Draconianos do Egito sobre os quais o Culto de Shaitan-Aiwass é em última análise baseado mantêm silêncio em relação a qualquer fórmula sodomita exceto como uma perversão da prática mágica. Nesta Tradição – a mais antiga do mundo – Hórus e Set originalmente representavam o Norte e o Sul; o calor de Set era simbolizado pelo escurecimento ou o crepúsculo do poder do sol no sul, também por Sothis, a Estrela que anunciava a inundação periódica do Nilo, misticamente representado como um fenômeno dos Mistérios Femininos. A lama vermelha, a inundação, o Hórus «cego», o Osíris envolto em ataduras, o sol chorando ou eclipsado, todos eram igualmente simbólicos do ciclo periódico da natureza feminina. Set, como o assento, não simbolizava a fundação literal, mas a fundação no sentido lunar e yesódico do fluxo fisiológico que é a verdadeira base da manifestação e estabilidade. Similarmente, o simbolismo retrógrado da paródia medieval destes Mistérios antigos, com os assim chamados Sabbath das Bruxas e os obscaenum, eram uma referencia ainda possível de se interpretar a fórmula lunar. A má-interpretação destes Mistérios nos termos da sodomia é, para o iniciado, tanto uma perversão da doutrina (e como tal, uma blasfêmia sacramental) quanto o recitar de trás para frente o Pai Nosso e a violação ou profanação do sacramento do Cristianismo ortodoxo.

Para formular seu sistema de magia sexual, Kenneth Grant se baseou no Tantra, provendo um novo entendimento na formula mágica do Soberano Santuário da Gnose. A magia sexual de Aleister Crowley se baseava na tradição da Qabalah, nos Mitos do Santo Graal e na Alquimia operativa. Alinhando as ideias de Crowley com a visão do Tantra, Kenneth Grant desassociou a magia homossexual – magia sexual entre parceiros do mesmo sexo – das técnicas do Soberano Santuário da Gnose, dando ênfase ao papel da sacerdotisa nos rituais.

Para uma compreensão mais ampla da influência do Tantra na prática de magia sexual formulada por Kenneth Grant, é necessário tecer algumas palavras sobre suas ideias acerca da fecundação de uma nova prole ou raça de seres através do intercurso sexual com criaturas espirituais e suas ideias acerca daquilo que ele denominou em suas Trilogias Tifonianas como Círculo Kaula.

Thelemitas em geral estão familiarizados com o tema magia sexual e com o conceito de sexualidade sagrada ou sexialidade ritualizada. Neste caminho, eles não estão longe das ideias de algumas seitas gnósticas, escolas tântricas de mão esquerda (vāmācāra) e alguns seguimentos budistas do Nepal e Tibete. Para Kenneth Grant isso foi uma revelação na qual ele se apoiou para aplicar a filosofia thelêmica em um contexto mais amplo e heterodoxo. Esse conhecimento associado à Gnose do Necronomicon foi o combustível que alimentou as Operações Mágicas da Loja Nova-Ísis, que operou de 1955 a 1962.

Os conflitos que agora assolam o mundo são devido às dores do parto do Aeon de Hórus. Métodos sexuais de se estabelecer contatos com entidades mais evoluídas do que os homens serão aperfeiçoados e já existem sinais de seu desenvolvimento.

Como a Filosofia de Thelema, algumas seitas gnósticas também promulgavam uma visão positiva acerca da união sexual na intenção de reificar as emanações divinas no plano dos discos. Para eles, a união sexual era a representação física dos syzygies, pares macho-fêmea da primeira manifestação do Pai, o que eventualmente resultou na criação como a conhecemos. Essas seitas gnósticas eram descritas como difusoras de sexo licencioso como a imitação do ato de criação. Segundo o historiador April D. DeConick, os gnósticos possuíam uma visão bem distina da sexualidade:

Para os Gnósticos a união conjugal humana é critiva, no entanto, algumas uniões produzem uma prole de tipo superior. A união sexual de tipo superior envolve um tipo distinto de consciência durante o coito, o que garante que a criança produzida seja uma cópia de Deus. O coito não é dirigido ou impulsionado pela luxúria, mas uma questão de Vontade e Intensão.

Nas palavras do Culto Theriônico, amor sob vontade. DeConick continua:

O coito não segue o caminho da luxúria (epithumia), mas ao invés disso, os Gnósticos ensinavam que a Vontade deve ser dirigida a uma finalidade. As Crianças nascidas desse tipo de coito não eram filhas da luxúria, mas filhas da Vontade (thelematos).

Kenneth Grant acreditava veemente nessa visão e como os gnósticos do passado, seguindo os passos de seu mestre Aleister Crowley, ele não via finalidade na atividade sexual corriqueira. Para Grant o sexo casual produzia crianças defeituosas, abortos qliphóticos que drenam a energia humana. Ele se baseia na premissa de que nenhuma causa pode ser impedida de seu efeito. Qualquer descarga de energia, de qualquer natureza, tem um efeito em todos os planos. E se por algum motivo os resultados em um plano são impedidos, eles se manifestam em outro. A descarga de energia nunca é perdida e ela forma uma imagem astral da ideia dominante na mente no clímax da cópula. A expansão da consciência produzida por um orgasmo magicamente controlado projeta no astral a imagem produzida pela mente. Na mente ordinária, essa ideia é geralmente uma imagem luxuriosa. Isso cria uma tendência, um hábito «saṃskāra» que se fixa na mente. Consequentemente isso se torna cada vez mais difícil de controlar. Os membros da O.T.O. são treinados em erradicar essa tendência negativa antes de serem admitidos aoSoberano Santuário da Ordem, pois somente um adepto pode manipular com impunidade a corrente sexual e administrar com sabedoria as volições da Serpente de Fogo. Se o buscador despreparado se aventura nesse terreno perigoso, sua prole mágica será, sem sombra de dúvida, uma horda de obsessores dos mais variados tipos. O abuso e a execução deliberada desse Mistério engendra entidades qliphóticas, fantasmas compostos de matéria tênue que dominam a estrutura psíquica e se alimentam de fluídos nervosos.

A magia sexual, portanto, trata-se do processo de dar vida a uma criança mágica de tipo superior. O coito não é direcionado pelos impulsos volitivos da satisfação pessoal ou ímpeto luxurioso. Este é, por si só, um requerimento que evita a profanação do templo.

Essa ideia não está muito longe do conceito qabalista de se comemorar o Sabbath com o intercurso sexual na finalidade auxiliar os «cacos» - os destroços das Sephiroth como resultado da tentativa estranhamente fracassada da Criação – reunindo-os e redimindo-os em si mesmo e por extensão no mundo para que a Shekinah possa se reunir com seu Noivo. Esses cacos são o Reino dos Qliphoth e Crowley escreveu um estranho e enigmático documento sobre o tema, Liber 231. Esse documento chamou a atenção de Grant que empreendeu pesquisas experimentais sobre ele como pano de fundo para inúmeros rituais da Loja Nova Ísis. Liber 231 é um diagrama dos Túneis de Seth: os Caminhos da Árvore da Morte, o lado noturno da Árvore da Vida. Voltaremos ao Liber 231 ainda nessa introdução.
A fim de compreendermos os rituais de magia sexual executados na Loja Nova Ísis e seus afiliados é preciso desconstruir a atividade sexual, reduzindo-a a seus componentes psicobiológicos. O aspecto grosseiro do coito – os fluídos corporais mais especificamente – são entendidos como um talismã que carrega um poder de influência etérea e mais sutil.

No entanto, isso de nada adiantará se os participantes não estiverem preparados para o ritual. O Mestre Nodens – nome utilizado por Kenneth Grant como Alto-Sacerdote da Loja Nova Ísis – acreditava que todos os participantes deveriam ser bem treinados nas técnicas do kuṇḍalinī-yogacomo o uso adequado da respiração (prāṇāyāma), postura (āsana) e meditação yogī para dirigir o fluxo de prāṇa nas nāḍīs e a elevação da Serpente de Fogo. Este era um requerimento básico, do contrário os rituais seriam apenas um engodo, gestos vazios incapazes de transcender os padrões da mente ordinária. A habilidade em se manter a concentração da mente nas funções física e psicosexual é a chave do sucesso nesse tipo de abordagem ritual. Trata-se de um processo de equilíbrio entre as funções naturais do corpo e suas reações e o esforço no controle da mente sobre essas mesmas funções. O processo torna-se mais difícil pois é requerido que o parceiro ou parceira tenha o mesmo nível de controle e estabilidade da mente. Caso contrário, existe o perigo de que uma vampirização ocorra, sempre por parte daquele mais proficiente no controle das funções da mente.

Um dos requerimentos essenciais para o sucesso em operações de magia sexual é a habilidade de se controlar conscientemente as funções do sistema nervoso autônomo, representadas pelo cérebro reptiliano. Nos termos dokuṇḍalinī-yoga, esse processo trata-se do encontro de prāṇa e apāna na região de samāna-vāyu, no agni-maṇḍala, quando ocorre a explosão interna que libera a a kuṇḍalinī a subir do mūlādhāra ao sahasrāra-cakra. Esse processo é executado através da execução de certos bandhas – contrações musculares que retêm o prāṇa dentro da suṣumnā-nāḍī – e mudrās – posturas corporais – que dão direção a energia.

No sistema de magia sexual formulado por Kenneth Grant, o acróstico «O.T.O.» tem mais relevância como uma fórmula mágica do que uma tradição espiritual. Este acróstico deriva-se do nome Ordo Templi Orientis, organizão espiritual fundada no início do Séc. XX e cujo ensinamento central é a prática sexual ritualizada. Kenneth Grant foi admitido no IX° O.T.O. em 1946. Os Graus superiores da O.T.O. envolvem a prática da magia sexual. Popularmente – e errôneamente – o VIII° Grau lida com práticas autoeróticas, o IX° lida com o coito heretossexual e o XI° lida com o coito homossexual. Mas Grant modificou toda a estrutura. Em Gnose Tifoniana (Vol. III) eu delineei um quadro explicativo:


Grau
Divisão
Método
Descrição






























VIIIº

VIII°
Sacerdote (solitário)
Para Ritos que envolvem Consagração.





VIII°
VIII°(-)


Sacerdotisa (solitária)
Para Ritos que envolvem Consagração.
Para consagração de talismãs e materialização de novos parceiros (pela atração) como oposta à consagração de idéias ou projetos, a corrente lunar é empregada.

VIII°
Sacerdotisa pelo Sacerdote
Via língua para indução de Transe, Visão.

VIII°(2)
Sacerdotisa pelo Sacerdote
Via mãos para indução de Êxtase, Oráculos.

VIII°
Sacerdote pela Sacerdotisa
Via boca nutrição mágica e revigoramento sexual.

VIII°(2)
Sacerdote pela Sacerdotisa
Via mãos para energização do corpo, glamour mágico-sexual e atração.



VIII°(+)

Sacerdote (solitário)
(Besta Terrestre): com a utilização de máscaras animalescas para operações de licantropia e a reencarnação de atavismos.



VIII°(-)

Sacerdotisa (solitária)
(Feitiçaria Oceânica): com máscaras animalescas para operações de feitiçaria e o lançamento de ilusões.






IX°


IX°(+)
Sacerdote e Sacerdotisa
(Supernal de dia): congresso natural para Operações de Criação, Intuição e Inspiração.



IX°(-)

Sacerdote e Sacerdotisa
(Infernal à noite): congresso não-natural para Operações de Zumbeísmo, Postura da Morte e Controle Onírico.


XI°


XI°
Sacerdote e Sacerdotisa
Durante o eclipse da lua para Operações de materialização e reificação.


A criação de uma prole mágica, superior, reside nos Mistérios do IX° Grau, o Casamento Alquímico como sempre é referido. Grant diz:

A vergonha impingida aos Yezidis como adoradores do demônio nasceu da noção do congresso entre entidades humanas e não-humanas; Seres angélicos são a prole deste casamento medonho.

Mas isso não ocorre apenas entre os Yezides do deserto. Os rituais do Círculo Kaula que tanto inflamaram a imaginação de Grant tratam da união sexual entre deuses, não entre seres humanos. Ambos, sacerdote e sacerdotisa – imbuídos da consciência mágica promovida pela assunção das formas divinas – se unem em um casamento místico de proporções alquímicas. Neste estado – e não antes dele – sacerdote e sacerdotisa se abraçam em maithunā, o enlance de amor.

A prática ritualística sob a designação de tantra-vāmācāra envolve o intercurso com entidades prater-humanas, que dizer, que estão muito além da consciência humana, para a produação de uma criança mágica de tipo superior. Eu tenho falado bastante sobre a cultura tântrica. O presente espaço nos dá a oportunidade de avaliar o Tantra e seus conceitos como tratados por Grant em suas trilogias.

Em suas Trilogias Tifonianas, Kenneth Grant faz inúmeras observações acerca do Tantra de Mão Esquerda ou vāmācāra, aos fluídos corporais secretados por sacerdote e sacerdotisa na ocasião da Operação Mágica e a importância do ciclo mesntrual na execução dos rituais. Na sua visão, a Corrente Ofidiana canalizada através dos rituais de magia sexual é capaz de deslacrar portais ocultos para outras dimensões, outros caminhos por trás da Árvore da Vida.

O universo é o corpo da Deusa. Pensando nesse ditado tântrico Grant dava muita atenção ao ciclo lunar da sacerdotisa, mais adequado para as operações de magia sexual. Isso envolve um conhecimento profundo de astologia e astronomia. Quando ele executava rituais psicosexuais com a Gnose do Necronomicon, muita atenção era dada ao movimento das estrelas e posição das contelações. Compreender os movimentos dos astros é parte fundamental no sistema de magia sexual de Kenneth Grant pois o universo é somente a extensão macrocósmica do organismo e o movimento das estrelas são representados no corpo como a dança das secreções.

É portanto possível equacionar os campos de força (a kuṇḍalinī nos cakras) com as forças planetárias e estelares. [...] É possível canalizar a energia estelar ou trans-mundana usando o organismo humano como um condensador. Isso é alcançado explorando-se as zonas de poder apropriadas, após a kuṇḍalinī ter sido animada e magnetizada.

O Círculo Kaula, citado amplamente por Kenneth Grant em suas Trilogias Tifonianas, é famoso entre os entusiastas da cultura tântrica e principalmente entre os praticantes de neotantrismo. Na literatura ocultista vulgar, o Círculo Kaula é descrito como um culto exótico cujas práticas envolvem o conúbio sexual em grupo em crematórios e cemitérios. A palavra kaula deriva de kula, que significa grupo, família ou clã. O Tantra é uma tradição que nasceu no contexto de clãs organizados, famílias praticantes que trabalhavam em cima de escrituras (śāstra) próprias, quer dizer, grimórios de magia recebidos pela Alta-Sacerdotisa, geralmente a esposa do Guru ou as suvasinīs, ajudantes da Alta-Sacerdotisa, muitas vezes as filhas do casal ou mulheres de fora da família, as dūtīs, que desempenhavam o papel de sacerdotisas auxiliares. Nesse sistema, o Tantra cresceu e floresceu, ganhando linhas distintas de sucessão, criando assim uma grande rede de escolas de iniciação, muitas vezes com a psicologia, mitologia e filosofia distinta de outras escolas.