quinta-feira, 3 de agosto de 2023

O Satanismo no Islã

 

Eu tinha um amigo em Teerã, ator de vanguarda e membro da seita dos Ahl-i-Haqq (o “Povo da Verdade” ou “Povo de Deus”, sendo haqq um nome divino, a saber, Al-Haqq,  A Verdade, ou Aquele que é Real), que havia viajado para o vale dos adoradores de Satã em meados dos anos 70.

Os Ahl-i-Haqq, uma seita curda influenciada pelo sufismo xiita extremo, pelo gnosticismo iraniano e uma forma local de xamanismo, é composta por vários pequenos grupos, a maioria dos quais são camponeses simples e analfabetos. Não tendo nenhum livro sagrado que una esses grupos isolados em seus vales remotos, eles desenvolveram ao longo do tempo sua própria versão, amplamente divergente, dos mitos e ensinamentos dos Ahl-i-Haqq. Um desses grupos adora Satã. Eu não sei quase nada escrito sobre os Shaitan-parastiyyan ou os “Adoradores de Satã” [1] e nenhum estudo foi feito sobre eles em geral [2]. Muitos segredos permanecem para as pessoas de fora da seita.

Os membros dos Ahl-i-Haqq em Teerã eram liderados por um pîr (um homem santo muçulmano) curdo, Ustad Nur Ali Elahi, um grande músico e professor [3]. Os Alh-i-Haqq mais antigos o consideravam um renegado, pois revelava segredos a estrangeiros, ou seja, não Curdos, e até os publicava em livros. Quando meu amigo perguntou a ele sobre os adoradores de Satã, no entanto, Elahi gentilmente respondeu: “Não se preocupe com Shaitan; Preocupe-se com shay-ye-tan” (literalmente “a coisa no corpo”, a alma encarnada, o ego). Meu amigo ignorou este bom conselho e com seu irmão eles foram para o Curdistão em seu Land Rover.

Você não tem ideia de como partes remotas da Ásia podem ser, a menos que você tenha estado lá; nem mesmo um helicóptero poderia penetrar nesses vales íngremes. Para a última parte de sua expedição, eles contrataram mulas. À medida que se aproximavam de seu objetivo, ouviam cada vez mais sobre os adoradores de Satã, e nada de bom: eram bandidos que comiam carne de porco e bebiam vinho e praticavam “o sopro das lâmpadas” (orgias rituais no escuro).

Quando chegaram, foram recebidos por homens em trajes tradicionais curdos e seus: “Ya! Zat-i-Shaitan!” – “Salve, ó essência de Satã!”.

Comparado com essas boas-vindas, o resto da viagem acabou sendo bastante decepcionante. Os aldeões há muito haviam desistido do banditismo (assim diziam), e é claro que não havia evidência de perversão noturna. Terrivelmente pobres, eles não possuíam nada como um porco ou vinho. De sua religião eles confessaram não saber nada; ou eles estavam tentando proteger segredos ou eles realmente esqueceram. Uma grande parte do conhecimento pode ser perdida em sociedades analfabetas devotadas ao sigilo e isoladas do mundo; líderes podem morrer sem transmitir certos elementos, e aldeias inteiras, atingidas por doenças ou epidemias, podem desaparecer completamente.

Não há dúvida de que os adoradores do diabo sabiam mais do que confessaram aos meus amigos, mas no final eles não pareciam mais sinistros do que outros grupos de Curdos das montanhas, um povo geralmente nobre e hospitaleiro quando não está envolvido em guerras de clãs, vinganças ou guerrilhas.

O que, porém, significa essa “essência de Satã”? Em um livro sobre os ensinamentos de Ustad Elahi [4], supõe-se que Satã exista, prisioneiro e impotente, um mero anjo caído. Além disso, “além do homem, o mal não existe na natureza… “o mal” é simplesmente uma maneira de o eu dominante se expressar em nós… A história de Satã acabou por muito tempo; diz respeito apenas a ele e a Deus”. Em outras palavras, a versão corânica da Tentação e da Queda (muito semelhante à do Gênesis) é literalmente verdadeira, mas irrelevante. O Satã em quem todos os crentes “se refugiam” em oração é, na realidade, uma projeção de sua própria imperfeição espiritual. Desnecessário dizer que isso não é o Islã ortodoxo ou a opinião da maioria dos sufis; é, no entanto, uma solução muito interessante para um espinhoso problema teológico. Dentro de uma religião baseada na unicidade metafísica, na unidade da Realidade (tawhid), como explicar o mal?

O Adversário
O Judaísmo bíblico não conhece nenhum princípio separado do mal. No Livro de Jó, Satã — um mero Adversário, orgulhoso e perverso, mas ainda parte do cosmos de Jeová e colocado em seu poder — é quase um aspecto da divindade.

Em reação ao Gnosticismo (que afirmava que o próprio Jeová era “mau”), o Cristianismo enfatizou a unidade de Deus a tal ponto que, com o tempo, Satã adquiriu uma existência cada vez mais separada e substancial. Na teologia cristã (ou a “teodiceia” para ser mais preciso), o mal permanece relativamente irreal, ou pelo menos secundário; mas na prática cristã, o mal tornou-se o “Príncipe do Mundo”, um poder real, quase um princípio. Por isso, na cultura cristã, o satanismo surgiu como oposição ao bem, ou seja, ao mal. Essa forma de malícia intelectual e ritual descrita em Là Bas de Huysmann ou na Bíblia Satânica de LaVey nunca poderia ter se desenvolvido no Judaísmo, nem é típica na cultura do Islamismo. [5]

Allah é caracterizado por 99 nomes, entre eles o “Tirano” e o “Ardiloso”. Certas qualidades associadas pelos cristãos ao “mal” são assim divinizadas pelo Alcorão como atributos da majestade ou do aspecto “terrível” de Deus. Neste contexto, Satã não pode aspirar a uma autonomia separada ou substancial – seu poder não pode se opor ao de Allah, mas deve, ao contrário, derivar e completá-lo. O Islã não admite nenhum “pecado original”, apenas um esquecimento do Real; da mesma forma, o cosmos/natureza não pode ser considerado “mau” em si mesmo, pois é um reflexo ou um aspecto do Real. Mas, precisamente porque o cosmos/natureza reflete todas as possibilidades divinas, deve incluir também as possibilidades “terríveis” de negação e ilusão e, portanto, a existência de Iblis [6].

No Alcorão e na Tradição (hadiths), Satã é apresentado como constituído de fogo como os gênios (djinns), e não de luz como os anjos. No entanto, o anjo Azazel, o pastor dos anjos desde toda a eternidade, sentou-se sob o trono da Glória. Quando Deus criou a forma de Adão e ordenou que os anjos se submetessem a ele (devido ao fato de que apenas o humano é verdadeiramente cósmico), apenas Azazel recusou. Ele sustentou a orgulhosa superioridade do fogo (o psíquico) sobre a lama (o material). Por isso Deus o amaldiçoa, Azazel tornou-se Iblis e tudo aconteceu mais ou menos como no Gênesis.

Dados os princípios da unidade divina e onisciência, pode-se facilmente detectar uma história oculta por trás desse episódio; que Deus de alguma forma queria que Iblis se tornasse Satã e Adão e Eva caíssem para que o drama da criação e a manifestação de todos os Nomes pudessem entrar em cena na Redenção. Tanto Satã quanto Adão têm um “livre arbítrio”, porém, tudo está escrito, preordenado e conhecido. Claramente, algum segredo faz parte de tudo isso, há significado por baixo do texto (e o Alcorão, de acordo com os ensinamentos ortodoxos, contém pelo menos sete níveis de leitura). É a partir da ciência esotérica da hermenêutica e do Sufismo que é possível uma explicação deste segredo.

Satã, Um Monoteísta Perfeito
Dois dos três sufis mais famosos que defenderam Iblis foram executados por heresia. Ainda hoje eles são amplamente reverenciados por aqueles que consideram o Sufismo o verdadeiro Islã, e são considerados mártires da reação puritana cega.

O primeiro e mais conhecido foi Husayn ibn Mansur al-Hallaj, executado em Bagdá em 922 EC. Em seu livro, o Tawasin [7], ele conta esta história:

[Sayedina Musa (Moisés)] encontrou Iblis nas encostas do Monte Sinai e lhe disse: “Ó Iblis, o que o impediu de se prostrar?” Ele respondeu: “O que me impediu foi minha declaração da Unicidade de Deus, e se eu tivesse me curvado, teria me tornado como você, pois você foi chamado apenas uma vez para “vir e ver a montanha” e você vive. Eu, fui chamado milhares de vezes a Adão e não me prostrei, porque mantenho o compromisso da minha declaração.”

Sayedina Musa disse: “Você desistiu de um Mandamento?” Iblis respondeu: “Foi um teste. Não é um Mandamento”.

Sayedina Musa disse: “Você se lembra Dele agora?” (Iblis respondeu): “Ó Musa, uma mente pura não precisa de memória – por ela eu sou lembrado e Ele é lembrado. Sua memória é minha memória, e minha memória é Sua memória. Como então, lembrando-nos de nós mesmos, podemos nós, que somos dois, ser diferentes de um? Meu serviço hoje é ainda mais puro, meu tempo mais agradável, minha memória mais gloriosa, pois eu O servi absolutamente para minha boa fortuna, e agora O sirvo por Si mesmo.”

Hallaj desculpa Iblis por seu orgulho diante de Deus, fazendo-o dizer:

“Se houvesse um único olhar entre nós, seria o suficiente para me deixar orgulhoso e imperioso, mas sou eu que te conheço no infinito do Tempo”, “sou melhor do que ele” porque tenho servido a Você por mais tempo. Ninguém, nas duas espécies de seres, não Te conhece melhor do que eu! Havia uma intenção Sua em mim e uma intenção minha em Você, e ambas precederam Adão”.

Al-Hallaj diz:

“Existem muitas teorias sobre o status espiritual de Azazyl (Iblis antes de sua queda). Alguns dizem que ele recebeu uma missão no céu e outra na terra. Nos céus ele foi o pastor dos anjos mostrando-lhes boas obras, na terra ele é o pastor dos homens e gênios mostrando-lhes como fazer o mal”.

“Pois ninguém conhece as coisas exceto por seus opostos, como a seda branca e fina que só pode ser tecida com um pano preto por trás – assim o anjo pode mostrar boas ações e dizer simbolicamente “se você fizer essas coisas, será recompensado”. Mas quem não conhece o mal não pode reconhecer o bem.”

Aqui, Hallaj formulou o princípio da complementaridade, ou coincidentia oppositorum (coincidência dos opostos); como no disco de Yin e Yang, de branco e preto abraçando e contendo uma parte do outro dentro dele. Em certo sentido, Deus é tudo e Iblis nada; no entanto, Deus não pode realizar-se como o Amado sem um amante, mesmo e especialmente se for um amante trágico condenado à separação. Esta tragédia em si é o orgulho de Satã.

Hallaj vai ainda mais longe. Ele declara que Iblis e Faraó (considerado o homem mais malvado por ter reivindicado a divindade) são os campeões perfeitos da cavalaria espiritual. “Meu companheiro é Iblis e meu professor é o Faraó. Iblis foi ameaçado de incêndio e não retirou sua alegação. Faraó se afogou no Mar Vermelho sem se retratar ou reconhecer um mediador”. O próprio Hallaj fez a mesma declaração ultrajante: “E eu digo: se você não O conhece, então conheça Seus sinais, eu sou Seu sinal (tajalli) e eu sou a Verdade! E isso porque nunca deixei de perceber a Verdade!” e, como Iblis e Faraó, Hallaj manteve suas declarações e honra, mesmo quando foi crucificado e desmembrado por isso.

O segundo shaykh a defender Satã, Ahmad al-Gazzali, evitou a execução (e execração) tanto pela densidade de sua linguagem mística quanto graças ao seu poderoso irmão, o Imam al-Gazzali, famoso por aperfeiçoar a ortodoxia de seu sufismo. Ahmad al-Gazzali ecoou Hallaj em muitos pontos, dizendo, por exemplo, que “quem não aprende a adesão à Unidade Divina de Iblis, é um incrédulo“, e que “embora Satã tenha sido amaldiçoado e humilhado, ele permanece apesar de tudo um modelo de amantes no sacrifício de si mesmos” [8].

Ahmad al-Gazzali, por sua vez, iniciou e ensinou o terceiro shaykh, Ayn al-Qozat Hamadani. O menos conhecido, mas talvez o mais brilhante, ele foi preso em Bagdá e executado em sua cidade natal de Hamadan (no noroeste do Irã) em 1131 EC aos 33 anos [9]. Ayn al-Qozat disse:

Ponha de lado “o ciúme do amor”, ó meu bom amigo! Você não sabe que um amante louco, a quem você chama de Iblis neste mundo, foi chamado ao mundo divino? Se você soubesse o nome dele, você se consideraria um incrédulo chamando-o por esse nome. Observe o que você ouve! Este amado tolo de Deus. Você sabe o que aconteceu nessa prova de amor? Por um lado, aflição e raiva; do outro, culpa e humilhação. Foi-lhe dito que, se afirmasse amar a Deus, teria que provar isso. O teste de aflição e raiva e culpa e humilhação foi apresentado a ele, e ele aceitou.

Naquela época, este teste revelou que seu amor era verdadeiro. Você não tem ideia do que estou falando! No amor deve haver rejeição e aceitação para que o amante amadureça pela graça e pela ira do Amado; caso contrário, permanece imaturo e improdutivo.

Nem todos podem imaginar que tanto Iblis quanto Muhammad afirmam ser os guias do Caminho. Iblis afasta de Deus, Muhammad guia para Deus. Deus nomeou Iblis como guardião de sua corte, dizendo-lhe: “Meu amante, por causa do seu ciúme amoroso que você tem por mim, não deixe nenhum estranho se aproximar de mim“.

Ayn al-Qozat implica que a separação do amor é, de certa forma, superior à união do amor, porque a primeira é uma condição dinâmica e a segunda é estática. Iblis não é apenas o modelo do Separado, ele também causa essa condição nos amantes humanos – e embora alguns experimentem isso como “mal”, o sufi sabe que é necessário e até bom.

A profissão de fé islâmica diz: “Não há deus (la ilaha) senão Deus (illa’Llah)“. Ayn al-Qozat explica que o incrédulo nunca irá além da mera negação, o la (não), ou alcançará o santuário interior de illa’Llah. O guardião deste reino interior não é outro senão Iblis. Ayn al-Qozat contribui de forma original para a satanologia islâmica ao simbolizar Iblis como guardião através de duas imagens poderosas: a Luz Negra e as tranças negras do amado.

Mais uma vez, a “Luz Negra” sugere uma coincidentia oppositorum (coincidência dos opostos) familiar aos místicos e alquimistas ocidentais em frases como “o Sol à Meia-Noite”. Tal como acontece com as “tranças” que às vezes estão escondidas e às vezes revelam o rosto do Amado, esta imagem sugere o conceito hindu de Maya, a beleza do mundo que pode ser ilusão infernal e graça celestial, e que pode induzir tanto ao esquecimento quanto à memória. Ayn al-Qozat escreve:

Você sabe o que significa a “bochecha” e o “sinal de beleza” do Amado? A Luz Negra acima do Trono não foi explicada a você? É a luz de Iblis, que é como as tranças de Deus; comparado com a Luz Divina é escuridão, mas é uma e a mesma luz.

Sem dúvida, aquele que vê o Amado (como Iblis fez) com “cachos”, “sinais de beleza”, “tranças” e “sobrancelhas” declarará, como Hallaj, “Eu sou Deus”…

As pessoas só ouviram o nome de Iblis e não sabem que ele tinha tanto orgulho de seu amor que não reconheceu nenhum! Você sabe por que ele estava tão orgulhoso? É porque a luz de Iblis (as tranças) está perto das bochechas e do sinal de beleza (a luz de Muhammad). A bochecha e o sinal de beleza podem estar completas sem tranças, sobrancelhas e cabelos? Por Deus, elas nunca estão completas!

Se você não acredita nisso, então ouça a palavra de Deus: “Louvado seja Deus, que criou os céus e a terra e estabeleceu as trevas e a luz” (Alcorão VI, 1). Como o preto seria completo sem o branco, ou o branco sem o preto? Não poderia ser. A Sabedoria Divina foi assim ordenada [10].

Kitâb al-Mawalid, de Abû Ma’shar, século XV. Imagem retirada do site Antiquities of the Illuminati.

O Anjo Pavão
Dentro do Sufismo, a defesa de Iblis permaneceu um problema metafísico e místico interessante, chocante e perigoso. Inevitavelmente, as imagens poderosas e cintilantes usadas para defender Iblis encontraram expressão no culto e no ritual, e tão inevitavelmente essa exteriorização causou uma cisão dentro do corpo do Islã. Embora o Islã possuísse uma elasticidade doutrinária desconhecida para, digamos, o Cristianismo, ainda havia ultrajes que ele não podia aceitar. A adoração ao Diabo é uma delas.

Por volta do ano 1100, um shaykh de Baalbek (Líbano) chamado Adi ibn Musafir chegou a Bagdá e se associou ao Imam al-Gazzali e a Abd al-Qadir Jilani, os grandes sufis ortodoxos. Através deles, ele conheceu as obras de Ahmad Gazzali e Ayn al-Qozat Hamadani. Mais tarde, shaykh Adi retirou-se para um vale remoto em Lalish (Iraque) e lá criou sua própria ordem Sufi entre os camponeses Curdos. Ele foi reconhecido por sua forte ortodoxia sunita e suas práticas ascéticas severas, e todo o seu trabalho prova sua simplicidade piedosa.

Shaykh Adi, no entanto, parece ter um lado oculto. Seus seguidores, conhecidos como Yezidis [11], atribuem a ele (e outros shaykhs de sua ordem) vários textos estranhos nos quais o Diabo aparece como Malek Ta’us, o Anjo Pavão, um grande deus – o Iblis de Hallaj tornado mítico através uma divindade pagã.

Hallaj é reverenciado pelos Yezidis e eles nomearam um de seus grandes ídolos de pavão de bronze (sanjak) em homenagem a ele. Em um poema atribuído a shaykh Adi, ele parece se gabar de sua divindade e se refere à outras “proclamações extáticas” semelhantes feitas por sufis como Hallaj e Bayazid Bastami:

Eu sou Adi de Shams (Damasco), filho de Musafir

 Em verdade, o Misericordioso me deu nomes,

 O Trono Celestial, e o Assento, e os Sete Céus, e a Terra.

 No segredo do meu conhecimento, não há outro deus além de mim…

Louvado seja eu, e todas as coisas são por minha vontade.

 E o universo é iluminado pelos meus dons.

Por muito tempo, o nome dos Yezidis foi percebido (pelos próprios Yezidis) como derivado do malvado e libertino califa Yazid, que, em 690, assassinou al-Husayn, neto do Profeta e Imam dos Xiitas; a defesa de Yazid contra as maldições dos Xiitas pode refletir o sunismo fanático da ordem de shaykh Adi, mas hoje os Yezidis consideram o califa como seu campeão, o inimigo da ortodoxia que os libertou dos rigores da Lei (Sharia). O nome Yezidi, no entanto, provavelmente deriva da antiga palavra persa, yazd ou yazad, que significa “deus” ou “espírito”. Os Curdos de Lalish podem ter mantido crenças “pagãs” pré-islâmicas enraizadas no dualismo do Zoroastrismo que, de certa forma, harmonizava a defesa de Iblis de Hallaj com o culto extremista sunita do califa Yazid. Se o histórico shaykh Adi, cuja tumba em Lalish é agora o centro das devoções dos Yezidis, foi responsável por esse sincretismo ou se ocorreu após sua morte, pouco importa.

Embora os Yezidis devam rejeitar a cultura livresca por princípio (e, de fato, eles são em sua maioria analfabetos), eles na verdade possuem duas “escrituras”, o Livro do Brilho Divino e o Livro Negro (“brilhante” e “negro”) pode nos dar o índice de “Luz Negra”). Eles não adoram o diabo como um princípio do mal, como os satanistas cristãos, mas como um princípio de energia, injustamente condenado pelas religiões ortodoxas. De acordo com o Livro Negro:

No princípio, Deus criou a Pérola Branca de Sua Essência mais preciosa: e criou um pássaro chamado Anfar. E Ele colocou a Pérola em suas costas, e Ele residiu ali por quarenta mil anos. No primeiro dia, domingo, Ele criou um anjo chamado Azazil que é Ta’us Malek (o anjo Pavão), o cabeça de todos.

Então, no Livro do Esplendor Divino, Malek Ta’us nos fala na primeira pessoa:

Eu era, e sou agora, e continuarei por toda a eternidade, governando todas as criaturas e ordenando os negócios e ações daqueles sob meu poder. Agora estou perto de quem tem fé em mim e que me chama em momentos de necessidade, não há lugares vazios de mim onde eu não esteja presente. Estou preocupado com todos os eventos que os estrangeiros chamam de mal porque não são feitos de acordo com seus desejos.

O Livro Negro contém uma série de proibições bastante interessantes. Alfaces e feijões são proibidos; acredita-se que os primeiros contêm uma parcela de “luz pura” (pelos maniqueus) e os últimos contêm almas que empreenderam suas transmigrações (de acordo com os pitagóricos). A carne de peixes, gazelas e pavões é proibida, assim como a cor azul índigo, sem nenhum porque são símbolos de Satã cujo nome não pode ser pronunciado pelos Yezidis. Abóboras, símbolos tradicionais do caos, também são consideradas sagradas demais para serem comidas.

Iblis, A Imaginação
Devemos ignorar essas digressões fascinantes, bem como essas análises antropológicas dos Yezidis, as defesas de Satã no Sufismo tardio, as críticas dirigidas contra o Satanismo por místicos profundos como al-Jili ou Ruzbehan Baqli, o imponente folclore da demonologia ou demonolatria, escatologia (assim como o mapa do submundo de Dante), ou o uso da figura de Iblis como um símbolo para rebeldes como ismaelitas ou esquerdistas contemporâneos. Tudo isso é coberto pelos títulos referenciados nas notas deste artigo. Meu objetivo aqui deve permanecer simplesmente perguntar: o que é essa “Essência de Satã” mencionada pelos adoradores do diabo curdos que meus amigos encontraram [12]?

A resposta é sugerida por certos textos da escola do “grande shaykh” Ibn Arabi, particularmente o tratado de Aziz ad-din Nasafi, o Homem Perfeito:

Deus delegou seu vice-regente para representá-lo neste microcosmo, este divino vice-regente sendo o “intelecto”. Quando o “intelecto” assumiu seu cargo de vice-regente neste microcosmo, todos os anjos se prostraram diante dele, exceto a “imaginação” que se recusou a se curvar, assim como Iblis se recusou a fazê-lo antes de Adão assumir a vice-regência. macrocosmo…

Seis pessoas emergiram do terceiro céu: Adão, Eva, Satã, Iblis, o Pavão e a Serpente.

Adão é o espírito, Eva o corpo, Satã a natureza, Iblis a imaginação, o Pavão o desejo e a Serpente a ira. Quando Adão se aproximou da árvore do intelecto, ele deixou o terceiro céu e entrou no quarto. Todos os anjos se prostraram diante de Adão, exceto Iblis, que recusou. Ou seja, todos os poderes, espirituais e físicos, submetidos ao espírito, exceto a imaginação.

A palavra usada aqui é wahm, que pode ser traduzida como “imaginação”, em oposição a khyyal, ou imaginação como uma faculdade. Mas na escola de Ibn Arabi os termos às vezes são trocados, pois na verdade a imaginação (como as tranças do Amado) tanto dissipa como concentra a faculdade de lembrar, e induz tanto ao “pecado e rebelião” quanto à visão do divino no mundo. Segundo o próprio Ibn Arabi, sem imagens não pode haver realização espiritual, porque a unidade indiferenciada do Real só pode ser experimentada através de suas manifestações como a multiplicidade da criação.

Satã é o guardião do limiar, como explicou Ayn al-Qozat, e uma passagem é um istmo, um espaço entre mundos, um não-lugar ambíguo e liminar, uma terra da imaginação [13]. No Ocidente, apenas William Blake reconhecia o Diabo como imaginação; no Sufismo essa identidade era muito clara pelo menos desde o século X. Os Sufis que defendiam Satã não estavam defendendo ou desculpando o mal, mas estavam contando um segredo: “o diabo” tem apenas uma existência relativa e ele é “apenas humano”. É o “Shaitan” em cada um de nós que devemos nos converter ao Islã, como o Profeta nos diz. Mas, os próprios meios que utilizamos nesta alquimia do eu são regidos por esta mesma força, o poder da nossa imaginação iluminada pelos paradoxais raios lunares da Luz Negra – o próprio Iblis.

Notas:

[1] Nada em inglês, pelo menos. Menciono-os, no entanto, em meu Scandal: Essays in Islamic Heresy (Brooklyn, N.Y.: Autonomedia, 1988).

[2] Ver V. Ivanov, Truth-worshippers of Kurdestan: Ahl-i Haqq Texts (Bombaim: Ismaili Text Society). De acordo com meus informantes dentro do culto, este trabalho é praticamente inútil. Veja o artigo de Minorsky “Ahl-i Haqq” na Encyclopedia of Islam.

[3] Veja Scandal: Essays In Islamic Heresy (Brooklyn, NY.: Autonomedia, 1988)

[4] Doutor Bahram Elahi (filho de Ustad Nur Ali Elahi), The Path of Perfection, traduzido por James Morris da versão francesa por Jean During (Londres, Rider Books, 1987). Na página 28, Elahi faz uma observação que poderia se referir aos “Shaïtan-parastiyyan”: “Algumas mentes equivocadas chegam a dizer que “já que em todos os casos Deus é bom e misericordioso, não temos necessidade de nos preocupar com ele: mas como nossos sofrimentos vêm do mal e do deus do mal, devemos nos preocupar em obter seus favores”. E assim eles acabam adorando o diabo.”

 [5] Isso não significa dizer que não existem judeus ou muçulmanos maus ou que essas culturas estão livres de toda “magia negra”, mas nenhuma delas deu origem ao mal satânico organizado. Com exceção dos Shaitans parastiyyan, a adoração de Satã no Islã (como veremos no caso dos Yezidis ou de alguns sufis) considera o mal como secretamente bom.

[6] “Satã” é um título que significa “o Adversário”; “Iblis”, derivado do grego diabolos, é o seu nome.

[7] Le Tawasin de Mansur al-Hallaj, tradução de Aisha at-Tarjumana (Berkeley e Londres: Diwan Press, 1974).

[8] De uma compilação de materiais sufis sobre o diabo pelo mestre sufi contemporâneo Javad Nurbakhsh: The Great Satan “Eblis” (Londres: Khaniqah-i Nimatullahi). Ver também Ahmad Ghazzali, Sawanih: Inspirations from the World of Pure Spirits, tradução N. Pourjavady (Londres: KPI, 1986).

[9] Ver A Sufi Martyr, Apologie de Hamadani composée en prison, tradução de A.J. Arberry (Londres: Allen & Unwin, 1969), que inclui um apêndice contendo passagens satânicas de outras obras. Veja também Nurbakhsh para uma grande seleção e Satan’s Tragedy and Redemption: Iblis in sufi Psychology de Peter J. Awn (Leiden: E. J. Brill, 1982), muito útil por seu grande número de citações de autores sufis. N. Pourjavady e eu incluímos algumas quadras encantadoras em nosso Drunken Universe: An anthology of Persian sufi Poetry (Grand Rapids, Michigan: Phanes Press, 1987).

[10] Hamadani, op. cit.

[11] O seguinte é inspirado no estudo de John Guest: The Yezidis (Londres e Nova York, KPI, 1987).

[12] Parece que os Shaitan-parastiyyan dos Ahl-i-Haqq podem estar “relacionados” de alguma forma com os Yezidis da fronteira do Curdistão iraquiano. Alguns estudiosos (como C. Glasse em sua The Concise Encyclopedia of Islam) sustentaram isso, mas não tenho provas.

[13] Henry Corbin, Creative Imagination in the Sufism of Ibn ‘Arabi, (Princeton: Princeton University Press, 1969).

Kitab Al-Jilwa: O Livro da Revelação

 

“A humanidade esta adormecida, preocupada apenas com o inútil, vivendo num mundo errado. (…) Vós tereis um conhecimento e uma religião invertidos se estiverdes de ponta cabeça em relação à realidade. O homem enrola a rede em torno de si mesmo. Um leão despedaça a jaula”. SANAI – O Jardim Murado da Verdade. Século X.

“Ao pecador e ao viciado posso parecer mau. Mas para o bom: beneficente sou”. MIZRA KHAN, Ansari.

A obra que se apresenta é constituída de um dos textos sagrados da tribo pré-islâmica de etnia curda conhecida como Yezidis.

Muito se tem escrito a respeito deles, e pode-se salientar que tais escritos e especulações são em sua maioria, lamentáveis deturpações. No ocidente, a princípio em decorrência de alguns escritos isolados de Aleister Crowley e de alguns cristãos retrógrados, e mesmo por parte dos muçulmanos sunitas, se construiu a fama de que os Yezidis são adoradores de demônios ou, em termos superficiais, satanistas. Não entraremos em detalhes acerca disso, pois não é o escopo deste trabalho.

Adianto apenas que tal “fama” se deve ao fato de que no culto Yezidi, a principal divindade adorada, dentre outras seis secundárias, é aquela denominada MALAK TAUS, ou anjo pavão real, identificado com IBLIS na gênese islâmica, ou simplesmente SHAYTAN.

De fato, os Yezidis reverenciam esta divindade, pois segundo sua mitologia (exposta em outro livro sagrado de importância nuclear, chamado Mechaf Resh ou simplesmente “Livro Negro”) MALAK TAUS recebeu a autoridade para reger esta esfera (Terra) das mãos do próprio Criador, que após a conclusão de sua obra, ao que parece, foi cuidar de outros assuntos. Existem muitas versões, mesmo no corpo das escrituras yezidis.

Há também vários paralelismos com a literatura talmúdica, islâmica e muitos outros escritos semitas acerca dessa temática. Reportamos o leitor interessado por mais informações ao escrito conhecido como O Livro de Enoch, já publicado em português pela Editora Hemus, e ao erudito trabalho de Idries Shah, que na obra OS SUFIS (Cultrix), traz o elucidativo verbete chamado “Culto do anjo pavão real”.

O texto presente foi traduzido do inglês diretamente da obra “Devil Worship – The Sacred Books and Traditions of the Yezidiz” – Kessinger Publishing, 19971 de Isya Joseph. Admito minha ignorância acerca dos méritos intelectuais desta autora, mas posso adiantar que a tradução empreendida por ela dos textos originais é de longe mais confiável que algumas versões que circulam pela rede, e que infelizmente, tem claras conotações e interpolações propositadamente obscurantistas (leia-se: sectárias). É necessário sublinhar que o texto apresenta apenas 5 divisões simples, ou sessões, que respeitei, mas tomei a liberdade de dividir as primeiras 4 em 14 versículos cada e a última em 7, o que não altera substancialmente seu conteúdo. A linguagem também foi cuidada, por se tratar de um livro sagrado. Infelizmente não disponho do texto original, que sem duvida deve conter mensagens e códigos cifrados semelhantes ao utilizado no sistema ABJAD (código alfabético e semântico árabe semelhante a temurah dos qabalistas judeus).

Muitos adeptos do “caminho da mão esquerda” ficarão decepcionados com o conteúdo do texto, ou talvez não, pela ausência de paralelismos com as bulas tenebrosas dos satanistas mais entendidos. O dito “satanismo” dos Yezidis nada tem a ver com o satanismo ocidental moderno, e tampouco guarda conotações anticristãs (os Yezidis aceitam a figura do Cristo como aceitam as figuras de Maomé e Moisés, i.e., como profetas inspirados), apenas se reservam o direito de não submeter-se a tais doutrinas, por motivos óbvios. Outras questões como a origem dos Yezidis, ou dos baluartes da “doutrina” (Sheyks), e da figura emblemática de MALAK TAUS, serão abordadas em outra obra (a tradução do “Livro Negro”- MESHAF RESH) que já esta sendo empreendida. Até lá, espero que o leitor encontre aqui um pouco mais de informação e conhecimento acerca desta polêmica e desconhecida doutrina pré-islâmica.

Parte I
1. Eu fui, Eu sou, e Eu serei eternamente.
2. Eu detenho autoridade sobre toda criatura e sobre todas as coisas que estão à sombra do Meu ídolo.
3. Eu estou perpetuamente presente para auxiliar todo aquele que crê em Mim e Me procura e clama por Mim no tempo da tribulação.
4. Não há espaço no universo que não conheça Minha presença, pois Eu comunguei de todas as coisas que estão longe do mal, porquê sua essência não é adequada.
5. Cada Æon possui seu próprio Mestre, que governa todas as coisas segundo Meus Decretos.
6. Este ofício é mutável de geração em geração, pois os Mestres deste mundo e seus dirigentes podem delegar os deveres de seus respectivos ofícios, cada um àqueles que estão em seu círculo.
7. Eu tolero que cada um siga seu próprio temperamento, não há restrição – mas aquele que se opor à Minha Vontade, recuará em extrema aflição.
8. Nenhum deus poderá intervir naquilo que é Meu, e Eu fiz disso uma Lei Suprema a ser obedecida por todo aquele que presta culto aos deuses.
9. Todos os livros deles foram alterados, e renegados, embora tenham sido escritos pelos profetas e apóstolos.
10. Pois há interpolações, visto cada seita impor supremacia sobre as outras, apontando ardis e ansiando destruir os escritos alheios, pois a verdade e a falsidade estão diante de Meus Olhos.
11. Quando a tribulação vem, Eu dou guarida àquele que crê em Mim.
12. Ademais, Eu dou conselho àqueles que estão preparados, pois Eu os escolhi para os tempos que estão diante de Mim.
13. Eu recordo das coisas necessárias e as efetuo no tempo propício e Eu ensino e guio aqueles que seguem Minha Doutrina.
14. Pois aquele que segue Minha Doutrina, este será abençoado e regozijará em Meu sagrado êxtase.

Parte II
1. Eu resgatei o fruto de Adão, e o recompensei com um galardão que apenas Eu conheço.
2. Ademais, o poder e a autoridade sobre tudo o que há na terra, acima dela ou abaixo, estão em Minhas mãos.
3. Eu repudio a união amigável com outros povos, mas não privo aqueles que Me obedecem daquilo que é bom para todos.
4. Eu deposito Minhas coisas nas mãos destes que se esforçam e que estão concordes com Minha Vontade.
5. Eu Me manifesto de diversas formas aos que são fiéis a Mim e observam Minha Doutrina.
6. Eu outorgo e Eu revogo.
7. Eu concedo a fortuna e distribuo a miséria.
8. Eu causo a alegria e o infortúnio.
9. Eu faço todas estas coisas conforme os tempos e as estações.
10. Nada pode interferir naquilo que Eu faço.
11. Àqueles que se levantam diante de Mim, Eu aflijo com doença.
12. Mas aqueles que são de Mim, estes não morrerão como os filhos de Adão, que estão longe de Mim.
13. Ninguém viverá neste mundo um dia além do que Eu tenho fixado.
14. Se for Meu desejo, Eu mando um homem duas ou três vezes neste mundo, ou em outro, através do mistério da encarnação.

Parte III
1. Eu guio pelo caminho santo ainda que sem um livro revelado, e Eu corrijo o Meu Amado e o Meu escolhido por meios encobertos.
2. Todos os Meus ensinamentos são prontamente aplicados em qualquer tempo e qualquer circunstância.
3. Eu castigarei no outro mundo os que forem rebeldes a Minha Vontade.
4. Agora os filhos do homem não sabem o estado das coisas que estão no devir.
5. Por causa disso, eles ajuntam erros.
6. As bestas da terra estão todas sob o comando de Minhas mãos.
7. Os pássaros do céu estão todos sob o comando de Minhas mãos.
8. Os peixes da água estão todos sob o comando de Minhas mãos.
9. Todos os tesouros excelentes e coisas ocultas são conhecidos de Mim, e conforme Meu desejo, eu os tomo de um e concedo a outro.
10. Eu revelo Minhas maravilhas aqueles que as buscam, e no tempo adequado, manifesto Meus milagres a estes que se encontram preparados para Mim.
11. Mas os que estão distantes, estes são Meus inimigos, então eles se opõem a Mim.
12. Mas eles não sabem que as coisas que eles buscam fogem dos seus interesses, pois todas as coisas que são Minhas, o poder e a riqueza, estão em Minhas mãos, e Eu as dou a quem Me apraz.
13. Eu recompenso aos filhos do homem que se fizerem merecedores.
14. Assim, pois, o governo dos mundos, a transição das gerações e a mudança dos reis são desde o princípio determinadas por Minha Vontade.

Parte IV
1. Eu não darei aquilo que é Meu a outras divindades.
2. Eu permiti a criação de quatro substâncias, quatro tempos e quatro confins.
3. Porquê estas coisas são necessárias às criaturas.
4. Os livros dos Judeus, Cristãos e Muçulmanos e de outros que não são de nós, aceitai sob concessão, tanto quanto eles concordem e confirmem Minha Doutrina.
5. Tudo o que esta em divergência com o que foi dado a vós, ou for alterado, lançai fora, pois vós deveis evitar divergências.
6. Três coisas são contrárias a Mim.
7. Três coisas Eu abomino.
8. Mas aqueles que preservam Meus Mistérios, estes receberão o galardão de Minhas promessas.
9. Aqueles que são lapidados em Meu Nome, estes Eu os recompensarei em outros mundos.
10. É Meu desejo que todos os Meus adoradores permaneçam unidos e um laço de unidade, para que aqueles que não são de nós não prevaleçam contra vós.
11. Agora, então, todos vós que tem seguido Minha Lei e Doutrina, rejeitai a doutrina e a lei daqueles que não são de nós.
12. Eu não disse aquelas coisas, nem elas saíram da Minha boca.
13. Jamais pronuncie Meu Nome ou Meus atributos, para que vós não vos lamenteis disso.
14. Pois não sabeis vós o que podem fazer estes que não são de nós.

Parte V
1. Oh tu que acreditas em Mim:
2. Honra Meu Símbolo e Meu Ídolo, pois eles te fazem lembrar de Mim!
3. Observai Minhas Leis e Doutrinas.
4. Sê obediente aos Meus servos e ouça o que eles revelarem a vós acerca daquele conhecimento do invisível que eles
recebem de Mim.
5. Recebei o que é dito, e não revelai aqueles que não são de nós, e aos judeus, cristãos e muçulmanos e os outros, pois eles não conhecem a essência da Minha Doutrina.
6. Não lhes dêem vossos livros, para que eles não deturpem este conhecimento.
7. Aprenda de cor a maior parte deles, a fim de que não sejam alterados.

Nascimento do Segundo Filho de Métis

 

Eras de transição exigem deusas e deuses de transição. Baph-Métis, tanto andrógino quanto ginandro, o De Duas Varinhas, é exatamente um ser transicional.

Diz-se que o nome do deus “Baphomet”, ou “Baphmetis” deriva do título de Zeus como “Pai da Sabedoria”, e o mito prossegue assim: Métis, que significa “conselho”, outrora vivia pela Corrente do Oceano, e era a Titânide da Sabedoria, do Quarto Dia, e do planeta Mercúrio. Entre seus poderes estava a mudança de forma. Foi Métis quem foi consultada pelo jovem Zeus para libertar seus irmãos e irmãs mais velhos do ventre de Cronos. E foi Métis quem aconselhou Zeus a misturar a poção emética (para provocar vômito) que foi dada a Cronos por Reia em sua bebida com mel, causando o expurgo dos Deuses Anciões. Zeus, finalmente entrando em seu poder, ansiava por Métis, e ela usou seus poderes de mudança de forma para evitar seus avanços amorosos enquanto ele a perseguia pelos mundos. No entanto, Zeus a pegou e a engravidou. Um oráculo da Mãe Terra então profetizou que a criança seria uma menina, e que este, o segundo filho de Métis estava destinado a depor seu pai Zeus, como Zeus havia deposto Cronos, e Cronos, por sua vez, havia deposto seu pai Urano. Determinado a evitar um destino semelhante, Zeus persuadiu Métis ao seu sofá e, de repente, abrindo a boca, engoliu a Métis grávida. Assim, usurpando de Métis seus poderes titulares, Zeus reivindicou para si o título de “Pai da Sabedoria”, depois declarando a Sabedoria como uma prerrogativa masculina, onde até então, apenas a Deusa havia sido sábia.

Foi algum tempo depois que Zeus caminhou pelas margens do Lago Tritão na Líbia, ele foi acometido por uma dor de cabeça furiosa. Hermes, ouvindo seu uivo de dor, adivinhou a causa e persuadiu Hefesto a pegar sua cunha e fazer uma culatra no crânio de Zeus, de onde Atena saltou “totalmente armada, com um grito poderoso” – “olulu, ololu”, sendo os gritos líbios de triunfo proferido em sua homenagem.

No entanto, nossa intuição nos diz que há mais a ser extraído no nome “Baph-Metis”. Na cabala inglesa encontramos “Baph-Metis” igual a 53, o número também de “gêmeos”. Assim, encontramos Zeus e Métis como gêmeos imortais, unidos por meio de um abraço tântrico e combinados em um ser único, embora duplo. Isso traz a importante percepção da união interdependente dos poderes de Zeus e Métis como eles existem e interagem dentro de nossas psiques: Zeus, o Inventor do Tempo e da História, relaciona-se ao conhecimento do cérebro esquerdo, à lógica e à linearidade. Enquanto Métis, a Titânide Imortal da Sabedoria, relaciona-se com a criatividade do cérebro direito, com a adivinhação e com a atemporalidade do mito vacilante. Em sua união nasce o filho que deporá o pai — inspiração, alegria, imortalidade — cuja experiência nos torna deuses. “Zeus-Métis” pela cabala inglesa é igual a 93, número da corrente dupla do Aeon da Criança, enquanto “Metis” produz o número 38, número de “magick”, “criança” e “luz”.

“Pai Zeus” pela cabala inglesa é igual a 92, o número do túnel de “Saksaksalim”, de “brancura pura” e de “ouro brilhante”. Este é o túnel onde são destilados raros elixires endócrinos cujos poderes são a bissexualização. Assim, na união de Zeus e Métis no túnel de Saksaksalim, encontramos a transcendência do yin-yang da existência polarizada ao unir masculino/feminino, cérebro direito/cérebro esquerdo, positivo/negativo, matéria/antimatéria dentro de si mesmo para transcender os níveis de consciência dos mamíferos. Nesta união alcançamos a imortalidade dentro da carne viva através do yoga taoísta de cultivo dual. Notamos também que noventa e dois — 4 x 23 — é também o número de “Shaitan-Aiwass”, o “Possuidor da Dupla-Baqueta” e o “Companheiro das Trevas”. Está associado a penas de pavão, com raios de suástica girando e com a cor vermelha.

Assim, podemos imaginar “Baph-Métis” sentado como Kali sobre uma pilha de crânios humanos, e ladeado por penas de pavão dos Yezidi adoradores do Diabo. Seus olhos revirados sob suas pálpebras estão voltados para o mistério da transformação alquímica forjada em seu interior – simbolizada como a serpente gnóstica Agathadaemon. Seu corpo como uma chama tem falo e kteis, ele/ela empunha baquetas de cristal de vontade-desejo de terminação dupla. Assim, transformando macho e fêmea dentro do cadinho de seu corpo pela destilação e embebição de estranhos elixires endócrinos, ele/ela transmuta o DNA em espiral dupla e sonha com a existência de novas imagens para a evolução humana.

Demonolatria Moderna

 

Demônios. Algumas pessoas podem ouvir o termo e estremecer. Outras podem ficar curiosas. Como acontece com qualquer vertente LHP, como o Satanismo, Luciferianismo ou Demonolatria, há uma notável falta de conhecimento real sobre o termo em questão e uma abundância de desinformação, medo e ignorância.

Demonolatria, como uma religião, é bastante jovem considerando as muitas seitas em operação. Apesar de antigas formas de Demonolatria datarem de milênios atrás e, especulativamente, até mesmo terem atuado no tempo dos Templários, as maiores seitas operacionais, o termo e práticas foram extra – oficialmente aceitos como um caminho por volta de 1950. A mais funcional destas seitas foi totalmente desenvolvida trabalhando com base em um hermético trabalho religioso, em 1998, com a fundação da Guild of Demonolatry. Hoje, a maior seita de Demonolatria operando abertamente é a Ordo Flammeus Serpens, com sede no Colorado, nos Estados Unidos.

Além de seitas e ordens oficialmente reconhecidas, a Demonolatria tem uma velada porém comumente aceita história, bem como uma prática geracional transmitida através de tradições de linhagens familiares. Esta é muito parecida com muitas práticas de bruxaria tradicional e a prática da Demonolatria “hereditária” é comumente conhecida como “Tradicional Demonolatria Familiar”, entre outros termos.

O QUE A DEMONOLATRIA NÃO É

Demonolatria não é uma religião que pratica missas negras. Demonólatras não sacrificam animais nem torturam crianças ou acreditam em cometer crimes para agradar ao Self. A Demonolatria é um caminho que incide sobre o Self e a melhoria deste (poder pessoal, etc.), que não viola as leis do homem nem dá ao praticante um passe livre para fazer o que ele ou ela quer. Todos nós somos responsáveis por nossas ações.

Para um demonólatra, demônios não são seres malévolos. Na verdade, muitos dos demônios honrados dentro deste caminho podem ter suas origens traçadas até uma série de panteões antigos (sumério, egípcio e grego, entre outros). Demonólatras geralmente não acreditam no conceito de inferno — não há poço infernal queimando e não há desejo de ter relações sexuais com Satan (na verdade, a maioria concorda que sexo com demônios não é uma ocorrência comum). Demonólatras rejeitam ideias cristãs e a condenação de demônios e Satan.

O QUE É DEMONOLATRIA

Demonolatria é uma religião que, surpreendentemente, tem muito em comum com as outras religiões neopagãs, como a Wicca. Embora a Demonolatria seja do chamado “Caminho da Mão Esquerda”, é uma religião neopagã politeísta que engloba magia ritualística, observância dos Festivais Sagrados e melhoria comunitária e familiar. A maioria dos demonólatras tem geralmente mais de 30 anos de idade — não é uma religião cheia de adolescentes que procuram ser “cool”. Demonolatria é uma religião em que os demônios são deuses — honrados, respeitados e tratados como qualquer outro deus de qualquer outro panteão, da mesma forma como os wiccanos honram e trabalham com suas próprias divindades.

Demonólatras consideram a prática de Evocação Cerimonial inatamente desrespeitosa. Para o demonólatra, demônios nunca devem ser ordenados, mas totalmente respeitados e a eles se deve pedir para prestar seu auxílio quando necessário. Assim como wiccanos não se atreveriam a convocar, insultar, prender e banir o seu Deus ou Deusa, os demonólatras visualizam este ato como uma atrocidade e um enorme desrespeito pelos demônios.

AS PRÁTICAS DA DEMONOLATRIA

As práticas da Demonolatria geralmente giram em torno da observância dos dias santos e festividades, orações e técnicas de meditação, apesar da magia ritualística ser uma prática comum também. Através da magia, o demonólatra visa melhorar a si, seus entes queridos, sua comunidade e o mundo ao seu redor. Os demônios emprestam ao demonólatra sua sabedoria, sua energia e, em alguns casos, sua força.

Os rituais da Demonolatria são adaptados individualmente, por isso não há duas práticas demonólatras exatamente iguais. É um caminho altamente adaptável que o indivíduo deve ajustar a si para alcançar melhores resultados pessoais. A maioria não é muito diferente dos rituais da Wicca ou da Magia Cerimonial. A principal diferença é que o demonólatra lança seu círculo, e exorta os demônios (há também demônios elementais para cada um dos quatro elementos) a emprestarem sua ajuda à sua magia.

Os quatro governantes elementais mais comuns encontrados na Demonolatria são:

Terra – Belial
Ar – Lucifer (É importante notar que a maioria dos demonólatras vê Lúcifer e Satan, como duas entidades distintas)
Fogo – Flereous ou Satan
Água – Leviathan

Uma das diferenças mais óbvias entre práticas da Demonolatria e Wicca é que demonólatras não lançam um círculo para proteção, mas sim o fazem para criar uma área de equilíbrio energético.

Alguns demonólatras optam por usar encantamentos — outros não. Mais uma vez, é um caminho altamente adaptável e individualizado que é único para o praticante. Algo que define o caminho da Demonolatria para além de muitas outras religiões pagãs é a utilização de maldições. Como muitos podem formar julgamentos precipitados ao tomar conhecimento desta prática, é importante notar que a Demonolatria usa maldições com muita cautela e prudência. Ninguém sai por aí jogando maldições contra as pessoas por qualquer razão tola. Às vezes, maldições são uma parte necessária da prática de alguns bruxos, o mesmo se dá na Demonolatria.

Outra prática que é comumente encontrada na Demonolatria é a incorporação de sangue em rituais mágickos. O sangue é retirado da forma menos invasiva e destrutiva possível (como com a utilização de lancetas de teste de diabetes para picar o dedo), auto-mutilação não é tolerada ou incentivada dentro da Demonolatria.

Demonólatras também usam muitas das práticas tradicionais de outros caminhos pagãos, como adivinhação com Tarot, etc. Cada demônio tem um sigilo ou selo exclusivo que está associado com o seu nome e essência. Esses sigilos podem ser aqueles encontrados nas obras do século XX do demonólatra Richard Dukant, em grimórios mágicos, como A Chave Menor de Salomão ou mesmo aqueles concebidos pelo próprio demonólatra. Os sigilos são, geralmente, escritos em pergaminhos e queimados como oferendas e agradecimentos aos demônios. O ato de queimar o sigilo é visto por demonólatras como transformar o conhecimento em energia, tornando – o disponível para ser absorvido pelo demônio.

Não existe tal coisa como um clã dentro Demonolatria e demonólatras são mais geralmente praticantes solitários. No entanto, alguns optam por estabelecer os seus próprios caminhos e tradições ou participar de outras seitas e grupos de trabalho. Embora sacerdotes da Demonolatria sejam ordenados apenas após estudo rigoroso e comprovada dedicação ao caminho — não há necessidade de “iniciação”. Ritos de auto-iniciação e auto-dedicação são “oficialmente” aceitos como iniciações.

Não há “textos sagrados” a serem encontrados dentro da Demonolatria. Em vez disso, o conhecimento dos demônios é adquirida a partir da experiência de trabalhar com eles e a partir dos textos de muitos grimórios antigos e modernos (embora demonólatras rejeitem as aparências muitas vezes monstruosas dos demônios representados em textos cerimoniais como a Chave Menor de Salomão). Uma influente fonte aceita por muitos demonólatras modernos é a Hierarquia de Richard Dukante. Os sigilos e enns (orações sagradas, em línguas bárbaras, exclusivas para cada demônio) de Dukante são considerados precisos e muitas vezes são uma parte comum de materiais da prática do demonólatra.

DEMÔNIOS PATRONOS E MENTORES

Cada demonólatra trabalha com um demônio fundamental — este Demônio é chamado de “patrono”. Assim como wiccanos trabalham com divindades patronas, os demonólatras o fazem — no entanto, ao contrário da Wicca, é incomum demonólatras terem a dualidade de um demônio patrono e uma matrona. O demônio patrono pode ser um demônio com quem o demonólatra se conecta em um nível pessoal, que é o completo oposto de sua personalidade, o seu demônio elemental, que lhe dá lições para beneficiá-lo em uma miríade de fatores decisivos. Assim como wiccanos escolhem o seu patrono ou seu patrono os escolhe, os demonólatras o fazem.

Muitos demonólatras optam por ter o sigilo de seu patrono ou matrona marcado, cortado ou tatuado em sua pele, a fim de marcarem-se como um devoto de tal demônio.

Junto com um demônio patrono, a maioria dos demonólatras trabalham com o que é conhecido como mentor. O demônio mentor sempre escolhe o demonólatra — e não o contrário. Nessa relação, o mentor procura guiar o demonólatra ao longo de seu caminho e lhe ensinar habilidades para sua vida e para ajudá-lo em suas atividades terrenas. Esta é uma relação diferente daquela do patrono em que o mesmo auxilia o demonólatra em questões relacionadas com o demonólatra como pessoa (ou seja, ajudando-o a melhorar de vida, identificar seus pontos fortes e fracos e superar os obstáculos relacionados com a sua personalidade e seus medos).

Demonólatras não trabalham apenas com seus demônios patrono / matrona e mentor. Eles também trabalham com muitos demônios por inúmeras razões diferentes.

A VISÃO DEMONÓLATRA DOS DEMÔNIOS

Demônios são, para aqueles que os adoram, deuses. Eles não são criaturas inferiores de algum abismo flamejante deslizando através de nossos pesadelos para criar perigo e perversidades, mas sim seres divinos, assim como os deuses são seres divinos para wiccanos e muitos outros pagãos. Demônios são, em suma, os deuses rejeitados da antiguidade — vilanizados e injustamente temidos pelo cristianismo, perpetuados com falsos mitos. Embora a natureza dos demônios seja subjetiva e as opiniões sobre o que eles “são” variem de demonólatra para demonólatra, a maioria concorda que todos eles são uma raça de seres pertencentes a uma única fonte de energia — “O Todo” ou “Deus”, se você preferir. Algo muito parecido com o princípio do Mentalismo — demônios são muitas vezes considerados como manifestações de uma única fonte de força vital.

Isso não quer dizer que os demônios não são seres únicos com motivações e personalidades individuais, mas que, como nós e todas as criaturas da Terra, estão interligados pelo fluxo infinito do Espírito. Tal como acontece a maioria dos adeptos do LHP, demonólatras acreditam que o espírito do homem é tão exaltado e sublime como qualquer deus, demônio ou qualquer outro ser — posto que estamos todos interligados e todos nós somos o Espírito. Nenhum ser é menor ou maior do que o outro.

Demonólatras acreditam, quase por unanimidade, que os demônios são nossos amigos e nossos instrutores. Eles são os nossos guias e os nossos mentores, nossos guardiões e nossos protetores. Isso não quer dizer que demonólatras ingenuamente acreditem que os demônios são totalmente benévolos — mas que eles não são mais “perversos” do que qualquer outro deus de qualquer panteão. Demonólatras geralmente acreditam que os demônios obtêm benefícios a partir da troca de energia conosco, e que o respeito a demônios (às vezes) é crucial para nossa prosperidade e sustento. No entanto, a maioria concorda que os demônios não “necessitam” de nós para sobreviver, mas é uma honra beneficia- los tanto quanto eles nos beneficiam. Demonólatras acreditam que a percepção dos demônios, como os abordamos e consideramos reflete com precisão no comportamento destes para conosco. Em suma, se você tem medo de demônios e trata-os com desdém, suspeita ou desgosto, eles provavelmente não vão tratá- lo com muita dignidade — assim como geralmente agiria qualquer outro ser.

Lembre-se que os demônios, para demonólatras, não são seres intrinsecamente maus, conquanto são apenas deuses como os deuses e deusas wiccanos e pagãos. Há demônios do amor, fertilidade, amizade, famílias, crianças e até animais de estimação — assim como há demônios de destruição, vingança, peste e crueldade. O balanço não é totalmente “bom” ou “mau”. Demônios são seres espirituais e não estão presos a ideais humanos. No entanto, para demonólatras, demônios não são seres, de qualquer maneira, do mal.

Mais uma vez, as crenças de um demonólatra ou mesmo de cinquenta não são expressões das crenças de todos os demonólatras — mas de modo geral, a fonte do Espírito é Satan. Satan não é a antítese de “Deus” — Satan é vida… um ser que é ao mesmo tempo consciente e incognoscível — o Criador Todo-Poderoso. Satan é “Deus” para muitos demonólatras. “Deus” e Satan não são seres separados dentro da perspectiva de algumas formas de Demonolatria — eles não estão em oposição. Eles são a mesma pessoa — o mesmo Criador. Eles são energia, vida, o Espírito Puro.

Satan, para a maioria dos demonólatras, não é o Satan da Bíblia, o nome pode ser o mesmo, todavia Satan é Deus e Deus é Satan. O Espírito não pode ser limitado por meras palavras.

FESTIVAIS SAGRADOS DA DEMONOLATRIA

Assim como na Wicca, algumas seitas de Demonolatria Moderna reconhecem o fluxo e refluxo do ciclo da vida e o passar dos dias do ano.

Os demônios fundamentais (ou primários) adorados e reconhecidos durante estas festividades são Lúcifer, Leviatã (que domina dois festivais), Flereous, Eurynomous e Belial. Eles representam, respectivamente, a iluminação e a primavera; o ciclo da colheita e do fluxo de emoções dentro de si; o Fênix renascido das cinzas e a ideia do renascimento; o ciclo da morte e da auto- renovação e novos começos com a proclamação do renascimento do Sol.

Os dias dos Festivais Sagrados mais comumente observados na Demonolatria são as seguintes:

21 de março — Rito a Lúcifer
02 de maio — Rito a Leviatã
21 de junho — Rito a Flereous
21 de setembro — Segundo Rito a Leviatã
 de outubro — Rito a Eurynomous (Baalberith / Babael)
→ 21 de dezembro — Rito a Belial
Há também os ritos oficiais de casamento, ritos batismais, divórcios e até ritos funerários. Tal como acontece com qualquer outro caminho, estes são geralmente realizadas por um Sacerdote ordenado ou Sacerdotisa e são geralmente realizados em dias específicos de festividades que correspondem à natureza do rito.

CONCLUSÃO

Demonólatras normalmente não acreditam em ocasional possessão demoníaca, que alguém vá para o inferno ou que haja qualquer Anticristo. As pessoas não podem se tornar demônios. Demonólatras também não acreditam que Satan existe para nos tentar e recolher almas para seu entretenimento pessoal.

Embora sempre haja maçãs podres, como regra demonólatras não são maus, nem todos eles vestem-se de preto, usam correntes e maquiagem pesada, eles não se automutilam, eles não sacrificam animais ou crianças, eles são simples e não criminosos devassos, não pregam o ódio e a violência. Demonólatras são pessoas comuns que são mães, pais, avós e amigos. Demonólatras aceitam a validade das crenças de todos, acreditam que a experiência é subjetiva e que o Divino se manifesta de forma diferente para todos. Somos todos irmãos e irmãs.

Esperamos que você tenha gostado deste artigo e saia com uma melhor compreensão deste caminho muitas vezes incompreendido e às vezes até mesmo temido. Demonólatras não são muito diferentes de wiccanos ou de praticantes de qualquer outra fé neopagã — demonólatras simplesmente reconhecem um conceito diferente de Divino

Alto Escalão Infernal

 

No inferno o que manda é a fúria e o ódio dos demônios que lá compõem uma hierarquia realmente assustadora. Tudo o que fazem é odiar a Deus e a suas criaturas divinas e tentar enganar os seres humanos, a quem consideram uma raça inferior (o que na verdade são) e devem obedecê-los cegamente, para, assim, os demônio se apoderarem de nossas almas e arrasta-las para as profundezas do inferno para experimentar um tipo de dor realmente inimaginável. O inferno funciona mais ou menos como uma empresa, o que está se expandindo por todo o mundo aumentando a competição entre os homens e o ódio entre os mesmos, com uma hierarquia não muito definida. Depois de uma pesquisa que
eu fiz lendo alguns livros sobre o assunto, descobri que muitos apresentam definições diferentes para essa hierarquia no inferno, mas os demônios que mais aparecem no primeiro escalão infernal são os citados abaixo:

Lúcifer

Por ser o mais poderoso, não se mostra muito vil, tomando uma postura altiva conivente com a sua ocupação nos círculos infernais. É o Imperador Supremo, o líder da Rebelião dos Anjos contra Deus, o primeiro a cair no inferno. Quando cai se divide, criando o seu irmão Satan, apenas seu lado mais furioso e com mais sede de sangue. Ao se apresentar para as pessoas ele toma a forma que quiser, o que, na verdade, todos os demônios podem, mas Lúcifer, por causa da importância da sua posição não se apresenta com formas grotescas, agressivas ou malcheirosas.Talvez por ter essa atitude altiva, não se mistura com outros demônios, considerando-se superior e desprezando os outros. Teme a Deus como todos os outros demônios. Nos combates registrados que ele travou com Jesus ou com as criaturas divinas de Deus ele perdeu e sabe que só existe orque Deus permite, está, para sempre, confinado no inferno, de onde sairá no dia do Juízo Final e comandará suas forças demoníacas e suas legiões de espíritos imundos contra as forças de Deus na famosa guerra entre o bem e o mal conhecida como o Armagedon.

Satan

Existe muita discordância a respeito deste demônio, porque muitos pensam que ele é alguém diferente de Lúcifer ou simplesmente o mesmo demônio. Mas na verdade eles (Satan e Lúcifer) são a mesma “pessoa”. Satan é apenas o lado mais furioso de Lúcifer. Mas, como tem um “alto cargo” no inferno, não se ocupa muito em fazer, e sim em mandar. Revoltado com o mundo e com Deus, ele ataca os seres humanos sem piedade fazendo de tudo para que eles fiquem mais perto do inferno e longe de Deus. Prefere, ao contrário de seu irmão Lúcifer, tomar formas gigantescas, violentas e assustadoras para aparecer para os desafortunados que desejam manter algum contato com esse tipo de criatura. Na verdade toda essa agressividade serve para mascarar sua inteligência, altivez e paciência com que trama seus planos contra a humanidade. Toda a sua ocupação se volta a corrupção de almas, controlando todas as organizações que pregam a opressão do Homem pelo Homem, os Nazistas, por exemplo.

Belzebu

Considerando-se bastante superior, se mostra o mais furioso e antipático de todos os demônios. Trata-se de uma inteligência inumana revoltada com qualquer forma de harmonia. É mais agressivo do que qualquer psicopata assassino que só sabe matar. Tudo o que deseja é matar a todos o mais rápido possível da pior maneira. Como não é tão inteligente quanto os outros, usa essa ignorância a seu favor, combinando-a com toda a sua raiva sem fundamento e formando uma forma de vida realmente demoníaca e fora do comum, realmente fora da compreensão de qualquer ser humano. Uma prova de sua agressividade são as formas que ele assume para aparecer. São formas simplesmente insuportáveis de tão feias e distorcidas. São formas além da imaginação das pessoas, as quais não se suporta olhar por apenas alguns segundos. Toma forma de todas as matérias putrefatas como lixo, carne podre e materiais tóxicos. É o responsável por várias doenças como a Aids e o vírus Ebola e infecções diversas. Também é o responsável por fazer figuras históricas falarem frases abomináveis como a famosa citação de Calígula: “Queria que o povo tivesse uma só cabeça, para corta-la de um só golpe!”. Isso além de proteger pessoas como Ronald Reagan, Margareth Tatcher e outros a quem protege. Completamente furioso e revoltado, se não fosse a ação de anjos ele consumiria todo o universo com sua fúria suprema e incontrolável. Como é impedido de fazer isso, ocupa-se em corromper a Inocência das pessoas, semear o desespero e o pânico entre os humanos, a quem considera apenas bonecos para matar sempre e sempre.

Astaroth

Poderia ser considerado o “Homem do Dinheiro” do inferno. Enxerga toda a humanidade como produtos numa prateleira. Seria o demônio da avareza, o que incentiva as pessoas a serem escravas do dinheiro. Ele considera a humanidade como seu patrimônio, trata tudo como uma posse.Embora seja feio e extremamente fedorento, é um dos demônios mais “sociáveis”, tendo uma voz agradável, claro, conivente com a sua ocupação no inferno. Ele recebe uma certa “adoração” por parte dos humanos quando algumas de suas idéias são usadas como pilares básicos de nossa sociedade, na verdade, mais nos mundo comercial, mas são idéias que muitas pessoas tem e realmente defendem. Outra forma de sua manifestação entre os humanos é o vício no jogo, principalmente quando tem dinheiro no meio, e a necessidade incontrolável de apostar, colocando em risco tudo o que ganhou numa vida inteira.  Astaroth é um demônio que age de acordo com suas necessidades, por isso não é tão agressivo e desagradável. Ele é apenas um negociante e não precisa
ser furioso, apenas impassível e completamente despreocupado com a humanidade, apenas com o seu valor.

Lilith

Seria o demônio que qualquer homem gostaria de encontrar, mesmo tendo que pagar o eterno preço de queimar no inferno. Isso porque ela se oferece de acordo com os seus desejos mais íntimos, mais eróticos e demoníacos. Ela é o demônio da luxúria, que “arrasta” os homens ao inferno atraídos pelos oferecimentos de seu corpo de mulher.
Condizente com a sua função, ela deve se apresentar da forma mais “bela” possível, para seduzir os homens apresentando-os os prazeres sexuais. Ela pode ser considerada um dos demônios mais perigosos, mesmo por ocupar uma posição bastante elevada na hierarquia infernal. Apesar de se mostrar tão “amigável”, ela odeia os humanos tanto quanto os outros, e, na verdade, os uso apenas para mostrar sua altivez perante os outros demônios, sendo um dos que mais arrasta almas para o inferno.Outro fato impressionante sobre
ela, visto em minhas pesquisas, é a referência de ela ter sido mulher de Adão, o que leva a crer que Lilith era, antes de sucumbir ao inferno, Eva. Ela é um demônio muito requisitado: quando os outros não sabem o que fazer, ela sabe e faz com a maior vontade e ódio, sedenta a completar o seu objetivo. Mas, ao invés de perseguir suas vítimas, ela prefere atraí-los, o que faz muito bem. É ela que decide qual demônio será designado para cada missão e tem o poder de suspende-los se não desempenharem bem a sua função.
É o demônio mais difícil de se escapar, pois seus prazeres e pecados estão sempre a nossa volta apresentados de todas as maneiras na televisão, Internet, e revistas pornográficas. Na atual sociedade, onde o talento das pessoas se mede pelo tamanho da bunda rebolando, as delícias infernais de Lilith estão sempre presentes, mesmo dentro das nossas casas.

Mefistófeles

Trata-se do demônio mais perigoso e mais falso que existe. Isso porque ele consegue fazer um uso quase perfeito da Lógica, o que faz com que você se convença de que ele realmente está certo. Essa é a sua forma de agir: enganando, mentindo, induzindo as pessoas a aceitarem suas blasfêmias e descerem ao inferno crentes que estão certas do que passaram a pensar. Se apresenta da forma mais inofensiva, talvez para mostrar que não importa que o tamanho seja pequeno, aquela forma mínima pode ser a mais perigosa já
imaginada pelas pessoas. Está aí para provar que as aparências enganam. Ele é o demônio das mentiras, negando sempre a existência de qualquer Verdade a ser buscada, ou que exista algum Deus. Os filhos humanos de Mefisto, que estão entre nós, são pessoas de um número elevado e de uma inteligência fora do normal, mas voltadas para o mal, uma mente genial distorcida e voltada para atender as vontades malignas. Mefistófeles acha que a humanidade não deveria existir, que a sua formação provém de um acidente bioquímico sem nenhuma importância. Influenciados por este princípio sem fundamento, muitos pensamentos feitos por humanos afirmam que a raça humana não é importante ou não seria nada ao lado do gigantesco universo, mesmo que não o tenham dito de forma tão direta. Decidido a confundir os humanos com suas mentiras e blasfêmias contra Deus,
mostra-se um demônio que utiliza sua sabedoria para fazer com que os humanos cada vez mais se afastem do Senhor e desça ao inferno para a dor eterna, mesmo achando que aquilo é correto.

Belial

É um demônio muito difícil de se encontrar algum material registrado, pouca coisa se sabe sobre ele. Apenas sabe-se que é um dos mais vis e malignos e foi um dos primeiros a aderir à Rebelião dos anjos contra Deus e um dos que mais arrastou anjos para combater contra Ele. Por ser muito furioso, assume formas grotescas e símbolos de voracidade e
fúria. Por ser muito prepotente, recusa-se a assumir formas humanas, por achar essa raça realmente inferior e, a seus olhos, repugnante. Por causa de um culto aberto feito a ele na cidade de Sodoma, a cidade foi destruída. Belial foi aprisionado pelo Rei Salomão, colocado numa garrafa com sua legião e atirado num poço. Foi posteriormente libertado pelos
babilônios. Nada mais foi comprovado pelos livros e demonólogos sobre este demônio. Sabe-se também que, por ser um demônio de revolta sem sentido, inspira os crimes bárbaros, geralmente sem razão aparente, e também inspira os “serial killers”, por serem realmente frios e não terem nenhum motivo real para serem o que são e fazerem o que fazem.

Belphegor

Seria considerado o demônio da modernidade, um dos mais ativos e inventivos. É o responsável pelo caos de tecnologia e todo o tipo de máquinas feitas para o mal, como armas, a pólvora, instrumentos de tortura e o aparelho do qual mais se orgulha: a bomba. É um demônio que está sempre se aprimorando, de acordo com o desenvolvimento da tecnologia. Antigamente se apresentava como um velho aparentando sábio, hoje em dia, se apresenta como um emaranhado de fios e aparelhos eletrônicos, teclados e monitores de computador. Hoje em dia, por estar muito orgulhoso por toda a sua modernidade maligna ter se espalhado por todo o mundo, é um demônio muito evitado pelos outros, sendo consultado apenas em último caso.Realmente ele deve ter muita razão para estar orgulhoso, uma vez que todos os humanos, hoje em dia, têm um computador em casa, e são poucos que não tem acesso à Internet. Até parecem coisas inofensivas e úteis, o que na verdade são, mas os homens, por causa da sua ignorância, usa os meios de comunicação para ver coisas como violência, mortes reais, pornografia e outros pecados que cada vez mais dão motivos para Belphegor ficar mais orgulhoso e ir se aprimorando cada vez mais.

Leviathan

Outro espírito que acompanha a evolução dos tempos. É um demônio muito  comentado por ter participações diretas em possessões das mais cruéis e freqüentes. Mas isso é passado, ao invés do profanar materiais Sagrados, agora ele prefere despertar a agonia nas pessoas alimentando a melancolia da cidade. Como todos os demônios que preferem angustiar a atacar, ele assume formas vertiginosas e assustadoras, que não parecem fazer sentido, apenas para angustiar e confundir. Como Belphegor, adiantou-se no tempo e não tem mais como prioridade as possessões e sim despertar sofrimentos causados pela vida na cidade, como a solidão urbana, depressão, suicídio e qualquer forma de auto punição.
Inspira os crimes cruéis cometidos pelos poderosos como a indiferença para com os necessitados, e a dureza da alma. É o regente da Mídia. Sua atuação prolifera-se com o aumento de menores abandonados e o grande número de sem-tetos. Você pode pensar que Leviathan seria o demônio mais ocupado do inferno, mas, você pode perceber que seus atos são também feitos, na verdade bem mais feitos, pelo homem e seus conceitos da Sociedade, que são tão cruéis quanto os demoníacos.
O homem, por causa da sua ignorância e influência de todos os demônios juntos, se mostra tão cruel e demoníaco quanto as criaturas infernais. Existe tanta discordância entre a raça humana quanto entre os demônios. Isso vem provar que o homem está cada vez mais sendo levado para junto dos malignos por causa da sua eterna burrice e incrível capacidade de serem persuadidos por qualquer idéia maligna, por mais ridícula que seja. Toda essa estupidez só serve para comprovar que, na luta entre o bem e o mal, a vitória, por enquanto, é do inferno…

A Goetia do Dr. Rudd

 

A Goetia é o grimório mais famoso depois da Chave de Salomão. Este volume contém uma transcrição de um manuscrito inédito do Lemegeton que inclui quatro grimórios completos:

Ars Paulina
Ars Almadel
Theurgia-Goetia
Lemegeton Clavicula Salomonis
Liber Malorum Spiritum seu Goetia

Este manuscrito era propriedade do Dr. Thomas Rudd, um mago erudito praticante do início do século XVII. Existem muitas edições da Goetia, das quais a mais definitiva é a de Joseph Peterson, mas aqui estamos interessados ​​em como a Goetia foi realmente usada por magos praticantes nos séculos XVI e XVII, antes que o conhecimento da magia prática desaparecesse na obscuridade.

Muitas técnicas práticas usadas no passado foram esquecidas. Os autores as restauram usando o manuscrito do Dr. Rudd. Por exemplo, evocar os 72 demônios listados aqui sem a capacidade de restringi-los seria realmente temerário. Era bem conhecido em tempos passados ​​que invocatio e ligatio, ou restrição, eram uma parte chave da evocação, mas nas edições modernas da Goetia esta técnica chave é expressa em apenas uma palavra ‘Shemhamphorash’, e seu uso não é explicado.

Este volume explica como os 72 anjos do Shemhamphorash são usados ​​para amarrar os espíritos e o procedimento correto para invocá-los com segurança usando selos duplos que incorporam o necessário anjo Shem controlador, cujo nome também está gravado no Peitoral e no Vaso de Bronze.

RESENHAS DE A GOETIA DO DR. RUDD:

Uma ‘Obra Obrigatória’ para Estudantes e Praticantes

Resenha de Thabion (Orange, CA EUA), 25 de fevereiro de 2008:

Este livro é uma “obra obrigatória” para qualquer pessoa que esteja seriamente interessada na Magia Cerimonial Salomônica, seja do ponto de vista acadêmico ou prático. Está no mesmo nível do Lemegeton de Joseph Peterson — que complementa e amplifica com uma riqueza de materiais autênticos do século XVII inéditos do famoso mago Thomas Rudd (ver o Tratado sobre Magia dos Anjos, McLean 1982). Rudd não era um seguidor escravo de textos antigos. Ele até tentou uma síntese do sistema enoquiano do século 16 do Dr. John Dee e da Goetia. No interesse da pureza, Joseph Peterson recusou qualquer uso importante da versão pessoal particular de Rudd da Goetia (e os livros restantes do Lemegeton: B.L. Harley MS. 6483) por causa das adições e modificações criativas de Rudd – com exceção da próprio importante amostra das invocações e sigilos de Shemehamphorash que Rudd usara para controlar com segurança seus espíritos goéticos.

Como Skinner e Rankine apontam, Rudd também incluiu material do Heptameron anterior, atribuído a Pedro de Abano, em sua versão da Goetia. Parece também que Rudd pode não ter usado um triângulo em suas operações goéticas, embora ele fosse consciencioso o suficiente para não excluir nenhuma das inúmeras instruções para seu uso nos textos que estava empregando. Neste caso, os autores-editores encontram significado na ausência de uma representação gráfica do triângulo na versão de Rudd da Goetia. (É possível que Rudd simplesmente tivesse sua própria versão do triângulo que ele não desejava registrar, ou que estivesse faltando um fólio do Manuscrito.) Os autores-editores também sugerem que Rudd usou o Vaso de Bronze como um dispositivo de conjuração primário. Eles prudentemente se abstêm de conjeturar como poderia ter sido empregado (veja a página 185, não 181), mas citam as notas de Rudd seguindo as conjurações padrão: “Você pode comandar esses espíritos no Vaso de Bronze como você faz no Triângulo. Dizendo isso você faz imediatamente aparecer diante deste Círculo, neste Vaso de Bronze em uma forma bela e graciosa & etc. como é mostrado (sic) antes nas conjurações.”

Somos deixados à nossa própria engenhosidade sobre como exatamente isso seria feito, mas, com base na experiência passada, sugiro que um amortecedor e um bom grau de polimento de bronze possam ser essenciais…

Como uma nota lateral, Skinner e Rankine apontam que o desenho do século XVII de Peter Smart do que eu supunha ser a parte de trás de um suporte de espelho era na verdade um desenho do Vaso de Bronze. Eu acho que eles estão certos sobre isso, mas eu estava em boa companhia com Adam McLean neste caso, então não me sinto muito chateado com meu erro…

Com esta pequena reclamação, gostaria de mencionar algumas outras contribuições muito importantes neste volume. Os autores-editores fizeram o melhor trabalho até agora em desvendar a complexidade rosnante das atribuições planetárias e astrológicas goéticas que atormentaram estudiosos e magos sérios por séculos. Obviamente, temos espíritos marcianos (condes), embora não tenhamos lamens de ferro ou aço para eles. (Embora não esteja claramente declarado neste livro, devemos assumir que o ferro não é usado porque tradicionalmente repele e controla os demônios – especialmente na tradição árabe do Anel de Salomão, que os autores mencionam).

Rudd aparentemente não usa o tradicional Selo Goético Secreto de Salomão para fechar seu Vaso de Bronze. Este dispositivo é familiar a todos os estudantes da arte e está representado no desenho de Peter Smart mencionado acima. Mostra o Vaso de Bronze em corte transversal, tampado com uma camada de ferro (Marte) e selado com uma camada de chumbo (Saturno). O ferro controla os espíritos e Saturno é o limite planetário/sefirótico externo do universo cabalístico que os espíritos goéticos habitavam antes da Queda (rebaixados até Yesod, se você tomar nossa interpretação – rebaixados até as Klippoth se você seguir Steve Savedow).

Rudd prefere usar outro desenho que encontramos em Trithemius e Agripa. Os autores-editores fornecem uma riqueza de tabelas extrapoladas, apêndices e notas de rodapé copiosas. Este é um trabalho muito valioso e, com minhas pequenas objeções, sou compelido a admirar e apreciar sua erudição. Como eu disse no início desta revisão. Este livro é “obrigatório” se você leva a sério o estudo e/ou a prática na escola da Magia Salomônica.

Carroll “Poke” Runyon, editor do The Seventh Ray.

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Um Livro que Todos os Magos Precisam Ler e Possuir

Resenha por Mark Stavish, do Instituto para Estudos Herméticos de Wyoming, Pensilvânia, 14 de novembro de 2007:

Ao publicar “A Goetia do Dr. Rudd”, Skinner e Rankine forneceram à comunidade de magos operativos uma porta de entrada para as práticas mágicas medievais e renascentistas tradicionais que até agora só haviam sido parcialmente abertas. Embora muitos livros tenham sido escritos sobre a Goetia, é aqui, neste livro, que temos uma visão do funcionamento real de um mago que era uma conexão direta com o círculo de Dee, e parte da transmissão contínua dessas ideias em forma OPERATIVA para o período pós-renascentista. A primeira seção do livro é uma introdução geral ao mundo da magia e uma base importante para entender as diferenças significativas entre as práticas modernas e tradicionais. Há também uma discussão sobre ‘por que outro livro sobre goetia’ e os detalhes significativos que diferenciam este dos outros – ser parte de um diário operatório da obra, bem como a inclusão de materiais não vistos anteriormente com goetia, como o Heptameron, sugerindo uma ligação direta entre os dois. Embora de interesse para o mago de poltrona e ocultista acadêmico, são os magos práticos que mais se beneficiarão deste trabalho, bem como os dois volumes anteriores da série – Magia Angélica: Prática das Tabelas Enochianas do Dr. Dee e Chaves para o Portal da Magia: Convocando os Arcanjos Salomõnicos e os Princípes Demônios, também um manuscrito raro de Rudd. Não posso falar o suficiente desses trabalhos e estou em dívida com os editores por disponibilizá-los e estou ansioso para futuras adições à série.

Um Histórico Brilhante e Instantâneo do Lemegeton em Ação!

Resenha de M. Stone “Frater Iustitia Omnibus” de San Antonio, Texas, 14 de outubro de 2007:

A primeira pergunta que vem à mente quando se vê mais uma “Goetia” no mercado, obviamente, é: “Por que devo considerar esta edição?” Nesse caso, a resposta é um pouco complexa demais para ser resumida em um único slogan.

A primeira coisa que quero deixar claro é que não é apenas a Goetia, como o título sugere, mas todo o Lemegeton! Além disso, é baseado na versão manuscrita inédita compilada pelo Dr. Thomas Rudd. (Harley MS 6483)

Enquanto o Lemegeton de Joseph Peterson é claramente a versão definitiva, Skinner e Rankine usam este livro como uma mesa de operação para descobrir como este material foi usado por magos reais dos séculos XVI e XVII. O processo, de acordo com os autores, é de dualismo, onde o mago controla entidades básicas pelo uso de suas contrapartes divinas correspondentes. Esse é um conceito que é mencionado, mas nunca desenvolvido no próprio Lemegeton. Este volume entra em muitos detalhes sobre o uso dos 72 nomes do Shemhamphorash para prender e controlar os 72 “demônios” da Goetia. Este conceito não é apenas explicado, são ilustrados nestas páginas, os verdadeiros selos de dupla face como empregados pelo Dr. Rudd e presumivelmente seus contemporâneos.

Outros detalhes que não foram publicados anteriormente, como o uso adequado do Vaso de Bronze e do Peitoral, serão suficientes para tirar até os teóricos goéticos de poltrona da cerca, para fazer essa compra.

Os magos enoquianos podem estar interessados ​​em ver a versão do Dr. Rudd da Tabula Sancta cum Tabulis Enochi (A Mesa Santa com as Tábuas Enochianas) de Dee.

Este trabalho maciço de 448 páginas (no original em inglês) tem muitas notas de rodapé, e o estudante de Magia Salomônica apreciará o amplo material posterior.

O conteúdo no original em inglês está dividido da seguinte forma:

Matéria de Capa – 14 páginas, incluindo a introdução.
História e Origens – 43 páginas.
Métodos de Evocação – 24 páginas explorando restrições, nomes, anjos adversários, invocações, equipamentos e cerimônias.
Os Manuscritos – tratamento de 241 páginas do Lemegeton completo do Dr. Rudd, que ele mesmo chamou de Goetia por razões que me escapam. Deve-se entender que, na verdade, a Goetia é apenas um dos livros do Lemegeton completo.
Os Apêndices estão divididos da seguinte forma:

Apêndice 1 – Theugia-Goetia em Sloane 3824.

Apêndice 2 – Tabelas de Demônios do Lemegeton (24 páginas de tabelas!) Este é um trabalho dos sonhos de estudo comparativo sobre as entidades goéticas e sua classificação. Também estão incluídas as grafias hebraicas dos nomes, grafias alternativas, e se algum lugar for montado, outras qualidades, anjo governante, número de legiões, planeta (com base no metal associado à classificação do espírito) aparência evocada e poderes atribuídos.

Apêndice 3 – Síntese de Thomas Rudd de Goetia e Enochiano.

Apêndice 4 – Rudd descreve 61 demônios.

Anexo 5 – Fontes para o material no Lemegeton.

Apêndice 6 – Selos da Goetia de Sibley.

Apêndice 7 – Anjos Shem ha-Mephorash

Apêndice 8 – Horas Planetárias Eclesiásticas

Apêndice 9 – Esta é uma peça estranha, mas realmente fala com a mentalidade do século 16 da Goetia e auto justificação. É uma explicação dos nomes usados ​​na Goetia, com alguma outra Cabala aleatória lançada. Mas se você precisar dizer, a oração consagradora de Vênus, bem, aí está.

Anexo 10 – Estudo de algumas das palavras utilizadas na evocação. Esta seção é uma lista grega e hebraica de derivações de palavras usadas em evocações goéticas.

Apêndice 11 – Narrativa do Dr. Rudd, Sir John Heydon e um espírito “Como um homem pode ter a sociedade contínua de um gênio guardião”

Apêndice 12 – Formas variantes de círculos ao estilo do Heptameron.

Anexo 13 – Observações de metais e tempos de restrição.

Anexo 14 – Diagramas de equipamentos. Eu estava esperando por mais aqui, mas serve ao seu propósito.

Apêndice 15 – A forma do comando de espíritos dada no livro A Descoberta da Bruxaria, de Reginald Scot.

Se você deseja ter um currículo completo de estudo salomônico, sugiro que compre este volume junto com o Lemegeton de Joseph Peterson. A edição de Peterson é um trabalho comparativo erudito, enquanto o presente trabalho é um instantâneo da Magia Salomônica sendo colocada em prática. Esses dois volumes não apenas se complementam, mas são igualmente vitais para construir uma imagem precisa do escopo e do impacto deste ciclo de magia.

Sr. Skinner e eu discutimos a teoria do funcionamento goético no passado. Deve-se notar que os autores não apenas relatam o modelo dualista do funcionamento goético, eles defendem a teoria por trás dele. Eu mesmo tenho uma visão diferente, vendo o Lemegeton como um “Livro dos Mortos” para os vivos, movendo o Alto Xamanismo para a Europa do século XVI (para não mencionar as Américas do século XXI). Considere quantos desses seres começam como um espírito-animal, apenas assumindo uma formosa forma humana após uma batalha de vontades com o exorcista da Arte. Mesmo assim, eu mal conseguia largar esse volume. Há muitas pérolas nestas páginas para qualquer estudante de Magia Salomônica.

Em uma nota final, o autor afasta um pouco o véu sobre por que não há espíritos goéticos associados a Marte e levanta a questão de haver um único demônio atribuído a Saturno. Eu havia feito um comentário semelhante em minha revisão da reformulação do Goetia por Runyon há algum tempo.

Espero que as resenhas precedentes tenham dado uma boa ideia do que está contido no livro – recomendo-o sem reservas aos interessados na área, tanto como um texto histórico interessante quanto principalmente como um sistema de evocação completo e prático. Termino com a citação de Rudd que adorna o início do livro As Chaves para o Portal da Magia: Convocando os Arcanjos Salomônicos e os Príncipes Demônios, de Stephen Skinner & David Rankine:

“Aquele que é um verdadeiro mago, é gerado como um mago desde o ventre de sua mãe; e aquele que foi gerado de outra forma, deve compensar esse defeito da Natureza pela Educação”.

E este livro, A Goetia do Dr. Rudd, certamente faz parte dessa educação.