quinta-feira, 1 de março de 2018

Magia Sexual Parte 1



A magia sexual se baseia na premissa de que nenhuma causa pode ser impedida de seu efeito. Qualquer descarga de energia, de qualquer natureza, tem um efeito em todos os planos. E se por algum motivo os resultados em um plano são impedidos, eles se manifestam em outro. A descarga de energia nunca é perdida e ela forma uma imagem astral da ideia dominante na mente no clímax da cópula. A expansão da consciência produzida por um orgasmo magicamente controlado projeta no astral a imagem produzida pela mente. Por esta razão, o Arcano sempre foi mantido longe da mente profana. Na mente ordinária, essa ideia é geralmente uma imagem luxuriosa. Isso cria uma tendência, um hábito «saṃskāra» que se fixa na mente. Consequentemente isso se torna cada vez mais difícil de controlar. Os membros da O.T.O. são treinados em erradicar essa tendência negativa antes de serem admitidos ao Soberano Santuário da Ordem, pois somente um adepto pode manipular com impunidade a corrente sexual e administrar com sabedoria as volições da Serpente de Fogo. Se o buscador despreparado se aventura nesse terreno perigoso, sua prole mágica será, sem sombra de dúvida, uma horda de obsessores dos mais variados tipos. O abuso e a execução deliberada do Arcano engendra entidades qliphóticas, fantasmas compostos de matéria tênue que dominam a estrutura psíquica e se alimentam de fluídos nervosos.

O adepto treinado evoca imagens específicas que se tornam instantaneamente vivas. Elas são conexões dinâmicas com os centros mais sutis e profundos da consciência e atuam como catalisadores para a finalidade da operação mágica. O objetivo da magia sexual é, portanto, encarnar essas imagens através do uso correto da energia. Para isso, é necessário formular a vontade com cuidado e estrita economia de meios. Não deve haver nada na mente no momento do orgasmo exceto a imagem da «criança» que se pretende trazer ao nascimento. Mas mesmo o alto iniciado tem de se resguardar de possíveis obsessões trazidas dos recessos mais profundos do subconsciente. Para isso ele invoca guardiões mágicos e instaura guardianias em todas as direções do espaço.

Babalon: O Ofício da Mulher Escarlate

O nome Babalon é utilizado para designar o ofício da Mulher Escarlate. Ele difere-se da versão apocalíptica não somente em sua ortografia, mas também porque o conceito bíblico da Mulher Escarlate é uma corrupção da antiga tradição mágica da qual – fora dos Santuários de Iniciação – a prostituição do Templo é a única forma lembrada. A tradição tem sido preservada no Tantra hindu e tibetano que descrevem cerimônias que envolvem a utilização dos kālas «elixires-medicinais» que empregam a exsudação de sacerdotisas especialmente treinadas. As mulheres de «perfume de doce-cheiro» ou suvasinīs têm mais do que uma correlação literária com o «perfume de doce-cheiro de suor» mencionado n’O Livro da Lei (I:27). A fórmula da Mulher Escarlate é a fórmula dasuvasinī.

Frater Ani Abthilal (David Curwen), eminente membro do Soberano Santuário da GnoseO.T.O. e adepto vāmācāra, escreveu sobre as suvasinīs em seu famoso Comentário Tântrico: «Elas são senhoras de perfume-adocicado [...] selecionadas para desempenhar o papel da Mãe. Elas devem ser buscadas como o único refúgio, [...] embora sejam escolhidas em uma das formas mais raras de magia que pertencem a esta escola de adoração, o ponto focal principal é a mulher, a única suvasinī.»

Nos śāstras «escrituras» do tantrismo, a suvasinī é uma «sacerdotisa» no sentido em que ela é o veículo escolhido da Deusa Suprema ou Poder Mágico «mahā-śakti». Seu corpo contém zonas de energia oculta intimamente relacionada à rede de nervos e plexos associados com as glândulas endócrinas, os cakras. Como a Deusa Suprema, ela é representada yantricamente pelo Śrī Cakra e mantricamente pelas vibrações secretas que invocam a Energia Criativa primordial em sua forma lunar ou feminina, i.e. em uma forma especialmente adequada para manifestação. Seu mantra nunca foi anotado ou escrito porque ele somente pode ser transmitido oralmente. O Śrī Cakra é, portanto a assinatura da Mulher Escarlate, já que ele delineia a fórmula da Deusa, seja de Nuit, Ísis, Kālī etc., não faz diferença.

Quando a Serpente de Fogo «kuṇḍalinī» é elevada e colocada em atividade, ela energiza os cakras da Mulher Escarlate gerando vibrações que influenciam a composição química de suas secreções glandulares. Depois de se apropriar do amṛta precipitado em qualquer um dos cakras, essas vibrações transformam-se em fluídos que fluem através da saída genital da sacerdotisa. As «fragrâncias» ou «essências» emanadas de cada cakra são assim disponibilizadas para inúmeros objetivos e quando consumidas como sacramento, transformam-se em ojas, pura energia mágica.

No Soberano Santuário da Gnose O.T.O., existem vários métodos para se obter os kālasda Deusa. O método aqui discutido é o do IX° O.T.O. e é equivalente à antiga fórmula Egípcia de Nuit, a Deusa do céu noturno, representada antropomorficamente por uma mulher nua arqueada sobre a terra. A imagem anterior desta fórmula conforme demonstrada na Estela de Ankh-af-na-Khonsu sugere o viparita-maithunā, o modo de congresso sexual da Deusa, no qual a sacerdotisa se coloca sobre o sacerdote. A fórmula viparita-maithunā é o símbolo da total reversão dos sentidos necessária para o completo despertar da Serpente de Fogo.