sexta-feira, 6 de abril de 2018

Tradição Mágica Salomônica



Rei Salomão (segundo algumas cronologias, reinou de 1009 a .C. a 922 a .C), filho do Rei David com Bate-Seba, tornou-se no terceiro rei de Israel (reino ainda unificado) e reinou durante quarenta anos. O nome Salomão ou Shlomô (em hebraico: שלמה, deriva da raiz Shalom, que significa "paz", tem o significado de "Pacifico".

Salomão na Antiguidade

O Testamento de Salomão é um antigo manuscrito pseudepigráfico, escrito em grego, mas baseado em um texto judeu, atribuído supostamente ao Rei Salomão. A versão grega provavelmente foi escrita no início do século III d. C  e parece ter sido copiada do original do Séc. I. 

Esse documento histórico vem ilustrar o processo de construção do Templo de Israel que vai ser citado no “Livro de Reis” do Velho Testamento e em alguns evangelhos.  Ele discorre sobre os demônios que Salomão teria subjugado com o poder de um anel dado pelo arcanjo Miguel e colocado a serviço da construção do grande Templo dedicado a Jeová. Salomão é destacado nesse apócrifo como um dos primeiros feiticeiros e especialista nas artes nigromânticas. Por fim ele disponibiliza uma longa lista de demônios que fazem parte da mitologia judaico-cristã, assim como suas características, ações e os nomes dos anjos que os frustram.

O pesquisador Charlton Mc Cown afirma que as fórmulas e receitas mágicas do Testamento de Salomão o associam aos papiros mágicos gregos (PGM). Ele identificou as principais ideias desse documento; isto é, demonologia, astrologia, angeologia, magia e medicina. Os Papiros Mágicos Gregos são "livros de encantamentos" conhecidos desde os tempos mais remotos e são chamados grimórios por acadêmicos da atualidade. A maioria deles foram resgatados das areias do Egito e estão escritos em grego antigo e egípcio demótico.

Em outro documento escrito no primeiro século a.C, conhecido como “Sabedoria de Salomão”, Salomão é retratado como o maior ocultista de sua época: estudou astrologia, magia das plantas, demonologia, adivinhação, mas também physika, ciência natural.

É necessário salientar que no mundo antigo sempre havia feiticeiros profissionais de todos os tipos, em todos os níveis. Alguns eram obviamente estudiosos treinados, uma figura sacerdotal – como os teurgistas neoplatônicos. No caso da figura, lendária ou real, de Salomão este é tradicionalmente visto como um feiticeiro erudito, um estudioso das ciências ocultas de sua época, mais parecido como um sacerdote egípcio, com uma espécie de mística.


Salomão na Idade Média

A Clavícula de Salomão é o mais antigo, e o mesmo tempo, o mais célebre tratado de Magia Cerimonial européia. O texto (grimorie) essencial para evocar, proteger e prender espíritos de todos os gêneros, creditado a Salomão, o Rei.

Provas circunstanciais demonstram que a Chave de Salomão realmente existiu, em uma forma ou outra, desde a antiguidade mais remota. Segundo os historiadores do assunto, e ao contrário do que seu título sugere, este livro não foi escrito pelo Rei Salomão. Supõe-se que Salomão tenha nascido em 1033 anos antes de Cristo. A maioria dos manuscritos originais tratam dos séculos XVI e XVII d.C, entretanto há uma versão em grego do século XV d.C e mesmo no século I a.C. como nos relata Flavius Josephus, existiu um livro assim. Eleazar, o Judeu exorcizava demônios com sua ajuda e com o Anel de Salomão, que é bem conhecido dos leitores das "Mil e Uma Noites".

A atribuição de uma obra a um personagem famoso era um recurso literário muito utilizado na Antiguidade e na Idade Média. Não era incomum, naquele tempo que os chamados Grimórios (livros de Magia) fossem escritos por mais de uma pessoa. Em geral eles consistiam do esforço conjunto de um grupo de estudiosos na compilação de materiais transmitidos oralmente há muito tempo, sem que fosse possível atribuir-lhes um autor específico.

Como dito acima os grimórios (manuais de magia) conhecidos pelo nome de Clavículas de Salomão são bem numerosos. Vários deles permaneceram manuscritos, sendo incontestavelmente os mais interessantes. O mais popular consta de 36 Pantáculos divididos em sete categorias, uma para cada planeta visível. Essas Clavículas, que são aplicações práticas da Kabbalah, contêm ensinamentos talmúdicos e “Palavras de Poder”. Algumas de suas Palavras de Poder, a própria forma dos processos, apontam para velhas origens semíticas e babilônicas. Se aceitarmos o fato, em torno do qual há uma concordância geral, de que as origens do ocultismo ocidental estão, em última instância, em fontes caldeu-egípcias (ou seja oriental), poderemos começar a entender a influência que este personagem semi-lendário (Salomão) exerceu na tradição oculta do ocidente.

Outras pistas sugerem que a Chave se derivou de um corpo de conhecimento mágico iniciado ou usado por Salomão, que na época circulava entre os feiticeiros da parte oriental do Mediterrâneo. Essa outra linha de pensamento é interessante, no que diz respeito às afirmações de que a magia de Salomão está intimamente ligada à magia teúrgica praticada no Antigo Egito e atribuída a Hermes Trimegistos – identificado com o deus egípcio Thoth. O termo hermético ainda é utilizado para designar operações alquímicas e obras secretas.

Tem havido confusão nos comentários e na história, devido ao fato de que vários livros circularam sob o título de Chave de Salomão. Naturalmente não podemos ter certeza sobre quanto do trabalho, como se conhece hoje, é original, e quanto deve ser atribuído a adições posteriores. Por exemplo, o Lemegeton, algumas vezes denominado de “a Pequena Chave de Salomão” ou “a Goetia” é outro livro atribuído a Salomão que trata exclusivamente da conjuração de espíritos planetários, ora vistos como anjos ou tidos como anjos caídos ou demônios, além de ritos para evocá-los.

Lemegeton ( ou “Clavícula Menor de Salomão”) é dividido em cinco partes:

Ars Goetia
Ars Teurgia Goetia
Ars Paulina
Ars Almadel
Ars Notória

A origem do Lemegeton é obscura, mas parece ter relação indireta com os feiticeiros goéticos da região da Tessália, na Grécia, que herdaram a Magia Caldaica. Alguns eruditos afirmam que o sistema originou-se com os judeus no período denominado de “Cativeiro da Babilônia” e após alcançar a Idade Média sofreu um processo de sincretismo cristão da doutrina de anjos e demônios. Uma das inúmeras edições da Chave nos diz como este livro foi enterrado com Salomão em seu túmulo e depois levado para a Babilônia por um príncipe desse país. “Todas as coisas criadas” devem obedecer aos seus segredos.

O Lemegeton do Rei Salomão descreve a Magia da seguinte forma:

“Magia é o conhecimento mais elevado, mais absoluto e mais divino no que se refere à Filosofia Natural, avançando em seu trabalho e operações maravilhosas, com um correto conhecimento das ocultas e internas virtudes das coisas, assim, para poder aplicar agentes corretos em pacientes adequados, produzindo estranhas e admiráveis efeitos. Quando os Magos são buscadores profundos e cuidadosos na Natureza, eles, por seus conhecimentos, sabem como antecipar um efeito, que para os vulgares parecerá um milagre”.

É interessante observar que "A Clavícula de Salomão" foi um grimório largamente utilizado por feiticeiros e feiticeiras na Idade Média. Algo que, mais tarde, foi sendo preservado junto ao  agregado folclórico/natural e pagão da Velha Arte e introduzido aos poucos na estrutura litúrgica da Bruxaria. Por isso que, ainda hoje em dia, encontramos o uso de fórmulas cabalísticas de Magia Cerimonial em grimoires modernos tais como: o Livro de São Cipriano, o Livro da Bruxa de Évora e o Livro do Feiticeiro Athanásio.