domingo, 16 de janeiro de 2022

Circuito Psico-Sexual


O organismo humano é uma árvore da vida e do conhecimento, é um mecanismo que funciona de acordo com a antiga fisiologia da Feitiçaria Sexual. Muitas descobertas modernas da sexologia atual são realmente apenas redescobertas do antigo arcano sexual dos mistérios que foram ensinados simbolicamente por tempos imemoriais.

O Circuito Psico-Sexual é a estrutura do organismo como entendido pelos magos sexuais, é uma compreensão que vai além do conhecimento da ciência moderna e engloba visões tanto físicas quanto parafísicas dos Mistérios.

A fisiologia que é delineada neste capítulo deve ser estudada com diligência, pois forma a base pela qual a magia sexual opera. Assuntos como as Kalas e o Amrita podem apenas ser entendidos se este circuito psico-sexual é adequadamente compreendido de antemão.


“O adepto deve identificar-se com seu corpo e transformá-lo, pois o corpo é a ligação entre o cósmico e o terrestre. Como a extensão material da expressão psíquica, o corpo brilha, irradia e anima-se na alegria de ser ele mesmo.”  Sir John Woodroffe


O Circuito Psico-Sexual Humano


A configuração psico-sexual humana é um Tarot vivo. Embora, no passado, este termo tenha sido usado exclusivamente a respeito das Chaves dos Mistérios (as cartas do Tarot), tem um significado mais avançado na forma de um circuito de eesência. O termo Tarot pode, pela Temurah, ser entendido como Lei (Torah), Roda (Rotah) e Essência (Taro). Estas definições quando conjuntas sugerem que o Tarot é a Roda da Essência. Este conceito de um ciclo de manifestação pode ser aplicado tanto num sentido ideológico, como nos 22 Arcanos Maiores do Tarot, e num sentido psicológico, para o Tarot vivo dentro do corpo humano.

O corpo humano é um sistema intrincado de forças interconectadas, é coberto por milhões de meridianos e linhas de energia, que se interligam para formar tanto os Marmas quanto os Chakras. Estes são ligações vitais com o fluxo de energia sexual dentro do organismo e oferecem as chaves de como opera a Magia Sexual.


O Marma Ajna Psico-Sexual

Este é o primeiro Marma e está localizado no Ajna Chakra, entre as sombrancelhas. A atribuição cabalística para este Marma é a letra Ayin ou setenta. Sua atividade é a do Olho de Shiva, quando o olho se abre o mundo de aparências e ilusões desvanece e a realidade é experimentada, algumas vezes em sua brutal totalidade. Esta experiência pode ser de extrema intensidade e é apenas para os que estão preparados (veja ‘A História do Grande Deus Pan’ de Arthur Machen como exemplo). Está relacionado astrologicamente com o signo de Capricórnio por simbolizar a experiência de Pan, a visão da integridade e unicidade de todas as coisas.


O Marma Psico-Sexual Qoph

O segundo Marma está localizado na nuca, sendo o trono cerebral da atividade sexual dentro da espécie humana e é atribuído à letra hebraica Qoph, de número cem. Esta enumeração pode ser entendida como a união do P (Phalus, falo em grego), 80, com o K (Ktéis, vagina em grego), 20. Qoph é atribuída à esfera lunar e este centro está envolvido com as secreções que estimulam o impulso e o desenvolvimento sexuais.


O Marma Psico-Sexual Visuddha

O terceiro Marma está oposto ao Qoph e está localizado no Chakra Visuddha, o centro laríngeo. Sua atividade em magia sexual é emanar a palavra (Logos) que é criada pela interação dos centros Ajna e Qoph. Esta união de Vontade e Vibração cria o Logos que é manifesto em Daath, ou seja, a garganta. Esta atribuição difere da Qabbalah moderna mas é imperativa para um entendimento do circuito psico-sexual.  

Esta interação entre os Marmas Ajna e Qoph no Visuddha é central para uma compreensão da fixação da força sexual. A Gematria de Ayin e Qoph prova ser informativa : Ayin + Qoph = 170

170 é o número dos gigantes ou Nephilim. Os seres que são criados pela Vontade sozinha e que podem ser comparados aos Titãs da mitologia grega. Eles são seres de puro Logos; formulações da Vontade que são criadas pelo Eu (Self) em Ayin através das forças sexuais de Qoph e manifestas no Visuddha.




         “…e a palavra transformou-se em carne.”  Evangelho de João, capítulo um.


Os Marmas Psico-Sexuais das Palmas

Estes marmas encontram-se nas palmas das mãos, mas são tratados como um só marma no circuito geral. Eles estão atribuídos à letra Kaph e cada palma tem o número 20. As palmas são usadas para focalizar p fluxo de energia com o circuito. A esquerda é negativa e a direita é positiva, embora isso possa variar de mago para mago.

Juntas, as duas palmas dão o número 40, que por Gematria significa o Libertador e Leite, ambas referências aplicam-se para o uso das mãos para liberar fluidos sexuais durante rituais tântricos. Outras referências relacionadas incluem a Mão do Eterno e Mem, que pode ser definida tanto como sangue, fluidos (sexuais) ou vinho, todos novamente enfatizando o papel das mãos como libertadoras de secreções.


O Marma Psico-Sexual Genital

O quinto marma psico-sexual é os próprios órgãos sexuais, atribuídos a Ayin, de número setenta. Os órgãos são o segundo Olho e representam o esconderijo secreto da serpente (Kundalini).

Este número setenta pode também ser aplicado para LIL (noite) e SVD (segredo), ambos relacionados com esta zona psico-sexual como originadora dos Kalas, as secreções noturnas que sempre fluem ou Ain (Kali / Nuit). Setenta também é o número de CHBS ou Estrela, isto está implícito na mensagem “o Khabs está no Khu e não o Khu no Khabs” do Livro da Lei. Esta mensagem codificada refere-se ao fato de que a essência das estrelas não é encontrada na eternidade do espaço, mas nas secreções sexuais da Estrela encarnada como entidade. 

Uma implicação mais avançada a respeito deste Marma é encontrada na palavra INN, que significa vinho, representando o sacramento deste marma psico-sexual, que conhecemos como Amrita.


O Marma Psico-Sexual do Olho Secreto

O Olho Secreto é o Olho de Set e portanto, é o reverso dos órgãos sexuais. Também atribuí-se a Ayin (70), entretanto, sua aplicação é na região anal e sua associação com a Kundalini.

Aqui, temos o ânus do bode como é visto no Sabbat das Bruxas e o mistério de SVD, que é o olho do bode como visto na imagem de Baphomet encontrada nos ritos dos Cavaleiros Tamplários.


O Marma Psico-Sexual de Bindu

Este marma é o fogo interno, atribuído à letra Yod (10). Representa o Ponto Bindu, o ponto onde os dois sistemas sexuais conectados unem-se para formar uma simbiose. Pela Gematria, encontramos que dez está relacionado a Elevado, Planar e Janela. Todas estas imagens podem se relacionar ao uso do calor sexual para ir além do organismo em direção às visões do espaço interno.


O Circuito

Quando examinamos os sete marmas acima, chegamos a um ciclo de força psico-sexual, sendo este ciclo composto de oito segmentos ou zonas. Se considerarmos as duas palmas como zonas separadas, quando juntas com os outros centros formula-se um ciclo completo de 360 graus. Este círculo é o ciclo interno de Aeons, sete embora oito, o oitavo sendo o final do ciclo no Ponto Bindu de realização, este ciclo forma o ABRASAX interno, o senhor gnóstico de 360 graus. A Vontade como criada e fortalecida pelo ciclo interno de Aeons e secreções.


         O sistema numérico deste ciclo é :


AYIN (70) + QOPH (100) + KAPH / KAPH (20 e 20) + AYIN : órgãos sexuais (70) + AYIN : ânus (70) + PONTO BINDU : YOD (10) = 360 graus

Os cinco graus restantes (para formar um ano) são os graus esotéricos do Círculo, os cinco dígitos da Deusa. Eles são atribuídos a vários Deuses e Deusas e têm um uso específico tanto na ciência macrocósmica de registro do tempo como na ciência microcósmica do corpo e suas correntes, que é conhecida no oriente como Kalavidya, Este ciclo não é apenas encontrado na seqüência sexual de marmas aqui descrita mas também dentro dos chakras gerais como encontrado na Kundalini Yôga tradicional. Ambos sistemas, bem como as atribuições físicas da Árvore da Vida, interagem como círculos numa grade cósmica, cada um forma um ciclo de manifestação e está envolvido na Árvore da Vida animada que o corpo humano forma. Ao invés de a Qabbalah ser uma realidade separada de Sephiroth e Caminhos, é um corpo vivo, um sistema de experiência e possibilidade internas. 

No sistema tradicional de chakras o ciclo é composto de raios dentro de cada chakra, estes raios representando as emanações dos pés da Deusa Primal após ela ter se elevado ao Shasrara Chakra. Portanto, as emanações deste chakra são vistas como as da própria Deusa, ou em termos mais adequados, do Eu e assim não são contadas no cálculo dos raios.


Ajna Chakra                   Região Pituitária            64 raios

Visuddha Chakra            Região Tiroidal              72 raios

Anahata Chakra             Região Cardíaca            54 raios

Manipura Chakra           Plexo Solar                    56 raios

Swadisthana Chakra       Região Genital               62 raios

Muladahara Chakra        Região Coccígea/Anal    56 raios

                                       Ciclo Completo               360 raios


Dentro destes 360 graus existem outras divisões conhecidas como : Estelar, Solar e Lunar. Estas relacionam-se aos três segmentos do ritual tântrico e aos três segmentos da coluna dorsal : Ida, Susumna e Pingala. 118 graus são atribuídos ao Fogo (Estelar), 106 são atribuídos às influências Solares e 136 à Lunar, os cinco restantes são portanto, mais uma vez, os dígitos secretos da Deusa Kali (Ain).

Como será prontamente notado, as imagens ou formas de deuses usadas variam de acordo com a tradição, Kali, Set e Nuit podem ser todos atribuídos a Ain e usados de acordo com trabalhos e desejo ou inclinação.

Como pode ser visto acima, um sistema de atribuição pode ser formulado baseado nestes graus. Estes podem ser interpretados de diversas maneiras : os oito segmentos ou marmas, até mesmo os oito chakras, mais o Sahasrara chakra, trabalhando como um todo. Podemos até mesmo relacionar com os oito trigramas do I Ching e quando multiplicados por si em 64 possibilidades do Tao. Isto pode criar um ciclo completo por relacionar-se com a dupla Árvore da Vida (32 x 2).

Pode também ser entendido que em qualquer organismo há dezesseis aspectos sexuais, físicos e etéricos. Portanto, em qualquer ato de união sexual há trinta e dois segmentos vivos, uma dupla Árvore da Vida sexual. Quando estes Marmas são relacionados aos 16 Kalas ou secreções isso pode ser ainda melhor entendido. O ciclo formado pelos hexagramas do I Ching é interessante, pois a alquimia sexual chinesa é uma das mais intactas tradições sobreviventes do Tantra.


Ajna Chakra                            Hexagrama Li                Sol e Sol

Centro Qoph                  Hexagrama Khan           Lua e Lua

Visuddha Chakra           Trigrama Sun                 Ar e Ar

Palmas                          Li e Khan                      Reflete Ajna/Qoph

Órgãos Sexuais              Quian / Kun                   Falo / Vagina

                                      Hexagrama Tui              Água de Água

Ânus                             Hexagrama Gen             Terra de Terra

Ponto Bindu                   Hexagrama Zhen            Fogo de Fogo


Em consideração às diversas maneiras de intitular os Hexagramas, a lista seguinte guiará o estudante que procura explorar mais profundamente. A pronúncia em parênteses é uma alternativa de pronúncia por causa dos dialetos chineses.


Li                         Hexagrama 30                         Tiphareth

Kan (Khan)          Hexagrama 29                         Yesod

Sun                       Hex. 57                                   Daath

Quian (Qian)        Hex. 1                                     Kether

Kun (Khwn)         Hex. 2                                     Malkuth

Tui (Dui)              Hex. 58                                   Chesed

Gen (Ken)            Hex. 52                                   Netzach

Zhen (Ch’en)        Hex. 51                                   Geburah


Tabela de Marmas Psico-Sexuais


1. Ajna chakra (Vontade)                            Ayin                     70

         Olho de Shiva


2. Nuca                                             Qoph                    100

         Origem da Força Sexual         


3. Visuddha chakra                           Ayin/Qoph           170

         Logos Manifesto


A união de Ayin e qoph criam a energia de 170 no Visuddha, este é o poder para criar os ‘Nephilim’ ou Gigantes Rebentos da Vontade, formações do Eu puro ativado por meios sexuais e manifesto através do poder da ‘palavra’ mágika (Logos).


4. Palmas das Mãos                          Kaph                    20 cada

         Ativadores das Zonas Sexuais


5. Órgãos Sexuais                             Ayin                     70

6. Região Anal                                  Ayin                     70

         O Olho Secreto


Ambas zonas são atribuídas a Ayin e relacionam-se ao uso mágiko dos órgãos sexuais, frontais e dorsais à Kundalini.


7. Ponto Bindu                                 Yod                      10

         O Ponto de Foco


Aqueles interessado em exploração mais detalhada do ciclo psico-sexual podem querer estudar as correspondências na página 40. Elas estão baseadas numa tabulação de Crowley e oferecem algumas introspecções (insights) interessantes sobre o ciclo sexual e sua relação às Sephiroth.

A partir destes ciclos, vamos perceber que a Árvore da Vida é um ciclo vivente de essência e, portanto, os Caminhos ou pontos conectores também devem representar fluxos de energia ou secreções dentro do organismo. O estudo seguinte dos pontos conectores como secreções do organismo vivo deve se lido em conjunto com as descrições dos Caminhos como letras hebraicas e arcanos do Tarot, encontrados em sistemas da Qabbalah tradicional e outros sistemas de atribuição. 


OS CAMINHOS CONECTORES NA ÁRVORE DA VIDA COMO SECREÇÕES

O padrão de Tarot formado pela Árvore da Vida humana é uma parte intrincada da Qabbalah esotérica do Novo Aeon. Entre as Sephiroth vivas do corpo estão vários caminhos conectores ou emanações que transmitem as secreções dos reinos trans-Kether de Ain para o organismo.

Estas emanações realizam a transformação gradual do corpo e da mente e podem ser entendidas duma maneira peculiarmente tântrica com as atribuições mais tradicionais sendo comparadas e manipuladas de acordo com o engenho do próprio mago.

A décima primeira secreção é aquela do Espírito Santo. O Santo intoxicado é simbolizado pela respiração cósmica e pela águia de duas cabeças. É associado com o trigésimo terceiro grau da maçonaria e tem uma conexão elemental com Akasha. O Ovo Negro ou chama desta secreção pode também se relacionar a Sebek, o senhor crocodilo e a manifestação de Set.

A décima segunda secreção é aquela do Mestre de Maya e é governada por Hermes ou Mercúrio. Ele é o senhor do Falo e entende o segredo dos pólos opostos, a Pomba e a Serpente e da Casa de Deus (Beth). Seus poderes dualistas são a magia polarizada e apolar e ele controla todas as formas de transmissão de energia.

A décima terceira secreção é aquela da Alta Sacerdotisa Lunar, a Deusa tripla em seu estado virginal ou adormecido, a Ísis dormente, Artemís e Donzela. Ela é a essência e transmite os Kalas de Plutão através das areias de Urano.

A décima quarta secreção é a Grande Mãe, a porta pela qual a manifestação é alcançada, ela é a governante da magia polarizada e é representada na Alquimia Sexual pelo elemento do Sal. Seu domínio planetário é Vênus, que é finalmente transcendido em Sirius, portanto, ela é Daleth, a ligação entre os mundos.

A décima quinta secreção é altamente importante no Novo Aeon devido à injunção do Livro da Lei de transferir os títulos do Imperador e da Estrela. Esta secreção é agora a Estrela de Aquário, as secreções fluidas da Deusa que transforma o humano (Tiphareth) em Besta (Chokmah). A estrela representa a fórmula do Khabs no Khu, onde a essência do espaço infinito é encontrada dentro das secreções do organismo.

A décima sexta secreção é aquela do Alto Sacerdote dentro do culto do Humano Superior, tipificado por Touro. Nos velhos cultos a besta era exterminada como sacrifício, hoje, o uso do instinto animal alcança seu estágio mais alto de consciência.

O Touro traz a força da Besta 666 para a manifestação como o divino rei de Júpiter. O número dezesseis também significa a secreção ou Kala secreto, que é o acúmulo dos quinze Kalas anteriores, que vieram ao seu clímax dentro da Estrela (Kala quinze) e manifestaram-se no vórtice do décimo sexto Kala, o Humano Superior.

A décima sétima secreção complementa e balanceia a da estrela da décima quinta e é usada pelo Humano Superior da décima sexta. A décima sétima secreção é a dos gêmeos, governantes duais de Zain, Hórus e Set. Portanto, nesta combinação de secreções nós começamos a ver a estrutura do sistema do Novo Aeon.

A décima terceira, décima quarta e décima quinta secreções são a Deusa Tripla que é Virgem, Prostituta e Mãe Sagradas. A décima sexta secreção é o Humano Superior, Taurus, o Touro da Deusa, cuja forma externa é Hórus e cuja Vontade Verdadeira é Set e isso é novamente reafirmado nos Gêmeos da décima sétima secreção.  

Quando olhamos profundamente nos Mistérios destas secreções, vemos que Osíris era simplesmente uma forma mais antiga de Hórus. Portanto, Hórus era tanto o consorte quanto a criança de Ísis. Enquanto Set é Vontade Verdadeira de ambos, cuja mensagem não será plenamente compreendida até que a mensagem de Maat seja anunciada em conjunto.


         Portanto, os gêmeos não são apenas Hórus e Set, mas Set e Maat.


“Pois duas coisas são feitas e uma terceira é começada. Ísis e Osíris estão dados a incesto e adultério. Hórus salta do seio de sua mãe com três braços. Harpócrates, seu gêmeo, está oculto dentro dele. SET é seu pacto sagrado, que deve mostrar-se no grande dia de M.A.A.T. (cujo nome é verdade).”   Liber A’Ash vel Capricorni Pneumatici, de Aleister Crowley

A décima oitava secreção é o impulso criativo e sexual do Mestre, balanceia o Humano Superior da décima sexta, representando a força de Câncer ou Cheth. Câncer é o caranguejo e é usado para simbolizar o caminho tântrico de Viparita Karani, indo para trás ou de lado (reversão dos sentidos) para atingir uma finalidade mágika.

A décima nona secreção é a Luxúria do Leão, que representa a semente da serpente que ativa a porta de Daleth da Sacerdotisa. É atribuída a Teth, a serpente fálica.

A combinação de Daleth e da Semente da Serpente forma o Espermatozoon ou Elixir Sexual : O Ermitão de Virgem.

A vigésima secreção é o Espermatozoon ou Eu Sexual do Ermitão, ele é o Rebento da Vontade; o Eu Verdadeiro que é formado pela união das formas opostas da psique e do corpo, Babalon e a Besta.

A vigésima primeira secreção é o Senhor do Karma, o Ermitão que foi formado pela Besta e por Babalon e está trabalhando na iniciação do Humano Superior. Ele aprende a superar a onda de recorrência eterna presente na roda eterna.

A vigésima segunda secreção é a de Libra, ajuste através da evolução do Eu além da recorrência eterna, via Magia Sexual. O Mago alinha a realidade com a iniciação pela qual ele está passando, sendo que esta ação detona a experiência do arcano do Enforcado.  

A vigésima terceira secreção é a iniciação das Secreções Sexuais. O Mago cai no inconsciente através dos processos da Magia Sexual e começa a retificar o que está contido dentro de seus limites. Um dos métodos para se atingir isto está na próxima secreção.

A décima quarta secreção é Escorpião. Representa o orgasmo como uma “pequena morte”. Sua lição é o uso do orgasmo para programar a psique e a invocação do excesso sexual para experienciar os limites da mente e do corpo.

A décima quinta secreção representa o uso da paixão animal para atingir um estado de Androginia. Esta imagem é representada como o Sagitário ou Baphomet e conforme a paixão aumenta, transforma o mago em experiências das Secreções do Bode. 

A vigésima sexta secreção é a de Capricórnio, o Bode. Representa o uso de forte paixão animal para quebrar a ilusão (tipificada pela imagem do diabo) e transformá-la em Vontade pura. O produto disto é a manifestação do poder da projeção sexual como visto na próxima secreção.

A vigésima sétima secreção é a do uso do Falo como ferramenta de projeção. É atribuído a Marte, mas não num aspecto negativo, representa o jato de sêmen, criando estrelas e imagens através da programação do orgasmo. Também representa a ativação da Kundalini e sua ascensão pela torre ou coluna vertebral, detonadas pelas práticas Delta.

A vigésima oitava secreção é atribuída ao Imperador e a Áries. Tem diversas aplicações, uma das quais é o uso da tintura Vermelha, isto é, as secreções menstruais de uma Maga. Pode também se relacionar ao uso de paixão excessiva ou luxúria extrema para superar barreiras e limites e atingir o frenesi orgásmico da Torre.

A vigésima nona secreção é a da Lua. Está sob o governo de Qoph e portanto nossa discussão prévia de Qoph deve ser considerada. É uma passagem especial conectada ao instinto e, às vezes, até mesmo à transformação licantrópica.

A trigésima secreção é a do Sol, sendo o poder da aspiração e dos ideais que influenciam o fluxo da energia sexual. Deve ser entendida em conjunto com a informação já discutida a respeito do Ajna chakra. O produto da qual é visto no Logos ou palavra da trigésima primeira chave.

A trigésima primeira secreção é o Aeon, o arauto da Nova corrente. A mensagem do fluxo interno de Aeon-Kalas trabalhando em conjunto com a eternidade da progressão temporal. Seu número é 31 e reflete a mensagem do Livro da Lei (LIber AL ou 31), enquanto que seu reverso é treze, a Sacerdotisa da Estrela de Prata.

A trigésima segunda secreção é a da Manifestação. Tau em extensão, seu número é 440, secreções movendo-se para a plena materialização. É tanto o primeiro passo nos Mistérios ou a manifestação do Humano Superior na Terra. Tau é o sigilo do Deus Set e o ciclo está completado.


Notas sobre os Caminhos como Secreções


As secreções da Árvore da Vida biológica reúnem os vários métodos de interpretação a respeito dos Caminhos. Quando unidos, eles criam um fluxo em forma de Mandala. 

Há várias fontes para informação avançada : os vários livros de Kenneth Grant, tais como “Cults of the Shadows”, Cultos das Sombras, (Muller, 1975), entretanto, cegueiras deliberadas em muitas de suas interpretações são infelizes.

Para ajudar na organização destes conceitos em um sistema coerente, a seguinte tabela dos Caminhos das Secreções é feita para a exploração.


SUMÁRIOS DOS CAMINHOS COMO SECREÇÕES


11. Espírito Santo                             Santo Intoxicado

12. Chaos                                         Pomba e Serpente

13. Alta Sacerdotisa                         Deusa Dormente

14. Babalon                                      Deusa Sexual

15. Estrela                                        Mãe do Espaço

16. Homus superioris                        Kala Secreto, Alto Sacerdote

17. Gêmeos                                      Set e Maat

18. Impulso Criativo                         Princípio da Reversão

19. Semente da Serpente                Impregnação de Babalon

20. Espermatozoon                          Ermitão como Criança Cósmica

21. Senhor do Karma                       Controle da Realidade

22. Fuga                                           Livrando-se do ciclo terrestre

23. Iniciação                                     Explorando o Inconsciente

24. Orgasmo                                    Thanatos absorvido em Eros

25. Baphomet                                   Androginia

26. Capricórnio                                Exploração

27. Projeção Fálica                          Paixão animal destrói a Ilusão

28. Tintura Vermelha                        Excesso de paixão

29. Lua                                             Originador sexual

30. Sol                                              Ajna chakra

31. Aeon                                           Mensagem como Logos

32. Sigilo de Set                                Manifestação ou começo.


Combinações Especiais Válidas de Atenção


         13, 14 e 15 : Tripla Deusa que é estimulada por

         16, Alto Sacerdote : Quem ativa a décima sexta e 

         17, os Gêmeos manifestos na dualidade de Set e Maat, impulso criativo interno e externo (18, 19).

         14, Babalon, que dá nascimento ao Rebento do Eu,

         20, o Ermitão : as iniciações de quem compreende os caminhos

         21 a 26, resultando na união de Ajna e Qoph (29, 30)

         31, a declaração do Novo Aeon e

         32, a Manifestação do Novo Aeon.


O Simbolismo da Mandala


Um dos mais antigos métodos de simbolizar o ciclo dos Kalas é encontrado na Mandala, esta jóia visual, que embora desenhada em duas dimensões é na verdade de caráter tridimensional. Embora nem sempre desenhada, magos avançados podem formá-la mentalmente. Mandalas tendem a ser circulares em forma, focalizadas num ponto central. Normalmente são povoadas por imagens de Deuses, Deusas e Espíritos dos mais diversos e são símbolos do circuito psico-sexual.

A mandalas mais antigas são encontradas nas escolas tântricas e delineiam os ensinamentos sexuais com simplicidade. Um exemplo clássico é encontrado no Shri-Yantra. O Shri-Yantra é baseado num triângulo invertido, no centro do qual há um ponto representando o Sêmen. O triângulo em si é a vulva. Está contido em um triângulo de apontado para cima, que representa o Falo. Novamente este é cercado por um triângulo apontado para baixo, que é cercado por um triângulo apontado para cima, até completarem-se nove triângulos no desenho, normalmente, sugerindo a interação da vulva e do falo no coito. A borda externa é coberta por imagens de lótus e outras flores para criar uma proteção em torno da atividade ali contida.

A mandala das artes exemplificadas pelas figuras do Bon tibetano é normalmente criada de várias zonas. São ocupadas por Senhores do Submundo, esqueletos, demônios, cenas tétricas e amostras de cópula. Há muito em comum com as mandalas da adoração de Kali, que usam a representação do sexo e da morte para alcançar a catarse de Eros e Thanatos. 

A importância da mandala é ofato de que é uma máquina oculta, um aparato vivo que pode ser usado para trabalhar as várias facetas do circuito psico-sexual de essência. As formas da mandala podem variar de trabalho para trabalho…em trabalhos mais obscuros, as mandalas do Tibet e do culto de Kali podem ser usadas, enquanto trabalhos com os Antigos (estilo do Necronomicon) podem apresentar melhores resultados com Mandalas Trapezóides das tradições necromânticas germânicas.

As mandalas são representações vivas do processo da magia, elas são bem sucedidas por sua mensagem afundar rapidamente no inconsciente, perdendo a maior parte do mediador consciente e alcançando seu objetivo sem impedimento. No ocidente, as mandalas sobrevivem na forma do círculo sagrado, do disco, do anel e até mesmo no Ouroborus Cósmico, que está sempre balançando sua própria cauda (Falo).

Na prática, a mandala é de significância por trazer juntas as várias facetas de um dado ciclo e transmiti-las profundamente ao inconsciente. Ao contemplar um trabalho, crie uma mandala, antiga ou moderna, para sintetizar os trabalhos e então, usando técnicas meditativas, programe o inconsciente antes do trabalho, otimizando a qualidade e o poder do ritual.


Conclusão

Para concluir este capítulo, deixaremos você com um poema de um mestre do tantra moderno, Dadaji, de suas séries póstumas :

“Na alquimia da yôga iluminadora, a servidão se rompe mas a alma sobrevive ao fogo.

Neste caminho nós exterminamos obstruções e vemos o vazio do desejo mundano.       

Este é o caminho que você fez, não há volta, remorso ou lágrimas, mesmo se pesadas como a chuva, não mais têm significado agora e você deve encarar a semente plantada, renascida mais uma vez.

Em beatitude e alegria de profunda ‘possessão de si mesmo’ (samadhi), ainda que nada procure, é apenas serenidade.

Então virá a realização suprema, que você é uma alma e que sempre esteve livre.”

TAROT SEXUAL

A magia sexual é inerente às vinte e duas imagens dos arcanos maiores do Tarot Egípcio (O Livro de Thoth). Sendo que o Tarot teve suas origens muito além da base ideológica do Antigo Egito e muito provavelmente nas areias da Suméria, a verossimilhança de um Tantra secreto dentro de suas imagens é muito forte.

Quando consideramos que um dos nomes do Tarot é Rota ou roda, entramos em contato diretamente com o conceito do circuito psico-sexual descrito anteriormente. Já discutimos o uso prático dos Caminhos na Magia Sexual. Aqui objetivamos primariamente examinar o simbolismo sexual inato de cada arcano e deixamos a aplicação prática para o mago. Um conhecimento prévio do Tarot de Thoth deve ser sugerido para que se possa apreciar plenamente os detalhes dados a respeito de cada carta. Mantendo cada carta em vista ao estudar este capítulo também seria de grande ajuda.


O Simbolismo Tântrico

Ao examinarmos os glifos dos vinte e dois arcanos maiores, descobrimos que cada um contém um tipo específico, por assim dizer, cada um focaliza um imagem específica (normalmente humana) que pode ser relacionada a fenômenos estritamente biológicos. Não queremos dizer que a interpretação deva ser baseada no físico, mas sugerimos que dentro de cada arcano está um glifo secreto delineando o processo físico pelo qual um estado alterado de consciência, em relação direta com a imagem contida no arcano, pode ser disparado. Numa certa extensão eles são precedidos pelas letras hebraicas que, por meio do simbolismo, sugerem uma inferência sexual para cada arcano. Por exemplo, a chave da Torre é atribuída a Peh, cuja imagem é a boca, a relação simbólica da Torre fálica e da boca precedem a imagem sexual da carta, que é, em parte, uma fórmula de sexo oral. 


Os Arcanos da Magia Sexual


O Espermatozoon

O louco, criança do Espermatozoon representa o que é entendido como o Duende ou pequeno Eu. Este diminuto eu é projetado para fora da consciência usando técnicas Alfa ou Beta e realiza as tarefas ordenadas pelo mago. Pode ser usado para explorar dimensões alternativas e realizar atos de feitiçaria. É um estágio mais evoluído do que o Espermatozoon sugerido no arcano do Ermitão pois não é uma simples projeção da psique treinada mas um aspecto parcial da Vontade Verdadeira colocado em A letra Aleph retorna a essa atribuição pois simboliza uma criança ou arado, a criança sendo uma imagem do Duende ou pequeno eu e o arado representando o pequeno eu sendo uma ferramenta da Vontade Verdadeira, cultivando os campos da eternidade. Sua cor é de um branco iluminado (em Atziluth, Briah e Yetzirah) refletindo a alegoria do sêmen.


O Andrógino

O Andrógino é o Senhor da Casa de Deus, seu reflexo mais baixo encontra-se na bissexualidade do diabo, enquanto que o Andrógino representa a integração perfeita das várias modalidades da sexualidade humana. O número atribuído é dois, refletindo a dualidade do Andrógino que manifesta sua androginia na expressão sexual com ambos os sexos. Isto também pode ser visto na imagem da Casa de Deus com suas portas frontal e dorsal. Os quatro elementos que o Andrógino usa são as facetas de seu próprio organismo : a vareta Fálica, o cálice Anal/Vaginal, a espada do Intelecto e o corpo inteiro como um Pantáculo. As associações mercuriais relacionam o Andrógino ao Néctar Frio da Deusa e a paixão do Capricórnio, bem como as outras atribuições relativas às secreções Sattva.  


A Sacerdotisa

A Sacerdotisa é o Camelo que cruza o Abismo, na simbologia cabalística. Na magia sexual o camelo é entendido como o armazenador dos fluidos sacros, que os coleta e os mantém por um período e então os expele. A conexão lunar enfatiza a associação deste arcano com os Kalas. Portanto este arcano é o símbolo da Yoni por excelência. 


Amor Sob Vontade

Amor sob Vontade juntará a força fálica de Chokmah/Therion e a força vaginal de Binah/Babalon. Independentemente do incômodo da orientação física e sexual a atribuição da porta ou portal (Daleth) ilustra a chave física da fórmula, congresso sexual usando formas divinas polarizadas. O número quatro sugere, mais uma vez, o balanço da fórmula dentro deste arcano e seu poder de manifestar-se nos quatro mundos (quatro, tettragrammaton, esfinge, etc.)


Identidade : Estrela

A identidade Estrela sugere o fluxo de Amrita em sua pureza. Seu reflexo sendo encontrado nas correntes do arcano da Arte. A Identidade Estrela exibe os mais altos fluxos de Kalas cósmicos comibnados como na Arte, mas totalmente transformados pela força inata da vontade humana. Sua chave astrológica é o signo Aquário, o fluxo de Kalas numa base macrocósmica que é manifesta nas secreções corporais, que no alfabeto hebraico (letra He) é simbolizado como a Janela do organismo físico (masculino ou feminino). Isto também sugere as possibilidades interdimensionais de fórmula sexual, abrindo uma janela para outras dimensões através de secreções Kalas programadas.  


Papéis Sexuais

Papéis Sexuais é o título do arcano tântrico do Hierofante, onde temos a imagem de balanço sexual como sugerido no andrógino manifesto da personalidade dual como ilustrado neste arcano. O símbolo hebreu do Prego (Vau) sugere o poder fálico do masculino destes papéis mas é contrabalanceado pelo fato de que Vau é seis e sugere o balanço masculino e feminino do Hexagrama. A ênfase astrológica sugere não o balanço de alto e baixo do Andrógino mas a presença deste balanço na vasilha da terra.


União

União é a chave do balanço dos aspectos da sexualidade, interna e externamente. É atribuída a Gemini, os gêmeos, e portanto enfatiza a dualidade em seus trabalhos. Por assim dizer, o uso externo de técnicas sexuais trazendo mudanças internas de consciência. Gêmeos é governado por Mercúrio e portanto vemos que a natureza  desta carta é transicional, trazendo a união permanente da dualidade no Magus ou Andrógino de Mercúrio. A imagem associada com a letra hebraica é a Espada, que combina o poder fálico da lâmina com a força feminina da bainha. Mesmo dentro da letra em si, Z-aiyn, vemos a polaridade de Z ou S como a serpente e Ain o vazio do útero cósmico.


Paixão

Paixão é a chave para a Grande Obra, representando a prática das artes tântricas e ocultas que usam o corpo instintivo como um veículo ou carruagem (mercabah) pela qual a Verdadeira Vontade experiencia o Universo. A letra hebraica desta chave é Chet, que, quando totalmente numerada chega a 418, o número da Grande Obra. Seus símbolos são o cercado e a cercania que representa a necessidade de estrutura e controle sobre os veículos mais grossos, enquanto Câncer sugere o balanço intrincado que demanda seu processo de controle. Como se notará da imagem da chave da Paixão, os quatro animais da esfinge, os poderes da paixão não são controlados por cordas externas mas pelo poder da Verdadeira Vontade.


Ajuste

O arcano do Ajuste representa o processo de ajuste das facetas de nossa experiência sexual para que estejam sintonizadas com os fluxos das correntes aeonicas prevalecentes. A chave é assinalada a Libra, governado por Vênus e com Saturno exaltado. Isto nos dá a chave para interpretar este arcano, Vênus, as energias da paixão são transformadas através do ajuste de acordo às técnicas de magia sexual em uma forma de Libra balanceado, que é levado a Nuit, sendo um de seus guias Saturno ou Babalon. Como será notado esconde-se sob a imagem de Saturno ou Babalon, também, o glifo de Set.


Semente Solitária

A Semente Solitária ou Ermitão é a fase do Louco divino do Espermatozoon, sendo atribuída a Yod, a Mão e portanto sugere a fórmula Alfa, ativando toda Árvore da Vida (Yod=10) através da técnica de controle de imagens. Na mão o Mestre da Semente Solitária é a lanterna, contendo em si o fogo primal do instinto sexual através do qual o Mestre adquire seu poder. Sua atribuição a Virgo sugere perfeccionismo requerido para o Ermitão ganhar seu prezado status, enquanto seu governante e signo de exaltação sendo Mercúrio, a pureza do elixir ganho desta atividade sendo também sugerida (isto é, Mercúrio, Sattva, Néctar Frio) bem como o conhecimento ganho através do recolhimento e estudo. 


A Palma

A palma (Kaph) expande o uso da mão do ermitão. Através da palma da mão o Mago está apto para realizar mudanças no mundo (Roda da Fortuna) através do uso de controle onírico e moldar a realidade (arcano Beta), ilustrados na carta estão as três formas de Gunas que simbolizam a classificação tripla de Kalas e do Sacramento. O arcano é atribuído a Júpiter e portnato sugere a via destas técnicas para que o mago possa dominar as sete sephiroth abaixo das supernais e até mesmo tornar-se o Demiurgo, mas apenas se dissolver as facetas desbalanceadas da personalidade ele poderá cruzar o Abismo. Dentro desta mensagem está o aviso de que um mago usando técnicas Alfa/Beta solitariamente pode tender a auto-obsessão e egoísmo a menos que trabalhos mais altos como Gamaísmo e Epsilonismo sejam usados. Esta é nossa experiência também.


Luxúria

A carta da Luxúria explica o fogo instintivo que o mago usa. Relacionado diretamente à chave da Corrente (Shin) mas é diferenciada pelo fato de que naquela ela é formulada internamente, enquanto a corrente é tanto uma micro e uma macro manifestações. É atribuído à letra Teth, cuja imagem é a cobra, que relaciona sua força básica até à da Kundalini. A atribuição astrológica de Leo é importante pois simboliza Sekhmet, a Deusa do Calor Instintivo. Portanto, chegamos a entender que a Luxúria é uma combinação de força instintiva e energias da Kundalini controladas pela Vontade sob a guia da corrente aeonica. De alguma forma, a Luxúria poderia ser vista como o mais baixo dos Yod triplos ou Shindentro da chave da corrente do Novo Aeon.


Ressurgência Atávica

Esta chave representa o uso de técnicas sexuais para mergulhar no inconsciente. A letra Mem associada a esta carta está relacionada ao conceito de sangue e sugere que a exploração do incosciente é difícil e dolorosa e envolve trazer à tona velhas programações mentais para investigação. Portanto, o Enforcado está pendurado sobre a água ainda que muito de seu corpo não esteja afundado nela. A letra hebraica Mem é também uma letra mãe, sugerindo a gravidez pela qual o inconsciente existe, os grandes montes de poder que estão contidos dentro de suas formas e ao qual pode ser dada a luz através da Magia Sexual. As crianças desta união são dissolvidas, exterminadas ou deixadas crescer dependendo de sua utilidade, a imagem das crianças aqui, é claro, relacionando-se aos programas inconscientes e quão difícil pode ser destruí-los e ainda, em muitos casos, as programações são como parasitas drenando nossa força vital a partir da superfície. 


Orgasmo

Sexo e morte têm sido sempre inter-relacionadas, em Aeons passados experienciamos o sexo através da via de ideal sacrificável para, estando o sexo sob uma capa de pecado. A morte no Novo Aeon é experienciada através do sexo para que a paixão absorva todo medo e nos trasnforme em veículos sexuais vivos. A atribuição de Escorpião sugere a fórmula do Orgasmo, é a serpente Kundalini, mas pronta para dar o bote, sendo esta mordida letal para o não iniciado e iluminadora para as crianças das Estrelas. Escorpião é governado por Marte, que é o aspecto marcial de Hórus, o Senhor do Aeon. Marte destrói o não iniciado através da guerra e sanguinolência e salva o mago através da paixão e secreções sexuais. As imagens associadas com a letra hebraica Nun são o peixe e a água, portanto sugerindo a relação entre Ojas e os fluidos sexuais, sendo a chave para sua correta utilização a programação do Orgasmo com o poder da Verdadeira Vontade.


Transmutação

A Chave da Transmutação relata a preparação do Sacramento, onde sua pureza final é alcançada na Estrela. Neste arcano encontramos a Flecha de Sagitário penetrando o Arco-Íris que é formado pelos últimos três caminhos da Árvore da Vida (conhecidos como Qesteth). Este simbolismo sugere o congresso usado e o Amrita coletado “no começo e no fim do arco-íris”.

Na carta vemos a mistura das secreções, sua união no caldeirão (que pode simbolizar uma Yoni ou uma ferramenta separada como o Cálice) e seu poder resultante que é simbolizado pela figura andrógina unindo-as. O andrógino atingiu este estado através do uso da Estrela, cujos primeiros estágios são encontrados na chave da Transmutação (Magus formado pela Estrela, cujas origens são a Arte.)


Bissexualidade

Aqui temos o reflexo mais baixo do andrógino, o Mago Bissexual, as forças da sexualidade dual têm sido estimuladas mas ainda estão sendo refinadas. Portanto sua dualidade é ilusória. Por trás destas imagens estão a perfeição do Eu, o Olho ou Ayinque existe em Ain. O verdadeiro mago é andrógino e usa ambas experiências sexuais com naturalidade como expressões da Vontade Verdadeira. O diabo é uma expressão da crença de que a androginia é composta de funções duais, separadas uma pela outra como na bissexualidade. Esta ilusão só é rasgada quando o mago passa pelo diabo e vai para Ain.


Kundalini

A Torre/Falo é a Kundalini como descrita nos textos hindus, ligada ao Sahasrara através do canal Sushumna na espinha. Este sendo estimulado através do uso de técnicas masturbatórias como visto na Semente Solitária e na Palma e pela fórmula oral como visto em Pe, cuja imagem é a boca. Inerente ao arcano da Kundalini é o pleno despertar da Kundalini que explode a consciência para uma fase mais alta. Neste entendimento a boca pode também referir-se à coleta de Amrita através da sexo oral a partir do centro da Kundalini manifestando-se nas genitálias durante o despertar da Kundalini. Isto pode ser aplicado para qualquer sexo pois a Torre é inerente ao Sushumna ao invés de ser apenas um apêndice masculino.


Sublimação

O assunto da Sublimação está atracado ao arcano do Imperador. O Imperador liga Netzach a Yesod e representa o uso controlado da paixão e da luxúria alinhadas com a Vontade Verdadeira. Portanto, a imagem relacionada é o Anzol, isto é, o gancho da paixão que fisga o adormecido. Deve-se lidar com as energias sexuais de uma maneira ou de outra, elas podem ser sublimadas e usadas internamente como detalhado no arcano Delta ou usadas em ritos de magia sexual. Em qualquer caso sua força deve ser reconquistada e usada com cuidado. Na feitiçaria sexual moderna é entendido que a sublimação pura ou uso constante não são as respostas, um sistema cuidadosamente balanceado de magia sexual pessoal baseado no uso de todo o espectro de práticas é o melhor e mais bem sucedido caminho para a iluminação.


Yoni

A Yoni já foi glifada na Alta Sacerdotisa, esta manifestação, entretanto, é mais de Babalon, a imagem sexual de Yoni ao invés da espiritual. Aqui temos a imagem de Qoph, a nuca, onde os impulsos sexuais se originam e a Yoni, onde eles se manifestam. Deve ser compreendido que neste contexto a Yoni refere-se ao ssexo feminino, contudo, suas forças também se manifestam no macho, na região Kanda. Este é um espaço triangular acima da púbis.


Falo

O Falo foi glifado no Andrógino, onde é visto seu papel na consciência unificada. Aqui temos o poder fálico em seu papel sexual ilustrado originando-se nos veios frontais e manifestando-se no falo. na fêmea é o clítoris.


Corrente

A Corrente é encontrada no poder triplo de Shin, seu símbolo é o fogo divino, a intoxicação do instinto como englobado no impulso evolutivo. É o fogo triplo que reúne o corpo, alma e Vontade e encapsula a corrente no organismo transformado, personagem e Vontade do Humano Superior.


O Corpo

O arcano final é onde tudo está embasado, o organismo físico cuja imagem é o Tau, a cruz de Set. A cruz ou Falo de Set ilustra a extensão de Ain na mais material das realidades e ainda, ao mesmo tempo, permanecendo inerentemente puro e capaz de ascender aos limites da matéria para readquirir seu status espiritual.


Ath


O ciclo está completo.


De Aleph a Tau como entendido nos Mistérios da tradição tântrica do Santuário, o circuito psico-sexual como manifesto nos vinte e dois sigilos. Se reunirmos as letras Aleph e Tau, o resultado é Aeth ou Essência, a Verdadeira Vontade e essência sexual, os Kalas. Seria até mesmo correto dizer que a manifestação corpórea ou emissário da Vontade Verdadeira é a força dos Kalas ou Ojas, pois através de seu uso podemos viajar de volta àquele rio de instinto e paixão e experienciar novamente a essência primal em sua fonte.

Para completar este capítulo, oferecemos a seguinte Tabela de Interpretação Tântrica do Santuário dos Vinte e Dois Arcanos do Tarot. 


TANTRISMO DO TAROT


Tantra                                    Interpretação                         Tarot

1.      Espermatozoon                    Eu Anão, Pequeno Eu              Louco        

2.      Andrógino                           Mestre Andrógino                   Magus

3.      Sacerdotisa                          A Yoni                                    Sacerdotisa

4.      Amor sob Vontade              Polaridade e Cópula                Emperatriz

5.      Identidade : Estrela       Amrita Puro, Vontade Verdadeira   Estrela

6.      Papéis Sexuais                 Equilíbrio dos Papéis Sexuais      Hierofante

7.      União                                  Equilíbrio da Sexualidade        Amantes

8.      Paixão                                 Controle dos Institntos             Carro

9.      Ajuste                Alinhamento com a Vontade Verdadeira   Ajuste

10.  Semente Solitária               Arcano Alfa                             Ermitão     

11.  Palma                                Arcano Beta                            Roda

12.  Luxúria                             Instinto e Kundalini                 Luxúria

13.  Atavismo                          Exploração do Inconsciente     Enforcado

14.  Orgasmo                           Eros como Iniciador                Morte

15.  Trasnmutação                    Sacramento Sexual                           Arte

16.  Bissexualidade                   Ilusão da Dualidade                 Diabo

17.  Kundalini                          Kundalini                                Torre

18.  Sublimação                       Uso Correto do Sexo               Emperador

19.  Yoni                                  Corrente Lunar                        Lua

20.  Falo                                   Corrente Solar                         Sol

21.  Corrente                   Fogo do Aeon, Humano Superior     Aeon

22.  Corpo                                Organismo Físico                    Universo

Ath                                         Aleph + Tau                                     Essência

 

São Cipriano e a Feitiçaria Medieval

Hoje podemos dizer que São Cipriano de Antioquia, bispo católico que sofreu o martírio em 26 de setembro de 304 d.C., representa uma tradição popular da magia, a tradição cipriânica, da mesma maneira que existe uma tradição salomônica, da qual a tradição cipriânica derivou muito de seu conhecimento. Tanto a São Cipriano quanto a Salomão são atribuídos vários grimórios, manuais mágicos de feitiçaria. Os grimórios salomônicos, no entanto, apresentam uma feitiçaria cabalística judaico-cristã derivada dos Papiros Mágicos Greco-Egípcios. Os grimórios da tradição cipriânica, por outro lado, apresentam elementos sincréticos retirados da tradição salomônica, em especial o Heptameron, o diabolismo e a magia folclórica europeia da Península Ibérica e Escandinava. Os vários grimórios atribuídos a São Cipriano possuem um caráter ecumênico e sincrético, tendo alimentado a crendice popular europeia a seu respeito. Desde a Idade Média O Livro de São Cipriano e suas variadas versões têm sido respeitados e usados por magos, feiticeiros, curandeiros, benzedeiros e católicos praticantes de todas as esferas sociais. Ao seu redor paira uma aura de mistério. O simples fato de possuí-lo torna seu possuidor um feiticeiro, pois sua aquisição consciente realiza de bom grado um pacto implícito, quer dizer, comprar ou aceitar de presente O Livro de São Cipriano é equivalente a fazer um pacto com o demônio. São Cipriano tornou-se com o tempo no imaginário popular o santo dos feiticeiros. E muito embora essa visão de São Cipriano não seja a posição oficial da Igreja de Roma, que em verdade até condena e educa contra essa visão popular, é um fato que São Cipriano tornou-se um ícone central da magia popular europeia. Esse São Cipriano da magia e sabedoria popular serviu tanto ao Diabo quanto a Deus, é querido tanto pelo Diabo e suas hordas infernais quanto a Deus e suas milícias celestes. Na tradição cipriânica da magia, o Diabo não é um pária proscrito, mas o Senhor de suas próprias moradas. Assim como a magia copta do Egito, a tradição cipriânica estabelece um axis mundi, um caminho que leva o mago do Inferno aos Céus e dos Céus ao Inferno. Um mago da tradição cipriânica é, dessa maneira, um indivíduo que caminha com os pés abaixo da terra e a cabeça acima das nuvens.

O Livro de São Cipriano e suas muitas versões tratam-se de um grimório de magia popular. Suas diversas receitas mágicas, feitiços e encantamentos servem para encontrar tesouros perdidos, manter o gado saudável, obter uma colheita abundante, nomes bárbaros misturados a passagens bíblicas para socorrer adoentados e exorcizar endemoniados. Não poderia ser diferente: a visão apresentada nos grimórios cipriânicos é animista, construindo dessa maneira uma ponte entre Deus e o Diabo. Não é difícil de entender! Como temos estudado em nosso Curso de Filosofia Oculta, a Igreja de Roma demonizou todas as criaturas espirituais que residem na região sub-lunar. Dessa maneira, daimones diversos como geniis-loci, quer dizer, os espíritos dos locais de poder, elementais, almas dos mortos etc., todas essas criaturas foram demonizadas. Antes da Igreja impor essa visão no Séc. IV d.C., todas essas criaturas eram compreendidas em suas funções demiúrgicas, quer dizer, desempenhavam um papel sólido na demiurgia do cosmos em nome e sob o comando da Inteligência de Deus, quer dizer, o demiurgo. Os magos, xamãs e feiticeiros de todos os tempos sempre lidaram com essas criaturas espirituais. Ao serem transformadas em demônios, estes mesmos magos, xamãs e feiticeiros foram condenados por estabelecerem trafico e pacto com demônios de todos os tipos. É por isso que a tradição cipriânica cria uma ponte (axis mundi) entre Deus e o Diabo e é por esse motivo que São Cipriano serve tanto a Deus quanto ao Diabo no imaginário popular.

É nesse imaginário popular europeu que os possuidores de O Livro de São Cipriano tornaram-se pessoas especiais. Nas muitas lendas existentes acerca de São Cipriano e seu livro, àqueles que o possuíam eram homens simples de uma comunidade que do dia para noite adquiriram terras e gado, e se livraram do pesadelo da doença. Por vezes, outras histórias dizem que uma miríade de desgraças atormentou a família que possuísse um exemplar de O Livro de São Cipriano em casa. Essas histórias existentes na tradição cipriânica demonstram o caráter popular e o apelo da magia que estes grimórios continham. Dessa maneira, para compreender os muitos elementos da tradição cipriânica não se pode deixar de ver o contexto popular em que ela esteve envolvida. Um elemento especial é a relevância espiritual de São Cipriano como protetor de feitiços, conjuros e malefícios. Isso se dá pelas poderosas orações de São Cipriano, a coluna vertebral da tradição cipriânica. No se entorno foram acrescentados elementos mágico-cerimoniais. Essas orações cipriânicas têm origem na Europa Oriental, África e Arábia, onde testemunhamos o nascimento do cristianismo primitivo. Originalmente escritas em grego ou latim, elas se espalharam pela Península Ibérica, onde foram unidas a magia popular de Portugal e da Espanha. No fim desta instrução de cristianismo mágico nós delinearemos um ritual de proteção de magia pantacular de São Bento com elementos da feitiçaria de São Cipriano, utilizando espinhos de porco-espinho.

São Cipriando tem sido considerado pela sabedoria popular um mago tão poderoso quanto Simão, o Mago e Salomão entre os feiticeiros. Aos católicos praticantes, benzedeiros e curandeiros, São Cipriano é um santo muito popular, protetor contra magia negra e feitiçaria de todo o tipo, um exímio exorcista presente em capelas espalhadas por toda Europa. Um dos elementos míticos fundamentais da tradição cipriânica é o pacto que São Cipriano fez com o Diabo. Mas esse elemento mítico é apenas uma derivação do Paredros de Pinouthis dos Papiros Mágicos Greco-Egípcios onde um mago conjura um daimon assistente e que evoluiu para o conceito de Sagrado Anjo Guardião dentro e fora da Igreja Católica. Este Diabo ao qual São Cipriano convocou e realizou um pacto nada mais é do que o seu daimon pessoal ou Sagrado Anjo Guardião. Desde a Antiguidade, na magia dos papiros ou na teurgia clássica de Jâmblico, a coroação do processo de aprendizado na Arte dos Magi consistia em travar Contato & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. É essa realização na Arte dos Magi que confere ao mago poderes taumatúrgicos para realizar proezas fantásticas, pois é o Sagrado Anjo Guardião o professor que ensina ao mago os corretos conjuros e adorações. Na Tradição Oculta todos os magos são orientados a conquistar esse objetivo fundamental no caminho da magia.

Na primeira seção dessa introdução nós vimos os elementos sincréticos e ecumênicos da magia copta do Egito na Antiguidade tardia; na segunda seção nós vimos os elementos sincréticos e ecumênicos da tradição cipriânica da Europa na Idade Média; para encerrar essa introdução a magia dos santos e a magia pantacular de São Bento, vamos explorar os elementos sincréticos e ecumênicos da pajelança cabocla amazônica no Brasil Colonial e Imperial até a formação da república.


Fonte: https://www.filosofiaoculta.com/post/a-tradi%C3%A7%C3%A3o-cipri%C3%A2nica-da-feiti%C3%A7aria-mesieval

Constrição dos Demônios

A palavra constrição vem do latim constringo que significa confinar ou agrilhoar. Quando for claro ao mago no curso da cerimônia magística que o demônio evocado fez-se presente, ele passará ao próximo passo: a constrição do demônio. O propósito da constrição é garantir que o demônio convocado será confinado no triângulo da arte, tábua de evocação, bola de cristal ou arca de bronze fora do círculo mágico. A arca de bronze também é conhecida como vaso de latão[1] na magia moderna. Originalmente na magia tradicional salomônica a arca de bronze ficava dentro do círculo mágico, não fora, sendo usada para demônios domesticados, quer dizer, que se tornaram espíritos familiares do mago operante. A arca de bronze é utilizada no lugar do triângulo da arte fora do círculo somente se o mago não possuir o triângulo no chão, mas é uma interpretação moderna.

Essas tecnologias mágicas não são idênticas como muitos autores de magia moderna têm ensinado, quer dizer, a fórmula mágica que alimenta a arca de bronze não é a mesma que alimenta o triângulo da arte, a bola de cristal ou a mesa de evocação. Por exemplo, a arca de bronze é usada para tornar os demônios cativos e familiares, já o triângulo da arte serve para colocar o demônio em prontidão, uma atitude interna apropriada a servir e trabalhar sob as ordens do mago. Tecnicamente a arca deve ser utilizada antes do triângulo da arte e isso é algo que você não encontrará nos livros modernos que tratam do assunto, mas está em perfeita harmonia com a visão da feitiçaria dos grimórios. O exemplo abaixo ilustrará de forma mais efetiva:

Imagine que a arca de bronze é um grande curral onde o fazendeiro (mago) coloca os cavalos bravos (daimones) do campo (corpo de Deus) que estavam livres na natureza. O fazendeiro vai lá no ambiente dos cavalos bravos, o campo, e os laça, levando-os a força para dentro do curral. Uma vez dentro do curral, os cavalos bravos são açoitados, amansados, adestrados, treinados e alimentados. Depois que o fazendeiro treinou, adestrou, alimentou e tornou submissos os cavalos do curral, então ele irá selecionar um dentre eles e levará para fora do curral, onde colocará nele uma cela e arreio (o triângulo da arte) e o montará, comando-o a seguir um curso adequado e apropriado aos fins do fazendeiro.

A arca de bronze, portanto, serve para tornar os daimones da natureza que não possuem pactos com os homens submissos ao mago que, através do triângulo da arte, os comandará a fazerem a sua vontade. E é por isso que essa goécia ensinada na magia moderna trata-se só de psicurgia e efetivamente não funciona, é a arte dos tolos. Antes de confinar um demônio no triângulo da arte, ele deve ser preparado dentro da arca de bronze. A arca de bronze é o equivalente a lâmpada para aprisionar os djinns dos mulçumanos ou o baú (caixa preta) da feitiçaria crioula.

O Lemegeton (ou Goécia) ao descrever o 13° demônio, Beleth cujo Anjo Aniquilador é Jazalel, explica o processo de constrição:

[O demônio será] poderoso e terrível em um primeiro momento e terá aparência furiosa enquanto o Exorcista segura com Coragem um bastão de avelã em sua mão, golpeando os quadrantes sul e leste, traçando um triângulo [fora do] Circulo, comandando-o e o obrigando [pelas conjurações e] pelo laço e cargo de espíritos que daqui por diante o acompanharão. E se ele não adentrar no triângulo, pelas ameaças, nem pelo recitar das ligações e os encantos, então se deve rendê-lo em obediência e obriga-lo a vir, através do que é dito no Exorcismo. Contudo deve recebê-lo gentilmente [...].[2]

Embora o método da evocação mágica na magia tradicional salomônica seja hostil, o mago é aconselhado a receber o demônio de forma cortês. Este é o momento em que o demônio é testado para que o mago tenha certeza de que a entidade que ali se apresentou se trata do demônio convocado e não qualquer entidade zombeteira como o ocorrido no caso citado na seção anterior. A averiguação é importante para que o mago siga seguro na operação e não frustrado como John Dee (1527-1608) que se viu enganado por demônios (daimones) que se diziam anjos.

Nos Papiros Mágicos Greco-Egípcios essa etapa da operação chama-se fórmula compulsiva e ela compreende uma miríade de procedimentos distintos usados na intenção de trazer o deus ou daimon a aparição. O procedimento que aparece primeiro nos papiros como técnica coerciva para trazer uma entidade a aparição visível é o corte, quer dizer, sacrifício das partes de um animal que possua equivalência com o daimon ou deus que terá sua imagem pintada no chão ou em um papiro.

Se ele não aparecer, sacrifique o cérebro de um cordeiro preto e no terceiro dia a unha da perna direita traseira, a mais próxima do tornozelo; no quarto [dia], o cérebro de uma íbis; no quinto, desenhe a figura [do carneiro] em um papiro com tinta de mirra, envolva ela em uma peça de roupa de alguém que tenha morrido violentamente e a atire no forno de uma casa de banho.

Alguns papiros trazem a instrução para não jogar no forno, pois é uma ação muito extrema, mas ao contrário, suspender sobre uma lamparina acesa. É possível ver aqui o antecedente medieval de se ameaçar o demônio colocando seu selo dentro de uma caixa de metal com enxofre e assafétida suspensa sobre um braseiro com carvão em chamas (ou em brasa), o que torturará o demônio através de sua calcinação. Como o selo do demônio deverá ser inscrito em um papiro – o que demonstra sua ancestralidade a partir dos Papiros Mágicos Greco-Egípcios – este procedimento pode durar horas.

Se o mago colocar o papiro sobre a lamparina acesa e mesmo assim o daimon ou espírito não aparecer, ele segue jogando no forno de uma casa de banho no quinto dia. Esse procedimento é acompanhado de invocações aos deuses para forçar a aparição do Sem Cabeça (traduzido modernamente como Não Nascido). Outra fórmula compulsiva que acompanha a anterior é a ameaça de que um grandioso deus punirá o daimon calcinado:

Se você me desobedecer e não for até ele [i.e. a pessoa que se deseja contatar ou enviar uma mensagem através da experiência onírica] eu direi ao grande deus e após ele lhe espancar, irá lhe cortar em pedaços e alimentará os cães sarnentos que moram entre os montes de esterco com eles. Por isso, ouça-me agora, imediatamente, rápido. Eu não o ameaçarei novamente! [4]

O grande deus referido neste papiro é Set. A ideia de que o mago pode comandar um deus maior a repreender ou torturar uma entidade menor aparece nos grimórios latinos onde os espíritos são punidos pelo demônio rei e regente dos quadrantes do espaço. Em todo caso, seja na Antiguidade ou Idade Média, o sucesso da operação depende do espírito convocado e agrilhoado reconhecer o poder do mago. No texto que enviei a vocês anteriormente, Um Elogio a Magia Tradicional Salomônica, eu disse que o que confere poder real sobre os demônios é a conduta moral do mago, replicando o que Agrippa já havia ensinado. Neste texto eu contei sobre a experiência que presenciei de um exorcismo mal sucedido onde o possuído disse: Você? Logo você que é o mais pecador de todos acha que tem qualquer autoridade sobre mim?

Como a experiência relatada na seção anterior, essa também aconteceu no Céu das Estrelas em maio de 2006. Tratou-se de um Trabalho de Jovens, quer dizer, um trabalho só para os jovens da igreja, sem a presença dos dois comandantes, Fernando e Rodolfo. O jovem escolhido para comandar o trabalho foi o cunhado de Rodolfo, o Evandro. Eu fiquei na fiscalização do salão e do terreno, o Rodrigo ficou como fiscal de porta. O fiscal de porta é como um guardião, ele fica na porta da igreja. O fiscal de salão e de terreno cuida dos pontos acesos, lava os copos de Santo Daime e fica a disposição do comandante do trabalho.

Neste dia em questão, enquanto eu estava lavando os copos do último despacho de Santo Daime, o fiscal da porta teve de correr do lado de fora para socorrer um irmão que estava endiabrado, o Lele. O trabalho foi em uma noite de Lua Nova e Lele corria para todo lado, pulava e rolava no meio do mato, socava e batia a cabeça no chão. Literalmente ele deu trabalho a noite toda e no fim da sessão, ele ainda estava endiabrado.

Após eu lavar os copos, corri para render o fiscal da porta e lá fiquei, sem nada poder fazer. Enquanto eu estava ali na porta, por um momento o fiscal conseguiu trazer o Lele bem próximo da porta da igreja, quando ele caiu sentado no chão dizendo ao fiscal: Você? Logo você que é o mais pecador de todos acha que tem qualquer autoridade sobre mim? Eu não vou para igreja nada. Após dizer isso ao fiscal, Lele saltou do chão e saiu correndo para dentro do mato, pulou a cerca de trás da igreja e subiu lá para o alto da montanha. Quando o outro fiscal disse ao comandante que o Lele tinha saído correndo da igreja, ele me chamou e disse: Fernando, vai atrás do Lele e traz ele de volta. Eu prontamente saí correndo atrás do Lele.

Ao encontrar o Lele em uma plataforma no alto da montanha, consegui conversar tranquilamente com ele que, hora estava consciente, hora não falava coisa com coisa. Bem lentamente fomos conversando e ele optou por retornar. Nós somos muito amigos e devido a isso ele manteve-se controlado.

Eu consegui trazê-lo para igreja. No entanto, ele permaneceu atrapalhando o trabalho, interrompendo os hinos, pedindo outros hinos. Tivemos de lidar com ele até o fim da sessão dando problemas. Ele não foi levado ao cruzeiro e nem tomou Santo Daime de cura. O comandante preferiu deixa-lo na fila entre os irmãos. Será que se o comando da casa estivesse ali ele teria passado por tudo aquilo? Eu refleti que não, conhecendo o Lele, que esperava o tempo certo, quer dizer, quando a casa se encontrasse sem autoridade espiritual do comando para exorcizar, ele mesmo, os demônios que lhe acompanham e lhe açoitam.


NOTAS:


[1] O bronze é uma liga de cobre, estanho, chumbo e zinco. O latão é apenas cobre e zinco. Magicamente, o bronze oferece a constrição saturnina (por causa do chumbo), o que o latão não oferece. É por isso que na Arte da Alquimia o latão é considerado o bronze dos pobres. O efeito mágico do bronze é infinitamente superior ao efeito do latão. Quando avaliamos as tabelas de proporção dessas ligas metálicas, notamos que as razões matemáticas do bronze são mais adequadas que o latão para arte da magia. O latão por sua vez tem razões matemáticas imprecisas e não produz razões áureas, dessa maneira, gera espíritos de segunda grandeza, quer dizer, forças essencialmente cegas.

[2] The Goetia of Dr. Rudd editado por Stephen Skinner & David Rakine, p. 115.

[3] PGM II. 44-52.

[4] PGM XII. 141-43.


Os Magos Modernos

Os magos da magia moderna estão condenados ao fracasso, não por falta de capacidade ou talento, mas por inconsistência do próprio sistema. Aleister Crowley é conhecido como o pai da magia moderna. E muito embora muitos discordem, ele assim o é porque a sua definição de magia influenciou todos os magistas da tradição moderna da magia. Na visão de Crowley a magia se trata das projeções das forças da mente ou como ele nomeia, a vontade para mudar a estrutura da realidade, quer dizer, causar taumaturgia na natureza. Quando ele assim o faz, determina que a magia trata-se de uma ação humana, dependente exclusiva das intenções do mago. No entanto, isso não é magia de fato. Como iremos explorar nos textos selecionados para essa edição, qualquer definição válida de magia envolve o tráfego com criaturas espirituais, espíritos diversos do Corpo de Deus. Isso significa que é por meio dos espíritos de todas as coisas que a magia opera. Estes espíritos, daimones de todos os tipos, foram chamados de demônios na recessão escatológica cristã. Assim, a partir de Aleister Crowley a vontade humana passou a determinar a natureza da magia, não os espíritos ou como postularia Agrippa, as virtudes de todas as coisas.

Então o que Crowley fez foi tentar reinventar a roda ressignificando a magia segundo suas concepções particulares e visão de mundo idealista. Como Papus (1865-1916) já havia definido antes de Crowley, a projeção das forças da mente trata-se de psicurgia, não magia. A escola francesa de magia, da qual os grandes ícones são Eliphas Levi (1810-1875), Papus, Stanislas de Guaita (1861-1897) e Saint-Yves D’alveydre (1842-1909), estabelece uma distinção muito clara entre magia e psicurgia. A escola inglesa, por outro lado, cujos ícones são Aleister Crowley e McGregor Mathers (1854-1918), não estabelece essa distinção, chamando de magia o que na verdade trata-se de psicurgia.

Tanto é verdade que psicurgia não é magia que a magia não precisa das forças da mente do mago para funcionar. Se eu colocar o testemunho (endereço mágico) de alguém (um cliente) sobre um altar consagrado as virtudes de Mercúrio, com sunthēmatas apropriadas a Mercúrio, no dia e hora corretos, isso já é o suficiente para que o cliente possa receber em sua alma as virtudes da medicina planetária de Mercúrio. A mente humana não está envolvida em nada nesse processo. As virtudes mercuriais das sunthēmatas atrairão para alma do cliente, por meio de seu testemunho, as virtudes da energia planetária de Mercúrio. Como bem estabelecido no ensaio Magia & a Intenção Dirigida, presente nesta edição, existe valor fundamental na projeção unidirecionada das forças da mente, mas isso não define de fato a natureza da magia.​

Os primeiros a notarem essa inconsistência no sistema da magia moderna são aqueles ocultistas que se interessam pelos efeitos tangíveis da magia, quer dizer, a taumaturgia ou milagre, não os efeitos psicológicos típicos da psicurgia. Gradativamente estes ocultistas têm migrado das interpretações moderna e pós-moderna da magia, buscando encontrar na magia da Antiguidade ou Idade Média resultados reais do exercício da Arte dos Magi. Lisiewski chama de old school a prática da magia como orientada pelos grimórios medievais. Embora eu não concorde com muitas de suas alegações e às vezes sua postura preconceituosa cristã, seus esforços em demonstrar como a magia dos grimórios é mais eficaz que os sistemas modernos é notável. Nos ensaios que compõem essa edição, grande esforço foi feito para demonstrar que o mago da Antiguidade tinha uma visão muito distinta da magia daquela que os magos de hoje têm.

​É comum acreditar que através dos incontáveis graus de papel das sociedades secretas e ordens modernas é possível aprender magia. Mas essa crença tem se mostrado infundada. Todos os dias ocultistas debandam de fraternidades diversas para frequentarem choupanas de cabala crioula ou encontrarem um mago que de verdade lhes ensine o verdadeiro Arcano da magia. Diferente de sua versão moderna diletante e desorientada, o mago da Antiguidade tinha uma meta muito bem traçada:  

Iniciação e desenvolvimento magístico através de estudos, viagens e práticas espirituais. O estudante se prepara para a chegada do mestre.

O encontro com o mestre, um mago experiente que guiará o estudante, ensinando-lhe o verdadeiro arcano da magia.

De posse do verdadeiro Arcano da magia, o estudante conjura seu espírito assistente, com o qual estabelece um pacto de amizade.

Este espírito assistente instrui o estudante, agora um mago, nos segredos ocultos da magia.

De posse dos segredos ocultos da magia, o mago pode oferecer seus serviços e cobrar por eles. 

A Síntese Hermética

Na magia tradicional salomônica o termo evocação tem um significado distinto daquele difundido pela magia moderna. A evocação como compreendida pelos modernistas trata-se de projetar para fora, geralmente para dentro de um triângulo mágico, um demônio da mente inconsciente. O paradigma moderno da magia como estabelecido por alguns membros da Ordem Hermética da Aurora Dourada ou por sua verdadeira representante, a Astrum Argentum fundada por Aleister Crowley (1875-1947) a partir dos escombros da velha e destruída ordem, ensina que os demônios do Lemegeton são partes da mente inconsciente.[1] A magia tradicional salomônica, por outro lado, segue a visão animista apresentada nos grimórios medievais. Como temos estudado neste curso, a prática da magia na Antiguidade e Idade Média exige uma consciência daemonica, quer dizer, a crença na existência de criaturas espirituais separadas da consciência humana, entidades do corpo de Deus. Sem isso a prática da magia tradicional salomônica trata-se de uma impossibilidade.

No contexto dos grimórios, a evocação é o elemento central da operação magística. A palavra evocação vem do latim evoco que significa chamar ou convocar as entidades do corpo de Deus de maneira agressiva, usando ameaças ao invés de adulação e barganha ou bondade e caridade.[2] Uma operação magística evocatória, portanto, consiste na utilização de tecnologias mágicas e armadilhas de espírito que separam o mago do demônio convocado devido à criação da virtude da hostilidade por meio das ameaças mágicas. Essa é uma influência nitidamente católica devido a cosmovisão dos grimórios medievais, todos produzidos pela elite intelectual da Idade Média, quer dizer, os padres da Igreja Católica.

A barreira principal erigida entre o mago e o demônio é o círculo mágico, central em todas as operações de magia tradicional salomônica. O Hygromanteia, ancestral direto das Chaves de Salomão, esboça pelo menos dois tipos de operação evocatória.

Esse tema traz a mente uma experiência pessoal que ocorreu por volta de 2013 no Céu das Estrelas, Igreja do Santo Daime e representante regional lá na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Depois de uma sessão de concentração, alguns dias antes do Trabalho do Dia das Mães, lá pelas tantas da meia noite, o comandante da igreja, Fernando Ribeiro, toca meu ombro esquerdo e diz: Fernando, estão te chamando aqui no quartinho. Ele se referia ao quartinho de cura que ficava atrás da biqueira do Daime, o altar onde o sacramento era despachado nas sessões.

Prontamente o acompanhei até o quartinho de cura. Quando lá cheguei havia um irmão, o Bibim com nós o chamávamos, arqueado como um exu pagão, quer dizer, da porteira para fora, que me disse logo que entrei: Então, você não gosta do demônio? Tô aqui. Diante dele me prontifiquei com pé esquerdo à frente, acionando o hemisfério direito do cérebro, aquele que realmente faz magia e tem o poder do conjuro. Coloquei a mão esquerda sobre a estrela consagrada da doutrina, no lado direito de meu peito. Estendi a mão direita à frente, na direção dos olhos da entidade. Os dedos polegar, indicador e médio unidos enquanto que os dedos anular e mindinho encostados na palma da mão. Este é o símbolo cristão do fogo do Espírito Santo, utilizado em batismos, unções, bendições, consagrações, conjurações e exorcismos. Ao me prontificar disse: Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Eterno Pai Celestial nas alturas e da Santíssima Mãe de Deus, qual é o teu nome? A entidade cabisbaixa relutou e esperneou dizendo: Meu nome é Zé! Então retruquei: Zé? Povo de Rua? A entidade resmungou e resmungou sem nenhuma lógica. Logo identifiquei que se tratava de uma entidade zombeteira, pois não conseguia raciocinar as minhas perguntas. Eu perguntava: Quanto é dois mais dois? Ela respondia resmungando e nada dizia. A entidade mal sabia falar. Quem te mandou aqui? Com que autoridade você se apresenta? Essas eram perguntas que a entidade não sabia responder.

Eu optei por fazer algo muito distinto da doutrina do Santo Daime. Nessas circunstâncias a orientação da doutrina é tratar com carinho, doutrinar e curar. Essa cura o próprio Santo Daime é quem dá. Após a doutrinação da entidade o fiscal ou comandante lhe dá uma dose de Santo Daime, que cristifica e cura a entidade, seja zombeteira, demônio etc. No entanto, em minhas veias correm sangue de mago, optando por exorcizar a entidade zombeteira. Isso foi desonroso ao método da casa, como depois me avaliou o comandante, infelizmente.

Ao perceber que ali estava uma entidade zombeteira, me prontifiquei a conjurar após fazer o Sinal da Cruz na face dele: Senhor Jesus Cristo, Palavra de Deus Pai, Deus de toda criatura que destes aos vossos apóstolos o poder de subjugar os demônios e inimigos hostis de seus servos. Em nome do deus Santo e de sua Palavra Nosso Senhor Jesus Cristo, vá-te daqui demônio. Eu repeti exaustivamente esse exorcismo junto ao Salmo 90 – Sob a Proteção do Altíssimo. Por fim, o irmão da casa se viu livre da entidade zombeteira quando lhe impus ambas as mãos e roguei: Senhor, nosso refúgio e proteção, livrai o vosso servo das prezas do demônio, dos laços do ardiloso, protegei-o nas sombras de vossas santas asas divinas lhe enviando São Miguel e São Gabriel para defender-lhe.

Após o ocorrido o comandante da casa me repreendeu severamente, dizendo que não é daquela maneira que ali se lidava com este tipo de possessão. Eu pedi desculpas dizendo que de onde eu venho, esse tipo de entidade nós sentamos a espada na cabeça. O comandante disse: Aqui não! Aqui nós tratamos os espíritos com «bondade e caridade».

A evocação mágica na magia tradicional salomônica remonta aos Papiros Mágicos Greco-Egípcios e trata-se de uma operação magística cuja finalidade é convocar e imprecar um demônio a sua aparição visível. A tecnologia espiritual da evocação de um demônio é, portanto, violenta e hostil. Ela não está interessada em projetar demônios da mente inconsciente, mas convocar a aparição entidades do corpo de Deus. A principal armadilha de espírito para evocação de um demônio é o triângulo mágico, presente tanto na magia egípcia quanto na magia greco-romana. Pessoalmente, eu melhorei a tecnologia do triângulo ao incluir o cabo de aço e água na evocação de um demônio. 


NOTAS:    

[1] Tecnicamente Crowley diz que os demônios do Lemegeton são partes do cérebro, fazendo entender que se tratava de entidades internas, pessoais. Crowley não descarta entidades objetivas do corpo de Deus e isso ele demonstrou por volta de 1929 quando produziu seus aforismos sobre magia, tendo ainda confirmado em palavras claras no fim da vida a existência de entidades objetivas. Veja Aleister Crowley: Goetia, Magia em Teoria & Prática e Magia sem Lágrimas. A partir do Iluminismo Científico de Crowley, a magia tornou-se cada vez mais psicológica. Veja Natural Occultism de Frater IAO131.

[2] Adulação e barganha é o método dos feiticeiros como praticado nas choupanas de Cabala Crioula, especificamente a kimbanda. Bondade e caridade como praticado nos centros espíritas e ecléticos como a tradição do Santo Daime por exemplo.

A Comunicação com Espíritos

Na teurgia caldeia da qual Jâmblico era especialista, os nomes bárbaros entoados nos ritos teúrgicos eram considerados símbolos através dos quais era possível acessar deuses, anjos, heróis e daimones. Estes nomes bárbaros eram desconhecidos a qualquer língua humana, pois se tratavam de nomes divinos de poder e um presente dos deuses dado aos homens para que estes usassem e se comunicassem com diversas criaturas do corpo de Deus. O xamanismo de todas as culturas, a teurgia neoplatônica, a magia dos papiros greco-egípcios da Antiguidade tardia, a tradição salomônica e cipriânica da Idade Média, todos compartilhavam da crença de que: i. existem espíritos diversos que desempenham papeis demiúrgicos na criação e na sociedade; ii. estes espíritos podem ser benéficos ou malfazejos a vida humana e criação; iii. através da tecnologia adequada e requerida (segundo cada sistema e cultura), é possível se comunicar com estes diversos espíritos em estados alterados de consciência, aprendendo com eles uma sabedoria arcana não detida pelos homens. Esse sempre foi um norte para tradições xamânicas, magia antiga e da feitiçaria salomônica: ser capaz de se comunicar com os espíritos, aprender com a sabedoria deles e também conjurá-los utilizando a autoridade dos Nomes Divinos quando, segundo Jâmblico, nos vestimos com a capa dos deuses.

Eu tive a oportunidade de conhecer um mago taumaturgo, detentor de poderes paranormais reais que testemunhei em várias ocasiões. Uma vez foi quando ele fez parar de chover em poucos minutos. Nessa ocasião fazia pouco tempo que eu o conhecia. Fui apresentado a ele por seu sobrinho, meu amigo ocultista Elcio Zaghetto. Foi Elcio quem me introduziu efetivamente no mundo do ocultismo. Aos doze anos conheci com Elcio Eliphas Levi, Papus, Krumm Heller, Jorge Adoum, Blavatsky e vários autores teosóficos, Israel Regardie, Dion Fortune, Samael Aum Weor e o pior homem do mundo, Aleister Crowley e thelemitas brasileiros como Marcelo Motta e Euclydes Lacerda. Aos doze anos o Elcio escancarou para mim as portas do Templo de Salomão. Ele me levou para conhecer diversas fraternidades rosacrucianas, a gnose de Samael, o Colégio dos Magos e o falecido Vasariah.

Foi em uma tarde de sexta feira quando Elcio me convidou para irmos a casa do tio dele. Eu prefiro não revelar seu nome, a pedido do próprio tio e sobrinho. Também não me lembro exatamente de todos os pontos, eu tinha quatorze anos na época e não tinha o habito de fazer anotações em diários. De lembrança, foi o seguinte: nós chegamos em uma tarde ensolarada para em pouquíssimos minutos começar a chover intensamente. Nós tínhamos ido lá para que o Elcio pegasse com ele alguns livros. O tio dele não podia esperar muito, devido a um compromisso e estava com bastante pressa para nos atender. Quando a chuva caiu ele se viu preso em casa conosco. Por outro lado, o Elcio não havia levado mochila ou sacola, não tendo como sair com os livros na chuva. Diante disso, o tio do Elcio tirou os sapatos, entrou no seu pequeno santuário e saiu de lá com uma varinha mágica. Dirigiu-se a varanda da sala, toda alagada pelo temporal, apontou a varinha para cima e entoou nomes de poder inteligíveis para mim na época e até hoje. Não faço a mínima ideia das palavras de poder que ele proferiu, mas a chuva acabou como que por instantaneamente. Naquele momento eu fiquei sem saber o que dizer, não sabia se sentava no sofá, morria de rir ou saia correndo. Uma corrente de energia invadiu o ambiente que se tornou pesado, úmido e quente. Eu comecei a suar muito. Curioso eu indaguei ao Elcio o que seu tio fez. Ele balançou a cabeça e fez que não. Então, quando o tio dele saiu da varanda, sequinho, eu perguntei a ele: em que livro posso aprender isso? Ele respondeu: isso não se aprende em livros.

Anos depois, conversando com Elcio sobre esse fato, ele me falou que seu tio tinha o auxílio de uma entidade-guia, foi esse o termo que ele usou. Hoje sei que naquele dia testemunhei um mago em ação taumatúrgica e que sua magia ele aprendeu diretamente através do conhecimento & conversação com seu Sagrado Anjo Guardião. Ele aprendeu com esta entidade-guia nomes divinos que ninguém conhece, procedimentos magísticos que não estão listados em livros. Esse tipo de conhecimento que é transmitido espiritualmente por um espírito assistente e que não é encontrado em livros é o que a Tradição Oculta tem chamado de arcanum arcanorum.

O mago se vale de inúmeros nomes de poder para contatar e conjurar espíritos. Dependendo de seu conhecimento acerca do poder destes nomes, ele logra êxito em suas operações. No entanto, ao invocar um espírito assistente, seu Sagrado Anjo Guardião, ele tem acesso a um conhecimento arcano da Arte dos Magi só dele, desconhecido a outros magos. Esse fenômeno é padrão em toda cultura e tradição animista. O xamã, por exemplo, tem uma medicina particular, distinta da medicina de outros xamãs. Essa medicina ele aprende através do contato com criaturas espirituais do corpo de Deus.

Para os praticantes de magia tradicional salomônica, é Salomão o maior exemplo e expoente dessa doutrina de receber dos espíritos conhecimentos divinos e secretos. Salomão, um homem que se provou digno para receber a graça de Deus tornou-se também o sacrário da magia salomônica. A tradição dos grimórios salomônicos opera dentro de uma cosmovisão e mitologia particulares. Quando um mago salomônico conjura um espírito e exerce sobre ele autoridade, está emulando o próprio Salomão, o primeiro a receber os favores divinos e inaugurador de uma tradição mágica outorgada pelo próprio Deus. Nessa tradição mágica outorgada por Deus, conjura-se espíritos menores com a autoridade de potestades, arcanjos e anjos invocados previamente. Toda a magia tradicional salomônica se baseia nisso: primeiro aprende-se com anjos e arcanjos as regras da Arte dos Magi para somente depois, com preparo e conhecimento, conjurar espíritos do corpo de Deus. Isso é tão evidente que as inúmeras versões da Chave de Salomão trazem contos diversos acerca dessa mitologia. Isso significa que a magia tradicional salomônica pode ser considerada como uma Arte revelada pelo próprio Deus e, portanto, não é ilícita aos olhos de Deus. Vamos nos lembrar que a cosmovisão dos grimórios é medieval e, portanto, altamente influenciada pelo cristianismo. Sem um conhecimento de toda escatologia cristã e dos manuais de demonologia medievais é difícil perceber a dimensão mais profunda da tradição salomônica. Alguns ocultistas tentam desesperadamente se agarrar a ideia de que a magia tradicional salomônica é sinônimo de magia judaica, o que demonstra um terrível desconhecimento da tradição, tamanha a falta de estudo. Os grimórios salomônicos são manuais de feitiçaria escritos pelos padres da Igreja de Roma, manuais estes que foram escritos para o homem da Idade Média. Não há evidência que o mago da Idade Média tivesse ideias religiosas distintas daquelas vigentes em seu tempo na Europa. Isso significa que ele não esperava conjurar daimones como compreendidos no paganismo, mas demônios como compreendidos no cristianismo, e ele esperaria que tais demônios se comportassem segundo a cosmovisão cristã. Qualquer um que consultar a gênese da Chave de Salomão, quer dizer, O Tratado Mágico de Salomão (Hygromanteia) constatará que a intenção do mago medieval era conjurar demônios com o auxílio das forças celestiais, e assim temos:

Por esses nomes, eu vos conjuro, espíritos e demônios das quatro partes do mundo, para se materializarem, assumir uma forma humana mansa e bela para se apresentarem diante de mim e fazer o que eu mando. Eu vos conjuro, vos amarro e vos amaldiçoo com o poder dos nomes: Retienim, Fenakim, no precioso nome do Senhor Samiforas. Sejam temerosos e envergonhados diante dos nomes do Senhor. Ó demônios, apareçam diante de mim e não me desobedeçam [pelo poder destes] santos nomes. [...] Eu vos constranjo, eu vos obrigo e vos digo pelo nome de Mikael, Gabriel e Rafael e pelos santos anjos Amafriel, Serapefouel, Giamiel e Ladodoel.[1]

Nós podemos atribuir ao Testamento de Salomão o início da tradição salomônica. Este é um manuscrito pseudoepigráfico atribuído a Salomão escrito em grego por volta do fim do Séc. I d.C., mas diversos pesquisadores dizem que ele foi escrito entre os Sécs. III e VI d.C. O texto tem inúmeras referências teológicas judaico-cristãs, a magia e a astrologia gregas. O autor foi provavelmente um cristão grego. Dessa maneira, desde o documento oficial que funda a tradição salomônica da magia, é preciso considerar a extensão da influência cristã nele. Ao consultar o texto vê-se o demônio Rath fazer uma profecia quando se manifestava na forma de um leão. A profecia era sobre a vinda de Emanuel. Temos então um demônio profetizando a vinda de Jesus, o que por si determina a validade da magia ali transmitida. Dessa maneira, o Testamento de Salomão pode ser considerado a primeira iniciativa de se formular uma magia de inclinação cristã, uma tradição mágica que aceita a cosmovisão cristã acerca dos demônios e o contato e controle deles por intervenção divina. Até o Testamento de Salomão, a nenhum demônio foram atribuídas boas obras, ele é o primeiro a fazê-lo. Durante o Renascimento essa mecânica ou tecnologia salomônica da magia foi deturpada pelos magos da época, que queriam higienizar a magia, retirando dela seu aspecto conjuratório e contato com demônios e colocando ênfase na prática da magia natural, astrológica e o misticismo teúrgico para o benefício de todos. É dessa interpretação que nasce a magia como uma prática de espiritualização. Ela ganhou força durante o Iluminismo e deu nascimento a magia moderna transmitida por organizações como a Ordem Hermética da Aurora Dourada e outras da mesma época.


NOTA:    


[1] The Magical Treatise of Solomon or Hygromanteia, Ioannis Marathakis, Golden Hoard Publishing.