quinta-feira, 1 de junho de 2023

Luciferianismo - As Origens da Angelologia



As origens da Angelologia hebraica e dos cultos mágicos de adoração aos anjos no Oriente Médio revelam uma formação complexa de influências culturais persa iranianas, egípcias, canaanitas e greco-romanas. Elas influenciaram o mundo religioso semita por canais históricos específicos. Na atual teologia Cristã, o papel das hierarquias angelicais é praticamente esquecido. Apesar de sua presença constante por toda a arte ocidental e iconografia religiosa, elas não são mais consideradas de grande importância teológica. No movimento moderno da Nova Era, a existência de forças angelicais é admitida, mas apenas como figuras puras que pouco retratam o poder e a importância real dos anjos. E chegado o momento de reexaminar e restabelecer os antigos ensinamentos a respeito dessas sublimes entidades espirituais dentro do contexto da tradição oculta ocidental. Para que a real importância delas na prática da Alta Magia - a “arte divina” do mago - possa novamente ser evocada tanto experimentalmente quanto teoricamente. 

A Alta Magia dos anjos sintetiza um acervo considerável de conhecimento esotérico, ou gnose, que esclarece tanto sobre o passado misterioso da raça humana quanto sobre os potenciais místicos do nosso futuro, propagando indícios das potencialidades miraculosas que são manifestados nos mais altos níveis da consciência espiritual. As potencias angelicais são as emanações mais antigas da Mente Divina, literalmente mensageiros da vontade celestial e encarnações divinas de sabedoria transcendental. Por esse motivo, a invocação dos anjos da luz pertence adequadamente ao mais alto nível de prática mágica, que é o campo da teurgia (“Obra de Deus”) ou magia supercelestial. Antes de tentar interagir com as potências angelicais, seria desejável primeiro ter um panorama claro da origem histórica dessa tradição e as diferentes correntes das crenças tradicionais da sabedoria antiga que a alimentaram no passar dos milênios. Dessa maneira, um domínio sólido dos conceitos fundamentais da Angelologia esotérica poderá ser alcançado.

No Egito dos Faraós, nós encontramos referência à classe de emissários divinos chamados de Urshu, ou “Vigias”, um termo que, como veremos, é de grande significância, e à raça pré-dinástica de semideuses chamados de os Seguidores de Hórus. Eles supostamente reinaram por milhares de anos antes do primeiro rei mortal. Lewis Spence, em seu livro Myths andLegends o/Egypt (1915), coloca-os junto dos Ashemu, dos Henmemet, dos Utennu e dos Afa como “seres que poderiam ser adequadamente descritos como angelicais”. Os Shemsu-Heru2 eram imaginados como criadores da comitiva celestial do deus Elórus na chamada Primeira Era antes do início da História. Os Akhu, ou “Os Exaltados”, que habitam de forma oculta as “estrelas incessantes” do Pólo, estão estreitamente ligados à ordem mística dos Shemsu-Heru. Suas doutrinas de mistérios ancestrais provavelmente formam as bases dos níveis mais profundos da Angelologia aramaica.

Na mitologia do Egito Antigo, a Primeira Era, ou “Era dos Deuses”, ocorreu quando a civilização foi estabelecida pela primeira vez no delta do Nilo. Textos escritos em hieróglifos nas paredes do templo de Edfu, entre Luxor e Assuã, referem-se à Primeira Era e aos Deuses Antigos, que foram os civilizadores e serviram como modelos culturais para os primeiros humanos primitivos neste planeta. Os textos mencionam explícitamente os Sete Sábios ou sete deuses (os sete arcanjos?) que foram responsáveis por erguer os primeiros templos e, particularmente, o templo principal conhecido como a “Casa de Deus”. Conta-se que originalmente os sete Deuses Antigos vieram de uma ilha conhecida apenas como “a terra natal dos Antigos”, que havia sido destruída em uma enchente. Esses seres eram conhecidos por diversos nomes, como os “deuses construtores”, “os Séniores ou Antigos” e os “Senhores da Luz”. A função primordial deles parece ter sido a de guardiões do conhecimento antigo do passado distante e sua transmissão para as gerações do presente e do futuro. (Bauval e Hancock, 1996:198-202)

Algumas tradições ocultas também alegam que as primeiras deusas e deuses do Egito dinástico eram visitantes de uma ilha destruída por um cataclisma. Muitos ocultistas consideram que essa ilha seja a mesma que o lendário continente perdido da Atlântida, cuja existência ainda é intensamente debatida. Dizem que as primeiras divindades, Osíris e ísis, governaram o Egito antigo em forma humana e trouxeram com eles os elementos da civilização, inclusive a agricultura. De acordo com os registros de Hermes Trismegisto, datados entre os séculos I a III, o casal divino “trouxe a divina religião à humanidade e parou com a selvageria da matança mútua. Eles estabeleceram ritos de adoração em concordância com os poderes sagrados do céu e tornaram-se legisladores da humanidade.,, (Freke e Gandy, 1997:88). Dizem que o mago e escriba da corte deles, Thoth, o deus da sabedoria, com cabeça de íbis, introduziu a Escrita, a Matemática, o Registro do Tempo e a Astronomia aos Egípcios.

Essa tradição foi ensinada dentro do grupo conhecido como a Ordem da Estrela da Manhã, fundada pela falecida astróloga, taróloga e maga Madeline Montalban nos anos de 1950. Esse grupo era baseado em uma mistura de mito egípcio, magia angelical medieval e filosofia Luciferiana.

Montalban ensinava aos seus alunos que os deuses egípcios eram formas adotadas pelos anjos educadores ou regentes planetários que ocasionalmente se materializavam na Terra para ajudar a evolução física e espiritual da raça humana. Longe de ser uma forma primitiva e atávica de adoração, a representação das divindades egípcias com cabeças de animais era uma ferramenta de ensino usada pelos sacerdotes do templo para explicar as características e atributos de cada um dos deuses. Por exemplo, o íbis passa sua vida nos banhados do rio procurando comida com seu longo bico. Isso simbolizava o ato de coletar e organizar os fragmentos de sabedoria e conhecimento por Thoth. Da mesma forma, o chacal vagava por entre as tumbas na busca de comida, e Anúbis, com máscara de chacal, era o deus que guiava os mortos para o mundo subterrâneo.

Em Abidos, o deus Osíris era venerado como o líder dos Sete Sábios ou Sete Construtores. Cada um deles ostentava em suas coroas o símbolo de uraeus ou cobra egípcia pronta para dar o bote. Isso representava o fogo cósmico trazido dos céus para a terra pelos Deuses Antigos. Osíris é associado tanto com o arcanjo solar Miguel quanto com o deus persa do fogo e da luz Ormuzd. Na tradição Luciferiana, no entanto, Osíris é um dos avatares do arcanjo conhecido como o Portador da Luz, que, como Azazel, liderou a rebelião dos anj os caídos ou Vigias durante a guerra no Céu.

Apesar de nossas tradições de magia sobre seres angelicais terem suas origens principalmente nas Escrituras hebraicas, como nós veremos freqüentemente em referências neste livro, tem sido amplamente admitido o fato de que a tradição judaica em relação a essas entidades foi muito expandida e enriquecida durante e após o período de cativeiro na Babilônia. Isso ocorreu quando eles foram apresentados às complexas magias astrológicas e estrelares da antiga Mesopotâmia. Quando Ciro, o Aquemênida, o xá da Pérsia, acabou com o exílio dos judeus na Babilônia, a religião hebraica começou a assimilar muitas características da espiritualidade dos Magos do Irã. O conhecimento da maioria das pessoas sobre os magos provém de breves referências no Novo Testamento aos três homens sábios ou astrólogos que visitaram e prestaram homenagens ao menino Jesus. Eles são às vezes descritos como os Três Magos e dizem que eles seguiram “a estrela no oriente” a partir da Pérsia (atualmente Irã).

No Primeiro Evangelho apócrifo sobre a infancia de Jesus Cristo, um dos muitos textos excluidos da Biblia, é dito que os três homens sábios vieram a Jerusalém à procura de Jesus por causa da profecia dita pelo adorador do fogo Zoroastro sobre o nascimento de um novo messias. O Evangelho também menciona que, após terem feito suas ofertas ao menino, os magos, de acordo com o costume no país deles, fizeram um fogo e o adoraram. Eles então fizeram uma oferta sacrificatoria das faixas que envolviam o menino ao fogo que eles criaram (3:6-7). Essas ofertas provam que os três homens sábios eram magos ou seguidores do Zoroastrismo, ou até uma forma mais antiga de adoração do fogo persa. Outra tradição alega que eles eram Cainitas, ou “povo do fogo” descendente de Caim do Velho Testamento.

O conceito judaico de arcanjos, em particular, passou por um florescimento radical durante os anos pós-exílio, ao passo que os sábios hebreus absorviam as antigas idéias Mazdeístas dos magos. Essas idéias diziam respeito aos seres divinos conhecidos como Amesha-Spenta, os “Imortais Beneficentes” e os emissários celestiais chamados de Yazatas nas tradições persas, parecidos com os Yajata da índia. Nos Amesha- Spenta, podemos compreender as divindades antigas do panteão indo- iraniano, os símbolos divinos que exerceram uma influência profunda sobre o desenvolvimento da Angelologia Judaica. Até mesmo os nomes hebraicos dos arcanjos, como Gabriel (“Poder de Deus”) e Rafael (“Cura de Deus”), são originados dos padrões formalistas iranianos que descrevem as diversas emanações da Divindade Suprema. Eles mostram grandes afinidades com os “Imortais Beneficentes”, cujo culto predominou em todo o Império Persa aproximadamente mil anos antes da era comum.

Reformas Zoroastristas reinterpretaram os deuses e as deusas da Pérsia por meio de linhas místico-filosóficas, dando origem à visão dos Amesha-Spenta, os arcanjos da religião Mazdeísta. O anjo hebraico reuniu a crença persa dos “Imortais Beneficentes” com as divindades planetárias e astrológicas que eles encontraram nas culturas assírias e babilónicas, uma fusão que deu origem à única Angelologia judaica, com seus aspectos simbólicos complexos e suas classificações cosmológicas.

A sequência canônica dos Amesha-Spenta dada na literatura Zoroastrista claramente provém do antigo panteão mago. Em sua ordem correta, eles estão listados como: 1) Vohu Manah - “Boa mente”, também chamado de Bahman, que imperava sobre o gado e os animais domésticos, um ser com ressonâncias mitraístas. 2) Asha-Vasishta - “Verdade Suprema ou Arbidihast, a personificação do fogo, e Rta, a ordem cósmica ou a divina “disposição do Universo”. Também ligada à figura indiana de Vasoshtha, um dos Sete Rishis (grandes espíritos) da constelação Ursa Maior. 3) Xsathra Vairya- “Primoroso Domínio”, ou Shariver, o senhor dos metais e da casta de guerreiros. 4) Spenta-Armaiti - “Pensamento Benigno”, ou Sipendarmith, o anjo feminino da Terra, a quem o escritor clássico Plutarco identificou como Sophia ou “sabedoria”. 5) Haurvatat - “Perfeição, Thothalidade”, ou Khordadh, a personificação das águas salutares ligada às divindades aquáticas femininas dos indo-iranianos. 6) Amirita- “Imortalidade”, ou Mourdad, que tem domínio sobre as plantas, especialmente a ambrosia, e imortalidade obtida do fermento da planta mística haoma, a também conhecida “erva branca do paraíso”. Esses “Imortais Beneficentes” representam as emanações hipostáticas da divindade suprema Ahura-Mazda sobre os diversos níveis da realidade cósmica, do reino empíreo do fogo cósmico até os elementos da terra, água e vegetação. Eles são os emissários elevados e onipotentes da Mente e da Vontade Divina.

Associados a esses seres, e os próximos em precedência a eles na hierarquia espiritual, estavam os Yazatas, que eram o alvo das oferendas ritualísticas no período mais remoto das culturas persa-iranianas. Eles eram anjos cuja presença permeou toda a criação, sendo agradados com oferendas de fogo sacrificatorio por toda a Pérsia. O principal deles era Ahura-Mazda, o primeiro Yazata Celestial. A Yazata da Terra é Zamyat, comparável com a deusa russo-eslava Mati Syra Zemlja, ou “Mãe Terra Úmida”. Na Terra, o mago iniciado era respeitado como um Yazata Terrestre, e o mais notável entre estes era o próprio Zoroastro. O Yazata Mercurial, chamado de Tir, tomou-se mais tarde o-anjo hebraico Tiriel na Angelologia de Israel.

A influência dos magos sobre as culturas do Oriente Médio e suas Angelologias foi difundida muito além do que apenas aos hebreus. Os adoradores de anjos sabeus (do egípcio “S’ba”, que significa “deus estrelar” ou “professor estrelar”) e os Yazidis também ficaram profundamente gratos às filosofias místicas da Pérsia. Yazidi, nome comum do povo tribal indígena no Curdistão (norte do Iraque), na Síria e no sul da Rússia, deriva da palavra Yazd, ou “anjo”, derivada da palavra persa Yazata. Yazidi significa literalmente “o Povo do Anjo”, especificamente MelekEl Kout, “O Grande Anjo”. O mito deles de fundação tribal descreve uma genealogia que se origina nos anjos caídos que se casaram com o gênero humano, e a religião deles é quase que totalmente dedicada à veneração desses seres espirituais celestiais.

Yazid é o nome do primeiro da linhagem deles, o lendário fundador da religião Yazidi, e é associado com o próprio Poder Divino. Um significado alternativo de Yazid é Azed, ou Deus, enquanto Yazed equivale ao Diabo. (Chumbley, 1995:76). De acordo com a escritura Yazídica, chamada de O Livro Negro, os setes xeques da religião deles eram encarnações dos arcanjos criados e enviados ao Universo por Deus. Sabeu parece ter sido um termo geral usado pelo Islã para descrever Hermetistas árabes não-muçulmanos e adoradores de anjos da antiga cidade de Harã na Mesopotâmia, as civilizações pagãs de Sabá, a terra bíblica de Sabá, na parte sul da Arábia, e os centros antigos e cheios de templos das grandes religiões estelares na Ásia, cujas chamas sagradas estiveram a serviço dos sacerdotes-magos do reino por várias eras.

Os Yazidis têm um histórico longo de perseguição por Muçulmanos ortodoxos, que dizem que eles são heréticos e adoradores do Diabo. Eles afirmam que o fundador da tribo foi Yezid ou Yazid ben Muquiya, um homem santo que se recusou a aceitar os ensinamentos de Maomé e se afastou para fundar sua própria seita islâmica herética. Outra teoria declara que os Yazidis são uma ramificação da herética seita Cristã conhecida como os Nestorianos, que se desprenderam da Igreja Católica Romana em seus primordios. No Nestorianismo, existiam dois Cristos: “um humano e um divino”, e, por causa desse doutrinamento blasfemo, eles foram expulsos de Bizâncio (Istambul) no século V d.C. Missionários Nestorianos viajaram para o Oriente e, por volta do século VII, eles haviam chegado à índia e à China, onde fixaram comunidades religiosas.

A tradição Cristã Nestoriana herética incorporou o uso da doutrina mágica, que supostamente foi dada a Adão pelos anjos e transmitida ao Rei Salomão. Acredita-se que hoje existam por volta de 10 mil Cristãos Nestorianos vivendo em campos de refugiados sírios perto da fronteira com o Iraque. Seus vizinhos próximos são os 2 mil Yazidis que fugiram da perseguição dos iraquianos no Curdistâo após a Guerra do Golfo. Dizem que os sacerdotes Nestorianos e Yazidis compartilham os dias de festividades entre si. (Dalrymple, 1997:140)

Especialistas ocidentais em religiões do Oriente Médio acreditam que a Pérsia antiga foi a origem das crenças dos Yazidis, porque as práticas e doutrinas da seita possuem elementos do Zoroastrismo. Eles também conservaram, ou adotaram, práticas que antecedem ao Islamismo, como a adoração do Sol e da Lua, a reverência de poços sagrados e a santidade de pedras e árvores. Eles acreditam que a água de um poço sagrado tem poderes mágicos de cura e purificação. Arvores e pedras também eram consultadas como oráculos, pois eles acreditavam que espíritos habitavam nelas.

Como vimos, conexões foram estabelecidas entre os antigos adoradores de estrelas sabeus, que dizem ter suas origens em Noé e Abraão de Ur, e os Yazidis. Os sabeus eram profundamente envolvidos com a crença estrelar e veneravam os anjos que governavam os sete planetas clássicos. Uma crença em especial dos sabeus pode ter influenciado tanto a Angelologia dos Yazidis quanto a dos hebreus; eles acreditavam que o Criador era um em essência, mas que se manifestava em várias formas. Ele habitava em cada um dos sete planetas e era representado por um arcanjo. Pelo fato de o corpo humano, em seu estado de perfeição, ser considerado um templo para o espírito, eles acreditavam que a força divina podería ser encontrada nos corações dos bons. Eles também acreditavam que o Deus do Universo, o Ser Supremo, era inteiramente bom. O Mal para eles foi um acidente cósmico que corrompeu a humanidade. Diferentemente de esquemas dualistas de fé e crenças que surgiram depois, eles não acreditavam que o mal era um princípio distinto, separado do Ente Supremo, agindo constantemente em oposição a ele.

Escrevendo sobre as crenças dos Yazidis na atualidade, o escritor viajante William Dalrymple as descreveu como: “Uma religião rara e esotérica, provavelmente uma ramificação de alguma seita herética Cristã Gnóstico ou Muçulmana. Os Yazidis acreditam que Lúcifer [sic], tendo apagado as chamas do Inferno com as lágrimas de sua penitência, foi perdoado por Deus e empossado novamente como Anjo Comandante. Agora conhecido com Melek Taus, o anjo-pavão, supervisiona a rotação diária do mundo” (1997: 463). Isya Joseph, escrevendo aproximadamente 80 anos antes, disse: “A religião atual dos Yazidis é um sincretismo que as religiões Muçulmanas, Cristas (mais heréticas do que ortodoxas), pagãs e quem sabe até as persas ajudaram a construir. ”(1919:21)

Os Yazidis ganharam consistência social e religiosa como um grupo organizado e estruturado apenas no século XII, sob a direção e o controle do xeque Adi ben Musafir, um famoso mestre Sufi. Eles então se tomaram “o povo do Livro” porque, à parte de aceitar uma estrutura islâmica, o Xeque alegou que havia recebido o texto de um livro sagrado chamado de Kilab al Giwah diretamente do próprio anjo-pavão. No entanto, os Yazidis sempre conseguiram sobreviver apesar da perseguição religiosa porque sempre aceitaram a conversão para as crenças ortodoxas dos países em que viveram. Apesar dessa aparente obediência ao Cristianismo e ao Islamismo, “a essência da fé deles é secreta e, quando livre dessas aparências que escondem essa essência, ela compartilha da gnose transmitida por uma fonte anterior ao ponto de vista histórico”. (Chumbley, 1995:76)

Os Yazidis acreditam que o Ser Supremo, o Criador Cósmico ou Deus do Universo, passou o trabalho de criar a vida na Terra aos sete deuses menores ou anjos. De acordo com a crença deles, Deus pode ter se eximido da tarefa de criação ou ido embora para criar novos universos. Deus, para eles, é um ser transcendental que tem pouco ou nada a ver com a humanidade. De acordo com eles, aquele que governa a nossa parte do Universo é Melek Taus ou Azazel, o Anjo-Pavão, que é o Senhor do Mundo. Ele é a fonte da revelação divina, o controlador da vida e da morte e o líder dos outros anjos que controlam os sete planetas. Embora o principal objeto de adoração deles seja Melek Taus e as sete potências angelicais, eles também veneram seu lendário fimdador Yazid, xeque Adi e diversos santos Sufis. Entre os últimos, podemos encontrar o mártir Sufi Al Hallaj, do século XII, que foi crucificado por heresia. Al Hallaj disse que seguia uma doutrina esotérica que podería ser ligada diretamente ao deus grego Hermes, a Pitágoras e aos magos Zoroastristas.

Os Yazidis também têm uma lenda acerca do Dilúvio, como descrito no Velho Testamento. Na verdade, eles reivindicam descendência de Noé e, portanto, da linhagem de Caim, que se origina nos anjos caídos. Melek Taus é descrito na mitologia Yazidi como aquele que desobedeceu a Deus por se recusar a adorar Adão. Na versão Cristã desse mito em particular,

Lúcifer é aquele que se recusa a curvar-se perante a criação de Deus. Ele questiona a Deus: “Por que você me força? Eu não vou adorar alguém que é mais novo do que eu. Eu sou mais velho que ele. Ele é que deve me adorarF\ (Pagels, 1995:49) No entanto, Miguel curva-se perante a criação de Deus, e Lúcifer é expulso do Céu pelo seu ato de rebeldia. Na versão Yazidi, o Anjo-Pavão diz que adorará a Deus, mas não à sua criação.

Os Yazidis também possuem uma história diferente de Adão e Eva. Na versão deles, o Arcanjo Gabriel criou Eva a partir da omoplata de Adão, ou de sua axila. No início, tudo estava bem, mas o primeiro homem e a primeira mulher começaram a discutir sobre quem seria o progenitor da raça humana. Adão depositou seu sêmen em um vaso de cerâmica e Eva colocou parte de sua menstruação em outro. Eles fecharam os vasos e esperaram por nove meses. Quando eles abriram os vasos, aquele que pertencia a Eva tinha apenas pó e vermes em putrefação. No entanto, o vaso de Adão tinha bebês gêmeos, homem e mulher, que foram os ancestrais dos Yazidis.

Após essa experimentação em nascimento de proveta, Adão e Eva tiveram uma relação sexual e mais dois bebês, homem e mulher, que foram os primeiros ancestrais dos cristãos e dos judeus. Melek Taus então desceu à Terra e, enquanto a raça humana crescia em número, ele nomeou seus próprios reis ungidos para governar os Yazidis. Esses reis foram os detentores antigos do trono e da coroa do pavão. Aúltima pessoa a ser coroada no trono do pavão foi o xá da Pérsia, antes de ele ser destronado em um golpe islâmico na década de 1980.

A tradição Sufi tem um mito que diz que, quando a Luz foi criada e contemplada pela primeira vez, tinha forma de um pavão. O pássaro é, portanto, um símbolo da “Beleza da Majestade Divina”. É “um símbolo dos processos alquímicos de transmutação e os estágios de desenvolvimento na consciência daquele que procura. As “cores do arco-íris em cada pena simbolizam as kalas ou cores dos raios da corrente mágica”. (Chumbley, 1995:72-73)

Nos rituais dos Yazidis, o Melek Taus é representado pela imagem de um pavão. Ela é afixada no topo de um castiçal com sete braços chamado de sanjak. Ele pode ser facilmente desmontado quando não está sendo usado e colocado em uma bolsa para transporte. Quando montado para uso ritual, vários jarros de água são colocados perto dele. A água nos jarros supostamente irá ficar “energizada” por esse contato próximo com a imagem do Anjo-Pavão. Durante as cerimônias, essa água é tomada pelos doentes e idosos, pois eles acreditam que ela tem poderes curativos.

Outra prática ritual importante para os Yazidis é adorar o Sol nascente a cada manhã e orar para a Estrela Polar. Em seu romance A Sacerdotisa do Mar, a ocultista Dion Fortune descreve o ritual mágico do Fogo de Azrael. Ele envolve a queima de galhos de cedro, sándalo e junípero. Azrael é então invocado como o Anjo das Portas para permitir o acesso a visões de vidas passadas ou ver além no passado. No romance, o personagem Wilfred tem uma visão do Oriente Médio antigo e diz: “Eu che- guei a uma terra onde as pessoas veneram as estrelas; para elas, a Estrela Polar é sagrada como o centro do céu. O deus deles é o Senhor Deste Mundo, o Anjo-Pavão”. (Fortune, 1957:145)

Outro ritual importante dos Yazidis consiste em realizar voltas reversas ou em sentido anti-horário em tomo de uma pedra especial. Esse ritual pode ser relacionado com a reverência mostrada pelos muçulmanos para com a Pedra Negra em Meca, começado pelo Xeque Al Hallaj, ou pode ser o reconhecimento do axis mundi ou pilar do mundo ligado à Estrela Polar e encontrado em culturas pagãs no mundo inteiro. Como vimos anteriormente, pedras comuns também eram usadas pelos Yazidis como “pedras de oráculo”, com base em uma crença animista em espíritos da natureza.

Os Yazidis eram predominantemente vegetarianos e pacifistas que acreditavam em reencamação. Se uma pessoa for julgada após a morte pelos anjos como alguém que foi bom durante sua vida, renascerá como um ser humano. Se ela for julgada como alguém que foi perverso durante a vida, poderá ser punida e renascerá em forma animal. Em tais casos, a pessoa poderá passar por diversas vidas como um animal antes de poder reencarnar como um humano.

Por conta de suas origens misteriosas, de suas crenças incomuns e da idéia difundida de que eles eram adoradores do Diabo, os Yazidis têm sido o assunto de vários relatos de viajantes. Na década de 1920, o escritor americano, aventureiro e ocultista W.B. Seabrook foi informado por um ex-oficial do exército de que os Yazidis haviam construido urna cadeia de sete torres “se alongando pela Ásia da Manchúria até o Tibete, a oeste pela Pérsia e terminando no Curdistão”. Supostamente, cada uma dessas torres (moldadas de acordo com a Torre de Babel na Biblia) era ocupada por um “sacerdote Satánico” que, “transmitindo vibrações ocultas, controlava os destinos do mundo para o mal” (1928:266). Meritoriamente, Seabrook rejeitou essa historia fantástica como “absurda” e descartou a lenda das sete torres Satánicas como um mito.

Na verdade, Seabrook conheceu o emir Said Berg, o emir Yazidi de Mosul, que ele descreveu com sensacionalismo como o “Papa Negro” dos Yazidis. Seabrook continua dizendo que Berg é “o governador supremo dos adoradores do Diabo de toda a Ásia”. Ele o descreveu “com barbas pretas em um turbante escarlate, vestindo uma grande capa preta”. O Emir levou Seabrook a um templo Yazidi construído ao lado de uma montanha. Perto da porta do templo, esculpido em alto relevo na parede, estava a imagem de uma serpente negra em pé sobre sua calda. Quando Seabrook perguntou sobre o significado daquela imagem, foi informado de que era “um símbolo de sabedoria”.

Dentro do templo havia um santuário e o túmulo de um santo Sufi que dizem ter sido um dos avatares humanos do Anjo-Pavão. O refugio sagrado do templo consistia de uma caverna com nascentes naturais que alimentavam os lagos no pátio extemo do edifício. Perto do templo havia uma torre branca, e Seabrook foi informado de que ali era aonde os sacerdotes Yazidis nos graus de faquir iam para realizar magia. Era essa a verdade por trás da lenda das sete torres Satânicas? Seabrook certamente parecia acreditar que sim, mas infelizmente ele continua a se referir aos Yazidis como “sacerdotes de Satanás” e adoradores do Diabo. (1928: 287-292)

Voltando à Angelologia dos hebreus, o mais importante de todos os anjos na tradição do Zohar era Raziel, “o Anjo Sagrado responsável pelos mistérios sobrenaturais”, e foi ele quem transmitiu a sabedoria sagrada da magia para Adão no Paraíso. “Razim” em hebraico significa “segredos” ou “mistérios”. Os místicos hebreus medievais ensinavam que o próprio Deus passou os mistérios da Cabala para uma companhia selecionada de anjos, que tinham a sua própria escola no Éden. Infelizmente, quando os anjos caídos tomaram esposas humanas para si, eles passaram os segredos da Cabala para “os filhos da Terra”. Raziel trouxe do Céu para a Terra o Livro da Gênesis do Homem, e suas folhas estavam repletas de “inscrições sobrenaturais e sabedoria sagrada”. De acordo com a doutrina iniciática, esse livro continha o mistério do Nome Divino, que foi passado por Adão ao seu terceiro filho, Seth. Ele foi herdado por Enoch, o filho de Caim, que tem um papel importante e significativo na preservação da gnose angelical dentro da tradição Hermética e dos mitos da Maçonaria antiga, como será mais tarde mostrado neste livro. Eventualmente, e talvez como fosse esperado, o Livro terminou em posse do hábil mago Rei Salomão.

A palavra “anjo” deriva da palavra grega angelos, ou um mensageiro, e do termo parecido ángaros, que supostamente veio da antiga língua persa, significando um emissário a cavalo. O termo angelo, que significa os mensageiros e potências celestiais da Mente Divina, aparece na literatura Hermética da cidade egípcia de Alexandria. O texto Kore Kosmu associa os anjos com o demônio sagrado dos ensinamentos platônicos que conduz a alma do reino imortal para a encarnação terrena. O Demônio age como o anjo defensor, inspirador e protetor da alma humana em sua existência mortal em um corpo físico.

O modo de pensar neo-platônico moldou a Angelologia Cristã recente de forma considerável, especialmente no livro apócrifo atribuído a São Dioniso Aeropagita. Na obra Da Hierarquia Celeste, uma classificação em nove partes das ordens ou coros angelicais é detalhada. Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potências, Principados, Arcanjos e Anjos que são alinhados na nona esfera fora do reino das estrelas fixas. Marsilio de Ficino, estudioso e mago renascentista, descreve os papéis dessas ordens angelicais da seguinte forma: os Serafins investigam “a ordem e providência de Deus”; Querubins observam “a essência e forma de Deus”; Tronos contemplam a Presença Divina, “apesar de alguns descerem para trabalhos”; Dominações “planejam o que os outros executam” como “arquitetos celestiais”; Virtudes “movem os céus” e “contribuem para fazer milagres”; Potências são vigias alertas (sic) da ordem mundial, de onde “alguns deles descem para as questões humanas”; Principados são guardiões das egrégoras das “causas públicas, nações, príncipes e magistrados”; Arcanjos são os supervisores espirituais do “culto divino e protegem as coisas sagradas”; e Anjos representam um papel mais pessoal, pois “tomam conta de indivíduos como anjos de guarda” (os demônios da tradição grega).

Na tradição oculta ocidental e em sua teologia esotérica, os anjos são imaginados como seres serenos e de sabedoria elevada, entidades extraordinárias cuja natureza é de pura luz e de consciência gloriosa. Como seres compostos de energia pura e luz, eles são conhecidos como Senhores da Chama. Eles são formas de revelação da Mente Divina (Inteligência), bem como mensageiros do Altíssimo. Quando estão nessa função, eles são emissários cósmicos presentes na criação e na evolução do Universo e de seus habitantes. No contexto da magia aplicada, eles fornecem as chaves para as transformações impressionantes do micro e do macrocosmo, de acordo com a vontade esclarecida de um verdadeiro mago. Em planos mais profundos, as potências angelicais servem como mediatrizes da inefável espiritualidade do Supremo, existente totalmente fora de toda experiência limitada e concepção humana.

Os arcanjos e os anjos permanecem entre o mundo divino e o natural como portadores da influência supraceleste do Além. Eles são igualados, dentro dos complexos psíquicos, às mais altas ordens que se estendem, do natural ao divino, às faculdades sobre-humanas da Ratio ou Razão Divina relacionadas com os três coros de Anjos, Arcanjos e Virtudes. Intellectus ou Inteligência Ativa é associada aos coros intermediários de Potências, Principados e Dominações. Finalmente, a mais sublime faculdade, Mente ou Mente Perfeita, é típica dos mais altos coros de Tronos, Querubins e Serafins. É o estado no qual há uma identificação total com o Divino. No esoterismo ocidental, é dessa forma que as potências angelicais se correlacionam com os mais elevados meios de consciência. Por essa razão, eles são considerados como supervisores da evolução espiritual dos seres humanos. Como “anjos educadores”, eles incorporam os miraculosamente poderosos potenciais iniciáticos ocultos dentro da psique, instruindo-nos, inspirando e transformando todo o nosso ser de acordo com a Vontade Superior.

É como o grande mago renascentista Pico delia Mirándola disse em sua visão magnífica do mago completo. Segundo ele, foram colocados potenciais mágicos em todos os humanos no momento em que foram criados, permitindo que eles se tomem o que quiserem. Mirándola disse: “Quaisquer sementes que cada homem cultivar amadurecerá, e ele carregará seus próprios frutos. Se elas forem vegetativas, ele será como urna planta. Se sensíveis, ele se tornará embrutecido. Se racionais, ele se tomará um ser divino. Se intelectuais, ele será um anjo e o filho de Deus. E sefeliz na sorte de nada ser criado, ao se recolher no centro de sua própria unidade [a Mente], seu espírito, feito em unidade com Deus, na escuridão solitária de Deus, que é posto sobre todas as outras coisas, deverá superar a todos” (Oração da Dignidade do Homem). As hierarquias angelicais dionisíacas eram freqüentemente identificadas com o esquema de dez partes dos caldeus relacionando as potências supracelestes no “mundo intelectual” como governantes das esferas planetárias. Esse era um modelo derivado do antigo Mercavah, ou Livro do Carro, no qual o iniciado passava através dos “céus” planetários em direção ao unio mystica ou união mística (com Deus).

O grande ápice da transformação angelical na tradição oculta ocidental e o objetivo da magia consiste na elevação da psique à sua natureza angelical primordial, na revelação do anj o oculto dentro do ser humano de matéria, na compreensão daquela natureza, que envolve a transformação em um ser deificado ou “aperfeiçoado” e a transformação do ambiente de alguém em um mundo paradisíaco ou divino. No culto angelical dos Yazidis, esse mistério está resumido na imagem do Anjo-Pavão, Melek Taus. Esse termo foi habilmente interpretado pelo mestre Sufi, já falecido, Idries Sayed Shah, como uma receita esotérica descrevendo a renovação espiritual do iniciado. Pela técnica árabe do abjad, a palavra MaLaK, “anjo rei”, representa a poderosa faculdade angelical de consciência espiritual dentro do gênero humano. O homófono “Tauus” significa “terra verdejante”. Conseqüentemente, isso envolve a expansão paradisíaca do campo psíquico sob a governança do anjo interior ou a expansão da mente (a terra verde) por meio da faculdade maior (anjo).

Esse processo iniciático talvez possa ser compreendido por meio da classificação gnóstica valentiniana dos temperamentos espirituais humanos, uma tipologia tripla que define o estado interior do desenvolvimento das entidades humanas neste mundo como explicado a seguir. O Hylkos, ou Humano Hílico-Material, é caracterizado por estar preso ao estado terreno e limitado a um nível material de percepção/ concepção. Eles são atados pelo condicionamento instintivo animal. Tais pessoas pertencem à “massa popular” da humanidade e são algemadas pelos seus padrões dualistas e ilusórios definidos pela massa e para ela por meio da engenharia sociopolítica, da mídia, da publicidade, etc. Esse é um estado em que a pessoa se encontra cega ou adormecida e no qual a mente humana está iludida e desorientada pelos fantasmas da ignorância material. É, portanto, o estado mais baixo e mais comum da evolução humana neste planeta na atualidade e é representado pelo elemento alquímico Sal. Muitas das técnicas de magia e exercícios espirituais do ocultismo prático têm como propósito despertar a humanidade do “sono do materialismo”. Uma vez acordadas, essas pessoas podem perceber, entender e apreciar a realidade da vida em todos os níveis e aprender a se desenvolverem espiritualmente.

O Psykhikos, ou Humano Psíquico, é o gênero que, até certo grau, desenvolveu as faculdades ocultas da psique. Eles estão se empenhando para a compreensão tanto da verdade interior quanto da exterior. Esse é um estado caracterizado pela força ativa, propósito espiritual e despertar para a natureza verdadeira do eu, na qual há momentos de percepção (synesis) que permitem que o iniciado obtenha relances da gnose ou auto- conhecimento. E a fase na qual o iniciado começa a emergir no estado de despertar e toma-se diferente das multidões adormecidas do mundo profano. Conforme o início da Era de Aquário se aproxima, cada vez mais seres humanos buscarão se libertar das algemas do materialismo a fim de atingir esse estágio de desenvolvimento espiritual. A natureza dinâmica desse estágio é representada pelo elemento alquímico Enxofre.

O Pneumatikos, ou Humano Divino, é o mais alto estágio de perfeição, no qual a compreensão da gnose se toma um fluxo incessante fundamental de bem-aventurança. Tendo superado as algemas ilusórias do estado material, o Pneumatikos pertence inteiramente ao mundo divino da Mente Pura e existe fora de todos os padrões terrenos de bom e mal como um “liberto”, “perfeito” (Cathari) ou “purificado” (Katharos). Imortal, onisciente e possuidor de poderes milagrosos. Esse é o estado de “exaltação” divina buscada pelo mago, a Apolytrosis (liberação ou redenção) inicial dos ensinamentos do místico gnóstico Valentino. Ele é caracterizado pelo estado angelical em sua prístina e imaculada pureza. Tendo se elevado além das esferas do mundo natural e celestial, o Pneumatikos está livre do domínio do Destino e do tempo causai, escapando do Círculo da Necessidade e da influência condicionante das estrelas. Eles se tomam completamente livres e fora do dominio do tempo e da morte. Esse estado transcendental corresponde ao elemento alquímico Mercúrio, o Mercúrio dos Sábios.

Os três Humanos Arquétipos da antropologia Gnóstica se ligam aos três mundos e às 22 esferas concêntricas da cosmologia Ptolemaica. Este não é um esquema científico inicial do sistema solar, e sim um mapa secreto cósmico psíquico revelando os estágios iniciais de ascensão e a interligada “cadeia dourada” do Ser que transpõe o mundo espiritual, estrelar e material como segue.

O Mundo Natural é o reino geocéntrico da substância física densa ou matéria e dominio terrestre do Hylkoi. Ele parte da Terra, a esfera elemental da terra ao centro, até as esferas elementáis gradualmente purificadas de Aqua (água), Aer (ar ou atmosfera) e Ignis (fogo), que é a esfera das chamas celestes. Esse mundo está totalmente sob as influências causais do Tempo e sob o dominio dos planetas e estrelas do zodíaco. É caracterizado por um “tomar-se” e um fluxo incessante, em vez de um “ser” ontológico fixo no sentido platônico. É, portanto, a limitação finita do Absoluto, uma miragem ou teatro de sombras distante das “Idéias” ou “Arquétipos” dentro da realidade pura do Espirito ou Mente Divina.

O Mundo Celeste engloba as esferas planetárias e astroestrelares propriamente ditas, ou seja, os circuitos do Sol, Luna (Lúa), Mercurius (Mercúrio), Venus, Marte, Júpiter e Satumus (Saturno), além da esfera ogdoádica do Caelum Stellatum ou Céus Estrelados (Mazloth - os Céus Estrelados da tradição oculta Caldeu-Judaica) -, abrangendo as estrelas fixas do cinto zodiacal. Elas são consideradas como as condutoras das inteligências viventes, ou almas, em vez de corpos físicos e principios microcósmicos que agem como agentes e canais para a Luz Divina. Elas estão constantemente despejando as influências divinas em manifestação material e condicionando a realidade do espaço-tempo abaixo dela. Essa é a doutrina oculta por trás da astrologia esotérica como ferramenta mágica nas mãos do mago. Esse é o domínio dos Psykhikoi ou a esfera dos princípios psíquicos viventes ligando-se às Idéias Divinas que se gravam na substância maleável da matéria (hylé).

O Mundo Divino ou Supraceleste é o reino do Primeiro Existente. Ele simboliza o estado divino dos Pneumatikoi ou Libertos. É aplemora imutável da existência imortal, a preexistência ou estado “antes da luz” de Plotino, a perfeição vindoura do Supremo, que é a verdadeira “Era Dourada” mítica ou terra paradisíaca. Ele tem luz própria, além dos limites do Tempo e da mudança, e é totalmente beatífico - a vastidão infinita do conhecimento e felicidade pura, que é a verdadeira essência divina do legítimo eu. Ele progride para fora através das nove esferas das hierarquias angelicais de Dioniso: Anjos, Arcanjos, Virtudes, Principados, Potências, Tronos, Dominações, Querubins e Serafins na esfera da Mente ou Mente Perfeita. Ele alcança, portanto, o infinito misterioso do Ente Supremo Oculto, o Absoluto além de todo pensamento ou concepção condicional.

As esferas e os círculos dessa cosmología tripla representam a cartografia gnóstica da consciência, revelando os “éons”, pilones e pórticos de energia que o mago deve passar no caminho para a Grande Compreensão, que é a Apoteose suprema. Dessa forma, ela fomece tanto o autêntico padrão holístico universal micro-macrocósmico quanto o Caminho Real da ascensão iniciática na Alta Magia Angelical. Ela revela a estrutura entrelaçada dos “mundos” noumenal e fenomenal e, consequentemente, fomece a compreensão dos meios dos processos mágicos de acordo com o axioma de Hermes: “Assim como é em cima, é embaixo”.

No Tratado das Enéadas, do século IV, Plotino menciona essa catena aureae ou “corrente de ouro” ligando os níveis mais altos e mais baixos da realidade. Na Arte da Magia, tudo gira em tomo dessa corrente: a Prece e sua resposta e a Magia e seu sucesso dependem da harmonia das forças ligadas entre si. Do mundo sublime das inteligências angelicais à rústica dimensão dos elementos, tudo é um conjunto sagrado continuo cheio de ligações harmônicas e ressonâncias vibratorias que alinham os princípios mais altos e os mais baixos. É o conhecimento aplicado desse padrão, essa Harmonia Mundi ou Mundo Harmonioso invisível, que torna a magia tão possível quanto eficaz. Isso se encontra com a mesma intensidade tanto no mais humilde dos encantos para se conseguir um desejo quanto nos mistérios angelicais mais elevados da Luz.

 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Liber Falxifer - El Culto de la Muerte


Dentro de este libro se esconde una Maldición y Siete Bendiciones. Aquellos de nuestra Línea de Sangre podrán recoger los frutos de la Gnosis que crecen en las ramas más altas del Árbol de la Muerte del Maestro. Los profanos solo podrán comer de los frutos podridos que han caído al suelo, aquellos reservados para la raza inferior de Adán.

Que el Señor de la Sombra de la Muerte recompense a aquellos fieles que nos han ayudado en la manifestación del Liber Falxifer. Sus nombres están escritos en el Libro Negro con tinta-sangre indeleble del Fuego Pneumatico. Que reciban la Iluminación completa de la Luz Negra del Otro Lado, la Luz que guiara sus pasos a través del Espinoso Camino de Nod, y que la Ascensión Divina pueda gestar sus destinos auto-concebidos.

Durante el curso de la historia siempre han existido tradiciones magickas de carácter oscuro que han dedicado su trabajo Taumatúrgico a las diferentes personificaciones de la Muerte y los Espectros. Estas tradiciones a menudo tienen como objetivo crear sistemas espirituales y técnicas mágicas con la ayuda de las fuerzas de la muerte y de los muertos como tal, dándole al mago el poder y el conocimiento que se les esconde a los vivos. No es raro que estos cultos estén conectados con los ritos prohibidos de la Necromancia, la Magia Negra y la Senda de la Mano Izquierda. Existen aun muchas manifestaciones diferentes del culto de la muerte alrededor del mundo. Estas se relacionan especialmente con Centroamérica, Suramérica y las Islas Caribeñas. Pero también existen ciertas líneas y tradiciones esotéricas del culto de la Muerte tanto en el Medio Oriente como en Europa.

Ejemplos de las diferentes manifestaciones que se pueden encontrar incluyen al culto de la veneración la Santísima Muerte de México, el culto de Exu Rei Omulu y Lorde da Morte en Brasil, el culto Dominicano del Barón del Cementerio, el culto Haitiano de Guede y los Barones, y el culto Argentino del Señor la Muerte.

Como es una tradición que cultiva a la esencia del Señor de la Muerte a través de la forma del “Hombre de la Guadaña”, la rama Argentina del Culto del Señor La Muerte posee bastantes similitudes interesantes con el culto Brasileño de Exu (Quimbanda) así como fuertes elementos mágicos que discutiremos en la páginas de este grimorio del Cosechador de la Mano Izquierda. El culto del Señor La Muerte (a menudo conocido como San La Muerte o SLM) también se relaciona esotéricamente con la Demonología Cabalística y se ha entremezclado con diferentes formas de la Brujería Tradicional (tanto europea como latinoamericana) así como con las corrientes más oscuras del Gnosticismo. Este libro acerca del Culto al Poderoso Espíritu Esqueleto se divide en dos partes. En la primera hablaremos brevemente de la tradición Argentina y algunos de los trabajos mágicos que se realizan con la ayuda de SLM. Este sistema de taumaturgia comprende la mayor parte de la forma externa de nuestra práctica esotérica.

En la segunda parte del libro exploraremos las manifestaciones esotéricas de la tradición así como las visiones relacionadas con los aspectos mágicos elevados de la línea de practica Qayinitica de nuestro templo. Esta base Qayinistica secreta es la que reúne las formas más sencillas del culto pero a la vez les da la esencia para quepuedan abrir los caminos que llevan a la fuente oculta de la Gnosis Necrosofica.

La publicación de este libro es uno de los pasos que se han realizado para establecer el Culto Qayinitico del Señor de la Muerte. Indica la apertura de las puertas del Templum Falcis Cruentis, el primer templo oficial dedicado al culto del Qayin Mortifer.

La Magia Draconiana - Michael Kelly


La Magia Draconiana es inequívocamente una escuela del Sendero de la Mano Izquierda. Con lo que se quiere decir que es una escuela que enseña la inmortalización y deificación de la psique individual, como opuesta al Sendero de la Mano Derecha que busca sumergir esa psique dentro de un sentido de unidad universal. La Magia Draconiana es en su misma esencia terrorífica, alienante y antinómica, pero – para los pocos exitosos – es en última instancia liberadora, iluminadora y gozosa. Definitivamente no es para los débiles de corazón o diletantes. La experimentación casual se demostrará de ningún valor, ya que el acto de separarse uno mismo del útero del cosmos es un ejercicio de Voluntad y heroísmo, cualidades ganadas sólo a través de una intensa lucha. Esto puede sonar muy desagradable, pero así debe ser. Los dragones en la tradición occidental son criaturas de terror y muerte. Estos temibles arquetipos resuenan con aquellos de otras raíces culturales, tales como Tiamat, la Serpiente del Edén y especialmente el Apep Egipcio, la serpiente primordial del Caos.

Este libro toma el simbolismo del dragón de siete cabezas de la antigüedad e instruye al lector sobre cómo despertar cada una de estas cabezas dentro de su propia psique, hasta que se convierta verdaderamente en un dragón mágico, un dios en esencia. Este trabajo es presentado en un cuidadosamente medido currículum, que si es seguido proveerá un firme y poderoso proceso de despertar. El trabajo de las cabezas debe ser acometido en el orden dado con el fin de asegurar resultados consistentes y de confianza. Picotear y eligir puede resultar en nada en el mejor de los casos o en desequilibrio mental en el peor. Los magos experimentados pueden sentirse inclinados a tomar atajos para reflejar lo que ya han aprendido. Los magos verdaderamente experimentados no lo harán así, reconociendo que siempre hay más que aprender. Las enseñanzas codificadas en este libro han derivado de mi experiencia como pasado Gran Maestro de la Orden de Leviatán del Templo de Set, y fueron además desarrolladas en la posteriormente independiente Orden de Apep. Han sido puestas a prueba por muchos fuertes Iniciados a lo largo de muchos años y son de probada eficacia. Los primeros pasos de este currículum pueden ser familiares para muchas escuelas de práctica mágica, pero el Trabajo de las últimas cabezas es, así lo creo, único en imprenta. Nunca antes han sido las últimas metas y esencia del Sendero de la Mano Izquierda revelados tan claramente en pasos prácticos.

A aquellos que sondearán el abismo de la mente reptiliana, despierten el fuego de la serpiente y en última instancia vean a través del Ojo de Leviatán, ¡Yo os saludo!

Michael Kelly

terça-feira, 9 de maio de 2023

A Missão do Teurgo


“Existe um agente que é natural e divino, material e espiritual, um mediador plástico universal, um receptáculo comum das vibrações cinéticas e das imagens das formas, um fluido e uma força, que podem ser chamados de certo modo de Imaginação da Natureza… A existência dessa força é o grande arcano da magia prática.” O agente mágico ao qual Lévi se refere aqui é a substância do mundo formativo ou, mais particularmente, a esfera de Yesod – uma palavra hebraica que pode ser traduzida como o Fundamento ou a Base. O direto equivalente da Yesod qabalística na filosofia teosófica tal como enunciado por Madame Blavatsky – e nesse ensejo seguirei o extenso esboço delineado em seu sistema e aquele formulado em Dogma e ritual de Alta Magia, de Lévi – é conhecido como luz astral. Definido em alguns lugares como um fluido ou meio onipresente que tudo permeia, constituído por matéria extremamente sutil, essa luz está difundida pelo espaço, interpenetrando e penetrando todo objeto ou forma visíveis. Se quisermos estabelecer tal idéia diferentemente, trata-se de um plano quadridimensional composto de uma substância etérea luminosa num estado sumamente tênue, substância em sua natureza elétrica, magnética e radioativa .


“Esse fluido ambiente e que tudo penetra, esse raio destacado do esplendor do sol e fixado pelo peso da atmosfera e pelo poder de atração central, esse corpo do Espírito Santo, que chamamos de luz astral e agente universal, esse éter eletromagnético, esse calórico vital e luminoso é representado nos antigos monumentos pelo cinto de Ísis que se enlaça num nó cego ao redor de duas varas, pela serpente de cabeça taurina, pela serpente de cabeça de bode ou de cão, nas antigas teogonias pela serpente que devora a própria cauda, emblema da prudência e de Saturno. É o dragão alado de Medéia, a serpente dupla do caduceu e o tentador do Gênese; mas é também a cobra brônzea de Moisés que circunda o tao, isto é, o lingam gerador; é a hyle dos gnósticos e a cauda dupla que forma as pernas do galo solar de Abraxos.” É nesses termos simbólicos, eloqüentes e singularmente expressivos à sua maneira, embora com ressaibo de verbosidade para o leitor final, que o mago francês descreve a luz astral. Trata-se de símbolos sumamente interessantes e significativos, e se bastante cuidado e atenção forem dispensados em sua interpretação, proporcionarão considerável instrução e poderão servir para revelar muitas informações valiosas, auxiliando na compreensão intelectual, ao menos, da natureza e das características desse plano sutil. Vibrando a um índice cinético diferente da substância grosseira do mundo físico, e existindo assim num plano superior, a luz astral contém o planejamento ou modelo do construtor, por assim dizer, projetado em sentido descendente pela ideação ou imaginação do Pai; o planejamento com base no qual o mundo exterior é construído, e dentro de cuja essência jaz latente o potencial de todo crescimento e desenvolvimento. Todas as forças e “idéias” dos domínios criativo e arquetípico são representadas e focalizadas nesse agente plástico, o mundo formativo. Ele é de imediato substância e deslocamento, sendo o movimento “simultâneo e perpétuo em linhas espirais de deslocamento em contrário”. Foi o falecido Lorde Salisbury, posso aqui intercalar, que definiu o éter como o nominativo do verbo “ondular” .


Em muitos pontos, esse mundo formativo, o recipiente das forças criativas superiores, é comparável em seus aspectos mais inferiores ao éter da ciência. Há, contudo, uma ressalva. A luz astral foi no passado e poderá no futuro ser verificada pela experiência direta visionária. A concepção científica do éter hoje difere radicalmente daquilo que o cientista de meio século atrás entendia por éter luminífero. Tanto assim que avaliado por seus padrões e empregando sua linguagem, a moderna idéia de éter e suas ondas de irradiação não são realidades em absoluto. E a despeito disso, o que é suficientemente estranho, observa Sir James Jeans em Os mistérios do Universo, o éter é uma das coisas mais reais “de que temos qualquer conhecimento ou experiência, sendo, portanto, tão real quanto qualquer coisa possivelmente possa ser para nós”. A entidade que os físicos experimentais hoje definiriam como éter teria que ser algo que reagisse qualitativa e quantitativamente aos instrumentos e equações matemáticas deles. Por outro lado, quando os teurgos se referem à substância magnética e elétrica da luz astral, uma condição ou estado metafísico da substância está implícito – uma condição ou estado que atualmente não pode ser mensurado ou observado com instrumentos físicos, embora sua existência seja corroborada nos mesmos termos por uma série de videntes treinados e magos. Reside, como já afirmamos, num plano existencial e consciencial completamente diferente, e suas partículas vibram de uma tal maneira e a uma tal taxa de movimento que são inteiramente invisíveis e imperceptíveis aos nossos sentidos comuns exteriores .


Recentemente assistiu-se no domínio da especulação científica ao desenvolvimento da teoria eletromagnética que, por motivos de ordem prática da física, descarta como desnecessária a hipótese vitoriana de um éter luminífero ondulante que tudo penetra. No seu lugar, foi instalada como se num trono majestoso, coroada e venerada com devoção, uma concepção matemática ainda mais abstrata: o múltiplo ou contínuo espaço-tempo. Um grupo de cientistas é inteiramente a favor da manutenção da hipótese do éter, enquanto muitos outros, não menos famosos e de menor autoridade, estão igualmente convictos de que uma tal estrutura sutil como o éter inexiste e nem sequer é possível. Admitem-na apenas como uma estrutura teórica de referência, caso em que assume o papel de uma hipótese de trabalho destituída de qualquer grau de realidade objetiva. Um exame das definições científicas desses dois grupos de cientistas, entretanto, revela o fato de que pelas expressões éter e contínuo espaço-tempo quadridimensional indicam um único e mesmo conceito. Sir Arthur Eddington, em uma de suas recentes obras, ao fazer referência a esses dois conceitos científicos, expressou a opinião de que ambos os partidos querem dizer exatamente a mesma coisa, sua cisão estando somente nas palavras. Sir James Jeans, em sua obra anteriormente mencionada, observa cautelosamente com relação a essa obscura questão que parece apropriado descartar a palavra “éter” a favor dos termos mais modernos “múltiplo” ou “contínuo”, apesar de o princípio essencial permanecer quase totalmente inalterado. Em outra parte, nessa mesma obra de erudição, o sábio cientista assevera que todos os fenômenos do eletromagnetismo podem ser considerados como ocorrentes num contínuo de quatro dimensões – três espaciais unidas a uma temporal – no qual é impossível separar o espaço do tempo de qualquer maneira absoluta. Chamo atenção particularmente para essa observação porque se enquadra aproximadamente na natureza de uma exata confirmação daquilo que os mais eminentes magos de todos os tempos escreveram relativamente a Anima Mundi ou o Azoth. É possível indicar bem grosso modo as demais observações de Jeans dizendo que se desejarmos visualizar a propagação de ondas luminosas e forças eletromagnéticas tomando-as como distúrbios num éter, nosso éter poderá ser considerado uma estrutura quadridimensional que preenche todo o contínuo, estendendose assim por todo o espaço e todo o tempo, caso em que todos nós desfrutamos do mesmo éter .


Esse éter da ciência que todos podem desfrutar e que se estende ao longo do espaço e do tempo, servindo como o meio das vibrações de todos os tipos, difere em poucos pontos essenciais da luz astral de Lévi. A definição em que insistem constantemente os teurgos relativamente a esse plano etéreo é que se trata de um estágio de substância plástica refinada, menos densa e grosseira que aquela que vemos normalmente em torno de nós, de natureza magnética e elétrica, servindo como o fundamento real sobre o qual as formas e acúmulo de átomos do universo físico se ordenam a si mesmos. É o plano que, em seu aspecto mais inferior, constitui a verdadeira cloaca do universo, compreendendo aquela faceta da consciência que dirige os instintos e as energias dos animais; em suas ramificações superiores, elevando-se além dessa esfera mundana, realmente faz fronteira com o divino. Que assim é pode-se compreender por meio da referência à Árvore da Vida, na qual vê-se que o Mundo Formativo não inclui apenas a esfera de Yesod, mas naquela classificação da Árvore em Quatro Mundos, ela se estende bem além de Yesod, de modo a incluir Tiphareth, a casa da Alma, mesmo até a beira do Abismo. A esfera do Fundamento é somente sua fase mais inferior. Como Yesod apenas, é aquela região grosseira do cosmos metafísico que contém os restos astrais rejeitados das criaturas vivas, a sujeira bestial e mental descartada pelos seres humanos na sua ascensão após a morte a esferas mais elevadas. Nos seus aspectos de Chesed e Geburah, é a mais pura expressão do céu, por assim dizer, a morada devachânica. Relativamente a essa maneira de considerá-lo, é ocasionalmente chamado de divino Astral, e de Alma do Mundo .


“É em si mesmo uma força cega, mas pode ser dirigida pelos líderes das almas, os quais são espíritos da ação e da energia. É de imediato a teoria por inteiro dos prodígios e milagres. Como, de fato, poderiam tanto o bem quanto o mal constranger a natureza a expor suas forças excepcionais? Como poderia o espírito réprobo, desviado, perverso deter em alguns casos maior poder que o espírito da justiça, tão poderoso em sua simplicidade e sabedoria, se não supormos a existência de um instrumento do qual todos podem fazer uso, sob certas condições, de um lado para o maior dos bens, do outro para o maior dos males?” Quero insistir enfaticamente com relação a esta dupla interpretação do éter mágico que Lévi aqui apresenta, que nele estão incluídos um elemento inferior vil e um elemento superior nobre. O primeiro é a base da causa feita por si mesma de muitos dos males da espécie humana, o segundo é o fogo central e a Alma do Mundo. O divino Astral é solar e celestial por natureza, enquanto que o grosseiro Astral é lunar, reflexivo e puramente automático. Blavatsky confirma essa hipótese da natureza dupla da luz astral nos seguintes termos: “A luz astral ou Anima Mundi é dupla ou bissexual. Sua parte masculina (ideal) é puramente divina e espiritual, é a sabedoria, é Espírito ou Purusha; sua porção feminina é maculada num certo sentido pela matéria, é efetivamente matéria, e portanto é já o mal*.” Desnecessário afirmar que o teurgo diz respeito inteiramente às mais elevadas regiões da luz astral, os fogos solares .


* A doutrina secreta, v. I .


Do ponto de vista prático, esse plano é o agente mágico ao qual a visão treinada e acumulada dos teurgos atribuiu o poder de transmitir vibrações e impressões não somente de luz, calor e som físicos, mas também aquelas vibrações mais sutis e menos tangíveis, que não são, todavia, menos reais por sua imperceptibilidade, que pertencem a correntes projetadas de Vontade, pensamento e sentimento. Lévi chama esse instrumento de imaginação da natureza, porquanto está sempre vivo de ricas formas, sonhos exóticos, imagens luxuriantes, o veículo imediato das faculdades mentais e emocionais. O controle desse plano constitui de um certo ponto de vista a Grande Obra. Alguns magos, inclusive o ilustre Lévi, opinavam que o segredo mágico central é o da orientação sob vontade desse arcano. Sendo o veículo em que são registradas dinamicamente as paixões e impressões mentais de toda a espécie humana, a memória da natureza inferior, e estando presente na Terra todo o tempo, visto que tudo penetra e é um plano destacado do físico, seu conteúdo deve influenciar muito as mentes de homens débeis e sensíveis. E não apenas esses últimos, como a maioria das crianças da Terra é influenciada de alguma maneira pelas correntes que ondulam por sua substância. Por conseguinte, postar-se isolado em relação às suas cegas ondulações e transcendê-lo cabalmente a ponto de se mover naquele estrato mais elevado que é sua alma não constitui realização desprezível, mas sim digna de todas as energias humanas .


Uma moderna autoridade em magia, aquela cujo pseudônimo é Therion, declara que nos estratos superiores da luz astral “dois ou mais objetos podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo sem interferência entre si ou perda de seus contornos. Nessa luz, os objetos podem alterar sua aparência completamente sem sofrer transformação de sua natureza. A mesma coisa pode revelar a si mesma num número infinito de aspectos distintos. Nessa luz ése célere sem pés e voa-se sem asas; pode-se viajar sem se mover e se comunicar sem as formas convencionais de expressão*.” No que diz respeito ao processo de viajar no corpo de luz, a autoridade que citei acima acrescenta que ali somos insensíveis ao calor, ao frio, à dor e a outras formas de percepção sensorial, que nessa luz estamos presos pelo que superficialmente pode parecer uma série inteiramente diferente de leis. Nesse plano, que é o agente mágico par excellence, símbolos, emblemas e selos não são convenções intelectuais e nem mesmo representações arbitrárias de idéias universais e forças naturais; são entidades vivas absolutas, possuindo nesse plano vida e existência reais e independentes que lhes são próprias. À primeira vista, isso pode não parecer importante, mas tal afirmação é realmente de máxima importância no trabalho mágico. Os símbolos representam no plano astral entidades reais e tangíveis. No capítulo anterior nos esforçamos para demonstrar que os números indicavam com profundidade os processos de evolução e de desenvolvimento e expressavam sinteticamente tanto o ritmo cósmico quanto certas forças e inteligências ocultas a que damos os nomes de deuses, Dhyan Chohans e Essências. A esses números que representam forças imensamente poderosas são aplicáveis vários selos e pictogramas, os quais possuem nesse Mundo Formativo uma existência que não é em absoluto simbólica no sentido no qual entendemos normalmente esse termo, mas real, vital e viva. Na substância plástica e maleável da luz astral esses símbolos podem ser galvanizados à atividade por uma vontade e uma imaginação treinadas. Essa substância é peculiarmente suscetível aos vôos e às obras da imaginação, esta última possuindo o poder de transformar seu fluxo perpétuo e deformidade em moldes e matrizes que a vontade é capaz de estabilizar e energizar poderosamente numa dada direção. Entre numerosos exemplos está registrado aquele de uma mulher grávida que, tendo experimentado um choque nervoso, a impressão foi imediatamente transferida através do meio da imaginação atuante sobre a luz astral ao feto em formação gerado em seu útero. Historicamente, as deusas que presidiam entre os antigos ao nascimento eram deusas da lua e, conseqüentemente, da luz astral. Considera-se entre essas raças que a lua possui maior poder para acelerar o desenvolvimento da vida, das plantas e de toda a vegetação que o próprio sol. Sempre foi tida como o astro da mudança, da geração e da fertilidade. Em A doutrina secreta há muita informação e especulação incomuns a respeito da relação oculta entre a lua e o nosso planeta, embora o mero saber que essa relação realmente exista seja suficiente para finalidades práticas por parte do noviço. A conexão da lua com a luz astral é, entretanto, inteiramente válida, a maioria das autoridades nesse ponto estando de pleno acordo. Astrologicamente, a lua é o planeta que simboliza mudança e fluxo, e as contínuas alterações das formas, a troca das condições. No plano astral, a visão treinada registrou que ali as configurações mudam de forma, cor e tamanho da maneira mais extraordinária; e para o noviço em Skrying constitui um fenômeno sumamente desconcertante e enigmático ver um conjunto de percepções desvanecerse sob seu próprio nariz para ser substituído por um outro grupo de cenas que terá muito brevemente o mesmo destino. Trata-se de um caleidoscópio oscilante de fenômenos, sendo que as figuras, formas e energias nunca estão imóveis. Por conseguinte, estabelecer uma relação entre a lua e a luz astral é uma correspondência perfeitamente óbvia. Ademais, foi observado que a lua não brilha graças à sua própria luz interna e autogerada, mas sim por refletir os raios do sol. Yesod, a esfera da lua na Árvore da Vida, está colocada imediatamente abaixo de Tiphareth, a esfera do sol, refletindo assim as forças criativas de cima para baixo. Há muitas outras razões altamente significativas, demasiado numerosas para aqui serem citadas, a favor dessa associação da lua com a luz astral, conquanto o estudo e o experiência mágica provam a validade e precisão da correspondência .


* Magick, Mestre Therion .


Nas lendas de todos os povos, mesmo dos das mais primitivas tribos selvagens, está presente a concepção da luz astral como meio das vibrações do pensamento e dos atos mágicos. Sir J. G. Frazer, o eminente antropólogo e autoridade em folclore, registra muitas delas em sua A rama dourada. Muitos outros autores também discutiram a natureza dessa força hipotética reconhecida pelos primitivos, sem ter se aproximado de qualquer clara formulação de sua natureza como o grande agente mágico, o que dificilmente se poderia esperar, visto que seus estudos e pesquisas jamais deixam, por um único momento, o plano acadêmico. Os melanésios das ilhas do mar do sul acreditam, segundo afirmação do professor Bronislaw Malinowsky em seu pequeno livro sobre mitos, num depósito ou reservatório de força sobrenatural ou mágica a que deram o nome de mana, o qual, como uma força similar concebida como Orenda pelos índios norte-americanos, crê-se ter seu centro na lua. Essa última parece, por assim dizer, encerrar um tanque gigantesco desse poder oculto que pareceria por eles ser associado com a fonte da vida e da energia. Não é difícil perceber que essa concepção – imperfeitamente registrada pelos antropólogos, ou imprecisamente descrita pelos primitivos, é difícil dizer, sendo provável que a falha exista dos dois lados – seja uma formulação muito vaga daquela realidade que em magia chamamos de luz astral .


Foi, contudo, com absoluta clareza reconhecida pelos teurgos egípcios, sendo que em relação a isso não há o transtorno de teorias ou descrições vagas, pois observamos que quase cada jarda dos chamados mundos superior e inferior, Amentet e Tuat, que são os dois aspectos, inferior e superior do plano astral, é cuidadosamente mapeada e suas qualidades observadas. E como se não o bastasse, em alguns dos capítulos de O livro dos mortos, cada subdivisão é descrita com precisão em benefício dos mortos – e, conseqüentemente, em beneficio do teurgo – acrescendo-se os nomes dos guardiões e vigias dos pilões através dos quais a alma defunta tinha que passar a fim de obter o ingresso em alguns outros salões do reino de Osíris. Repetindo a visão egípcia, Budge menciona que o Tuat não era considerado o subterrâneo seja do céu, seja de seus limites; mas estava localizado nas fronteiras do mundo visível; que não se tratava da um lugar particularmente feliz, percebe-se pela descrição de O livro dos mortos, quando o escriba Ani ali chegou, aparentemente desnorteado, “Não há água ou ar aqui, sua profundidade é insondável, é tão escuro quanto a mais escura das noites e os homens vagueiam sem esperança”. Uma observação final do venerável protetor das Antigüidades egípcias do Museu Britânico é que o Tuat era uma região de destruição e morte, um lugar onde os mortos apodreciam e se deterioravam, um lugar de abominação e horror, terror e aniquilamento; que isto coincide perfeitamente com as esferas astrais inferiores de desintegração ou kama loka pode-se tomar por certo .


O divino astral era conhecido como o reino de Osíris ou Amentet ; também chamado de ilha da verdade onde nenhuma alma podia ser conduzida após sua morte até que fosse declarada “de palavra verdadeira” pelos deuses na Grande Avaliação. Um canto dessa região era especialmente reservado como morada das almas beatificadas, onde Osíris, na qualidade de deus da verdade, era a esperança e consolo eterno daqueles de disposição espiritual .


Teosoficamente, Amentet poderia ser denominado Devachan, a morada dos deuses, e de um ponto de vista teúrgico ocuparia aquela parte do Azoth à qual demos o nome de divino astral .


De acordo com O livro dos mortos há sete grandes salões e vinte e um pilões que dão acesso a essa região celestial, havendo para cada um dos vinte e um pilões dois vigias ou guardiões sagrados. Numa outra parte desse Livro são dados com certo detalhe os nomes dos arautos e guardiões de portas mais as fórmulas de magia prática mediante a qual eles podem ser sobrepujados o ingresso à ilha da verdade realizado. Tão precisos eram os magos egípcios em seu pensamento que imaginavam correspondências entre as várias divisões do Egito e os domínios metafísicos do Tuat e Amentet. Cada uma das várias camadas ou regiões do mundo astral, tanto grosseira quanto divina, era mapeada com uma precisão que mesmo hoje não encontra com que rivalizar ou se igualar .


Há um outra analogia bastante significativa para a qual devemos dirigir nossa atenção .


Entre psicanalistas oficiais encontramos o conceito de inconsciente. Esse termo implica uma corrente dinâmica de pensamento, memória e tendência que flui abaixo do nível de nossa consciência normal individual, servindo como o receptáculo de instintos e memórias raciais e aqueles complexos que são com freqüência o resultado de conflito consciente. Como essa coleção de instintos e impulsos automáticos possui uma origem na evolução muito anterior à formação e desenvolvimento do intelecto no homem, é, conseqüentemente, mais poderosa e urgente dentro dele. É dessas camadas de hábito e consciência racial herdada que se supõe que os primitivos tenham extraído a elaboração de seus eloqüentes mitos e lendas. Esses são, assim, não somente um registro de história pré-histórica da raça, mas também uma expressão dinâmica daquilo que esses psicólogos chamariam de inconsciente coletivo, visto que com respeito a toda raça e povo primitivos, independentemente de ter havido ou não relação e comunicação sociais, mitos e lendas são essencialmente idênticos. Considerando-se que aquilo que os analistas chamam de inconsciente é praticamente sinônimo num certo aspecto do que os cabalistas denominam Nephesch, e considerando-se que este último se funda na luz astral do mesmo modo que o corpo físico se funda e se forma a partir da matéria grosseira, há entre a luz astral e o conceito de inconsciente coletivo uma clara correspondência. Tal como o inconsciente no caso de alguns indivíduos é uma entidade vulcânica subterrânea que despedaça a integridade e unidade da consciência, do mesmo modo a tradição mágica assevera que é ao aspecto inferior da luz astral, o depósito de memórias raciais, apetites predatórios, instintos e todos os impulsos animais, que uma grande parte da espécie humana deve seus problemas, enfermidades e lamentáveis fontes de conflito. É sobre essa parte de Nephesch ou do inconsciente que o mago, afirma Lévi, tem que assentar seu pé, de maneira que seja conquistada, controlada e mantida em seu lugar adequado. Ao mesmo tempo, entretanto, o chamado inconsciente com sua riqueza de material animado, sua fertilidade de idéias e sugestões impressivas pode ser para algumas pessoas a fonte de inspiração poética e artística .


Esse aspecto do inconsciente, o aspecto mais elevado ou divino da luz astral, ou Neschamah no homem, é o que o mago busca cultivar e expandir, visto que graças ao seu crescimento, desenvolvimento e facilidade de expressão ele opera também sua própria integridade individual e a habilidade de superar a si mesmo .


No interior dessa luz astral que individualmente trazemos conosco em todas as ocasiões e em todos os lugares, vivemos, nos movemos e somos. Cada pensamento que temos grava uma impressão indelével na substância impressionável daquele plano – na verdade a tradição sustenta que ele se funde com alguma das criaturas daquele plano e então é transferido de nosso controle imediato para esse oceano pulsante de vitalidade e sentimento para influenciar outras mentes no bem ou no mal. Toda coisa viva respira e absorve essa luz livremente, não sendo exclusividade ou particularidade de nenhuma. De fato nela vivemos muito semelhantemente a um peixe na água, circundados por todos os lados e em toda direção; e como um peixe nós constantemente a aspiramos e expiramos através de guelras astrais, por assim dizer, dela extraindo energia e para ela acrescentando uma variedade de impressões a cada momento. Não só é este agente mágico a imaginação da natureza, como também desempenha o papel de memória da natureza, pois cada ato que realizamos, cada pensamento que atravessa nosso cérebro, cada emoção ao deixar nosso coração registram a si mesmos na matéria astral, permanecendo aí por todo o tempo como um registro eterno, de modo que aqueles que são capazes possam ver e ler. Quanto a isso, Éliphas Lévi observou de maneira significativa que “O Livro das Consciências, o qual, de acordo com a doutrina cristã será aberto no dia derradeiro, nada mais é do que a luz astral na qual estão preservadas as impressões de todo Logos, que é toda ação e toda forma. Não há atos solitários e não há atos secretos; tudo o que nós verdadeiramente queremos, ou seja, tudo o que confirmamos por nossas ações, está escrito na luz astral” .


Embora alguns possam pensar que para o teurgo dificilmente possa haver algo mais interessante e esclarecedor do que examinar a memória dessa luz, não é esta a ação do teurgo, pois isso nem o interessa nem lhe é útil na prática. Como seu objetivo é a aquisição de autoconhecimento e a união divina, seria uma certa perda de tempo precioso envolver-se na transliteração desse registro. A despeito de ser necessário ao mago investigar a natureza dessa luz em seu corpo de luz e familiarizar-se com os aspectos variados de consciência que esse plano continuamente apresenta, no que diz respeito ao seu próprio trabalho, ele sempre procura ascender aos domínios espirituais mais ígneos. Seu interesse na luz astral, sendo esta um plano magnético dinâmico, é no sentido da mesma lhe servir mais pronta e adequadamente do que qualquer outra coisa para focalizar as forças e inteligências com as quais ele aspira entrar em contato. Em segundo lugar, porque nessa luz ou em suas camadas superiores ele pode perceber a si mesmo em reflexo, como os outros o vêem, por assim dizer, e assim obter dados confiáveis que o conduzam ao autoconhecimento .


Separando o bem do mal, o éter solar divino do éter lunar maléfico, ocorre automaticamente uma divisão nessa luz. Nesse plano parece que os pensamentos impuros dos homens perduram por um período mais longo que os bons pensamentos, porque esses aparentemente sobem às camadas mais elevadas, às regiões de harmonia e às partes superiores do mundo da formação. O resultado é que a luz astral, cujo espaço lunar é povoado pelos elementos mais grosseiros e maliciosos do ser, torna-se gradualmente cada vez mais contaminada, sua sujeira pairando sobre a espécie humana como uma mortalha tóxica mortífera. Nos livros da Cabala, os constituintes dessa mortalha venenosa são comparados aos Qliphoth ou cascões excrementais dos estágios mais baixos de existência. São os córtices adversos, “demônios de rosto canino” de acordo com os oráculos caldeus “nos quais não há traço de virtude, jamais mostrando aos mortais qualquer sinal de verdade”. É esse aspecto da luz astral que é para cada ser humano a serpente sedutora do mal do Gênese, e é aquele aspecto cego que tem que ser transcendido pelo teurgo, visto que sendo representado em sua própria constituição é o que obsta a execução da Grande Obra. Se esse processo de preenchimento do plano astral com os Qliphoth continuasse indefinidamente, sem qualquer meio adequado de eliminá-lo e proceder a uma purificação, resultaria no envenenamento total da espécie humana por suas próprias emanações vis. A despeito de todos os esforços do modesto grupo de místicos e teurgos ao longo das eras, que transmutam através de suas próprias vidas e realizações espirituais os elementos baixos em bem duradouro e afável, o mal se torna mais pesado em cima do que embaixo, por assim dizer. A excessiva força maléfica é então precipitada de acordo com as leis naturais e cíclicas. Essas precipitações de impureza astral ocorrem realmente sob as formas de convulsões desastrosas da natureza. Terremotos, incêndios e enchentes elementais, e crimes e doenças cataclísmicas são algumas de suas manifestações. Escrevendo profundamente para confirmação desse parecer, Éliphas Lévi declara a convicção de que a luz astral é “a força misteriosa cujo equilíbrio é a vida social, progresso, civilização e cujo distúrbio é a anarquia, revolução, barbárie, de cujo caos um novo equilíbrio finalmente se desenvolve, o cosmos de uma nova ordem, quando uma outra pomba paira sobre as águas enegrecidas e turvas. Essa é a força pela qual o mundo é transtornado, as estações são mudadas, pela qual a noite da miséria e desgoverno pode ser transfigurada no dia do Cristo… na era de uma nova civilização, quando as estrelas da manhã cantam em conjunto e todos os filhos de Deus proferem um brado de alegria” .


Assim, ao mesmo tempo, a luz astral é um nimbo de máxima santidade e uma serpente vil de destruição, a mais excelsa concepção de um domínio celestial bem como do mais abjeto inferno de depravação. Se é através dos canais da luz astral que são executadas as calamidades universais, e se a anarquia e as catástrofes são o produto de seu desequilíbrio e perturbação, segue-se que através desse meio, também, pode uma ordem nova e aprimorada de equilíbrio e harmonia ser instituída sobre a Terra mesmo em nosso próprio tempo. Uma civilização mais amável pode, assim, ser o resultado da presente passagem a esmo pelo caos e a confusão ignóbil. Eis aqui, então, uma chave à nossa disposição .


Alguns têm acusado o teurgo de ser egoísta no sentido de parecer primeiro empenhar-se a favor de sua própria salvação. Na realidade, seu juramento diz respeito a essa grande realização, essa transfiguração do mundo de desgoverno num aeon mais claro; ele jurou ser o arauto invisível e silente de um mundo novo e melhor. Superficialmente pode parecer que ele tenta lograr um grau de consciência espiritual para si mesmo apenas, e que não se importa em absoluto com o bem-estar da humanidade. Mas seus esforços para alcançar a divindade finalmente redundam no sumo proveito do caminhar normal da espécie humana. “Eu …”, disse um sábio, “…se for erguido, erguerei toda a humanidade comigo.” Assim é com o teurgo. Proclo observou que por meio das invocações mágicas e a união espiritual, as essências divinas parecem de algum modo descer ao mundo e encarnar entre as fileiras dos homens .


Quando o teurgo consumou a união com a Alma Universal e se tornou uno com as grandes essências que constituem a alma e inteligência diretora de Adão Kadmon, o homem celestial, está no domínio de seu poder prestar realmente um serviço incomparável à espécie humana, pois esta terá sido sumamente exaltada pela descida dos deuses. Será, então, uma decisiva possibilidade executar as necessárias mudanças na substância plástica e arquétipos do mundo da formação, que atuarão eles mesmos conseqüentemente no plano físico e ajudarão a elevar as mentes dos homens e restaurar a harmonia e ordem eternas das esferas, fontes da vida e do ser. Mas enquanto o mago não tiver ele próprio instituído harmonia no âmbito de sua própria consciência, seu poder será limitado. Enquanto a beleza e a iluminação não constituírem a ordem de sua própria vida e enquanto ele não tiver equilibrado aquela esfera com as Essências Universais, os centros perenes da luz e da vida que sustentam o universo em todas as suas ramificações, não será capaz de concretizar de maneira cabal esse sonho utópico da humanidade.

O Lado Noturno do Éden - Kenneth Grant

A opinião que parece ser sustentada em certos lugares é a de que revelei “um pouco demais” dos Mistérios em meus livros anteriores e que o Véu de Ísis foi levantado quase a uma altura inconveniente. Portanto, reitero o fato de que os Mistérios, a verdadeira Gnose, são de natureza predominantemente psicossexual. Eu só disponibilizei – talvez pela primeira vez de forma clara – conhecimentos que até agora estavam ocultos. Por conseguinte, não peço desculpas por ter tornado estes Mistérios claros para aqueles que possuem o discernimento necessário.


Que existem os Mistérios das Trevas é inegável, mas existem também as chaves para sua compreensão. Talvez isto possa ser reivindicado mais para o presente livro do que para a trilogia anterior, onde certas fórmulas operativas foram retidas.


As chaves do ocultismo prático, seja misticismo ou magia, podem ser apreendidas intelectualmente pelo estudo dos livros, mas é nos planos internos que seu trabalho efetivo pode ser revelado. A menos que os contatos necessários nos planos internos sejam estabelecidos de forma adequada, nenhuma quantidade de leitura revelará os “segredos” que são literalmente indecifráveis e, portanto, verdadeiramente ocultos. As salvaguardas são automáticas e infalíveis.


Em vista do exposto acima, pode-se perguntar por que alguém arriscaria expor os mistérios em um nível, quando sua compreensão plena só é possível em outro nível que geralmente não está disponível. A resposta é que existe um grande corpo de indivíduos – um corpo que está crescendo mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história humana – que precisam de um ponteiro, uma mera indicação, para aumentar sua sensibilidade às influências dos planos internos.


Desenvolver o trabalho de seu predecessor é a tarefa de um iniciado que representa uma Ordem mágica particular. No presente exemplo a Ordem é a O.T.O. (Ordo Templi Orientis) e a tarefa exige a exposição da corrente mágica conhecida como “93” ou Thelema, que foi recebida por Aleister Crowley de uma fonte extraterrestre, e que ele encarnou em “O Livro da Lei” e outros escritos. (1)


O presente trabalho, portanto, baseia-se em um grimório extremamente sinistro, conhecido como “LIBER 231”, (2), continuou a transmitir a “Corrente 93” como restabelecida por Crowley no século 20.


É inevitável que durante o processo de evolução de uma Corrente, certos aspectos possam tornar-se obsoletos, impraticáveis ou errados, e tenham que ser rejeitados em favor de significados mais eficientes. Isto se aplica com particular força na esfera da iniciação mágica, tal como é desenvolvida em ordens como a O.T.O., sobre a qual é necessário dizer algumas palavras aqui.


O sistema de iniciação empregado pelo O.T.O., do qual Crowley já foi o Chefe, era baseado em uma estrutura maçônica. Crowley não alterou esta estrutura embora tenha revisado os rituais dos graus inferiores da Ordem depois de ter sido indiciado por infringir os direitos da maçonaria ortodoxa.


Desde aqueles dias (c.1945), todo o sistema de Loja e Operações Rituais foi abandonado. Eles eram manifestamente incômodos – devido ao seu alcance internacional sempre em expansão – e tornou-se impraticável para os membros se encontrarem em um determinado momento e local para fins de trabalho mágico. Mas acima de tudo a estrutura maçônica não estava mais de acordo com a consciência e as atitudes do Novo Aeon. Em outras palavras, a fórmula maçônica é “Fora da Verdade” e não representa mais o Modelo Universal de realização mística e mágica.


Os antigos sistemas Aeon da maçonaria eram baseados na Praça, e se baseavam em um conceito de supremacia masculina simbolizado por Osíris, Salomão e outras figuras patriarcais. A nova O.T.O. é baseada no Círculo, a Deusa, a Mãe “cujo filho é seu símbolo”. Isto é assim, mostrando o renascimento de uma antiga tradição (na verdade, a mais antiga) personagem na qual está implícita a adoração da Deusa Primordial, que não conhecendo Deus foi descartada como ateia, e portanto – através da mesma lógica curiosa – diabólica.(3).


A evolução psíquica, como outras formas de evolução, desenvolve-se de forma espiral, e o aparente renascimento do Culto da Mãe e de seu Filho está, sob profunda investigação, vendo como tem progredido, pois a “Criança” não é mais o Filho, mas a Filha.


Este avanço em tipos é muito abstruso para ser discutido aqui; ele foi explicado em minha Trilogia, desenvolvida no presente livro, e mencionado aqui para refutar certas críticas ao novo O.T.O. que foram dirigidas contra ele por aqueles que não entenderam a evolução em espiral progressiva e a reencarnação da fórmula mágica.


A “O.T.O.” mantém seus onze graus, que agora são considerados como círculos menores sobre o aro do Grande Círculo ou roda que está em processo de revolução contínua. Todos os graus – equidistantes do eixo imóvel – são, portanto, equivalentes. Eles sobem e descem ritmicamente, sempre se aproximando ou recuando de um dos dois horizontes, o lugar do nascer e do pôr-do-sol, o lugar do nascimento (manifestação) e o lugar da morte (não-manifestação).


A morte foi a grande ilusão do Aeon anterior, o Aeon de Osiris. Agora, porém, neste Aeon de Hórus, que é o Aeon da Criança Eterna, a vida e a morte são vistas como um fenômeno contínuo, ou como Dia e Noite no processo da Autoiluminação.


A doutrina foi explicada em detalhes em minha Trilogia Tifoniana. As sementes da mesma existiam nos escritos inspirados de Crowley, mas ele parecia pessoalmente incapaz de conceber um sistema de iniciação fora da estrutura postulada pela Maçonaria. Por isso ele perpetuou o antigo e rígido sistema descrito no EQUINOX Vol. III No. 1, que foi mantido após sua morte por seu inquestionável discípulo Karl J. Germer.


Portanto, foi deixado ao atual escritor a condução da promoção do novo esquema, e isto é o que ele tem feito nos últimos vinte e cinco anos.


As observações acima foram sugeridas pelas muitas cartas relativas à “Corrente 93” e à O.T.O. recebidas após a publicação de meus livros anteriores. É de se esperar que a função da nova Ordem, recentemente organizada, possa agora finalmente ter sido esclarecida.


Agradecimentos especiais e agradecimentos são devidos ao Sr. Michael Bertiaux, Chefe do Culto da La Coulevre Noire (Culto da Serpente Negra), pelo material a que me referi na introdução da Parte I, e em outros lugares. Ao Sr. Gary Straw e Mss. Margaret Coock e os editores do Cincinaty Journal of Ceremonial Magick por permissão para citar partes do Liber Pennae Praenumbra e material referente ao Culto de Maat; ao Sr. Michael Magee por apoiar o trabalho da O.T.O. em sua revista Sothis, e ao Sr. John Symonds por me permitir usar os escritos de Crowley.


Finalmente, gostaria de agradecer aos seguintes artistas, que generosamente permitiram a inclusão de seus desenhos ou pinturas: Steffi Grant, Margareth Coock, Janice R. Ayers, Jan Bailey, Michael Bertiaux, Allen Holub, David Smith, e Frederick Seaton.


NOTAS:


(1) Ver Bibliografia; sob Crowley, Aleister.


(2) Publicado pela primeira vez no Equinox Vol. I No. VII LONDRES 1912. O número 231 é a soma dos números das Cartas do Tarô, 0 – 21; é portanto a extensão do número 22. O Liber 231 (ou CCXXXI como é normalmente chamado) trata dos 22 Atus de Toth aplicados aos 22 Caminhos da Árvore da Vida e às 22 células das Qliphoth. Crowley lidou abertamente com o Atus (ver o Livro de Toth), mas das 22 células das Qliphoth e dos Túneis de Set abaixo dos Caminhos, ele não escreveu. Este livro completa, portanto, a obra que ele deixou inacabada.


(3) Não havia, naquele ambiente social primitivo, nenhum pai na terra e, portanto, nenhum pai ou imagem de “deus” no céu, pois os “deuses” são apenas projeções psíquicas.


***


Fonte:

Author’s Foreword

Nightside of Eden, by Kenneth Grant.