quinta-feira, 1 de junho de 2023

Luciferianismo - As Torres Dos Titãs


A semente dos anjos unida com a substância mortal da primeira humanidade animal produziu, de acordo com a Bíblia e o Livro de Enoch, “valentes, varões de renome, na Antiguidade”. Eles foram descritos pelos antigos como gigantes. Se eles eram verdadeiramente gigantes no aspecto físico é difícil de saber. Restos mortais de humanos pré-históricos de grande dimensão já foram desenterrados em várias partes do mundo. No entanto, comparativamente falando, para alguém que é baixo em estatura, uma pessoa acima de 1,80 metro de altura parecerá um “gigante” nos olhos dele. Porém, é possível que os termos “valentes”, “varões de renome” e “gigantes” possam ter sido usados para descrever e identificar uma raça híbrida meio angelical com poderes mágicos e psíquicos sobrehumanos. Para os antigos celtas, “gigantes” não eram necessariamente criaturas sobrenaturais, mas o nome dado a qualquer ser que fosse maior ou mais alto que o humano comum e tivesse poderes incomuns que o fazia ser superior. Tradicionalmente, tais gigantes não poderíam ser subjugados meramente pelo uso da força física, mas também pelo uso inteligente de artifícios e magia.

Fragmentos, ruínas e relíquias de civilizações arcaicas estão cheios de insinuações silenciosas de uma era incrivelmente remota, quando raças gigantescas de grande beleza e sabedoria profunda dominavam a Terra antediluviana no meio de cidades titánicas e torres ciclópicas. Tradições difundidas e consistentes localizam os centros dessas culturas pré-históricas nas regiões da Atlântida, Hiperbórea e de Shambhala, que se encontrariam no Oceano Atlântico, na Europa Setentrional e no deserto Gobi na Asia, respectivamente. Os vestígios desgastados das civilizações perdidas estão supostamente ocultos nas profundezas oceânicas, embaixo das areias cambiantes do deserto ou sepultados sob milhares de camadas de gelo polar. Com o aquecimento global, quem sabe o que a vastidão glacial das calotas polares irá revelar no futuro.

Platão descreveu os atlantes em seu famoso relato sobre a ilha perdida determinada por sacerdotes egípcios como “... um poder grande e maravilhoso dos reis, governando sobre a própria ilha, muitas outras ilhas e partes do continente (...) até o Egito, a Europa e as fronteiras com a Etrurid’. Apesar de algumas pessoas considerarem a Atlântida de Platão como um conto utópico e ficcional, outras vêem os reis atlantes de um ponto de vista mais real. Na tradição esotérica ocidental, eles são considerados como transmissores da Tradição Secreta para a humanidade atual. Os gigantes e soberanos colossais conhecidos comoNephilim ou Awwim (serpentes) eram descritos nas Escrituras proféticas de Amós como sendo altos como cedros e vigorosos como carvalhos. Eles foram os criadores das construções ciclópicas, muitas fortalezas de templos e governantes do período antediluviano, dos quais descendiam figuras heróicas e lendárias como Ninrode ou Nimbroth, o “valente caçador” e inspetor da Torre de Babel.

Tradições antigas estão repletas de descrições de raças primitivas, desde os Titãs, da Teogonia de Hesíodo, e os Cabari, da Samotrácia, até os Jotuns, do mito Hiperbóreo, e os Daityas, do Oriente. Tal gigantismo e estrutura alta também é característica dos Seguidores de Hóms, a dinastia semidivina que descende dos Deuses (Neteru) do antigo Egito. Existem ainda espíritos khu que colhem o cereal do céu, “... cada espírito com 9 côvados [por volta de 4 metros] de altura que o colhem na presença de Rá Horakhty”. Isso está compatível com a estatura conferida ao rei Ogue, de Basã, um descendente dos Nephilim: “Porque só Ogue, rei de Basã, restou dos despojos dos gigantes; eis que o seu leito, leito de ferro (...) Nove côvados o seu comprimento...’’’’ (Deuteronômio 3:11). O autor árabe Tabari nos fala de uma ponte na cidade de Bagdá (Iraque) construída dos ossos da costela do rei gigante Og-ibn-Unk, ou “Ogue do Pescoço Longo”.

A capital dos Amontas, uma cidade que supostamente havia sido originalmente habitada por antepassados gigantes, era a cidade real de Basa, chamada de Astarote Camaim. Esse nome indicava sua condição como um centro de culto da “Astarote Cormiera” e a cidade templo da Rainha do Céu Astarte. Crónicas hebraicas preservam as memorias de outras tribos de titãs descendentes dos Nephilim, incluindo os amalequitas e os filhos de Anaque (“de pescoço longo”), que habitavam na antiga terra de Canaã.

Em uma anotação sobre os lendários governantes gigantes da Síria, o explorador e aventureiro vitoriano sir Richard Burton teceu comentários sobre a raça gigante dos Jababirah. Esse nome deriva de Giabber, ou “imenso, gigante”. Ele se relaciona à palavra hebraica Ghibbor/Ghibborim e à persa Diván. Burton diz: “... desses eram Ad e Shaddad, Reis da Síria; os Falastan (Filisteus), Auj, Amalik e Banu Shayth, ou descendentes de Seth, os filhos de Deus (Benu Elohim) (...) que habitaram no Monte Her- mon e viveram em pureza e castidade.”

Nas tradições arábicas, os amalequitas eram os habitantes originais da cidade sagrada de Meca, e os Adites eram uma raça de gigantes que morava em Al-Ahkaf, situada entre Hadramaut e Omã, no sul da Arábia. Eles eram descendentes de Cão, filho de Nuh ou Noé, e quem os uniu como um povo foi o rei gigante Ad. O filho de Ad, rei Shaddad, construiu uma cidade imponente em um local próximo a Omã, na Arábia Rochosa, chamada de Ubar dos Muitos Pilares. Sua grande quantidade de elevadas torres, abóbadas e colunas repletas de metais preciosos e adornadas com jóias, banhada por correntes de água melodiosas debaixo de jardins com arcos de árvores e flores era a própria maravilha do mundo antigo e um paraíso terrestre.

A tradição diz que, no final, o excesso de confiança do rei Shaddad se mostrou impotente, quando Ubar foi engolida pelas areias do deserto e afundou para debaixo da terra para ser avistada apenas por dervixes perdidos nas ruínas. Um viajante solitário supostamente passou pelas altivas ruínas de Ubar enquanto viajava pelo deserto no século VIL Ele levou jóias de lá para o palácio do primeiro Califa Omíada Mu’Awiyah, em Damasco, a fim de provar a sua narrativa. Mitos árabes falam de várias dessas raças perdidas, incluindo as nações de Jadis, Tasm, Thamud e Ad. Foram construtores Adites, ou djins sob controle de um mago Adite, que construíram o dique de pedra enorme em Ma’arib, na capital iemenita Sana, lar dos adoradores de estrelas sabeus. Analisando seus antepassados tão incomuns, podemos supor que eles herdaram o culto transestrelar dos arcanjos.

De acordo com a doutrina esotérica, sangue dos Nephilim corria nas veias de Ninrode: “Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra. Foi valente caçador diante do Senhor (...) O princípio do seu reino foi Babel.” O Manuscrito Maçônico de Cooke, datado do ano de 1430 d.C., concede a Ninrode a posição de primeiro Grão-Mestre dos maçons. Ele supostamente entregou as instruções e constituições originais aos irmãos da Maçonaria que supervisionou durante a construção da Torre de Babel no centro simbólico do Universo. Babilônia é Bab-Illani ou Portão dos Deuses (Ilu = Elohim), o portal entre as dimensões terrestres e celestiais. As pesquisas de Clemente Stratton confirmaram que, no primeiro grau da Maçonaria Operativa medieval, o juramento feito pelo candidato era chamado de Juramento de Ninrode. A Torre de Babel foi iniciada por Ninrode, a quem o escritor em bruxaria e demonologia Montague Summers chama de “um bruxo gigante de grande poder”.

E relatado no Gênesis: “Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus” (11:4). Do topo desse zigurato colossal, de acordo com lendas árabes, Ninrode tentou voar ao Céu em uma carruagem áurea puxada por quatro pássaros - demônios. Isso tem sido observado como uma alegoria gnóstica representando a alma caída, aspirando irromper as esferas e recuperar o estado divino. Como um símbolo da aspiração Luciferiana em direção ao Absoluto e da nostalgia mística pelo infinito, ela permanece influente como um emblema da busca gnóstica na tradição oculta ocidental. Ela aparece no Taró como o arcano maior A Torre Atingida por Raios, que mostra figuras humanas caindo dela enquanto buscam, e falham em conseguir, recuperar a posição espiritual perdida delas.

Na tradição babilónica, o protótipo zigurato ou torre sagrada é chamado de Dur-an-ki ou “ligação do Céu com a Terra”. Philo Judaeus fornece um relato de sete imagens áureas de demônios ancestrais adorados pela raça de gigantes Amoritas. Eles incluem Nembroth ou Ninrode como o gênio fundador da Babilônia e Canaã ou Caim como o pai da Fenicia, o que confirma as ligações de Ninrode com os Nephilim. A estrutura planetária da Torre de Babel ou Babilônia é espelhada em outros edifícios parecidos, como o zigurato Sabeu “das sete esferas”, descoberto por escavações na cidade de Harã (A Ur bíblica dos caldeus) por Rawlinson em 1854.

Harã, como veremos mais tarde neste livro, foi um centro antigo e renomado de adoração estrelar e hermética até o século XII d.C. Seus terraços eram embelezados com as cores simbólicas dos planetas na ordem sabéia, ou seja, preto como carvão para Saturno, marrom-dourado para Júpiter, vermelho-alaranjado para Marte, vermelho-escarlate para o Sol, amarelo para Vênus, azul lustroso e dourado para Mercúrio e prata para a Lua. Escrevendo sobre as imagens do pico cósmico, o antropologista dr. Mircea Elíade notou que o zigurato era uma representação simbólica do Monte Cósmico e do Cosmos. Os sete andares simbolizavam os sete céus planetários contendo as cores do mundo (1964: 134,264). A Torre de Bab-Illanu também se estendeu para baixo em imagem invertida dentro dos domínios ctônicos como a Bab-Apsu ou a “Passagem do Abismo”. Dessa forma, a Torre colocava juntos os três mundos Xamânicos do Céu, Terra e Mundo Subterrâneo.

Dentro do contexto do sistema de mundo ptolemaico, a construção por Ninrode da Torre de Babel representa a jomada ascendente da alma dos mundos elementáis por meio dos sucessivos circuitos astroplanetários para os Mundos Divinos ou Noosfera Divina das Mentes Puras. O mistério da Torre de Babel encapsula a elevação do iniciado dentro da gnose. Ela se eleva no ônfalo ou “centro do mundo”, um axis mundi ou pilar do mundo ciclópico no meio da cidade templo, e é o ponto de ruptura entre o fenômeno e o nômeno.

As lendárias cidades ciclópicas, os edifícios sagrados buscando alcançar os céus e os impérios poderosos dos reis gigantes e seus povos foram varridos da face da Terra e submersos nas águas de uma poderosa enchente. No Livro de Enoch, o anjo Uriel avisa o profeta da “... consumação que está prestes a acontecer; pois toda a terra perecerá; as águas do dilúvio virão sobre toda a terra, e todos os que estão nela serão destruídos'”. Memórias greco-egípcias da lendária ilha continente de Atlântida e sua destruição são totalmente pertinentes a essa descrição. Vários outros mitos, incluindo a tentativa de destronar Zeus pelos Titãs e as terras perdidas de Lyonesse e Ys, descrevem como praticantes iníquos de magia negra ou usurpadores da ordem cósmica são destruídos por Deus ou Deuses.

A lenda de uma Enchente ou Dilúvio mundial pode ser encontrada nos mitos de criação de todas as culturas. Em setembro de 2000, um grupo de cientistas alegou ter achado os resquícios de uma aldeia neolítica a aproximadamente 90 metros sob o Mar Negro. Essa descoberta supostamente prova que os primeiros humanos viveram às margens de um lago de água doce no local 7500 anos antes de eles serem levados para longe do lago por uma enchente cataclísmica. Isso foi causado pela elevação do nível dos mares depois do derretimento da extensa calota polar no fim da Era Glacial. Memórias desse desastre ecológico foram registradas na mitologia suméria e no relato de Noé e a Arca na Bíblia.

A tradição esotérica postula várias ondas de migração da Atlântica, que transmitiu a sabedoria angelical preservada das raças Azelaicas, para enclaves nos mais altos locais da Terra para propagação no mundo pós- diluviano. Se isso realmente aconteceu ou se é um evento imaginário, é difícil saber. Discutiremos o simbolismo Luciferiano da Maçonaria mais tarde neste livro, mas é importante registrar que essa transmissão pós- diluviana da magia arcana se encontra no centro da chamada tradição Noachita da Maçonaria. Isso é particularmente verdade no simbolismo do grau de Nauta da Arca Real e em suas cores do arco-íris correspondentes. Simbolicamente, em muitas culturas antigas, o arco-íris tem sido visto como uma ponte entre o Céu, ou reino dos Deuses, e a Terra. A tradição Noachita foi fundada para celebrar a destruição da Torre de Babel. As reuniões da Loja devem acontecer uma vez por mês durante a Lua cheia em uma sala em que haja uma grande janela ou clarabóia para que a luz da lua possa iluminar os trabalhos. De acordo com a história maçônica, os ritos da Antiga Ordem dos Noachitas foram traduzidos do alemão para o francês pela primeira vez em 1757, e a ordem foi chamada ocasionalmente de Cavaleiros Prussianos. Os preceitos Noachitas eram basicamente relacionados com a justiça e, curiosamente, eles tinham uma proibição de comer carne animal contendo sangue. (Macoy, 1989:268 e Mackenzie, 1877:508-509)

Na tradição, a Arca é místicamente parecida com a Loja perfeita, presidida pelo Comandante e os Vigilantes, que assumem os papéis de Noé e seus filhos Jafé e Sem. O fechamento da Loja é interpretado como sendo parecido com a ancoragem da Arca no Monte Ararat. No século XVIII, o Conselho Maçônico Francês de Imperadores do Ocidente e Oriente operou, no seu 25° grau do Rito, o grau de Patriarca Noachita. Isso resumia as simbologias do Dilúvio, a Torre de Babel e a suposta descoberta, na Alemanha, do túmulo de Pelegue, o arquiteto da Torre de Babel. O grau detalha a preservação da arte dos construtores após o Dilúvio. Em seguida, essa revelação é dada ao iniciado, e ele é saudado como um “maçom Noachita” nos Mistérios. O túmulo de Pelegue foi supostamente encontrado em uma mina de sal alemã, juntamente com uma coluna de mármore branco. Nele estava escrito em hebraico a história dos Noachitas. Estava supostamente gravado no túmulo: “Aqui jazem as cinzas de Pelegue, um Grande Arquiteto da Torre de Babel. O Todo- Poderoso teve compaixão dele porque ele se tomou humilde.'’' Essa inscrição sugere que ele escapou do destino dos outros habitantes da Babilônia, quando Javé lançou sua fúria sobre eles pela arrogância de construir uma torre para alcançar o céu.

Na mitologia grega, a raça de gigantes era chamada de Titãs, e eles possuíam poderes mágicos que usavam as forças elementais: ar, terra, fogo e água. Os gregos acreditavam que os Titãs se originaram no Oriente distante. Tanto Atlas, que deu o nome para a Atlântida e o Oceano Atlântico, e Albion, que deu seu nome à antiga Grã-Bretanha, supostamente eram de origem Titánica. Dizem que depois do Dilúvio o gigante Albion conduziu a raça dele, descendente do filho de Noé Cam, para a Grã- Bretanha. O ocultista Lewis Spence disse que é aceitável considerar que Atlas foi a divindade tutelar de uma terra no ocidente no oceano, cujo mito é lembrado com seu nome. A questão de se a Atlântida realmente existiu ou foi um paraíso imaginário da era lendária, chamada de “Idade de Ouro”, ainda é objeto de um intenso debate. Outro Titã famoso foi Prometeu que, em um grande gesto Luciferiano de rebeldia aos Deuses, trouxe o fogo do Céu para a Terra a fim de beneficiar a humanidade e foi punido. Se esse era na verdade o “fogo criador divino”, então a analogia Luciferiana é até mais sugestiva.

Em termos míticos, os Titãs eram “os Deuses antes dos Deuses” ou os Deuses Antigos que supostamente governaram a Terra antes da criação da raça humana. Os gregos certamente consideram o período dos Titãs como uma idade de ouro, quando a Terra era um paraíso. De acordo com os seus mitos, os Titãs e os Ciclopes eram a descendência do deus Urano com sua companheira Gaia, a deusa da terra. Infelizmente Urano e suas crianças gigantes não se davam bem e, como em uma situação doméstica, ele as expulsou do Céu e as exilou na Terra. Um dos Titãs, Cronos (Saturno), conspirou com sua mãe para matar o pai. No entanto, ele apenas conseguiu castrá-lo com uma foice. Em nível simbólico, isso privou o deus de seus poderes criadores e masculinos, que foram transferidos para seu filho rebelde. Cronos foi então reconhecido pelos outros Titãs como seu senhor e mestre. Uma versão alternativa e posterior desse mito mostra os Titãs se rebelando contra o deus pai olímpico Zeus, ou Júpiter. Os Titãs também foram responsáveis pelo assassinato de Dioniso, a “criança divina” comífera. Eles o enganaram com seu próprio reflexo em um espelho e, então, o dilaceraram em pedaços antes de comê-lo. Quando Zeus abateu os rebeldes com seus raios, a lenda diz que a humanidade surgiu de suas cinzas. Porque os Titãs haviam incorporado parte do jovem deus, a humanidade herdou uma centelha divina de Dioniso, que era um dos avatares de Lúcifer. Nos mistérios órficos, a morte de Dioniso representa a “queda” na encarnação material e a perda da unidade primitiva - a Grande Separação da crença xamânica.

Embora os Ciclopes fossem apenas uma nota de rodapé na mitologia grega, por razões que se tomarão evidentes mais tarde neste livro, eles tiveram um papel importante na cultura Titánica. Na realidade, eles, apesar da reputação injustificada de serem criaturas estúpidas, foram descritos como parte de uma “elite científica” entre seus colegas gigantes. (Roberts, 1978:151) Alega-se que eles tinham oficinas subterrâneas em que faziam instrumentos de pedra e metal em fomos enormes. Expressivamente, dizem que eles inventaram a foija e os raios usados por Zeus como armas. Acredita-se que os primeiros humanos provavelmente descobriram o uso do fogo observando raios acertarem árvores e ao baterem pedras com pedras.

A mitologia escandinava também tem suas próprias referências aos seres titánicos, que são chamados de a geada ou gigantes de gelo. Assim como os Titãs, eles foram os “primeiros a ser criados” e eram os controladores das forças elementais, incluindo trovões e tempestades de granizo. Também existe uma referência a uma lenda de dilúvio. No mito, há uma luta entre os filhos de Bor (Odin, Vili e Ve) e o deus criador gigante Ymir. O gigante é atingido por um golpe na cabeça, cai e o sangue do ferimento inunda o mundo. Todos os gigantes de gelo morrem afogados, com exceção de um chamado Bergelmir. Ele consegue refugio em um moinho, de onde a família dele dá uma nova origem à raça de gigantes.

Esse dilúvio de sangue é citado no poema épico anglo-saxão Beowulf, que faz referência a “uma luta na Antiguidade / quando um forte dilúvio / um mar estrondoso / destruiu a raça de gigantes / eles viviam em vaidade / aquele povo afastado do Deus eterno / que deu a eles como recompensa este castigo final, um dilúvio arrebatador.:” Outra referência no poema descreve: “Os gigantes que por muito tempo lutaram contra Deus”. Os traços Luciferianos nessa descrição são absolutamente surpreendentes.

O mais famoso da raça de gigantes era Loki, conhecido como o “criador de trapaça” e o Senhor da Desordem. Ele era o deus do fogo metamórfíco e andrógino, considerado pelos cristãos como um protótipo de Satã ou Satanael. Isso porque ele era considerado o culpado pela chamada “guerra no Céu” entre os Deuses e a raça dos gigantes de gelo. De acordo com a ocultista russa e fundadora da Sociedade Teosófíca Madame Helena Blavatsky, o nome Loki vem de uma antiga palavra “Liuhan”, que significa “iluminar”. Ela alega que, como um deus do fogo e luz, ele é idêntico a Lúcifer, o portador da luz. (1893: Volume II: 296)

Loki é o pai do lobo cósmico Fenris, a serpente de Midgard que circula a Terra (também conhecida como a Serpente do Mundo), a deusa do mundo subterrâneo Hei e a mãe do cavalo sobrenatural com oito patas de Odin, Sleipnir, que pode viajar entre a Terra e o mundo subterrâneo. Dizem que pelo menos uma tradição da magia tradicional hoje venera a Serpente do Mundo como uma de suas divindades. Veja Water Witches,10 de Tony Steele. (Capall Bann, 1999) Na mitologia nórdica, Loki íf eqüen- temente causa problemas para os Deuses, mas seu papel principal é na morte do deus da luz Baldur. Isso ocasiona o Ragnarõk ou Crepúsculo dos Deuses, mas o mito diz que alguns Deuses renascerão após esse cataclisma cósmico, e uma nova Terra será criada e repovoada por humanos.

Na guerra no Céu entre os Aesir e os Vanir, a deusa Freya foi raptada de Asgard, lar dos Aesir, no qual ela permanecia com os gigantes de gelo. Como resultado, a natureza foi virada de ponta-cabeça, as estações foram invertidas e as plantações apodreceram nos campos. Mesmo o Sol e a Lua se recusaram a brilhar no céu. Os Vanir eram os deuses da fertilidade da família e da terra, e foi sugerido, assim como nos outros mitos similares em outras culturas, que essa é parte do processo em que os Deuses Antigos se tomam os demonios da nova religião, que substitui a adoração deles. Tanto os gigantes de gelo quanto os Titãs foram transformados em demonios, ao passo que novas entidades eram apresentadas para substituir os Deuses Antigos dos tempos remotos. A mesma coisa aconteceu quando o Cristianismo tomou o lugar das religiões pagãs.

Blavatsky referiu-se específicamente aos Titãs como os anjos caídos. Ela os descreveu como os criadores ou arquitetos dos mundos e os progenitores da raça humana. Como anjos caídos, ela os descreve como “espelhos legítimos da Sabedoria Eterna” (1893 Volume II: 543). No entanto, rejeita completamente as alegações feitas pelos teólogos cristãos de sua época de que os Titãs são demoníacos ou associados a Satã. Aliás, ela descreve tais alegações como “uma conspiração de difamação” (Volume II: 369). Blavatsky vai além e afirma que Lúcifer era “a mais alta sabedoria oculta, espiritual e divina da Terra - que é naturalmente contrária a toda ilusão evanescente, terrena, dogmática ou até mesmo a uma religião eclesiástica’' (Volume II: 394).

O que foi citado anteriormente deve ser entendido à luz da interpretação secreta dos mitos antigos do Dilúvio, ou Grande Enchente, que é um mito universal encontrado em culturas por todo o mundo. Sólon, o Grego, aprendeu com a classe sacerdotal egípcia em Sais, a cidade no delta do Nilo da deusa Neith, que: “Aconteceram muitas des- truições da humanidade, e muitas outras acontecerão. As maiores são pelo fogo e pela água, mas além dessas existem outras menos destruidoras”. O Universo de espaço, tempo e matéria passa por reabsorções cíclicas e periódicas nas águas disformes do não revelado. Isso está de acordo com os “Solstícios dos Deuses” no “Grande Ano” da precessão ou platônico de 25.950 anos solares.

O sábio caldeu Beroso descreveu em detalhes a doutrina da dissolução cíclica no século III a.C. Em seu trabalho Babyloniaca, ele afirma que, quando todos os sete planetas estão em conjunção no signo do Caranguejo (Câncer), as águas consomem o mundo. Quando os corpos celestiais estão alinhados da mesma forma no signo do Bode (Capricórnio), o Cosmos inteiro é devorado pelo fogo. De acordo com essa visão, existiram incontáveis raças humanas antes da espécie atual. Muitas outras virão depois da nossa espécie, quando o mundo é absorvido e ressurgido, de acordo com as evoluções rítmicas e inexoráveis do Círculo da Necessidade astral. Essa é uma dança de roda interminável de dissolução e criação se intercalando infinitamente.

As chaves emblemáticas sobre a escatologia mística do Dilúvio consistem na compreensão de que, para os antigos, as águas que antecedem a criação do não revelado - o Tehom hebraico, o Nun egípcio e o Abzu babilônio-acadiano - são a matriz nula do espaço puro. A partir dessa matriz, a ordem mundial cósmica emerge periodicamente. E, portanto, o fundamento supremo, insondável, vazio, inconcebível, mas, não obstante, é também o terreno imprevisível do Ser, a fonte incognoscível. Esse é o significado do símbolo egipcio Mau, que quer dizer “águas, ou mar”. Como o hieróglifo místico do Dilúvio, ele consiste de três hieróglifos Nun, simbolizando a nulidade do Céu (Pet), Terra (Ta) e o Mundo Subterráneo (Duat), e abase essencialmente nula do Universo triplo. O mesmo significado é expresso pelo símbolo primordial canaanita Mayyuma e a letra hebraica Mem. Eles são símbolos tipológicos da nulidade plena do oceano das águas abissais de espaço vazio; o firmamento do grande mistério; a “Grande Noite dos Deuses”, a renovação e preservação perpétua da Revelação Divina dentro do Mar da Nulidade.

A transmissão do Grande Segredo inextingüível através de cataclisma e destruição sem-fim, a teofania eterna da Sabedoria que não pode morrer, é simbolizada pela letra hebraica Nun. Ela é interpretada como o símbolo do Peixe, o emblema da redescoberta e da renovação pós- diluviana dos Mistérios Divinos, e foi empregada nesse contexto esotérico pelas seitas gnósticas por volta do século I d.C. e até antes. O símbolo Ictus dos primeiros cristãos representava essa regeneração da gnose pura, e Eliade pertinentemente comentou sobre a valência mítica do “peixe” e do “pescador” e que esses símbolos possuem uma “... relação com a ‘revelação’, ou a passagem de uma doutrina do estado de esquecimento ou ‘eclipse’ para o estado de manifestação total.” Essa revelação é a visão irradiada da Xvarenah do Humano de Luz transcendente, a revelação da nossa divindade inata e autoluminosa do esplendor imutável da Mente Divina.


Luciferianismo - Magia Angelical do Oriente

Como devemos interpretar corretamente e, com isso, compreender inteiramente o significado daquelas lendas antigas e enigmáticas relacionadas com a Queda dos anjos relatada no Velho Testamento da Bíblia judaico-cristã e nas Escrituras apócrifas? De que maneira essas referências e mitos enigmáticos e misteriosos possuem a Alta Magia Angelical do Oriente, e quais verdades elas possuem para transmitir àquele que busca a magia nos dias de hoje? As respostas que essas perguntas fornecem são singularmente esclarecedoras e permitem que tenhamos relances extraordinários da história secreta do desenvolvimento evolucionário inicial da humanidade e do desprendimento do estado instintivo animal na pré-história.

O relato bíblico da descida dos anjos é limitado a alguns versículos crípticos no Gênesis: “Como foram se multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhe agradaram.” (6:1-2)5

As conseqüências notáveis desse relacionamento incomum entre anjos e a humanidade são relatadas adiante no nascimento da raça gigante antediluviana chamada de Nephilim. “Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.” (6:4).

Nas Escrituras canônicas ortodoxas, esse é o único fragmento que sobreviveu, e suas implicações místicas até agora têm sido deliberadamente evitadas por especialistas bíblicos, teólogos e membros do clero. Um relato mais completo do acontecimento estava no então perdido etiópico Livro de Enoch,6 7 que foi preservado no enclave da Igreja Abissínia. Acredita-se que o explorador escocês James Bruce trouxe pela primeira vez uma tradução para a Europa no fim do século XVIII. No entanto, uma cópia de um volume chamado o Livro de Enoch é catalogada como um dos livros do acervo da famosa biblioteca ocultista de Abbot Trithemus, de Würzburg, no século XV. Outros volumes interessantes na biblioteca incluíam o Livro de Raziel, o Livro de Hermes e vários grimórios mágicos atribuídos ao Rei Salomão. (Couliano, 1987:167)

Na edição de outubro de 1999 do Jerusalem Report, foi publicado um relato sobre a descoberta do supostamente chamado Pergaminho do Anjo,1 que parece estar ligado ao Livro de Enoch. Escrito em uma mistura de hebraico, aramaico e grego, esse documento foi achado na Jordânia, sudeste do Mar Morto, escondido dentro de um jarro em uma caverna. Diz-se que ele foi secretamente comprado na década de 1970 por um grupo de monges beneditinos, que levaram o pergaminho clandestinamente para um mosteiro na fronteira entre a Áustria e Alemanha. Lá ele permaneceu por mais de uma década enquanto era traduzido. Conforme se alega, o texto, similarmente ao Livro de Enoch, descreve uma excursão ao Céu conduzida por um anjo Vigia. Todos “os segredos do Céu” são mostrados ao autor do Pergaminho do Anjo e também lhe é ensinado como ver sinais no Sol, na Lua e nas estrelas para prever o futuro (Astrologia). Além disso, ele aprende a doutrina do estado atmosférico, escrita, o uso de plantas e pedras (cristais?) para curar doenças e prever eventos futuros e o método de viajar no tempo. O Pergaminho do Anjo refere-se a Deus pelo nome canaanita de El e a Satanás pelo nome de Beliel, literalmente “fogo ou luz de Deus”. O pergaminho é dedicado a Yeshua (a forma hebraica de Jesus!), que é descrito como “o Sagrado” e como o filho de um sacerdote. Foi recentemente sugerido que José, o pai de Jesus, pode ter sido na verdade um sacerdote no templo de Jerusalém (reportagem do site na internet de Andrew Collins 24/01/00).

James Bruce não hesitou em descrever o Livro de Enoch como uma “escritura gnóstica”, e acredita-se que ele data entre os anos 165 a.C. e 100 d.C. Essa foi uma percepção mais apurada que aquela da maioria dos analistas clericais, que persistem em conclusões vagas e moralistas sobre o documento. A tradução do texto por Bruce forneceu apenas a confirmação literária da corrente altamente sigilosa e misteriosa dos mistérios angelicais transmitidos ao longo dos séculos em alguns cultos e círculos esotéricos na Europa. Bruce era uma pessoa interessante, que não era quem parecia ser superficialmente. Era um aristocrata escocês de sangue real que dizia descender de Robert the Bruce. Era um estudioso clássico e bíblico e um maçom importante. Como um maçom escocês, foi alegado que ele teve algum contato com os cavaleiros templários maçôni- cos. (Collins, 1996:12) Em sua função de explorador, Bruce partiu em 1768 para tentar descobrir a nascente do Nilo. Foi sugerido que essa era apenas uma mentira para esconder sua verdadeira missão, que era encontrar documentos antigos e tesouros escondidos ligados aos chamados Judeus Negros da Etiópia.

No Livro de Enoch, o profeta do Velho Testamento tem uma visão do Céu e, em desacordo com o Pergaminho do Anjo, é levado a uma visita guiada ao Céu pelo Arcanjo Rafael, que, como nos é dito, é um dos mocinhos que não se rebelaram contra Deus. No entanto, Enoch encontra os Grigori, que são descritos como gigantes guerreiros de forma humana e “guardiões do mundo”. Grigori significa “vigias” e se refere à função deles em zelar pelo mundo. Quando o curioso Enoch pergunta sobre a natureza dos Grigori, lhe contam que eles e o príncipe deles Satanael viajaram para a Terra e chegaram ao Monte Ermon ou Hermon. Diz-se que eles viram as “filhas dos homens” e as tomaram como suas esposas, como é descrito no relato do Gênesis. Em tempos romanos, o Monte Hermon era o local de um santuário ao deus com pemas de bode Pan. Ele foi construído em volta de uma caverna e uma fonte natural, que era a nascente do Rio Jordão.

No centro das lendas da Guerra no Céu, quando Lúcifer se rebelou contra Deus, foi derrotado pelo Arcanjo Miguel e expulso do Céu, e também na descida dos anjos caídos encontram-se urna diamonosofia gnóstica e uma antropogénese misteriosa. O Grande Anjo da Luz e sua corte eleita desceram e se sacrificaram ao tomarem-se matéria para ajudar a evolução psíquica e espiritual da humanidade primitiva. Os humanos primitivos estavam mergulhados profundamente na matéria. A consciência deles era ainda mais turva que a de hoje e limitada ao nivel automático e instintivo da vida animal. Atarefa dos anjos caídos era a de literalmente redimir e libertar os humanos de sua prisão material. Ensinamentos esotéricos descrevem que, quando o organismo humano eventualmente transpôs e se diferenciou de milhões de predecessores nos géneros vegetal, réptil e mamífero, ele ainda era desprovido da luz verdadeira da consciência autocompreendida. Ele ainda estava preso ao “sono” dentro das trevas do Universo material.

A revolta angelical foi um sacrifício de proporções prometéicas, no qual os anjos se encarnaram dentro da dimensão material de tempo e espaço no intuito de conduzir a semente luminosa da gnose para dentro dos seres humanos. Eles se dotaram da sua capacidade inata de realizar a divindade para conseguir a liberdade dos limites da existência material. Os anjos caídos, de acordo com a doutrina oculta, não eram malignos ou “pecaminosos”. Pelo contrário, eles eram avatares transcendentais da salvação espiritual e eventual redenção da humanidade por meio da gnose. Eles “revelaram os segredos eternos que estavam no Céu, segredos que os homens estavam se empenhando para aprender”. Os Ben Elohim, ou Filhos de Deus, eram então os portadores da iluminação divina para o dormente “Adão do Barro Vermelho”, o humano mergulhado na matéria. Eles permitiram que ele acordasse para o conhecimento de seu destino e seus poderes verdadeiros como um ser espiritual não por acidente, revelando o “Adão de Diamante” mencionado dos textos gnósticos cópticos; a essência imortal de nossa verdadeira existência, além de todos os mundos condicionais. A redenção da matéria negra (hylé) pela transmissão da LuxAngelicae ou Luz Angelical era o objetivo dos Vigias ao descer no plano terreno. Amissão deles foi planejada para levar a liberação eventual de todas as entidades e, no final, a elevação de todo o mundo para seu estado paradisíaco original.

E.W. Liddell (1994) escreveu sobre a interpretação desse mito pela quase maçônica organização Compagnons Du Tour ou os Companheiros da Torre (de Babel) na França medieval, que eram responsáveis por ajudar na construção das grandes catedrais góticas. Ele observa que eles acreditavam que “Lúcifer era considerado como o espírito que mora dentro do mecanismo humano. A Queda dos anjos foi corretamente compreendida para representar a encarnação da Divindade na carne mundana”. Explicando sobre o mito bíblico dos filhos de Deus e “as filhas dos homens”, ele diz que o mito compõe “... ainda outra tentativa de explicar o mistério por meio do qual a Divindade se tornou ligada a morte.” Como veremos mais adiante neste livro, o que foi mencionado tem uma influência em outro “filho de Deus” que encarnou na carne mundana.

É óbvio para todos, menos para aquele com baixíssima capacidade de percepção, que aqui o Grande Anjo Lúcifer, o Portador da Luz, representa uma figura típica de origem anterior ao Cristianismo, ou não-Cristã, totalmente desassociada com a personificação dualista de “mal” moral chamada de Satã pela Igreja. Até mesmo nas peças místicas medievais, nós encontramos a memória do prestígio exaltado do anjo rebelde.

Por exemplo, no círculo Chester de peças místicas, Lúcifer (sic) diz: “Nove ordens foram habilmente criadas, tu fizestes aqui de todo direito /Em tua glória o ser brilha / e eu o principal!, senhor, aqui em tua visão”. Isso se refere à supremacia dele diante das hierarquias dionisíacas embeleza, luz e conhecimento.

Para obter uma visão mais completa da intervenção angelical na evolução das espécies humanas, devemos nos dirigir para o texto original no mito enochiano em Charles (1912). Essa é a história da descida do Portador da Luz e da entrada dos anjos na matéria contada como um conto gnóstico da queda da alma na encarnação física, do cativeiro do espírito, no esquecimento da consciência profana, a transmissão do fogo de vivificação dos anjos na Terra Vermelha da Imortalidade e as origens supracelestes da civilização humana neste planeta: “E aconteceu que, quando os filhos dos homens se multiplicaram, naquele tempo nasceram entre eles belas e graciosas filhas. E os anjos, os filhos do Céu, viram-nas e cobiçaram-nas, dizendo uns aos outros: ‘Venham, vamos escolher esposas entre as filhas dos homens e gerar filhos para  nós ’. E esses eram os nomes de seus líderes: Semiazaz [Semyasa ou Azazel], o líder deles, Arakiba, Rameel, Kokabiel, Tamil, Ramiel, Danei, Ezeqeel, Baraqijal, Asael, Armaros, Batarel, Ananel, Zaqiel, Samsapeel, Satarel, Turel, Jomjael, Sarei.”

Novamente, as consequências dessa miscigenação divina entre as esferas dos anjos e dos mortais levaram ao nascimento dos Nephilim, os gigantes da Terra antiga, pois as “filhas dos homens” “ficaram grávidas e deram à luz gigantes enormes, cuja altura era de 3 mil varas”. Após isso, os anjos então introduziram gradualmente uma variedade de conhecimentos mágicos em seus filhos e esposas, supondo que a prática de poderes mágicos é uma herança própria do reino angelical, um legado dos “eternos segredos que estavam no Céu”.

Citando mais uma vez do Livro de Enoch: “E Azazel ensinou os homens a fazer espadas e facas, escudos e peitorais, e introduziu a eles os metais [da terra] e a arte de trabalhá-los, braceletes e ornamentos, o uso de antimonio [um elemento metálico delicado de cor branca prateada usado para fazer ligas], a ornamentação das pálpebras [com cosméticos], e todos os gostos de pedras preciosas, e todas as tinturas colorantes - Semjaza ensinou feitiços e mudas de raiz; Armaros, a resolução de feitiços [contra-magia]; Baraqijal, Astrologia; Kokabiel, as constelações; Ezeqeel, o conhecimento das nuvens [doutrina do clima]; Araqiel, os sinais da terra [geomancia]; Shamsiel, os sinais do Sol; e Sariel, o curso da Lua. ”

Há uma estrutura planetária claramente evidente nessa descrição dos anjos educadores. Azazel, o primeiro artesão de metais (cuja aparência mais recente é Tubalcaim, o primeiro ferreiro na Bíblia) e feiticeiro, que trabalhava com fogo, era associado com Marte (Madim) na tradição rabínica. Ele era o deus babilónico do fogo infernal e o Sol do mundo subterrâneo, Nergal. Juntamente com seus seguidores de Seirim satíricos, ou “Peludos” na demonologia judaica, ele também representa uma forma de Uz, divindade acadiana com chifres de bode. Semjaza, um nome alternativo para Azazel, mas tratado pelo Livro de Enoch como um anjo distinto, é o Senhor Luciferiano dos Feitiços. Ele se correlaciona com Vênus (Nogah) como a Estrela da Manhã, que era conhecida como Helel ben Shanar pelos os hebreus e se relaciona com a “Rainha dos Céus”, Ishtar. Baraqijal, aquele que ensina Astrologia, conecta-se com a esfera de Mazloth dos Caelum Stellatum e Kokabiel, que ensina a sabedoria das constelações, evidentemente vem do termo Kokab ou “luz estrelar”. Isso se refere em hebraico ao planeta Mercúrio, que por sua vez se compara ao escriba divino Nebo ou Nebu, “orador”, que escreveu os sinais dos céus no Shitir Shame ou Livro dos Deuses.

Araqiel, o instrutor em “os sinais da terra”, provavelmente corresponde a Shabbathai ou Saturno, de Sator, que significa “semear”, como o principal deus da Agricultura, Horticultura e Pecuária. O profeta Amos do Velho Testamento chama-o de “a estrela do deus Renta”, referindo-se a Renta, o termo egipcio para Saturno. Ezeqeel, que revela “o conhecimento das nuvens”, corresponde ao Rei dos Céus, Júpiter (Tzedek) ou o assírio Marduk. Shamsiel, cujo ramo de conhecimento é os mistérios solares, obviamente corresponde à esfera do Sol (Shemesh) e talvez seja derivado do grande Deus Sol dos babilonios, Shamash. Sariel, que instrui os humanos nos mistérios lunares, é o soberano da esfera lunar (Levenah) e pode ser urna forma do deus mesopotámico Zin ou Sin.

Mais tarde, na tradição mágica medieval e cabalística, os anjos planetários foram chamados de Miguel (Sol), Gabriel (Lúa), Rafael (Mercúrio), Samael (Marte), Sachiel (Júpiter) e Cassiel (Saturno). Na magia mais contemporánea, como novos planetas foram descobertos, outros anjos foram adicionados à lista. Esses são Uriel (Urano), Asariel (Netuno) e Azrael (Plutão).

No mito angelical dos Yazidis, que nós examinamos no Capítulo I, o Grande Anjo Melek Taus (o Rei Pavão) é relacionado com Azazel ou Azazil. Ele é descrito como uma Serpente Negra, a serpente primeira da sabedoria no Jardim do Éden. Seu outro epíteto divino é Lasifarus, a forma curda do Portador da Luz. Suas ligações com Marte são resumidas em seu pseudônimo hebraico, como anjo de Marte Zamael ou Samael, que também é identificado com a serpente edênica. Isso pode derivar do conceito egípcio do planeta Marte, como Rá Horakhty ou “Hórus Vermelho”, e se liga aos mistérios antediluvianos dos Servos ou Seguidores de Hórus. Eles eram a linhagem divina dos Shesu-Hor,8 que governaram o Egito pré-dinástico antes dos soberanos mortais.

Um importante ponto de comparação na compreensão do significado essencialmente gnóstico do mito enochiano do Vigia como a descida da alma para a matéria é oferecido pela antropogenia mística do tratado alexandrino do século I d.C. intitulado Poimandres, que é o Libellus I da coletânea hermética completa de textos místicos. Ele tem uma visão surpreendentemente vibrante da descida do Homem Divino para o reino de natureza material e fornece muitos pontos profundos de coerência, como urna chave para o mistério dos Vigias. O primeiro homem (Anthropos), sendo da espécie do Espirito ou Mente Divina, foi um ser imortal de vida (Zoé) e luz (Phos), o Humano de Essência Eterna. No relato hermético, estimulado pelo impulso criativo, o Anthropos divino descendia da mais alta esfera de Espírito/Mente. Ele irrompeu o circuito estelar e o planetário e, ao observar o dominio terrestre da matéria (Hylé), foi seduzido pela beleza meditativa da natureza (Physis). “Amor Insaciável” atraiu o Humano Divino para a Mulher Escura da natureza que, “quando apanhou aquele por quem ela era apaixonada, o envolveu em seu abraço e eles se tornaram um; pois estavam apaixonados”.

Desde então, diz o texto hermético, do Anthropos: “Ele é imortal e tem todas as coisas em seu poder; mesmo assim ele sofre a sina de um mortal, ao estar sujeito ao destino.” Nesse sentido, como entendido pelos filósofos do mundo clássico, destino ou Parcas eram as deusas supremas que controlavam os assuntos humanos. Na “descida para a matéria”, o Anthropos entrou no domínio condicional de criação e dissolução da causalidade, o reino inexorável do Tempo sobre as coisas mortais, como representado pelo domínio inevitável dos corpos luminosos zodiacais e planetários, os “Sete Administradores”, adotando dimensão material como moradia.

Dessa união do espírito com a matéria, os “sete humanos”, correspondendo aos governantes planetários, se originaram. Então a vida (Zoe) do Humano Divino tomou-se a psique, a luz (Phos) tomou-se evidente na Mente (Espírito) de humanos encamados. O estudioso renascentista dr. Francés A. Yates comentou com grande discernimento sobre a descida: “A queda do homem hermético é mais parecida com a queda de Lúcifer que com a queda de Adão” (1969:27). Na descrição de Trismegisto sobre a queda da luz divina (Phos) para a matéria, talvez seja útil lembrar que o termo grego Phosporos é equivalente ao termo latino “Lucifer” e, como um epíteto da Estrela da Manhã, significa o “portador da luz”. O ocultista e membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada,9 do século XIX, Arthur Edward Waite, ao se referir aos entalhes no Arco de Constantino, comenta sobre a representação jovial de “umAnjo, segurando urna tocha e supostamente representando a Estrela da Manhã ou Lúcifer, emergindo das nuvens - representadas por um véu em volta dele (...) De um ponto de vista maçônico, o símbolo em seu significado perfeito é o surgimento da luz vitoriosa.

O caminho para a iniciação suprema nos Mistérios Herméticos é a ascensão gnóstica do iniciado liberto por meio das esferas, livrando-se das influências impuras do dominio material no retomo ao estado primário de autoluminosidade do Ser Divino: “Se, então, sendo feito de Vida e Luz, você aprender que é feito delas, você voltará para a Vida e Luz”. O problema existencial da humanidade “caída” é definido nos termos da ignorância da nossa verdade, da natureza que não tem início e é imortal, da identificação errada e confusa com o mundo provisório de aparências materiais, da conseqüente limitação, amnésia e sofrimento sentido nele. A chave para a libertação e “regeneração” mística encontra-se interiormente, por meio da compreensão de nossa essência pura, no domínio da gnose ou conhecimento transcendental.

Com isso, existe uma antiga e difundida ligação entre luminosidade e a semente humana na tradição esotérica ocidental, a descida da “semente luminosa do Céu” pode marcar a transmissão do espírito nas trevas fenomenais da natureza material. No entanto, a tradição esotérica ensina-nos que, mesmo no nosso estado de “caídos”, a humanidade não está sozinha. Pois Adão é “admitido na sociedade dos Sete Governadores [regentes angelicais planetários] que o amam e transmitem a ele seus poderes.” Na verdade, Adão é “mais que humano; ele é divino e integrante da raça dos demônios estrelas, os divinamente criados governantes do reino dos mortos. Dizem até que ele é ‘irmão ’ do criativo Criador do Mundo - ‘Filho de Deus’, o ‘segundo deus’que move as estrelas.” (Yates, 1969:27)

Se levarmos em conta as raízes indo-iranianas da Angelologia no culto dos Yazatas e no conceito de Xvarenah, o nimbo iluminado de soberania mágica divinamente lançada, alguns aspectos da doutrina mágica a respeito da redenção do “Homem da Luz” poderão ajudar nossa compreensão da Hermética Luciferiana embutida na gnose dos anjos caídos. Na Pérsia antiga, aquele que se iniciava na magia se esforçava para atingir o estado de “purificação luminosa” ou “separação” (apecakih) da Essência Iluminada de Xvarenah, o Farr I Yazdan, do estado de consciência do corpo profano.

Quando está em transfiguração suprema, a “Grande Luz surge como se estivesse saindo do corpo, e brilhará continuamente sobre a Terra”. Isso foi resumido pelo estado mental espiritual chamado de maga na língua dos medos. Essa é a raiz da palavra grega magos e da latina magus, que significam mágico. Nesse estado mental, a essência espiritual (menok) separa-se do corpo físico e assume a natureza dos Amesha-Spenta, os arcangélicos “Imortais Bondosos”. Na gnose elevada, chamada de maga, o mago vive e trabalha no nível arcangélico. Ele ou ela literalmente tomase um arcanjo e tem como característica um poder mágico milagroso (xshathra), uma visão-consciência onisciente (cisti, o cognato da palavra sánscrita Cit ou “pura consciência”) e a compreensão da liberdade soberana e incondicional da “vontade pura” (axvapecak), tendo conseguido a transfiguração mística (frashkart) para o “’Corpo Perfeito de Luz”.

É com interesse histórico que notamos a difusão dos ensinamentos mágicos relativos à Xvarenah, aos Amesha-Spentas e ao Homem da Luz em direção ao Ocidente para formar o núcleo central da Angelologia hermética, a magia divina do Ocidente. Eles também se espalharam simultaneamente do Oriente, do antigo Império Persa, até as regiões além do Himalaia. Ali eles permearam os cultos Xamânicos lamaicos pré-budistas no Tibete, Butão e Nepal, chamados de Bon, com a adoração deles por gShen-lha-od-dkar (o Deus Shen da Luz Branca) e a veneração das Divindades Iluminadas (Lha). Eles também formaram alguns conceitos centrais em relação à Bodhicitta nas ações mágicas do “Veículo do Raio” ou o tantra budista de Vajrayana. Traços de influência de Yazatas nas regiões do Himalaia são identificados pelo fato de alguns textos do culto Bon parecerem na verdade ser traduções de originais persas.

Para voltar ao mito gnóstico hermético da “queda” da semente luminosa Luciferiana da sabedoria perfeita ou Luz Angelical (Lux Angelicae) nas condições encamadas de existência material e de sua liberação final, veremos que existem certas correntes do esoterismo dos Yazidis, indo- iranianos e greco-romanos que tratam desse enigma.

O primeiro versículo do Livro Negro dos Yazidis descreve como, na criação, “...Deus criou a Pérola Branca de Sua mais preciosa essência, e criou um pássaro chamado de Anphar. Ele colocou a Pérola nas costas dele e ali ela ficou por quarenta mil anos.” (Furlani, 1975:9) Da mesma forma, o “fogo divino” seminal do misticismo iraniano, a Xvarenah, foi transportado ao xá terrestre, quando ele foi investido no trono do pavão pelo Varaghna, uma variante do milagroso pássaro chamado saena ou simurgh. É importante notar que, nas tradições Sufistas indo-persas, o simurgh se tomou símbolo do “mais alto elemento divinamente espiritual no homem” e foi importante nas formas artísticas indianas durante o século XVII. Também relacionado com esse conjunto mágico, está o Falcão Branco dos círculos místicos dos Yaresan, que traz a semente luminosa real para a Terra no intuito de inseminar a virgem mortal Dayerak e o pássaro sagrado Anqa da Arábia, cuja moradia é na montanha coroada de esmeralda, o Pico de Kaf.

Todos esses pássaros sagrados, portadores celestiais da semente cósmica do Senhor da Luz, são espécies da fênix original ou pássaro Bennu dos mistérios antigos egípcios. O Papiro deNebseni fala a respeito dele: “Eu apareço como o pássaro Bennu, a Estrela da Manhã de Rá (o deus sol)”. Esse pássaro lendário ou era uma garça ou um grou e pode ser comparado ao lendário pássaro gigante árabe chamado de a Roca, que foi mencionada em As mil e uma noites e Sindba, O Marujo. Nos hieróglifos egípcios, a Fênix podería representar o Akh, como um sinal de transformação mágica, os Akhu sendo os Iluminados ou Imortais que vivem além das estrelas circumpolares dos céus do norte. AFênix- Akh simboliza um conceito ligado aos Fravashi persas, a “superalma” ou natureza angelical e espiritual dos seres humanos. No ensinamento egípcio hermético, a Fênix voou na aurora do Tempo de uma Ilha do Fogo além dos céus trazendo para baixo o nume mágico (Hike) nos círculos de tempo-espaço terrestres. O historiador, viajante e também escritor grego Heródoto registrou que a fênix supostamente aparecería em Heliópolis a cada quinhentos anos e veio da Arábia. Mitológicamente, ela veio “¿/o lugar da luz eterna além dos limites do mundo, onde os Deuses nasceram ou despertaram-se e de onde eles foram lançados para o mundo”. Ela representava Osíris e o Logos, ou Palavra de Deus, que servia como mediadora entre a Mente Divina e a criação. (Buaval e Gilbert, 1994: 197-200)

Essa é a semente divina de Luz identificada com a meteórica Ben- Ben, a pedra piramidal dourada preservada no complexo de templos de Heliópolis na Mansão da Fênix que dizem ter caído do céu, em uma época remota. Na verdade, ela era chamada de “a pedra que caiu do sol”. Tais pedras meteóricas eram consideradas presentes dos deuses das estrelas em tempos antigos. Benu ou Bennu veio do radical egípcio “ben” e era associada à relação sexual, fertilização e semeadura. Por isso, a palavra egípcia Bn significa “semear, inseminar”, a palavra Weben, “brilhar”, e a palavra hebraica lingüisticamente relacionada Ben, “progênie, semente, filho”, uma nuance sutil que está provavelmente presente no nome oficial dos anjos caídos. Eles são chamados de Bene-ha-Elohim ou Filhos de Deus, a adamantina “semente dos Deuses”, como Elohim em hebraico é pluralista. A descida daquela essência divina é a história esquecida da encarnação da alma na matéria.


Luciferianismo - As Origens da Angelologia



As origens da Angelologia hebraica e dos cultos mágicos de adoração aos anjos no Oriente Médio revelam uma formação complexa de influências culturais persa iranianas, egípcias, canaanitas e greco-romanas. Elas influenciaram o mundo religioso semita por canais históricos específicos. Na atual teologia Cristã, o papel das hierarquias angelicais é praticamente esquecido. Apesar de sua presença constante por toda a arte ocidental e iconografia religiosa, elas não são mais consideradas de grande importância teológica. No movimento moderno da Nova Era, a existência de forças angelicais é admitida, mas apenas como figuras puras que pouco retratam o poder e a importância real dos anjos. E chegado o momento de reexaminar e restabelecer os antigos ensinamentos a respeito dessas sublimes entidades espirituais dentro do contexto da tradição oculta ocidental. Para que a real importância delas na prática da Alta Magia - a “arte divina” do mago - possa novamente ser evocada tanto experimentalmente quanto teoricamente. 

A Alta Magia dos anjos sintetiza um acervo considerável de conhecimento esotérico, ou gnose, que esclarece tanto sobre o passado misterioso da raça humana quanto sobre os potenciais místicos do nosso futuro, propagando indícios das potencialidades miraculosas que são manifestados nos mais altos níveis da consciência espiritual. As potencias angelicais são as emanações mais antigas da Mente Divina, literalmente mensageiros da vontade celestial e encarnações divinas de sabedoria transcendental. Por esse motivo, a invocação dos anjos da luz pertence adequadamente ao mais alto nível de prática mágica, que é o campo da teurgia (“Obra de Deus”) ou magia supercelestial. Antes de tentar interagir com as potências angelicais, seria desejável primeiro ter um panorama claro da origem histórica dessa tradição e as diferentes correntes das crenças tradicionais da sabedoria antiga que a alimentaram no passar dos milênios. Dessa maneira, um domínio sólido dos conceitos fundamentais da Angelologia esotérica poderá ser alcançado.

No Egito dos Faraós, nós encontramos referência à classe de emissários divinos chamados de Urshu, ou “Vigias”, um termo que, como veremos, é de grande significância, e à raça pré-dinástica de semideuses chamados de os Seguidores de Hórus. Eles supostamente reinaram por milhares de anos antes do primeiro rei mortal. Lewis Spence, em seu livro Myths andLegends o/Egypt (1915), coloca-os junto dos Ashemu, dos Henmemet, dos Utennu e dos Afa como “seres que poderiam ser adequadamente descritos como angelicais”. Os Shemsu-Heru2 eram imaginados como criadores da comitiva celestial do deus Elórus na chamada Primeira Era antes do início da História. Os Akhu, ou “Os Exaltados”, que habitam de forma oculta as “estrelas incessantes” do Pólo, estão estreitamente ligados à ordem mística dos Shemsu-Heru. Suas doutrinas de mistérios ancestrais provavelmente formam as bases dos níveis mais profundos da Angelologia aramaica.

Na mitologia do Egito Antigo, a Primeira Era, ou “Era dos Deuses”, ocorreu quando a civilização foi estabelecida pela primeira vez no delta do Nilo. Textos escritos em hieróglifos nas paredes do templo de Edfu, entre Luxor e Assuã, referem-se à Primeira Era e aos Deuses Antigos, que foram os civilizadores e serviram como modelos culturais para os primeiros humanos primitivos neste planeta. Os textos mencionam explícitamente os Sete Sábios ou sete deuses (os sete arcanjos?) que foram responsáveis por erguer os primeiros templos e, particularmente, o templo principal conhecido como a “Casa de Deus”. Conta-se que originalmente os sete Deuses Antigos vieram de uma ilha conhecida apenas como “a terra natal dos Antigos”, que havia sido destruída em uma enchente. Esses seres eram conhecidos por diversos nomes, como os “deuses construtores”, “os Séniores ou Antigos” e os “Senhores da Luz”. A função primordial deles parece ter sido a de guardiões do conhecimento antigo do passado distante e sua transmissão para as gerações do presente e do futuro. (Bauval e Hancock, 1996:198-202)

Algumas tradições ocultas também alegam que as primeiras deusas e deuses do Egito dinástico eram visitantes de uma ilha destruída por um cataclisma. Muitos ocultistas consideram que essa ilha seja a mesma que o lendário continente perdido da Atlântida, cuja existência ainda é intensamente debatida. Dizem que as primeiras divindades, Osíris e ísis, governaram o Egito antigo em forma humana e trouxeram com eles os elementos da civilização, inclusive a agricultura. De acordo com os registros de Hermes Trismegisto, datados entre os séculos I a III, o casal divino “trouxe a divina religião à humanidade e parou com a selvageria da matança mútua. Eles estabeleceram ritos de adoração em concordância com os poderes sagrados do céu e tornaram-se legisladores da humanidade.,, (Freke e Gandy, 1997:88). Dizem que o mago e escriba da corte deles, Thoth, o deus da sabedoria, com cabeça de íbis, introduziu a Escrita, a Matemática, o Registro do Tempo e a Astronomia aos Egípcios.

Essa tradição foi ensinada dentro do grupo conhecido como a Ordem da Estrela da Manhã, fundada pela falecida astróloga, taróloga e maga Madeline Montalban nos anos de 1950. Esse grupo era baseado em uma mistura de mito egípcio, magia angelical medieval e filosofia Luciferiana.

Montalban ensinava aos seus alunos que os deuses egípcios eram formas adotadas pelos anjos educadores ou regentes planetários que ocasionalmente se materializavam na Terra para ajudar a evolução física e espiritual da raça humana. Longe de ser uma forma primitiva e atávica de adoração, a representação das divindades egípcias com cabeças de animais era uma ferramenta de ensino usada pelos sacerdotes do templo para explicar as características e atributos de cada um dos deuses. Por exemplo, o íbis passa sua vida nos banhados do rio procurando comida com seu longo bico. Isso simbolizava o ato de coletar e organizar os fragmentos de sabedoria e conhecimento por Thoth. Da mesma forma, o chacal vagava por entre as tumbas na busca de comida, e Anúbis, com máscara de chacal, era o deus que guiava os mortos para o mundo subterrâneo.

Em Abidos, o deus Osíris era venerado como o líder dos Sete Sábios ou Sete Construtores. Cada um deles ostentava em suas coroas o símbolo de uraeus ou cobra egípcia pronta para dar o bote. Isso representava o fogo cósmico trazido dos céus para a terra pelos Deuses Antigos. Osíris é associado tanto com o arcanjo solar Miguel quanto com o deus persa do fogo e da luz Ormuzd. Na tradição Luciferiana, no entanto, Osíris é um dos avatares do arcanjo conhecido como o Portador da Luz, que, como Azazel, liderou a rebelião dos anj os caídos ou Vigias durante a guerra no Céu.

Apesar de nossas tradições de magia sobre seres angelicais terem suas origens principalmente nas Escrituras hebraicas, como nós veremos freqüentemente em referências neste livro, tem sido amplamente admitido o fato de que a tradição judaica em relação a essas entidades foi muito expandida e enriquecida durante e após o período de cativeiro na Babilônia. Isso ocorreu quando eles foram apresentados às complexas magias astrológicas e estrelares da antiga Mesopotâmia. Quando Ciro, o Aquemênida, o xá da Pérsia, acabou com o exílio dos judeus na Babilônia, a religião hebraica começou a assimilar muitas características da espiritualidade dos Magos do Irã. O conhecimento da maioria das pessoas sobre os magos provém de breves referências no Novo Testamento aos três homens sábios ou astrólogos que visitaram e prestaram homenagens ao menino Jesus. Eles são às vezes descritos como os Três Magos e dizem que eles seguiram “a estrela no oriente” a partir da Pérsia (atualmente Irã).

No Primeiro Evangelho apócrifo sobre a infancia de Jesus Cristo, um dos muitos textos excluidos da Biblia, é dito que os três homens sábios vieram a Jerusalém à procura de Jesus por causa da profecia dita pelo adorador do fogo Zoroastro sobre o nascimento de um novo messias. O Evangelho também menciona que, após terem feito suas ofertas ao menino, os magos, de acordo com o costume no país deles, fizeram um fogo e o adoraram. Eles então fizeram uma oferta sacrificatoria das faixas que envolviam o menino ao fogo que eles criaram (3:6-7). Essas ofertas provam que os três homens sábios eram magos ou seguidores do Zoroastrismo, ou até uma forma mais antiga de adoração do fogo persa. Outra tradição alega que eles eram Cainitas, ou “povo do fogo” descendente de Caim do Velho Testamento.

O conceito judaico de arcanjos, em particular, passou por um florescimento radical durante os anos pós-exílio, ao passo que os sábios hebreus absorviam as antigas idéias Mazdeístas dos magos. Essas idéias diziam respeito aos seres divinos conhecidos como Amesha-Spenta, os “Imortais Beneficentes” e os emissários celestiais chamados de Yazatas nas tradições persas, parecidos com os Yajata da índia. Nos Amesha- Spenta, podemos compreender as divindades antigas do panteão indo- iraniano, os símbolos divinos que exerceram uma influência profunda sobre o desenvolvimento da Angelologia Judaica. Até mesmo os nomes hebraicos dos arcanjos, como Gabriel (“Poder de Deus”) e Rafael (“Cura de Deus”), são originados dos padrões formalistas iranianos que descrevem as diversas emanações da Divindade Suprema. Eles mostram grandes afinidades com os “Imortais Beneficentes”, cujo culto predominou em todo o Império Persa aproximadamente mil anos antes da era comum.

Reformas Zoroastristas reinterpretaram os deuses e as deusas da Pérsia por meio de linhas místico-filosóficas, dando origem à visão dos Amesha-Spenta, os arcanjos da religião Mazdeísta. O anjo hebraico reuniu a crença persa dos “Imortais Beneficentes” com as divindades planetárias e astrológicas que eles encontraram nas culturas assírias e babilónicas, uma fusão que deu origem à única Angelologia judaica, com seus aspectos simbólicos complexos e suas classificações cosmológicas.

A sequência canônica dos Amesha-Spenta dada na literatura Zoroastrista claramente provém do antigo panteão mago. Em sua ordem correta, eles estão listados como: 1) Vohu Manah - “Boa mente”, também chamado de Bahman, que imperava sobre o gado e os animais domésticos, um ser com ressonâncias mitraístas. 2) Asha-Vasishta - “Verdade Suprema ou Arbidihast, a personificação do fogo, e Rta, a ordem cósmica ou a divina “disposição do Universo”. Também ligada à figura indiana de Vasoshtha, um dos Sete Rishis (grandes espíritos) da constelação Ursa Maior. 3) Xsathra Vairya- “Primoroso Domínio”, ou Shariver, o senhor dos metais e da casta de guerreiros. 4) Spenta-Armaiti - “Pensamento Benigno”, ou Sipendarmith, o anjo feminino da Terra, a quem o escritor clássico Plutarco identificou como Sophia ou “sabedoria”. 5) Haurvatat - “Perfeição, Thothalidade”, ou Khordadh, a personificação das águas salutares ligada às divindades aquáticas femininas dos indo-iranianos. 6) Amirita- “Imortalidade”, ou Mourdad, que tem domínio sobre as plantas, especialmente a ambrosia, e imortalidade obtida do fermento da planta mística haoma, a também conhecida “erva branca do paraíso”. Esses “Imortais Beneficentes” representam as emanações hipostáticas da divindade suprema Ahura-Mazda sobre os diversos níveis da realidade cósmica, do reino empíreo do fogo cósmico até os elementos da terra, água e vegetação. Eles são os emissários elevados e onipotentes da Mente e da Vontade Divina.

Associados a esses seres, e os próximos em precedência a eles na hierarquia espiritual, estavam os Yazatas, que eram o alvo das oferendas ritualísticas no período mais remoto das culturas persa-iranianas. Eles eram anjos cuja presença permeou toda a criação, sendo agradados com oferendas de fogo sacrificatorio por toda a Pérsia. O principal deles era Ahura-Mazda, o primeiro Yazata Celestial. A Yazata da Terra é Zamyat, comparável com a deusa russo-eslava Mati Syra Zemlja, ou “Mãe Terra Úmida”. Na Terra, o mago iniciado era respeitado como um Yazata Terrestre, e o mais notável entre estes era o próprio Zoroastro. O Yazata Mercurial, chamado de Tir, tomou-se mais tarde o-anjo hebraico Tiriel na Angelologia de Israel.

A influência dos magos sobre as culturas do Oriente Médio e suas Angelologias foi difundida muito além do que apenas aos hebreus. Os adoradores de anjos sabeus (do egípcio “S’ba”, que significa “deus estrelar” ou “professor estrelar”) e os Yazidis também ficaram profundamente gratos às filosofias místicas da Pérsia. Yazidi, nome comum do povo tribal indígena no Curdistão (norte do Iraque), na Síria e no sul da Rússia, deriva da palavra Yazd, ou “anjo”, derivada da palavra persa Yazata. Yazidi significa literalmente “o Povo do Anjo”, especificamente MelekEl Kout, “O Grande Anjo”. O mito deles de fundação tribal descreve uma genealogia que se origina nos anjos caídos que se casaram com o gênero humano, e a religião deles é quase que totalmente dedicada à veneração desses seres espirituais celestiais.

Yazid é o nome do primeiro da linhagem deles, o lendário fundador da religião Yazidi, e é associado com o próprio Poder Divino. Um significado alternativo de Yazid é Azed, ou Deus, enquanto Yazed equivale ao Diabo. (Chumbley, 1995:76). De acordo com a escritura Yazídica, chamada de O Livro Negro, os setes xeques da religião deles eram encarnações dos arcanjos criados e enviados ao Universo por Deus. Sabeu parece ter sido um termo geral usado pelo Islã para descrever Hermetistas árabes não-muçulmanos e adoradores de anjos da antiga cidade de Harã na Mesopotâmia, as civilizações pagãs de Sabá, a terra bíblica de Sabá, na parte sul da Arábia, e os centros antigos e cheios de templos das grandes religiões estelares na Ásia, cujas chamas sagradas estiveram a serviço dos sacerdotes-magos do reino por várias eras.

Os Yazidis têm um histórico longo de perseguição por Muçulmanos ortodoxos, que dizem que eles são heréticos e adoradores do Diabo. Eles afirmam que o fundador da tribo foi Yezid ou Yazid ben Muquiya, um homem santo que se recusou a aceitar os ensinamentos de Maomé e se afastou para fundar sua própria seita islâmica herética. Outra teoria declara que os Yazidis são uma ramificação da herética seita Cristã conhecida como os Nestorianos, que se desprenderam da Igreja Católica Romana em seus primordios. No Nestorianismo, existiam dois Cristos: “um humano e um divino”, e, por causa desse doutrinamento blasfemo, eles foram expulsos de Bizâncio (Istambul) no século V d.C. Missionários Nestorianos viajaram para o Oriente e, por volta do século VII, eles haviam chegado à índia e à China, onde fixaram comunidades religiosas.

A tradição Cristã Nestoriana herética incorporou o uso da doutrina mágica, que supostamente foi dada a Adão pelos anjos e transmitida ao Rei Salomão. Acredita-se que hoje existam por volta de 10 mil Cristãos Nestorianos vivendo em campos de refugiados sírios perto da fronteira com o Iraque. Seus vizinhos próximos são os 2 mil Yazidis que fugiram da perseguição dos iraquianos no Curdistâo após a Guerra do Golfo. Dizem que os sacerdotes Nestorianos e Yazidis compartilham os dias de festividades entre si. (Dalrymple, 1997:140)

Especialistas ocidentais em religiões do Oriente Médio acreditam que a Pérsia antiga foi a origem das crenças dos Yazidis, porque as práticas e doutrinas da seita possuem elementos do Zoroastrismo. Eles também conservaram, ou adotaram, práticas que antecedem ao Islamismo, como a adoração do Sol e da Lua, a reverência de poços sagrados e a santidade de pedras e árvores. Eles acreditam que a água de um poço sagrado tem poderes mágicos de cura e purificação. Arvores e pedras também eram consultadas como oráculos, pois eles acreditavam que espíritos habitavam nelas.

Como vimos, conexões foram estabelecidas entre os antigos adoradores de estrelas sabeus, que dizem ter suas origens em Noé e Abraão de Ur, e os Yazidis. Os sabeus eram profundamente envolvidos com a crença estrelar e veneravam os anjos que governavam os sete planetas clássicos. Uma crença em especial dos sabeus pode ter influenciado tanto a Angelologia dos Yazidis quanto a dos hebreus; eles acreditavam que o Criador era um em essência, mas que se manifestava em várias formas. Ele habitava em cada um dos sete planetas e era representado por um arcanjo. Pelo fato de o corpo humano, em seu estado de perfeição, ser considerado um templo para o espírito, eles acreditavam que a força divina podería ser encontrada nos corações dos bons. Eles também acreditavam que o Deus do Universo, o Ser Supremo, era inteiramente bom. O Mal para eles foi um acidente cósmico que corrompeu a humanidade. Diferentemente de esquemas dualistas de fé e crenças que surgiram depois, eles não acreditavam que o mal era um princípio distinto, separado do Ente Supremo, agindo constantemente em oposição a ele.

Escrevendo sobre as crenças dos Yazidis na atualidade, o escritor viajante William Dalrymple as descreveu como: “Uma religião rara e esotérica, provavelmente uma ramificação de alguma seita herética Cristã Gnóstico ou Muçulmana. Os Yazidis acreditam que Lúcifer [sic], tendo apagado as chamas do Inferno com as lágrimas de sua penitência, foi perdoado por Deus e empossado novamente como Anjo Comandante. Agora conhecido com Melek Taus, o anjo-pavão, supervisiona a rotação diária do mundo” (1997: 463). Isya Joseph, escrevendo aproximadamente 80 anos antes, disse: “A religião atual dos Yazidis é um sincretismo que as religiões Muçulmanas, Cristas (mais heréticas do que ortodoxas), pagãs e quem sabe até as persas ajudaram a construir. ”(1919:21)

Os Yazidis ganharam consistência social e religiosa como um grupo organizado e estruturado apenas no século XII, sob a direção e o controle do xeque Adi ben Musafir, um famoso mestre Sufi. Eles então se tomaram “o povo do Livro” porque, à parte de aceitar uma estrutura islâmica, o Xeque alegou que havia recebido o texto de um livro sagrado chamado de Kilab al Giwah diretamente do próprio anjo-pavão. No entanto, os Yazidis sempre conseguiram sobreviver apesar da perseguição religiosa porque sempre aceitaram a conversão para as crenças ortodoxas dos países em que viveram. Apesar dessa aparente obediência ao Cristianismo e ao Islamismo, “a essência da fé deles é secreta e, quando livre dessas aparências que escondem essa essência, ela compartilha da gnose transmitida por uma fonte anterior ao ponto de vista histórico”. (Chumbley, 1995:76)

Os Yazidis acreditam que o Ser Supremo, o Criador Cósmico ou Deus do Universo, passou o trabalho de criar a vida na Terra aos sete deuses menores ou anjos. De acordo com a crença deles, Deus pode ter se eximido da tarefa de criação ou ido embora para criar novos universos. Deus, para eles, é um ser transcendental que tem pouco ou nada a ver com a humanidade. De acordo com eles, aquele que governa a nossa parte do Universo é Melek Taus ou Azazel, o Anjo-Pavão, que é o Senhor do Mundo. Ele é a fonte da revelação divina, o controlador da vida e da morte e o líder dos outros anjos que controlam os sete planetas. Embora o principal objeto de adoração deles seja Melek Taus e as sete potências angelicais, eles também veneram seu lendário fimdador Yazid, xeque Adi e diversos santos Sufis. Entre os últimos, podemos encontrar o mártir Sufi Al Hallaj, do século XII, que foi crucificado por heresia. Al Hallaj disse que seguia uma doutrina esotérica que podería ser ligada diretamente ao deus grego Hermes, a Pitágoras e aos magos Zoroastristas.

Os Yazidis também têm uma lenda acerca do Dilúvio, como descrito no Velho Testamento. Na verdade, eles reivindicam descendência de Noé e, portanto, da linhagem de Caim, que se origina nos anjos caídos. Melek Taus é descrito na mitologia Yazidi como aquele que desobedeceu a Deus por se recusar a adorar Adão. Na versão Cristã desse mito em particular,

Lúcifer é aquele que se recusa a curvar-se perante a criação de Deus. Ele questiona a Deus: “Por que você me força? Eu não vou adorar alguém que é mais novo do que eu. Eu sou mais velho que ele. Ele é que deve me adorarF\ (Pagels, 1995:49) No entanto, Miguel curva-se perante a criação de Deus, e Lúcifer é expulso do Céu pelo seu ato de rebeldia. Na versão Yazidi, o Anjo-Pavão diz que adorará a Deus, mas não à sua criação.

Os Yazidis também possuem uma história diferente de Adão e Eva. Na versão deles, o Arcanjo Gabriel criou Eva a partir da omoplata de Adão, ou de sua axila. No início, tudo estava bem, mas o primeiro homem e a primeira mulher começaram a discutir sobre quem seria o progenitor da raça humana. Adão depositou seu sêmen em um vaso de cerâmica e Eva colocou parte de sua menstruação em outro. Eles fecharam os vasos e esperaram por nove meses. Quando eles abriram os vasos, aquele que pertencia a Eva tinha apenas pó e vermes em putrefação. No entanto, o vaso de Adão tinha bebês gêmeos, homem e mulher, que foram os ancestrais dos Yazidis.

Após essa experimentação em nascimento de proveta, Adão e Eva tiveram uma relação sexual e mais dois bebês, homem e mulher, que foram os primeiros ancestrais dos cristãos e dos judeus. Melek Taus então desceu à Terra e, enquanto a raça humana crescia em número, ele nomeou seus próprios reis ungidos para governar os Yazidis. Esses reis foram os detentores antigos do trono e da coroa do pavão. Aúltima pessoa a ser coroada no trono do pavão foi o xá da Pérsia, antes de ele ser destronado em um golpe islâmico na década de 1980.

A tradição Sufi tem um mito que diz que, quando a Luz foi criada e contemplada pela primeira vez, tinha forma de um pavão. O pássaro é, portanto, um símbolo da “Beleza da Majestade Divina”. É “um símbolo dos processos alquímicos de transmutação e os estágios de desenvolvimento na consciência daquele que procura. As “cores do arco-íris em cada pena simbolizam as kalas ou cores dos raios da corrente mágica”. (Chumbley, 1995:72-73)

Nos rituais dos Yazidis, o Melek Taus é representado pela imagem de um pavão. Ela é afixada no topo de um castiçal com sete braços chamado de sanjak. Ele pode ser facilmente desmontado quando não está sendo usado e colocado em uma bolsa para transporte. Quando montado para uso ritual, vários jarros de água são colocados perto dele. A água nos jarros supostamente irá ficar “energizada” por esse contato próximo com a imagem do Anjo-Pavão. Durante as cerimônias, essa água é tomada pelos doentes e idosos, pois eles acreditam que ela tem poderes curativos.

Outra prática ritual importante para os Yazidis é adorar o Sol nascente a cada manhã e orar para a Estrela Polar. Em seu romance A Sacerdotisa do Mar, a ocultista Dion Fortune descreve o ritual mágico do Fogo de Azrael. Ele envolve a queima de galhos de cedro, sándalo e junípero. Azrael é então invocado como o Anjo das Portas para permitir o acesso a visões de vidas passadas ou ver além no passado. No romance, o personagem Wilfred tem uma visão do Oriente Médio antigo e diz: “Eu che- guei a uma terra onde as pessoas veneram as estrelas; para elas, a Estrela Polar é sagrada como o centro do céu. O deus deles é o Senhor Deste Mundo, o Anjo-Pavão”. (Fortune, 1957:145)

Outro ritual importante dos Yazidis consiste em realizar voltas reversas ou em sentido anti-horário em tomo de uma pedra especial. Esse ritual pode ser relacionado com a reverência mostrada pelos muçulmanos para com a Pedra Negra em Meca, começado pelo Xeque Al Hallaj, ou pode ser o reconhecimento do axis mundi ou pilar do mundo ligado à Estrela Polar e encontrado em culturas pagãs no mundo inteiro. Como vimos anteriormente, pedras comuns também eram usadas pelos Yazidis como “pedras de oráculo”, com base em uma crença animista em espíritos da natureza.

Os Yazidis eram predominantemente vegetarianos e pacifistas que acreditavam em reencamação. Se uma pessoa for julgada após a morte pelos anjos como alguém que foi bom durante sua vida, renascerá como um ser humano. Se ela for julgada como alguém que foi perverso durante a vida, poderá ser punida e renascerá em forma animal. Em tais casos, a pessoa poderá passar por diversas vidas como um animal antes de poder reencarnar como um humano.

Por conta de suas origens misteriosas, de suas crenças incomuns e da idéia difundida de que eles eram adoradores do Diabo, os Yazidis têm sido o assunto de vários relatos de viajantes. Na década de 1920, o escritor americano, aventureiro e ocultista W.B. Seabrook foi informado por um ex-oficial do exército de que os Yazidis haviam construido urna cadeia de sete torres “se alongando pela Ásia da Manchúria até o Tibete, a oeste pela Pérsia e terminando no Curdistão”. Supostamente, cada uma dessas torres (moldadas de acordo com a Torre de Babel na Biblia) era ocupada por um “sacerdote Satánico” que, “transmitindo vibrações ocultas, controlava os destinos do mundo para o mal” (1928:266). Meritoriamente, Seabrook rejeitou essa historia fantástica como “absurda” e descartou a lenda das sete torres Satánicas como um mito.

Na verdade, Seabrook conheceu o emir Said Berg, o emir Yazidi de Mosul, que ele descreveu com sensacionalismo como o “Papa Negro” dos Yazidis. Seabrook continua dizendo que Berg é “o governador supremo dos adoradores do Diabo de toda a Ásia”. Ele o descreveu “com barbas pretas em um turbante escarlate, vestindo uma grande capa preta”. O Emir levou Seabrook a um templo Yazidi construído ao lado de uma montanha. Perto da porta do templo, esculpido em alto relevo na parede, estava a imagem de uma serpente negra em pé sobre sua calda. Quando Seabrook perguntou sobre o significado daquela imagem, foi informado de que era “um símbolo de sabedoria”.

Dentro do templo havia um santuário e o túmulo de um santo Sufi que dizem ter sido um dos avatares humanos do Anjo-Pavão. O refugio sagrado do templo consistia de uma caverna com nascentes naturais que alimentavam os lagos no pátio extemo do edifício. Perto do templo havia uma torre branca, e Seabrook foi informado de que ali era aonde os sacerdotes Yazidis nos graus de faquir iam para realizar magia. Era essa a verdade por trás da lenda das sete torres Satânicas? Seabrook certamente parecia acreditar que sim, mas infelizmente ele continua a se referir aos Yazidis como “sacerdotes de Satanás” e adoradores do Diabo. (1928: 287-292)

Voltando à Angelologia dos hebreus, o mais importante de todos os anjos na tradição do Zohar era Raziel, “o Anjo Sagrado responsável pelos mistérios sobrenaturais”, e foi ele quem transmitiu a sabedoria sagrada da magia para Adão no Paraíso. “Razim” em hebraico significa “segredos” ou “mistérios”. Os místicos hebreus medievais ensinavam que o próprio Deus passou os mistérios da Cabala para uma companhia selecionada de anjos, que tinham a sua própria escola no Éden. Infelizmente, quando os anjos caídos tomaram esposas humanas para si, eles passaram os segredos da Cabala para “os filhos da Terra”. Raziel trouxe do Céu para a Terra o Livro da Gênesis do Homem, e suas folhas estavam repletas de “inscrições sobrenaturais e sabedoria sagrada”. De acordo com a doutrina iniciática, esse livro continha o mistério do Nome Divino, que foi passado por Adão ao seu terceiro filho, Seth. Ele foi herdado por Enoch, o filho de Caim, que tem um papel importante e significativo na preservação da gnose angelical dentro da tradição Hermética e dos mitos da Maçonaria antiga, como será mais tarde mostrado neste livro. Eventualmente, e talvez como fosse esperado, o Livro terminou em posse do hábil mago Rei Salomão.

A palavra “anjo” deriva da palavra grega angelos, ou um mensageiro, e do termo parecido ángaros, que supostamente veio da antiga língua persa, significando um emissário a cavalo. O termo angelo, que significa os mensageiros e potências celestiais da Mente Divina, aparece na literatura Hermética da cidade egípcia de Alexandria. O texto Kore Kosmu associa os anjos com o demônio sagrado dos ensinamentos platônicos que conduz a alma do reino imortal para a encarnação terrena. O Demônio age como o anjo defensor, inspirador e protetor da alma humana em sua existência mortal em um corpo físico.

O modo de pensar neo-platônico moldou a Angelologia Cristã recente de forma considerável, especialmente no livro apócrifo atribuído a São Dioniso Aeropagita. Na obra Da Hierarquia Celeste, uma classificação em nove partes das ordens ou coros angelicais é detalhada. Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potências, Principados, Arcanjos e Anjos que são alinhados na nona esfera fora do reino das estrelas fixas. Marsilio de Ficino, estudioso e mago renascentista, descreve os papéis dessas ordens angelicais da seguinte forma: os Serafins investigam “a ordem e providência de Deus”; Querubins observam “a essência e forma de Deus”; Tronos contemplam a Presença Divina, “apesar de alguns descerem para trabalhos”; Dominações “planejam o que os outros executam” como “arquitetos celestiais”; Virtudes “movem os céus” e “contribuem para fazer milagres”; Potências são vigias alertas (sic) da ordem mundial, de onde “alguns deles descem para as questões humanas”; Principados são guardiões das egrégoras das “causas públicas, nações, príncipes e magistrados”; Arcanjos são os supervisores espirituais do “culto divino e protegem as coisas sagradas”; e Anjos representam um papel mais pessoal, pois “tomam conta de indivíduos como anjos de guarda” (os demônios da tradição grega).

Na tradição oculta ocidental e em sua teologia esotérica, os anjos são imaginados como seres serenos e de sabedoria elevada, entidades extraordinárias cuja natureza é de pura luz e de consciência gloriosa. Como seres compostos de energia pura e luz, eles são conhecidos como Senhores da Chama. Eles são formas de revelação da Mente Divina (Inteligência), bem como mensageiros do Altíssimo. Quando estão nessa função, eles são emissários cósmicos presentes na criação e na evolução do Universo e de seus habitantes. No contexto da magia aplicada, eles fornecem as chaves para as transformações impressionantes do micro e do macrocosmo, de acordo com a vontade esclarecida de um verdadeiro mago. Em planos mais profundos, as potências angelicais servem como mediatrizes da inefável espiritualidade do Supremo, existente totalmente fora de toda experiência limitada e concepção humana.

Os arcanjos e os anjos permanecem entre o mundo divino e o natural como portadores da influência supraceleste do Além. Eles são igualados, dentro dos complexos psíquicos, às mais altas ordens que se estendem, do natural ao divino, às faculdades sobre-humanas da Ratio ou Razão Divina relacionadas com os três coros de Anjos, Arcanjos e Virtudes. Intellectus ou Inteligência Ativa é associada aos coros intermediários de Potências, Principados e Dominações. Finalmente, a mais sublime faculdade, Mente ou Mente Perfeita, é típica dos mais altos coros de Tronos, Querubins e Serafins. É o estado no qual há uma identificação total com o Divino. No esoterismo ocidental, é dessa forma que as potências angelicais se correlacionam com os mais elevados meios de consciência. Por essa razão, eles são considerados como supervisores da evolução espiritual dos seres humanos. Como “anjos educadores”, eles incorporam os miraculosamente poderosos potenciais iniciáticos ocultos dentro da psique, instruindo-nos, inspirando e transformando todo o nosso ser de acordo com a Vontade Superior.

É como o grande mago renascentista Pico delia Mirándola disse em sua visão magnífica do mago completo. Segundo ele, foram colocados potenciais mágicos em todos os humanos no momento em que foram criados, permitindo que eles se tomem o que quiserem. Mirándola disse: “Quaisquer sementes que cada homem cultivar amadurecerá, e ele carregará seus próprios frutos. Se elas forem vegetativas, ele será como urna planta. Se sensíveis, ele se tornará embrutecido. Se racionais, ele se tomará um ser divino. Se intelectuais, ele será um anjo e o filho de Deus. E sefeliz na sorte de nada ser criado, ao se recolher no centro de sua própria unidade [a Mente], seu espírito, feito em unidade com Deus, na escuridão solitária de Deus, que é posto sobre todas as outras coisas, deverá superar a todos” (Oração da Dignidade do Homem). As hierarquias angelicais dionisíacas eram freqüentemente identificadas com o esquema de dez partes dos caldeus relacionando as potências supracelestes no “mundo intelectual” como governantes das esferas planetárias. Esse era um modelo derivado do antigo Mercavah, ou Livro do Carro, no qual o iniciado passava através dos “céus” planetários em direção ao unio mystica ou união mística (com Deus).

O grande ápice da transformação angelical na tradição oculta ocidental e o objetivo da magia consiste na elevação da psique à sua natureza angelical primordial, na revelação do anj o oculto dentro do ser humano de matéria, na compreensão daquela natureza, que envolve a transformação em um ser deificado ou “aperfeiçoado” e a transformação do ambiente de alguém em um mundo paradisíaco ou divino. No culto angelical dos Yazidis, esse mistério está resumido na imagem do Anjo-Pavão, Melek Taus. Esse termo foi habilmente interpretado pelo mestre Sufi, já falecido, Idries Sayed Shah, como uma receita esotérica descrevendo a renovação espiritual do iniciado. Pela técnica árabe do abjad, a palavra MaLaK, “anjo rei”, representa a poderosa faculdade angelical de consciência espiritual dentro do gênero humano. O homófono “Tauus” significa “terra verdejante”. Conseqüentemente, isso envolve a expansão paradisíaca do campo psíquico sob a governança do anjo interior ou a expansão da mente (a terra verde) por meio da faculdade maior (anjo).

Esse processo iniciático talvez possa ser compreendido por meio da classificação gnóstica valentiniana dos temperamentos espirituais humanos, uma tipologia tripla que define o estado interior do desenvolvimento das entidades humanas neste mundo como explicado a seguir. O Hylkos, ou Humano Hílico-Material, é caracterizado por estar preso ao estado terreno e limitado a um nível material de percepção/ concepção. Eles são atados pelo condicionamento instintivo animal. Tais pessoas pertencem à “massa popular” da humanidade e são algemadas pelos seus padrões dualistas e ilusórios definidos pela massa e para ela por meio da engenharia sociopolítica, da mídia, da publicidade, etc. Esse é um estado em que a pessoa se encontra cega ou adormecida e no qual a mente humana está iludida e desorientada pelos fantasmas da ignorância material. É, portanto, o estado mais baixo e mais comum da evolução humana neste planeta na atualidade e é representado pelo elemento alquímico Sal. Muitas das técnicas de magia e exercícios espirituais do ocultismo prático têm como propósito despertar a humanidade do “sono do materialismo”. Uma vez acordadas, essas pessoas podem perceber, entender e apreciar a realidade da vida em todos os níveis e aprender a se desenvolverem espiritualmente.

O Psykhikos, ou Humano Psíquico, é o gênero que, até certo grau, desenvolveu as faculdades ocultas da psique. Eles estão se empenhando para a compreensão tanto da verdade interior quanto da exterior. Esse é um estado caracterizado pela força ativa, propósito espiritual e despertar para a natureza verdadeira do eu, na qual há momentos de percepção (synesis) que permitem que o iniciado obtenha relances da gnose ou auto- conhecimento. E a fase na qual o iniciado começa a emergir no estado de despertar e toma-se diferente das multidões adormecidas do mundo profano. Conforme o início da Era de Aquário se aproxima, cada vez mais seres humanos buscarão se libertar das algemas do materialismo a fim de atingir esse estágio de desenvolvimento espiritual. A natureza dinâmica desse estágio é representada pelo elemento alquímico Enxofre.

O Pneumatikos, ou Humano Divino, é o mais alto estágio de perfeição, no qual a compreensão da gnose se toma um fluxo incessante fundamental de bem-aventurança. Tendo superado as algemas ilusórias do estado material, o Pneumatikos pertence inteiramente ao mundo divino da Mente Pura e existe fora de todos os padrões terrenos de bom e mal como um “liberto”, “perfeito” (Cathari) ou “purificado” (Katharos). Imortal, onisciente e possuidor de poderes milagrosos. Esse é o estado de “exaltação” divina buscada pelo mago, a Apolytrosis (liberação ou redenção) inicial dos ensinamentos do místico gnóstico Valentino. Ele é caracterizado pelo estado angelical em sua prístina e imaculada pureza. Tendo se elevado além das esferas do mundo natural e celestial, o Pneumatikos está livre do domínio do Destino e do tempo causai, escapando do Círculo da Necessidade e da influência condicionante das estrelas. Eles se tomam completamente livres e fora do dominio do tempo e da morte. Esse estado transcendental corresponde ao elemento alquímico Mercúrio, o Mercúrio dos Sábios.

Os três Humanos Arquétipos da antropologia Gnóstica se ligam aos três mundos e às 22 esferas concêntricas da cosmologia Ptolemaica. Este não é um esquema científico inicial do sistema solar, e sim um mapa secreto cósmico psíquico revelando os estágios iniciais de ascensão e a interligada “cadeia dourada” do Ser que transpõe o mundo espiritual, estrelar e material como segue.

O Mundo Natural é o reino geocéntrico da substância física densa ou matéria e dominio terrestre do Hylkoi. Ele parte da Terra, a esfera elemental da terra ao centro, até as esferas elementáis gradualmente purificadas de Aqua (água), Aer (ar ou atmosfera) e Ignis (fogo), que é a esfera das chamas celestes. Esse mundo está totalmente sob as influências causais do Tempo e sob o dominio dos planetas e estrelas do zodíaco. É caracterizado por um “tomar-se” e um fluxo incessante, em vez de um “ser” ontológico fixo no sentido platônico. É, portanto, a limitação finita do Absoluto, uma miragem ou teatro de sombras distante das “Idéias” ou “Arquétipos” dentro da realidade pura do Espirito ou Mente Divina.

O Mundo Celeste engloba as esferas planetárias e astroestrelares propriamente ditas, ou seja, os circuitos do Sol, Luna (Lúa), Mercurius (Mercúrio), Venus, Marte, Júpiter e Satumus (Saturno), além da esfera ogdoádica do Caelum Stellatum ou Céus Estrelados (Mazloth - os Céus Estrelados da tradição oculta Caldeu-Judaica) -, abrangendo as estrelas fixas do cinto zodiacal. Elas são consideradas como as condutoras das inteligências viventes, ou almas, em vez de corpos físicos e principios microcósmicos que agem como agentes e canais para a Luz Divina. Elas estão constantemente despejando as influências divinas em manifestação material e condicionando a realidade do espaço-tempo abaixo dela. Essa é a doutrina oculta por trás da astrologia esotérica como ferramenta mágica nas mãos do mago. Esse é o domínio dos Psykhikoi ou a esfera dos princípios psíquicos viventes ligando-se às Idéias Divinas que se gravam na substância maleável da matéria (hylé).

O Mundo Divino ou Supraceleste é o reino do Primeiro Existente. Ele simboliza o estado divino dos Pneumatikoi ou Libertos. É aplemora imutável da existência imortal, a preexistência ou estado “antes da luz” de Plotino, a perfeição vindoura do Supremo, que é a verdadeira “Era Dourada” mítica ou terra paradisíaca. Ele tem luz própria, além dos limites do Tempo e da mudança, e é totalmente beatífico - a vastidão infinita do conhecimento e felicidade pura, que é a verdadeira essência divina do legítimo eu. Ele progride para fora através das nove esferas das hierarquias angelicais de Dioniso: Anjos, Arcanjos, Virtudes, Principados, Potências, Tronos, Dominações, Querubins e Serafins na esfera da Mente ou Mente Perfeita. Ele alcança, portanto, o infinito misterioso do Ente Supremo Oculto, o Absoluto além de todo pensamento ou concepção condicional.

As esferas e os círculos dessa cosmología tripla representam a cartografia gnóstica da consciência, revelando os “éons”, pilones e pórticos de energia que o mago deve passar no caminho para a Grande Compreensão, que é a Apoteose suprema. Dessa forma, ela fomece tanto o autêntico padrão holístico universal micro-macrocósmico quanto o Caminho Real da ascensão iniciática na Alta Magia Angelical. Ela revela a estrutura entrelaçada dos “mundos” noumenal e fenomenal e, consequentemente, fomece a compreensão dos meios dos processos mágicos de acordo com o axioma de Hermes: “Assim como é em cima, é embaixo”.

No Tratado das Enéadas, do século IV, Plotino menciona essa catena aureae ou “corrente de ouro” ligando os níveis mais altos e mais baixos da realidade. Na Arte da Magia, tudo gira em tomo dessa corrente: a Prece e sua resposta e a Magia e seu sucesso dependem da harmonia das forças ligadas entre si. Do mundo sublime das inteligências angelicais à rústica dimensão dos elementos, tudo é um conjunto sagrado continuo cheio de ligações harmônicas e ressonâncias vibratorias que alinham os princípios mais altos e os mais baixos. É o conhecimento aplicado desse padrão, essa Harmonia Mundi ou Mundo Harmonioso invisível, que torna a magia tão possível quanto eficaz. Isso se encontra com a mesma intensidade tanto no mais humilde dos encantos para se conseguir um desejo quanto nos mistérios angelicais mais elevados da Luz.