quinta-feira, 1 de junho de 2023

Luciferianismo - As Torres Dos Titãs


A semente dos anjos unida com a substância mortal da primeira humanidade animal produziu, de acordo com a Bíblia e o Livro de Enoch, “valentes, varões de renome, na Antiguidade”. Eles foram descritos pelos antigos como gigantes. Se eles eram verdadeiramente gigantes no aspecto físico é difícil de saber. Restos mortais de humanos pré-históricos de grande dimensão já foram desenterrados em várias partes do mundo. No entanto, comparativamente falando, para alguém que é baixo em estatura, uma pessoa acima de 1,80 metro de altura parecerá um “gigante” nos olhos dele. Porém, é possível que os termos “valentes”, “varões de renome” e “gigantes” possam ter sido usados para descrever e identificar uma raça híbrida meio angelical com poderes mágicos e psíquicos sobrehumanos. Para os antigos celtas, “gigantes” não eram necessariamente criaturas sobrenaturais, mas o nome dado a qualquer ser que fosse maior ou mais alto que o humano comum e tivesse poderes incomuns que o fazia ser superior. Tradicionalmente, tais gigantes não poderíam ser subjugados meramente pelo uso da força física, mas também pelo uso inteligente de artifícios e magia.

Fragmentos, ruínas e relíquias de civilizações arcaicas estão cheios de insinuações silenciosas de uma era incrivelmente remota, quando raças gigantescas de grande beleza e sabedoria profunda dominavam a Terra antediluviana no meio de cidades titánicas e torres ciclópicas. Tradições difundidas e consistentes localizam os centros dessas culturas pré-históricas nas regiões da Atlântida, Hiperbórea e de Shambhala, que se encontrariam no Oceano Atlântico, na Europa Setentrional e no deserto Gobi na Asia, respectivamente. Os vestígios desgastados das civilizações perdidas estão supostamente ocultos nas profundezas oceânicas, embaixo das areias cambiantes do deserto ou sepultados sob milhares de camadas de gelo polar. Com o aquecimento global, quem sabe o que a vastidão glacial das calotas polares irá revelar no futuro.

Platão descreveu os atlantes em seu famoso relato sobre a ilha perdida determinada por sacerdotes egípcios como “... um poder grande e maravilhoso dos reis, governando sobre a própria ilha, muitas outras ilhas e partes do continente (...) até o Egito, a Europa e as fronteiras com a Etrurid’. Apesar de algumas pessoas considerarem a Atlântida de Platão como um conto utópico e ficcional, outras vêem os reis atlantes de um ponto de vista mais real. Na tradição esotérica ocidental, eles são considerados como transmissores da Tradição Secreta para a humanidade atual. Os gigantes e soberanos colossais conhecidos comoNephilim ou Awwim (serpentes) eram descritos nas Escrituras proféticas de Amós como sendo altos como cedros e vigorosos como carvalhos. Eles foram os criadores das construções ciclópicas, muitas fortalezas de templos e governantes do período antediluviano, dos quais descendiam figuras heróicas e lendárias como Ninrode ou Nimbroth, o “valente caçador” e inspetor da Torre de Babel.

Tradições antigas estão repletas de descrições de raças primitivas, desde os Titãs, da Teogonia de Hesíodo, e os Cabari, da Samotrácia, até os Jotuns, do mito Hiperbóreo, e os Daityas, do Oriente. Tal gigantismo e estrutura alta também é característica dos Seguidores de Hóms, a dinastia semidivina que descende dos Deuses (Neteru) do antigo Egito. Existem ainda espíritos khu que colhem o cereal do céu, “... cada espírito com 9 côvados [por volta de 4 metros] de altura que o colhem na presença de Rá Horakhty”. Isso está compatível com a estatura conferida ao rei Ogue, de Basã, um descendente dos Nephilim: “Porque só Ogue, rei de Basã, restou dos despojos dos gigantes; eis que o seu leito, leito de ferro (...) Nove côvados o seu comprimento...’’’’ (Deuteronômio 3:11). O autor árabe Tabari nos fala de uma ponte na cidade de Bagdá (Iraque) construída dos ossos da costela do rei gigante Og-ibn-Unk, ou “Ogue do Pescoço Longo”.

A capital dos Amontas, uma cidade que supostamente havia sido originalmente habitada por antepassados gigantes, era a cidade real de Basa, chamada de Astarote Camaim. Esse nome indicava sua condição como um centro de culto da “Astarote Cormiera” e a cidade templo da Rainha do Céu Astarte. Crónicas hebraicas preservam as memorias de outras tribos de titãs descendentes dos Nephilim, incluindo os amalequitas e os filhos de Anaque (“de pescoço longo”), que habitavam na antiga terra de Canaã.

Em uma anotação sobre os lendários governantes gigantes da Síria, o explorador e aventureiro vitoriano sir Richard Burton teceu comentários sobre a raça gigante dos Jababirah. Esse nome deriva de Giabber, ou “imenso, gigante”. Ele se relaciona à palavra hebraica Ghibbor/Ghibborim e à persa Diván. Burton diz: “... desses eram Ad e Shaddad, Reis da Síria; os Falastan (Filisteus), Auj, Amalik e Banu Shayth, ou descendentes de Seth, os filhos de Deus (Benu Elohim) (...) que habitaram no Monte Her- mon e viveram em pureza e castidade.”

Nas tradições arábicas, os amalequitas eram os habitantes originais da cidade sagrada de Meca, e os Adites eram uma raça de gigantes que morava em Al-Ahkaf, situada entre Hadramaut e Omã, no sul da Arábia. Eles eram descendentes de Cão, filho de Nuh ou Noé, e quem os uniu como um povo foi o rei gigante Ad. O filho de Ad, rei Shaddad, construiu uma cidade imponente em um local próximo a Omã, na Arábia Rochosa, chamada de Ubar dos Muitos Pilares. Sua grande quantidade de elevadas torres, abóbadas e colunas repletas de metais preciosos e adornadas com jóias, banhada por correntes de água melodiosas debaixo de jardins com arcos de árvores e flores era a própria maravilha do mundo antigo e um paraíso terrestre.

A tradição diz que, no final, o excesso de confiança do rei Shaddad se mostrou impotente, quando Ubar foi engolida pelas areias do deserto e afundou para debaixo da terra para ser avistada apenas por dervixes perdidos nas ruínas. Um viajante solitário supostamente passou pelas altivas ruínas de Ubar enquanto viajava pelo deserto no século VIL Ele levou jóias de lá para o palácio do primeiro Califa Omíada Mu’Awiyah, em Damasco, a fim de provar a sua narrativa. Mitos árabes falam de várias dessas raças perdidas, incluindo as nações de Jadis, Tasm, Thamud e Ad. Foram construtores Adites, ou djins sob controle de um mago Adite, que construíram o dique de pedra enorme em Ma’arib, na capital iemenita Sana, lar dos adoradores de estrelas sabeus. Analisando seus antepassados tão incomuns, podemos supor que eles herdaram o culto transestrelar dos arcanjos.

De acordo com a doutrina esotérica, sangue dos Nephilim corria nas veias de Ninrode: “Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra. Foi valente caçador diante do Senhor (...) O princípio do seu reino foi Babel.” O Manuscrito Maçônico de Cooke, datado do ano de 1430 d.C., concede a Ninrode a posição de primeiro Grão-Mestre dos maçons. Ele supostamente entregou as instruções e constituições originais aos irmãos da Maçonaria que supervisionou durante a construção da Torre de Babel no centro simbólico do Universo. Babilônia é Bab-Illani ou Portão dos Deuses (Ilu = Elohim), o portal entre as dimensões terrestres e celestiais. As pesquisas de Clemente Stratton confirmaram que, no primeiro grau da Maçonaria Operativa medieval, o juramento feito pelo candidato era chamado de Juramento de Ninrode. A Torre de Babel foi iniciada por Ninrode, a quem o escritor em bruxaria e demonologia Montague Summers chama de “um bruxo gigante de grande poder”.

E relatado no Gênesis: “Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus” (11:4). Do topo desse zigurato colossal, de acordo com lendas árabes, Ninrode tentou voar ao Céu em uma carruagem áurea puxada por quatro pássaros - demônios. Isso tem sido observado como uma alegoria gnóstica representando a alma caída, aspirando irromper as esferas e recuperar o estado divino. Como um símbolo da aspiração Luciferiana em direção ao Absoluto e da nostalgia mística pelo infinito, ela permanece influente como um emblema da busca gnóstica na tradição oculta ocidental. Ela aparece no Taró como o arcano maior A Torre Atingida por Raios, que mostra figuras humanas caindo dela enquanto buscam, e falham em conseguir, recuperar a posição espiritual perdida delas.

Na tradição babilónica, o protótipo zigurato ou torre sagrada é chamado de Dur-an-ki ou “ligação do Céu com a Terra”. Philo Judaeus fornece um relato de sete imagens áureas de demônios ancestrais adorados pela raça de gigantes Amoritas. Eles incluem Nembroth ou Ninrode como o gênio fundador da Babilônia e Canaã ou Caim como o pai da Fenicia, o que confirma as ligações de Ninrode com os Nephilim. A estrutura planetária da Torre de Babel ou Babilônia é espelhada em outros edifícios parecidos, como o zigurato Sabeu “das sete esferas”, descoberto por escavações na cidade de Harã (A Ur bíblica dos caldeus) por Rawlinson em 1854.

Harã, como veremos mais tarde neste livro, foi um centro antigo e renomado de adoração estrelar e hermética até o século XII d.C. Seus terraços eram embelezados com as cores simbólicas dos planetas na ordem sabéia, ou seja, preto como carvão para Saturno, marrom-dourado para Júpiter, vermelho-alaranjado para Marte, vermelho-escarlate para o Sol, amarelo para Vênus, azul lustroso e dourado para Mercúrio e prata para a Lua. Escrevendo sobre as imagens do pico cósmico, o antropologista dr. Mircea Elíade notou que o zigurato era uma representação simbólica do Monte Cósmico e do Cosmos. Os sete andares simbolizavam os sete céus planetários contendo as cores do mundo (1964: 134,264). A Torre de Bab-Illanu também se estendeu para baixo em imagem invertida dentro dos domínios ctônicos como a Bab-Apsu ou a “Passagem do Abismo”. Dessa forma, a Torre colocava juntos os três mundos Xamânicos do Céu, Terra e Mundo Subterrâneo.

Dentro do contexto do sistema de mundo ptolemaico, a construção por Ninrode da Torre de Babel representa a jomada ascendente da alma dos mundos elementáis por meio dos sucessivos circuitos astroplanetários para os Mundos Divinos ou Noosfera Divina das Mentes Puras. O mistério da Torre de Babel encapsula a elevação do iniciado dentro da gnose. Ela se eleva no ônfalo ou “centro do mundo”, um axis mundi ou pilar do mundo ciclópico no meio da cidade templo, e é o ponto de ruptura entre o fenômeno e o nômeno.

As lendárias cidades ciclópicas, os edifícios sagrados buscando alcançar os céus e os impérios poderosos dos reis gigantes e seus povos foram varridos da face da Terra e submersos nas águas de uma poderosa enchente. No Livro de Enoch, o anjo Uriel avisa o profeta da “... consumação que está prestes a acontecer; pois toda a terra perecerá; as águas do dilúvio virão sobre toda a terra, e todos os que estão nela serão destruídos'”. Memórias greco-egípcias da lendária ilha continente de Atlântida e sua destruição são totalmente pertinentes a essa descrição. Vários outros mitos, incluindo a tentativa de destronar Zeus pelos Titãs e as terras perdidas de Lyonesse e Ys, descrevem como praticantes iníquos de magia negra ou usurpadores da ordem cósmica são destruídos por Deus ou Deuses.

A lenda de uma Enchente ou Dilúvio mundial pode ser encontrada nos mitos de criação de todas as culturas. Em setembro de 2000, um grupo de cientistas alegou ter achado os resquícios de uma aldeia neolítica a aproximadamente 90 metros sob o Mar Negro. Essa descoberta supostamente prova que os primeiros humanos viveram às margens de um lago de água doce no local 7500 anos antes de eles serem levados para longe do lago por uma enchente cataclísmica. Isso foi causado pela elevação do nível dos mares depois do derretimento da extensa calota polar no fim da Era Glacial. Memórias desse desastre ecológico foram registradas na mitologia suméria e no relato de Noé e a Arca na Bíblia.

A tradição esotérica postula várias ondas de migração da Atlântica, que transmitiu a sabedoria angelical preservada das raças Azelaicas, para enclaves nos mais altos locais da Terra para propagação no mundo pós- diluviano. Se isso realmente aconteceu ou se é um evento imaginário, é difícil saber. Discutiremos o simbolismo Luciferiano da Maçonaria mais tarde neste livro, mas é importante registrar que essa transmissão pós- diluviana da magia arcana se encontra no centro da chamada tradição Noachita da Maçonaria. Isso é particularmente verdade no simbolismo do grau de Nauta da Arca Real e em suas cores do arco-íris correspondentes. Simbolicamente, em muitas culturas antigas, o arco-íris tem sido visto como uma ponte entre o Céu, ou reino dos Deuses, e a Terra. A tradição Noachita foi fundada para celebrar a destruição da Torre de Babel. As reuniões da Loja devem acontecer uma vez por mês durante a Lua cheia em uma sala em que haja uma grande janela ou clarabóia para que a luz da lua possa iluminar os trabalhos. De acordo com a história maçônica, os ritos da Antiga Ordem dos Noachitas foram traduzidos do alemão para o francês pela primeira vez em 1757, e a ordem foi chamada ocasionalmente de Cavaleiros Prussianos. Os preceitos Noachitas eram basicamente relacionados com a justiça e, curiosamente, eles tinham uma proibição de comer carne animal contendo sangue. (Macoy, 1989:268 e Mackenzie, 1877:508-509)

Na tradição, a Arca é místicamente parecida com a Loja perfeita, presidida pelo Comandante e os Vigilantes, que assumem os papéis de Noé e seus filhos Jafé e Sem. O fechamento da Loja é interpretado como sendo parecido com a ancoragem da Arca no Monte Ararat. No século XVIII, o Conselho Maçônico Francês de Imperadores do Ocidente e Oriente operou, no seu 25° grau do Rito, o grau de Patriarca Noachita. Isso resumia as simbologias do Dilúvio, a Torre de Babel e a suposta descoberta, na Alemanha, do túmulo de Pelegue, o arquiteto da Torre de Babel. O grau detalha a preservação da arte dos construtores após o Dilúvio. Em seguida, essa revelação é dada ao iniciado, e ele é saudado como um “maçom Noachita” nos Mistérios. O túmulo de Pelegue foi supostamente encontrado em uma mina de sal alemã, juntamente com uma coluna de mármore branco. Nele estava escrito em hebraico a história dos Noachitas. Estava supostamente gravado no túmulo: “Aqui jazem as cinzas de Pelegue, um Grande Arquiteto da Torre de Babel. O Todo- Poderoso teve compaixão dele porque ele se tomou humilde.'’' Essa inscrição sugere que ele escapou do destino dos outros habitantes da Babilônia, quando Javé lançou sua fúria sobre eles pela arrogância de construir uma torre para alcançar o céu.

Na mitologia grega, a raça de gigantes era chamada de Titãs, e eles possuíam poderes mágicos que usavam as forças elementais: ar, terra, fogo e água. Os gregos acreditavam que os Titãs se originaram no Oriente distante. Tanto Atlas, que deu o nome para a Atlântida e o Oceano Atlântico, e Albion, que deu seu nome à antiga Grã-Bretanha, supostamente eram de origem Titánica. Dizem que depois do Dilúvio o gigante Albion conduziu a raça dele, descendente do filho de Noé Cam, para a Grã- Bretanha. O ocultista Lewis Spence disse que é aceitável considerar que Atlas foi a divindade tutelar de uma terra no ocidente no oceano, cujo mito é lembrado com seu nome. A questão de se a Atlântida realmente existiu ou foi um paraíso imaginário da era lendária, chamada de “Idade de Ouro”, ainda é objeto de um intenso debate. Outro Titã famoso foi Prometeu que, em um grande gesto Luciferiano de rebeldia aos Deuses, trouxe o fogo do Céu para a Terra a fim de beneficiar a humanidade e foi punido. Se esse era na verdade o “fogo criador divino”, então a analogia Luciferiana é até mais sugestiva.

Em termos míticos, os Titãs eram “os Deuses antes dos Deuses” ou os Deuses Antigos que supostamente governaram a Terra antes da criação da raça humana. Os gregos certamente consideram o período dos Titãs como uma idade de ouro, quando a Terra era um paraíso. De acordo com os seus mitos, os Titãs e os Ciclopes eram a descendência do deus Urano com sua companheira Gaia, a deusa da terra. Infelizmente Urano e suas crianças gigantes não se davam bem e, como em uma situação doméstica, ele as expulsou do Céu e as exilou na Terra. Um dos Titãs, Cronos (Saturno), conspirou com sua mãe para matar o pai. No entanto, ele apenas conseguiu castrá-lo com uma foice. Em nível simbólico, isso privou o deus de seus poderes criadores e masculinos, que foram transferidos para seu filho rebelde. Cronos foi então reconhecido pelos outros Titãs como seu senhor e mestre. Uma versão alternativa e posterior desse mito mostra os Titãs se rebelando contra o deus pai olímpico Zeus, ou Júpiter. Os Titãs também foram responsáveis pelo assassinato de Dioniso, a “criança divina” comífera. Eles o enganaram com seu próprio reflexo em um espelho e, então, o dilaceraram em pedaços antes de comê-lo. Quando Zeus abateu os rebeldes com seus raios, a lenda diz que a humanidade surgiu de suas cinzas. Porque os Titãs haviam incorporado parte do jovem deus, a humanidade herdou uma centelha divina de Dioniso, que era um dos avatares de Lúcifer. Nos mistérios órficos, a morte de Dioniso representa a “queda” na encarnação material e a perda da unidade primitiva - a Grande Separação da crença xamânica.

Embora os Ciclopes fossem apenas uma nota de rodapé na mitologia grega, por razões que se tomarão evidentes mais tarde neste livro, eles tiveram um papel importante na cultura Titánica. Na realidade, eles, apesar da reputação injustificada de serem criaturas estúpidas, foram descritos como parte de uma “elite científica” entre seus colegas gigantes. (Roberts, 1978:151) Alega-se que eles tinham oficinas subterrâneas em que faziam instrumentos de pedra e metal em fomos enormes. Expressivamente, dizem que eles inventaram a foija e os raios usados por Zeus como armas. Acredita-se que os primeiros humanos provavelmente descobriram o uso do fogo observando raios acertarem árvores e ao baterem pedras com pedras.

A mitologia escandinava também tem suas próprias referências aos seres titánicos, que são chamados de a geada ou gigantes de gelo. Assim como os Titãs, eles foram os “primeiros a ser criados” e eram os controladores das forças elementais, incluindo trovões e tempestades de granizo. Também existe uma referência a uma lenda de dilúvio. No mito, há uma luta entre os filhos de Bor (Odin, Vili e Ve) e o deus criador gigante Ymir. O gigante é atingido por um golpe na cabeça, cai e o sangue do ferimento inunda o mundo. Todos os gigantes de gelo morrem afogados, com exceção de um chamado Bergelmir. Ele consegue refugio em um moinho, de onde a família dele dá uma nova origem à raça de gigantes.

Esse dilúvio de sangue é citado no poema épico anglo-saxão Beowulf, que faz referência a “uma luta na Antiguidade / quando um forte dilúvio / um mar estrondoso / destruiu a raça de gigantes / eles viviam em vaidade / aquele povo afastado do Deus eterno / que deu a eles como recompensa este castigo final, um dilúvio arrebatador.:” Outra referência no poema descreve: “Os gigantes que por muito tempo lutaram contra Deus”. Os traços Luciferianos nessa descrição são absolutamente surpreendentes.

O mais famoso da raça de gigantes era Loki, conhecido como o “criador de trapaça” e o Senhor da Desordem. Ele era o deus do fogo metamórfíco e andrógino, considerado pelos cristãos como um protótipo de Satã ou Satanael. Isso porque ele era considerado o culpado pela chamada “guerra no Céu” entre os Deuses e a raça dos gigantes de gelo. De acordo com a ocultista russa e fundadora da Sociedade Teosófíca Madame Helena Blavatsky, o nome Loki vem de uma antiga palavra “Liuhan”, que significa “iluminar”. Ela alega que, como um deus do fogo e luz, ele é idêntico a Lúcifer, o portador da luz. (1893: Volume II: 296)

Loki é o pai do lobo cósmico Fenris, a serpente de Midgard que circula a Terra (também conhecida como a Serpente do Mundo), a deusa do mundo subterrâneo Hei e a mãe do cavalo sobrenatural com oito patas de Odin, Sleipnir, que pode viajar entre a Terra e o mundo subterrâneo. Dizem que pelo menos uma tradição da magia tradicional hoje venera a Serpente do Mundo como uma de suas divindades. Veja Water Witches,10 de Tony Steele. (Capall Bann, 1999) Na mitologia nórdica, Loki íf eqüen- temente causa problemas para os Deuses, mas seu papel principal é na morte do deus da luz Baldur. Isso ocasiona o Ragnarõk ou Crepúsculo dos Deuses, mas o mito diz que alguns Deuses renascerão após esse cataclisma cósmico, e uma nova Terra será criada e repovoada por humanos.

Na guerra no Céu entre os Aesir e os Vanir, a deusa Freya foi raptada de Asgard, lar dos Aesir, no qual ela permanecia com os gigantes de gelo. Como resultado, a natureza foi virada de ponta-cabeça, as estações foram invertidas e as plantações apodreceram nos campos. Mesmo o Sol e a Lua se recusaram a brilhar no céu. Os Vanir eram os deuses da fertilidade da família e da terra, e foi sugerido, assim como nos outros mitos similares em outras culturas, que essa é parte do processo em que os Deuses Antigos se tomam os demonios da nova religião, que substitui a adoração deles. Tanto os gigantes de gelo quanto os Titãs foram transformados em demonios, ao passo que novas entidades eram apresentadas para substituir os Deuses Antigos dos tempos remotos. A mesma coisa aconteceu quando o Cristianismo tomou o lugar das religiões pagãs.

Blavatsky referiu-se específicamente aos Titãs como os anjos caídos. Ela os descreveu como os criadores ou arquitetos dos mundos e os progenitores da raça humana. Como anjos caídos, ela os descreve como “espelhos legítimos da Sabedoria Eterna” (1893 Volume II: 543). No entanto, rejeita completamente as alegações feitas pelos teólogos cristãos de sua época de que os Titãs são demoníacos ou associados a Satã. Aliás, ela descreve tais alegações como “uma conspiração de difamação” (Volume II: 369). Blavatsky vai além e afirma que Lúcifer era “a mais alta sabedoria oculta, espiritual e divina da Terra - que é naturalmente contrária a toda ilusão evanescente, terrena, dogmática ou até mesmo a uma religião eclesiástica’' (Volume II: 394).

O que foi citado anteriormente deve ser entendido à luz da interpretação secreta dos mitos antigos do Dilúvio, ou Grande Enchente, que é um mito universal encontrado em culturas por todo o mundo. Sólon, o Grego, aprendeu com a classe sacerdotal egípcia em Sais, a cidade no delta do Nilo da deusa Neith, que: “Aconteceram muitas des- truições da humanidade, e muitas outras acontecerão. As maiores são pelo fogo e pela água, mas além dessas existem outras menos destruidoras”. O Universo de espaço, tempo e matéria passa por reabsorções cíclicas e periódicas nas águas disformes do não revelado. Isso está de acordo com os “Solstícios dos Deuses” no “Grande Ano” da precessão ou platônico de 25.950 anos solares.

O sábio caldeu Beroso descreveu em detalhes a doutrina da dissolução cíclica no século III a.C. Em seu trabalho Babyloniaca, ele afirma que, quando todos os sete planetas estão em conjunção no signo do Caranguejo (Câncer), as águas consomem o mundo. Quando os corpos celestiais estão alinhados da mesma forma no signo do Bode (Capricórnio), o Cosmos inteiro é devorado pelo fogo. De acordo com essa visão, existiram incontáveis raças humanas antes da espécie atual. Muitas outras virão depois da nossa espécie, quando o mundo é absorvido e ressurgido, de acordo com as evoluções rítmicas e inexoráveis do Círculo da Necessidade astral. Essa é uma dança de roda interminável de dissolução e criação se intercalando infinitamente.

As chaves emblemáticas sobre a escatologia mística do Dilúvio consistem na compreensão de que, para os antigos, as águas que antecedem a criação do não revelado - o Tehom hebraico, o Nun egípcio e o Abzu babilônio-acadiano - são a matriz nula do espaço puro. A partir dessa matriz, a ordem mundial cósmica emerge periodicamente. E, portanto, o fundamento supremo, insondável, vazio, inconcebível, mas, não obstante, é também o terreno imprevisível do Ser, a fonte incognoscível. Esse é o significado do símbolo egipcio Mau, que quer dizer “águas, ou mar”. Como o hieróglifo místico do Dilúvio, ele consiste de três hieróglifos Nun, simbolizando a nulidade do Céu (Pet), Terra (Ta) e o Mundo Subterráneo (Duat), e abase essencialmente nula do Universo triplo. O mesmo significado é expresso pelo símbolo primordial canaanita Mayyuma e a letra hebraica Mem. Eles são símbolos tipológicos da nulidade plena do oceano das águas abissais de espaço vazio; o firmamento do grande mistério; a “Grande Noite dos Deuses”, a renovação e preservação perpétua da Revelação Divina dentro do Mar da Nulidade.

A transmissão do Grande Segredo inextingüível através de cataclisma e destruição sem-fim, a teofania eterna da Sabedoria que não pode morrer, é simbolizada pela letra hebraica Nun. Ela é interpretada como o símbolo do Peixe, o emblema da redescoberta e da renovação pós- diluviana dos Mistérios Divinos, e foi empregada nesse contexto esotérico pelas seitas gnósticas por volta do século I d.C. e até antes. O símbolo Ictus dos primeiros cristãos representava essa regeneração da gnose pura, e Eliade pertinentemente comentou sobre a valência mítica do “peixe” e do “pescador” e que esses símbolos possuem uma “... relação com a ‘revelação’, ou a passagem de uma doutrina do estado de esquecimento ou ‘eclipse’ para o estado de manifestação total.” Essa revelação é a visão irradiada da Xvarenah do Humano de Luz transcendente, a revelação da nossa divindade inata e autoluminosa do esplendor imutável da Mente Divina.