sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Rei Sumo Sacerdote


Uma das figuras mais misteriosas, extremamente significante, no Velho Testamento é Melquisedeque, ainda que ele tenha apenas oito linhas no Gênesis. Elas dizem que, após a batalha vencida por Abraão, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho: “e ele era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra, e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos! E de tudo Abrão deu-lhe o dízimo”. (Gênesis 14:18-21)

A real identidade e significância de Melquisedeque permanecem um segredo para a maioria dos leitores e escolásticos da Bíblia. Se sua identidade era amplamente conhecida, seu nome teria sido imediatamente censurado. É uma das referências bíblicas, como muitas outras, com significados secretos que escaparam ilesas enquanto a Igreja decidia que textos selecionar como ortodoxos e aqueles que seriam rejeitados como heresia. De fato, a referência a Melquisedeque significa uma visão herética que a Igreja jamais podería aceitar porque eles a considerariam a blasfêmia suprema.

No Gênesis, Melquisedeque é descrito como o rei de Salém e como o sacerdote do Deus Altíssimo. Esse Deus pode não ser o Javé do Velho Testamento, como muitas pessoas presumem, mas o Absoluto, o Deus aquém de toda a compreensão humana. No texto, Melquisedeque abençoa Abraão de Ur e dá a ele uma refeição sacramental de pão e vinho. Essa eucaristía é anterior à Última Ceia e pode ser vista como urna das primeiras tentativas para substituir os sacrifícios de sangue dos semitas por urna alternativa mais civilizada. Javé sempre demandava oferendas queimadas, e os rituais judaicos de sacrifício animal sobreviveram até a destruição do templo de Herodes, em 70 d.C. pelos romanos. Detalhes mórbidos de vários tipos de sacrifícios exigidos pelo deus hebreu podem ser encontrados em Levítico 5-9. Também há mais do que uma indicação de sacrifício humano na história de Abraão e seu filho Isaac (Gênesis 22:1 -19).

O elemento do sacrifício de sangue na religião hebraica também é destacado na narrativa de Caim e Abel e o motivo do primeiro assassinato. O relato bíblico diz: “E Abelfoi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou1'’ (Gênesis 4:2-5). Como resultado dessa rejeição por Javé de seu sacrifício, o primeiro jardineiro e Abel discutiram nos campos, o que levou à morte de Abel. A oferta de Abel do sacrifício de sangue é mencionada ainda nas missas católicas. Paradoxalmente, poucas linhas depois, é feita uma referência ao pão e vinho oferecidos para Abraão por Melquisedeque. No século VI, o mosaico Abel é representado oferecendo a Melquisedeque uma ovelha branca como sacrifício para Deus. Na frente do rei-sacerdote está um altar coberto com uma toalha de mesa branca. No altar está um cálice dourado e um par de pães redondos no formato de discos solares.

No Velho Testamento, Paulo menciona Melquisedeque em sua epístola para os hebreus. Isso está no contexto do papel entendido de Jesus como sumo sacerdote. Paulo descreve Jesus como um sacerdote após a Ordem de Melquisedeque. Isso sugere a tradição de grupos de sacerdotes hereditários, ou sacerdotes-reis, similares aos membros masculinos da família Cohén, que serviram como sacerdotes no templo e rabinos por séculos. Paulo descreve também Melquisedeque como órfão de pai e mãe, sem descendência, mas transformado em filho de Deus. Essa afirmação não aparece em nenhum outro lugar e, portanto, deve ter vindo de outra fonte ou sido uma tradição passada verbalmente para Paulo. A frase “sem pai, sem mãe” costuma ser uma referência codificada para alguém de origem divina ou semidivina. O uso do termo “filho de Deus” para descrever o rei-sacerdote seria herético e blasfemo para a maioria dos cristãos ortodoxos. Para eles, existe apenas um filho de Deus, e ele foi Jesus. Na tradição esotérica, “Bem Elohim” ou “filho de Deus” se refere aos arcan- jos e, especificamente, aos anjos caídos.

A primeira vista, parece estranho que Paulo tenha selecionado uma figura obscura como Melquisedeque dentre todos os personagens famosos do Velho Testamento e o comparado com Cristo. De fato, um olhar mais detalhado nesse rei-sacerdote na tradição esotérica pode esclarecer essa escolha estranha. Em A Doutrina Secreta (1893), Blavatsky conecta Melquisedeque com nossos velhos amigos Titãs e com os Cabari, ou Kaberim, os velhos deuses do mar e do mundo subterrâneo que ensinaram os humanos sobre a agricultura e a fundição. Presumidamente, esses Poderosos, que ffeqüentemente aparecem em nossa história, eram às vezes chamados de filhos de [Melqui] Zadok. De fato, Zadok era um velho nome associado ao sacerdócio judaico, que serviu no templo de Salomão. Blavatsky compara Melquisedeque com o deus romano da guerra Marte, que era conhecido com o Senhor da Morte e governava a agricultura, a construção e a arquitetura. De acordo com Blavatsky, Marte era também associado no mundo antigo a Vulcano e Caim. Blavatsky diz que o rei-sacerdote Melquisedeque era conhecido como o Justo e, de acordo com ela, também era o governante da Terra Mater, o Rex Mundi ou Rei do Mundo.


Na tradição esotérica, Melquisedeque supostamente teria trazido três presentes especiais do planeta Vênus (a Estrela da Manhã) para os primeiros humanos. O primeiro deles era o trigo, um símbolo de fertilidade e morte do Deus Sacrificado ou Rei Divino. O seu segundo presente foi a abelha, que é essencial para a polinização de plantas, ainda que hoje elas estejam em perigo em virtude do uso indevido de pesticidas e plantações modificadas geneticamente. Tanto a abelha quanto o mel que ela produz eram associados com o culto primitivo à Grande Deusa Mãe. A Flor de Lis, adotada pela família real francesa como um dos seus emblemas, aparentemente é derivada de uma imagem estilizada de uma abelha. Antigos reis costumavam ser embalsamados, tendo seus corpos besuntados com mel. Abelhas de ouro também eram importantes símbolos da dinastia merovíngia dos reis bruxos. O terceiro e último presente foi o amianto, um material com a capacidade mágica de resistir ao fogo e absorver calor. Se aceitarmos que há milhões de anos Venus era um planeta quente e estéril, então a alegação de que esses presentes são originários do planeta irmão da Terra deve ter um significado simbólico.

Melquisedeque também está intimamente ligado aos mistérios do Graal. Na catedral de Chartres, na França, construída em um antigo local pagão de adoração à deusa, dedicada à Madonna Negra e financiado pelos Templários, pode se ver estátua de um rei-sacerdote bíblico. E estranho que os maçons e arquitetos medievais tenham selecionado essa figura obscura para dar tal tratamento. Entretanto, como muitos deles eram iniciados nos Mistérios, presumimos que eles entendessem seu real significado, soubessem sua verdadeira identidade, e o que ele representava na evolução deste planeta e da raça humana. A estátua segura um cálice identificado como o Santo Graal. Nesse cálice, está uma pedra e isso nos lembra da lenda medieval que diz que o Graal foi esculpido da esmeralda de Lúcifer.

Então, quem é o misterioso rei-sacerdote de Salém? Para ocultistas imersos na tradição teosófica, ele é um dos Manus, os grandes mestres e modelos culturais também conhecidos como os Mestres da Sabedoria. Eles abandonaram suas formas etéreas e encarnaram na Terra como guias e professores.

Melquisedeque é, portanto, revelado como um dos avatares do Mundo Mestre, o Senhor do Mundo, Rex Mundi. É importante que ele seja chamado às vezes de Pai da Humanidade. Não é, portanto, surpresa que Paulo tenha chamado Jesus de sacerdote, depois da Ordem de Melquisedeque, ou ele era conhecido como a Luz do Mundo (João 8:12 e 12:46). Mais explicitamente, no Apocalipse 22:16, Jesus diz: “Eusoua Raiz e a Geração de Davi, a resplandecente Estrela da Manhã'. Essa é outra referência herética na Bíblia que escapou dos censores.