sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Anjo Da Terra


Nos escritos cabalistas anglicizados de ocultistas modernos, o arcanjo designado para Malkuth, a sefírah ou esfera da Terra na Arvore da Vida, é chamado de Sandalphon. Ele é descrito como o regente planetário da Terra, assim como Uriel é o arcanjo realmente associado ao elemento terra. Na tradição Luciferiana alternativa e mais subversiva, o Grande Arcanjo da Terra é conhecido como Lumiel ou a Luz de Deus.

Uma dica para a real natureza desse anjo da Terra é dada por Dion Fortune em seu livro A Cabala Mística (1935). Ela diz que os cabalistas às vezes chamam Sandalphon de anjo negro. Esse é um título que também é dado para Lumiel-Lúcifer, apesar de sua real associação com a luz. Fortune diz que, nesse papel e função como anjo negro, Sandalphon governa o débito cármico. Por esse motivo, ela diz que Malkuth é conhecido como o Portal da Justiça e Lágrimas ou poeticamente como o vale das lágrimas. E a esfera na qual o carma geralmente é trabalhado (p. 290). Em Aradia: Evangelho das Bruxas, é Lúcifer que gira a Roda do Destino controlada por Diana-Lilith.

Mais recentemente, David Goddard publicou um livro chamado A Magia Sagrada dos Anjos. Nele, reproduziu um quadrado mágico, descrito como a Carta de Proteção de Vida de Lumiel. Isso, disse ele a seus leitores, protegeu a alma do medo e do enfraquecimento, a mente do dano e o corpo do estrago dentro do confinamento da lei do carma (pp. 140-141). 

Goddard descreve Lumiel como meramente um dos anjos do planeta Terra. Ele não dá a ele status de arcanjo, tampouco de regente planetário e, no estilo cabalístico tradicional, coloca Sandalphon nesse papel. Como o livro de Goddard é amplamente baseado no curso de correspondência criado nos anos de 1950 por Madeline Montalban, da Ordem da Estrela da Manhã, ele deveria estar ciente da verdadeira natureza de Lumiel. Enquanto ele naturalmente esperava que a Igreja rejeitasse o chamado anjo negro e todo seu trabalho, é sempre muito triste e surpreendente encontrar ocultistas caindo nessa armadilha.

Uma indicação da natureza e posição verdadeiras de Lumiel no padrão cósmico ainda sobrevive no Cabalismo ortodoxo, apesar das tentativas de erradicá-lo. Na Arvore da Vida, o arcanjo oposto a Sandalphon é o misterioso Metraton, que é o governante da elevada sefírah Kether. Isso representa o objetivo da busca interior de iluminação espiritual, liberdade da manifestação no Universo físico e a união mística com o Divino. Há um velho ditado cabalístico que diz: “Kether está em Malkuth, assim como Malkuth está em Kether”. Essa é uma variação do velho axioma hermético “como é acima, assim é abaixo”. Isso nos diz que Lumiel, como a luz do relâmpago que desce o pilar do meio da Árvore, tem o poder de agraciar a perfeição para aqueles que o seguirem e aqueles que seguirem o caminha da Alquimia espiritual.

Quem é Metraton? Seu nome significa perto do trono [de Deus] e, às vezes, é chamado de Embaixador de Deus, com relação aos seus assuntos com o mundo humano. O Sepher Yetzirah o descreve como a fonte de iluminação e toda a luz do Universo. Ele também é descrito como o anjo chefe de Deus e o filho de Shekinah, ou Noiva de Deus, a presença feminina do Criador do pai-mãe. O Shekinah, como vimos, foi associado de várias maneiras com muitas deusas ocidentais, incluindo Lilith e Anat. Essa última foi uma deusa da fertilidade, da guerra e do amor sexual, cujo filho foi um deus do fogo. As afinidades entre Metraton e Lumiel são muito fortes para serem meramente coincidência.

Metraton é um anjo instrutor, como são os regentes planetários, e diz-se que ele ensinou os segredos da Cabala para Moisés, o príncipe egípcio e iniciado do templo. Acredita-se que uma das esposas de Moisés, uma egípcia, tenha sido Lilith disfarçada de humana. As águas também estão lamacentas, com a alegação de que o próprio Metraton tenha sido humano. De fato, ele aparentemente foi o profeta Enoch do Velho Testamento, que caminhou com Deus e deixou de existir. Isso pode ser entendido como uma pista mais abrangente para a real identidade angelical de Metraton, já que Enoch é uma figura-chave na história dos Vigias. No Livro de Enoch, que carrega seu nome, ele é o escriba que recontou sua queda do Paraíso.

Outras evidências de águas lamacentas e encobrimentos teológicos podem ser detectadas no papel de Lumiel como um regente planetário. Na velha tradição, ele é claramente o Demiurgo, ou regente da Terra, como Senhor Deste Mundo. Sua imagem histórica primária nesse papel é o deus-bode dos Templários heréticos chamado Baphomet. Entretanto, Lumiel foi originalmente o arcanjo do sol e portanto o logos solar desse sistema estelar.

Na Angelologia Cabalista ortodoxa, Mikael ou Miguel (São Miguel) é descrito como o arcanjo solar. Em Filosofia Oculta, de Agrippa, o assunto acaba se tomando mais confuso, designando Rafael, o arcanjo de Mercúrio, como o do sol e Miguel como o da terra. Agrippa está parcialmente correto, pois, antes da mítica “Guerra no Céu”, Miguel era o Anjo da Terra, e ele e Lumiel trocaram de lugar e de papéis quando o Portador da Luz caiu em desgraça.

Imagens cristãs de São Miguel derrotando o dragão e a constmção de igrejas deliberadamente dedicadas a esse santo/arcanjo em antigos locais de adoração pagã são todas partes do encobrimento. As vezes, estátuas do Arcanjo Miguel em igrejas ou túmulos o representam vestindo a Estrela da Manhã de Lumiel em sua testa.

Reproduzida neste capítulo está uma ilustração de Lumiel na forma tradicional por Nigel Aldcroft Jackson. E baseada em uma experiência visionária do artista e contém símbolos representando seu papel como Anjo da Terra. Como guia para invocar o poder e a presença desse ser angelical incrível, o significado desses signos são dados em seguida. Antes de mais nada, ele está envolto em uma aura de estrelas, formando um portão ou arco sobre seu corpo. Isso significa que ele não apenas é o Senhor do Mundo, mas também sua posição cósmica pré-Queda era a do primeiro a ser criado, o Logos ou a Palavra de Deus e primeira luz do Universo. Suas asas são uma lembrança de que, apesar dos anjos poderem aparecer na forma humanóide ou nas duas formas na realidade, eles são poderosos Senhores da Chama sem sexo. Asas podem também ser encontradas nos querubins da antiga Assíria e nos deuses sumérios dos planetas. Em todos os casos, eles são um sinal da origem divina e poder celestial. Conseqüentemente, há a crença de que, se um anjo perder suas asas, se tomará mortal.

Brilhando na testa de Lumiel está a Estrela da Manhã. Como vimos, isso representa Vênus, o Terceiro Olho e a Marca de Caim. Na bruxaria tradicional, é a vela entre os chifres do bode sabático representando a iluminação. No terceiro nível da Maçonaria, a Estrela Ardente na Loja é descrita para o candidato como aquela estrela da manhã brilhante cuja nascente traz paz e tranquilidade para os fiéis e obedientes da raça humana. No seu livro O Taró dos Mágicos (1927), Oswald Wirth diz que, quando a Estrela Ardente surge no crepúsculo depois do sol se pondo, embora sua luz seja discreta, é penetrante, pois ela ilumina o aspecto interior das coisas. Nos mistérios esotéricos do Cristianismo, é o signo do Cristo Ressuscitado. O apócrifo Evangelho da Infância de Jesus Cristo diz que a estrela no leste seguida pelos magos até a criança Jesus Cristo era de fato a luz refletida de um anjo que os guiou até o local de nascimento. O pentagrama ou estrela de cinco pontas é conhecido na tradição mágica cabalista como o “Selo de Salomão”.

O manto de Lumiel está preso por um cinto ou faixa que forma o signo da Cruz de Tau. Uma das acusações feitas sobre os Templários é que eles vestiam uma faixa especial ou cordão sob as roupas. Esse costume também é encontrado em outras seitas herméticas. Especialmente no Oriente Médio. Como vimos, o Tau é o símbolo único de Lumiel e seu papel como um avatar para a raça humana. Seu destino é encamar na forma humana em certos momentos-chave da história do mundo como um salvador e redentor da humanidade.

Nesse processo de duas vias, tanto o anjo negro quanto seu povo recebem um grau de redenção. Esse processo também está representado na ilustração pelo selo no lado esquerdo sobre a rosa. Alguns observadores vêem isso como um sinal para os ungidos, mas na verdade é baseado em um hieróglifo egípcio para Vênus. Nesse contexto, é o conhecimento divino trazido para a Terra pelo Senhor da Estrela da Manhã. 

No canto esquerdo, está a rosa de cinco pétalas, e esse é um dos mais importantes símbolos na tradição Luciferiana. Elapode ser vermelha (Lúcifer) ou branca (Lilith) e ser a rosa Tudor ou a rosa canina. Hoje, rosas híbridas são usadas porque elas estão disponíveis e os tempos mudam. A rosa é primariamente o sinal da linhagem de sangue sagrada e mística criada pela união dos Vigias com a raça humana, a chamada Familia da Rosa ou Sangue da Rosa. Em seu nivel mais elevado, a rosa refere-se a pendragons ou dragões reis, e ela aparece naqueles contos de fadas e lendas que escondem os ensinamentos das tradições Luciferianas. Ela também tem sido usada como brasão por grupos ocultos, ao longo das eras, que (secretamente) devem sua submissão ao Portador da Luz.

A rosa é também um símbolo do aspecto feminino do Espírito da Terra e Sophia-Sabedoria como a consorte de Lumiel-Lúcifer. No folclore medieval, ela é geralmente vista como o personagem conhecido como Dama Vênus ou Habondia preservada no Taró como a carta da Imperatriz. Ela é associada ao morro vazio semimítico de o Monte de Vênus, como o útero telúrico da Magna Mater ou Grande Mãe e portal para o Outro Mundo. A folclorista vitoriana Sabine Baring Gould descreve, em seu livro Curiosos Mitos da Idade Média (1866), como um cavaleiro e trovador francês chamado Tannhauser viajava próximo ao Monte de Vênus para participar de um encontro bárdico. Com o crepúsculo, ele passou por uma caverna e viu uma bela figura brilhante em pé ao lado da entrada. Ela acenou para ele, que a reconheceu como a deusa do amor. Uma fraca luz rosada brilhou de seu corpo e ninfas apareceram, jogando pétalas de rosas aos seus pés. Consumido pela paixão, Tannhauser seguiu a Senhora da Rosa dentro do morro vazio. Ali, ele firmou um casamento de sete anos com a deusa.

A história de Tannhauser e Vênus pode ter se originado na lenda de sibila, que viveu em um labirinto nas cavernas abaixo do templo de Apoio em Cumae. Ali, ela previu o futuro até a chegada do Cristianismo. Em Guerino Meschino (1390), a história de Guerino conta como ele conheceu Lúcifer nas montanhas próximas à Umbría. Lúcifer tentou o garoto com contos sobre uma fada ou mulher encantadora chamada Sybilla, que tinha um jardim subterrâneo de encantos terrestres em uma caverna guardada por uma cobra. A sibila tentou seduzir Guerino, mas o garoto viu por baixo de seu vestido e percebeu que ela tinha pernas de um monstro. Ele conseguiu escapar de seus ardis e, como Tannhauser, vai para Roma em busca de absolvição pelo papa. O pontífice identifica Sybilla com Vênus.

A lenda de Tannhauser ficou muito popular a partir do século XIV. Pelos trezentos anos seguintes, bruxas, videntes e doutores astutos alegaram ter visitado o Monte de Vênus e aprendido os segredos concedidos pela Dama Vênus. Em 1550, a Inquisição conseguiu uma confissão de Zuan dele Piarte, que declarou ter visitado a montanha de sibila. Ali ele conheceu a Dama Vênus e renunciou a fé cristã para segui-la. O cristalomancista e herbalista Diell Breull alegou, em 1630, que tinha viajado para a montanha dela quatro vezes por ano. Ele aprendeu a bruxaria verde herbalista, e a deusa mostrou a ele visões de pessoas mortas em um recipiente de água. Em 1623, um médico clérigo chamado Hans Hauser alardeou em uma tavema que ele tinha viajado para o Monte de Vênus e tinha aprendido divinação, cura e magia natural.

Durante a Idade Média, a rainha de Elfame e senhora das bruxas, Dama Vênus-Habondia, foi reverenciada pelos camponeses europeus, como uma potência feminina habitando uma caverna sob um pico sagrado. Sua lenda representa outro exemplo de contatos entre humanos e elfos, quando conhecimentos ocultos eram compartilhados. Para os filósofos e magos da Renascença, a rosa era o símbolo primitivo de Vênus e Agrippa nos conta que a Rosa de Lúcifer foi dedicada a ela. Em visões de alquimistas, ela surgia como Senhora Vênus “... em um manto carmim em camadas com fios verdes... ” E interessante que o vermelho e o verde também sejam as cores associadas a Santa Maria Madalena. Ela foi por vezes pintada usando um vestido verde e um manto vermelho.

Na Alquimia, a Rosa Mística é o símbolo da Tintura do Sábio. Essa tintura tinha o poder de curar todas as enfermidades e doenças, regenerar metais e transformar tudo em ouro. A rosa alba ou rosa branca de Lil ith é a pedra branca lunar-mercurial que converte o metal em prata. A rosa rubae é a rosa vermelha de Lúcifer e é de natureza solar-sulfúrica. É o equivalente à Pedra Filosofal ou Pedra do Sábio, pois pode transformar chumbo em ouro. Basil Valentine disse: “Essa tintura é a Rosa dos Mestres. O alquimista deve juntar o mercúrio filosófico e o sulfúrico filosófico em um casamento químico entre a Rainha Branca com o Rei Vermelho para produzir a Pedra Filosofal”. Nicolás Flamel (1330 -1418) descreve metaforicamente a pedra como existente em uma montanha em que dragões se aninham ou em um jardim no qual a roseira sobe por um carvalho encantado sagrado. Dizem que o místico medieval de Mallorca Raymond Lully cunhou moedas feitas de ouro alquimista gravado com uma rosa.

Na ilustração, sobre a rosa, está o ankh egípcio antigo ou crux ansata. É conhecido às vezes como a tira da sandália de Isis e foi um símbolo de vida universal. Ela representa a imortalidade e a força de vida que permeia e sustenta o Universo. O ankh é composto da cruz de Tau como um símbolo fálico unido a um oval representando o yoni, e este é o casamento sagrado dos opostos ou rosas vermelhas e brancas. As forças masculinas e femininas como o Sol, Lúcifer-Apolo, e a Lua, Lilith-Diana, se juntam em um Grande Rito de Alquimia espiritual. Em um nível esotérico, o ankh é importante por mostrar a importância das famílias reais egípcias na continuidade física da linhagem de sangue sagrada desde tempos antigos.

O tema do casamento sagrado é trazido à tona novamente no canto inferior direito, no qual há imagens do Sol e da Lua com a essência espiritual transbordando deles dentro do cálice. Ele é criado da união das energias masculina e feminina e os fluidos masculinos e femininos correspondentes no Grande Rito entre o sumo sacerdote e a sumo sacerdotisa. A essência feminina é conhecida como o Oleo de Lilith e, na Alquimia, a combinação entre as essências masculina e feminina é chamada de Sangue do Leão Vermelho e o Glúten da Águia Branca.

A união física e espiritual do Grande Rito produz o chamado orvalho da rosa, a aqua vitae ou água da vida, ou a estrela-fogo da Deusa. Ele corre em direção ao Cálice da Luz ou Graal, o Copo das Águas, que representa a flor yoni da Deusa Estrela e seu útero do espaço sideral. Em termos esotéricos, o Graal é o objetivo no final do Caminho, no centro do labirinto ou no topo da Árvore do Mundo ou Árvore da Vida. No mito pré-cristão, é o Caldeirão da Inspiração, Regeneração e Renascimento da Deusa Negra do mundo inferior. Na mitologia Celta, possui o poder criativo de curar o castrado rei Pescador, restaurar a fertilidade da Terra Desolada, ressuscitar heróis mortos, alimentar os famintos e transformar o iniciado em um sacerdote/ sacerdotisa da Luz Interior. 

O Graal na ilustração está marcado com uma cruz de braços idênticos. Esse é outro símbolo importante e versátil na bruxaria Luciferiana para harmonia cósmica e o equilíbrio dos quatro elementos que devem ser adquiridos pelo mago para completar o Grande Trabalho. Com a cruz abaixo do círculo, é um símbolo de Vênus-Lilith e do sexo feminino. Sobrepujado por uma crescente, ou dois chifres, ele se toma o selo de Hermes-Thoth-Merlin-Woden. Com a cruz como uma serpente com a cauda em sua boca e sobrepujada pela cruz, é o selo de Ordo Draconis e a Ordem de Melquisedeque, para quem todos os reis-sacerdotes da rosa de sangue pertencem por direito de nascença ou encarnação da alma.

Esses são, portanto, os selos primários da Anjo do Terra Lumiel, e seu uso contatará o usuário com o Senhor da Luz em suas várias formas. Durante os séculos, os inimigos da verdade e os sacerdotes de religiões falsas tentaram degradar e depreciar o mito de Lumiel. Ao confundi-lo com o anjo tentador Satanael, eles deliberadamente transformaram o Senhor da Primeira Luz em um imaginário príncipe das trevas. Na mente coletiva da horda, ele foi transformado em um bicho-papão demoníaco usado para assustar e controlar os fiéis com o fogo do inferno e a condenação. De fato, em contraste com essas tolas histórias de horror, Lumiel oferece para todos aqueles que acreditam nele e o aceitam um caminho além do materialismo vulgar e para longe dos ensinamentos estéreis das falsas religiões. Esse caminho não leva ao Inferno, mas sim à auto-realização e iluminação.