sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Templo De Salomão


Historiadores maçônicos não deram nenhuma razão para a história de Ninrode e da Torre de Babel ter sido substituída pela lenda do Rei Salomão e seu templo nas origens lendárias da arte deles. No entanto, o projeto e a construção do templo em Jerusalém são imersos em doutrina arcana, simbolismo Luciferiano e história maçônica. Já no século XIII, um bispo cristão associou a construção do templo à construção das grandes catedrais góticas pela Europa. E observou como os construtores que as edificaram haviam incorporado naquelas igrejas medievais a escada em caracol do templo judaico, que representava “o conhecimento oculto que somente aqueles que ascenderam aos planos celestiais possuem. O bispo prossegue dizendo como ‘as pedras são polidas e quadriculadas, que é sagrado e puro e são construídas pelas mãos do Grande Desconhecido em um lugar permanente na igreja.” (Jones, 1950:426-7)

No relato bíblico sobre a construção do templo, é afirmado que Salomão pediu assistência ao pagão rei Hirão de Tiro na Fenicia (Líbano atual). Naquele tempo, Tiro era famosa em todo o Oriente Médio pela adoração da deusa Astarte. Salomão trocou com o Rei suprimentos de cevada, trigo, óleo, cereais e vinho como pagamento pela madeira de cedro usada para construir o templo e os serviços dos arquitetos, pedreiros, carpinteiros e trabalhadores de metal. O Rei também enviou um ferreiro e mestre construtor chamado Hiram Abiffpara supervisar os construtores e o trabalho deles. Abiff é descrito de várias maneiras como “um artífice de metal” ou “homem habilidoso”. Em termos bíblicos, um “artífice habilidoso” era um mago ou feiticeiro e, como veremos, o homônimo do rei tinha algum conhecimento das artes mágicas.

Hiram Abiff é às vezes chamado de filho do rei Hirão, e é descrito enigmaticamente como “o filho da viúva”. Ainda hoje os maçons se referem a si mesmos usando esse termo, que é às vezes usado para se apresentar para um membro Irmão. Em termos pagãos, a expressão é uma referência codificada ao “deus mortal” da mitologia do Oriente Médio, que morre, descende ao mundo subterrâneo e é pranteado pela sua mãe deusa. Essa figura da “viúva” aparece em muitas culturas; ela é Ishtar chorando por Tamuz, Isis em luto por Osíris e Frigga lamentando a morte de Baldur. Nos mistérios cristãos, ela é a Abençoada Virgem Maria, como Mãe Dolorosa, a “mãe aflita” ao pé da cruz que recebe em seus braços o corpo armiñado de seu filho sacrificado — a “Luz do Mundo”. (João 8:12)

A adoração do deus pagão Tamuz nos arredores do templo em Jerusalém é mencionada no Velho Testamento. Descrevendo uma visão recebida de Javé, o profeta Ezequiel diz: “Então ele me levou ao átrio interior da casa do Senhor, que está do lado do norte, e vi ali mulheres assentadas chorando por Tamuz”. Ele prossegue descrevendo como foi levado ao átrio intemo do templo. Lá, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte homens estavam em pé com os rostos para o Oriente adorando o sol na maneira pagã. (Ezequiel 8:14-16)

Na doutrina maçônica, Hiram Abiff dividiu seus empregados em três grupos ou graus conhecidos como Aprendiz, Companheiro e Mestre Constmtor (maçom) e ainda hoje eles são usados na Maçonaria. Cada grau aplicava seu próprio conhecimento, palavras de passe secretas, sinais e marcas de construtores pelas quais eles se reconheciam e identificavam seus graus. Alguns dos construtores não estavam satisfeitos com os graus que tinham recebido e conspiraram para obter uma posição mais alta. Três Companheiros, Jubela, Jubelo e Jubelum, decidiram confrontar Hiram Abiff e forçá-lo a revelar a palavra de passe secreta do grau de Mestre Construtor. Eles prepararam uma emboscada nas três entradas do templo inacabado.

Enquanto Abiff passava pela entrada sul, ele foi confrontado por Jubela. Quando se recusou a revelar a palavra de passe, Abiff foi golpeado na garganta com uma régua. O construtor machucado cambaleou até a entrada oeste, e sua saída foi impedida por Jubelo. Novamente ele se recusou a entregar a palavra de passe e foi atingido no peito por um compasso. No final, mortalmente ferido e sangrando intensamente pelas duas feridas, ele tentou escapar pela entrada norte. Ali Jubelum estava à espera. Apesar de estar morrendo, Abiff ainda se recusou a revelar o segredo pela terceira vez. Ele foi atingido entre os olhos com um malho ou martelo de construtor e caiu morto.

Para esconder o seu ato covarde, os assassinos apavorados secretamente esconderam o corpo do arquiteto no Monte Monah, onde Enoch havia “andado com Deus e Ele o tomou”. Eles plantaram um arbusto de acácia perene sobre a cova rasa para esconder a terra remexida. Tentaram então fugir para o sul, em direção à Etiópia, mas foram pegos na fuga e executados. O Rei Salomão enviou grupos de busca para encontrar o corpo de Abiff e no final ele foi encontrado. Os Aprendizes do templo tentaram sem sucesso trazer seu mestre de volta do mundo dos mortos. Ele foi finalmente ressuscitado pelos Mestres Construtores usando “o aperto forte da garra do leão”.

Manly Palmer Hall disse sobre a história de Hiram Abiff e seu assassinato: “Dessa forma, o construtor assassinado é um tipo de mártir cósmico - o espírito crucificado do Bom, o deus mortal cujo mistério é famoso por todo o mundo". (1962: IXXVIII)

Hall associa Abiff à força criativa (fálica) solar que morre e é renascida durante o curso do ano. O rito de necromancia realizado pelos Mestres Construtores chamado de “o aperto forte da garra do leão” é, segundo Hall, uma referência ao signo zodiacal de características da realeza, o Leão. Ele é associado ao mês de agosto e, na moderna tradição neo- pagã, com Lammas e o sacrifício do rei divino.

Nos ritos de iniciação dos mistérios pagãos, o leão representava “a superação das forças da morte e do renascimento, e a afirmação da imortalidade individual do espírito humano”. (Knight, 1985:70) No Rosacrucianismo, o leão é o símbolo para o sol e a força fálica solar associada ao “poder da serpente” do kundalini, acordado na magia sexual por um processo de equilíbrio dos quatro poderes elementais e pelo crescimento a partir dos poderes da Lua em conjunção com as outras seis forças planetárias. (Knight, 1985:88)

Na Alquimia, a união mística ou “casamento sagrado” dos poderes solares e lunares é simbolizada pela serpente com cabeça de leão. Podemos recordar que ela é um dos símbolos usados pelos antigos egípcios para descrever o deus solar negro Seth. Em processos alquímicos, a união entre o rei solar e a rainha lunar produziu um “filho mágico”, que era o ser humano andrógino aperfeiçoado antes de Adão. Como Gareth Knight diz: “a maior visão de unidade encontra-se na transformação da Deusa, a dançarina no centro da rosa. Esse é um mistério a ser encontrado também nas lendas do Santo Graal e o segredo da jóia na cabeça do sapo da Alquimia. Aquela [jóia]que caiu da coroa do caído Filho da Manhã'. (1985:189)

Jesus foi descrito como “... o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi...” (Apocalipse 5:5). Alguns escritores sugeriram que isso era porque ele nasceu sob o signo astrológico de Leão (Gilbert, 1996:223). No entanto, é mais provável que ele tenha recebido esse título por causa de sua ligação com os antigos mistérios egípcios e a linhagem sagrada dos antigos “reis leões”.

Alguns antigos historiadores maçônicos viam Hiram Abiff como outra forma de Osíris. Uma das entradas em que Abiff foi golpeado foi a do oeste, onde o sol se põe. Na mitologia egípcia, o mundo subterrâneo governado por Osíris depois de sua própria morte era situado no oceano ao oeste. Osíris tradicionalmente levanta dos mortos no norte, e na astrologia egípcia esse é o local associado ao Leão. O sul, onde Abiff foi ferido primeiro, era tradicionalmente o domínio de Seth. Osíris às vezes também era chamado de o Senhor da Arvore de Acácia, e essa é a mesma árvore que os três assassinos plantaram sobre a cova do mestre construtor.

A tradição esotérica alega que Hiram Abiff foi membro de uma antiga sociedade de construtores e arquitetos conhecida como os Artífices de Dioniso. Eles supostamente apareceram pela primeira vez por volta do ano 1000 a.C. e adotaram seu nome a partir do deus grego Dioniso, que é outra versão do deus mortal da vegetação. A Sociedade usava sinais secretos e palavras de passe para se identificar, era dividida em capítulos ou Lojas governadas por um mestre construtor e se dedicava a ajudar os pobres e os doentes. Dizem que eles estabeleceram Lojas secretas na maioria dos países mediterrâneos, por todo o Império Romano e até a índia no Oriente. Eles eram associados a outra sociedade secreta ligada à construção civil chamada Jônios. Membros desse grupo haviam se estabelecido na Ásia Menor e, como modelos culturais, eles se dedicaram a expandir a cultura, especialmente em sua forma grega, àquele que eles consideravam o mundo bárbaro.

Os Jônios foram supostamente responsáveis pelo famoso templo à deusa Diana, em Efeso, na Turquia de hoje, que foi condenado por São Paulo e destruído pelos cristãos. Uma lenda diz que os Jônios e os Artífices viajaram de Tiro para trabalhar no templo de Salomão. Mais tarde, os Artífices adotaram na prática o nome de os Filhos ou Crianças de Salomão, em sua honra. Eles também fundaram os Cassidens, um grupo na Palestina responsável pela construção e restauração de sinagogas. Foi alegado que, em contrapartida, os Cassidens colaboraram para a fundação da comunidade mística dos Essênios, cujos membros podem possivelmente incluir João Batista e Jesus de Nazaré.

Os Artífices de Dioniso tinham muitas opiniões em comum com as corporações de construtores medievais e com os maçons que os seguiram. Eles acreditavam que templos tinham de ser construídos usando os princípios da Geometria sagrada. Pelo uso habilidoso da simetria, medida e proporção, os Artífices construíram edifícios religiosos que representavam o corpo humano como um símbolo de Deus, o Universo e o Primeiro Adão, o “homem aperfeiçoado”. Os projetos de muitos templos antigos foram baseados na proporção do corpo humano como um microcosmo no macrocosmo em termos herméticos. Kircher, em seu livro Arca Noê27 (1675), disse: “Quando o homem se estica em cruz, de forma que o círculo toca as extremidades de suas mãos e pés, o centro está no umbigo. Mas, se ele coloca seus pés juntos, o centro está no meio do membro [falo] humano. Era de acordo com essa medida do corpo humano que Noé supostamente construiu sua arca e Salomão, seu templo.'’'

As teorias dos Artífices sobre o projeto do templo, a Geometria sagrada e a Arquitetura foram amplamente baseadas na unidade mística entre a humanidade, o Universo e Deus. Eles também fomentavam uma crença conjunta em uma utopia na Terra. Isso era expresso simbolicamente por um bloco grosseiro de pedra ou rocha chamado de pedra polida,28 que o mestre construtor, representando o Grande Arquiteto do Universo, estava constantemente polindo e talhando para transformá-la em um objeto de perfeição. O malho e o cinzel do construtor representam as forças cósmicas que moldam o destino da humanidade. As semelhanças entre essas crenças e aquelas dos maçons tempos depois são certamente notáveis para ser totalmente coincidentes.

Uma das muitas coisas surpreendentes sobre o templo de Salomão, que deveria supostamente ser a “Casa de Javé”, é que o rei hebreu pediu materiais e ajuda de um rei pagão e usou trabalhadores pagãos para construí-lo. Isso foi em uma época em que os hebreus deveríam estar adorando um deus monoteísta. B.W. Anderson alegou que “o templo projetado por arquitetos fenicios (isto é, canaanitas) representava a invasão da cultura canaanita exatamente no centro da vida e adoração de Is- raer. Aliás, o projeto do templo em Jemsalém era muito similar, se não idêntico, a outros templos do Oriente Médio, incluindo aqueles do Egito. Além disso, os suprimentos enviados por Salomão a Tiro como pagamento suspeitosamente se parecem com o tipo de ofertas sacrificatorias feitas às divindades dos cultos de fertilidade na região.

Dizem na tradição cabalista que havia uma troca de correspondências prolongada e secreta entre os dois reis contendo enigmas que Salomão tinha de responder. E extremamente tentador especular que Salomão tinha se tomado um aluno do rei pagão e “foi instruído por ele nos mistérios das deusas Ishtar e Astarte e na descida delas ao mundo subterrâneo”. (Howard, 1989: 15) O historiador e pesquisador maçônico J.S.M. Ward vai mais além ao alegar que o Rei Hirão e o Mestre Construtor Hiram Abiff eram uma e a mesma pessoa - um rei-sacer- dote de Tiro, “a encarnação viva de Adônis [Tamuz]”. Nessa função, ele foi oferecido como um sacrifício de consagração na conclusão do templo de Salomão.

Enquanto muitos leitores da Bíblia acreditam na história fabricada de que o templo foi construído e dedicado para a adoração de Javé, o dr. Raphael Patai alegou que por mais de quase quatrocentos anos existiu em Jemsalém uma estátua de Asherah, representando a deusa da fertilidade e a consorte secreta de Javé. O dr. Patai diz: “A adoração a ela fazia parte da verdadeira religião aceita e guiada pelo rei, a corte e a classe sacerdotal....” (1990:50) Essa imagem da deusa canaanita somente foi removida quando os babilônios invadiram o templo em 586 d.C. e o destruíram.

Mesmo enquanto ele era um seguidor dedicado de Javé, Salomão imitou o exemplo de muitos dos seus próprios súditos e foi também um adorador da deusa da fertilidade. O Antigo Testamento afirma de forma perfeitamente clara: “No tempo da velhice de Salomão, suas mulheres [estrangeiras] lhe perverteram o coração para seguir a outros deuses (...) Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios...” Suas mulheres também “queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses (1 Reis 11:4-8) Enquanto dizem que isso aconteceu quando Salomão era velho, antes mesmo de construir seu templo, ele havia feito uma aliança com o faraó egípcio e se casou com uma de suas filhas. Fazer bolos como oferendas à “Rainha do Céu” e queimar incenso em bosques sagrados em “locais altos” para Baal, Anat e Asherah-Astarte eram práticas comuns durante o reinado de Salomão. Existem diversas referências a elas no Velho Testamento e sua reprovação pelos profetas.

Na doutrina esotérica maçônica, dizem que houve três templos de Salomão. O primeiro foi conhecido como “A Grande Casa do Universo” ou “A Casa da Luz Eterna”. Ele era representado pelos 12 símbolos do zodíaco girando em tomo do sol e simbolizava o sistema solar e o Universo físico. O “segundo templo” era o corpo humano como um microcosmo do macrocosmo. Ele representava o iniciado percorrendo o Caminho, aquele que está na busca da gnose e da iluminação espiritual por meio do contato com o Deus Oculto dentro dele.

Em termos esotéricos, o “segundo templo” era erguido quando o iniciado compreendia que ele ou ela era um “templo do espírito” e que “o espírito de Deus habitava dentro deles”. Um dos dizeres atribuídos às cerimônias de iniciação nos Mistérios pagãos era “Tu és Deus”. O assim conhecido “terceiro templo” é o “templo invisível e não feito com mãos humanas”. No Cristianismo esotérico é a “Igreja Oculta do Santo Graal” e “O Templo Celestial”.

Dizem que o templo “não foi construído por mãos humanas” porque supostamente um verme misterioso ou uma criatura serpentiforme chamada de Shamir talhava e cortava as pedras. Outras histórias dizem que Salomão contou com a ajuda sobrenatural para construir o templo na forma de serventes elementáis que ele invocou usando seus poderes de mago. Ele supostamente evocou djinns (espíritos) e demônios para mover enormes blocos de pedra para a posição correta. Curiosamente, um antigo documento de Alexandria refere-se aos poderes mágicos dos sacerdotes egípcios que “tinham domínio sobre os espíritos dos elementos”. Eles conseguiam, supostamente por magia, “carregar pedras para seus templos, através do ar, que mil homens não conseguiríam erguer”. (Collins, 1998: 39)

Um dos mais notáveis objetos no templo era o chamado Mar de Fundição. Ele era um caldeirão ou tigela enorme com uma borda decorada com lírios. Era sustentado por 12 bois, três em cada quadrante. (1 Reis 7:23-26) Manly Palmer Hall comenta sobre ele: “A alma, formada por uma invisível substância ardente, um metal dourado brilhante, é fundida pelo mestre construtor Chiram Abiff em um molde de barro (o corpo físico) e é chamado de Mar de Fundição”. (1962 CLXXV) Isso é uma alegoria ligada aos poderes da arte do forjador de metais, como um meio de transmutar o físico no espiritual. O Mar de Fundição é a obtenção da consciência cósmica por meio da “centelha divina na foija” operada pelo ferreiro divino. Anderson também diz: “O mar (alegórico ao primeiro oceano) era sustentado por 12 bois [e] reflete fertilidade e temas mitológicos do Crescente FértiF (1971). Na verdade, Hiram Abiff teve uma visão de Tubalcaim que concedeu a ele o poder para terminar o templo e fazer o Mar de Fundição. Dizem que a Rainha de Sabá se apaixonou por Hiram Abiff enquanto ela era hóspede e amante de Salomão. Quando o rei descobriu, contratou três dos construtores para matar o seu rival.

Dois outros objetos entre os mais importantes no templo eram os pilares gêmeos chamados de Joachin e Boaz, que se encontravam na entrada do edifício. Eles eram decorados com romãs, que dizem ter sido as “maçãs” que nasciam na Arvore do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Diz-se que estes pilares foram montados como cópias dos obeliscos encontrados nas entradas dos templos egípcios. Os mais famosos destes são aqueles erguidos pelo faraó Tutmés ou Tutmósis III na cidade solar de Heliópolis por volta do século XV a.C. Freqüentemente, mas de forma incorreta, referidos como os Obeliscos de Cleópatra, um se encontra na barragem do Tâmisa em Londres e o outro, no Central Park em Nova York.

No Egito Antigo, mesmo antes da construção das pirâmides, obeliscos ou pilares eram usados para unir simbolicamente a Terra com o Céu. Antes da unificação das Duas Terras, cada uma tinha seu djed ou pilar especial. No Baixo (ou do norte) Egito, o pilar ficava em Heliópolis e no Alto (ou do sul) Egito ele era situado em Tebas. Pilares gêmeos similares foram encontrados no templo de Astarte em Tiro e em seu outro centro de culto em Biblos, que aparece como o local de descanso de Osíris, cujo caixão foi transformado em um dos pilares do templo. Jacó também ergueu um menir ou um pilar para ligar o Céu à Terra (Gênesis 28:18), e esses diversos pilares poderíam ser outra versão da Torre de Babel.


Foi sugerido que os pilares gêmeos representavam o poder fálico e da yoni29 na natureza, simbolizados pelos casais divinos como Baal e Astarote, ísis e Osíris, Ishtar e Tamuz e talvez até Javé e Asherah. (Home, 1977:223) O escritor e historiador maçônico Albert Churchward, em seu livro Os Mistérios da Maçonaria30 (1915), diz que os pilares gêmeos podem ter sido cópias dos egípcios chamados de Pilares de Seth e Hóms. Eles simbolizavam os poderes da escuridão e as forças da luz e sua luta pela supremacia sobre o Egito (o Universo).

Os pilares exerceram uma parte importante na tradição salomónica. O Rei requisitou ser ungido como o governante de Israel enquanto era coroado entre eles. Foi também aqui que Javé concedeu a ele o dom da sabedoria, onde ele saudou o rei Hirão de Tiro e onde ele entrevistou Hiram Abiff para a função de arquiteto chefe e mestre construtor. O que acabou de ser citado sugere que os pilares estavam em suas posições originais antes de as fundações do templo ser construídas. Foi também entre os pilares que o rei casou com sua princesa egípcia, a Rainha de Sabá, e a receberam em audiência. (Home, 1977: 231, citando documentos maçônicos do século XVIII)

Na tradição maçônica, os pilares gêmeos salomónicos são evidentemente associados aos famosos Pilares Antediluvianos, que são conhecidos de diversas maneiras, como, por exemplo, os Pilares de Seth, os Pilares de Enoch, os Pilares de Noé, os Pilares de Jabal ou os Pilares de Tubalcaim, dependendo da versão na qual suas origens são relatadas. Eles não são obviamente os originais, mas cópias feitas por Hiram Abiff sob as ordens de seu empregador real. No entanto, ainda em outro ato de sanitização, os pilares salomónicos substituíram os Pilares Antediluvianos em algum momento no século XVI ou no começo do século XVII. (Home, 1977:238) Hoje esses dois pilares devem ser encontrados em toda Loja Maçônica. Dentro de algumas ordens mágicas, como a Ordem Hermética da Aurora Dourada, fundada por maçons de altos graus e neo-rosa- cruzes, alguns mágicos cerimoniais modernos adotaram os pilares gêmeos como acessórios de templo convenientes.

Um exemplo medieval de como crenças maçônicas, pagas e heréticas se misturaram na construção religiosa crista, tendo como modelo o templo de Salomão, pode ser encontrado na capela Rosslyn, perto de Edimburgo, na Escocia. A capela foi projetada e construída no século XV por sir William de St. Clair (Sinclair na ortografía moderna do nome da familia). Ele tinha sangue viking e possuía os títulos de Conde de Órcades, Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro e Cavaleiro da Ordem de Santiago de Compostela. A familia St. Clair era associada aos Templários e, desde tempos antigos, foram protetores da Maçonaria e defensores dos costumes (pagãos) populares ainda existentes. No século XVIII, foram também leais seguidores da causa Jacobita para restaurar a dinastia Stuart ao trono britânico no lugar dos usurpadores da casa real de Hanover.

A singular capela em Rosslyn incorpora em sua decoração interior símbolos dos mistérios dos maçons e rosa-cruzes, paganismo Nórdico e Celta, Gnosticismo e heresia cristã. Sir Andrew Sinclair mencionou que, além do simbolismo cristão, judaico, islâmico, rosa-cruz e maçônico na capela, “os construtores também gravaram suas crenças antigas nos espíritos da floresta da qual os nórdicos vieram”. (1993:107) Em relação a isso, por toda a capela há mais de cem exemplos de máscaras em formas de folha do símbolo de fertilidade, conhecido como o Homem Verde. Ele é considerado por alguns escritores uma imagem dos deuses mortais de vegetação do Oriente Médio.

A capela possui uma imagem de São Jorge, o santo patrono grego da alegre Inglaterra, que também é venerado por algumas seitas Sufis na forma do seu Santo Verde Khidr. Como Osíris, ele foi desmembrado e renascido e aparece aos seus devotos como uma pura luz branca. Dizem que, por onde quer que vá, ele deixa pegadas verdes. Coincidentemente compartilha seu dia festivo de 23 de abril com o santo patrono da Inglaterra. São Jorge sempre foi associado ao Homem Verde e Tamuz. Em Rosslyn, ele se encontra sobre uma tábua decorada com rosas. Como sabemos, essa é uma flor com certa significância Luciferiana. Ela é um emblema de Vênus e Ishtar e o símbolo da linhagem sagrada, ou a “Família da Rosa” que descende dos Vigias. 

É importante notar que, entre as outras imagens (nominalmente) cristas na capela, podemos encontrar a de São Miguel. Em urna forma menos ortodoxa, ele é, naturalmente, o Arcanjo Miguel, mas como um santo ele é o patrono dos Templários. Outra figura controversa encontrada na capela é São Longuinho. Ele foi o centurião romano que golpeou a parte lateral do corpo de Jesus enquanto ele estava pregado à cruz e acelerou a sua morte. A arma usada foi supostamente a mística Lança do Destino forjada por Tubalcaim.

Dizem que sir William construiu a capela de Rosslyn como “um memorial às crenças da herética Ordem dos Templários” (T. Wallace Murphy). Um dos ancestrais de William havia lutado ñas Cruzadas* e cavalgou ao lado de Hugh de Payens, um dos fundadores dos Templários. Além disso, De Payens casou com alguém da família St. Clair. Apenas recentemente um entalhe ligeiramente danificado em uma das paredes em Rosslyn foi identificado com um Cavaleiro Templário aparentemente iniciando um homem na Maçonaria. Ou isso ou os ritos de iniciação maçônica e templária são quase idênticos.

Sua Alteza Real Príncipe Michael de Albany,* 31 o presente chefe da casa real dos Stewart, disse que os Cavaleiros Templários franceses que fugiram para a Escócia para escapar da perseguição no começo do século XIV se associaram a família St. Clair. Dizem que, “sob a orientação dos St. Clair, os membros escondidos da Ordem dos Templários selecionaram candidatos adequados para as corporações de arte operativa [de construtores] para ensino nos diversos ramos do conhecimento sagrado. As disciplinas tratadas incluíam ciências, geometria, füosofia e os conteúdos dos manuscritos recuperados pelos Templários durante suas escavações em Jerusalém.” (Elopkins, Simmons e Wallace Murphy, 2000)

A capela de Rosslyn também tem sua própria versão sobre o mito de Hiram Abiff associado a um pilar entalhado. O chamado Pilar do Aprendiz perpetua a história de como, durante a construção da igreja, o mestre construtor viajou para o exterior deixando o pilar inacabado. Enquanto ele estava fora, seu aprendiz teve um sonho do pilar acabado. Quando acordou, começou a trabalhar e finalizou a construção do pilar. Quando o mestre construtor chegou, ele estava tão dominado pela inveja em razão da qualidade do trabalho do jovem, e tão furioso pelo fato de o aprendiz ter completado o pilar sem permissão enquanto ele estava fora, que matou o aprendiz a golpes de martelo. Um entalhe do mestre construtor com barba pode ser visto na capela. Suas feições são contorcidas, dizem que elas são assim porque ele foi enforcado pelo seu crime. Perto há uma cabeça de mulher, e ela é conhecida como “a mulher viúva”. Isso indica que seu filho assassinado é o “filho da viúva”. 

O próprio pilar possui de certa forma um simbolismo muito interessante entalhado nele. Ele é baseado no Yggdrasil ou Arvore do Mundo na mitologia nórdica. Aparentemente, o aprendiz assassinado veio das Órcades, onde crenças pagãs nórdicas se estenderam até a Idade Média. A base do pilar tem nada menos do que oito cobras com as caudas nas bocas, criando o ouroboros, um antigo símbolo de eternidade. Esse é o símbolo da “serpente alada” ou dragão que vive na base da Arvore do Mundo ou Árvore da Vida em muitas mitologias antigas ao redor do mundo. De forma alternativa, ela pode ser a Serpente do Mundo que circunda a Terra. Outros a viram como a misteriosa criatura chamada Shamir, que entalhou as pedras do templo de Salomão.

Sir Andrew Sinclair interessantemente associa o pilar à Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Ele diz que “a serpente com a canda na boca não era apenas Lucifer, mas também parte da sabedoria sagrada dos Cátaros e dos Templários” (1993). Ele acrescenta que o Pilar do Aprendiz, e outro na capela de Nossa Senhora em Rosslyn, “simbolizavam o conhecimento hermético, a compreensão secreta do Cosmos, dada à humanidade pela serpente" (1995:83).

O mais notável entre todos os muitos entalhes na capela é descrito como o “anjo caído de Rosslyn”. A tradição popular teme que seja uma imagem de Lúcifer depois da queda. Ele retrata uma figura humanóide masculina pendurada de cabeça para baixo e frouxamente atada com uma corda - ou talvez ela deva simbolizar uma serpente enrolada em seu corpo. Ele lembra a famosa pintura do místico William Blake representando Deus ladeado pelos seus “dois filhos” - Jesus32 e Satã - pendurados de ponta-cabeça com serpentes enroladas em tomo deles. Andrew Collins identificou essa figura com Semyasa, o líder dos anjos caídos na mitologia persa, que é associado ao anjo caído hebraico e ao deus bode do deserto Azazel. De acordo com uma lenda, foi Azazel que revelou a Salomão “o mistério divino” que o tomou o homem mais sábio do mundo. 

E. W. Liddell alegou que as idéias e o simbolismo maçônico infiltraram o culto de bruxaria medieval, ou talvez vice-versa. Todavia, Liddell afirmou que bruxas e maçons divergiam sobre a interpretação dos mesmos símbolos. Por exemplo: “Maçons não associam os pilares gêmeos com polaridade sexual (...) Maçons e Cátaros concordavam que tinham opiniões diferentes acerca dos meios de alcançar seu objetivo em comum [a união com o Deus interior] (1994:54). Liddell alega que no século XVII “muitos intelectuais foram atraídos para a Arte [magia] porque eles acreditavam que ela continha elementos do druidismo. Rosa-cruzes, maçons e pseudo-ocultistas foram admitidos na Arte.” (1994:54)

Ele ainda alega que as “muitas semelhanças entre a Arte [das bruxas] e a Arte Maçônica podem ser amplamente esclarecidas pelo influxo dos ‘homens habilidosos ’ no movimento maçônico” (1994: 64). Liddell afirma que esses homens habilidosos se criaram dentro das Lojas. Alguns eram proprietários de terras locais e também mestres de magia. Eles se associavam livremente aos ocultistas rosa-cruzes e maçons.

Uma tradição de magia antiga preenchendo a lacuna entre as duas formas da “Arte” pode existir ainda. Andrew Chumbley escreveu sobre “um mito que foi transmitido, tanto oralmente quanto em forma escrita, e que recorda a descendência do sangue bruxo desde a preexistência até os dias de hoje por meio da transmissão do Fogo Criativo Primordial”. Chumbley diz que o mito hoje está “disfarçado na linguagem da gnose demonológica” e “no imaginário folclórico nativo - o ferreiro e a forja”. Isso se associa às magias e ao simbolismo Luciferiano do Oriente Médio. Tal tradição sobrenatural ainda é praticada de diferentes formas em grupos de magia e covens de magia em Essex, Cheshire, Staffordshire, País de Gales e Ilha de Man.

De acordo com Chumbley: “Em essência, o mito fala sobre os deuses antigos, seu estado preexistente de negatividade, a criação e a revelação do Fogo Antigo à raça dos Vigias, pelo casamento entre a raça humana e a dos antigos, a interpenetração da chama e da semente de Sarnael e Lilith, a criação de Caim, e seu papel como o Senhor dos Cavaleiros”. Essa lenda da descendência dos Vigias e a criação por eles do “sangue bruxo”, herdado ou em um nível físico ou espiritual transmitido para aqueles que estão no círculo hoje, é ainda uma fortíssima crença da fé antiga nas práticas e costumes da tradição de magia pré-modemista nos dias de hoje.

E.W. Liddell informa que: “As afinidades que existiam entre maçons e bruxas provém do seu devotamento comum a Lúcifer, o Portador da Luz. Lúcifer era considerado o ‘espírito que mora ’ no mecanismo humano. A queda dos anjos foi corretamente entendida como a representação da encarnação da divindade na carne mundana. A alegoria em relação aos Filhos de Deus e as ‘filhas dos homens ’ é ainda outra tentativa de explicar o mistério segundo o qual a divindade se associa com a carne” (1994:72-3). A encarnação da Luz em forma humana e a criação do “sangue bruxo” pelos Caídos constituem os ensinamentos centrais do que pode ser descrito, para distanciar da Wicca neo-pagã moderna, como a tradição da Arte Luciferiana.