sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - A Lança O Caldeirão e a Pedra


Uma quantidade considerável de simbolismo Luciferiano pode ser encontrada nos mitos do Graal e suas origens pré-cristãs. A idéia de que o Graal foi esculpido da coroa de esmeraldas de Lúcifer foi propagada em um romance do Graal escrito em 1205 pelo trovador alemão Wolfram von Eschenbach. Há duas maneiras de entender esse romance do Graal medieval; como um conto de fadas romântico, sonhado por um mestre contador de histórias para entreter as massas, ou um trabalho de literatura mágica escrito por um iniciado para ligar o misticismo do Oriente Médio com a tradição esotérica ocidental. No que diz respeito a esse trabalho, a segunda explicação parece ser a mais provável. A história de Wolfram é parte de um processo de conhecido oculto sendo trazido do leste por cruzados e outros até a Europa. O seu objetivo era reunir os mitos do Graal do Oeste cristão com suas origens do leste.

Aversão de Wolfram do mito do Graal é creditada a um astrólogo judaico chamado Flegetanis, que viveu em Toledo, na Espanha, um centro da Cabala e ocultismo mágico na época. Era uma cidade multi-étnica para o misticismo árabe-mouro e judaico e ostentou uma escola de treinamento para magos. 

Flegetanis foi descrito como um adorador bárbaro e tolo pelo lado do pai. A expressão posterior sugere uma ligação com os antigos israelitas e pode se referir à adoração do deus touro Baal. Flegetanis alegou descendência de Salomão e, se isso era verdade, então ele era da linha real de sangue do rei Davi. Ele passou seu conhecimento do Graal para um trovador francês chamado Koyt de Provença. Ele tinha vivido em Jerusalém e era um parceiro conhecido de Heréticos, Gnósticos e Assassinos.

De acordo com Baigent, Leigh e Lincoln (1982), Kuyot era na verdade Guiot de Provins, um monge que escreveu canções de amor, criticou a Igreja e compôs poemas exaltando as virtudes dos Templários. De Provins também tinha estudado a Cabala em Toledo, e foi lá que conheceu Flegetanis. Em 1184, De Provins encontrou Wolfram von Eschenbach na corte do rei Frederick Barbarrosa, o governante do Sagrado Império Romano. Os dois se tomaram amigos, e o francês passou adiante o que Flegentis tinha contado a ele sobre a fonte Luciferiana do Graal. Essa história dizia que, quando a pedra verde caiu na Terra, foi guardada por anjos banidos por Deus do Céu, quando eles se recusaram a apoiá-lo contra a rebelião de Lúcifer. Outra versão diz que eles perderam suas asas e encarnaram como humanos para serem guardiões do objeto secreto.

Algumas fontes ligam a Pedra Esmeralda com a Pedra Filosofal dos alquimistas e com o kaba ou pedra negra sagrada venerada por milhares de muçulmanos em Meca, que supostamente é de origem meteórica. Essa pedra foi supostamente dada a Abraão de Ur pelo anjo lunar Gabriel. Entretanto, a pedra é popularmente chamada de Velha Mulher e, em tempos pré-islâmicos, Meca era um local de adoração de uma deusa da lua árabe, a deusa síria Cybele e a deusa romana Vênus. Originalmente, diz-se que a pedra em Meca era branca, mas, com o passar dos séculos, ela absorveu os pecados da humanidade e se tomou negra.

Isso a conecta com a Pedra do Destino de Tara, na Irlanda, que se tomou a Pedra de Scone usada para coroar os reis escoceses. Ela tinha a reputação de ter sido o travesseiro de pedras (pilar?) de Jacó. Embora a Pedra de Scone fosse branca na cor, é conhecida entre os iniciados modernos da Ordem dos Templários Escoceses como a Pedra Negra. A Pedra do Destino supostamente foi trazida para a antiga Irlanda pelo Tuatha de Danaan ou Povo da [deusa] Dana. O líder deles era Lugh, o deus da luz que derrotou o gigante Balor, chefe da raça demoníaca dos Formorianos que vieram das profundezas do oceano. Bator tinha apenas um olho e, quando o abría, ratos de energia destruidora surgiam. Lugh o matou atirando uma pedra com uma funda em seus olhos. Isso soa como um mito solar do tipo associado a Seth e Hórus, Apoio e Typhon e Baldur e Loki.

No romance de Wolfram, o personagem central ou herói é Parsifal, ou Percival, que é representado como um jovem inocente ou tolo sagrado. Isso é sutil, pois, no Sufismo e no taró, o Tolo não é o que parece. No tarô, sua máscara de palhaço esconde o rosto de alguém iluminado que, em termos cabalísticos, atravessou o Abismo e se tomou o Mago. Na arte Luciferiana, o Tolo ou Trapaceiro é um aspecto do Deus encamado na Terra em seu papel como guia e mestre. Na história, Percival é chamado para o castelo de Graal peto rei Pescador, ou rei Graal, que está morrendo. No castelo, ele vê um pajem carregando uma lança ensangrentada, a Lança do Destino, pelo corredor principal. Ele passa pelo rol dos cavaleiros do Graal vestindo túnicas brancas ornadas com a cruz vermelha de braços iguais dos Templários. Atrás do pajem vem a rainha do Graal carregando uma pedra verde sobre uma almofada de seda verde.

Percival entende que este é o Graal, e a família que vive no castelo é a família escolhida por ele e os guardiões hereditários. Em troca de seus serviços pelo Graal, eles vivem em um banquete suntuoso, com a melhor comida e bebida, miraculosamente fornecida todos os dias pelo recipiente sagrado. O adotado Percival desconhece que o rei e a rainha do Graal são seus tios. Isso o associa com Lancelote do Lago, o genioso cavaleiro bretão criado pela elfa Dama do Lago nas ordens de Merlin. Gardner (1996) associou a Dama do Lago a Maria Madalena. Lancelote tem um papel como Judas nas lendas Arthurianas, como o destruidor da Irmandade da Távola Redonda, mas ele também se casou com a filha do rei do Graal. O filho deles, Galahad, era o único cavaleiro da Távola Redonda que conseguiu ver totalmente o Santo Graal.

A Lança Ensangrentada é a arma que perfura as coxas (órgãos sexuais) do rei Pescador e o toma tanto sexualmente quanto espiritualmente impotente. Aterra também perde sua fertilidade se tomando a Terra Desolada, e o seu povo começa a morrer de doenças e inanição. De fato, o rei Pescador é o Deus Manco, Deus Agonizante ou Rei Divino da mitologia do Oriente Médio que é sacrificado para que seu sangue possa fertilizar a terra infértil. Ele morre em um ritual de morte, desce ao mundo inferior e renasce. Apenas o Graal, como um símbolo da Grande Deusa, pode curar sua ferida e restaurar a Terra Desolada em um paraíso na Terra. Nos mitos celtas-arthurianos, a Arma Sobrenatural é associada à lança do deus celta da luz Lugh ou Llew (cujo nome em galês também significa leão). Como vimos, nos mistérios esotéricos cristãos, é a lança forjada por Tubalcaim e usada por Longuinho para despachar Jesus na cruz. Nos mitos nórdicos, é um dardo ou flecha feita por Loki para matar o deus da luzBaldur.

A esmeralda Luciferiana pertenceu a Salomão antes de ser entalhada no copo usado na Ultima Ceia. É interessante que o rei hebreu também possuísse uma mesa circular supostamente esculpida de uma única esmeralda. Depois da queda de Jerusalém para os Romanos e a destruição do templo de Herodes, essa mesa foi levada para Roma. Quando em resposta a cidade imperial foi saqueada pelos Visigodos, a Mesa Esmeralda acabou em Toledo, Espanha. Quando os Mouros invadiram o país no século VIII, procuraram por todas as partes por esse objeto que, em comum com o Graal, podería curar os enfermos e alimentar os famintos. Uma história diz que a mesa foi escondida em um castelo fincado nas montanhas pelos iniciados para impedir que caísse em mãos árabes. O imperador Carlos Magno do Sagrado Império Romano era aparentemente tão fascinado pela lenda que fez uma réplica da mesa.

Se a fabulosa Mesa Esmeralda existiu mesmo, como objeto físico, é discutível. Uma pista para sua real natureza é que foi dito que ela era parte da famosa Tábua Esmeralda ou Tábua de Hermes Trismegisto, e seu nome pode bem ser um jogo de palavras para ocultar sua origem. Outras versões da história dizem que ela era a Pedra Filosofal. Claro, como sabemos por experiência, tais lendas de tesouros escondidos, a busca por eles, como em Rennes-le-Chateau, e mitos sobre espadas e cálices com poderes sobrenaturais geralmente escondem a busca de conhecimento esotérico e oculto. Por toda história, os não iniciados perderam seu tempo e energia procurando a quimera de tais tesouros sem perceber que eles poderíam sequer existir no plano físico. Nesse contexto, a jomada da Tábua Esmeralda de Salomão de Jerusalém até a Espanha pode se referir à transmissão da tradição hermética, alquímica e Luciferiana do Oriente Médio para a Espanha Moura. Da Espanha, essa corrente Gnóstica oculta teria fluído em direção à Europa do Norte.


A habilidade universal do Graal era sua capacidade de assumir formas, como o mito universal adaptado para diferentes culturas, religiões e sistemas de crenças. Como VrAndrew Sinclair disse sobre o recipiente: “Aos olhos dos Celtas e do folclore nórdico, o Graal era o caldeirão e a lança; na era clássica, a vasilha cósmica e cornucopia; para os Judeus, a Arca e o tabernáculo; para os Cristãos, o cálice e o prato; para os Muçulmanos, o kaba com sua pedra negra; para os dissidentes do fogo, a serpente e a pomba. Todavia, o Graal não era tudo para todos, mas apenas um símbolo da abordagem direta de cada pessoa da luz divina”. (1998: 261)

É interessante que Wolffam von Eschenbach tenha erguido seu Castelo do Graal em um morro arborizado ou uma montanha. Esse é o Monte Sagrado, o Morro da Visão ou o Monte Vazio, que é importante na mitologia Luciferiana. Ele pode aparecer em muitas formas físicas, como o Monte de Vênus, o Brocken, Thor de Glastonbuiy, Morro de São Miguel, Morro Silbury, Monte Shasta, as sagradas montanhas do Himalaia ou até mesmo um monte de pedras ou terra encantada. Quando o Tolo entra no castelo do Graal e tem a visão do Santo Graal, o rei Pescador é curado e a terra desolada fora do castelo se enche de rosas. Isso nos lembra do conto de fadas Rosa Brava ou Bela Adormecida, com o casamento sagrado entre o cavaleiro (a rosa vermelha) e a princesa (a rosa branca) selado com um beijo. Esse tema das rosas também aparece em Branca de Neve e os Sete Anões e é associado com a Deusa Negra do mundo inferior, em cujo caldeirão o herói é transformado em deus.

Um escritor galês disse sobre o Graal e os mitos criados: “A história do Graal é a história de um símbolo que é transformado, de uma religião para outra, retendo a maior parte do seu significado original. O deus celta que possuía o miraculoso recipiente era o deus do sol, Senhor do Mundo Sobrenatural, criador da humanidade. A donzela que carregou o cálice e casou com o herói era Sovereignty, a deusa da terra que representava o reino. A união entre o herói e a deusa simbolizou a posse do seu reino pelo herói.