sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - Os Pilares Dos Sábios


Apesar de sua onipresença na simbologia da tradição mística ocidental, é extremamente curioso que o glifo do Olho que Tudo Vê (de Deus) até agora não tenha recebido nada além de uma interpretação simples.

Podemos presumir uma evasão duradoura da condição única do símbolo com um signo de mistérios pré-humanos dos Anciões. Além disso, com uma visão de total penetração e percepção transcendental, durante a “execução” das quais os véus da ignorância obscurecedora e da desilusão, que ocultam a essência da Realidade Suprema, são rompidos e totalmente destruídos. Esse é o verdadeiro ekpyrosis pelo Fogo do Conhecimento. Em resumo, o Olho que Tudo Vê é o hieróglifo original dos Vigias. Ele simboliza o nível mais alto da corrente arcana Luciferiana e, nesse contexto iniciático, ele age como um ponto de convergência para as diferentes correntes próximas da doutrina críptica. Isso é especialmente verdade porque ele simboliza o Grande Vigia ou Azazel-Lasifarus. O Olho sempre mostra a corrente de sabedoria provinda dos Vigias. Essa é a primeira revelação concedida à primeira humanidade pelos filhos de Deus ou os Caídos muitos éons atrás. Essas revelações foram expressas pelos privilegiados das espécies, mencionados pelos sacerdotes dos Yazidis como “a nação peculiar de Azazil” (Masaf-Ras. VI4).

Tipologias arcaicas do Oriente Médio atestam esse segredo; a palavra hebraico-caldéia para Vigilante é IR (OIR) e no plural é IRIN. Aqui existe uma conexão evidente com o substantivo IR-T, significando “um olho”. Em cóptico é YR. O Olho aparece entre os hieróglifos determinativos (não-fonéticos) como um símbolo que significa “vigiar, ver”. Adicionalmente, o glifo IR é representado por um olho. Plutarco, em De Iside et Os ir ide,18 menciona a forma IRI significando “olho”. Uma ligação evidente, portanto, é demonstrada entre o culto aos Vigias e o Olho Divino da corrente de Hórus no Egito antigo (pré-dinástico). Ele se liga especialmente à adoração de Hor-Khenti-Ir-ti ou “Hor19 que governa com seus olhos”. Desse primeiro símbolo de olho, deriva o formato “O” da letra fenicia, representando a pupila do olho e o símbolo dos primeiros Cainitas do Enu e da Arábia do Sul, de onde veio a letra hebraica Ayin - o olho. Correspondentemente, a letra Ayin é a primeira letra símbolo nos nomes de Azrael ou Azazel (OzaZAL) e no dos Vigias ou Irin (ORIN).

A raiz semítica OZ, que significa “um bode, vigor”, é formada por Ayin e Zayin, esotéricamente significando o Olho que Tudo Vê e a Espada Flamejante (empunhada pelo Querubim que expulsou Adão e Eva do Éden). Azazel foi o primeiro artista artesão do fogo e Senhor dos Metais, de acordo com a mitologia Luciferiana. A antiga tradição Yazidi / Gnóstica de que Azazel era uma serpente de sabedoria no Éden evoca o antigo pacto realizado embaixo dos ramos da Árvore da Sabedoria pelo primeiro homem e a primeira mulher - “seus olhos serão abertos e vocês deverão ser como Deuses”.

Uma nuance parecida de significado ocular é certamente evidenciada pela plumagem com olhos do pavão sagrado para Azazel-Lúcifer e Melek Taus e também pelos “Seres Viventes Sagrados” da visão famosa de Ezequiel. Eles eram esfinges aladas “cheias de olhos ao redor” (Eze- quiel 1:18). Além disso, o deus Mitraico do “Tempo infinito” com cabeça de leão Aion (Deo Arimanió) é descrito às vezes com um olho aberto em seu peito.

Entre os fiéis das antigas “Lojas de homens habilidosos”20 na velha Inglaterra, o Olho que Tudo Vê era o símbolo verdadeiro dos Vigias. Ele caracterizava o grau magistral ou “terceiro voto” dentro da Arte habilidosa, mas é para a emblemática linguagem da Maçonaria que devemos nos voltar para uma melhor compreensão dos mistérios associados ao símbolo. Todas as jóias usadas pelos grandes oficiais das Lojas de Rito Escocês possuem esse símbolo. Por exemplo, aquela usada pelo Grão-Mestre é descrita como: “Compassos abertos em 45° no segmento de uma circunferência nas pontas e uma placa de ouro compreendida na qual está um Olho radiante dentro de um Triângulo radiante”. Geralmente na Maçonaria o Olho que Tudo Vê é o símbolo do Mestre Maçom ou do Grão- Mestre de uma Loja. Ele serve para lembrar o maçom que o olho de Deus está sempre aberto e zelando tanto pela Loja quanto pela raça humana. Como Plínio disse: “Deus é todo olhos". É o símbolo principal do Grande Arquiteto do Universo que, no devido tempo, pesa toda alma na balança e julga a verdade de cada ação, pensamento e palavra humana enquanto estiveram encamados no plano terrestre. Na mitologia egípcia, essa era a função do deus Thoth, que era vigiado pelo Olho de Hóms.

Essa gnose encontrou um veículo de expressão particularmente dinâmico na Ordem dos Illuminati fundada na Bavária, perto do fim do século XVIII, por Adam Weishaupt e o barão von Knigge. O Grande selo dessa sociedade secreta política era o Olho no Triângulo. Ele representava a pedra Ben-Ben ou a pequena pirâmide do antigo Egito associada ao pássaro Bennu ou Fênix, que botou o ovo cósmico da criação. Foi alegado que, por causa da ação dos Illuminati e sua intervenção na Revolução Americana, o Olho que Tudo Vê e a pirâmide aparecem na nota de dólar. O projeto radical dos Illuminati visava a nada menos do que o estabelecimento do reino do Portador de Luz por meio da compreensão da divindade inata do homem, que Weishaupt acreditava ser o Mundo Perdido. O processo de iluminação era progressivamente alcançado dentro de um programa de nove graus, o mais alto deles era o do Homem- Rei no grau de Principatus Illuminatus, ou “Príncipe Iluminado”, em que a essência soberana da mais alta consciência era manifestada.

Atualmente, os Illuminati estão submersos em teorias de conspiração relacionadas a um suposto plano judaico para dominar o mundo, governos às sombras e fantasias relacionadas ao Satanismo. Foram escritas mais besteiras sensacionalistas e fantásticas sobre a Ordem que sobre qualquer outra organização secreta na história humana. Na verdade, os fatos são provavelmente mais estranhos que a ficção. Weishaupt era um jovem professor na Universidade da Bavária de descendência Judaica, um fato convenientemente ignorado pelos seus caluniadores modernos. Em 1774, ele foi iniciado na Maçonaria, mas logo ficou desiludido, quando percebeu que seus colegas na Loja desconheciam a significância oculta na Ordem e nada sabiam sobre o simbolismo pagão pertencente às antigas escolas de mistérios.

Weishaupt resolveu criar sua própria sociedade secreta e a baseou em sua própria visão política revolucionária de um estado utópico, um paraíso na Terra, em que as pessoas viveríam em harmonia. Esse estado seria dentro de uma irmandade universal baseada no amor livre, na paz, na sabedoria espiritual, na igualdade social e na liberdade de expressão religiosa. Weishaupt acreditava na tentativa de restaurar os seres humanos ao estado edênico de perfeição que existia antes da Queda do homem. Diferentemente de várias outras sociedades secretas, os Illuminati acreditavam em igualdade sexual e aceitavam homens e mulheres como membros em termos iguais. Essas crenças levaram Weishaupt a ser rotulado como um socialista pioneiro ou primeiro comunista. Na realidade, suas visões políticas tinham mais a ver com o anarquismo que com os excessos totalitários dos seguidores de Lênin e Marx no século XX, com sua sociedade escrava e seus campos de extermínio. Pelo fato de que naquela época os inimigos da paz, da liberdade religiosa e do amor livre eram a Igreja e, freqüentemente, as casas reais da Europa, Weishaupt promoveu postura de anticlericalismo e anti-realeza. Foram suas visões anarquistas e anti-autoritaristas que no fim levaram ao banimento da Ordem, considerada uma organização revolucionária e subversiva. Supostamente, os Illuminati tomaram-se clandestinos, mas seus agentes secretos tiveram um papel importante tanto na Revolução Francesa quanto na Americana. Muitos malucos por conspiração ainda alegam que a Ordem exerce um papel escondido por trás da face pública da política internacional.

Vários outros indícios abundantes da tradição Luciferiana serão encontrados na Cerimônia de Exaltação, existente na Ordem Maçônica do Santo Arco Real de Jerusalém. Essa ordem é derivada da revisão do Cavaleiro Arco Real do Rito de Heredom, do século XVIII, também conhecido como o “Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, Príncipes Maçons Soberanos”, que foi estabelecido em Paris em 1758. Na parte cerimonial da Maçonaria do Arco Real,* o iniciado desce pelos e nove “Arcos”, ou passagens abobadadas, do templo subterrâneo como divinamente revelado a Enoch. Tais passagens foram construídas pelo patriarca e seu filho mais velho Matusalém, na caverna da Montanha de Canaã. As passagens eram cobertas com símbolos mágicos e nomes divinos, e no nicho da “nona passagem” Enoch escondeu um “delta” dourado, ou triângulo, e uma “pedra de pórfiro branca”, que representa a semente- luz e o fogo cósmico trazido para a Terra por Lúcifer, como a pirâmide Ben-Ben. Sobre essa pedra, estava escrita a Palavra Secreta do Grande Mistério que simbolizava a sabedoria antediluviana dos Vigias.

Os três “principais” ou oficiais do Real Arco trabalhando representavam Zorobabel, Ageu e Josué, o príncipe, o profeta e o sacerdote, respectivamente. Suas jóias maçônicas eram “uma Coroa, um Olho e um Livro aberto, cada um cercado por um halo e colocados em um triângulo”. Púrpura é a cor simbólica do trabalho do Arco Real, que representa o sangue real. No antigo códice francês do Arco Real de Enoch também há menção de dois pilares imensos levantados pelo patriarca antes do Dilúvio e escritos com a tradição enigmática das “sete ciências”. Dizem que Enoch teve uma premonição do dilúvio e queria que o conhecimento nos pilares fosse preservado para o benefício de quaisquer sobreviventes.

Na obra Manuscritos de Cooke da Maçonaria, do começo do século XV, a construção desses pilares foi atribuída ao primeiro ferreiro Tubalcaim. Por essa razão, na tradição Luciferiana, eles são chamados às vezes de Pilares de Tubalcaim. Eles estão gravados com a sabedoria mágica das supostas “dinastias divinas”, os reis gigantes que eram instruidos pelos Iluminados das estrelas, os próprios deuses. Por essa razão, existe o significado secreto da disposição da Loja com seus dois pilares sagrados encimados com globos do Sol e da Lúa. Sobre a Loja, brilham a Estrela Flamígera e o Olho que Tudo Vê, o Iret ou símbolo dos Vigias dentro de urna auréola de raios de luzes e estrelas. Muito tempo antes da cultivação cavalheiresca e dos conceitos barrocos do século XVIII, a sabedoria mágica primária dos Pilares e do Olho, que supostamente vieram do antigo Egito após o Dilúvio, tinha sido sancionada na Inglaterra Saxônicapelo rei Althelstan. Dizem que ele foi o “predileto da Maçonaria”, como o Manuscrito Halliwell ou Poema Regius registra. A fusão do mito dos Vigias com as já preexistentes subeulturas pré-cristãs e de corporações de ofícios, algumas associadas a cultos de bruxaria indígenas, era evidentemente realizada em um período primordial na Inglaterra anglo-saxônica. Aproximadamente trezentos anos mais tarde, a herética Ordem dos Cavaleiros Templários transmitiu uma nova corrente intimamente ligada ao esoterismo dos Yazidis e persas na Europa, alimentando a tradição secreta da bruxaria e enriquecendo seu conteúdo hermético consideravelmente.

O Olho que Tudo Vê, situado no centro da testa do corpo sutil, análogo ao terceiro olho ou glândula pineal, é o centro da gnose do psiquismo e da iluminação. Ele se relaciona com a cimeira de esmeralda, a Arkhmardi ou “pedra na coroa” do Portador da Luz. Em termos cosmológicos, é a Sakhrat, a pedra verde ou “Lapis Smaragdus” que está no cume da montanha cósmica freqüentada pelos djinns, chamada de Qaf. Isso constitui o “eixo do mundo” axial da Estrela Polar do norte, o ponto de acesso para a Terra paradisíaca das Cidades de Esmeraldas “além do arco-íris”, o mundo de Hurqalya. Uma vez que a jóia da coroa caiu na Terra, ela foi guardada no castelo escondido no topo da Wildenberg, ou “montanha selvagem”, de acordo com o que Wolfram von Eschenbach explícitamente nos conta, por uma irmandade eleita de Templários do Graal.

Depois da destruição dos Cavaleiros Templários e do martírio do seu último Grão-Mestre, Jacques DeMolay, em 1314, o Prior do Templo e Marechal da Ordem Pierre d’Aumont reputadamente escapou com sete irmãos cavaleiros para a Escócia. Foi lá, dizem, que eles restabeleceram e preservaram os mais secretos mistérios da Ordem dentro de santuários maçônicos. Um dos primeiros membros da Ordem, Hugh de Payens, de fato se casou com uma integrante da família Saint Claire na Escócia, e um dos primeiros priorados templários foi estabelecido lá. Em continuidade a essa suposta sucessão templária ininterrupta, o barão Johann von Hund estabeleceu o Rito Maçônico Templário da Estrita Observância em 1754.

O barão von Hund tinha sido iniciado em uma Loja Maçônica convencional em Paris dirigida pelo lorde Kilmamock, o então Grão-Mestre da Maçonaria Escocesa, cujas Lojas alegavam ser as guardiãs da tradição templária. Em sua cerimônia de iniciação, von Hund alega que foi apresentado a uma personalidade misteriosa que era chamado de Cavaleiro da Pena Vermelha. Dizem que essa figura era conhecida como Príncipe Charles Stuart ou “Belo Príncipe Charlie”. Desde então, supostamente existiram ligações históricas entre a causa Jacobita, a Maçonaria e a Maçonaria Templária.

Jacques DeMolay tinha orquestrado cuidadosamente a sobrevivência dos Templários antes de sua morte na fogueira. Na noite anterior à sua execução, ele enviou um confidente a uma cripta secreta embaixo de um priorado templário em Paris, em que os corpos dos Grão-Mestres da Ordem anteriores estavam enterrados. DeMolay contou a seu ajudante que os dois pilares na entrada da tumba, que foram modelados a partir dos Pilares de Tubalcaim, e os dois pilares gêmeos na entrada do templo de Salomão eram ocos. Eles supostamente continham moedas de ouro e documentos secretos relacionados à história e às crenças secretas dos Templários. Esse “tesouro” foi aparentemente usado para financiar a sobrevivência futura da Ordem na Escócia.

Resta pouca dúvida de que o iluminismo primordial dos Vigias, cuja assinatura críptica é o Olho que Tudo Vê, fornece a base esotérica da Maçonaria Templária. O deus secreto dos Templários, o Baphomet (da palavra grega “Baphometis” ou “batismo de sabedoria”), resume toda a escala das formas evolucionárias. Essas formas variam dos atavismos de formas serpentiformes e de répteis e bestas comíferas até a humanidade e os anjos alados. A encarnação gnóstica de iluminação espiritual e conhecimento sobre-humano também é representada pelo símbolo do crânio com dois fémures cruzados, encontrado em capelas de Templários e em suas lápides. Com um fundo negro, esse símbolo também constituía a bandeira de batalha dos navios templários, que foi adotada mais tarde pelos piratas. Essa imagem de crânio e ossos é urna das várias ligações íntimas entre a Ordem e as antigas tradições de bruxaria. Nos altares dos modernos convéns tradicionais de magia, um crânio humano ainda representa o Deus.

O iniciado da gnose Luciferiana busca, por meio da iluminação mágica, aceitar ou compreender o Corpo Esmeraldino inextinguível dentro do qual ele ou ela poderá “abrir o Olho que Tudo Vê”. Uma vez aberto, ele dissolve o aparente mundo ilusório para revelar a Xvarenah, a luz do Primeiro Existente, o Reino Divino por trás da aparência visível do plano material de existência. Em um último contexto, o Olho que Tudo Vê deve representar a mente transcendente como a testemunha onisciente de todos os fenómenos. O silencioso Vigia imutável por trás de tudo isso é idêntico ao continuum imaculado de sabedoria.

A compreensão disso destrói os grilhões da ignorância na redenção da libertação mística. E a abertura do Olho Místico a que as profecias ousadas dos adoradores de anjos, os Yazidis, se referem. Como apontamos anteriormente, eles dizem que depois da Queda dos Vigias deverá haver uma Restauração. Em seguida, Azazel reconquistará seu estado divino e habitará mais uma vez no Paraíso. Essa é a promessa murmurada por esses antigos mistérios guardados como relíquias na tradição oculta do antigo Egito, Pérsia e Arábia, como são praticados nas criptas das preceptorias dos Templários, nas antigas abóbadas dos maçons, nas Lojas sombrias dos homens habilidosos e nos encontros sob o luar do domínio das bruxas.

Mais tradição Luciferiana é vinculada ao Mistério da Espada Oriental (provavelmente a cimitarra), que é a arma mística e mágica do quadrante ou estação oriental do fogo elemental no círculo da magia técnica. Ela é mencionada brevemente em uma referência no Velho Testamento, quando o Altíssimo “pôs querubins ao oriente do Jardim do Éden, e uma espada flamejante que se revolvia por todos os lados, para guardar o caminho da Arvore da Vida”. (Gênesis 3:24) Essa espada flamejante e giratória simboliza a purificação e a limpeza iniciática pelo fogo experimentadas por aquele que percorre o caminho tortuoso dos mistérios do Paraíso antes da realização de que o Novo Edén pode ser alcançado. O reflexo no mundo angelical é a espada flamejante de São Miguel, o capitão dos Bandos Divinos e o atual senhor da esfera solar. A significação secreta da espada Zayin é caracterizada por Azazel como o Senhor dos Metais e o Senhor da Foija. A pirotecnia e a arte da fundição são profundamente associadas à gnose dos Vigias, tanto espiritualmente quanto fisicamente. Como o epítome da criativa arte alquímica, elas estão entre as principais habilidades ensinadas aos primeiros humanos pelos Caídos. Longe de ser urna mera referência aos primeiros avanços utilitários na tecnologia primitiva, ela é uma metáfora clara que faz referência ao controle do “fogo interior”, a força sexual e a transmutação mágica de energia por meio do dinamismo criativo.

Ferreiros e feiticeiros sempre compartilharam de uma famosa identidade conjunta nas artes mágicas de muitas culturas. Várias culturas indo- europeias têm um ferreiro divino em seus mitos antigos que ensinou os segredos do uso do fogo para os humanos e que forjou as armas dos deuses. Exemplos disso são: Vulcano, Wayland, Hefesto, etc. No mito de Vulcano, seu pai Zeus ou Júpiter o jogou para fora do Céu e ele caiu na Terra. Na queda, ele machucou a pema e ficou coxo. Uma das denominações do deus de magia tradicional é o Deus Coxo. Vulcano também é casado com a deusa Vênus, a estrela da noite e uma consorte Luciferiana. No Xamanismo mongol e siberiano, invocações eram feitas ao misterioso “ferreiro branco”, que eles acreditavam ser o responsável pela criação dos tambores e outras ferramentas mágicas usadas para chamar espíritos. Em alguns ramos da Arte Tradicional, os instrumentos do ferreiro, como sua foija, tenaz, avental de couro, pregos e ferraduras, têm sido incorporados como símbolos ou ferramentas mágicas da gnose de magia.

A forma da letra hebraica Zayin, a lâmina da espada, é o fogo supra- cósmico que, como um raio ou relâmpago brilhante, “atravessa” o véu da necedade material. Ela sem exceção simboliza a sabedoria iluminativa por todo o mundo, da Celta-Arthuriana Calad-Vwlch (espada relâmpago) ou Excalibur e a Espada de Xangô até a adaga indo-tibetana phurba, usada nos ritos exorcistas da religião Bon. Na tradição secreta da Arte Tradicional da Inglaterra, dizem que a primeira athame (“arthany”, da palavra grega athanatos ou “imortal”), a lâmina ritual usada por bruxas para evocar e controlar espíritos, foi fotjada por Tubalcaim, o mestre de magia ancestral. QYN significa artífice de metais, pirotécnico ou “ponta de lança de ferro” na língua hebraica.

A espada Zayin pode ser alinhada através dos primeiros canais ca- naanitas com o hieróglifo egípcio de Neter, que significa “um deus” (Neteru para o plural) e representa a lámina de um machado. Essa arma parece ter sido preservada ñas formas hebraicas e árabes/sabéia da letra “Z”. Pode ser um glifo do “fogo caído do Céu”, o Bia-en-Pet, ou “metal celestial”. Como já vimos, o deus pré-dinástico Seth ocupava o papel do Senhor dos Metais nos mistérios quânticos, e a faca mágica de Seth era um dos seus atributos importantes. Além disso, de acordo com alguns textos antigos em papiro, o esqueleto de Seth era feito de ferro meteórico. Da mesma forma, dizem que os antigos “ancestrais estrelares” e os deificados “Ancestrais Veneráveis” de Hóms e Seth ou Ancestrais Antigos possuíam ossos com ferro nascido nas estrelas ou lançado das estrelas.

Isso faz lembrar os esqueletos de ferro usados em vestes cerimoniais dos praticantes do Mantícismo do povo Yakut. Essas vestes simbolizavam a iniciação de morte e renascimento do xamã, durante a qual sua “capa de pele” é retirada de seus ossos e seu esqueleto é desmontado. Ele é remontado usando ferro para ligar os ossos. Isso pode ser relacionado com as antigas crenças Xamânicas em relação ao Homem-Ferro-Pilar, ou axis mundi, que conduz ao domínio dos deuses estrelares em relação à escada feita de lâminas de espadas que ascende ao Céu. (Eliade, 1964:36, 263, 426) Na mitologia Celta, a entrada na Terra que conduz à terra dos mortos é às vezes descrita como “a ponte de espadas”. Esse tema dos “ossos de ferro do feiticeiro” é evidentemente de grande antiguidade transcultural.

Geralmente o simbolismo místico e oculto dos metais revela uma verdadeira teofania metalúrgica e alquímica presente na magia egípcia, com relatos de qualidades esotéricas específicas de cada metal. Anti, o deus falcão do 12° e do 18° nomo, possuía ossos de prata que eram expostos quando ele era esfolado como castigo.

Um relato antigo nos conta que “Quanto aos seus ossos, eles existem pelo sêmen do seu paf \ Hedj ou prata, nesse contexto, é o osso- semente lunar seminal dos Neteru e é sagrado ao deus da Lua de Tebas Khonsu. Neb ou ouro é “carne divina”. Rá, por exemplo, é descrito como tendo ossos de prata, carne de ouro e cabelos de turquesa. Ferro, no entanto, é a semente estrelar das Sete Estrelas (Ursa Maior) governadas pela mãe de Seth, Nut. Prata é a semente branca da Lua, e ouro é a semente vermelha do sol, frequentemente igualada ao fluxo menstruai feminino.

Outras ligações metalúrgicas com Azazel e sua hipóstase Tubalcaim são encontradas na tradição quântica. Eles preservaram nas inscrições do templo de Edfu, as quais relatam os mitos de Hórus-Behutet ou Hórus, “que habita no disco”. Ele era adorado nessa forma em seu centro sagrado de Edfu como o “Senhor da Cidade da Foija”, possivelmente um título copiado da sua nêmese sombria Seth.

Lewis Spence escreveu que: “Em Edfu, o grande disco de ouro (...) foi forjado, como vemos a partir de certa inscrição, e no templo daquela cidade havia uma câmara atrás do santuário chamada Mesnet, ou Fundição, em que a casta ferreira de sacerdotes acompanhava um deus". Os seguidores divinos de Hórus-Behutet são mencionados nos textos do templo como Mesnitu ou trabalhadores de metal. Podemos identificar afinidades com os mitos Cainita e de Seth com: “Hórus-Behutet chegou e seus seguidores, que estavam atrás dele em formas de trabalhadores de metal, cada um tendo em sua mão uma lança de ferro e uma corrente”. O deus Thoth também proclamou as vitórias de Hórus como o Habitante no Disco [solar]: “Os Domínios Intermediários deverão ser chamados pelos nomes desses ferreiros (...) e o deus que habita entre eles (...) deverá ser chamado de Senhor de Mesnet”. O simbolismo oculto do trabalhador de metal ou artífice de metal e seu deus ferreiro é consequentemente um aspecto importante no mito Luciferiano, associado tanto com a Espada Flamejante quanto com os Pilares de Tubalcaim.