sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - A Rainha Da Sabedoria


Uma das companheiras do Rei Salomão na Bíblia foi a Rainha de Sabá. Ela recebe apenas uma pequena menção, mas ainda assim muitos mitos e lendas notáveis acerca dela têm crescido no decorrer dos séculos. Esse processo é geralmente um forte indicativo de uma antiga figura típica ou lendária que entrou em conflito com a ortodoxia de sua época. Uma dica de que isso se relaciona a Sabá é dada pelo seu nome. Ele significa “sete”, um número místico que nos traz à memória os sete governadores ou regentes planetários angelicais e a Deusa das Sete Estrelas e um “juramento” no sentido de um pacto ou contrato feito com os poderes celestiais. No Cântico dos Cânticos, Sabá diz: “Nao olheis sobre mim, porque sou morena, porque o sol resplandeceu sobre mim” (1:6). Isso nos faz lembrar de um dos títulos dado a Seth, “o queimado”. Por isso Sabá é mais do que apenas uma governante em visita a uma terra exótica por quem Salomão se apaixona, e temos de procurar o verdadeiro significado por trás da fachada exterior.

Referências bíblicas sobre Sabá podem ser encontradas em 1 Reis 10:1-13. O trecho descreve como ela viajou para Jerusalém para ver Salomão depois de ouvir a respeito de sua famosa sabedoria. Sabá queria provar para si que o rei possuía conhecimento (oculto) e, então, de acordo com a Bíblia, ela foi prová-lo por “enigmas”. Isso indica que Sabá era uma pessoa sábia e instruída. Aliás, podemos supor que o encontro foi entre dois iniciados e é interessante ver que Sabá considerava Salomão como “a estrela da manhã”.

Sabá chegou a Jerusalém com “uma grande comitiva, com camelos carregados de especiarias e muitíssimo ouro e pedras preciosas”. Parece que ela estava disposta a pagar um alto preço pelo conhecimento que achou que podería obter do rei hebreu. A referência a especiarias é interessante, pois alguns estudiosos da Bíblia colocam a terra de Sabá no sul da Arábia, que era a fonte de olíbano - oferecido pelos três magos ao menino Jesus. Um escritor francês, Gerald de Nerval, descreveu imaginativamente a rainha como “coroada com estrelas, em um turbante cintilante com as cores do arco-íris, a face dela é de tom de oliva".

Assim como pela sua sabedoria, Salomão era famoso pelo seu conhecimento das artes mágicas. Isso pode ser outro motivo que fez com que Sabá fosse atraída a visitá-lo. Acreditava-se que o rei podia controlar djinns e os espíritos dos elementos o obedeciam - os gnomos, ondinas, silfos e salamandras. Eles ajudaram Salomão na construção do seu templo. Uma das mais famosas contribuições de Salomão para a Arte foi um livro de encantamentos para evocar os espíritos e controlar demônios e elementáis. Esse volume foi banido já no século VIII a.C. pelo rei Ezequias de Judá. No entanto, uma cópia ainda estava em ampla circulação no século I d.C. e era considerado como um grimório altamente apreciado pelos magos judaicos.

O volume é mencionado novamente no século XI como um estudo escrito por Salomão sobre as jóias mágicas e a evocação de demônios. Ele é mencionado novamente no século XIII e, em 1350, um livro chamado de Livro de Salomão35 foi publicamente queimado sob as ordens do papa Inocêncio VI. Todavia, dizem que em 1456 o duque de Borgonha tinha uma cópia do tratado proibido. Em 1559, a Inquisição espanhola também queimou cópias do livro como uma obra herética e perigosa. Mais tarde, ele apareceu como a Clavicula Solomonis ou Chave de Salomão, e uma cópia é mencionada pela Inquisição de Veneza como pertencente a uma bruxa no século XVII. A Chave foi traduzida para o inglês no século XIX por Samuel MacGregor Mathers, membro da Aurora Dourada, e tem sido usada hoje em dia tanto por magos cerimoniais quanto por bruxas tradicionais.

Sabá ficou tão impressionada com a extensão do conhecimento e sabedoria de Salomão que o presenteou com 120 talentos36 de ouro, mais todas as especiarias e jóias que trouxe com ela em sua comitiva. Em resposta a esse generoso gesto, Salomão “deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou e pediu, além do que já lhe havia dado da sua munificência reaF (1 Reis 10:13). Depois dessa troca, a lenda popular diz que eles se tomaram amantes, e a rainha deu à luz um menino. Ele foi chamado de Menelik,37 ou “filho do sábio”. Esse filho de Salomão e Sabá mais tarde foi o fundador da dinastia abissínia ou etiópica dos “reis leões”. O último dessa casa real foi Haile Selassie I - o também chamado “Leão de Judá” que foi deposto em um golpe de Estado na década de 1970. Também na Etiópia, uma das possíveis terras natais de Sabá, ela era conhecida como Makeda ou “a flamejante”. Isso foi uma referência à passagem de um cometa pelo céu. Isso é um sinal de que ela era considerada como uma iniciada dos Mistérios, uma “Alma Antiga”, uma adepta ao ocultismo ou iluminada cujo espírito é transportado para as estrelas após a morte. Depois da desencamação, eles estão livres para retomar à terra, se desejarem, como, para usar o termo oriental, um Bodhisattva para auxiliar a humanidade.

Em uma das lendas mais curiosas sobre Sabá como uma jovem, ela foi amarrada nos galhos de uma antiga árvore imensa como uma oferenda para um dragão (a Árvore do Mundo e a serpente alada que a guarda?). Sete sábios ou homens sagrados sentaram-se à sombra da árvore para discutir assuntos espirituais. Quando o dragão chegou, eles o mataram e resgataram Sabá. Quando ela voltou ilesa à sua vila, os anciões ficaram tão impressionados que a nomearam a “líder de todos os líderes”.

Infelizmente, quando os sábios mataram o dragão, parte do sangue venenoso espirrou no pé e na pema esquerda dela. O sangue tomou a pema dela peluda e o pé ficou como um casco rachado, parecido como o de um bode. Dizem que, quando ela viajou para Jerusalém, Salomão curou seu membro deformado, que voltou à forma humana.

O encontro entre a rainha africana ou árabe e o rei hebreu pode ser compreendido, muitíssimo no nível esotérico, como um “casamento sagrado”. Sabá representa a personificação feminina da sabedoria divina, simbolizada pela Lua, que se une a Salomão como o rei Sol. Ela foi comparada a Sophia ou Sabedoria, conhecida como “o espelho de sabedoria” e a “noiva mística”. O último termo também foi usado para descrever a Shekinah ou “Noiva de Deus” no misticismo hebraico. Outro título de Sophia era a “Senhora do Mundo Interior”, e ela aparece no Taró como a carta da Alta Sacerdotisa. Ela retrata uma figura feminina, vestindo uma coroa de lua crescente e um manto azul, sentada em um trono entre os dois pilares gêmeos de Joachin e Boaz. Na página título da obra de Kircher A rs Magna Sciendi (1969), Sophia é retratada entronizada segurando um livro que contém um alfabeto. Essa é uma representação das sete chaves hieroglíficas que supostamente contém o todo do conhecimento humano. Sabedoria ou Sophia também foi descrita como a “companheira de juventude” de Adão e comparada a Eva, que foi criada a partir da anima ou do eu feminino do primeiro homem andrógino (Roob, 1997:171). Como “companheira de juventude”, Sophia é possivelmente a primeira esposa de Adão, Lilith, que examinaremos no próximo capítulo.

O filósofo hermético do século XVI Giordano Bruno comparou a deusa da Lua Diana com Sophia baseando-se no fato de que Luna (a Lua) é um espelho refletindo a luz do Sol. Na lenda de Actaeon e Diana, o caçador é o intelecto do homem buscando a sabedoria divina. Quando ele finalmente agarra Diana-Sophia no espelho da natureza e levanta o véu de seu segredo lunar, toma-se vítima de sua própria luta, pois a matilha dela o rasga em pedaços. O caçador toma-se o caçado e ele percebe que atraiu o Ser Supremo para dentro de si, e que não precisa mais buscá-lo fora. Aliás, como Aradia, a filha de Diana, diz: “Se o que busca não encontrar dentro de você, jamais encontrará sem você”

Dizem que, depois de Sabá dar à luz o filho deles, Salomão deu a ele a Arca da Aliança, como um presente de nascimento. Em uma versão da história, Sabá e Menelik conspiraram juntos para roubar a Arca e levá-la de volta para a terra natal deles. Alega-se que a Arca - representando a efetiva presença de Javé na Terra e contendo as placas dos Dez Mandamentos - ainda é preservada em um mosteiro etíope. Sacerdotes-monges que são os guardiões hereditários fervorosamente a protegem de intrusos. Outra história diz que Salomão também deu a Sabá a pedra de esmeralda que caiu da coroa de Lúcifer. Supostamente essa pedra foi entalhada em uma tigela ou bandeja que foi usada na Ultima Ceia e hoje pode ser vista em uma igreja em Gênova.

Uma lenda em relação às origens de Sabá diz que ela governou sobre Sabá, a terra dos sabeus ou adoradores de estrelas. Eles supostamente viveram no sul da Arábia no que é hoje a república do Iêmen. Em setembro de 2000, o jornal The Times relatou que os arqueólogos descobriram um templo de 3 mil anos dedicado ao deus Lua no norte do Iêmen. Ele estava localizado perto da cidade de Marib, que por muito tempo é associada à rainha de Sabá. Eles acreditavam que a descoberta nas areias cambiantes do deserto podería provar que a rainha bíblica veio do sul da Arábia. No entanto, em 1999, um arqueólogo britânico anunciou que havia achado as minas da cidade da rainha nas florestas tropicais da Nigéria, na África ocidental. Os habitantes locais chamavam Sabá de Birikisu Sungbo, e peregrinos ainda visitam o local que dizem que é o túmulo dela. Outra versão ainda diz que ela governou a civilização perdida de Núbia no atual Sudão. Diversos governantes núbios migraram para o norte e se tomaram faraós no Egito.

Outra história lendária relata como um pássaro poupa contou a Salomão sobre a “grande rainha” que vinha de “uma terra maravilhosa” da qual ele nada conhecia. Esse pássaro falante estava aparentemente ensinando a Salomão a suposta “língua dos pássaros” conhecida pelos mestres Sufis medievais. Essa era a língua de Enoch ou língua universal angelical falada antes da Torre de Babel. Nessa história, foi Salomão quem ordenou Sabá, descrita como uma “adoradora do sol”, a comparecer em sua corte. Quando ela chegou, ele ficou horrorizado quando ela passou por um chão espelhado do seu palácio. Ele podia ver por baixo do vestido, e ela tinha pernas peludas como um bode. Salomão concluiu que ela deveria ser um dos demônios do deserto, chamados seirim, que seguiam Azazel, ou o vampiro demônio feminino Lilith.

Alguns escritores associaram Sabá ao culto medieval da Virgem Negra que era reverenciada por heréticos medievais como os Cavaleiros Templários. Pode ser assim que ela foi ligada estranhamente ao mito do Graal. Sabá supostamente foi a responsável pela construção da Nave de Salomão, uma embarcação mágica com o poder de viajar pelo tempo e o espaço. Foi supostamente nesse barco que sir Galahad viajou até o Castelo do Graal no mito de Arthur. Sabá revelou que Salomão teve uma visão do cavaleiro no futuro e, por essa razão, ordenou a construção do navio. Ele aparentemente foi construído da madeira obtida da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Éden. Há muito simbolismo estranho aqui...

Sabá também faz uma aparição coadjuvante como convidada no Novo Testamento que serve para ligar Jesus a seu ancestral Salomão. Jesus indiretamente se refere a ela como “a rainha do sul”. Ele fala aos fariseus, uma seita que ele desprezava, que “a rainha do Sul se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará”, (Mateus 12:42) É possível, a partir desse comentário, e o fato de que a Condessa de Toulouse às vezes tenha sido chamada de Rainha do Sul, que Sabá pode ter sido associada ao culto da Virgem Negra. Sua adoração era mais forte no sul da França, onde, heresia também floresceu durante a Idade Média.

Ean Begg (1985) também associa Sabá a uma lendária personagem folclórica da Idade Média, chamada rainha Sybilla, cujo nome provavelmente deriva de “sibila” ou vidente feminina. Ela supostamente foi a ancestral de todas as bruxas, bruxos e mágicos. Ela era caracterizada fisicamente por ter pés palmados como os de um ganso. Isso é comparado às pernas ou aos pé de bode de Sabá. Aliás, Sabá foi descrita como “uma sibila com pés iguais aos de um ganso e olhos cintilantes como as estrelas”. O pé de ganso é um nome antigo para o pentagrama, a Estrela de Davi,40 e dizem que é a pegada da deusa-demônio Lilith. Caitlin Matthews associou Sabá-Lilith com à deusa clássica Vênus e a lenda do Monte de Venus. Ela é “a deusa escondida na montanha que conhece tudo e cujo abraço concede a transmissão de conhecimento” (1991: 212). Essa “deusa escondida”, diz Matthews, é a Deusa Preta ou Negra que guarda o Graal e inicia o explorador na sabedoria.

A deusa de pé de ganso das bruxas aparece ñas rimas infantis como a Velha Mamãe Ganso, que possui a imagem típica de uma bruxa velha. Sibilina foi associada à princesa merovíngia Bertha, conhecida pelo apelido de “Pé Grande”. Embora Bertha seja um nome cristão convertido, seu nome é uma variação de Berchta ou Holda, a deusa germânica do inverno. Frau41 Holda viajava pelo céu à noite na forma de um ganso e neve caía de suas asas.

Dizem que os merovíngios descendem de um casamento de fadas entre um humano e um monstro feminino conhecido como um quinotauro42 chamado Melusine. Popularmente conhecidos como os “reis feiticeiros de cabelos compridos”, os merovíngios eram adoradores da deusa Diana- Ártemis, antes de serem convertidos ao Cristianismo. Na Idade Média, cabelo comprido em homens ou em mulheres era considerado um sinal de que eles praticavam feitiçaria e adoração ao demônio. Dizem que a dinastia preservou a linhagem sagrada do rei Davi e seu filho Salomão. Por essa razão, eles aparecem intensamente em especulações sobre a existência do sang rael ou a linhagem de Jesus de Nazaré.

Sabá pode também ser relacionada com Herodias, a esposa do rei Herodes que, dizem, imigrou para a França. Herodias, às vezes chamada de Herodiana, foi confundida com a deusa bruxa Habondia ou Nocticula. Ela concedeu um dos nomes alternativos para Aradia, a deusa das bruxas italianas e a filha de Diana e Dianus (Lúcifer). Habondia é também outra versão de Perchta ou Holda e ainda é reverenciada sob aquele nome em covens de bruxas tradicionais. Paul Huson descreve Habondia como “a deusa [bruxa] vista como a Dama do Amor e Abundância” (1970: 218). Portanto, fizemos uma análise completa, porém é óbvio que existe muito mais a respeito da Rainha de Sabá do que a breve menção dela na Bíblia pode dar a entender.