sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Misterio Do Baphomet


Já se escreveu tanto sobre os Cavaleiros Templários recentemente que é difícil separar fato de fantasia. Historicamente, o que se sabe sobre essa ordem fechada de guerreiros monges é que eles surgiram da obscuridade para se tomar uma organização poderosa e rica, temida pelo Vaticano como um rival em potencial. O rei Phillipe le Bel, ou Felipe, o Belo, da França, viu a queda e destruição deles como meio de preencher os cofres esvaziados de tesouros com a riqueza deles. Em 1307, a Ordem foi suprimida por supostamente praticar a adoração ao demonio e realizar pactos secretos com seus inimigos muçulmanos. Na tradição oculta, e antes da última leva de livros sensacionalistas sobre eles, os Templários já eram vistos como guardiões do Santo Graal, devotos da Madonna Negra e financiadores da construção de catedrais góticas e fundadores míticos da Maçonaria teórica.

Embora o motivo público dado para a fundação da Ordem em 1118 tenha sido proteger os peregrinos em rota para a Terra Sagrada, os nove cavaleiros que a fundaram pareciam ter uma agenda secreta desde o princípio. Primeiro, era impossível para uma pequena companhia de cavaleiros guardar as rotas dos peregrinos sozinhos. Segundo, o nome completo do grupo era Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão em Jerusalém. De fato, o quartel-general era em terras doadas pelo rei Baldwin de Jerusalém, no local onde existia o templo de Salomão. Nos primeiros anos da sua existência, os cavaleiros Templarios estavam menos interessados em proteger peregrinos que escavar as ruínas do templo de onde tiraram seu nome. Os túneis que eles cavaram foram cavados novamente no século XIX pelo tenente Charles Warren dos Engenheiros Reais. Warren foi um maçom eminente e mais tarde se tomou um famoso comissário da Polícia Metropolitana de Londres responsável pelas investigações dos assassinatos de Jack, o Estripador.

Houve considerável especulação sobre o que os Templários estavam procurando nas minas do templo e se chegaram a encontrar algo. Como sempre, a resposta popular diz se tratar de um tesouro escondido, tal como os recipientes de ouro e prata usados no templo original. Estes foram supostamente enterrados em um cofre subterrâneo, quando os Babilônios saquearam a cidade no século VI a.c. Outra sugestão, ainda mais fantástica, é que era a Arca da Aliança, embora a lenda diga que ela já tivesse sido levada para a Etiópia. Uma teoria alternativa é que os Templários estavam procurando pelos Pilares de Tubalcaim e o conhecimento antigo que eles preservaram desde épocas anteriores ao dilúvio.

Algum suporte para essa última teoria foi dado por Sua Alteza Real Príncipe Michael da Albânia, o atual chefe da casa real Stewart. Ele alega que as escavações dos Templários revelaram livros salvos do incêndio de Alexandria antes que ela tivesse sido consumida pelo fogo, antigos escritos dos Essênios, volumes escritos por filósofos gregos e árabes cujos trabalhos foram condenados pela Igreja e incontáveis trabalhos sobre numerologia, geometria, arquitetura e música, bem como manuscritos sobre metais e ligas (1998:61). O príncipe Michael alegou também que os cavaleiros encontraram tesouros materiais, e isso forneceu a base para a imensa riqueza deles, o que os transformou em banqueiros internacionais do Cristianismo.

Outros escritores também alegaram que os cavaleiros desenterraram um esquife de ferro que continha tesouros de valor inestimável e supremo entre todos os processos verdadeiros do Grande Trabalho na Alquimia, o segredo da transmutação de metais, como contado para Salomão pelo mestre Hiram Abiff. (Waite, 1991:10) Mais tarde, foi alegado que essa descoberta levou à aclamada riqueza dos Templários, já que uma parte déla foi adquirida por meio de operações de Alquimia. Traidores infiltrados na Ordem aparentemente revelaram essas operações ao rei Felipe. O verdadeiro motivo para a perseguição da Ordem, dizem essas fontes, foi a ganância do rei falido que queria colocar suas mãos nos seus segredos alquímicos. Quando um pequeno bando de Templários franceses supostamente viajou de barco para a Escócia, para escapar da perseguição, esses segredos foram passados para os Cavaleiros Maçônicos de Santo André e o Cardo, que eram também conhecidos como príncipes da Rosa- Cruz ou rosa-cruzes.

Gaeton Delaforge, membro de vários grupos ocultos modernos que usam o nome Templário, disse: “A verdadeira tarefa dos nove cavaleiros era conduzir pesquisas na área [das velhas fundações do templo] para obter certas relíquias e manuscritos, que contêm a essência das tradições secretas do Judaísmo e do antigo Egito” (sublinhado por nós). Delaforge alega também que os Templários realizaram mesmo encontros secretos com grupos islâmicos, como os Assassinos e os Sufis. Eles também conseguiram acesso aos ensinamentos cabalísticos. (1987:90)

Outra possível fonte de tesouros escondidos no templo de Salomão é dada em uma das lendas sobre Moisés. A Bíblia diz que Moisés foi ensinado na sabedoria dos egípcios (Atos 7:22). Como um garoto hebreu criado como príncipe egípcio, é provável que Moisés tenha sido apresentado aos Mistérios egípcios. Antes de morrer, Moisés supostamente passou a Josué todos os seus escritos secretos. Especula-se que estes continham toda a sabedoria dos egípcios e talvez até a tradição mais antiga. Foi pedido a Josué que ungisse esses rolos de papel em óleo de cedro para preservá-los e então os selasse em cerâmica herméticamente fechada. Estas deveríam então ser enterradas sob a pedra conhecida como a Mais Sagrada Dentre Todas, onde atualmente se localiza Jerusalém. Essa pedra foi mais tarde o local do templo de Salomão. É, portanto, possível que os Templários conhecessem a lenda, e essa era uma das coisas que eles procuravam nos túneis.

Na lista de acusações feitas contra os Templários pelo rei Felipe e o papa, os Templários foram acusados de renunciar ao Cristianismo, cuspirem na cruz e adorarem um ídolo chamado Baphomet. A renúncia do Cristianismo (mais provavelmente do Igrejismo) e a profanação do instrumento usado para torturar e matar Cristo também foram relatadas em alegações contra os Gnósticos. Elas podem ser acusações inventadas pela Igreja para sujar o nome dos seus rivais, mas também pode fazer sentido no contexto dos sistemas de crenças que eram anticristãos, ainda que não anti-Cristo.

Baphomet era descrito de formas diversas, sugerindo que ele tivesse formas diferentes. Foi dito que ele possuía uma cabeça, como a de Jano, de um velho com dois rostos e uma longa barba branca, possivelmente representando o Dia Mais Antigo, ou o Absoluto, um crânio humano que expressava profecias oraculares e guiava o destino da Ordem, ou um grande gato preto (ísis, Bast ou Sekhmet?). Uma imagem entalhada encontrada em um priorado de Sião mostra uma figura tipicamente demoníaca competindo com um rosto felino, com uma barba, asas de morcego, seios femininos e chifres. Escritores modernos identificaram positivamente Baphomet em Sophia, o Santo Sudário e até com as cabeças de João Batista e Jesus! Este último, acredita-se que está sepultado na Capela Rosslyn, juntamente com a Arca da Aliança e o Santo Graal.

No século XIX, o ocultista e mago francês Alphone Constant, um padre católico aposentado e proto-comunista, mais conhecido pelo seu pseudônimo judaico Eliphas Levi, publicou sua famosa ilustração de Baphomet. Ele alega que era uma figura panteísta simbolizando o Absoluto. Levi também acreditava que a fonte da riqueza dos Templários tinha sido o conhecimento de Alquimia obtido no Oriente Médio. As aplicações físicas das operações alquímicas foram refletidas em um nível mais intemo pela busca dos Templários por conhecimento esotérico e iluminação espiritual.

A famosa ilustração de Baphomet por Levi parece ser baseada naquela encontrada na comenda templária mencionada anteriormente. Ele é representado com uma cabeça de bode e sentado com as pernas cruzadas em um cubo. Isso representa o altar da Terra, na qual toda a matéria é sacrificada para se tomar espírito. Também podería ser a pedra bruta da tradição maçônica, que é moldada pelo Mestre Artesão. Entre os chifres da figura, resplandece uma tocha simbolizando a iluminação. Em sua testa brilha o pentagrama ou Estrela da Manhã. Ele possui asas para mostrar sua natureza angelical, ainda que possua um torso humano. Sua cabeça de bode e as pernas nos lembram das origens animais da humanidade.

A versão de Baphomet por Levi é andrógina e bissexual para significar que essa é a natureza dos anjos e também que a divindade transcende gênero - homens e mulheres são espiritualmente iguais. Por causa da afetação do século XIX, Levi não mostrou o falo ereto da figura simbolizando o poder solar. Pelo contrário, estava oculto por um caduceu ou varinha de Hermes. A natureza andrógina de Baphomet é enfatizada pelo fato de um dos seus braços ser torneado e feminino, enquanto o outro é musculoso e masculino. Um aponta para uma lua crescente (Diana) e o outro, para uma lua minguante (Lilith). Esse também era o gesto hermético que significava “como é acima, assim é abaixo” ou que a humanidade é um microcosmo do macrocosmo (Universo).

O que Baphomet significava para os Templários? Nós talvez nunca saibamos, mas podemos tentar adivinhar, baseados no simbolismo de Levi e nas informações obtidas em outras fontes. Primeiro, o nome foi traduzido do grego Baphometis, que significava batismo ou sabedoria. Isso faz sentido, considerando os objetivos dos Templários em obter conhecimento antigo. O bode também é o forasteiro, o excluído, o viajante na terra desolada, literalmente o bode expiatório que foi dado com uma oferenda pecaminosa para Azazel. É também a imagem de animal do signo do zodíaco Capricórnio, que governa a 10â casa da conquista e da ambição. Na tradição astrológica, o bode capricomiano escala cada vez mais alto a montanha. É tradicionalmente a metáfora para um escalador social ambicioso e por vezes rude que fará qualquer coisa para ter status neste mundo. De fato, foi a ambição mundial dos Templários que contribuiu para a sua queda e há também um ditado popular: “O orgulho do Templário”.

Em um nível mais interior, a ambição do bode é transformada em uma ambição espiritual. A montanha que ele escala é a casa dos deuses ou o ápice da perfeição espiritual neste mundo. E a busca daquele que procura escalar as alturas e alcançar seu topo. Dessa forma, eles alcançarão o objetivo espiritual do Grande Trabalho, que é a iluminação ou o esclarecimento. Por esse processo, as ovelhas são separadas dos bodes pelo Bom Pastor. Os bodes são os iniciados que seguirão o caminho da luz até o topo da montanha, e as ovelhas são os materialistas e os seguidores de religiões ortodoxas que continuam no escuro vale abaixo. Entretanto, ao usar essa metáfora, nós não devemos cair na armadilha da arrogância espiritual, que foi uma das falhas do Templo.

Levi referiu-se a essa imagem do deus Templario como Baphomet de Mendes e, portanto, o associou com o Bode de Mendes, tão amado por escritores sensacionalistas de contos de terror ocultos. Foi o historiador viajante grego Heródoto que, coma típica hipocrisia clássica, condenou os rituais bárbaros em Mendes, onde ele supostamente testemunhou sacerdotisas relacionando-se sexualmente com um bode sagrado. Esses supostos eventos, quando a adoração foi aviltada, e sua falsa associação com a adoração ao demônio obscurecerán! o verdadeiro significado do Bode de Mendes.

Originalmente, a divindade adorada em Mendes não era sequer um bode, mas um carneiro. Foi o animal sagrado de Khnum, o antigo deus com cabeça de carneiro da fertilidade e da criação e guardião do Nilo. Seu nome significa modelador, e ele criou o primeiro homem e mulher em uma roda de modelar argila. Khnum também era conhecido como o “pai dos pais, mãe das mães” e era bissexual por natureza. Seu cônjuge ou aspecto feminino era Nut ou Neit, que conhecemos antes como a pré- dinástica Deusa das Sete Estrelas e mãe de Seth. Seu nome significa literalmente o terror que é. Em épocas posteriores, ela foi a deusa criadora da guerra, da sabedoria, da caça e dos mortos. Seus símbolos pessoais eram duas flechas cruzadas e uma lançadeira, enquanto seus animais sagrados eram a abelha e o gato. Nos primeiros mitos, ela era a primeira deusa, a mãe dos deuses e a virgem mãe do deus do sol Rá. Diz-se que ela emergiu das profundezas das águas primaveris. Então ela formou um morro para descansar, para então parir a luz murmurando palavras secretas de poder. Em épocas mais recentes, outras deusas como ísis obscurecerán! Neit. O historiador grego Plutarco escreveu que uma inscrição no seu templo em Sais dizia: ‘‘Eu sou todas as que já existiram, que existem e que existirão. Nenhum mortal jamais foi capaz de retirar o véu que me cobré". A frase final foi creditada mais tarde a ísis.

Khnum foi por vezes associado ao deus mestre artesão Ptah, que foi reconhecido pelos colonos gregos do Egito como o deus ferreiro Hephaestus ou Vulcano e chamado de Grande Arquiteto do Universo. Ele era um deus bissexual criador que, como Khnum, criou a humanidade usando uma roda de modelar argila. Ele foi popularmente conhecido como o mestre construtor e a divindade protetora dos ferreiros, maçons e artesãos da madeira e metal. Khnum era também o deus protetor de um importan te faraó que transformou o Egito em uma potência imperial 3.500 anos atrás. Esse governante especial, ofuscado hoje em dia por outros, como o herético Akhnaton e Tutankhamon, era tanto um guerreiro quanto um governante místico, um sábio, um cientista, um diplomata, um botânico pioneiro e um ocultista.

Thotmoses III (nascido como Thoth) governou durante a 18a dinastia no final do século XV a.C. Quando jovem, Thotmoses governou como co-regente com sua irmã, a rainha Hatshepsut. Quando ela morreu, ele se tomou o governante supremo do Egito e continuou a transformar o país em uma potência mundial no Oriente Médio. Ele liderou uma série de campanhas militares bem-sucedidas para conquistar terras próximas, incluindo aNúbia, Palestina, Líbano e Síria. Eventualmente, o novo império do Egito se estendeu ao norte até o Rio Eufrates. Isso permitiu à cultura egípcia florescer e prosperar durante o período de paz, quando o país não enfrentou nenhuma ameaça dos inimigos.

Embora o faraó fosse temido pelos inimigos derrotados, ele era amplamente respeitado por seus subordinados como um governante sábio e justo. Apesar de sua coragem de guerreiro, ele era um homem culto, que promovia as artes e as ciências. Ele também criou um sistema legal que, ao contrário do que havia na Antiguidade, tratava a todos como iguais e era composto por juizes imparciais. E creditada a Thotmoses a criação do primeiro zoológico e um jardim botânico que abrigava espécimes da fauna e flora que ele havia recolhido durante seus períodos no exterior. Quando o faraó morreu, os escribas descreveram sua alma como um cometa ardente nos céus. Essa era uma referência enigmática à transformação em espírito de uma alma muito desenvolvida e de um iniciado nos Mistérios. Também foi dito sobre ele que: “Não havia nada que ele não soubesse, ele era um Tot em tudo”. Essa era outra referência ao seu papel inicial como modelo cultural e espiritual.

Thotmoses mantém uma posição importante na história oculta, pois alega-se que ele agregou emditos educados, sacerdotes, filósofos, curandeiros e artesãos para formar uma fraternidade secreta baseada na perícia prática intelectual e espiritual, que era conhecida como a Grande Fraternidade Branca ou Loja Branca. O nome não tem nenhuma ligação com a “magia branca”, mas se referia aos mantos brancos que seus membros usavam e também ao uso que eles faziam de um misterioso pó branco.

Era chamado de ouro em pó e era supostamente produzido por alquimistas. Ele tinha a propriedade de estimular o Terceiro Olho ou a glândula pineal para aumentar os poderes psíquicos e o conhecimento espiritual. Acredi- tava-se que ela era uma versão etérea do ouro físico. Os chamados Irmãos Brancos operavam sob o patrocínio de sacerdotes de Ptah, que eram treinados desde pequenos como curandeiros, metalúrgicos, maçons ou arquitetos. Alguns ocultistas teosóficos disseram que essa misteriosa escola egípcia foi a precursora mítica dos essênios, cujos membros aparentemente incluíam João Batista e seu primo Jesus e a Ordem da Rosa- Cruz. Um dos símbolos da Fraternidade era um ankh com uma rosa sobre ela.

É interessante notar que um dos títulos oficiais de Thotmoses era “o crocodilo do Nilo”, o que se refere ao deus crocodilo Sebek, o filho de Neit. Sebek era um dos aliados de Seth e, certa vez, substituiu o deus negro no panteão egípcio e se tomou o cônjuge da deusa Lua Hathor. Crocodilos, cobras, lagartos, sapos, rãs e répteis de todos os tipos são criaturas que secretamente representaram os Nephilim e os antigos deuses na mitologia mundial ao longo dos séculos. Eles também foram disfarçados por trás de títulos como o povo serpente ou o povo do dragão.

Thotmoses dedicou-se a Khnum e também a Sekhmet, a deusa com cabeça de leoa do deserto, que era a filha de Rá e cônjuge de Ptah. Ela também era associada à deusa gato Bast, outra deusa leoa Pakhet adorada pela rainha Hatshepsut e comparada pelos gregos a Ártemis (a versão deles para Diana), Hathor e a cônjuge de Thoth, Maat.

Essas conexões e identificações não são coincidências e são importantes no esoterismo para compreender quem Tutmoses III foi. Elas indicam que ele era não apenas um governante progressista e iluminado. Ele também foi um Pendragon, um rei dragão da linhagem de sangue cainita que remonta aos Vigias. Teósofos modernos dizem que ele foi também uma das encarnações de seu Mestre Koot Hoomi. Na verdade, a alma que encarnou no corpo de Thotmoses pertencia a um grupo de iniciados conhecidos como a Companhia Secreta, a Companhia Vistosa ou os Viajantes. Entre suas vidas na Terra, eles agem como guias e mestres do Outro Lado.

Alguns ocultistas vêem o Bode de Mendes, ou mais corretamente o Carneiro de Mendes, como um símbolo para Cão, um dos filhos de Noé. Cão foi identificado como Thoth e também o rei-sacerdote bíblico Melquisedeque. Também foi alegado que ele era na realidade o filho de Tubalcaim e, portanto, o avô de Nimrod, criador da Torre de Babel. (Gamer, 1999:155) Cão também aparece em uma variante alternativa e interessante do mito Daqueles que Caíram e os Pilares de Tubalcaim.

O escritor cristão do século IV Cassion conta como os Ben Elohim eram na verdade a prole humana do terceiro filho de Adão e Eva, Seth. Eles tinham recebido esse nome por conta de sua natureza boa e espiritualidade, mas foram seduzidos pelas filhas dos homens ou as crianças femininas de Caim. O resultado desse cruzamento foram crianças que eram tão malvadas que Javé enviou um dilúvio para erradicá-los da face da terra. Cassion diz que os Setianos tinham sido dotados de todo o conhecimento. Isso incluía as propriedades ocultas das árvores, plantas e pedras e o dom da profecia. Quando eles se casaram com as filhas de Caim, utilizaram esse conhecimento e seus poderes psíquicos para usos profanos. Eles aparentemente começaram a praticar a magia negra e passaram a adorar o demônio, e não a Javé.

Cão, dizem, aprendeu as artes mágicas dos filhos de Deus. Sabendo que seu pai Noé não aprovaria isso, ele gravou esse conhecimento proibido em placas de metal e tábuas de pedra para preservá-las das águas do dilúvio. Cão entregou essa tradição mágica para seu filho Mesraim, ou Mizraim, de quem os egípcios, persas e babilônios são descendentes.

Dizem que Zoroastro veio da linha de Mizraim, e isso faz sentido, já que Caim supostamente foi ancestral de sacerdócio mágico dos adoradores do fogo, (Gardner, 1999:159)

Na Maçonaria, o Rito Antigo e Primitivo de Memphis e Mizraim surgiu na Loja do século XVIII da Maçonaria egípcia pelo conde Cagliostro. Esse amigo do conde de San Germain, alquimista misterioso, adepto do oculto e Mestre Teosófico, que acidentalmente foi relacionado com a dinastia Stuart, era supostamente um agente secreto para os Illuminati. Cagliostro acabou sendo preso pela Inquisição e morreu na prisão. O simbolismo do Rito é baseado nos Mistérios egípcios e na luta dualística cósmica Gnóstica entre as forças do bem e as forças das trevas, representadas na mitologia egípcia por Osíris e Set. Ao invés do Mestre Hiram Abiff, o mito central do Rito é a história de Lameque, o pai de Tubalcaim e o assassinato do seu outro filho, Jubal.

Em 1902, John Yarker, um maçom inglês que foi o chefe de várias Lojas Maçônicas, autorizou uma escritura para três ocultistas alemães para estabelecer uma grande Loja do Rito. Em 1899 ou 1900, dois desses homens, Franz Hartmann e Heinrich Klein, uniram-se a um austríaco chamado Karl Kellner para fundar a OTO, Ordo Templis Orientis. Ela é mais conhecida como a Ordem do Templo no Leste ou a Ordem dos Templários do Leste. AOTO em sua forma original utilizava ensinamentos maçons, rosa-cruzes, Templários, dos Illuminati e pagãos. A revista da casa Oriflamme afirmou em 1912 que a Ordem possuía a chave para todos os segredos maçônicos e herméticos, a saber, todos os ensinamentos sobre magia sexual, e esses ensinamentos explicavam, sem exceções, todos os segredos da natureza, todo o simbolismo da Maçonaria e todos os segredos da religião.

Kellner alegou que ele tinha conhecimento pessoal da magia sexual de três adeptos do leste - um árabe e dois hindus. Uma fonte mais provável era um grupo de ocultistas franceses chamados de Fraternidade Hermética da Luz. Eles eram seguidores distantes de um mago americano, chamado P.R. Randolph, que também dizia ter sido ensinado o tantra da mão esquerda por adeptos no Oriente Médio. Após a morte de Kellner, em 1905, a OTO foi assumida por Theodor Reuss e, em 1910 ou 1912, ele iniciou Aleister Crowley na Ordem. A Grande Besta formou uma ramificação britânica da OTO chamada de Mysteria Mystica Maxima (a MMM ou Grande Mistério Místico). Quando Reuss adoeceu, em 1922, deixou de ser o chefe da OTO e nomeou Crowley como seu sucessor.

Na tradição oculta, o signo heráldico para Cão era o Bode de Mendes ou o bode de capricórnio. Aparentemente, era um pentagrama invertido com uma esmeralda entre seus chifres. Na vertical, esse pentagrama representa Vênus-Lilith como a esmeralda simbolizando a iónica estrela- fogo ou essência da Deusa Estrela. Cão e o Bode de Mendes também são associados à Alquimia e ao mestre alquímico Azazel. (Gardner, 1999: 156-158) Dizem que os descendentes de Cão se estabeleceram no Egito e que provavelmente foi assim que esse filho de Noé foi associado com Ram ou o Bode de Mendes.

Um dos papéis originais dos Templários era guardar as rotas dos peregrinos até Jerusalém e mantê-las abertas, apesar da oposição dos sarracenos. Entretanto, a Ordem acreditava que a raiz da heresia das Ordens estava nesses contatos não autorizados com o Islã.

A Igreja acusava os Templários de conspirar com infiéis e alegou que Baphomet era uma corrupção de Maomé. Na verdade, qualquer ligação com os sarracenos não deve ter sido de natureza política, mas algo muito mais esotérico. Uma das acusações feitas contra os Templários foi que eles praticavam vícios artificiais, incluindo beijar uns aos outros em partes dos seus corpos nus durante ritos de iniciação. Essas partes incluíam a boca, o plexo solar, o pênis e a base da espinha. Tais alegações sobre o oscalum infame ou beijo obsceno foram uma das acusações feitas contra as bruxas. Foi sugerido que os Templários estavam praticando uma técnica mágica árabe chamada beijo sarraceno. Isso envolvia o adepto respirando em várias partes do corpo durante uma iniciação para ativar chacras correspondentes ou centros psíquicos. (Liddell, 1994:79)

No que diz respeito à tradição oculta, os Templários, como os antigos iniciados egípcios, eram seguidores secretos de um caminho espiritual que levava à obtenção de níveis ascendentes de sabedoria sagrada (Hopkins, Simmons e Wallace Murphy, 2000). A crença maçônica na importância do Templo era baseada na alegação de que “foi uma Ordem [que] ocultou durante anos e perpetuou, por meio de guardas religiosos, para uns poucos escolhidos certa parte de sua doutrina secreta, a identidade de Cristo e Hórus, de Maria, a Mãe de Deus, e Isis, a Rainha do Céu”. (Waite, 1991) As várias ramificações da Maço- naria Templária realmente estão firmemente baseadas na tradição da sobrevivência de conhecimentos ocultos ou proibidos desde os dias de Noé e o Dilúvio e o segredo acerca da verdadeira natureza de Cristo.



O ENFORCADO


Nos arcanos maiores do Livro de Thoth ou o Taró, a 12- carta é chamada de o Enforcado. Ela mostra um jovem pendurado de cabeça para baixo e suspenso por um pé em uma árvore ou uma forca feita de galhos. Sua perna direita está cruzada sobre o joelho esquerdo na forma da cruz de Tau. Em alguns baralhos, ele segura um saco de moedas em cada mão. Em baralhos antigos italianos, essa carta é chamada de Traditore ou Traidor, e esta é uma referência a Judas. Entretanto, na Idade Média, era uma prática comum os cavaleiros errantes serem pendurados de cabeça para baixo e serem surrados como castigo. Essa posição também tem sido relacionada com aqueles crucificados de cabeça para baixo, tais como os heréticos Mani e São Pedro.

Madeline Montalban, fundadora da Ordem da Estrela da Manhã, disse que essa carta significa abnegação e sacrifício pessoal. Ela sugeriu que a posição invertida era indicativa do investigador desperto que mostra que eles não se libertaram totalmente das limitações do mundo material, mas é importante, pelo contrário, que eles só estão tentando fazer isso. Ela também diz que o Enforcado obteve um grau de conhecimento arcano por meio de suas provações e tentações (1983). Sallie Nichols (1980) vê esse reverso e sua conexão com os heréticos, incrédulos e traidores como um sinal de que o investigador no Caminho se toma um pária social. Como alguém que rejeita a normalidade da sociedade e se opõe à visão coletiva, ele ou ela pode parecer ser um traidor para a Instituição e alguém que traiu os ideais e valores da sociedade. 

Outro taromancista, Paul Huson, compara a carta do Enforcado com Dioniso, que deve morrer para renascer, assim como a semente deve descer à terra para crescer novamente no ano seguinte (1972:200). Na Grécia antiga, imagens de Dioniso foram penduradas em árvores, como um ritual de fertilidade para ajudar as plantações a crescerem. Huson também se refere ao costume folclórico inglês de apedrejar uma imagem chamada Jack 0’Lent na primavera. Após ser apedrejada e denegrida, ela é então queimada. Alguns camponeses reconhecem Jack O’Lent como sendo Judas Iscariotes, e esse também foi um apelido para o espantalho. Na época pagã, essa imagem pendurada ou queimada nos campos simbolizava o espírito do inverno e foi associada ao Senhor do Descontrole. Atrás dessa imagem, diz Huson, espreita a morte do deus sacrificado e sua queda para o Inferno.


Huson também descreve uma cerimônia interessante praticada pelo grupo maçônico-rosa-cruz do século XIX, a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Esse ritual foi provavelmente baseado no Enforcado, a carta do tarô. Envolvia atar e pendurar o candidato para o grau de adepto menor em uma cruz. Isso também era feito com um membro selecionado em uma cerimônia anual chamada de Ritual de Corpus Christi. No grau de adepto menor, era vista como um prelúdio para a iluminação e, no rito anual, era usado como uma absolvição para o carma coletivo da Ordem durante o ano anterior.

É muito fácil rejeitar a Aurora Dourada como se fosse um bando heterogêneo de cavalheiros de classe média vitoriana, ainda que nas suas práticas mágicas e espirituais eles fossem, em várias estâncias, pioneiros de sua época. A Aurora Dourada não apenas teve uma grande influência na magia e no ocultismo do século XX, mas também continha elementos Luciferianos sutis que hoje foram obscurecidos. Na verdade, eles podem não ter sido totalmente claros para a maioria dos membros na época. O título da Ordem, a Ordem Hermética da Aurora Dourada, é significante em si mesmo e uma das suas ramificações foi chamada de Stella Matutina ou Estrela da Manhã. Em uma das suas invocações, a frase “Eu declaro que a estrela da manhã surgiu e as sombras desapareceram” foi usada.

No nível de Philosophus da Aurora Dourada, o simbolismo da Queda foi usado e o Dragão (Lúcifer) foi utilizado para ilustrar o poder elementar e espiritual do fogo. Israel Regardie, um iniciado da Aurora Dourada nos anos de 1930 e secretário de Crowley, disse: “A Queda é catastrófica de um ponto de vista apenas. A consciência do surgimento do Dragão também dota o homem com consciência do poder, e poder é vida eprogressoEle também cita a visão de Blavatsky de que Lúcifer é o redentor, libertador e salvador da humanidade. Regardie continua: “No esquema evolucionário, a Queda ocorre por meio de um tipo de inteligência superior entrando em contato íntimo com a humanidade nascente, estimulando assim a psique da raça’’'’ (1936/1971:79-80).

Na verdade, o grau de adepto menor ali é uma descrição de Ben Adam, ou o filho de Adão, entre sete portadores dourados da luz. Essa poderia ser uma descrição do Arcanjo Lumiel, já que ele está “vestido com um traje cobrindo seus pés e urna cinta com uma corrente dourada. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a neve e seus olhos eram como o fogo flamejante: seus pés em um fino bronze como se eles queimassem em uma fornalha. E sua voz como o som das águas. E ele tinha na mão direita sete estrelas [as sete estrelas da Ursa Maior?] e da sua boca saía a Espada do Fogo e seu semblante era o sol em toda a suaforça ”. (Regardie, 1936/1971:82) No nível Practicus da Stella Matutina, o candidato é simbolicamente visto como Hórus e recebe o título de Unicórnio das Estrelas. As formas de deuses Cabiri também são construídas de acordo com as instruções do misterioso Mestre da Mesopotâmia [Melquisedeque], e eles foram astralmente assumidos pelo oficiais chefes da Loja. (Grant, 1972:71)

O Enforcado também está relacionado a Azazel como o anjo persa Shemyaza. Ele também foi conhecido como Azza, Shemjaza, Shemhazai, Shemazya e Amerrzyarak. Shemyaza foi seduzido por uma mulher chamada Ishtahar, e ela prometeu a ele favores sexuais em troca do nome secreto de Deus (Collins em Wallace Murphy, sem data). Ishtahar pode ser outro nome para Naamá, a irmã de Tubalcaim e uma versão mais jovem de Lilith. (Huson, 1970:9) Como punição por coabitar com uma humana e revelar o nome secreto, Shemyaza foi condenado a passar a eternidade pendurado de cabeça para baixo entre o Céu e a Terra na constelação de Orion.

O caçador arquétipo Orion foi descrito como a forma estrelar do velho Deus Chifrudo das bruxas. (Chumbley, 1995:75) Pendurado de cabeça para baixo, Shemyaza tem um olho aberto e outro fechado, para que ele possa ver seu apuro e sofrer mais. Isso também o toma um observador entre as estrelas.

Uma divindade de um olho só pendurado em uma árvore que possui o conhecimento dos arcanos e é popularmente conhecido como o Enforcado também é encontrada na mitologia nórdica. Ele é Odin, ou Woden, o pai do deus da luz Baldur, que se pendurou na Yggdrasil ou Árvore do Mundo por nove dias e nove noites para obter o alfabeto secreto das mnas. Em sua persona germânica de Woden, ele é o deus dos Xamãs e é representado como um bruxo e mago. Uma das razões por que dizem que o folclore nórdico aceitou o Cristianismo tão facilmente foi que eles viram a crucificação como outra versão de Odin pendurado na Árvore do Mundo.

O filho de Odin, Baldur, foi identificado como o Cristo Branco, quando os missionários Cristãos começaram a converter os povos da Europa do Norte. O mito da traição de Baldur pelo deus do fogo Loki e sua subse- qüente morte e queda ao Inferno se igualava com a traição de Jesus por Judas, que também se enforcou em uma árvore, a crucificação e a queda de Jesus para salvar as almas no Inferno. Em ambos os casos, Judas e Loki têm um papel importante e central no drama cósmico. Sem eles, o drama não teria chegado a essa conclusão.

Foi apontado por alguns escritores de mitos nórdicos que a teoria de Odin=Jesus cai por terra quando os motivos das duas figuras são examinados. No caso de Odin, ele sofreu na forca da Árvore do Mundo como um ato de auto-sacrificio para obter sabedoria e conhecimento. Jesus, por outro lado, voluntariamente encarou a morte como um sacrifício azazeliano ou bode expiatório pelos pecados da humanidade. Entretanto, em ambos os mitos, estamos lidando com um auto-sacrifício voluntário para o benefício da humanidade, ao contrário do sacrifício normal (sic), como um método de acalmar ou agradar Deus ou os deuses.

A morte de Jesus foi um ato de supremo auto-sacrifício pelo bem comum. Na noite anterior à sua prisão, estranhamente de novo em um jardim, Jesus hesita em sua missão e pede que seu destino seja alterado. Isso jamais seria possível desde o momento de seu nascimento, e, muito tempo antes daquele momento no tempo e espaço, eventos estavam se movendo inexoravelmente em direção à áspera cruz na colina verde. No final, tanto Odin quanto Jesus escolhem de livre vontade seus destinos porque, paradoxalmente, eles não têm nenhuma escolha.

Na realidade, tanto para os deuses como para os humanos, é a deusa do Destino que está controlando suas ações e seu destino.

Um dos últimos títulos de Odin foi o Pai de Todos, sugerindo que ele tinha a posição suprema entre os deuses e as deusas nórdicos como o líder deles. Foi sugerido que Jesus tinha um papel demiúrgico parecido em relação ao pai deus ciumento do Velho Testamento. Muitas culturas pagãs tinham uma crença no Deus por trás dos deuses. Isso é resumido em um texto um pouco anterior ao Cristianismo, chamado Tubingen Theosophy, na qual o deus romano do sol Apoio responde à pergunta sobre ele ser ou não um deus. Ele responde: “Nascido em si mesmo, ignorante, sem uma mãe, inabalável, residindo no fogo, este é Deus. Nós, seus anjos, somos uma pequena parte de Deus”.

Ao identificar Odin e Baldur com o Cristo Branco, os pagãos nórdicos e anglo-saxônicos estavam reconhecendo a natureza arquétipa e universal do mito mais poderoso na história humana. A essência desse mito é encapsulada na lenda cristã sobre a cruz na qual Jesus morreu. Essa lenda, potencialmente herética, diz que a cruz foi feita com madeira da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Essa lenda eficazmente liga a morte de Jesus com o mito de Eva e sua sedução pela Velha Serpente, que era Lúcifer-Azazel. Ela também ilumina a real natureza do crucificado e o simbolismo oculto por trás da imagem do Enforcado.


ORION E O GRANDE CAÇADOR 


No século XIII, o escritor Saxo Gramaticus escreveu um relato sobre a vida e a era do príncipe Arnleth ou Hamlet da Dinamarca. Arnleth era uma variante de Amlodi, o ser sobrenatural nos mitos nórdicos sobre a criação, cujo moinho mói as estrelas. Esse moinho ficava em uma ilha protegida por um grupo de mulheres gigantes chamadas As Nove Damas. Arnleth, o pai, era chamado de Orvendell ou Earendell e foi descrito como o primeiro de todos os heróis a nascer. Earendell foi também um guerreiro e caçador que lutou contra os gigantes de gelo nórdicos, equivalentes aos Titãs. Ele era um amigo do deus do trovão Thor e um hábil arqueiro. Ele foi comparado com Wayland, o Ferreiro, Robín Hood e Órion, o caçador.

O pai de Hamlet é uma figura um tanto quanto mítica, e dizia-se que ele tinha sido um ser humano que se transformou em uma estrela. Essa é uma metáfora para o mortal atingindo o status divino ou união com Deus. Entretanto, o enredo se toma mais denso quando uma fonte anglo-saxônica descreve Earendell como o anjo mais brilhante, que foi enviado para os homens pela Terra Média. Em alguns relatos, ele é descrito como a verdadeira refulgência (brilho ou iluminação) do sol que ilumina todos os dias para todo o sempre. Em eras anglo-saxônicas, ele foi associado a Vênus como a estrela da aurora ou estrela da manhã e ao arcanjo caído Lúcifer. Em um comentário obscuro sobre Earendell, LGollanz, em seu livro Hamlet inlceland{ 1898), citado por de Santillaevon Dechend (1977:36), parece sugerir que Venus, em seu brilho pleno no céu, era a Estrela de Belém, e compara o Cristo criança com o deus Sol. No passado, o viajante sempre celebrava o surgimento de Vênus antes da aurora porque era o sinal de que o sol logo surgiría para um novo dia.

Earendell é a forma do arqueiro divino arquétipo, cujas representações terrestres incluíam heróis folclóricos, tais como William Tell. Na verdade, a historia de Tell acertando uma maçã na cabeça de seu filho foi a princípio creditada a Earendell. Em um dos episodios mais famosos dos mitos de Robín Hood, ele compete disfarçado em um campeonato de arco-e-flecha. No Cosmos, Earendell é associado à constelação de Orion e suas conexões Luciferianas. De Santilla e von Dechend chamam essa figura gigantesca de filho de Deus, o floresteiro e o Grande Urso, todos nomes com conotações interessantes. Ele caça um búfalo ou um veado ao longo do caminho celestial da Via Láctea, que também é conhecida em mitos da Europa do Norte como Wodenwaeg ou Caminho de Woden. Earendell-Orion é o arqueiro caçador que persegue seus animais totens pelo céu noturno.

Adrián G. Gilbert o viu como outra forma de Heme, o Caçador, o deus bmxo que também está associado a Woden e Robin Hood. Nos contos folclóricos populares ingleses, Heme é um floresteiro a serviço real na floresta de Windsor. Um dia, enquanto caçava com o rei, ele o salva do ataque de um veado ferido. Heme mata o animal, mas, ao fazer isso, sofre uma ferida mortal. Um mago que convenientemente passava por ali instruiu seus colegas a cortar os chifres do veado e colocá-los na cabeça de Heme. Ao fazerem isso, ele milagrosamente ressuscita dos mortos.

O rei recompensa Heme por ter salvado sua vida fazendo dele seu diretor-chefe. Infelizmente seus colegas ficaram com ciúmes, ou ele foi despedido por caçar ilegalmente, e, mais tarde, um Heme deprimido se enforca em um carvalho atingido por um raio na floresta. Daquele dia em diante, seu espírito com chifres assombra os arredores do carvalho com uma matilha de sabujos espectrais. Em muitas formas da bmxaria tradicional, o Deus Chifrudo em seu aspecto de inverno é representado como o Senhor da Grande Caçada. Tanto a tradição folclórica inglesa quanto a alemã dizem que o líder da Grande Caçada é Woden ou Heme. No interior desses países, ela é por vezes chamada de Caçada de Caim.

Na mitologia greco-romana, Orion foi amado por Diana, a deusa lunar da caça. Todos os dias, o jovem caçador costumava percorrer a floresta com seu fiel cão Sírio logo atrás. Um dia ele encontrou um grupo de ninfas de Diana dançando alegremente em uma clareira da floresta. Elas eram, na verdade, filhas do Titã conhecido como Atlas. Orion imediatamente as perseguiu, mas elas se embrenharam ainda mais para dentro da floresta e foram perseguidas pelo caçador de sangue quente. Em uma tentativa de escapar de seu cerco, as ninfas pediram o auxílio de sua senhora Diana. Elas foram instantaneamente transformadas em sete pombas brancas e voaram pelo céu. Elas se tomaram as sete estrelas da constelação de Plêiades.

Órion então se apaixonou por uma princesa mortal chamada Merope. Seu pai consentiu o casamento deles, contanto que Órion realizasse um feito heróico para ganhar a mão dela. Órion, em vez disso, planejou abduzir Merope e casar-se com ela em segredo. Quando seu plano foi frustrado, Órion foi cegado (como tradicionalmente foram Earendell, Longuinho e Hodur, o assassino de Baldur) como punição e também perdeu sua futura noiva. Cego e impotente, Órion vagou de um lugar para outro esperando encontrar alguém que pudesse lhe devolver a visão. Um oráculo disse a ele para viajar para o leste e expor seus olhos ao sol nascente. Ele assim o fez e foi curado.

Em uma versão alternativa, a deusa de aurora Eos ou Eostre se apaixonou pelo caçador cego. O irmão dela, Hélios-Apoio, restaurou sua visão. Em uma terceira versão, Órion perambulou na caverna de um ciclope, um dos membros dos Titãs, a raça de gigantes. Como disse o poeta Longfellow: “Ele procurou o ferreiro em sua forja. O ciclope disse a ele para escalar uma montanha e curar seus olhos vazios no sol nascente e sua visão seria estão restaurada

Uma vez curado, Órion retomou para a floresta e sua vida de caçador. Ali ele conheceu Diana, e eles se apaixonaram. Para azar do casal devotado, Apoio tinha ciúmes de sua irmã e tramou assassinar Órion. Em um incidente muito parecido com a morte de Baldur, Apoio convenceu Diana a demonstrar suas habilidades com o arco. Ele a desafiou a acertar um ponto negro muito distante boiando no mar. Diana atirou e percebeu tardíamente, quando a flecha atingiu o alvo, que o ponto negro era Órion que nadava. Diana jurou que seu amor jamais seria esquecido e colocou a alma de Órion entre as estrelas do céu. Ali ele continua a caçar com seus companheiros animais, uma lebre e dois cães de caça. São eles: a Cão Maior, contendo a estrela Sírio, e a Cão Menor, contendo Procyon. Na mitologia egípcia, Sut-har (Seth-Hórus) era associado a Órion e Sirius, representado por um cão e um lobo.

Gilbert (1996) também associa Órion com o poderoso rei caçador Nimrod, descendente dos Vigias, construtor da cidade pioneira e da Torre de Babel. Ele foi descrito pelo demonologista católico Montague Summers como um bruxo gigante de grande força. Como Nimbroth ou Nebroh, ele foi adorado como deus pelos Amonitas. Na Idade Média, o grimório do papa Honorio invoca Nambroth como o poder demoníaco de Marte. Isso o relaciona com Samael, o governante angelical de Marte, Azrael-Azazel e, claro, Shemyaza, pendurada no portão-estrelar de Órion.

A constelação de Órion parece ter tido alguma importância para os antigos egípcios, se for possível acreditar nos escritores modernos. Em 1994, Robert Bauval e Adrián Gilbert publicaram o resultado de sua recente pesquisa nas pirâmides e seus significados. Eles ligaram esses monumentos com Órion e o enterro dos faraós. De acordo com a teoria deles, as pirâmides foram construídas para formar um mapa de estrela na paisagem, refletindo o céu noturno acima. Não apenas isso, mas também em ritos funerais, a múmia do faraó era colocada em uma câmara dentro da pirâmide em posição de uma haste para o exterior alinhada com a constelação de Órion. Um ritual mágico era realizado para libertar a alma do rei para que ela pudesse tomar seu lugar como o Osíris renascido na estrela-portão de Órion.

Existe uma quantidade considerável de tradições estelares antigas, direta ou indiretamente, ligadas às tradições Luciferianas. Por exemplo, a tradição da estrela cigana registrada por J. A. Vaillant em seu estudo sobre Les Roms (Paris, 1857) descreve as constelações circumpolares como o Livro deEnoch ou Tro-Tehitio sideral original, o nome cigano para Hermes Trismegisto, de onde todos os destinos eram distribuídos para o mundo. Isso acontecia via matrizes planetárias zodiacais ou tipos celestiais de arcanos maiores do taró. Os informantes de Vaillant lhe disseram que o destino dispensado dessa roda de estrelas dispensava o destino das 

excursões da tribo de Rom. E.B. Trigg (1975) descreve que foi um ferreiro cigano que foijou os quatro pregos da crucificação. O quarto prego tomou-se tão quente que não pode ser removido da foija, e apenas três foram usados. Esse quarto prego foi a ruina dos Rom desde então, forçando-os a vagar pela Terra sem um lar, como os Judeus viajantes, em urna tentativa de escapar de seu destino.

Os Rom também têm um relato sobre suas origens que diz que eles descendem da união incestuosa de Tubalcaim e Naamá ou Chem e Guin, o Sol e a Lúa. Um dos antigos títulos dos románios era As Crianças de Caim. O monopolio cigano na metalurgia na Idade Média e possivelmente até seu comércio moderno como negociantes de aparas de metal deriva desse mito da origem. As Crianças de Caim, ou povo do fogo, eram supostamente magos hereditários com poderes psíquicos, ferreiros e comerciantes de cavalos. Essas categorias se encaixam com as ocupações favoritas dos ciganos por todos os tempos.

Por trás desses mitos, está a crença Gnóstica sobre como o espírito puro desanda para o ciclo melancólico e fatigante da existência material na roda do renascimento sublunar, constantemente tentando retomar ao seu reino estrelado. O mundo material é o reino do Tempo e do Destino sobre o qual o Prego Polar Celestial, a Estrela Polar, reina soberano e sereno sobre o destino.A estrela Alpha Polaris é a Estrela Central ou Umbigo do Céu. Como o ponto metálico ou qutub, o athame ou espada, a Estrela Polar foi forjada por Tubalo, o deus do fogo dos ciganos que corresponde a Tubalcaim - do árabe Qyn, ou ponta de ferro (de uma lanceta ou lança).

Esse arcano metálico da Estrela Polar pode estar ligado ao mistério egípcio de Bja ou os ossos de ferro meteóricos dos reis estrela envolvidos na transformação do faraó morto em Osíris na constelação de Orion. (Bauval e Gilbert, 1994:203-04) Seth também possui um esqueleto de ferro e, em um papiro mágico do século III da Alexandria, a cidade sagrada da tradição Hermética, ele é invocado como “Es o ponto central das estrelas no céu, você, Mestre Typhon”. Typhon era o nome grego para Seth, mas também, estranhamente, um nome dado para sua mãe, a Deusa das Sete Estrelas (Ursa Maior ou o Grande Urso).

O polo celestial é o segredo por trás do simbolismo do castelo giratorio de quatro lados da bruxa deusa. Ele gira eternamente no coração do céu e é o portal de entrada da Hiperbórea, ou a terra além do vento norte. Para o iniciado nos Misterios, Polaris é simbolicamente aponta da espada, a Cidade de Enoch, e Caim, a Estrela de Ferro, o Umbigo Celestial e a sutura estelar no domo em forma de crânio do Céu, o portal de entrada para o Outro Mundo.

Sobre o centro cósmico dos céus gira a constelação de Draco, o Dragão. Na Pérsia, era o dragão-serpente Azhadaha, identificado como a Serpente Negra da Luz, Azazil-Ebas, chefe dos Inri ou anjos caídos. A Grande Estrela Dragão enrolada sobre uma árvore eixo dos mundos é emblemática da serpente da sabedoria enrolada sobre a cruz de Tau, o selo da Arte dos Sábios. AGrande Serpente, Draconis Azhdaha, é significantemente chamada também de Thyphonis Statio ou a Estação de Typohon ou Seth. Noplanisfério egípcio reproduzido em Oedipus Aegytiacus de Athanasius Kircher (1652), Typhon é mostrado como um dragão escamado escarlate e verde e é equiparado com o deus mais antigo. Esse esquema de cores verde e vermelho retrata a tradição Luciferiana.

Em alguns círculos da bruxaria tradicional, as constelações Ursa Maior (O Grande Urso) e Ursa Menor (O Pequeno Urso) são reverenciadas como os veículos siderais do Senhor e da Dama, o deus bruxo e a deusa bruxa. Respectivamente, eles são designados como a Carruagem de Nosso Senhor e Carruagem de Nossa Senhora. A Ursa Maior também é chamada de Carruagem de São Gabriel. E vista como ataúde estelar, que carrega os espíritos dos mortos. Ela tem conexões duradouras com o Senhor da Grande Caçada, cujos cães são chamados de táramelas de Gabriel (possivelmente relativo à catraca ou roda).

No gnosticismo Persa-Judaico, a Ursa Maior é governada pelo touro demônio com chifres, Asmodeus, lorde da tempestade e da noite. Ele é o filho de Tubalcaim e Naamá, de acordo com uma lenda, ou do rei Davi e Lilith, de acordo com outra. Menos conhecida é a tradição da bruxaria de Lancashire ligando as estrelas do Grande Urso com os Sete Assobiadores, os pássaros psicopompos espectrais cujos trinados noturnos misteriosos pressagiam a morte. Tradicionalmente, acredita-se que eles encarnam os espíritos dos judeus que ajudaram na crucificação. A punição divina deles foi vagar como pássaros tristemente voando em círculos pelo céu para sempre.

A Ursa Maior é o veículo celestial da líder feminina da Grande Caçada no folclore e na tradição da bruxaria. Ela é Holda, Herodias ou Diana-Artemis, a Deusa Negra e Grande Dama da bruxaria européia. Isso é confirmado pelo encantamento mágico Helenístico para Arktos como a cadeira da Grande Caçadora. Esses sistemas estelares girando no céu alto são os veículos cósmicos dos Velhos Poderes, de onde os mistérios Cainitas-Ofitos mais-que-humanos foram originalmente transmutados e a semente dos Velhos Deuses e Dos Grandes nasceu eras atrás.

As Plêiades ou Sete Irmãs são chamadas de Galinhas da Noite no folclore europeu. Elas são sagradas para a Dama Branca do Céu (a deusa bruxa) no seu aspecto sétuplo, como a chama de sete línguas do candil das virgens estrelares. As Plêiades traçam o caminho elíptico ao longo do céu noturno feito pelo sol durante as horas matutinas. Magicamente, seus poderes são contidos, de acordo com Agrippa, para aumentar a luz dos olhos [possivelmente uma referência ao mito clássico de Órion], para congregar os espíritos, aumentar os ventos, revelar segredos e coisas ocultas.

A Rainha Negra de Elfame, a mais sagrada para a Mãe de Rosto Negro, é a estrela gêmea Caput Algol - Al-Ghul, em árabe, significa demônio. Ela está na constelação de Perseu, que representa o semblante maligno da górgone Medusa. Ela é o aspecto triforme do cacho de serpentes da deusa grega Hécate-Mormo adorada pelas antigas bruxas de Tessália. Essa deusa está ligada à face negra ou lado escuro da Lua, e ela protege os portões do mundo subterrâneo. Na demonologia judaica, Algol, um sistema estelar binário rotativo, é conhecido como a cabeça de Satã e a Estrela de Lilith. O explorador vitoriano sir Richard Burton notou a associação dela com Lilith, a lâmia, o dakini do Hinduísmo, o utug caldeu e o gigim ou demônio do deserto. Agol é o bruxo estrela da striga, comjas grito, ou bruxos italianos. Os árabes o chamavam de demônio pestanejante, e Grant (1991:262) usa numerologia oculta para ligar essa estrela com Melquisedeque e a Fraternidade Branca.

As estrelas Typhonianas de Escorpião, por outro lado, são tradicionalmente a residência assombrada do espírito alado familiar noturno Aquila Nigrans, ou L’Aigle Noir, a Águia Negra Fênix Nox (noite). Essa é a Águia Negra, um temido emissário Dos Grandes conhecido há tempos nos mistérios da bmxaria verdadeira, como Corbeau Noir. De igual importância é outro pássaro celestial, Vega Alpha Lyrae, conhecido como o Abutre Curvo. No Egito, essa estrela foi associada a Maat, a deusa da verdade e consorte de Thoth.

Espero que essas poucas páginas dos grimórios divinos da sabedoria estrelada antiga tenham iluminado ainda mais o tema mítico deste livro enquanto chegamos ao fim de nossa jomada. Elas são outro exemplo da transmissão da história antiga da extração da sabedoria Gnóstica dos Céus para o benefício da humanidade em luta por aqueles que ousaram desafiar a ordem cósmica. Isso daria a impressão de que a Gnose ou o autoconhecimento continuam sendo um problema para os inimigos da verdade e os pais das mentiras em nosso mundo moderno. Apenas recentemente o arcebispo de Canterbury, dr. George Carey, um homem supostamente bem-educado, condenou a obsessão moderna com a educação e aquisição do conhecimento. Ele compara esse modismo com a heresia dos Gnósticos nos primeiros séculos do primeiro milênio cristão.

O Igrejismo em suas muitas formas híbridas sempre se opôs à educação das massas e ao autoconhecimento do sagrado e espiritual. Qualquer coisa que remova o papel da classe sacerdotal como um intermediário entre a humanidade e o Divino ameaça o monopólio espiritual da religião vigente. Ao longo de vários séculos sangrentos desde tempos remotos, as três religiões do Oriente Médio do Livro tentaram alcançar esse fim empregando a espada, o laço e o fogo. Milhares e milhares de seus oponentes foram mortos para encobrir o maior encobrimento e conspiração da história do mundo.

Hoje, quando celebramos o terceiro e último milênio cristão, chegou a hora de a verdade ser contada. Este livro e outros que virão são parte desse processo em andamento. ALuz brilhará uma vez mais na escuridão em que estava escondida por séculos e afastará as sombras da ignorância.

A Luz está na Escuridão e a Escuridão é a Luz.


Luciferianismo - A Virgem Negra e o Sangue Sagrado

Em 1982, Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln publicaram o mega-bestseller Sangue Sagrado, Cálice Sagrado e, dezenove anos mais tarde, ele continua sendo publicado. O livro saiu após uma série de documentários televisivos para a BBC2 apresentados por Lincoln e palestras dadas em Londres pelos três autores. Os filmes e palestras investigavam o mistério acerca do pastor de uma paróquia em uma pequena vila francesa em Rennes-le-Chateau, no século XIX. Esse mistério girava em tomo de sua alegada descoberta de um tesouro escondido e seus extensos contatos com sociedades secretas, ocultistas e nobres europeus.

O tema principal do livro era que o Santo Graal era uma referência codificada para o sang rael ou sangue real dos descendentes europeus de Jesus e Maria Madalena. Esses descendentes aparentemente encontraram a dinastia merovíngia da França medieval. Desde 1982, outros autores tentaram traçar essa linhagem de sangue por meio das lendas Arthurianas, a casa real francesa, os Tudors, os Stuarts e os Habsburgos. Esse conceito da linhagem de sangue de Maria Madalena foi amplamente baseado em documentos fornecidos pela sociedade secreta francesa chamada Priorado de Sião. Esse grupo tinha documentado uma genealogia histórica impressionante ligada aos Templários, aos rosa-cruzes e aos maçons. Politicamente, o Priorado apoiava os Estados Unidos da Europa governados por uma monarquia pan-européia.

Recentemente foi alegado por Robert Richardson, em um artigo no jornal americano esotérico Gnosis #51 (primavera de 1999), que essa “falsa historia se originou em documentos fraudulentos criados por uma seita de extrema-direita francesa”. Richardson alega que o Priorado era urna farsa elaborada, e o grupo só foi criado nos anos de 1950. Foi a criação de um francés chamado Pierre de Plantard, que tinha anteriormente fundado uma sociedade secreta anti-semita e, estranhamente, antimaçônica na França de Vichy em guerra. O Priorado, segundo Richardson, só foi fundado em 1956, quando Plantard começou a circular documentos falsos sobre Rennes-le-Chateau e seu famoso tesouro. Entretanto, dizem que ele obteve o material dos arquivos de sociedades secretas e ordens mágicas que foram apreendidos pela polícia secreta de Vichy durante a guerra.

Se existe alguma verdade no que foi mencionado há pouco, a idéia de um casamento entre Jesus e Maria Madalena e sua linhagem de sangue descendendo da nobreza européia não foi uma completa invenção de Plantard. Esse conceito de um reino divino e uma linhagem de sangue sagrada é um ensinamento esotérico antigo. Em anos mais contemporâneos, antes da Segunda Guerra Mundial, iniciados ocultos como Julius Evola na Itália e o dr. Walter Stein na Alemanha escreviam sobre tais assuntos, ainda que com pontos de vista políticos diferentes. Em um livro publicado no começo de 1928, o dr. Stein escreveu sobre a linhagem de sangue do Graal que envolvia tanto os Templários quanto a casa real francesa. Os membros dessa antiga família estavam, segundo ele, com espíritos antigos altamente evoluídos que possuíam poderes psíquicos que os diferenciavam das demais pessoas. E interessante que o rei Luís da França (1461-83) tenha insistido que sua família descendia de Maria Madalena.

Maria Madalena é um dos personagens mais fascinantes, ainda que enigmáticos, mencionados no Novo Testamento. Nos Evangelhos, ela também é conhecida como Maria de Betânia, o lugar onde os discípulos dizem ter visto Jesus subir aos céus. Ela é (mal) representada pela Igreja como uma prostituta e adúltera. Em João 11:2, ela é descrita como a irmã de Lázaro, a quem Jesus ressuscitou. No secreto Evangelho de Marcos, esse evento é visto como uma iniciação nos Mistérios Cristãos, apresentando uma morte simbólica e um renascimento. Os Evangelhos ortodoxos de Mateus e Marcos descrevem como Jesus visitou Betânia e a casa de um leproso chamado Simão. Enquanto estava sentado à mesa na casa, uma mulher ungiu sua cabeça e pés com um perfume caro. De fato, ela usou um ungüento feito de nardo guardado em um jarro de alabastro. Essa mulher com o jarro de alabastro foi identificada como Madalena. De acordo com o proibido Primeiro Evangelho da Infância de Jesus Cristo, esse jarro foi dado por uma velha senhora que tinha sido a parteira da Virgem Maria (Jesus Cristo 2:2-5). Pelo seu ato simbólico, Maria reconhecia Cristo como o Christos, o ungido, ou messias que salvaria os judeus do Império Romano. Ele era o rei sagrado que deveria morrer como bode expiatório pelos pecados de seu povo. Até mesmo Jesus reconhecia esse fato, quando exclamou a todos os presentes que a mulher o tinha preparado para o enterro com suas ações.

Nardo era um perfume caro extraído da uma planta originária da índia. Por conta de seu custo, apenas era usado por mulheres ricas e isso traz alguma luz sobre o status social de quem o possui. Seu custo era notado por murmúrios de desaprovação entre outros presentes, incluindo Judas. Ele se referiu a seu uso para ungir Jesus como um desperdício de dinheiro. Outros presentes, entretanto, viram além das considerações puramente materiais e entenderam perfeitamente o significado e a importância do ritual que haviam presenciado. De fato, era costume judaico o parceiro sobrevivente ungir o cadáver de seu marido ou esposa antes do enterro. Maria não estava apenas ungindo o rei sagrado para prepará-lo para o ritual da morte, como a sacerdotisa da Deusa, mas ela também estava indicando para todos os presentes que era a esposa do ungido.

Na antiga Canção das Canções, creditada a Salomão e escrita pela rainha de Sabá, o nardo é mencionado como a fragrancia usada no banquete do rei. Isso se refere ao casamento sagrado entre Salomão e Sabá como o rei-sacerdote/deus e a sacerdotisa/deusa. No século XII, São Bernardo de Clairveax identificou nessa canção a irmã de Lázaro, Maria de Betânia, que era Maria Madalena. São Bernardo era um grande partidário dos Tem- plários e um devoto da Madonna Negra, que foi identificada como Madalena. Quando ela deu autonomia aos Templários, eles juraram obediência a Betânia, o castelo de Maria e Marta, não para a Virgem Maria.

Quem era Maria Madalena? Uma grande pista é fornecida pelo seu segundo nome ou título. É traduzido como “observadora” ou “torre do rebanho”. O uso comum se refere a um lugar alto, usado pelos pastores para observar seus rebanhos. Em termos esotéricos, refere-se aos reis pastores da linhagem de sangue mística dos angelicais Vigias que, literalmente, observavam a humanidade. Isso também tem ligações simbólicas óbvias com a Torre de Babel, a Torre Atingida pelo Raio no taró, os quatro Vigias no círculo mágico, o Castelo das Rosas na bruxaria tradicional e as torres dos contos de fadas, em que princesas são aprisionadas por madrastas perversas ou duendes. No plano físico, Maria e sua família possuíam sete castelos na vila de Betânia e outros terrenos nos arredores de Jerusalém. A própria Maria viveu em um castelo ou torre na costa do Mar de Galiléia, onde Jesus fez muitas de suas pregações. O profeta hebreu Miquéias também usava o termo observador dos rebanhos como alusão à futura restauração de Jerusalém como uma cidade sagrada da filha de Sião.

Dizem que Maria Madalena veio da tribo de Benjamim e era uma princesa de sangue real. Todos os rabinos judaicos tinham de se casar e é lógico que Jesus, como descendente da casa real do rei Davi, deveria conceber um herdeiro para perpetuar a linhagem de sangue. Também é lógico que tal casamento deveria acontecer com alguém de origem real. Foi insinuado que a profecia de Miquéias não se refere de forma alguma a Jemsalém, e sim ao exílio forçado da princesa real depois da execução de seu marido. No século IX, o arcebispo de Mayence escreveu A Vida de Maria Madalena, no qual alega que a mãe dela, Euchania, tinha ligações com a casa real dos Macabeus de Israel.

Escritos do século XIII do arcebispo de Gênova, James de Vorágine, afirmam abertamente que Maria havia sido uma nobre rica com genealogia real. O arcebispo alegou que o pai dela tinha sido um aristocrata sírio. O nome da mãe de Maria, Euchania, também era um dos nomes da versão grega de Vênus-Affodite. Alguns escritores modernos têm visto alguma verdade na difamação da Igreja de que Maria era uma prostituta. Eles a ligaram com as chamadas prostitutas do templo que serviram às deusas do Oriente Médio, tais como as mulheres que choraram por Tamuz do lado de fora do templo em Jerusalém.

O papel de Maria Madalena na crucificação e suas conseqüências são um tanto quanto incomuns. Em três dos Evangelhos ortodoxos de Mateus, Marcos e João, ela é apresentada ao pé da cruz com outros membros da família de Jesus. Todos os quatro Evangelhos dizem que ela sozinha ou com outros membros da família foi para a sua tumba no terceiro dia. A história inventada foi que ela visitou a tumba para preparar o corpo dele para a embalsamação. Essa era tradicionalmente a tarefa da esposa do falecido. O Evangelho de João diz que ela foi para a tumba sozinha e a encontrou vazia. Ela é, de forma significativa, a primeira pessoa a encontrar o Cristo Ressuscitado, mas não reconhece o seu Mestre, acreditando a princípio que se tratava de um jardineiro. Esse é um episódio curioso que simbolicamente liga Jesus aos primeiros jardineiros Adão e Caim. Enquanto Adão e Eva eram expulsos de seu jardim paradisíaco e Lúcifer era expulso do paraíso celestial, Jesus simbolicamente caminha no jardim. Jesus é relacionado com Caim, o Viajante, porque, com o seu ato supremo de auto-sacrificio, o Cristo toma redundantes as oferendas de sangue feitas pelos judeus e pagãos.

Maria é responsável então por levar as boas novas ou o evangelho do renascimento de Jesus para os outros discípulos. Isso mostra o papel importante dela no grupo, algo que é enfatizado quando alguns dos discípulos se recusam a acreditar no relato dela. Quando Jesus estava vivo, ela tinha reclamado com ele sobre a atitude machista de alguns dos discípulos. Incluindo Pedro, que iria trair seu Mestre três vezes antes do amanhecer. É evidente que Jesus tinha um círculo intemo de discípulos para os quais ensinava os mistérios do reino de Deus. Em Marcos 4:11, ele afirma abertamente: “A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos defora tudo se lhes diz por parábolas Esse método de ensino fechado e aberto é comum nas antigas escolas de mistérios e entre professores espirituais em todas as culturas.

Nos evangelhos Gnósticos, encontrados emNag Hammadi,* no Egito, em 1945, há várias referências a Maria Madalena. De fato, um dos textos, o Evangelho de Maria, era dedicado a ela. Ele alega que foi escolhida por Jesus como sua representante entre os discípulos. É por esse motivo que o evangelho diz que Pedro a temia e odiava, pois ele acreditava que iria suceder Jesus. No Evangelho Gnóstico de Felipe, há uma descrição de Jesus beijando uma discípula, identificada como Maria, porque ele a amava mais que a todos os outros discípulos. No mesmo evangelho, ela é descrita como sua companheira e no original grego isso significava uma parceira ou uma amante. Ela também foi descrita como uma iluminatriz e iluminadora chamada Maria Lucífera, a portadora da luz, a doadora da iluminação por meio da união sexual sagrada. (Picknett ePrince, 1997:259)

No confuso período imediatamente posterior à crucificação, a Igreja nazarena em Jerusalém, liderada por um dos irmãos de Jesus, Tiago, o Justo, enredou-se em conflito com grupos cristãos rivais e o sacerdócio judaico. Alguns dos gmpos rivais, incluindo a facção criada por Paulo, queriam divulgar os evangelhos para os pagãos. Os seguidores de Tiago, entretanto, continuavam seguindo costumes judaicos. Realmente, a insistência de Tiago de que ele era um rabino judeu legítimo eventualmente o levou a ser apedrejado até a morte por blasfêmia. Um dos primeiros convertidos cristãos, José de Arimatéia, que havia persuadido seu amigo Pôncio Pilatos a ceder o corpo de Jesus para ser sepultado em sua tumba particular, foi preso quando suas crenças se tomaram conhecidas. Após sua soltura, ou fuga, dizem que José percorreu o país com Maria Madalena, a irmã dela Marta e o irmão Lázaro. De acordo com o chamado Documento Montgomery, que pertence a uma antiga família escocesa, Maria, descrita como esposa de Jesus, também foi presa pelos romanos. Eles a soltaram, aparentemente, porque ela estava em avançado estado de gravidez. No documento, Maria é chamada de sacerdotisa de um culto de mulheres. Podem ter sido os nazarenos, mas sugere algum tipo de grupo ou religião pagã.

A princípio, como a Família Sagrada antes deles, José, Maria e os parentes dela fugiram em busca de abrigo no Egito. Em seguida, velejaram para o sudoeste da França onde aparentemente Maria, Marta e Lázaro decidiram ficar. José seguiu viagem até a Grã-Bretanha, onde ele tinha contatos desde os dias em que era um comerciante de estanho e mercador de metais. Existe a famosa lenda de West Country que diz que José trouxe seu sobrinho Jesus para a Grã-Bretanha como um jovem a ser iniciado nos mistérios druidas. Também se diz que a avó materna de Jesus, Santa Ana, era na verdade uma princesa de uma tribo Silure no sul do País de Gales. Quando José chegou na Grã-Bretanha, dizem que ele trazia consigo o Santo Graal e que foi posteriormente enterrado em GlastonburyTor.

Maria chegou ao pequeno vilarejo francês de Les Saintes Maries de la Mer (Santa Maria dos Mares), na área de Carmargue. 

Quando Maria chegou, dizem que ela estava acompanhada por uma jovem criada chamada Sara ou Sarah. Em hebraico, esse nome significa “princesa” e hoje os ciganos continuam celebrando o festival em que a chamam de “a Rainha Negra”. Uma imagem da Madonna Negra é carregada pelas mas e acredita-se que ela representa Santa Sara ou Madalena. Quando a Igreja romana celebra o dia de Santa Maria Madalena, é feita uma leitura da Canção das Canções, referindo-se à noiva em busca do seu noivo, de quem foi separada (como ísis de Osíris). Aparentemente, Sara era a filha de Jesus e Maria.


Alguns relatos dizem que eles também tiveram uma segunda criança, um menino chamado Tiago, que tinha 2,5 anos na época da crucificação. Seu tio paterno, Judas Tomé, o São Tomé dos evangelhos, tomou-se seu guardião após Maria ser forçada a se exilar no deserto egípcio. Judas Tomé levou seu sobrinho até Compostela, na Espanha, que mais tarde se tomou um local de peregrinação famoso dedicado ao apóstolo São Tiago. O interessante é que esse São Tiago de Santiago de Compostela era o santo protetor dos físicos e alquimistas. E por isso que no século XV o alquimista Nicholas Flamel fez uma peregrinação especial até o túmulo dele.

Uma antiga tradição cristã diz que São Tiago derrotou Hermes Trismegisto e roubou todo o seu conhecimento secreto. Na tradição esotérica, dizia-se que a rota para Santiago representava a Via Láctea, e o peregrino ou viajante que a seguia representava o viajante divino Hermes- Mercúrio. De fato, alguns dos peregrinos que para lá viajaram na Idade Média não o fizeram por devoção cristã, mas por causa da iluminação hermética oferecida pelos ocultistas judaicos e árabes na Espanha Moura. Simbolicamente, eles estavam procurando possuir a estrela do latino compás, ou posse, e stella ou estrela. (Roob, 1997: 700-707)

Maria Madalena eventualmente se mudou para Marselha e em seguida para Aix-on-Provence. Ali, ela evangelizou por muitos anos antes de se tomar uma eremita em uma caverna, anteriormente associada à adoração pagã de Diana-Lucíferas, onde ela faleceu. No final do século XIII, o conde de Provence, Charles II, alegou ter descoberto o corpo dela na cripta de St. Máxime la Baume. Um crânio envolto em uma máscara dourada que supostamente pertenceu a Maria continua sendo carregado pelas mas no dia do seu festival. A caverna na qual ela morreu se tomou um lugar de peregrinação para o gremio maçônico medieval conhecido como Crianças de Salomão. Hoje os seus sosias modernos, a Companhia da Volta da França, continuam realizando essa peregrinação como parte de sua iniciação.

Na Idade Média, os heréticos Cátaros também conheciam Maria Madalena como esposa de Jesus. Foi dito que esse é um dos motivos pelos quais a Inquisição os perseguiu até a sua extinção. Maria foi uma das santas especiais dos Cátaros, e eles sempre comemoraram o seu dia em 22 de julho. Provavelmente não foi coincidência que os cruzados cristãos tenham escolhido assassinar 20 mil habitantes da cidade francesa de Beziers naquele dia em 1209.0 crime deles foi abrigar heréticos Cátaros dos grupos de busca cruzados.

Mesmo que o Priorado de Sião seja uma farsa moderna e que a lenda de uma linhagem de sangue física de Jesus tendo sobrevivido na Idade Média seja demais para ser considerada, ainda ficamos com os traços de uma herança espiritual poderosa. O conceito do sangue sagrado, o mito antigo do rei divino casado com uma deusa da terra e a encarnação recorrente do Senhor da Luz na Terra, é um tema mítico que não pode ser facilmente descartado ou ignorado.


Luciferianismo - A Lança O Caldeirão e a Pedra


Uma quantidade considerável de simbolismo Luciferiano pode ser encontrada nos mitos do Graal e suas origens pré-cristãs. A idéia de que o Graal foi esculpido da coroa de esmeraldas de Lúcifer foi propagada em um romance do Graal escrito em 1205 pelo trovador alemão Wolfram von Eschenbach. Há duas maneiras de entender esse romance do Graal medieval; como um conto de fadas romântico, sonhado por um mestre contador de histórias para entreter as massas, ou um trabalho de literatura mágica escrito por um iniciado para ligar o misticismo do Oriente Médio com a tradição esotérica ocidental. No que diz respeito a esse trabalho, a segunda explicação parece ser a mais provável. A história de Wolfram é parte de um processo de conhecido oculto sendo trazido do leste por cruzados e outros até a Europa. O seu objetivo era reunir os mitos do Graal do Oeste cristão com suas origens do leste.

Aversão de Wolfram do mito do Graal é creditada a um astrólogo judaico chamado Flegetanis, que viveu em Toledo, na Espanha, um centro da Cabala e ocultismo mágico na época. Era uma cidade multi-étnica para o misticismo árabe-mouro e judaico e ostentou uma escola de treinamento para magos. 

Flegetanis foi descrito como um adorador bárbaro e tolo pelo lado do pai. A expressão posterior sugere uma ligação com os antigos israelitas e pode se referir à adoração do deus touro Baal. Flegetanis alegou descendência de Salomão e, se isso era verdade, então ele era da linha real de sangue do rei Davi. Ele passou seu conhecimento do Graal para um trovador francês chamado Koyt de Provença. Ele tinha vivido em Jerusalém e era um parceiro conhecido de Heréticos, Gnósticos e Assassinos.

De acordo com Baigent, Leigh e Lincoln (1982), Kuyot era na verdade Guiot de Provins, um monge que escreveu canções de amor, criticou a Igreja e compôs poemas exaltando as virtudes dos Templários. De Provins também tinha estudado a Cabala em Toledo, e foi lá que conheceu Flegetanis. Em 1184, De Provins encontrou Wolfram von Eschenbach na corte do rei Frederick Barbarrosa, o governante do Sagrado Império Romano. Os dois se tomaram amigos, e o francês passou adiante o que Flegentis tinha contado a ele sobre a fonte Luciferiana do Graal. Essa história dizia que, quando a pedra verde caiu na Terra, foi guardada por anjos banidos por Deus do Céu, quando eles se recusaram a apoiá-lo contra a rebelião de Lúcifer. Outra versão diz que eles perderam suas asas e encarnaram como humanos para serem guardiões do objeto secreto.

Algumas fontes ligam a Pedra Esmeralda com a Pedra Filosofal dos alquimistas e com o kaba ou pedra negra sagrada venerada por milhares de muçulmanos em Meca, que supostamente é de origem meteórica. Essa pedra foi supostamente dada a Abraão de Ur pelo anjo lunar Gabriel. Entretanto, a pedra é popularmente chamada de Velha Mulher e, em tempos pré-islâmicos, Meca era um local de adoração de uma deusa da lua árabe, a deusa síria Cybele e a deusa romana Vênus. Originalmente, diz-se que a pedra em Meca era branca, mas, com o passar dos séculos, ela absorveu os pecados da humanidade e se tomou negra.

Isso a conecta com a Pedra do Destino de Tara, na Irlanda, que se tomou a Pedra de Scone usada para coroar os reis escoceses. Ela tinha a reputação de ter sido o travesseiro de pedras (pilar?) de Jacó. Embora a Pedra de Scone fosse branca na cor, é conhecida entre os iniciados modernos da Ordem dos Templários Escoceses como a Pedra Negra. A Pedra do Destino supostamente foi trazida para a antiga Irlanda pelo Tuatha de Danaan ou Povo da [deusa] Dana. O líder deles era Lugh, o deus da luz que derrotou o gigante Balor, chefe da raça demoníaca dos Formorianos que vieram das profundezas do oceano. Bator tinha apenas um olho e, quando o abría, ratos de energia destruidora surgiam. Lugh o matou atirando uma pedra com uma funda em seus olhos. Isso soa como um mito solar do tipo associado a Seth e Hórus, Apoio e Typhon e Baldur e Loki.

No romance de Wolfram, o personagem central ou herói é Parsifal, ou Percival, que é representado como um jovem inocente ou tolo sagrado. Isso é sutil, pois, no Sufismo e no taró, o Tolo não é o que parece. No tarô, sua máscara de palhaço esconde o rosto de alguém iluminado que, em termos cabalísticos, atravessou o Abismo e se tomou o Mago. Na arte Luciferiana, o Tolo ou Trapaceiro é um aspecto do Deus encamado na Terra em seu papel como guia e mestre. Na história, Percival é chamado para o castelo de Graal peto rei Pescador, ou rei Graal, que está morrendo. No castelo, ele vê um pajem carregando uma lança ensangrentada, a Lança do Destino, pelo corredor principal. Ele passa pelo rol dos cavaleiros do Graal vestindo túnicas brancas ornadas com a cruz vermelha de braços iguais dos Templários. Atrás do pajem vem a rainha do Graal carregando uma pedra verde sobre uma almofada de seda verde.

Percival entende que este é o Graal, e a família que vive no castelo é a família escolhida por ele e os guardiões hereditários. Em troca de seus serviços pelo Graal, eles vivem em um banquete suntuoso, com a melhor comida e bebida, miraculosamente fornecida todos os dias pelo recipiente sagrado. O adotado Percival desconhece que o rei e a rainha do Graal são seus tios. Isso o associa com Lancelote do Lago, o genioso cavaleiro bretão criado pela elfa Dama do Lago nas ordens de Merlin. Gardner (1996) associou a Dama do Lago a Maria Madalena. Lancelote tem um papel como Judas nas lendas Arthurianas, como o destruidor da Irmandade da Távola Redonda, mas ele também se casou com a filha do rei do Graal. O filho deles, Galahad, era o único cavaleiro da Távola Redonda que conseguiu ver totalmente o Santo Graal.

A Lança Ensangrentada é a arma que perfura as coxas (órgãos sexuais) do rei Pescador e o toma tanto sexualmente quanto espiritualmente impotente. Aterra também perde sua fertilidade se tomando a Terra Desolada, e o seu povo começa a morrer de doenças e inanição. De fato, o rei Pescador é o Deus Manco, Deus Agonizante ou Rei Divino da mitologia do Oriente Médio que é sacrificado para que seu sangue possa fertilizar a terra infértil. Ele morre em um ritual de morte, desce ao mundo inferior e renasce. Apenas o Graal, como um símbolo da Grande Deusa, pode curar sua ferida e restaurar a Terra Desolada em um paraíso na Terra. Nos mitos celtas-arthurianos, a Arma Sobrenatural é associada à lança do deus celta da luz Lugh ou Llew (cujo nome em galês também significa leão). Como vimos, nos mistérios esotéricos cristãos, é a lança forjada por Tubalcaim e usada por Longuinho para despachar Jesus na cruz. Nos mitos nórdicos, é um dardo ou flecha feita por Loki para matar o deus da luzBaldur.

A esmeralda Luciferiana pertenceu a Salomão antes de ser entalhada no copo usado na Ultima Ceia. É interessante que o rei hebreu também possuísse uma mesa circular supostamente esculpida de uma única esmeralda. Depois da queda de Jerusalém para os Romanos e a destruição do templo de Herodes, essa mesa foi levada para Roma. Quando em resposta a cidade imperial foi saqueada pelos Visigodos, a Mesa Esmeralda acabou em Toledo, Espanha. Quando os Mouros invadiram o país no século VIII, procuraram por todas as partes por esse objeto que, em comum com o Graal, podería curar os enfermos e alimentar os famintos. Uma história diz que a mesa foi escondida em um castelo fincado nas montanhas pelos iniciados para impedir que caísse em mãos árabes. O imperador Carlos Magno do Sagrado Império Romano era aparentemente tão fascinado pela lenda que fez uma réplica da mesa.

Se a fabulosa Mesa Esmeralda existiu mesmo, como objeto físico, é discutível. Uma pista para sua real natureza é que foi dito que ela era parte da famosa Tábua Esmeralda ou Tábua de Hermes Trismegisto, e seu nome pode bem ser um jogo de palavras para ocultar sua origem. Outras versões da história dizem que ela era a Pedra Filosofal. Claro, como sabemos por experiência, tais lendas de tesouros escondidos, a busca por eles, como em Rennes-le-Chateau, e mitos sobre espadas e cálices com poderes sobrenaturais geralmente escondem a busca de conhecimento esotérico e oculto. Por toda história, os não iniciados perderam seu tempo e energia procurando a quimera de tais tesouros sem perceber que eles poderíam sequer existir no plano físico. Nesse contexto, a jomada da Tábua Esmeralda de Salomão de Jerusalém até a Espanha pode se referir à transmissão da tradição hermética, alquímica e Luciferiana do Oriente Médio para a Espanha Moura. Da Espanha, essa corrente Gnóstica oculta teria fluído em direção à Europa do Norte.


A habilidade universal do Graal era sua capacidade de assumir formas, como o mito universal adaptado para diferentes culturas, religiões e sistemas de crenças. Como VrAndrew Sinclair disse sobre o recipiente: “Aos olhos dos Celtas e do folclore nórdico, o Graal era o caldeirão e a lança; na era clássica, a vasilha cósmica e cornucopia; para os Judeus, a Arca e o tabernáculo; para os Cristãos, o cálice e o prato; para os Muçulmanos, o kaba com sua pedra negra; para os dissidentes do fogo, a serpente e a pomba. Todavia, o Graal não era tudo para todos, mas apenas um símbolo da abordagem direta de cada pessoa da luz divina”. (1998: 261)

É interessante que Wolffam von Eschenbach tenha erguido seu Castelo do Graal em um morro arborizado ou uma montanha. Esse é o Monte Sagrado, o Morro da Visão ou o Monte Vazio, que é importante na mitologia Luciferiana. Ele pode aparecer em muitas formas físicas, como o Monte de Vênus, o Brocken, Thor de Glastonbuiy, Morro de São Miguel, Morro Silbury, Monte Shasta, as sagradas montanhas do Himalaia ou até mesmo um monte de pedras ou terra encantada. Quando o Tolo entra no castelo do Graal e tem a visão do Santo Graal, o rei Pescador é curado e a terra desolada fora do castelo se enche de rosas. Isso nos lembra do conto de fadas Rosa Brava ou Bela Adormecida, com o casamento sagrado entre o cavaleiro (a rosa vermelha) e a princesa (a rosa branca) selado com um beijo. Esse tema das rosas também aparece em Branca de Neve e os Sete Anões e é associado com a Deusa Negra do mundo inferior, em cujo caldeirão o herói é transformado em deus.

Um escritor galês disse sobre o Graal e os mitos criados: “A história do Graal é a história de um símbolo que é transformado, de uma religião para outra, retendo a maior parte do seu significado original. O deus celta que possuía o miraculoso recipiente era o deus do sol, Senhor do Mundo Sobrenatural, criador da humanidade. A donzela que carregou o cálice e casou com o herói era Sovereignty, a deusa da terra que representava o reino. A união entre o herói e a deusa simbolizou a posse do seu reino pelo herói.


Luciferianismo - O Rei Sumo Sacerdote


Uma das figuras mais misteriosas, extremamente significante, no Velho Testamento é Melquisedeque, ainda que ele tenha apenas oito linhas no Gênesis. Elas dizem que, após a batalha vencida por Abraão, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho: “e ele era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra, e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos! E de tudo Abrão deu-lhe o dízimo”. (Gênesis 14:18-21)

A real identidade e significância de Melquisedeque permanecem um segredo para a maioria dos leitores e escolásticos da Bíblia. Se sua identidade era amplamente conhecida, seu nome teria sido imediatamente censurado. É uma das referências bíblicas, como muitas outras, com significados secretos que escaparam ilesas enquanto a Igreja decidia que textos selecionar como ortodoxos e aqueles que seriam rejeitados como heresia. De fato, a referência a Melquisedeque significa uma visão herética que a Igreja jamais podería aceitar porque eles a considerariam a blasfêmia suprema.

No Gênesis, Melquisedeque é descrito como o rei de Salém e como o sacerdote do Deus Altíssimo. Esse Deus pode não ser o Javé do Velho Testamento, como muitas pessoas presumem, mas o Absoluto, o Deus aquém de toda a compreensão humana. No texto, Melquisedeque abençoa Abraão de Ur e dá a ele uma refeição sacramental de pão e vinho. Essa eucaristía é anterior à Última Ceia e pode ser vista como urna das primeiras tentativas para substituir os sacrifícios de sangue dos semitas por urna alternativa mais civilizada. Javé sempre demandava oferendas queimadas, e os rituais judaicos de sacrifício animal sobreviveram até a destruição do templo de Herodes, em 70 d.C. pelos romanos. Detalhes mórbidos de vários tipos de sacrifícios exigidos pelo deus hebreu podem ser encontrados em Levítico 5-9. Também há mais do que uma indicação de sacrifício humano na história de Abraão e seu filho Isaac (Gênesis 22:1 -19).

O elemento do sacrifício de sangue na religião hebraica também é destacado na narrativa de Caim e Abel e o motivo do primeiro assassinato. O relato bíblico diz: “E Abelfoi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou1'’ (Gênesis 4:2-5). Como resultado dessa rejeição por Javé de seu sacrifício, o primeiro jardineiro e Abel discutiram nos campos, o que levou à morte de Abel. A oferta de Abel do sacrifício de sangue é mencionada ainda nas missas católicas. Paradoxalmente, poucas linhas depois, é feita uma referência ao pão e vinho oferecidos para Abraão por Melquisedeque. No século VI, o mosaico Abel é representado oferecendo a Melquisedeque uma ovelha branca como sacrifício para Deus. Na frente do rei-sacerdote está um altar coberto com uma toalha de mesa branca. No altar está um cálice dourado e um par de pães redondos no formato de discos solares.

No Velho Testamento, Paulo menciona Melquisedeque em sua epístola para os hebreus. Isso está no contexto do papel entendido de Jesus como sumo sacerdote. Paulo descreve Jesus como um sacerdote após a Ordem de Melquisedeque. Isso sugere a tradição de grupos de sacerdotes hereditários, ou sacerdotes-reis, similares aos membros masculinos da família Cohén, que serviram como sacerdotes no templo e rabinos por séculos. Paulo descreve também Melquisedeque como órfão de pai e mãe, sem descendência, mas transformado em filho de Deus. Essa afirmação não aparece em nenhum outro lugar e, portanto, deve ter vindo de outra fonte ou sido uma tradição passada verbalmente para Paulo. A frase “sem pai, sem mãe” costuma ser uma referência codificada para alguém de origem divina ou semidivina. O uso do termo “filho de Deus” para descrever o rei-sacerdote seria herético e blasfemo para a maioria dos cristãos ortodoxos. Para eles, existe apenas um filho de Deus, e ele foi Jesus. Na tradição esotérica, “Bem Elohim” ou “filho de Deus” se refere aos arcan- jos e, especificamente, aos anjos caídos.

A primeira vista, parece estranho que Paulo tenha selecionado uma figura obscura como Melquisedeque dentre todos os personagens famosos do Velho Testamento e o comparado com Cristo. De fato, um olhar mais detalhado nesse rei-sacerdote na tradição esotérica pode esclarecer essa escolha estranha. Em A Doutrina Secreta (1893), Blavatsky conecta Melquisedeque com nossos velhos amigos Titãs e com os Cabari, ou Kaberim, os velhos deuses do mar e do mundo subterrâneo que ensinaram os humanos sobre a agricultura e a fundição. Presumidamente, esses Poderosos, que ffeqüentemente aparecem em nossa história, eram às vezes chamados de filhos de [Melqui] Zadok. De fato, Zadok era um velho nome associado ao sacerdócio judaico, que serviu no templo de Salomão. Blavatsky compara Melquisedeque com o deus romano da guerra Marte, que era conhecido com o Senhor da Morte e governava a agricultura, a construção e a arquitetura. De acordo com Blavatsky, Marte era também associado no mundo antigo a Vulcano e Caim. Blavatsky diz que o rei-sacerdote Melquisedeque era conhecido como o Justo e, de acordo com ela, também era o governante da Terra Mater, o Rex Mundi ou Rei do Mundo.


Na tradição esotérica, Melquisedeque supostamente teria trazido três presentes especiais do planeta Vênus (a Estrela da Manhã) para os primeiros humanos. O primeiro deles era o trigo, um símbolo de fertilidade e morte do Deus Sacrificado ou Rei Divino. O seu segundo presente foi a abelha, que é essencial para a polinização de plantas, ainda que hoje elas estejam em perigo em virtude do uso indevido de pesticidas e plantações modificadas geneticamente. Tanto a abelha quanto o mel que ela produz eram associados com o culto primitivo à Grande Deusa Mãe. A Flor de Lis, adotada pela família real francesa como um dos seus emblemas, aparentemente é derivada de uma imagem estilizada de uma abelha. Antigos reis costumavam ser embalsamados, tendo seus corpos besuntados com mel. Abelhas de ouro também eram importantes símbolos da dinastia merovíngia dos reis bruxos. O terceiro e último presente foi o amianto, um material com a capacidade mágica de resistir ao fogo e absorver calor. Se aceitarmos que há milhões de anos Venus era um planeta quente e estéril, então a alegação de que esses presentes são originários do planeta irmão da Terra deve ter um significado simbólico.

Melquisedeque também está intimamente ligado aos mistérios do Graal. Na catedral de Chartres, na França, construída em um antigo local pagão de adoração à deusa, dedicada à Madonna Negra e financiado pelos Templários, pode se ver estátua de um rei-sacerdote bíblico. E estranho que os maçons e arquitetos medievais tenham selecionado essa figura obscura para dar tal tratamento. Entretanto, como muitos deles eram iniciados nos Mistérios, presumimos que eles entendessem seu real significado, soubessem sua verdadeira identidade, e o que ele representava na evolução deste planeta e da raça humana. A estátua segura um cálice identificado como o Santo Graal. Nesse cálice, está uma pedra e isso nos lembra da lenda medieval que diz que o Graal foi esculpido da esmeralda de Lúcifer.

Então, quem é o misterioso rei-sacerdote de Salém? Para ocultistas imersos na tradição teosófica, ele é um dos Manus, os grandes mestres e modelos culturais também conhecidos como os Mestres da Sabedoria. Eles abandonaram suas formas etéreas e encarnaram na Terra como guias e professores.

Melquisedeque é, portanto, revelado como um dos avatares do Mundo Mestre, o Senhor do Mundo, Rex Mundi. É importante que ele seja chamado às vezes de Pai da Humanidade. Não é, portanto, surpresa que Paulo tenha chamado Jesus de sacerdote, depois da Ordem de Melquisedeque, ou ele era conhecido como a Luz do Mundo (João 8:12 e 12:46). Mais explicitamente, no Apocalipse 22:16, Jesus diz: “Eusoua Raiz e a Geração de Davi, a resplandecente Estrela da Manhã'. Essa é outra referência herética na Bíblia que escapou dos censores.