segunda-feira, 23 de setembro de 2024
sábado, 21 de setembro de 2024
As Bruxas das Asturias
A bruxa asturiana é conhecida nas lendas e contos populares por guaxa ou coruxa, o seu nome de baptismo regional.
Trata-se de um ser ambivalente, mesmo pelo nome que a identifica com a coruja, um animal noturno e de rapina, que as lendas rabínicas atribuem à Rainha por excelência da Bruxaria: Lilith. Não a bruxaria nascida pela fertilização cruzada da Magia Cerimonial e da etnografia imaginativa, que a Folclore Society difundia em fins do século dezenove e inícios de vinte, e criada pelo Wicca, mas uma corrente imemorial e antinomianista de bruxaria cujas raízes nasceram da rebelião dos Anjos e de sua união com a Humanidade Primitiva.
Perguntei-me muitas vezes o que poderia significar guaxa e a única explicação plausível é vir de guaco, molhado, referindo-se ao curioso fenômeno dos aquelarres asturianos estarem relacionados com lugares húmidos e cheios de água, mas também no sentido pejorativo de “estar molhada”, isto é, excitada sexualmente.
As assembleias das bruxas asturianas nada deviam aos do Labadour, na zona basca francesa, quanto ao esplendor orgíaco e à folia sacrílega. Lugares como Vega del Palo, o centro máximo dos aquelarres ocidentais asturianos, celebra-se num lugar que, pelo seu toponímico, tem a ver com humidade.
Vega também é traduzível por «lugar inundado». E não há dúvida que a humidade é tão grande que permeia a própria atmosfera, como se a várzea fosse um lago cheio de água invisível, onde respirávamos como peixes pelas guelras da nossa imaginação.
Conhecem-se apenas seis casos de bruxas asturianas julgadas em tribunal de Inquisição e tratadas com mão leve nas suas conclusões penais pelos sereníssimos magistrados, e entre eles fundamentalmente: o de Oria, de Teresa Pietra, da lobeira de Posada de Llanes, de Juana Garcia. Tratam-se de casos, como disse, do foro clínico e psiquiátrico ou mesmo, como no caso da lobeira Ana Maria Garcia, de uma mulher que provocava os valores tradicionais da sociedade e do bom decoro cristão com o seu comportamento sexual e anti-social.
Pelas Asturias abundavam muitos curandeiros e benzedeiros, ‘las rezadoras e los saludadores’, mas estes representantes da medicina popular não são propriamente o modelo arquetípico da coruxa. A bruxa asturiana é um ser do Outro Mundo, símbolo do Mal Metafisico, que por vezes se introduz neste mundo pela hora do crepúsculo e metamorfoseado de animal de rapina. É a alma de um humano, o ‘ba’ dos egípcios, que como uma ave se solta do corpo e viaja pelo mundo intermediário e astral e vagueia pela esfera das nossas visões e dos nosso sonhos lúcidos.
Entendamos, no entanto, esta noção de «mal metafísico» no sentido iniciático como um ordálio que testa, pelo sofrimento e radicalização, o nosso ego padronizado para que possa abrir-se à influencia do sobrenatural. Ninguém pode passar os Portais do Aquém e do Além se não matar a estrutura convencional do seu ego. Não será descabido, por isso, lembrar os extremos sofrimentos porque passou a paradigmática Isobel Gowdie, a famosa bruxa escocesa, na sua iniciação pelo Homem Cinzento para se tornar uma bruxa.
A iniciação tradicional da “Bruxaria Sobrenatural” nada tem a ver com a bruxaria de raiz folclórica e ocultista do Wicca e os seus ritos de passagem, celebrados com a burguesa e acolhedora bonomia dum coven, estando numa longa linhagem de transformação da Alma cujas raízes se encontram no Xamanismo Primitivo.
Ser coruxa é ter este dom de viajar astralmente entre os mundos, pelos interstícios dos universos intermediários, e a sua morada são as cuevas esburacadas das montanhas. Nada há de mais divertido, por isso, do que ver e ouvir relatado que as cuevas são os simulacros hispânicos dos nossos covens.
Como o orifício de entrada para o outro mundo de muitos xamâs euro-asiáticos, as cuevas são pontos e nós de transição astral pelos Iniciados que conhecem as chaves tradicionais e pelos quais se entra nos aquelarres que se desenrolam fora do tempo e do espaço. Na Tradição Luciferina da Bruxaria ela é chamada por «Porta do Inferno». A expressão inferno deve ser aqui tomada no seu sentido esotérico, isto é, etimologicamente traduzido por «estar debaixo», «inferior». Entendamo-nos: «estar debaixo» da nossa personalidade, no nosso inconsciente antropológico diria um psicanalista, ou em termos xamânicos, no Submundo. Não estranha, por isso, que os lobos sejam os acompanhantes preferidos destas mulheres e homens aventureiros do invisível, que como o cão-lobo Cerberu guarda o Tártaro.
Guaxa é uma velha encarquilhada oposta à Xana na mitologia asturiana, cuja esbeltez e beleza emoldurada pelos seus longos e fulvos cabelos atrai os iniciados para as suas cuevas, que se abrem próximas das fontes e dos rios.
O pavor que a guaxa provocava no cidadão comum devia-se menos á sua fealdade do que ao facto de «chupar la sangre de los niños». Trata-se de uma expressão esotérica mal entendida, e que releva para a ironia com que Aleister Crowley fustigava a sociedade púdica e vitoriana do seu tempo, ao afirmar que havia matado centenas de criancinhas. A metáfora «matar crianças» ou «chupar o sangue dos meninos» insinua que ela tinha relações sexuais sem fins procriadores, já que para o clero um ato sexual sem procriação era matar uma criança. Na essência «o sangre de los niños» refere-se à menopausa e ao facto de se pensar que a mulher retinha para si o sangue menstrual furtando-se ao dever de procriar. Este momento era visto com estranheza pela cultura cristã para a qual não menstruar e não poder ter filhos, conservando simultaneamente o ímpeto sexual, pareceria uma coisa diabólica. É que para a sociedade cristã é a sensualidade que é pecado, e não o dever de procriar, já que Deus disse: «crescei e multiplicai-vos».
Mas essa metáfora da bruxaria arcaica refere-se também ao fato de, além de não procriar, reter o sémen dos amantes, e criar os céleres seres demoníacos da sua imaginação, como havia feito Lilith. Na imagem asturiana da guaxa nós encontramos o mesmo simbolismo das sheela-na-gig irlandesas: ambas são feias, velhas e libidinosas.
Para a Alta Magia todo o ato sexual pode ter uma conclusão procriadora, mesmo quando isso não é possível em termos fisiológicos. A simples descarga apaixonada dos elixires corporais pode criar seres supra-sensíveis, quando a mente bem treinada de um ocultista de «mão esquerda» se aplica segundo as leis e fórmulas adequadas. Deve-se reter aqui, que em muitos dos relatos orgíacos dos Sabates se ocultam vários ritos e cifras de magia sexual que fizeram parte da Tradição Luciferina da Bruxaria, aquela que pelo ímpeto iniciatório de Azazel trouxe, pela sua união com as belas filhas dos homens, o conhecimento da magia erótica e dos encantamentos.
Mas ao contrário da guaxa, a xana é uma donzela e fada que habita as cuevas próximas dos rios que correm pelos desfiladeiros e, como a Fada de Lusinham, ela tem também o poder de construir pontes e castelos. Sob este simbolismo está oculto a crença esotérica de que é ela que protege o nosso Circulo Mágico, habitualmente figurado na forma de uma muralha de quatro atalaias, tal como vemos nas mandalas hindus. A própria palavra mandala quer dizer em sânskrito circulo, representado sempre por uma muralha circular de quatro ou oito torres, onde vivem os boddisatwas.
À Xana se atribui, por isso, a construção de muitos dos dolmens do norte hispânico, as arredondadas mamoas do norte português onde vivem as moiras encantadas em serpentes. Ora, precisamente um dos nomes pelos quais a xana é conhecida entre os asturianos é moura ou mora.
Segundo Miguel Arrieta Gallastegui as bruxas asturianas eram conhecidas também por xanas, isto é, seres etéricos e efeminados, da escala das fadas, guardiã dos tesouros e em íntima relação com ‘la cuélebre’, uma serpente-morcego que protege os tesouros da sua sabedoria e desafia os iniciados pela prova do terror.
A serpente e o morcego são as duas zoofanias destas divindades asturianas que parecem confrontar-se entre si como formas simétricas do mesmo Mistério Feminino. Se nos lembrarmos que Lilith era serpente e morcego, poderíamos dizer que xana e guaxa são duas faces do mesmo simbolo feminino mágico.
Não há dúvida que ‘la cuélebre’ nada mais será do que o disfarce da Serpente Samael ou Zamael, aquele que “abriu os olhos” de Eva e que em união com Lilith gerou o nosso avatar Caim. Tudo isto aponta para a necessidade de reler a prática da Bruxaria Asturiana à luz de princípios radicais que não se esgotam nem se explicam à luz do «wicca de supermercado» que infesta a cultura neo-pagã moderna, mas de uma corrente tradicional que permeia toda a bruxaria antiga até à descoberta do Vangello publicado por Leland: de que a sua raiz é fundamentalmente luciferina e contra-iniciática. Isto evidentemente será chocante para a massificante cultura de supermercado em que se tornou o neo-paganismo wiccan, com as suas versões de ocultismo popular.
San Cipriano - Galicia, Asturias y Portugal
En la Guía del Peregrino del Códice Calixtino, Liber Sancti Iacobi, cuando se refiere a Galicia, el autor describe el reino como: “rico en oro y plata [...] sobre todo en tesoros sarracenos”. Hasta hace poco, existía la creencia entre nuestros paisanos de que las cuevas, los castros o las mámoas de los dólmenes se ocultaban las riquezas de los que habían habitado antes en la zona. Y en Galicia se solía suponer que éstos habían sido los gentiles, los romanos o los mouros. Estribaba el problema en conocer en donde estaban escondidos sus tesoros y como desencantarlos; pues se pensaban protegidos por espíritus o demonios.
En Galicia, Asturias y Portugal alcanzo gran éxito el Libro de San Cipriano, o Ciprianillo, por sus listas de tesoros y rituales para retirar los hechizos que protegían estos tesoros. Es lo que se denomina un grimorio: un libro de magia y de ocultismo. El Ciprianillo fue ampliamente conocido a finales del siglo XIX pero circuló en diferentes formas, añadiendo o eliminando fragmentos, y normalmente, manuscrito con anterioridad. Puediéndose rastrear sus orígenes al siglo XVII como iremos viendo.
Parece ser que en origen eran dos libros diferentes. En el siglo XVIII, al ilustrado Padre Feijoo le obsequiaron con dos libritos. Uno con rituales y el otro con una lista de tesoros en Oviedo. El Padre Feijoo recuerda en sus Cartas Eruditas y Curiosas como a principios del mismo siglo, en su infancia en Galicia, se hablaba de libros de tesoros. No existe, sin embargo, constancia de que fuese llamado Libro de San Ciprián o Ciprianillo. Ni existe constancia de si ambas partes, rituales y tesoros, se publicaban juntos o separados; como él se los había encontrado en Oviedo.
El siglo XIX es el momento de mayor proliferación de datos sobre este grimorio. Y su publicación definitiva y divulgación en 1885 se deben al historiador Bernardo Barreiro. Animaba, a este periodista y poeta, la idea de que, publicado y vulgarizado, acabaría con el halo místico que lo rodeaba y con su "historia de deshonra". Convirtiéndolo de escaso en muy fácil de conseguir pretendía que los paisanos perdiesen su interés en él.
En realidad, aunque muchos creían que lectura del Ciprianillo conducía a la locura; otros apreciaban más la posibilidad de encontrar un tesoro; pudiendo llegarse a arruinar por conseguir un ejemplar o seguir sus consejos. Es lo que cuenta el poema de Curros Enríquez: “Xan de Deza”. El pobre Xan lo pierde todo y marcha por el mundo pidiendo limosna y solicitando de las autoridades que prohiban el libro que le causó la ruina.
Es necesario entender, además, que las gentes pensaban que los Ciprianillos que circulaban estaban incompletos o que contenían errores. Barreiro recoge la creencia de que el Ciprianillo más completo, veinte volúmenenes, se encontraba, con acceso restringido y protegido por cadenas, en la Universidad de Santiago (USC). Barreiro hizo más: estudió las actas de la Inquisición en Galicia y llegó a la conclusión de que el Ciprianillo no se conocía antes del siglo XIX; al menos con ese nombre, pues si que hay referencias a libros ocultos en las actas.
La investigación de Peter Missler, que seguimos ampliamente en este post, concluye que en origen serían dos libros. Uno de ellos adaptación del Grand Grimoire francés con sus rituales y grandes extractos traducidos de forma fiel al original. Es el que se suele denominar Ciprianillo Negro. Éste ofrece conjuros contra los enemigos, para deshechizar tesoros, protegerse de los rayos hacer llover entre otras cosas. El otro libro es principalmente una lista de tesoros. Es el Ciprianillo Blanco.
La lista podía variar según el editor y si se publicaban para Galicia, Portugal o Asturias. Messler recoge la investigación del etnólogo asturiano Jesús Suárez López. Este estudioso publicó las gacetas (listas) de los últimos cazadores de tesoros asturianos; a los que entrevistó ya octogenarios y le permitieron reproducir sus "libros manuscritos".
En el mundo cristiano existió un debate sobre la magia. Algunos sostenían que era siempre negativa. Otros, que existía una magia blanca que permitía, con ayuda de dios y los santos, manipular a los demonios para que nos ayudasen a realizar buenas obras. El Ciprianillo aparece ligado a esta segunda tradición. Es en esencia un libro que evoca las oraciones y rituales cristianos para enfrentarse a los demonios. Llega a implicar a sacerdotes para su lectura con el fin de desencantar los tesoros. Leyendo el libro y “desleyéndolo”; es decir: leyéndolo del final para el principio. La participación de los clérigos fue necesaria para que libros como estos llegasen hasta nosotros. En el siglo XIX se publicó un San Cipriano exclusivamente para religiosos. Hay que entender que pocas personas tendrían acceso a las bibliotecas y aun menos los conocimientos para leer los grimorios latinos, griegos o hasta los franceses y comprenderlos, manipularlos y transcribirlos.
No es casual la elección de San Ciprián como el santo autor del libro. Junto con Santa Comba, otra santa de gran devoción en Galicia, se trata de uno de los santos más vinculados a la brujería. De hecho existen otros libros de San Cipriano en la tradición escandinava y francesa. Atribuir un libro de brujería a San Cipriano lo dotaba de mayor autoridad. En la Universidad de Salamanca, la iglesia de San Cebrián era en donde se enseñaban las ciencias ocultas. Cebrián es una variante de Cipriano equivalente al gallego Cibrao o Cibrán. Lo que se conserva de la iglesia románica es unicamente la cueva en donde se decía que el demonio acogía a 7 estudiantes aventajados para enseñarle sus artes. Uno de ellos debía quedar a su servicio como pago. Es la famosa cueva de Salamanca, junto a la muralla.
San Cipriano se llamó así por la devoción de sus padres por la diosa Afrodita. La diosa surgió de la espuma de mar en Chipre. Y de ahí el nombre Cipriano, relativo a Chipre, en honor a la diosa. Él nació en Antioquía, en una familia de magos paganos. Se educó en Caldea y Egipto y volvió como un poderoso mago. Un joven, enamorado de una bella cristiana, la virgen Justina, le pidió que con sus artes le ayudase a enamorarla. Pero fue el mago el que se enamoró de la muchacha. Justina logró la conversión del mago y según algunas versiones se casaron. En todo caso, Cipriano llegará a obispo de Antioquía. Y, durante la persecución de Diocleciano, él y Justina serán torturados y ejecutados. Se dice que Cipriano ya habría escrito el libro, con todos sus conocimientos, antes de su conversión al cristianismo.
Es particularmente interesante la relación de los tesoros con los moros. En Galicia los “mouros” es una forma de referirse a los antepasados, los paganos, los de antes: son seres mitológicos. Pero “mouro” también tiene el significado de “moro” y tendieron a confundirse. Decían que, expulsados de la península por los reyes, los moros no tuvieron tiempo de llevarse sus tesoros y los dejaron escondidos y custodiados por un encanto, un diablo, para poder volver a por ellos más adelante. Muchas leyendas refieren como las listas fueron traídas de África: entregadas por moros que sabían que no volverían jamás y se las daban a los viajeros, prisioneros o a aquellos que cumplían con el servicio militar en la zona.
Messler apunta que en los países árabes existía una tradición análoga. En Mesopotamia y Egipto principalmente, pero también en el Magreb y otras zonas árabes, existían gremios de buscadores de tesoros. Éstos reventaban las tumbas egipcias, romanas o caldeas en busca de sus tesoros. Se organizaban y pagaban impuestos a la autoridad. Sus leyendas, como correlato de las nuestras, revelan que algunos cristianos, expulsados de esos países, les indicaban que “cuando llegues a Egipto” tenían que dirigirse a determinados lugares para encontrar los tesoros. Sostiene Messler que las gacetas gallegas, asturianas y portuguesas son probablemente herederas de estos libros de tesoros árabes.
En 1609 el licenciado y sacerdote Pedro Vázquez de Orxas logró una Real Célula del rey Felipe III para escavar las tumbas de los “gentiles galigrecos”. Esta Real Célula es interesante para nuestro tema por muchas razones:
- Vázquez de Orxas se había criado en las Indias y se indica que “por algunas señales y larga experiencia" que tiene por ese motivo podría encontrar tesoros en “algunas sepulturas de gentiles”.
- La célula se refiere a “gentiles” o “galigrecos”. Es decir a los antepasados. Y permite que se saqueen principalmente dólmenes.
- Existe constancia de que los vecinos, en cuanto supieron que en las “mámoas” podían permanecer ocultos diversos tesoros, comenzaron sus excavaciones furtivas. Fenómeno que llegó a provocar un juicio por el número elevado y la competencia con Orxas; pues éste estaba obligado a pagar impuestos por lo encontrado a la corona. Se cree que mas de 3 mil túmulos fueron saqueados.
- Es el momento de la expulsión de los moriscos de España (1609-1613). Como hemos visto muchas leyendas se referirán a “moros” que ocultaron sus tesoros y no pudiendo volver indican a un cristiano como encontrarlos.
- Es a partir de principios de este siglo XVII que tenemos noticia de las gacetas o libros de tesoros en Galicia.
En definitiva: existe la posibilidad de que la Real Célula de 26 de maio de 1609 haya sido el detonante en Galicia no sólo de esa caza de tesoros que destruyó gran parte de nuestro patrimonio sino de la gestación del Libro de San Cipriano.
El Ciprianillo ha sido objeto de mucha polémica. Y se ha dudado de su autenticidad; de ser anterior al siglo XIX. Lo que hemos visto hasta ahora apunta a lo contrario: si bien su factura final es del siglo XIX cuenta con antecedentes. Pero es interesante conocer la historia del Miliario de San Ciprián para entender como esta fama de broma literaria del siglo XIX se asentó entre algunos estudiosos del tema.
Ya hemos comentado como al historiador de finales del XIX, Bernardo Barreiro, le habían relatado que en la USC se conservaba un ejemplar del Libro de San Cipriano de veinte volúmenes guardado por cadenas. La biblioteca de la Universidad de Santiago no contine esos volúmenes pero sí un folleto de 64 páginas denominado Millonario de San Ciprián. En la capa se indica que data de 1521, su autor es Adolfo Ojarak y fue impreso por C. Pijot en Amsterdam.
El libro rezuma ironía. Por el tipo de imprenta y su tipografía se sabe que fue probablemente editado a mediados del siglo XIX. Por los topónimos a los que hace referencia, probablemente en A Coruña. Amsterdam está muy bien escogida para la sátira; pues en esta ciudad holandesa se publicaban los libros prohibidos en España que, a continuación, se introducían en el país de contrabando. El editor “Pijot” también parece burla. Sobre todo si tenemos en cuenta que el apellido del supuesto autor Ojarak es “karajo” al revés. El propio título “millonario” parece una burla de los buscadores de tesoros.
Entre sus humoradas describe como en el Castro de Alviña (Elviña) se encuentra un tesoro. Para encontrarlo el buscador debe llevar “en la espalda el rótulo siguiente: OTURB”. Es decir: “bruto” al revés. Y se burla de las indicaciones vagas y condiciones absurdas que los cazadores de tesoros encuentran en las gacetas: “en el camino del monte al salir de Barbantiño hacia el este, a trece pasos del ángulo del paredón, dejamos poco enterrados los anillos de don Ramiro”, “en el medio del castillo de Pazos, muy hondo, queda una mina de oro guardado por un ternero vivo. Si lo queréis conseguir no toquéis al ternero”.
En resumen: el Libro de San Cipriano es una colección de fragmentos de textos más antiguos y listas de tesoros. Se constituye como tal a principios del siglo XIX y alcanza su mayor difusión a finales del mismo siglo. Procede de la tradición de los grimorios medievales pero también de las listas de tesoros ocultos. Infelizmente, el libro contribuyó a la destrucción de nuestro patrimonio arquológico. Si bien y siendo justos las listas de tesoros anteceden al propio libro.
El saqueo de los restos arqueológicos en busca de tesoros ha sido, con certeza, una constante histórica. Un momento clave será el siglo XVII; pero los buscadores de tesoros, que se guían por este libro u obras parecidas, llegan hasta el siglo XX. Es interesante notar que, ya en el siglo XII, el Códice Calixtino se refiere al Reino de Galicia como una tierra rica en "tesoros sarracenos".
BIBLIOGRAFÍA:
BARREIRO, Bernardo (1973): Brujos y astrólogos de la Inquisición de Galicia y el famoso libro de San Cipriano, Akal, Madrid, 1ª edición, Coruña 1885.
MISSLER, Peter. “Tradición y parodia en el Millonario de San Ciprián, primer recetario impreso para buscar tesoros en Galicia (Las hondas raíces del Ciprianillo: 1ª Parte)”. Culturas Populares. Revista Electrónica 2 (mayo-agosto 2006). Ver web. ISSN: 1886-5623
MISSLER , Peter. “Las hondas raíces del Ciprianillo. 2ª parte: los grimorios”. Culturas Populares. Revista Electrónica 3 (septiembre-diciembre 2006), 15 pp. Ver pdf. ISSN: 1886-5623
MISSLER, Peter. “Las Hondas Raíces del Ciprianillo. Tercera parte: las ‘Gacetas’”. Culturas Populares. Revista Electrónica 4 (enero-junio 2007). Ver web. ISSN: 1886-5623
VAQUEIRO, Vítor (2003): Guía da Galiza Máxica, Galaxia, Vigo.
El Ciprianillo
Un Ciprianillo
Victor Siderol e os Prodigios do Diabo
Victor Siderol era um pobre lavrador na aldeia de Cort, próxima de Paris. Muito inteligente e astuto, apesar disso, não apreciava muito o trabalho. Preferia passear pelas terras, ver os pássaros, em vez de lavrar e colher. Esquecera-se de que “Comerás o pão com o suor de teu rosto”.
Sua colheita era diminuta. E seus companheiros chamavam-no de tolo e até de louco. Sentindo-se aviltado, saiu para longe de suas terras e começou a sentir grande mal-estar. E sendo impelido por uma força estranha, Siderol gritou: “Aqui fiquem o arado e meus bois e aqui fique a sementeira”. Eu nada quero da terra, que ela fique para os demônios. E um estrondo se fez. Numa coluna de fumaça de enxofre, os tinhosos surgiram. E deram-lhe um livro. Eram Os Prodígios do Diabo, famosos textos da revelação do mal e das terras trevosas.
Nesse livro negro, Siderol aprendeu sete feitiços. Cada um deles é agora relatado. Só os utilize, leitor, quando realmente deles precisar. Ei-los:
1 — Feitiço para proteger a casa contra inimigos ocultos
Coloca-se uma chave de aço numa vasilha com água de arruda e Espada- de-São-Jorge e faz-se a invocação da casa verde: “A casa verde dos gnomos lance sobre ti a paz. Que o que esta chave feche nada de mal abra. Que quem a carregue, pela força da água, do fogo, da terra e do ar, seja protegido de bala, de ferro, de aço de punhal, da inveja e da maldade.”
2 — Segredo da água do mar para eliminar mazelas
Recolhe-se na praia água do mar, numa garrafa branca e bem limpa. A seguir leva-se a garrafa para dentro de casa e começando da porta da cozinha para a porta da frente vai-se jogando a água nos cantos de cada quarto e de cada sala e dizendo: “Assim corno a água apaga o fogo, assim como o mar é sagrado, eu afasto daqui tudo que não seja limpo e bom. Amém.”
2 — Como enfeitiçar uma pessoa com quem se deseja casar
Sete rosas, uma garrafa de mel, uma vela de brancura imaculada. Leva- se tudo a uma encruzilhada, onde as rosas são colocadas. Abre-se o mel e acende-se a vela, dizendo: “Fulano (o nome da pessoa com quem se quer casar), assim como as rosas são rubras, rubro será o seu coração para mim.
Fulano, assim como o mel é doce você sentirá doce a minha voz e o meu amor. Fulano, assim como eu acendo esta luz, ilumino o caminho para você chegar até mim”.
4 — Trevo de quatro folhas, mágica para obter fortuna
Pega-se um trevo de quatro folhas verdinho e lava-se em água de três procedências: do mar, da cachoeira e da chuva. A seguir coloca-se o trevo junto a uma pedreira e diz-se: “Pelas sete pragas, pelas sete maravilhas, que eu de posse deste trevo ache a fortuna.”
Usa-se este trevo na carteira, sem que ninguém saiba, a não ser gente de confiança. Cipriano sabia que as nossas coisas ficam impregnadas de nossas vibrações. Assim, nunca devemos deixar alguém usar, levar para casa ou ficar com nossas coisas de uso, pois é com elas que os feiticeiros agem contra as pessoas. Unhas, cabelos, resto de roupa ou de comida nossas não devemos deixar na mão de estranhos. É por elas que o magnetizador trabalha.
5 — Reza do gato preto, praticada pelos ciganos roms
Os ciganos, qual filhos de Caim, espalharam-se pelo mundo. Diz Cipriano que eles nasceram na Índia e que foram de lá expulsos, vindo para o resto do mundo. Cipriano trabalhava com as mãos em garra como os ciganos e com eles aprendeu o segredo das cartas, da visão e do hipnotismo.
Os ciganos fogem dos gatos, principalmente os pretos. Por quê? Devido à reza do gato preto.
“Gato preto, que tens sete vidas, pela força de tua magia, que eu seja esperto e ladino e que meus inimigos não me ataquem, pois contra eles eu tenho sete vidas e sete defesas: A do alho, a da água, a da luz, a do fogo, a da terra, a da maçã e a da força da chave de Salomão”.
7 — Mágiga das ervas santas — de como cipriano enganou zedeon
Pega-se uma cruzinha de arruda, um maço de ciprestes e um cravo vermelho e se armam esses dois feitiços (o maço e o cravo) no braço da cruz (horizontal). Deve-se usar atrás da porta da casa. Zedeon não queria revelar a Cipriano este segredo, mas como o bruxo disse que daria a ele seu fabuloso talismã negro, ele o revelou. E no final nada recebeu, pois Cipriano o iludiu. Pegam-se sete galhos de erva de Santa Maria Sete pregos velhos. Sete taliscas de carvalho Sete limalhas de ferro Sete agulhas. E enterra-se tudo num mato. Serve para quebrar o encanto de todas as maldades.