segunda-feira, 17 de julho de 2023

Kenneth Grant - O Culto de Ku


A sacerdotisa Lî foi a minha conecção com o curioso Culto de Kû que originou-se no Sul da Ásia Oriental. Seu interesse no presente contexto mora no fato de que o coração do culto possui um sistema análogo ao Vodu Mystére dos 256 venenos, ou kalas, da Deusa.

No Culto os kalas são ostensivamente utilizados para adquirir riquezas e/ou promover vinganças, mas eles também possuem utilizações profundas e mágicas . O hieróglifo Kû comporta muitos significados, o primeiro dos quais é ‘magia negra’, em contraste à variedade branca conhecida como Wû. Como um ideograma Kû tem ao menos a idade de 3.000 anos. Ele denota um princípio mágico gerado por licenciosidade, um princípio que controla os espíritos daqueles tiveram uma morte violenta ou que tenham sido moralmente degenerados através de uma excessiva sensualidade. Ele é em alguns aspectos o equivalente Chinês do Mystére du Zombeeisme.

Seu instrumento mágico é uma bacia, tigela ou vaso d’água, e seu totem zoomórfico são os seguintes: inseto, verme, cobra, sapo, centopéia, etc. Enquanto que o comentário de Tsou Chuan revela: “Vasos e vermes fazem o kû, causado pela licenciosidade. Aqueles que tiveram morte violenta também são kû”.

O conceito básico de Kû é preservado no Yî King onde ele aparece como o décimo oitavo hexagrama. O comentário textual provido por Legge e outros é geralmente obscuro, mas os dois trigramas elementais que formam o hexagrama são aqueles os da terra e do ar, e portanto de acordo com o significado de Kû quando causa uma perda de alma ou sôpro. Isto vai bem de acordo com os antigos textos Chineses onde Kû é identificado com condições atmosféricas malignas tais como aquelas geradas, fisicamente, por regiões subterrâneas sulfurosas e pantanosas, ou psiquicamente, por eflúvios miásmicos de condições cadavéricas. Kû também indica a presença de maus espíritos e as auras insalubres de entidades artificiais criadas por meio de magia negra.

O que é de interesse especial aqui, é o fato de que, conforme alguns textos extremamente antigos, o Kû voa através da noite e aparece “como um meteoro”. Sua luminosidade aumenta e ele projeta uma sombra na forma humana; ele é então conhecido como t’iao-sheng-kû. A sombra pode desenvolver um grau de densidade que capacita-o a copular com mulheres, neste estágio ele é chamado chin-tsan-kû. Ele pode então ir aonde quer que ele deseje e dizem que ele espalha calamidades através da zona-rural. A crença popular encara o Kû como um maligno caçador da escuridão que arrebata as almas dos mortos. Tais crenças deram lugar à consideração de noites calmas oprimidas por pesadas nuvens em que irreconhecíveis objetos eram vistos reluzir e raiar como meteoros sobre o alto dos telhados e voar para o espaço. Tais luzes foram atribuídas ao Kû, e o Kû era capaz de devorar em suas correrias noturnas os cérebros das crianças. Ele também seqüestrava espíritos humanos. Nas famílias de feiticeiros que eram conhecidas como ‘guardiões Kû’, a mulher era sempre seduzida por este espírito.

O meteoro era identificado como o Kû voador ou a serpente Kû, uma referência oblíqua à Corrente Ofídica a qual os iniciados sabiam ter entrado na atmosfera da terá vinda do Exterior. O círculo de feiticeiros que servem a este espírito ‘venenoso’ tornam-se ricos. Esta crença é reminiscente de seu equivalente Vodu na deusa serpente Ayida Oeddo, de quem é dito “minha deusa serpente, quando você vem é como o flash de luz”. O espírito de Ayda Oeddo é “uma grande serpente que aparece apenas quando ela quer beber. Ela então descansa sua cuda sobre a terra e afunda sua cabeça na água. Diz-se que ‘aquele que encontra excrementos desta serpente é rico para sempre’”.

Partindo do fato de que as mulheres e meninas da família (círculo) são ditas serem seduzidas pela serpente, é evidente que a Corrente Ofídica manifesta seus venenos através dos kalas da fêmea. A serpente voa noturnamente “como um meteoro”. Quando ela alcança regiões esparsamente inabitadas ela desce e “come os cérebros de homens”. Tais mortais canibalizados tornam-se zumbis; “cérebros” significa inteligência, que, em troca, é símbolo de princípios vitais.

Um espírito similar ao chin-tsan-kû aparece na forma de um sapo ou rã. Ambas as formas, batráquia e ofídica, são familiares aos feiticeiros como totens do Senhor das Profundezas e do Grande Antigo. É interessante notar aqui que o Kû, como os OVNIs, parecem evitar as áreas populosas.Ele aterrissa ou materializa-se em regiões desertas. Outra similaridade com os relatos de OVNIs é que os ocupantes de tais engenhos algumas vezes fogem com várias partes do corpo humano. Os antigos Chineses foram compelidos a incorporar suas observações em um contexto ‘mágico’ para encontrarem termos para descrever o fenômeno da origem extraterrestre. A insistência sobre o simbolismo dos insetos é altamente significante em vista do som sussurrante credito por ser o arauto da proximidade ou advento do Grande Antigo.

Há ainda outro tipo de Kû. Ele era lendário por excretar ouro e prata e arremessa-los durante a noite, como raios. “Um grande ruído era criado por sua queda”. Também diz-se que OVNIs caem em uma grande rapidez sonora. Além do mais, “ele pode ser uma serpente, um sapo ou qualquer outra espécie de inseto ou réptil”. É mantido por seus adoradores em uma sala secreta, e alimentado pelas mulheres. Entretanto, ele é formado de puro Yin, o qual é uma maneira figurativa de dizer que é ele é um Kû vampiro que vive do sangue menstrual. É dito também que o Kû que devora homens excretará ouro, enquanto que o Kû que devora mulheres excretará prata. A chave para estas palavras deve ser procurada no simbolismo da alquimia Chinesa e interpretada à luz da Gnose Ofídica. Lê-se então: O Kû vampiro (fêmea) que suga a semente masculina (como íncubus), emana o kala criativo ou solar; o Kû vampiro (macho) que absorve o sangue menstrual (como succubus), emana o veneno lunar ou destrutivo. O processo divide-se naturalmente em Magick (sol) e Bruxaria (lua). Mas o kala lunar nem sempre é destrutivo ou corrosivo algo mais do que a corrente solar é invariavelmente criativa. Há gradações infinitas. Os Chineses estavam conscientes de uma sutil perichoresis, ou interpenetração de dimensões, e o Kû era talvez, uma das formas na qual eles simbolizavam-no. Ainda assim em quase todos os casos o processo envolvia um intercâmbio sexual entre mortais e extraterrestres – entre feiticeiros, meteoros ou ‘raios’.

O simbolismo do ‘pires’49 está também implícito no símbolo dual do Kû que inclui a bacia ou vaso, e o verme ou inseto. Os espíritos lunares e solares copulam nas águas contidas no vaso, assim imbuindo o fluído com os kalas vindos do Exterior.

O Yî chien chih pû lista quatro tipos de Kû: Kû serpente, chin-tsan-kû, Kû centopéia e Kû sapo. Eles podem mudar suas formas ou tornarem-se invisíveis. Cada um deles possuem suas consortes co as quais eles copulam a intervalos fixos em um vaso contendo água. Os venenos assim liberados fluem sobre a superfície da água e são coletados com uma agulha. A infusão é conhecida como a respiração ou espírito do Yin e Yang e é então injetado, durante uma visitação noturna nos genitais da vítima. O princípio vital é assim dominado e a vítima torna-se um zumbi, seu fantasma é daqui em diante controlado pelo Kû da mesma forma que o tigre escraviza o ch’ang. Esta explicação foi necessária para explicar os curiosos eventos que ocorreram em um encontro da Loja Nova Ísis quando Lî oficiou em um Rito de Kû interpretado de acordo com as linhas gerais do Nu-Aeon.

O templo da loja estava decorado com seda amarela rajada com malva.55 Lî tomou sua posição sobre um trono esculpido em ébano atapetado com malva. Ela usava um robe de seda negra enfeitado com uma serpente de esmeralda e rodeado com cordas de cetim, também de cor malva. As correias de sua sandália eram da forma de sapos forjadas em jade verde. No lugar do altar usual, estava um grande tanque repleto de um fluido colorido no qual aglomeravam-se muitos aparatos altamente realísticos sugestivos do Grande Antigo. Um grande gongo de bronze era golpeado para marcar os estágios do ritual que sucedeu.

Lî afundou em profundo transe. Seu corpo balançava ritmicamente como um delicado caule de um lótus negro cauterizado contra a brilhante seda amarela. Um sussurro quase inaudível procedeu vindo do capuz através da abertura da qual os olhos de Lî cintilavam vindo de seu sono mágico. Seus dedos estavam excepcionalmente longos e inclinados co brilhante verniz que refletiam raios de irradiações luminosas advindas da lamparina adornada com jóias que pendia, balançando lentamente na escuridão, acima do trono. Ela era uma lanterna de metal forjado de artesanato Árabe, suas janelas alternadas brilhavam com painéis multicoloridos que lançavam pesadas sombras por todo o aposento e dirigia um brilho esmeralda nas profundezas do tanque. Oito figuras encapuzadas rodearam o trono e tocaram a tempo o gongo. Suas reverberações criaram um vácuo que pareceu sugar na sala um curioso lamento, como de insetos dos quais a presença invisível tornava-se inacreditavelmente palpável.

O círculo dos adoradores fechou-se sobre Lî como um mar negro invadindo uma vívida praia amarela. Seu sussurro aumentou de uma baixa e pausada repetição de duas ou três notas a um alto falsete, assemelhando-se ao grito agudo dos guinchos de morcegos. A intensidade hipnótica do gongo, combinada com a concentração crescente do incenso que espiralava de um incensório em forma de dragão, evocou uma atmosfera bizarra, onde o incidente que ocorreria pareceria – aos participantes – como uma vívida realidade.

No clímax do rito Lî desprendeu seu robe e, como uma sombra branca, incrivelmente réptil, escorregou sobre beira do tanque. A medida que ele afundava nas águas, oito tentáculos fálicos alcançaram e prenderam-na.

Eles envolveram-na em um múltiplo maithuna no qual cada um dos tentáculos participava de cada vez. O cabelo de Lî, negro como a noite, formou uma ondulação lentamente arabesca, cada vívido tendão cauterizou-se contra a zona malva com precisão Dalínica.56 O orgasmo óctuplo que finalmente convulsionou-a foi registrado pelos adoradores ao redor do trono. Violentos paroxismos deslocaram os capuzes negros, revelando brilhantes cabeças calvas e os protuberantes olhos dos servos batráquios de Cthullu. Esta transação ocorreu apenas nas profundezas da zona-malva, pois a estática figura de Lî, ainda encapuzada, sentada mergulhada em uma poça como uma piscina de óleo sobre o ponto de escoamento abaixo das pernas do trono.

A medida que a Imagem amontoava intensidade nas mentes dos acólitos, as sombras lançadas pela lanterna assumia sobre o chão uma animação quase tangível e ofídica. Lentamente, as ondulações oleaginosas aproximaramse do tanque e começaram a e escalar suas paredes. A radiância malva resplandecia através delas e fazia de cada uma das formas pululantes uma pesada ampola repleta de líquido, um alongado saco de pus infuso com um veneno peculiar. Quando as sombras alcançaram a parede do tanque elas gotejaram em suas profundezas e fundiram-se com o fluido esverdeado. Ao contato deste novo elemento a forma Kû de Lî emergiu do abraço daquele yab-yum octópode e retornou repentinamente ao trono, descrevendo uma perfeita parábola quando o espírito penetrou a massa flácida sobre o trono e identificando-se uma vez mais com a casca vazia encapuzada. Nesse retorno repentino o Kû revelou-se como um réptil marinho ao meio termo entre uma serpente e um peixe.

A experiência de Lî confirmou algumas, se não todas, das principais descobertas de dois pesquisadores que contribuíram com um artigo sobre Magia Chinesa para o Jornal da Universidade da Pensilvânia, em 1933. A fase mais importante, entretanto, com suas implicações extraterrestres permaneceu inesperada por eles. O resultado do rito conteve alguns elementos que sugeriram que os Chineses possuíam um conhecimento oculto particular que precedeu qualquer evidência científica assim chamada de intervenção extraterrestre nos afazeres da humanidade. A substância sombra que pareceu viva e rastejava dentro do tanque era realmente algum tipo de óleo ectoplásmico secretado dentro do robe de Lî, seu refugo réptil. Isso deixou um depósito sobre o trono e um rastro de limo sobre os muros do tanque que emitiu um ganido lânguido mas alto quando dissolvido em ácido.

Como previamente notado, o Kû foi identificado com o décimo oitavo hexagrama do Yî King. O vaso ou tanque é tipificado pelo trigrama simbolizando o elemento Terra; ele aparece como uma cobertura acima do trigrama do espaço ou ar, assim encerrando, prendendo, ou capturando aquele elemento. Nesta retenção o elemento descarrega sua vitalidade, ou semente, como o verme (corrente ofídica) dentro de um conteúdo. Crowley, que trabalhou por muitos anos com o sistema do Yî King, comparou o hexagrama dezoito com seu reflexo - hexagrama cinqüenta e três – que é composto dos trigramas de Ar-de-Terra. Isto sugere ‘voar’, enquanto que Terra-de-Ar sugere ‘sufocar’. A conclusão posterior sugere sufocação por submersão ou gases pantanosos, e por emanações venenosas advindas de kalas miásmicos tipificados pelos venenos da serpente Kû.


32 Ver The Vision & the Voice (Crowley, 1909), um informe das explorações de Crowley dos espaços ou aethyrs ocultos além do Universo conhecido, primeiro mapeado por Dee and Kelley. O punhal caracterizado ‘acidentalmente’ em outros rituais da Loja Nova Ísis. Ver Parte III, ch. 5, e outros lugares.

33 Compreendendo, assim, ambos brilho e escuridão das metades.

34 Págs. 204 – 206, em particular, e em muitos outros lugares através das trilogias.

35 Em suas cartas ele negou-a; em seus contos ele exultou no conhecimento dela.

36 Ver Magick (edição RKP) p.388, e Liber 777, colunas XV, XVI, XVII e XVIII.

37 Este assunto foi explorado em Outside the Circles of Time e em outras partes; é necessário aqui meramente recordar as implicações.

38 A espécie, não o ‘primeiro’ homem.

39 Ver Números, XXXI, 35; Levítico, XII, 7

0 Veja os escritos de Michael Bertiaux ligados ao Culto da Serpente Negra.

41 A superposição do trigrama da Terra sobre o do Ar sugere sufocação.

42 Representadas pelos trigramas Terra sobre Ar.

43 N.T.: Em inglês = Ophidian Current.

44 N.T.: Em Inglês = Outside.

45 O espírito é o veículo dos venenos ofídicos ou kalas.

46 Ver Cults of the Shadow, p34.

47 Ver as observações de Vallée sobre canibalismo e a morte de gado para a venda, em Messenger of Deception, parte III.

48 Note, nesta conexão, a abelha, que é um zoótipo do Aeon de Maat. N.T.: mantenham em mente que Kenneth Grant e Michael Bertiaux dão crédito à idéia de um Aeon de Maat de Frater Achad (filho mágico de Crowley).

49 N.T.: Pires em inglês é ‘saucer’. Em inglês os discos voadores (OVNIs ou UFOs) são conhecidos como ‘flying saurcers’.

50 Esta é a versão Chinesa da prática do Tantra Hindu da coleta sobre uma folha de bhurpa dos kalas da suvasini.

51 Incubi e succubi.

52 Uma referência à lenda Chinesa concernente ao espírito de uma pessoa devorada por um tigre.

53 N.T.: Não confundir com a Loja Nova Ísis situada no Brasil (i.e. RJ). A Loja referida no texto, é uma Loja da Typhonian O.T.O. da qual Kenneth Grant (o autor) é o O.H.O.. Esta loja chama-se New Isis Lodge.

54 N.T.: Nu-Aeon é análogo à Novo Aeon, posto que a palavra ‘Nu’ é análoga à ‘New’ (Novo) de acordo com as correlações cabalísticas utilizadas por Grant ao longo de todo o livro.

55 N.T.: A palavra malva, aqui, está vinculada à cor, e não à flor.


Kenneth Grant - Magicka da Zona Malva


Pareceria que quase todas as mágickas realizadas com sucesso manifestam-se como um ricochete, um retorno para o grupo de cerimônias, rotina da loja ou procedimentos templários, ou para trabalhos mágickos individuais isolados. Denomino esta peculiaridade de tantrum tangencial. Anômalo ou não, isto não parece ter sido investigado por qualquer escritor ocultista anterior do assunto. É provável que se o mecanismo do fenômeno possa ser surpreendido, a mágicka transformar-se-ia na última da qual seus exponentes clamaram desde seu princípio, i.e., que ela é uma ciência mais do que uma arte. A experiência, entretanto, persuadiu-me que uma surpresa jaz além do reino da medida, dentro do qual embala o tipo de ocorrências ocultas aqui descritas que restarão imprevisíveis. E talvez isto seja favorável!

Entre os anos de 1955-1962, eu estava envolvido com uma Ordem oculta conhecida como Loja Nova Ísis.

Ela funcionava como um ramo da Ordo Templis Orientis (O.T.O.), com sede em Londres. Eu fundei a Loja para canal de transmissão de origens transplutoniana, e durante seus sete anos de atividades ela transformou a O.T.O. em um veículo altamente especializado de energia mágica que Aleister Crowley idealizou para ela desde 1945.

Era minha intenção incluir aqui os rituais da Loja, mas como isto teria necessariamente envolvido tecnicalidades e repetições, e como este livro não pretende ser um manual de rituais mágickos, a intenção foi abandonada. No entanto, certas formas de tantra tangencial lançados por ritos particulares tem sido extraídos dos Registros da Loja e editados, onde necessário, para preservar a continuidade textual.

Acima e além disto, o livro esforça-se para seguir os trabalhos deste fenômeno em dimensões que os cientistas estão apenas começando a explorar. Estas dimensões, as quais podem ser consideradas como existentes além ou entre os dois estados adormecido e desperto, chamo-as de Zona Malva. Ela inclui e exclui ambos os estados simultaneamente. A designação comporta implicações ocultas não necessitando de explanações para aqueles familiarizados com a função de Daäth como o Portal de Ingresso e Egresso para o outro lado da Árvore da Vida.

Para aqueles não tão familiarizados, a Zona Malva pode-se dizer que tem uma analogia mítica no símbolo do Deserto Vermelho dos Árabes, o qual, de acordo com Lovecraft, era o equivalente antigo do Roba el Khaliyeh, uma zona supostamente assombrada pelos maus espíritos e monstros da morte. A Parte I deste livro não necessita de comentário. A Parte II requer algumas explanações porque ela pretende iluminar um texto especifico – o Livro da Lei de Crowley (Liber AL vel Legis)

4 – o qual interpretei aqui com referência, não às suas implicações mundanas, mas à sua proveniência extraterrestre. Como é a primeira vez que isto é tentado, é rogado aos leitores exercitarem sua paciência à medida que o esqueleto é gradualmente desnudado de sua aparência perceptivelmente humana. Isto será recompensado quando ele passar à Parte III, onde os processos ocultos do trabalho na fabricação da Parte II são mais completamente revelados.

Com a publicação deste volume a roda fecha seu ciclo. The Magical Revival contém uma lista na qual os nomes de certas entidades mencionadas no AL vel Legis de Crowley são comparadas com aquelas que são apresentadas no AL Azif (O Necronomicom), o qual posteriormente, de acordo com Lovecraft, era completamente um produto de fantasia. Mais de uma década atrás, em um artigo em Man, Myth & Magic, eu sugiro uma origem comum para ambos estes livros. A idéia foi assimilada por vários editores e compiladores de grimoires e não menos do que quatro versões do Necronomicom foram publicadas desde então! Não é portanto de surpreender que o presente livro toca novamente, e explora mais adiante, as afinidades e identidades que espreitam além das máscaras sombrias destas duas esfinges. Isto também indica algumas das mais pertinentes pesquisas de Ufólogos que sugerem – talvez com mais probabilidade do que eles, até mesmo, podem preocuparem-se em admitir – que as entidades visualizadas por Crowley, Lovecraft, Castañeda, Bertiaux, e outros, realmente existem em algum lugar e alguma época, e que eles ocasionalmente aparecem aqui sobre a terra.

Obs.: é importante mostrar aos leitores brasileiros que a Loja Nova Ísis não é a Loja que se situa na Tijuca no Rio de Janeiro aqui no Brasil, e sim uma Loja de origem inglesa fundada muitas décadas antes da Loja brasileira e encabeçada por Kenneth Grant. A versão brasileira é apenas charlatanismo barato.

2 O corpo destas transmissões formam as bases da Trilogia Typhoniana ( ver bibliografia). Durante o transcurso de obtenção delas, todas as sortes de fenômenos inexplicáveis racionalmente foram experimentados pelos membros da Loja. Algumas destas experiências estão aqui descritas.

3 O assunto tem sido tratado extensivamente em Nightside of Eden.

4 Posteriormente refere-se à ele como AL.


PARTE UM

MÁGICKA DA ZONA MALVA

‘OBJETOS D’ARTE NOIR’


Um grande número de noções errôneas prevalecem hoje sobre talismãs, fetiches, objetos carregados com prana, ojas, vhril, mana – ou apenas evidente poder mágico. Parece necessário esclarecer o fundamento e eu não encontro melhor caminho do que basear minhas observações sobre objetos atualmente preservados no museu mágico da Loja Nova Ísis. Um deles é um fragmento de um envoltório-de-embalsamar Egípcio, pretensamente de maat sacerdotisa Egípcia da 26ª Dinastia. Restos da múmia que havia sido embalsamada ainda aderiam à sua superfície interna. As imagens do Macaco de Thoth e do sagrado chacal de Anúbis são claramente discerníveis. Logo após a virada do presente século o fragmento era utilizado como um foco psíquico por alguém do grupo cindido da Golden Dawn dirigido pela Sóror S.S.D.D.. Seu pequeno livro Magia Egípcia, formou parte da série ‘Collectanea Hermetica’ editada pelo Dr. Wynn Westcott e publicado pela Sociedade Teosófica de Londres em 1896. A Loja Nova Ísis veio a ter posse do fragmento através da generosidade de um colecionador que a apresentou em 1948. Durante a década de cinqüenta ele foi psicometrado por uma talentosa clarividente que recusou comentar sobre ele, se por conhecimento ou ignorância não se sabe. Ao redor deste período uma mulher chamada Mira uniuse a Loja. Ela foi imediatamente atraída pela relíquia embora ela não tivesse mais conhecimento de suas recentes associações do que nós tínhamos de suas antigas. Ela sugeriu, porém, que nós pudéssemos utilizá-lo para formar um ritual designado a explorar sua história mágica.

O Templo da Loja foi inteiramente mobiliado tanto quanto possível de acordo com o período da Dinastia relevante, e a sacerdotisa oficiante havia executado o ritual. Mira era uma sensitiva natural e havia demonstrado diversas vezes seus poderes peculiares.

Vestida em robes apropriados ela estava sentada diante um espelho mágico posto em um ângulo oblíquo contra o envoltório de modo que duas imagens distintas dele apareciam simultaneamente, uma sobre a outra. Alaúdes e flautas emprestaram uma atmosfera calma aos procedimentos e não havia muito tempo antes os olhos de Mira assumiram uma expressão distante e vazia.

É usual, em circunstâncias assim, apenas o clarividente ver imagens no espelho mágico. Nesta ocasião, entretanto, a sacerdotisa oficiante, sete acólitos, e um sacerdote ‘visitante’ de um coven de Gerald Gardner, viram o desvanecimento da imagem refletida e a introdução abrupta de entidades animadas encenando o seguinte drama nas profundidades do espelho:

Um objeto longo era movido com rodas por figuras encapuzadas de preto dentro de um túnel o qual parecia distanciar-se ao infinito. Ele assemelhava-se a um divã móvel, e sobre ele uma mulher – sedutoramente branca – reclinada sobre peles de cheeta. Patas e caudas suspensas identificadas posteriormente, mas havia atributos adicionais que não eram físicos, embora eles parecessem na refração tão substancialmente quanto os que eram. Eles poderiam ser extrusões ectoplásmicas dos karmas passados da mulher; eles giravam em espiral como poeira interestelar crescendo e nevando um pó luminoso sobre os muros do túnel onde eles formavam curiosos depósitos. Quando Mira finalmente retornou a si ela descreveu-os como “um tipo de fungos fantásticos”. Eles cobriam os muros como um musgo verde saturado de vida maligna o qual aglomerou-se sobre toda superfície que se apresentou.

Havia muitos porque o ângulo de visão de Mira era continuamente modificado de maneira que novas superfícies eram expostas à vista. A mulher branca sobre o carrilhão parecia mudar de cor enquanto um tentáculo fungóide saía do muro e explorava seu corpo. Ela se assemelhava a uma ampola de carne transparente inflada continuamente com vapores de verde, escarlate, malva, e finalmente com um fluído tingido de índigo. O objeto de execução restava obscuro. Ninguém podia alcançar o propósito de tal orgasmo colorido.

Aqui uma ligeira divagação parece necessária. É possível que estes kalas tenham sido ejaculados pelas entidades alienígenas e transmitidos a terra via sacerdotisa quem, em seu sono mágico, estava apta a conduzir a semente do Exterior. Tendo desprendido seus venenos, os tentáculos então lançaram um véu impenetrável que obscureceu a visão. Os únicos objetos que emergiram da névoa foram as duas reflexões originais do fragmento do envoltório.

Mira mergulhou em um profundo transe e nós aguardamos por manifestações adicionais. As visões tão distantes haviam nos confundido. Elas sugeriam que ela havia contatado – através de uma antiga sacerdotisa Egípcia – um estrato infinitamente mais remoto do que aquele pertencente à Dinastia na qual ela havia vivido. Era possível apenas que Mira houvesse esbarrado em linhas entrelaçadas. Havia elementos transplutonianos na visão e eles pareciam ter revelado, em um modo literal, regiões a partir das quais Lovecraft havia concebido o Fungi from Yuggoth. Era uma visão de um período mais fechado a vida da sacerdotisa mumificada do que o período o qual se seguiu. O espelho então ficou nublado como se as partículas de poeira tivessem se acumulado sobre o pára-brisa da ‘astronave’ de Mira. Padrões estranhos de cristais de gelo apresentaram-se em um rápido caleidoscópio. Era no princípio reconciliar uma impressão de neve ártica com o cáustico calor e poeira associada com o velho Egito. Sendo interpretado, porém, o fenômeno simboliza de um lado a austera virgindade da sacerdotisa, e, de outro, o terreno tórrido o qual karma ordenou como a cena de seu enterro. O período era identificável como aquele da 13ª Dinastia, sob o reinado da Rainha Sebek-nefer-Ra, uma dos grandes exponentes da Tradição Draconiana em épocas históricas. Para antecipar os eventos: havia-se tornado aparente que a hierarquia do envoltório havia sido também uma Grã-Sacerdotisa no Templo de Set fundado pela Rainha Sebek-nefer-Ra. O templo sobreviveu a devastações e depredações pelos seguidores de Osíris, quem, por séculos haviam buscado destruir todos os traços do ‘odioso’ Culto Typhoniano.

A próxima figura a aparecer no espelho estava também reclinada, e em processo de sofrer tratamento de uma espécie mágica reminiscente de uma visão experimentada por Joan Grant, com a diferença de que a placa colocada sobre os genitais da sacerdotisa possuía o hieróglifo de uma deidade desconhecida para a história, talvez de um daqueles ‘Deuses da Sombra’ que Beatty sugere. Novamente a série de múltiplos orgasmos, mas desta vez uma explanação prontamente sugere-se. A placa torna-se brilhantemente incandescente à medida que cada um dos orgasmos surge carregando seu metal com vívidas cores. O kalas real poderia ser visto como halos de arco-íris lançados como anéis graduando do ultravioleta a um indescritível matiz invisível à visão humana. Mas era registrado pelo espelho e transmitido ao templo da Loja onde causava um avivamento dos olhos e uma curiosa sensação de leveza. Uma acólita disse, após a sessão, que ela havia sido fisicamente levitada algumas polegadas acima do solo.

A cena novamente modificou-se abruptamente e o espelho pareceu ser envolvido por chamas. Uma procissão de figuras encapuzada emergiu de um túnel. Seus robes eram negros mas ornados com sigilos incandescentes que emanavam uma radiância esverdeada. A parte extraordinária disto era que, à medida que a procissão emergia, chovia um vapor esverdeado dentro da Loja; o espelho emanava uma onda de kalas os quais lentamente envolvia Mira até ela assemelhar-se a uma estátua de pedra com líquen. Não havia nenhum motivo, fisicamente falando, para estas sutis radiações, nem foi encontrado qualquer traço deles sobre a mobília da Loja. É inteiramente difícil distinguir tais visões de conteúdos oníricos irracionais e confusos.

Se a cor caísse do espaço, ela cairia como a do espelho mágico no qual Mira e outros membros da loja olhavam. Outro objeto, de nenhuma forma tão antigo quanto o envoltório mas tão fortemente carregado com poder, é o lustre de candeia que era utilizado como um bastão destruidor por Allan Bennett. Ele era também um membro da Golden Dawn e era instrumental em estabelecer o Sangha Budista no Oeste. Ele também instruiu Crowley em muitas técnicas orientais de meditação e mágicka. Olhando-o é um lustre muito ordinário, agora montado sobre uma trípode ornada e dourada. Bennett utilizou-o como uma extensão de seu bastão mágico. Não há necessidade para mim de descrever seu poder nas mãos de Bennett porque Crowley já o fez em seu Confessions. Uma arma até mesmo mais potente é a adaga utilizada por Crowley em sua invocação de Choronzon. Isto ocorreu no deserto próximo a Bou Saad em 1909 onde, com Frater Lampada Tradam (Victor Neuburg), Crowley sofreu uma série de iniciações em aethyrs parcialmente explorados dois séculos antes por Dee e Kelley. Foi-me dito por indivíduos psiquicamente ativos que a adaga tem uma aura decididamente sinistra, e eu não a entregaria para um psicômetra, uma pessoa vendada ou qualquer outra pessoa.

Mas o mais misterioso objeto mágico na coleção é indubitavelmente um retrato original de LAM, uma entidade extraterrestre, o qual eu selecionei – a convite de Crowley – de um de seus portfólios. O desenho de alguma forma projeta-se adiante e pode-se dizer sem exageros que Lam escolheu-me mais do que ao contrário. O retrato estava sendo mostrado em Greenwich Village, Nova York, por volta de 1919 em uma exibição chamada “Almas Mortas”. Esta era uma designação certa porque Lam saiu diretamente do Necronomicon, o tão falado. Apenas olhar nos olhos desta entidade é um convite para um potente contato. Há em seguida uma imediata sensação de lucidez, leveza, e então uma sensação de queda. Uma das reações iniciais é resistir a ser sugado para dentro do vórtice de um funil astral infernal. Todas as quais confirmam as opiniões daqueles que consideram Lam algo, ou alguém, não desta terra.

Falar de extraterrestres inevitavelmente evoca, se não o Grande Antigo, então Seus emissários ou servos. Eles algumas vezes mascaram-se, como Machen’s Jervase Craddock, em formas humanas deficientes. Foi de uma tal procedência que eu adquiri um jogo de ‘manequins’ mágicos os quais inegavelmente facilitavam o contato com O Grande Antigo.

As relíquias descritas acima são artefatos mágicos de poder oculto. Alguns deles, como o retrato de Lam, são mais do que isto por eles serem também Portais para outras dimensões, outros mundos ou aethyrs. Algumas vezes são formados cultos ao redor deles como Culto de Lam com o qual os leitores desta trilogia estão familiarizados. Poderosas máquinas podem manifestar-se em todos os objetos aparentemente inocentes. Em um moderno grimoire o qual faz associações com números da sorte, jogo, sistemas esotéricos de corrida de cavalos, e o mais profundo aspecto da feitiçaria, o autor faz referências às caixas de madeira pintadas as quais ele chama de Atua. Ornados sobre elas em cores apropriadas estão os sigilos e selos dos loa ou espíritos aos quais eles foram consagrados. Eu tenho em minha posse muitos de tais domicílios de espíritos. O grimoire diz que “nos Templos de Lucky Hoodoo e nas casas daqueles mais favorecidos pelos espíritos são encontradas as caixas de espíritos pintadas”.

Uma das minhas foi pintada por Zos vel Thanatos16 de quem o toque mágico era o bastante para consagrar uma caixa à quase qualquer espírito que você pudesse nomear. As outras foram embelezadas por Soror Ilyarun de quem os desenhos mágicos e pinturas são tão bem conhecidas quanto de Spare. O incidente aqui relatado concerne a uma das caixas pintadas por Ilyarun.

No período em questão a caixa continha quatro pequenas figuras de madeira dedicadas a um serviçal elemental do Grande Antigo – uma ao Fogo, uma a Água, as outras duas ao Ar e a Terra respectivamente. Os manequins eram nutridos periodicamente pela visão sagrada mencionada no grimoire, e sendo regularmente recarregadas elas estavam mui altamente carregadas com mana mágico, e excessivamente ativas no nível astral. Elas dormiam em seus atua como o morto mumificado dormia em seu silencioso sarcófago embelezado ou não com hieróglifos apropriados.

Um dos manequins havia sido dedicado ao Duplo Espaço18 no Culto de Hastur, Senhor do Ar, ou, mais propriamente, Senhor dos Ventos Espaciais. O domicílio de Hastur é o profundo Espaço Exterior o qual é representado na esfera mundana pelo elemento ar, e, quando próximo a terra, como um vento rápido. Uma noite, durante o terceiro ano de atividades esotéricas da Loja Nova Ísis, este manequim – o qual havia desaparecido por muitas semanas – reapareceu de uma maneira inesperada.

Os membros da Loja estavam performando um ritual de Lua Cheia o qual envolvia a utilização de chandrakalas. Eles haviam obtido sucesso na evocação e estavam manifestando ao ritmo e vibração de vários instrumentos de madeira de sopro, principalmente flautas. A Deusa nesta ocasião era representada por uma Grã Sacerdotisa Asiática chamada Lî que era quase que totalmente ignorante do Inglês embora seu corpo correspondesse perfeitamente à linguagem das flautas. Ela era lânguida, tinha olhos-de-lótus, e de cor de marfim cintilado de âmbar.

Uma de suas duas assistentes no ritual era Clanda que o nome será familiar aos leitores que se lembram do episódio da ‘Water-Witch’. Sua afinidade oculta com a água fez Clanda uma escolha desafortunada, à medida que a noite avançava isto seria provado. Ela perdeu a consciência no clímax do ritual, caiu contra a plataforma de metal entalhado sobre a qual Lî estava sentada, e bateu sua cabeça contra os alto-relevos, monstros fantásticos das profundezas mais apropriados ao Culto de Cthullu do que de Hastur. Porém, estas considerações não fazem parte do assunto e não tem referência sobre os eventos os quais são puramente procedimentos de rotina – até Clanda golpear a plataforma. Uma gota de sangue de seu lóbulo da orelha – lacerado pela cauda saliente do monstro marinho – conduziu ao encontro de meu manequim perdido o qual havia evidentemente caído de sua atua e rolado para trás da plataforma. Eu estava a ponto de recuperá-lo quando Lî retornou de um estado de imobilidade de quase-desmaio. Ela implorou-me para não recolocar o manequim em sua caixa. Ela não sabia Inglês, como eu disse, mas seus gestos eram repletos de imperiosos comandos. Eu instintivamente obedeci.

Por esse momento a lua havia perdido sua plenitude e o objeto do ritual, que requereu o enfrascamento de kalas, havia sido cumprido. Lî aproximou-se do altar e removeu a caixa tomando cuidado para não abrir a tampa. Eu não pude entender a razão para suas manobras mas consenti a elas porque ela havia estado, até recentemente, em um poderoso humor oracular e exibido completa e perfeitamente a fase final do rito lunar. Mas não até Clanda ‘voltar’ que eu soube que algo estava seriamente errado, e que uma inegável força poderosa estava crescendo no templo da loja.

Após muitos dos celebrantes terem deixado as premissas, e eu ainda podia ouvir, fracamente, algumas trocas de despedidas subindo do térreo dois andares abaixo, preparei-me para uma possível manifestação de ‘nervos’ pós-ritual a qual eu tinha esperado acontecer através das sacerdotisas exaustas. O que realmente ocorreu envolveu um ataque furioso tão concentrado em sua fúria que, se houvesse corrido seu curso desenfreado, poderia indubitavelmente ter derrubado o edifício e, possivelmente, a vizinhança inteira por milhas ao redor. Ele partiu daquele mais inócuo objeto – a caixa pintada.

Cinco de nós, ao todo, testemunharam a manifestação resultante. A caixa tombou neglicenciada sobre a plataforma onde Lî havia colocado-a. Ela havia sucumbido ao sono após seus esforços, e alguém que havia retornado desadvertido do andar de baixo totalmente despropositadamente deslizou a tampa para trás – e todo o inferno correu solto.

Primeiro uma leve brisa penetrou no templo. Ela subiu para uma corrente de ar forte e espalhou alguns documentos esparramados sobre uma mesa no canto da sala. Então sem qualquer aviso surgiu um vento incrivelmente forte e balançou as cortinas pesadas em seus anéis de metal e logo alcançou o impulso de um furacão. Tornou-se virtualmente impossível de respirar, e o pânico aterrador fundiu-se com a violente corrente de ar. A lanterna central, suspensa por uma pesada corrente sobre o altar ameaçou chocar-se contra o teto enquanto era levantada na tempestade. Olhando por uma minúscula janela no alto da parede norte eu notei que nem uma única folha balançava no jardim exterior; a noite estava totalmente calma. Na parte de dentro, o vento batia sugando para dentro de seu vórtice todos os objetos que se encontravam em seu caminho. Clanda, histérica, foi literalmente soprada para a plataforma. Ela teve a presença mental, entretanto, para agarrar a caixa, retornar aos seus confins o manequim mágico, e forçar a tampa de volta. Somente a vontade demoníaca da mulher, protegida sem dúvida pelas energias evocadas pelo rito, habilitou-a para fechar a caixa. Imediatamente – quietude perfeita, e um silêncio que parecia terrivelmente artificial.

Julgando a partir do tom geral das cartas que eu recebi de ocultistas do mundo inteiro, eu imagino que eu devo ser informado que isto é tudo facilmente explicável. Desta forma eu quero advertir o imprudente (se houver algum!) que há uma seqüela para este incidente. Clanda, como foi registrado em outro lugar, morreu no mar, reivindicada talvez pelo Senhor das Profundezas. Alguns meses após o episódio aqui descrito, Lî caiu do ar quando um avião carregando ela chocou-se sobre a Ásia Central contra montanhas. Ela também foi reinvindicada pelos servos elementais?

Mas houve o seguinte incidente que fez com que os membros começassem a referirem-se a tais episódios com os ‘Anais da Loja Negra’. Este incidente também originou-se como um efeito colateral ou tantrum tangencial da rotina ritual.

Os membros da Loja Nova Ísis encontravam-se toda sétima Sexta-feira, e parte do preâmbulo consistia na troca de experiências nos vários campos da cultura mágica, mística e espiritual. Nós tinhamos como uma convidado de honra nesta esta ocasião particular um indivíduo realmente notável conhecido somente por alguns no mais reservado dos círculos ocultos. Ele era uma daquelas raras almas que havia devotado a maior parte de sua vida ao estudo da alquimia. Este homem havia me apresentado alguns anos antes a um Tantrika do Sul da Índia profundamente versado na arte do Srividya.

Um dos candidatos do Círculo Kaula de Aquimistas era a ‘Water-Witch’, Clanda. Seu glamour havia alcançado até mesmo ele, a uma tal extensão que seu juramento original de bramacharya, tomado na presença de seu guru muitos anos antes, pareceu estar em perigo. Ele pediu-me para agir como um ‘pára-raio’, para agüentar o ímpeto de possíveis curto-circuitos.

O edifício da Loja havia sido equipado com uma extensa rede de apartamentos que formavam a base de uma loja comercial deceptivelmente pequena em uma das ruas laterais à rua principal do Fim Oeste. O Alquimista, que era também o proprietário da loja comercial, era um iniciado do Gômaya Diksha que o havia feito elegível para sua iminente iniciação no círculo interno do Kaula Chakra, um avançado grau envolvendo a prática da lambika yoga.

Clanda, com sua personalidade hiper-sensual havia – através da participação em vários trabalhos mágicos – uma idéia bastante astuta das vantagens ocultas inerentes à tal iniciação. É desnecessário extender-se sobre este aspecto do episódio além de mencionar o fato de que o Alquimista sem dúvida representou uma garantia em uma de suas tramas.

A Loja foi preparada para a performance de um tipo de ritual de licantropia e necromancia associado com dois túneis específicos de Set. Imagine, portanto, uma miniatura em versão ainda mais complexa das cavernas de Dashwood com – em lieu de várias grutas preparadas para carícias sensuais – uma série celas em forma de concha, como vórtices petrificados, criados com o único propósito de atrair em suas convoluções as energias ocultas de Yuggoth, e de focalizá-las através dos kalas da Nova-Ísis, representados por um prisma gigante de forma vésica. A decoração foi misteriosa ao extremo, a iluminação astutamente arranjada para dar um jogo sinistro e mutável de luz e sombra combinada com sons sugestivos de água corrente e ventos astrais silvantes; uma atmosfera completamente misteriosa criada por alguns toques inteligentes de suprema arte. O lugar foi a epítome do crepúsculo e daqueles estados equívocos de consciência peculiar para o lobisomem, o vampiro e o espectro, de quem a sutil presença foi sugerida por vários dispositivos engenhosos. Nesta ilusória atmosfera Clanda parecia com um ser escamoso nadando em um mar árido de substâncias etéricas sanguinolentas pululando com as correntes insalubres de qliphot.

O Alquimista, reclinado sobre uma laje de pedra adornada com emblemas do Grande Antigo tinha assumido a ‘postura da morte’ e aguardou o beijo da Deusa, quem ele havia evocado pelo modo peculiar de sua ‘morte’; ele havia peticionado-A a aparecer para ele e conferir sobre ele em seu sono mágico os supremos siddhis.

Assim prosseguiu o ritual, e os vários participantes foram adequadamente preenchendo seus respectivos papéis. Mas as coisas não procederam tão calmamente. Clanda havia inconscientemente abrigado em sua aura os restos do contato com questionáveis entidades engendradas por sua associação passada com um Culto de Bruxas. A conecção havia sido novamente reativada e isto causou um súbito e violento conflito em sua psiquê. Eu senti o choque disto mas estava totalmente despreparado para a erupção de energia negra que acompanhou o seu despertar.

Emergindo do transe no qual o ritual havia lançado ela, Clanda gritou, correndo em desvario pela Loja e agarrou um punhal que estava em uma parte do aposento em desuso então. Sua ação pode ter meramente resultado em uma disrupção temporária do ritual, mas a arma em questão aconteceu de ser a arma mágica utilizada por Aleister Crowley em sua invocação, anos antes, de Choronzon, quem Crowley uma vez descreveu como “o primeiro e mais mortal de todos os poderes do mal”. Desperto para o perigo da situação eu tentei agarrar a arma, percebendo enquanto eu assim procedia, que o Alquimista estava apertando o peito e contorcendo-se na laje como se ele sofresse a agonia de uma excruciante imolação. Clanda tropeçou e caiu a medida que o punhal – agora desembainhado – caiu sobre a laje. O Alquimista contou-me posteriormente que ele havia naquele momento visto uma forma encapuzada pairando sobre ele, próximo de injetar em seu coração o veneno que fluía de seus olhos em um jato de malva.

Esta foi minha primeira introdução às Necromancias em Malva que ocorreram persistentemente através da história da Loja Nova Ísis. Malva é uma das cores descritas para a ‘falsa’ sephira, Daath. Sua emanação como um kala, em um rito tendo sobretons de necrofilia, foi a prova significante para capacitar-me, em um período posterior, para penetrar a Gnose Lovecraftiana com referência especial aos Mistérios do “abominável Platô de Lêng”. Isto também deu-me insights na função mágica dos três maiores fantasmas noturnos: o lobisomem, que transforma os kalas do dia nos da noite; o vampiro, que bebe os kalas; e o espectro, que come a substância etérica destes kalas em sua forma de tornar-se carne, desta forma inibindo a completa revificação na luz do dia. Isto sugere o triunfo dos sonhos, ou irracionalidade, sobre a ‘razão’ ou estado de consciência desperta. Houve muitos anos, entretanto, antes que eu fosse capaz de desenvolver a partir destes insights a fórmula sistematizada de controle-onírico esquematizada em Nightside of Eden e sub-adicionar ao sistema de graus na O.T.O.. Pois escondida por detrás destas imagens demoníacas jaz uma suprema zona de poder de energia mágica. Crowley indicou-a em seus escritos; Lovecraft escondeu-se dela, atemorizado.

Como o morcego – o totem supremo desta corrente noturna – o sistema parece de cabeça para baixo para aqueles que não estão familiarizados com os modos da reversão protoplasmática peculiar a esses Mistérios, pois o Mago da Necromancia Malva é, em sua forma, como o sábio Hindu; o que é dia para o homem comum, é noite para o sábio, e vice-versa. É importante noter que na gama completa de kalas (ou cores) listados no Liber 777, malva em vários tons aparece apenas em conecção com os caminhos 17 e 28 da Árvore Sephirótica. O simbolismo destes caminhos esta por sua vez conectado com a letra Zain e com Aquário, respectivamente. Estes são glifos do aeon ou era atual (Aquárius), e do Aeon Sem Palavra ao qual referências já foram feitas. Note também 17 como 71 ao contrário, 71 sendo o número de LAM, o Caminho Silencioso ou Sem Palavra. 17 e 28 juntos perfazem 45, o número de ADM, ‘Homem’,38 de quem a perfeita manifestação é esperada ocorrer entre estes dois aeons. Mas há um significado anterior de ADM que significa o ‘homem vermelho’ e que aplica-se à fêmea, sendo idêntica com a corrente lunar manifestando-se como o kalas menstrual.

5 Uma reprodução dela aparece na p.54 de Aleister Crowley and the Hidden God.

6 Florence Farr, uma amiga de Bernard Shaw. Seu moto mágico na Golden Dawn era Sapientia Sapienti Dono Data.

7 O fato do livro de Lovecraft deste nome ser uma coleção de poemas sem referências diretas relacionadas as visões de Mira não é argumento contra uma sugestão assim. Poemas, como visões e antigos hieroglifos, tem sido interpretados por recurso para seu plano de origem, não em termos de sua final “terrificação”. Interpretadas nesta luz, as visões de Mira mostram sinais inequívocos de terem saltado de um período vastamente anterior para a vida da sacerdotisa Egípcia.

8 Ver Gate of Dreams, por Charles Beatty, Londres, 1972. A passagem relevante é citada em Cults of the Shadow, p.135.

9 O bastão é reproduzido em Outside the Circles of Time, gravura 12.

10 Capítulo 21.

11 Outside the Circles of Time, gravura 13.

12 Ele foi publicado primeiramente por Crowley em The blue Equinox (1919). Mais recentemente ele aparece no The Magical Revival e Outside the Circle of Times. Até mais recentemente, Robert Anton Wilson publicou o retrato de Lam em seu Masks of the Illuminati (1981). Ele aceitou como extraterrestre a proveniência de Lam mas também declarou que Crowley invocou a entidade pelas Chaves Enochianas. Não há, porém, concretização deste chamado em qualquer manuscritos ou diários sobreviventes de Crowley.

13 Em The Novel of the Black Seal.

14 Ver, em particular, Cults of the Shadow, cap.10, Outside the Circles of Time, cap.12, e a Revista Mezla, nº’s 12, 13.

15 Lucky Hoodoo – Uma curta viagem nos poderes secretos do vodu, por Dr. Bacalou Baca (Michael Bertiaux), publicado em Chicago por Absolute Science Institute, 1977.

16 O moto mágico de Austin Osman Spare.

17 Por volta de 1958.

18 Toda idéia projetada carregada magicamente pela mente na dimensão terrestre (estado acordado) tem um duplo no espaço que é refletido em infinitas dimensões.

19 Essência Lunar ou ‘medicinas’.

20 Ver Man, Myth & Magic, Nº65; Imagens &Oracles of Austin Osman Spare, por Kenneth Grant; Encyclopedia of Witchcraft & Demonology, por Hans Holzer; The Magical World of Aleister Crowley, por Francis King; The Runes, por Michael Howard.

21 Ver o artigo ‘Water – Witch’, Man, Myth & Magic, Nº65.

22 A ciência dos kalas; o equivalente oriental da alquimia.

23 Neste contexto, real abstinência sexual, mental e física.

24 Uma iniciação altamente secreta nos mistérios dos kalas lunares da metade escura. Ela possui certas afinidades com o XIº O.T.O. como

compreendido na Tradição Typhoniana.

25 Uma forma de yoga que envolve a imbibição de kalas.

26 Veja Nightside of Eden, pp204 – 206.

27 Aquela de Zos vel Thanatos (A.O.Spare), quem criou o fundo e outros equipamentos ritualísticos da Loja Nova-Ísis.

28 Ver Images & Oracles of Austin Osman Spare, and The Magical Revival, ch. 12.

29 Ele havia previamente performado um rito necrofilico e indentificado-se com o cadáver, interpretando este ato como moralmente compatível com seu voto de castidade!

30 Poderes Mágicos.

31 Este havia sido estabelecido por Gerald Gardner, um antigo membro da O.T.O.


segunda-feira, 19 de junho de 2023

Hino a Hermes

Que o Pai de Todos e Três Vezes Grande Hermes guie!

Hermes, alado veloz, eu invoco Mistagogo luminoso do manto estrelado,

Psicopompos da serpente-vara,

Deus dos caminhos que levam além,

A raposa astuta e a cobra sutil,

De sua participação numina pura O macaco divino e o sábio íbis,

Seu verdadeiro espectro compreende,

Mensageiro entre Céu e Inferno Logios! Enuncie o feitiço secreto,

Intérprete com sua vara dourada,

Deus Ithyphallic Cyllenian,

Aos jovens galos chore, as flautas, doce respiração, Guie-me pelos Portões da Morte,

Stilbon, brilhando em noite profunda,

Sobre este Templo da Luz,

Imortal, mocidade hierofãntica,

Revela a palavra perfeita da verdade,

E no Selo de Azoth assinado,

Desvenda o Candil Sagrado da Mente Tehutio-Mercúrio, Deus da Grande Ilusão,

Chefe de Todos os Magos, Malabarista das esferas, Guardião da Chave de Prata dos Ventos,

Mestre da Gnose da Magia,

Eu o conheço, Hermes, e tu conheces a mim,

Eu sou Tu e Tu és eu 


sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Misterio Do Baphomet


Já se escreveu tanto sobre os Cavaleiros Templários recentemente que é difícil separar fato de fantasia. Historicamente, o que se sabe sobre essa ordem fechada de guerreiros monges é que eles surgiram da obscuridade para se tomar uma organização poderosa e rica, temida pelo Vaticano como um rival em potencial. O rei Phillipe le Bel, ou Felipe, o Belo, da França, viu a queda e destruição deles como meio de preencher os cofres esvaziados de tesouros com a riqueza deles. Em 1307, a Ordem foi suprimida por supostamente praticar a adoração ao demonio e realizar pactos secretos com seus inimigos muçulmanos. Na tradição oculta, e antes da última leva de livros sensacionalistas sobre eles, os Templários já eram vistos como guardiões do Santo Graal, devotos da Madonna Negra e financiadores da construção de catedrais góticas e fundadores míticos da Maçonaria teórica.

Embora o motivo público dado para a fundação da Ordem em 1118 tenha sido proteger os peregrinos em rota para a Terra Sagrada, os nove cavaleiros que a fundaram pareciam ter uma agenda secreta desde o princípio. Primeiro, era impossível para uma pequena companhia de cavaleiros guardar as rotas dos peregrinos sozinhos. Segundo, o nome completo do grupo era Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão em Jerusalém. De fato, o quartel-general era em terras doadas pelo rei Baldwin de Jerusalém, no local onde existia o templo de Salomão. Nos primeiros anos da sua existência, os cavaleiros Templarios estavam menos interessados em proteger peregrinos que escavar as ruínas do templo de onde tiraram seu nome. Os túneis que eles cavaram foram cavados novamente no século XIX pelo tenente Charles Warren dos Engenheiros Reais. Warren foi um maçom eminente e mais tarde se tomou um famoso comissário da Polícia Metropolitana de Londres responsável pelas investigações dos assassinatos de Jack, o Estripador.

Houve considerável especulação sobre o que os Templários estavam procurando nas minas do templo e se chegaram a encontrar algo. Como sempre, a resposta popular diz se tratar de um tesouro escondido, tal como os recipientes de ouro e prata usados no templo original. Estes foram supostamente enterrados em um cofre subterrâneo, quando os Babilônios saquearam a cidade no século VI a.c. Outra sugestão, ainda mais fantástica, é que era a Arca da Aliança, embora a lenda diga que ela já tivesse sido levada para a Etiópia. Uma teoria alternativa é que os Templários estavam procurando pelos Pilares de Tubalcaim e o conhecimento antigo que eles preservaram desde épocas anteriores ao dilúvio.

Algum suporte para essa última teoria foi dado por Sua Alteza Real Príncipe Michael da Albânia, o atual chefe da casa real Stewart. Ele alega que as escavações dos Templários revelaram livros salvos do incêndio de Alexandria antes que ela tivesse sido consumida pelo fogo, antigos escritos dos Essênios, volumes escritos por filósofos gregos e árabes cujos trabalhos foram condenados pela Igreja e incontáveis trabalhos sobre numerologia, geometria, arquitetura e música, bem como manuscritos sobre metais e ligas (1998:61). O príncipe Michael alegou também que os cavaleiros encontraram tesouros materiais, e isso forneceu a base para a imensa riqueza deles, o que os transformou em banqueiros internacionais do Cristianismo.

Outros escritores também alegaram que os cavaleiros desenterraram um esquife de ferro que continha tesouros de valor inestimável e supremo entre todos os processos verdadeiros do Grande Trabalho na Alquimia, o segredo da transmutação de metais, como contado para Salomão pelo mestre Hiram Abiff. (Waite, 1991:10) Mais tarde, foi alegado que essa descoberta levou à aclamada riqueza dos Templários, já que uma parte déla foi adquirida por meio de operações de Alquimia. Traidores infiltrados na Ordem aparentemente revelaram essas operações ao rei Felipe. O verdadeiro motivo para a perseguição da Ordem, dizem essas fontes, foi a ganância do rei falido que queria colocar suas mãos nos seus segredos alquímicos. Quando um pequeno bando de Templários franceses supostamente viajou de barco para a Escócia, para escapar da perseguição, esses segredos foram passados para os Cavaleiros Maçônicos de Santo André e o Cardo, que eram também conhecidos como príncipes da Rosa- Cruz ou rosa-cruzes.

Gaeton Delaforge, membro de vários grupos ocultos modernos que usam o nome Templário, disse: “A verdadeira tarefa dos nove cavaleiros era conduzir pesquisas na área [das velhas fundações do templo] para obter certas relíquias e manuscritos, que contêm a essência das tradições secretas do Judaísmo e do antigo Egito” (sublinhado por nós). Delaforge alega também que os Templários realizaram mesmo encontros secretos com grupos islâmicos, como os Assassinos e os Sufis. Eles também conseguiram acesso aos ensinamentos cabalísticos. (1987:90)

Outra possível fonte de tesouros escondidos no templo de Salomão é dada em uma das lendas sobre Moisés. A Bíblia diz que Moisés foi ensinado na sabedoria dos egípcios (Atos 7:22). Como um garoto hebreu criado como príncipe egípcio, é provável que Moisés tenha sido apresentado aos Mistérios egípcios. Antes de morrer, Moisés supostamente passou a Josué todos os seus escritos secretos. Especula-se que estes continham toda a sabedoria dos egípcios e talvez até a tradição mais antiga. Foi pedido a Josué que ungisse esses rolos de papel em óleo de cedro para preservá-los e então os selasse em cerâmica herméticamente fechada. Estas deveríam então ser enterradas sob a pedra conhecida como a Mais Sagrada Dentre Todas, onde atualmente se localiza Jerusalém. Essa pedra foi mais tarde o local do templo de Salomão. É, portanto, possível que os Templários conhecessem a lenda, e essa era uma das coisas que eles procuravam nos túneis.

Na lista de acusações feitas contra os Templários pelo rei Felipe e o papa, os Templários foram acusados de renunciar ao Cristianismo, cuspirem na cruz e adorarem um ídolo chamado Baphomet. A renúncia do Cristianismo (mais provavelmente do Igrejismo) e a profanação do instrumento usado para torturar e matar Cristo também foram relatadas em alegações contra os Gnósticos. Elas podem ser acusações inventadas pela Igreja para sujar o nome dos seus rivais, mas também pode fazer sentido no contexto dos sistemas de crenças que eram anticristãos, ainda que não anti-Cristo.

Baphomet era descrito de formas diversas, sugerindo que ele tivesse formas diferentes. Foi dito que ele possuía uma cabeça, como a de Jano, de um velho com dois rostos e uma longa barba branca, possivelmente representando o Dia Mais Antigo, ou o Absoluto, um crânio humano que expressava profecias oraculares e guiava o destino da Ordem, ou um grande gato preto (ísis, Bast ou Sekhmet?). Uma imagem entalhada encontrada em um priorado de Sião mostra uma figura tipicamente demoníaca competindo com um rosto felino, com uma barba, asas de morcego, seios femininos e chifres. Escritores modernos identificaram positivamente Baphomet em Sophia, o Santo Sudário e até com as cabeças de João Batista e Jesus! Este último, acredita-se que está sepultado na Capela Rosslyn, juntamente com a Arca da Aliança e o Santo Graal.

No século XIX, o ocultista e mago francês Alphone Constant, um padre católico aposentado e proto-comunista, mais conhecido pelo seu pseudônimo judaico Eliphas Levi, publicou sua famosa ilustração de Baphomet. Ele alega que era uma figura panteísta simbolizando o Absoluto. Levi também acreditava que a fonte da riqueza dos Templários tinha sido o conhecimento de Alquimia obtido no Oriente Médio. As aplicações físicas das operações alquímicas foram refletidas em um nível mais intemo pela busca dos Templários por conhecimento esotérico e iluminação espiritual.

A famosa ilustração de Baphomet por Levi parece ser baseada naquela encontrada na comenda templária mencionada anteriormente. Ele é representado com uma cabeça de bode e sentado com as pernas cruzadas em um cubo. Isso representa o altar da Terra, na qual toda a matéria é sacrificada para se tomar espírito. Também podería ser a pedra bruta da tradição maçônica, que é moldada pelo Mestre Artesão. Entre os chifres da figura, resplandece uma tocha simbolizando a iluminação. Em sua testa brilha o pentagrama ou Estrela da Manhã. Ele possui asas para mostrar sua natureza angelical, ainda que possua um torso humano. Sua cabeça de bode e as pernas nos lembram das origens animais da humanidade.

A versão de Baphomet por Levi é andrógina e bissexual para significar que essa é a natureza dos anjos e também que a divindade transcende gênero - homens e mulheres são espiritualmente iguais. Por causa da afetação do século XIX, Levi não mostrou o falo ereto da figura simbolizando o poder solar. Pelo contrário, estava oculto por um caduceu ou varinha de Hermes. A natureza andrógina de Baphomet é enfatizada pelo fato de um dos seus braços ser torneado e feminino, enquanto o outro é musculoso e masculino. Um aponta para uma lua crescente (Diana) e o outro, para uma lua minguante (Lilith). Esse também era o gesto hermético que significava “como é acima, assim é abaixo” ou que a humanidade é um microcosmo do macrocosmo (Universo).

O que Baphomet significava para os Templários? Nós talvez nunca saibamos, mas podemos tentar adivinhar, baseados no simbolismo de Levi e nas informações obtidas em outras fontes. Primeiro, o nome foi traduzido do grego Baphometis, que significava batismo ou sabedoria. Isso faz sentido, considerando os objetivos dos Templários em obter conhecimento antigo. O bode também é o forasteiro, o excluído, o viajante na terra desolada, literalmente o bode expiatório que foi dado com uma oferenda pecaminosa para Azazel. É também a imagem de animal do signo do zodíaco Capricórnio, que governa a 10â casa da conquista e da ambição. Na tradição astrológica, o bode capricomiano escala cada vez mais alto a montanha. É tradicionalmente a metáfora para um escalador social ambicioso e por vezes rude que fará qualquer coisa para ter status neste mundo. De fato, foi a ambição mundial dos Templários que contribuiu para a sua queda e há também um ditado popular: “O orgulho do Templário”.

Em um nível mais interior, a ambição do bode é transformada em uma ambição espiritual. A montanha que ele escala é a casa dos deuses ou o ápice da perfeição espiritual neste mundo. E a busca daquele que procura escalar as alturas e alcançar seu topo. Dessa forma, eles alcançarão o objetivo espiritual do Grande Trabalho, que é a iluminação ou o esclarecimento. Por esse processo, as ovelhas são separadas dos bodes pelo Bom Pastor. Os bodes são os iniciados que seguirão o caminho da luz até o topo da montanha, e as ovelhas são os materialistas e os seguidores de religiões ortodoxas que continuam no escuro vale abaixo. Entretanto, ao usar essa metáfora, nós não devemos cair na armadilha da arrogância espiritual, que foi uma das falhas do Templo.

Levi referiu-se a essa imagem do deus Templario como Baphomet de Mendes e, portanto, o associou com o Bode de Mendes, tão amado por escritores sensacionalistas de contos de terror ocultos. Foi o historiador viajante grego Heródoto que, coma típica hipocrisia clássica, condenou os rituais bárbaros em Mendes, onde ele supostamente testemunhou sacerdotisas relacionando-se sexualmente com um bode sagrado. Esses supostos eventos, quando a adoração foi aviltada, e sua falsa associação com a adoração ao demônio obscurecerán! o verdadeiro significado do Bode de Mendes.

Originalmente, a divindade adorada em Mendes não era sequer um bode, mas um carneiro. Foi o animal sagrado de Khnum, o antigo deus com cabeça de carneiro da fertilidade e da criação e guardião do Nilo. Seu nome significa modelador, e ele criou o primeiro homem e mulher em uma roda de modelar argila. Khnum também era conhecido como o “pai dos pais, mãe das mães” e era bissexual por natureza. Seu cônjuge ou aspecto feminino era Nut ou Neit, que conhecemos antes como a pré- dinástica Deusa das Sete Estrelas e mãe de Seth. Seu nome significa literalmente o terror que é. Em épocas posteriores, ela foi a deusa criadora da guerra, da sabedoria, da caça e dos mortos. Seus símbolos pessoais eram duas flechas cruzadas e uma lançadeira, enquanto seus animais sagrados eram a abelha e o gato. Nos primeiros mitos, ela era a primeira deusa, a mãe dos deuses e a virgem mãe do deus do sol Rá. Diz-se que ela emergiu das profundezas das águas primaveris. Então ela formou um morro para descansar, para então parir a luz murmurando palavras secretas de poder. Em épocas mais recentes, outras deusas como ísis obscurecerán! Neit. O historiador grego Plutarco escreveu que uma inscrição no seu templo em Sais dizia: ‘‘Eu sou todas as que já existiram, que existem e que existirão. Nenhum mortal jamais foi capaz de retirar o véu que me cobré". A frase final foi creditada mais tarde a ísis.

Khnum foi por vezes associado ao deus mestre artesão Ptah, que foi reconhecido pelos colonos gregos do Egito como o deus ferreiro Hephaestus ou Vulcano e chamado de Grande Arquiteto do Universo. Ele era um deus bissexual criador que, como Khnum, criou a humanidade usando uma roda de modelar argila. Ele foi popularmente conhecido como o mestre construtor e a divindade protetora dos ferreiros, maçons e artesãos da madeira e metal. Khnum era também o deus protetor de um importan te faraó que transformou o Egito em uma potência imperial 3.500 anos atrás. Esse governante especial, ofuscado hoje em dia por outros, como o herético Akhnaton e Tutankhamon, era tanto um guerreiro quanto um governante místico, um sábio, um cientista, um diplomata, um botânico pioneiro e um ocultista.

Thotmoses III (nascido como Thoth) governou durante a 18a dinastia no final do século XV a.C. Quando jovem, Thotmoses governou como co-regente com sua irmã, a rainha Hatshepsut. Quando ela morreu, ele se tomou o governante supremo do Egito e continuou a transformar o país em uma potência mundial no Oriente Médio. Ele liderou uma série de campanhas militares bem-sucedidas para conquistar terras próximas, incluindo aNúbia, Palestina, Líbano e Síria. Eventualmente, o novo império do Egito se estendeu ao norte até o Rio Eufrates. Isso permitiu à cultura egípcia florescer e prosperar durante o período de paz, quando o país não enfrentou nenhuma ameaça dos inimigos.

Embora o faraó fosse temido pelos inimigos derrotados, ele era amplamente respeitado por seus subordinados como um governante sábio e justo. Apesar de sua coragem de guerreiro, ele era um homem culto, que promovia as artes e as ciências. Ele também criou um sistema legal que, ao contrário do que havia na Antiguidade, tratava a todos como iguais e era composto por juizes imparciais. E creditada a Thotmoses a criação do primeiro zoológico e um jardim botânico que abrigava espécimes da fauna e flora que ele havia recolhido durante seus períodos no exterior. Quando o faraó morreu, os escribas descreveram sua alma como um cometa ardente nos céus. Essa era uma referência enigmática à transformação em espírito de uma alma muito desenvolvida e de um iniciado nos Mistérios. Também foi dito sobre ele que: “Não havia nada que ele não soubesse, ele era um Tot em tudo”. Essa era outra referência ao seu papel inicial como modelo cultural e espiritual.

Thotmoses mantém uma posição importante na história oculta, pois alega-se que ele agregou emditos educados, sacerdotes, filósofos, curandeiros e artesãos para formar uma fraternidade secreta baseada na perícia prática intelectual e espiritual, que era conhecida como a Grande Fraternidade Branca ou Loja Branca. O nome não tem nenhuma ligação com a “magia branca”, mas se referia aos mantos brancos que seus membros usavam e também ao uso que eles faziam de um misterioso pó branco.

Era chamado de ouro em pó e era supostamente produzido por alquimistas. Ele tinha a propriedade de estimular o Terceiro Olho ou a glândula pineal para aumentar os poderes psíquicos e o conhecimento espiritual. Acredi- tava-se que ela era uma versão etérea do ouro físico. Os chamados Irmãos Brancos operavam sob o patrocínio de sacerdotes de Ptah, que eram treinados desde pequenos como curandeiros, metalúrgicos, maçons ou arquitetos. Alguns ocultistas teosóficos disseram que essa misteriosa escola egípcia foi a precursora mítica dos essênios, cujos membros aparentemente incluíam João Batista e seu primo Jesus e a Ordem da Rosa- Cruz. Um dos símbolos da Fraternidade era um ankh com uma rosa sobre ela.

É interessante notar que um dos títulos oficiais de Thotmoses era “o crocodilo do Nilo”, o que se refere ao deus crocodilo Sebek, o filho de Neit. Sebek era um dos aliados de Seth e, certa vez, substituiu o deus negro no panteão egípcio e se tomou o cônjuge da deusa Lua Hathor. Crocodilos, cobras, lagartos, sapos, rãs e répteis de todos os tipos são criaturas que secretamente representaram os Nephilim e os antigos deuses na mitologia mundial ao longo dos séculos. Eles também foram disfarçados por trás de títulos como o povo serpente ou o povo do dragão.

Thotmoses dedicou-se a Khnum e também a Sekhmet, a deusa com cabeça de leoa do deserto, que era a filha de Rá e cônjuge de Ptah. Ela também era associada à deusa gato Bast, outra deusa leoa Pakhet adorada pela rainha Hatshepsut e comparada pelos gregos a Ártemis (a versão deles para Diana), Hathor e a cônjuge de Thoth, Maat.

Essas conexões e identificações não são coincidências e são importantes no esoterismo para compreender quem Tutmoses III foi. Elas indicam que ele era não apenas um governante progressista e iluminado. Ele também foi um Pendragon, um rei dragão da linhagem de sangue cainita que remonta aos Vigias. Teósofos modernos dizem que ele foi também uma das encarnações de seu Mestre Koot Hoomi. Na verdade, a alma que encarnou no corpo de Thotmoses pertencia a um grupo de iniciados conhecidos como a Companhia Secreta, a Companhia Vistosa ou os Viajantes. Entre suas vidas na Terra, eles agem como guias e mestres do Outro Lado.

Alguns ocultistas vêem o Bode de Mendes, ou mais corretamente o Carneiro de Mendes, como um símbolo para Cão, um dos filhos de Noé. Cão foi identificado como Thoth e também o rei-sacerdote bíblico Melquisedeque. Também foi alegado que ele era na realidade o filho de Tubalcaim e, portanto, o avô de Nimrod, criador da Torre de Babel. (Gamer, 1999:155) Cão também aparece em uma variante alternativa e interessante do mito Daqueles que Caíram e os Pilares de Tubalcaim.

O escritor cristão do século IV Cassion conta como os Ben Elohim eram na verdade a prole humana do terceiro filho de Adão e Eva, Seth. Eles tinham recebido esse nome por conta de sua natureza boa e espiritualidade, mas foram seduzidos pelas filhas dos homens ou as crianças femininas de Caim. O resultado desse cruzamento foram crianças que eram tão malvadas que Javé enviou um dilúvio para erradicá-los da face da terra. Cassion diz que os Setianos tinham sido dotados de todo o conhecimento. Isso incluía as propriedades ocultas das árvores, plantas e pedras e o dom da profecia. Quando eles se casaram com as filhas de Caim, utilizaram esse conhecimento e seus poderes psíquicos para usos profanos. Eles aparentemente começaram a praticar a magia negra e passaram a adorar o demônio, e não a Javé.

Cão, dizem, aprendeu as artes mágicas dos filhos de Deus. Sabendo que seu pai Noé não aprovaria isso, ele gravou esse conhecimento proibido em placas de metal e tábuas de pedra para preservá-las das águas do dilúvio. Cão entregou essa tradição mágica para seu filho Mesraim, ou Mizraim, de quem os egípcios, persas e babilônios são descendentes.

Dizem que Zoroastro veio da linha de Mizraim, e isso faz sentido, já que Caim supostamente foi ancestral de sacerdócio mágico dos adoradores do fogo, (Gardner, 1999:159)

Na Maçonaria, o Rito Antigo e Primitivo de Memphis e Mizraim surgiu na Loja do século XVIII da Maçonaria egípcia pelo conde Cagliostro. Esse amigo do conde de San Germain, alquimista misterioso, adepto do oculto e Mestre Teosófico, que acidentalmente foi relacionado com a dinastia Stuart, era supostamente um agente secreto para os Illuminati. Cagliostro acabou sendo preso pela Inquisição e morreu na prisão. O simbolismo do Rito é baseado nos Mistérios egípcios e na luta dualística cósmica Gnóstica entre as forças do bem e as forças das trevas, representadas na mitologia egípcia por Osíris e Set. Ao invés do Mestre Hiram Abiff, o mito central do Rito é a história de Lameque, o pai de Tubalcaim e o assassinato do seu outro filho, Jubal.

Em 1902, John Yarker, um maçom inglês que foi o chefe de várias Lojas Maçônicas, autorizou uma escritura para três ocultistas alemães para estabelecer uma grande Loja do Rito. Em 1899 ou 1900, dois desses homens, Franz Hartmann e Heinrich Klein, uniram-se a um austríaco chamado Karl Kellner para fundar a OTO, Ordo Templis Orientis. Ela é mais conhecida como a Ordem do Templo no Leste ou a Ordem dos Templários do Leste. AOTO em sua forma original utilizava ensinamentos maçons, rosa-cruzes, Templários, dos Illuminati e pagãos. A revista da casa Oriflamme afirmou em 1912 que a Ordem possuía a chave para todos os segredos maçônicos e herméticos, a saber, todos os ensinamentos sobre magia sexual, e esses ensinamentos explicavam, sem exceções, todos os segredos da natureza, todo o simbolismo da Maçonaria e todos os segredos da religião.

Kellner alegou que ele tinha conhecimento pessoal da magia sexual de três adeptos do leste - um árabe e dois hindus. Uma fonte mais provável era um grupo de ocultistas franceses chamados de Fraternidade Hermética da Luz. Eles eram seguidores distantes de um mago americano, chamado P.R. Randolph, que também dizia ter sido ensinado o tantra da mão esquerda por adeptos no Oriente Médio. Após a morte de Kellner, em 1905, a OTO foi assumida por Theodor Reuss e, em 1910 ou 1912, ele iniciou Aleister Crowley na Ordem. A Grande Besta formou uma ramificação britânica da OTO chamada de Mysteria Mystica Maxima (a MMM ou Grande Mistério Místico). Quando Reuss adoeceu, em 1922, deixou de ser o chefe da OTO e nomeou Crowley como seu sucessor.

Na tradição oculta, o signo heráldico para Cão era o Bode de Mendes ou o bode de capricórnio. Aparentemente, era um pentagrama invertido com uma esmeralda entre seus chifres. Na vertical, esse pentagrama representa Vênus-Lilith como a esmeralda simbolizando a iónica estrela- fogo ou essência da Deusa Estrela. Cão e o Bode de Mendes também são associados à Alquimia e ao mestre alquímico Azazel. (Gardner, 1999: 156-158) Dizem que os descendentes de Cão se estabeleceram no Egito e que provavelmente foi assim que esse filho de Noé foi associado com Ram ou o Bode de Mendes.

Um dos papéis originais dos Templários era guardar as rotas dos peregrinos até Jerusalém e mantê-las abertas, apesar da oposição dos sarracenos. Entretanto, a Ordem acreditava que a raiz da heresia das Ordens estava nesses contatos não autorizados com o Islã.

A Igreja acusava os Templários de conspirar com infiéis e alegou que Baphomet era uma corrupção de Maomé. Na verdade, qualquer ligação com os sarracenos não deve ter sido de natureza política, mas algo muito mais esotérico. Uma das acusações feitas contra os Templários foi que eles praticavam vícios artificiais, incluindo beijar uns aos outros em partes dos seus corpos nus durante ritos de iniciação. Essas partes incluíam a boca, o plexo solar, o pênis e a base da espinha. Tais alegações sobre o oscalum infame ou beijo obsceno foram uma das acusações feitas contra as bruxas. Foi sugerido que os Templários estavam praticando uma técnica mágica árabe chamada beijo sarraceno. Isso envolvia o adepto respirando em várias partes do corpo durante uma iniciação para ativar chacras correspondentes ou centros psíquicos. (Liddell, 1994:79)

No que diz respeito à tradição oculta, os Templários, como os antigos iniciados egípcios, eram seguidores secretos de um caminho espiritual que levava à obtenção de níveis ascendentes de sabedoria sagrada (Hopkins, Simmons e Wallace Murphy, 2000). A crença maçônica na importância do Templo era baseada na alegação de que “foi uma Ordem [que] ocultou durante anos e perpetuou, por meio de guardas religiosos, para uns poucos escolhidos certa parte de sua doutrina secreta, a identidade de Cristo e Hórus, de Maria, a Mãe de Deus, e Isis, a Rainha do Céu”. (Waite, 1991) As várias ramificações da Maço- naria Templária realmente estão firmemente baseadas na tradição da sobrevivência de conhecimentos ocultos ou proibidos desde os dias de Noé e o Dilúvio e o segredo acerca da verdadeira natureza de Cristo.



O ENFORCADO


Nos arcanos maiores do Livro de Thoth ou o Taró, a 12- carta é chamada de o Enforcado. Ela mostra um jovem pendurado de cabeça para baixo e suspenso por um pé em uma árvore ou uma forca feita de galhos. Sua perna direita está cruzada sobre o joelho esquerdo na forma da cruz de Tau. Em alguns baralhos, ele segura um saco de moedas em cada mão. Em baralhos antigos italianos, essa carta é chamada de Traditore ou Traidor, e esta é uma referência a Judas. Entretanto, na Idade Média, era uma prática comum os cavaleiros errantes serem pendurados de cabeça para baixo e serem surrados como castigo. Essa posição também tem sido relacionada com aqueles crucificados de cabeça para baixo, tais como os heréticos Mani e São Pedro.

Madeline Montalban, fundadora da Ordem da Estrela da Manhã, disse que essa carta significa abnegação e sacrifício pessoal. Ela sugeriu que a posição invertida era indicativa do investigador desperto que mostra que eles não se libertaram totalmente das limitações do mundo material, mas é importante, pelo contrário, que eles só estão tentando fazer isso. Ela também diz que o Enforcado obteve um grau de conhecimento arcano por meio de suas provações e tentações (1983). Sallie Nichols (1980) vê esse reverso e sua conexão com os heréticos, incrédulos e traidores como um sinal de que o investigador no Caminho se toma um pária social. Como alguém que rejeita a normalidade da sociedade e se opõe à visão coletiva, ele ou ela pode parecer ser um traidor para a Instituição e alguém que traiu os ideais e valores da sociedade. 

Outro taromancista, Paul Huson, compara a carta do Enforcado com Dioniso, que deve morrer para renascer, assim como a semente deve descer à terra para crescer novamente no ano seguinte (1972:200). Na Grécia antiga, imagens de Dioniso foram penduradas em árvores, como um ritual de fertilidade para ajudar as plantações a crescerem. Huson também se refere ao costume folclórico inglês de apedrejar uma imagem chamada Jack 0’Lent na primavera. Após ser apedrejada e denegrida, ela é então queimada. Alguns camponeses reconhecem Jack O’Lent como sendo Judas Iscariotes, e esse também foi um apelido para o espantalho. Na época pagã, essa imagem pendurada ou queimada nos campos simbolizava o espírito do inverno e foi associada ao Senhor do Descontrole. Atrás dessa imagem, diz Huson, espreita a morte do deus sacrificado e sua queda para o Inferno.


Huson também descreve uma cerimônia interessante praticada pelo grupo maçônico-rosa-cruz do século XIX, a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Esse ritual foi provavelmente baseado no Enforcado, a carta do tarô. Envolvia atar e pendurar o candidato para o grau de adepto menor em uma cruz. Isso também era feito com um membro selecionado em uma cerimônia anual chamada de Ritual de Corpus Christi. No grau de adepto menor, era vista como um prelúdio para a iluminação e, no rito anual, era usado como uma absolvição para o carma coletivo da Ordem durante o ano anterior.

É muito fácil rejeitar a Aurora Dourada como se fosse um bando heterogêneo de cavalheiros de classe média vitoriana, ainda que nas suas práticas mágicas e espirituais eles fossem, em várias estâncias, pioneiros de sua época. A Aurora Dourada não apenas teve uma grande influência na magia e no ocultismo do século XX, mas também continha elementos Luciferianos sutis que hoje foram obscurecidos. Na verdade, eles podem não ter sido totalmente claros para a maioria dos membros na época. O título da Ordem, a Ordem Hermética da Aurora Dourada, é significante em si mesmo e uma das suas ramificações foi chamada de Stella Matutina ou Estrela da Manhã. Em uma das suas invocações, a frase “Eu declaro que a estrela da manhã surgiu e as sombras desapareceram” foi usada.

No nível de Philosophus da Aurora Dourada, o simbolismo da Queda foi usado e o Dragão (Lúcifer) foi utilizado para ilustrar o poder elementar e espiritual do fogo. Israel Regardie, um iniciado da Aurora Dourada nos anos de 1930 e secretário de Crowley, disse: “A Queda é catastrófica de um ponto de vista apenas. A consciência do surgimento do Dragão também dota o homem com consciência do poder, e poder é vida eprogressoEle também cita a visão de Blavatsky de que Lúcifer é o redentor, libertador e salvador da humanidade. Regardie continua: “No esquema evolucionário, a Queda ocorre por meio de um tipo de inteligência superior entrando em contato íntimo com a humanidade nascente, estimulando assim a psique da raça’’'’ (1936/1971:79-80).

Na verdade, o grau de adepto menor ali é uma descrição de Ben Adam, ou o filho de Adão, entre sete portadores dourados da luz. Essa poderia ser uma descrição do Arcanjo Lumiel, já que ele está “vestido com um traje cobrindo seus pés e urna cinta com uma corrente dourada. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a neve e seus olhos eram como o fogo flamejante: seus pés em um fino bronze como se eles queimassem em uma fornalha. E sua voz como o som das águas. E ele tinha na mão direita sete estrelas [as sete estrelas da Ursa Maior?] e da sua boca saía a Espada do Fogo e seu semblante era o sol em toda a suaforça ”. (Regardie, 1936/1971:82) No nível Practicus da Stella Matutina, o candidato é simbolicamente visto como Hórus e recebe o título de Unicórnio das Estrelas. As formas de deuses Cabiri também são construídas de acordo com as instruções do misterioso Mestre da Mesopotâmia [Melquisedeque], e eles foram astralmente assumidos pelo oficiais chefes da Loja. (Grant, 1972:71)

O Enforcado também está relacionado a Azazel como o anjo persa Shemyaza. Ele também foi conhecido como Azza, Shemjaza, Shemhazai, Shemazya e Amerrzyarak. Shemyaza foi seduzido por uma mulher chamada Ishtahar, e ela prometeu a ele favores sexuais em troca do nome secreto de Deus (Collins em Wallace Murphy, sem data). Ishtahar pode ser outro nome para Naamá, a irmã de Tubalcaim e uma versão mais jovem de Lilith. (Huson, 1970:9) Como punição por coabitar com uma humana e revelar o nome secreto, Shemyaza foi condenado a passar a eternidade pendurado de cabeça para baixo entre o Céu e a Terra na constelação de Orion.

O caçador arquétipo Orion foi descrito como a forma estrelar do velho Deus Chifrudo das bruxas. (Chumbley, 1995:75) Pendurado de cabeça para baixo, Shemyaza tem um olho aberto e outro fechado, para que ele possa ver seu apuro e sofrer mais. Isso também o toma um observador entre as estrelas.

Uma divindade de um olho só pendurado em uma árvore que possui o conhecimento dos arcanos e é popularmente conhecido como o Enforcado também é encontrada na mitologia nórdica. Ele é Odin, ou Woden, o pai do deus da luz Baldur, que se pendurou na Yggdrasil ou Árvore do Mundo por nove dias e nove noites para obter o alfabeto secreto das mnas. Em sua persona germânica de Woden, ele é o deus dos Xamãs e é representado como um bruxo e mago. Uma das razões por que dizem que o folclore nórdico aceitou o Cristianismo tão facilmente foi que eles viram a crucificação como outra versão de Odin pendurado na Árvore do Mundo.

O filho de Odin, Baldur, foi identificado como o Cristo Branco, quando os missionários Cristãos começaram a converter os povos da Europa do Norte. O mito da traição de Baldur pelo deus do fogo Loki e sua subse- qüente morte e queda ao Inferno se igualava com a traição de Jesus por Judas, que também se enforcou em uma árvore, a crucificação e a queda de Jesus para salvar as almas no Inferno. Em ambos os casos, Judas e Loki têm um papel importante e central no drama cósmico. Sem eles, o drama não teria chegado a essa conclusão.

Foi apontado por alguns escritores de mitos nórdicos que a teoria de Odin=Jesus cai por terra quando os motivos das duas figuras são examinados. No caso de Odin, ele sofreu na forca da Árvore do Mundo como um ato de auto-sacrificio para obter sabedoria e conhecimento. Jesus, por outro lado, voluntariamente encarou a morte como um sacrifício azazeliano ou bode expiatório pelos pecados da humanidade. Entretanto, em ambos os mitos, estamos lidando com um auto-sacrifício voluntário para o benefício da humanidade, ao contrário do sacrifício normal (sic), como um método de acalmar ou agradar Deus ou os deuses.

A morte de Jesus foi um ato de supremo auto-sacrifício pelo bem comum. Na noite anterior à sua prisão, estranhamente de novo em um jardim, Jesus hesita em sua missão e pede que seu destino seja alterado. Isso jamais seria possível desde o momento de seu nascimento, e, muito tempo antes daquele momento no tempo e espaço, eventos estavam se movendo inexoravelmente em direção à áspera cruz na colina verde. No final, tanto Odin quanto Jesus escolhem de livre vontade seus destinos porque, paradoxalmente, eles não têm nenhuma escolha.

Na realidade, tanto para os deuses como para os humanos, é a deusa do Destino que está controlando suas ações e seu destino.

Um dos últimos títulos de Odin foi o Pai de Todos, sugerindo que ele tinha a posição suprema entre os deuses e as deusas nórdicos como o líder deles. Foi sugerido que Jesus tinha um papel demiúrgico parecido em relação ao pai deus ciumento do Velho Testamento. Muitas culturas pagãs tinham uma crença no Deus por trás dos deuses. Isso é resumido em um texto um pouco anterior ao Cristianismo, chamado Tubingen Theosophy, na qual o deus romano do sol Apoio responde à pergunta sobre ele ser ou não um deus. Ele responde: “Nascido em si mesmo, ignorante, sem uma mãe, inabalável, residindo no fogo, este é Deus. Nós, seus anjos, somos uma pequena parte de Deus”.

Ao identificar Odin e Baldur com o Cristo Branco, os pagãos nórdicos e anglo-saxônicos estavam reconhecendo a natureza arquétipa e universal do mito mais poderoso na história humana. A essência desse mito é encapsulada na lenda cristã sobre a cruz na qual Jesus morreu. Essa lenda, potencialmente herética, diz que a cruz foi feita com madeira da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Essa lenda eficazmente liga a morte de Jesus com o mito de Eva e sua sedução pela Velha Serpente, que era Lúcifer-Azazel. Ela também ilumina a real natureza do crucificado e o simbolismo oculto por trás da imagem do Enforcado.


ORION E O GRANDE CAÇADOR 


No século XIII, o escritor Saxo Gramaticus escreveu um relato sobre a vida e a era do príncipe Arnleth ou Hamlet da Dinamarca. Arnleth era uma variante de Amlodi, o ser sobrenatural nos mitos nórdicos sobre a criação, cujo moinho mói as estrelas. Esse moinho ficava em uma ilha protegida por um grupo de mulheres gigantes chamadas As Nove Damas. Arnleth, o pai, era chamado de Orvendell ou Earendell e foi descrito como o primeiro de todos os heróis a nascer. Earendell foi também um guerreiro e caçador que lutou contra os gigantes de gelo nórdicos, equivalentes aos Titãs. Ele era um amigo do deus do trovão Thor e um hábil arqueiro. Ele foi comparado com Wayland, o Ferreiro, Robín Hood e Órion, o caçador.

O pai de Hamlet é uma figura um tanto quanto mítica, e dizia-se que ele tinha sido um ser humano que se transformou em uma estrela. Essa é uma metáfora para o mortal atingindo o status divino ou união com Deus. Entretanto, o enredo se toma mais denso quando uma fonte anglo-saxônica descreve Earendell como o anjo mais brilhante, que foi enviado para os homens pela Terra Média. Em alguns relatos, ele é descrito como a verdadeira refulgência (brilho ou iluminação) do sol que ilumina todos os dias para todo o sempre. Em eras anglo-saxônicas, ele foi associado a Vênus como a estrela da aurora ou estrela da manhã e ao arcanjo caído Lúcifer. Em um comentário obscuro sobre Earendell, LGollanz, em seu livro Hamlet inlceland{ 1898), citado por de Santillaevon Dechend (1977:36), parece sugerir que Venus, em seu brilho pleno no céu, era a Estrela de Belém, e compara o Cristo criança com o deus Sol. No passado, o viajante sempre celebrava o surgimento de Vênus antes da aurora porque era o sinal de que o sol logo surgiría para um novo dia.

Earendell é a forma do arqueiro divino arquétipo, cujas representações terrestres incluíam heróis folclóricos, tais como William Tell. Na verdade, a historia de Tell acertando uma maçã na cabeça de seu filho foi a princípio creditada a Earendell. Em um dos episodios mais famosos dos mitos de Robín Hood, ele compete disfarçado em um campeonato de arco-e-flecha. No Cosmos, Earendell é associado à constelação de Orion e suas conexões Luciferianas. De Santilla e von Dechend chamam essa figura gigantesca de filho de Deus, o floresteiro e o Grande Urso, todos nomes com conotações interessantes. Ele caça um búfalo ou um veado ao longo do caminho celestial da Via Láctea, que também é conhecida em mitos da Europa do Norte como Wodenwaeg ou Caminho de Woden. Earendell-Orion é o arqueiro caçador que persegue seus animais totens pelo céu noturno.

Adrián G. Gilbert o viu como outra forma de Heme, o Caçador, o deus bmxo que também está associado a Woden e Robin Hood. Nos contos folclóricos populares ingleses, Heme é um floresteiro a serviço real na floresta de Windsor. Um dia, enquanto caçava com o rei, ele o salva do ataque de um veado ferido. Heme mata o animal, mas, ao fazer isso, sofre uma ferida mortal. Um mago que convenientemente passava por ali instruiu seus colegas a cortar os chifres do veado e colocá-los na cabeça de Heme. Ao fazerem isso, ele milagrosamente ressuscita dos mortos.

O rei recompensa Heme por ter salvado sua vida fazendo dele seu diretor-chefe. Infelizmente seus colegas ficaram com ciúmes, ou ele foi despedido por caçar ilegalmente, e, mais tarde, um Heme deprimido se enforca em um carvalho atingido por um raio na floresta. Daquele dia em diante, seu espírito com chifres assombra os arredores do carvalho com uma matilha de sabujos espectrais. Em muitas formas da bmxaria tradicional, o Deus Chifrudo em seu aspecto de inverno é representado como o Senhor da Grande Caçada. Tanto a tradição folclórica inglesa quanto a alemã dizem que o líder da Grande Caçada é Woden ou Heme. No interior desses países, ela é por vezes chamada de Caçada de Caim.

Na mitologia greco-romana, Orion foi amado por Diana, a deusa lunar da caça. Todos os dias, o jovem caçador costumava percorrer a floresta com seu fiel cão Sírio logo atrás. Um dia ele encontrou um grupo de ninfas de Diana dançando alegremente em uma clareira da floresta. Elas eram, na verdade, filhas do Titã conhecido como Atlas. Orion imediatamente as perseguiu, mas elas se embrenharam ainda mais para dentro da floresta e foram perseguidas pelo caçador de sangue quente. Em uma tentativa de escapar de seu cerco, as ninfas pediram o auxílio de sua senhora Diana. Elas foram instantaneamente transformadas em sete pombas brancas e voaram pelo céu. Elas se tomaram as sete estrelas da constelação de Plêiades.

Órion então se apaixonou por uma princesa mortal chamada Merope. Seu pai consentiu o casamento deles, contanto que Órion realizasse um feito heróico para ganhar a mão dela. Órion, em vez disso, planejou abduzir Merope e casar-se com ela em segredo. Quando seu plano foi frustrado, Órion foi cegado (como tradicionalmente foram Earendell, Longuinho e Hodur, o assassino de Baldur) como punição e também perdeu sua futura noiva. Cego e impotente, Órion vagou de um lugar para outro esperando encontrar alguém que pudesse lhe devolver a visão. Um oráculo disse a ele para viajar para o leste e expor seus olhos ao sol nascente. Ele assim o fez e foi curado.

Em uma versão alternativa, a deusa de aurora Eos ou Eostre se apaixonou pelo caçador cego. O irmão dela, Hélios-Apoio, restaurou sua visão. Em uma terceira versão, Órion perambulou na caverna de um ciclope, um dos membros dos Titãs, a raça de gigantes. Como disse o poeta Longfellow: “Ele procurou o ferreiro em sua forja. O ciclope disse a ele para escalar uma montanha e curar seus olhos vazios no sol nascente e sua visão seria estão restaurada

Uma vez curado, Órion retomou para a floresta e sua vida de caçador. Ali ele conheceu Diana, e eles se apaixonaram. Para azar do casal devotado, Apoio tinha ciúmes de sua irmã e tramou assassinar Órion. Em um incidente muito parecido com a morte de Baldur, Apoio convenceu Diana a demonstrar suas habilidades com o arco. Ele a desafiou a acertar um ponto negro muito distante boiando no mar. Diana atirou e percebeu tardíamente, quando a flecha atingiu o alvo, que o ponto negro era Órion que nadava. Diana jurou que seu amor jamais seria esquecido e colocou a alma de Órion entre as estrelas do céu. Ali ele continua a caçar com seus companheiros animais, uma lebre e dois cães de caça. São eles: a Cão Maior, contendo a estrela Sírio, e a Cão Menor, contendo Procyon. Na mitologia egípcia, Sut-har (Seth-Hórus) era associado a Órion e Sirius, representado por um cão e um lobo.

Gilbert (1996) também associa Órion com o poderoso rei caçador Nimrod, descendente dos Vigias, construtor da cidade pioneira e da Torre de Babel. Ele foi descrito pelo demonologista católico Montague Summers como um bruxo gigante de grande força. Como Nimbroth ou Nebroh, ele foi adorado como deus pelos Amonitas. Na Idade Média, o grimório do papa Honorio invoca Nambroth como o poder demoníaco de Marte. Isso o relaciona com Samael, o governante angelical de Marte, Azrael-Azazel e, claro, Shemyaza, pendurada no portão-estrelar de Órion.

A constelação de Órion parece ter tido alguma importância para os antigos egípcios, se for possível acreditar nos escritores modernos. Em 1994, Robert Bauval e Adrián Gilbert publicaram o resultado de sua recente pesquisa nas pirâmides e seus significados. Eles ligaram esses monumentos com Órion e o enterro dos faraós. De acordo com a teoria deles, as pirâmides foram construídas para formar um mapa de estrela na paisagem, refletindo o céu noturno acima. Não apenas isso, mas também em ritos funerais, a múmia do faraó era colocada em uma câmara dentro da pirâmide em posição de uma haste para o exterior alinhada com a constelação de Órion. Um ritual mágico era realizado para libertar a alma do rei para que ela pudesse tomar seu lugar como o Osíris renascido na estrela-portão de Órion.

Existe uma quantidade considerável de tradições estelares antigas, direta ou indiretamente, ligadas às tradições Luciferianas. Por exemplo, a tradição da estrela cigana registrada por J. A. Vaillant em seu estudo sobre Les Roms (Paris, 1857) descreve as constelações circumpolares como o Livro deEnoch ou Tro-Tehitio sideral original, o nome cigano para Hermes Trismegisto, de onde todos os destinos eram distribuídos para o mundo. Isso acontecia via matrizes planetárias zodiacais ou tipos celestiais de arcanos maiores do taró. Os informantes de Vaillant lhe disseram que o destino dispensado dessa roda de estrelas dispensava o destino das 

excursões da tribo de Rom. E.B. Trigg (1975) descreve que foi um ferreiro cigano que foijou os quatro pregos da crucificação. O quarto prego tomou-se tão quente que não pode ser removido da foija, e apenas três foram usados. Esse quarto prego foi a ruina dos Rom desde então, forçando-os a vagar pela Terra sem um lar, como os Judeus viajantes, em urna tentativa de escapar de seu destino.

Os Rom também têm um relato sobre suas origens que diz que eles descendem da união incestuosa de Tubalcaim e Naamá ou Chem e Guin, o Sol e a Lúa. Um dos antigos títulos dos románios era As Crianças de Caim. O monopolio cigano na metalurgia na Idade Média e possivelmente até seu comércio moderno como negociantes de aparas de metal deriva desse mito da origem. As Crianças de Caim, ou povo do fogo, eram supostamente magos hereditários com poderes psíquicos, ferreiros e comerciantes de cavalos. Essas categorias se encaixam com as ocupações favoritas dos ciganos por todos os tempos.

Por trás desses mitos, está a crença Gnóstica sobre como o espírito puro desanda para o ciclo melancólico e fatigante da existência material na roda do renascimento sublunar, constantemente tentando retomar ao seu reino estrelado. O mundo material é o reino do Tempo e do Destino sobre o qual o Prego Polar Celestial, a Estrela Polar, reina soberano e sereno sobre o destino.A estrela Alpha Polaris é a Estrela Central ou Umbigo do Céu. Como o ponto metálico ou qutub, o athame ou espada, a Estrela Polar foi forjada por Tubalo, o deus do fogo dos ciganos que corresponde a Tubalcaim - do árabe Qyn, ou ponta de ferro (de uma lanceta ou lança).

Esse arcano metálico da Estrela Polar pode estar ligado ao mistério egípcio de Bja ou os ossos de ferro meteóricos dos reis estrela envolvidos na transformação do faraó morto em Osíris na constelação de Orion. (Bauval e Gilbert, 1994:203-04) Seth também possui um esqueleto de ferro e, em um papiro mágico do século III da Alexandria, a cidade sagrada da tradição Hermética, ele é invocado como “Es o ponto central das estrelas no céu, você, Mestre Typhon”. Typhon era o nome grego para Seth, mas também, estranhamente, um nome dado para sua mãe, a Deusa das Sete Estrelas (Ursa Maior ou o Grande Urso).

O polo celestial é o segredo por trás do simbolismo do castelo giratorio de quatro lados da bruxa deusa. Ele gira eternamente no coração do céu e é o portal de entrada da Hiperbórea, ou a terra além do vento norte. Para o iniciado nos Misterios, Polaris é simbolicamente aponta da espada, a Cidade de Enoch, e Caim, a Estrela de Ferro, o Umbigo Celestial e a sutura estelar no domo em forma de crânio do Céu, o portal de entrada para o Outro Mundo.

Sobre o centro cósmico dos céus gira a constelação de Draco, o Dragão. Na Pérsia, era o dragão-serpente Azhadaha, identificado como a Serpente Negra da Luz, Azazil-Ebas, chefe dos Inri ou anjos caídos. A Grande Estrela Dragão enrolada sobre uma árvore eixo dos mundos é emblemática da serpente da sabedoria enrolada sobre a cruz de Tau, o selo da Arte dos Sábios. AGrande Serpente, Draconis Azhdaha, é significantemente chamada também de Thyphonis Statio ou a Estação de Typohon ou Seth. Noplanisfério egípcio reproduzido em Oedipus Aegytiacus de Athanasius Kircher (1652), Typhon é mostrado como um dragão escamado escarlate e verde e é equiparado com o deus mais antigo. Esse esquema de cores verde e vermelho retrata a tradição Luciferiana.

Em alguns círculos da bruxaria tradicional, as constelações Ursa Maior (O Grande Urso) e Ursa Menor (O Pequeno Urso) são reverenciadas como os veículos siderais do Senhor e da Dama, o deus bruxo e a deusa bruxa. Respectivamente, eles são designados como a Carruagem de Nosso Senhor e Carruagem de Nossa Senhora. A Ursa Maior também é chamada de Carruagem de São Gabriel. E vista como ataúde estelar, que carrega os espíritos dos mortos. Ela tem conexões duradouras com o Senhor da Grande Caçada, cujos cães são chamados de táramelas de Gabriel (possivelmente relativo à catraca ou roda).

No gnosticismo Persa-Judaico, a Ursa Maior é governada pelo touro demônio com chifres, Asmodeus, lorde da tempestade e da noite. Ele é o filho de Tubalcaim e Naamá, de acordo com uma lenda, ou do rei Davi e Lilith, de acordo com outra. Menos conhecida é a tradição da bruxaria de Lancashire ligando as estrelas do Grande Urso com os Sete Assobiadores, os pássaros psicopompos espectrais cujos trinados noturnos misteriosos pressagiam a morte. Tradicionalmente, acredita-se que eles encarnam os espíritos dos judeus que ajudaram na crucificação. A punição divina deles foi vagar como pássaros tristemente voando em círculos pelo céu para sempre.

A Ursa Maior é o veículo celestial da líder feminina da Grande Caçada no folclore e na tradição da bruxaria. Ela é Holda, Herodias ou Diana-Artemis, a Deusa Negra e Grande Dama da bruxaria européia. Isso é confirmado pelo encantamento mágico Helenístico para Arktos como a cadeira da Grande Caçadora. Esses sistemas estelares girando no céu alto são os veículos cósmicos dos Velhos Poderes, de onde os mistérios Cainitas-Ofitos mais-que-humanos foram originalmente transmutados e a semente dos Velhos Deuses e Dos Grandes nasceu eras atrás.

As Plêiades ou Sete Irmãs são chamadas de Galinhas da Noite no folclore europeu. Elas são sagradas para a Dama Branca do Céu (a deusa bruxa) no seu aspecto sétuplo, como a chama de sete línguas do candil das virgens estrelares. As Plêiades traçam o caminho elíptico ao longo do céu noturno feito pelo sol durante as horas matutinas. Magicamente, seus poderes são contidos, de acordo com Agrippa, para aumentar a luz dos olhos [possivelmente uma referência ao mito clássico de Órion], para congregar os espíritos, aumentar os ventos, revelar segredos e coisas ocultas.

A Rainha Negra de Elfame, a mais sagrada para a Mãe de Rosto Negro, é a estrela gêmea Caput Algol - Al-Ghul, em árabe, significa demônio. Ela está na constelação de Perseu, que representa o semblante maligno da górgone Medusa. Ela é o aspecto triforme do cacho de serpentes da deusa grega Hécate-Mormo adorada pelas antigas bruxas de Tessália. Essa deusa está ligada à face negra ou lado escuro da Lua, e ela protege os portões do mundo subterrâneo. Na demonologia judaica, Algol, um sistema estelar binário rotativo, é conhecido como a cabeça de Satã e a Estrela de Lilith. O explorador vitoriano sir Richard Burton notou a associação dela com Lilith, a lâmia, o dakini do Hinduísmo, o utug caldeu e o gigim ou demônio do deserto. Agol é o bruxo estrela da striga, comjas grito, ou bruxos italianos. Os árabes o chamavam de demônio pestanejante, e Grant (1991:262) usa numerologia oculta para ligar essa estrela com Melquisedeque e a Fraternidade Branca.

As estrelas Typhonianas de Escorpião, por outro lado, são tradicionalmente a residência assombrada do espírito alado familiar noturno Aquila Nigrans, ou L’Aigle Noir, a Águia Negra Fênix Nox (noite). Essa é a Águia Negra, um temido emissário Dos Grandes conhecido há tempos nos mistérios da bmxaria verdadeira, como Corbeau Noir. De igual importância é outro pássaro celestial, Vega Alpha Lyrae, conhecido como o Abutre Curvo. No Egito, essa estrela foi associada a Maat, a deusa da verdade e consorte de Thoth.

Espero que essas poucas páginas dos grimórios divinos da sabedoria estrelada antiga tenham iluminado ainda mais o tema mítico deste livro enquanto chegamos ao fim de nossa jomada. Elas são outro exemplo da transmissão da história antiga da extração da sabedoria Gnóstica dos Céus para o benefício da humanidade em luta por aqueles que ousaram desafiar a ordem cósmica. Isso daria a impressão de que a Gnose ou o autoconhecimento continuam sendo um problema para os inimigos da verdade e os pais das mentiras em nosso mundo moderno. Apenas recentemente o arcebispo de Canterbury, dr. George Carey, um homem supostamente bem-educado, condenou a obsessão moderna com a educação e aquisição do conhecimento. Ele compara esse modismo com a heresia dos Gnósticos nos primeiros séculos do primeiro milênio cristão.

O Igrejismo em suas muitas formas híbridas sempre se opôs à educação das massas e ao autoconhecimento do sagrado e espiritual. Qualquer coisa que remova o papel da classe sacerdotal como um intermediário entre a humanidade e o Divino ameaça o monopólio espiritual da religião vigente. Ao longo de vários séculos sangrentos desde tempos remotos, as três religiões do Oriente Médio do Livro tentaram alcançar esse fim empregando a espada, o laço e o fogo. Milhares e milhares de seus oponentes foram mortos para encobrir o maior encobrimento e conspiração da história do mundo.

Hoje, quando celebramos o terceiro e último milênio cristão, chegou a hora de a verdade ser contada. Este livro e outros que virão são parte desse processo em andamento. ALuz brilhará uma vez mais na escuridão em que estava escondida por séculos e afastará as sombras da ignorância.

A Luz está na Escuridão e a Escuridão é a Luz.