sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - Os Filhos Da Viúva

No último capítulo e antes neste livro, fizemos várias referências à Maçonaria. Agora gostaríamos de examinar esse movimento mais detalhadamente como um canal histórico para a tradição Luciferiana e a doutrina dos Vigias. Reportagens de jornal recentes sobre a adequação ou não de juizes, policiais, políticos e médicos para serem maçons sugerem que essa “sociedade com segredos” é apenas uma rede de amigos íntimos para homens de classe média e meia-idade. No entanto, um exame minucioso da Maçonaria, com seus ricos e exóticos símbolos, sugere que no passado ela pode ter sido a zeladora e guardiã de conhecimento herético e sabedoria proibida. A Maçonaria antiga certamente tinha ligações próximas com as sociedades secretas de ocultismo que possuíam informações semelhantes e com os mistérios masculinos da magia.

Infelizmente, as origens históricas da Maçonaria estão ocultas em um miasma de mistério, especulação, exagero e evidente fantasia. AMaçonaria Especulativa baseou-se nas corporações de construtores operativos que eram responsáveis pela construção das catedrais góticas da Europa medieval. Os construtores se organizavam em corporações, companhias e Lojas usando sinais secretos e palavras de passe para reconhecer uns aos outros como companheiros artesãos. Originalmente a Loja era uma pequena cabana ou choupana com teto de palha erguida perto do canteiro de obras.

Ela era usada como abrigo durante clima severo, para guardar ferramentas, descanso e refeições. As vezes, também era usada para reuniões em que eram discutidos o progresso do trabalho, quaisquer problemas encontrados no trabalho, e o bem-estar geral dos construtores.

Gradualmente, com o passar do tempo, construtores “honorários” não ativos foram admitidos nas corporações e companhias. Eles eram como maçons especulativos, aceitos ou “livres”. Com o tempo, esses “maçons livres” formaram seus grupos ou Lojas independentes e interpretaram a arte da Maçonaria como um caminho espiritual para auto- aperfeiçoamento moral, obras de caridade e iluminação.

Discussões sobre o quanto dessa ênfase espiritual foi herdada dos construtores medievais e quanto dela foi produto do renascimento do ocultismo no século XVIII ainda assolam historiadores maçônicos e não maçônicos. Os maçons especulativos associavam as “ferramentas de trabalho” da arte dos maçons operativos a um significado relacionado com a história lendária da Maçonaria. Essas ferramentas incluíam machados, martelos, malhetes, malhos, compassos, esquadros, níveis, trolhas e fios de prumo. Elas também eram incorporadas nas insígnias e jóias usadas pelos maçons na forma de distintivos, anéis, faixas e pingentes. O avental de couro e as luvas do maçom operativo se tomaram o uniforme cerimonial dos maçons.

A moderna história da Maçonaria tem usualmente sua origem datada a partir da reunião de fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra na Tavema The Goose and Gridiron,22 no pátio traseiro da Catedral de St. Paul, na cidade de Londres, no dia de São João,23 em 1717. Na verdade, há evidência de ampla atividade maçônica no século anterior. Alguns historiadores modernos dizem que as origens da Maçonaria datam pelo menos do século XVI. O fundador do museu Ashmolean, em Oxford, Elias Ashmole, registrou em seu diário que foi iniciado em uma Loja Maçônica em Warrington, Cheshire, em 16 de outubro de 1646. Ashmole também era um rosa-cruz e astrólogo que se tomou membro da Sociedade Real, quando ela foi fundada logo após a restauração da monarquia em 1660.

Como vimos anteriormente, uma alegação antiga e muito controvertida nos círculos maçônicos é a de que os Templários, fugindo da perseguição na França, estabeleceram a Maçonaria antiga na Escocia durante o começo do século XIV. No equinócio da primavera de 1737, um ma- çom escocês e jacobita chamado de Chevalier Andrew Michael Ramsey, outrora tutor do Belo Príncipe Charlie, deu urna palestra na Loja Maçôni- ca de St. Thomas, em París. Ele surpreendeu sua audiência ao alegar que os Templários tinham incorporado em sua Ordem os mistérios antigos das deusas Ceres, Isis, Minerva-Atena e Diana-Artemis. Ele também alegou que os cruzados, ao retomar da Terra Santa, fundaram Lojas Maçônicas em seus países de origem. Isso inclui a famosa Loja Kilwinning, supostamente estabelecida na Escócia já em 1286. Foi registrado que, um ano após a palestra de Ramsey ligar a Maçonaria aos Templários, o papa Clemente XII emitiu uma bula papal condenando o envolvimento de católicos com a Maçonaria. AInquisição imediatamente iniciou uma campanha contra a Maçonaria nos países católicos. Eles fecharam Lojas e torturaram, prenderam e excomungaram qualquer pessoa que achavam estar envolvida.

Como mencionamos anteriormente, Elias Ashmole era um maçom e um rosa-cruz. A Maçonaria antiga era intimamente ligada à Ordem da Rosa-Cruz, ou Rosacrucianismo, outra sociedade secreta com uma história lendária e fantástica. Em um poema do século XVII, as duas sociedades são vinculadas: “Porque o que profetizamos não é grosseiro / pois somos irmãos da Rosa-Cruz / temos a Palavra do Maçom e a Videncia / o que nos espera podemos prever corretamente”. Na tradição popular, os rosa-cruzes eram considerados bruxos que tinham poderes psíquicos e mágicos. Esses poderes incluíam a habilidade de prolongar a juventude, evocar espíritos, tomar-se invisíveis, criar pedras preciosas e transmutar chumbo em ouro. O ensaísta do século XVII Thomas de Quincy foi muito além, ao alegar que “os primeiros maçons eram parte de uma sociedade que surgiu da mania do Rosacrucianismo”. Ele também disse que os “maçons da Inglaterra copiaram algumas cerimônias dos rosa-cruzes e disseram que eles as criaram, e o mesmo com eles”. (1972:252,255)

Os registros mais antigos mencionando a Irmandade da Rosa-Cruz estavam circulando na Europa no começo do século XVII. Eles foram compilados sob o grande título de A Restauração do Templo Decaído de Palas [Atena]. Em 1610, urna historia legendária, chamada de Fama Fratemitas, foi publicada por um escritor anônimo. Ela dizia que a Ordem havia sido fundada duzentos anos antes por um místico alemão descendente de uma família aristocrata. Ahistória não foi efetivamente publicada até 1614 e foi amplamente circulada como uma publicação livre para todos aqueles que conseguiam 1er.

De acordo com a historia, o místico alemão chamava-se Christian Rosenkreuz, embora esse não fosse seu nome verdadeiro. Quando ele era jovem, seus pais o colocaram em um mosteiro para aprender como ser um padre. O jovem se rebelou contra as limitações da vida monástica e, quando um monge mais velho pediu que o acompanhasse em uma viagem ao Oriente Médio, ele prontamente concordou. Infelizmente o homem mais velho morreu no caminho, mas Rosenkreuz conseguiu chegar a Damasco, na Síria moderna. Lá ele se tomou amigo de um grupo de adeptos cabalísticos e foi aceito como aluno deles. Com o tempo, como um homem maduro, ele retomou à Europa via Fez, no norte da África e Espanha moura. Naqueles lugares, ele estudou as artes ocultas sob a orientação de adeptos árabes. Ele aprendeu como evocar espíritos e os segredos da Alquimia.

Foi sugerido que, pelo fato de Rosenkreuz ter estudado com ocultistas muçulmanos, ele pode ter sido versado nos ensinamentos do Sufismo, a escola de mistérios secreta do Islã que supostamente antecedeu a ele. O mestre Sufi moderno Idries Shah comparou o Rosacmcianismo com uma sociedade secreta Sufi chamada de a Ordem Kadari, fundada por Abdelkadir Gilani em Bagdá (Iraque atual) no século XII. Gilani era conhecido pelos seus seguidores como “a Luz da Rosa”, e o símbolo da sociedade era uma rosa. No Sufismo, o Caminho da Rosa se referia a uma forma específica de misticismo Islâmico envolvendo Alquimia, exercícios de devoção e palavras de poder. (Darkual (Shah), 1961: 173-4) Como veremos em um capítulo posterior, a rosa é um símbolo importante na tradição Luciferiana. Ela é associada àqueles grupos e indivíduos ligados ao ocultismo que mantiveram sua chama queimando radiante ao longo de séculos de perseguição.

Quando Rosenkreuz voltou para a Alemanha, ele continuou seus estudos sobre o oculto por vários anos. Ao término desse período de estudo individual, ele decidiu informar o mundo sobre os ensinamentos que havia recebido aos pés de seus mestres do Oriente. Ele acreditava que a Europa do século XIV somente podería ser salva da degradação moral por meio de uma injeção de crenças espirituais. Quando seu conhecimento foi ignorado por muitos, Rosenkreuz decidiu formar uma sociedade secreta de pessoas iluminadas para trabalhar por trás das cenas, no intuito de promover mudanças. O objetivo da sociedade era influenciar as pessoas no poder para que elas colocassem em prática as mudanças sociais que a Ordem desejava. Alguns escritores alegaram que uma dessas mudanças radicais era a modernização da Igreja Romana, e isso resultou na Reforma. Uma visão contrária é que o surgimento do Protestantismo destruiu efetivamente o ensinamento da sabedoria antiga e o simbolismo, que tinham sobrevivido escondidos nos mistérios esotéricos Cristãos. Parece improvável que fosse esse o objetivo do Rosacmcianismo.

Rosenkreuz retomou ao mosteiro que ele conheceu quando era um menino e persuadiu os três dos monges séniores, chamados no mito rosa- cruz de “os Três Homens Sábios”, a deixar o lugar e se juntar a ele. Mais tarde, outros quatro monges foram recrutados com êxito para a causa. Rosenkreuz ensinou a esses sete dignos homens e, quando eles estavam qualificados, eles viajaram secretamente pelo mundo disseminando conhecimentos sobre o ocultismo. O mestre ficou na Alemanha para continuar seus estudos herméticos.

Os rosa-cruzes concordaram em cumprir seis regras de conduta, sendo que as duas primeiras muitos daqueles que são supostamente ocultistas nos dias de hoje deveríam copiar. Eles concordaram em curar os doentes sem cobrar nada, não vestir roupas especiais ou abertamente mostrar qualquer símbolo em público que pudesse revelar sua vocação secreta, que uma vez por ano eles se reuniríam na sede da Ordem para reportar seus progressos, que cada membro iria iniciar um candidato digno antes de desencarnar, que eles usariam as iniciais RC como uma marca identificadora e palavra de passe, e que eles prometeríam manter a existência da Ordem em segredo por pelo menos cem anos.

Quando eles morreram, os primeiros irmãos rosa-cruzes concordaram que os corpos deveríam ser enterrados secretamente e sem nenhuma cerimônia Quando Rosenkreuz deixou este mundo e foi enterrado, seus seguidores não sabiam onde seu túmulo estava localizado. Ele apenas foi descoberto por acidente 120 anos mais tarde. Seu túmulo era supostamente uma cripta de sete lados, iluminada por urna luz perpétua. Conforme se alega, o corpo do mestre rosa-cruz estava ainda em perfeito estado de preservação, apesar de todo o tempo que havia passado.

A conexão entre os rosa-cruzes e os maçons na crença popular foi exemplificada em uma publicação supostamente não real que saiu em um jornal satírico em 1676. Ela dizia: “Isso é para informar que o Moderno Grupo de Conspiradores Verde-Listrado, juntamente com a Antiga Irmandade dos rosa-cruzes, o Adepto Hermético e a Companhia de Maçons, pretendem jantar juntos em 31 de novembro no Flying Bull, situado na Rua Wind-mill Crown, tendo já encomendado um grande suprimento de tortas de Cisne Negro, ovos de Fênix fritos, coxas de unicórnios, etc”.

O dr. Francés Yates considera essa sátira como uma representação das “primeiras tradições de, por assim dizer, intercomunicação entre as sociedades secretas”. (1972:261)

Yates também cita o escritor do século XIX Thomas de Quincy, que publicou na London Magazine (1824) os resultados de uma pesquisa alemã sobre as origens da Maçonaria e dos rosa-cruzes. Usando informações de suas fontes alemãs, Quincy estava confiante de que, “quando o Rosacrucianismo foi transportado para a Inglaterra, ele virou Maçonaria”. Ele citou o alquimista e astrólogo do século XVII Robert Fludd como o suspeito principal nesse movimento. Posteriormente, Quincy acreditou que “as crenças epráticas maçônicas ligadas à mística interpretação da construção do templo em Jerusalém podem (...) já ser percebidas nos textos dos rosa-cruzes, mas quando o Rosacrucianismo foi transportado para a Inglaterra eles foram vinculados pela Maçonaria às tradições das corporações de construtores”. Ele conclui: “Os primeiros maçons formavam uma sociedade secreta que surgiu da mania do Rosacrucianismo, certamente entre os 13 anos de 1633 até 1643, e provavelmente entre 1633 e 1640” (Yates, 1972:252)

Em seu livro A Tradição Secreta na Maçonaria, Arthur Edward Waite apresentou a teoria de que cabalistas se infiltraram nas Lojas livres do século XVII. Junto a isso, Christopher Mclntosh faz menção a urna fraternidade oculta na Europa central no século XVIII que misturava Ma- çonaria, Rosacrucianismo e a Cabala com uma crença em reencamação e Alquimia. Em 1765, uma Loja Maçônica juntou forças com um capítulo rosa-cruz em Marburg para realizar a prática da Alquimia. Tais grupos híbridos podem ter influenciado o renascimento do ocultismo nos séculos XVIII e XIX. De acordo com Mclntosh, tais Lojas Maçônicas-rosa- cruzes funcionaram sob o nome genérico de Ordem Dourada e Rosa- Cruz. Essa Ordem tinha ligações com a Maçonaria Escocesa e com o surgimento do Templarismo no final do século XVIII.

Em um documento de 1788, seus objetivos declarados eram “fazer com que as forças escondidas da natureza entrassem em operação, para liberar a luz da natureza, foi profundamente enterrada embaixo das impurezas resultantes da maldição (a Queda), portanto iluminar o interior de cada Irmão, uma tocha, por cuja luz poderemos reconhecer o deus escondido, e com isso ficaremos mais próximos da fonte original de luz”. (Mclntosh, 1980:94) Mclntosh menciona o conteúdo gnóstico nesses objetivos. Em contrapartida, também podemos mencionar o quanto esse conteúdo acuradamente se adequa à doutrina Luciferiana de despertar espiritual da humanidade do materialismo bmto para a liberação da “luz interna” ou do “deus intemo” dentro de nós.

A antiga história lendária da Maçonaria, adotada pela Grande Loja em 1723, e parte dos manuscritos do século XV, conhecidos como os Antigos Deveres,25 rastreavam as habilidades de construção e geometria, desde a figura de Lameque do Velho Testamento até o Rei Salomão. Ela possuía uma versão da construção dos Pilares do Sábio e do porquê de eles serem associados à Tubalcaim. Lameque tinha três filhos e uma filha: o primeiro filho era chamado Jabal, descobriu a Geometria e era um pastor e construtor de casas; Jubal foi o segundo filho e era um músico que fazia instrumentos musicais; o terceiro filho era o nosso velho amigo Tubalcaim que, como nós sabemos, era um ferreiro e um “artífice em cobre”. A filha, Naamá, inventou a fiação e a tecelagem. Os quatro filhos de Lameque escreveram tudo o que eles sabiam sobre artes, ofícios e ciências em dois pilares de pedra ou ferro para que esse conhecimento fosse preservado para as gerações futuras. Esses pilares pareciam ser idênticos àqueles criados pelo filho de Adão, Seth, e mais tarde, de acordo com outra versão do mito, com àqueles criados por Noé e seu filho. Na doutrina maçônica, eles são os pilares gêmeos na entrada do templo de Salomão e da Loja Maçônica Tubalcaim, como já vimos, foi uma versão do deus da magia que está presente em documentos maçônicos porque era um “artífice de cobre e ferro”. O historiador hebreu Flávio Josefo alega que Tubalcaim na verdade inventou o latão - uma mistura de bronze e cobre - para usar como ferramentas cortantes e armas. O escritor maçônico Bemard Jones sugeriu que Tubal foi um armeiro e o associa com o deus romano dos ferreiros Vulcano. Ele diz: “Foi sugerido que Tubalcaim era associado à divindade primitiva do fogo conhecida do povo altaico, que estavam aparentemente entre os primeiros trabalhadores de metal no mundo’’'’ (1950:298). Além disso, Jones relaciona Tubal a uma tribo de nômades perto do Mar Cáspio chamada de queneus, que alegavam descendência de Caim e eram ferreiros por herança e criadores de cavalos.

A lendária história da Maçonaria rastreia a invenção da Geometria até Adão. Ele ensinou a ciência a Caim, seu filho de pouca inteligência, para que ele pudesse construir as primeiras cidades. Alguns desses antigos relatos da história maçônica também fazem referência aos supostos Noachitas ou “Maçonaria Antediluviana”. Aliás, os primeiros maçons eram chamados de “filhos de Noé”. Um dos filhos de Noé, Cão, foi o pai de Ninrode, supostamente o primeiro Grão-Mestre dos maçons e um famoso construtor de cidades. Uffa, na Mesopotâmia (agora na Turquia), é considerada na lenda local uma das cidades construídas por Ninrode. Em tempos antigos, ela era conhecida como “o trono de Ninrode”. Ele também construiu Acade, Nínive e Babel (Babilônia) (Gênesis capítulos 6 e 10).

No mito bíblico da queda da Torre de Babel de Ninrode nós podemos ver uma referência à língua universal de “Enoch”, que era falada no mundo inteiro. Infelizmente Javé ficou ofendido com os humanos por construírem uma torre para alcançar o Céu. Ba-Bel ou Babel quase literalmente significa “portão de deus” e sugere um passagem entre este mundo e o reino divino. Javé destruiu a cidade, confundindo as pessoas para que elas não pudessem entender umas às outras (daí a palavra em inglês babble, que significa “balbuciar” ou “falar de forma ininteligível”), e as espalhou pela Terra (Gênesis 11).

É tentador identificar nesse mito o fato de que os primeiros humanos estavam se desenvolvendo muito rapidamente e, na realidade, até pensando por eles mesmos, por isso suas tendências Luciferianas tiveram de ser contidas por uma intervenção extrema. A Torre de Babel representa a busca espiritual por autoconhecimento e auto-iluminação visados pelos “exilados”, que estão lutando para se unirem novamente ao Ente Supremo. A Torre pode muito bem ter existido como um edifício real no mundo material em algum período da história. Alternativamente, ela pode representar um estágio em nossa evolução planetária, quando os primeiros humanos estavam se esforçando para se conectar novamente com o Divino.

Maçons modernos tendem a repudiar as histórias sobre Babel e a antiga história de sua arte por razões que são provavelmente óbvias. No entanto, Jones admitiu que é possível que haja uma tradição relativa a Noé de uma ordem de necromancia mais velha que a história de Hiram. Essa antiga tradição substituiu Ninrode e o mito da Torre de Babel pela narrativa de Hiram Abiff e o templo de Salomão no ritual maçônico. No entanto, no Grande Oriente Maçônico na França, que sempre foi tratado com desconfiança pelos maçons ingleses, o Rito de Adoção usa um anagrama de ‘Babel’ como uma palavra de passe.

O significado secreto do mito de Babel era conhecido em um estágio antigo em épocas históricas. O bispo anglo-saxão de Londres Wulfstan, escrevendo em sua homilía De Falsis Deis ou Sobre os Falsos Deuses, remontou o ressurgimento das crenças pagãs entre os hebreus em relação a Ninrode e à Torre de Babel. Ele disse: “por meio do ensinamento do Diabo, eles pegaram o conhecimento para adorar o sol e a Lua como se fossem deuses...'” Ele também mencionou a antiga crença pagã de que as estrelas eram adoradas como deuses, juntamente com água e “vários gigantes e homens terrenos ferozes”. (Nephilim) Essa declaração pode ter influenciado as dilatações clericais anglo-saxônicas da prática de magia e a sobrevivência dos costumes pagãos de adoração ao Sol, à Lua, às estrelas, menires, árvores e poços.

A Torre de Babel aparece tanto na doutrina maçônica quanto na bruxaria tradicional. A bruxa herdeira de Pickingill E.W. Liddell afirmou que: “Ninrode é um termo genérico [na Arte] para a luta do ‘deus que habitava no interior ’ que ambicionava o Céu. Lúcifer, como a entidade instrutora na humanidade, pode ser igualado a Ninrode — a tentativa da personalidade humana em retornar à nossa glória prístina primordial. (1994:74) Essa declaração transforma as alegações feitas por algumas pretensas bruxas de que o Luciferanismo é apenas outro nome para o Satanismo e que ele não é em nada relacionado com a Arte em algo sem sentido.


Luciferianismo - Os Pilares Dos Sábios


Apesar de sua onipresença na simbologia da tradição mística ocidental, é extremamente curioso que o glifo do Olho que Tudo Vê (de Deus) até agora não tenha recebido nada além de uma interpretação simples.

Podemos presumir uma evasão duradoura da condição única do símbolo com um signo de mistérios pré-humanos dos Anciões. Além disso, com uma visão de total penetração e percepção transcendental, durante a “execução” das quais os véus da ignorância obscurecedora e da desilusão, que ocultam a essência da Realidade Suprema, são rompidos e totalmente destruídos. Esse é o verdadeiro ekpyrosis pelo Fogo do Conhecimento. Em resumo, o Olho que Tudo Vê é o hieróglifo original dos Vigias. Ele simboliza o nível mais alto da corrente arcana Luciferiana e, nesse contexto iniciático, ele age como um ponto de convergência para as diferentes correntes próximas da doutrina críptica. Isso é especialmente verdade porque ele simboliza o Grande Vigia ou Azazel-Lasifarus. O Olho sempre mostra a corrente de sabedoria provinda dos Vigias. Essa é a primeira revelação concedida à primeira humanidade pelos filhos de Deus ou os Caídos muitos éons atrás. Essas revelações foram expressas pelos privilegiados das espécies, mencionados pelos sacerdotes dos Yazidis como “a nação peculiar de Azazil” (Masaf-Ras. VI4).

Tipologias arcaicas do Oriente Médio atestam esse segredo; a palavra hebraico-caldéia para Vigilante é IR (OIR) e no plural é IRIN. Aqui existe uma conexão evidente com o substantivo IR-T, significando “um olho”. Em cóptico é YR. O Olho aparece entre os hieróglifos determinativos (não-fonéticos) como um símbolo que significa “vigiar, ver”. Adicionalmente, o glifo IR é representado por um olho. Plutarco, em De Iside et Os ir ide,18 menciona a forma IRI significando “olho”. Uma ligação evidente, portanto, é demonstrada entre o culto aos Vigias e o Olho Divino da corrente de Hórus no Egito antigo (pré-dinástico). Ele se liga especialmente à adoração de Hor-Khenti-Ir-ti ou “Hor19 que governa com seus olhos”. Desse primeiro símbolo de olho, deriva o formato “O” da letra fenicia, representando a pupila do olho e o símbolo dos primeiros Cainitas do Enu e da Arábia do Sul, de onde veio a letra hebraica Ayin - o olho. Correspondentemente, a letra Ayin é a primeira letra símbolo nos nomes de Azrael ou Azazel (OzaZAL) e no dos Vigias ou Irin (ORIN).

A raiz semítica OZ, que significa “um bode, vigor”, é formada por Ayin e Zayin, esotéricamente significando o Olho que Tudo Vê e a Espada Flamejante (empunhada pelo Querubim que expulsou Adão e Eva do Éden). Azazel foi o primeiro artista artesão do fogo e Senhor dos Metais, de acordo com a mitologia Luciferiana. A antiga tradição Yazidi / Gnóstica de que Azazel era uma serpente de sabedoria no Éden evoca o antigo pacto realizado embaixo dos ramos da Árvore da Sabedoria pelo primeiro homem e a primeira mulher - “seus olhos serão abertos e vocês deverão ser como Deuses”.

Uma nuance parecida de significado ocular é certamente evidenciada pela plumagem com olhos do pavão sagrado para Azazel-Lúcifer e Melek Taus e também pelos “Seres Viventes Sagrados” da visão famosa de Ezequiel. Eles eram esfinges aladas “cheias de olhos ao redor” (Eze- quiel 1:18). Além disso, o deus Mitraico do “Tempo infinito” com cabeça de leão Aion (Deo Arimanió) é descrito às vezes com um olho aberto em seu peito.

Entre os fiéis das antigas “Lojas de homens habilidosos”20 na velha Inglaterra, o Olho que Tudo Vê era o símbolo verdadeiro dos Vigias. Ele caracterizava o grau magistral ou “terceiro voto” dentro da Arte habilidosa, mas é para a emblemática linguagem da Maçonaria que devemos nos voltar para uma melhor compreensão dos mistérios associados ao símbolo. Todas as jóias usadas pelos grandes oficiais das Lojas de Rito Escocês possuem esse símbolo. Por exemplo, aquela usada pelo Grão-Mestre é descrita como: “Compassos abertos em 45° no segmento de uma circunferência nas pontas e uma placa de ouro compreendida na qual está um Olho radiante dentro de um Triângulo radiante”. Geralmente na Maçonaria o Olho que Tudo Vê é o símbolo do Mestre Maçom ou do Grão- Mestre de uma Loja. Ele serve para lembrar o maçom que o olho de Deus está sempre aberto e zelando tanto pela Loja quanto pela raça humana. Como Plínio disse: “Deus é todo olhos". É o símbolo principal do Grande Arquiteto do Universo que, no devido tempo, pesa toda alma na balança e julga a verdade de cada ação, pensamento e palavra humana enquanto estiveram encamados no plano terrestre. Na mitologia egípcia, essa era a função do deus Thoth, que era vigiado pelo Olho de Hóms.

Essa gnose encontrou um veículo de expressão particularmente dinâmico na Ordem dos Illuminati fundada na Bavária, perto do fim do século XVIII, por Adam Weishaupt e o barão von Knigge. O Grande selo dessa sociedade secreta política era o Olho no Triângulo. Ele representava a pedra Ben-Ben ou a pequena pirâmide do antigo Egito associada ao pássaro Bennu ou Fênix, que botou o ovo cósmico da criação. Foi alegado que, por causa da ação dos Illuminati e sua intervenção na Revolução Americana, o Olho que Tudo Vê e a pirâmide aparecem na nota de dólar. O projeto radical dos Illuminati visava a nada menos do que o estabelecimento do reino do Portador de Luz por meio da compreensão da divindade inata do homem, que Weishaupt acreditava ser o Mundo Perdido. O processo de iluminação era progressivamente alcançado dentro de um programa de nove graus, o mais alto deles era o do Homem- Rei no grau de Principatus Illuminatus, ou “Príncipe Iluminado”, em que a essência soberana da mais alta consciência era manifestada.

Atualmente, os Illuminati estão submersos em teorias de conspiração relacionadas a um suposto plano judaico para dominar o mundo, governos às sombras e fantasias relacionadas ao Satanismo. Foram escritas mais besteiras sensacionalistas e fantásticas sobre a Ordem que sobre qualquer outra organização secreta na história humana. Na verdade, os fatos são provavelmente mais estranhos que a ficção. Weishaupt era um jovem professor na Universidade da Bavária de descendência Judaica, um fato convenientemente ignorado pelos seus caluniadores modernos. Em 1774, ele foi iniciado na Maçonaria, mas logo ficou desiludido, quando percebeu que seus colegas na Loja desconheciam a significância oculta na Ordem e nada sabiam sobre o simbolismo pagão pertencente às antigas escolas de mistérios.

Weishaupt resolveu criar sua própria sociedade secreta e a baseou em sua própria visão política revolucionária de um estado utópico, um paraíso na Terra, em que as pessoas viveríam em harmonia. Esse estado seria dentro de uma irmandade universal baseada no amor livre, na paz, na sabedoria espiritual, na igualdade social e na liberdade de expressão religiosa. Weishaupt acreditava na tentativa de restaurar os seres humanos ao estado edênico de perfeição que existia antes da Queda do homem. Diferentemente de várias outras sociedades secretas, os Illuminati acreditavam em igualdade sexual e aceitavam homens e mulheres como membros em termos iguais. Essas crenças levaram Weishaupt a ser rotulado como um socialista pioneiro ou primeiro comunista. Na realidade, suas visões políticas tinham mais a ver com o anarquismo que com os excessos totalitários dos seguidores de Lênin e Marx no século XX, com sua sociedade escrava e seus campos de extermínio. Pelo fato de que naquela época os inimigos da paz, da liberdade religiosa e do amor livre eram a Igreja e, freqüentemente, as casas reais da Europa, Weishaupt promoveu postura de anticlericalismo e anti-realeza. Foram suas visões anarquistas e anti-autoritaristas que no fim levaram ao banimento da Ordem, considerada uma organização revolucionária e subversiva. Supostamente, os Illuminati tomaram-se clandestinos, mas seus agentes secretos tiveram um papel importante tanto na Revolução Francesa quanto na Americana. Muitos malucos por conspiração ainda alegam que a Ordem exerce um papel escondido por trás da face pública da política internacional.

Vários outros indícios abundantes da tradição Luciferiana serão encontrados na Cerimônia de Exaltação, existente na Ordem Maçônica do Santo Arco Real de Jerusalém. Essa ordem é derivada da revisão do Cavaleiro Arco Real do Rito de Heredom, do século XVIII, também conhecido como o “Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, Príncipes Maçons Soberanos”, que foi estabelecido em Paris em 1758. Na parte cerimonial da Maçonaria do Arco Real,* o iniciado desce pelos e nove “Arcos”, ou passagens abobadadas, do templo subterrâneo como divinamente revelado a Enoch. Tais passagens foram construídas pelo patriarca e seu filho mais velho Matusalém, na caverna da Montanha de Canaã. As passagens eram cobertas com símbolos mágicos e nomes divinos, e no nicho da “nona passagem” Enoch escondeu um “delta” dourado, ou triângulo, e uma “pedra de pórfiro branca”, que representa a semente- luz e o fogo cósmico trazido para a Terra por Lúcifer, como a pirâmide Ben-Ben. Sobre essa pedra, estava escrita a Palavra Secreta do Grande Mistério que simbolizava a sabedoria antediluviana dos Vigias.

Os três “principais” ou oficiais do Real Arco trabalhando representavam Zorobabel, Ageu e Josué, o príncipe, o profeta e o sacerdote, respectivamente. Suas jóias maçônicas eram “uma Coroa, um Olho e um Livro aberto, cada um cercado por um halo e colocados em um triângulo”. Púrpura é a cor simbólica do trabalho do Arco Real, que representa o sangue real. No antigo códice francês do Arco Real de Enoch também há menção de dois pilares imensos levantados pelo patriarca antes do Dilúvio e escritos com a tradição enigmática das “sete ciências”. Dizem que Enoch teve uma premonição do dilúvio e queria que o conhecimento nos pilares fosse preservado para o benefício de quaisquer sobreviventes.

Na obra Manuscritos de Cooke da Maçonaria, do começo do século XV, a construção desses pilares foi atribuída ao primeiro ferreiro Tubalcaim. Por essa razão, na tradição Luciferiana, eles são chamados às vezes de Pilares de Tubalcaim. Eles estão gravados com a sabedoria mágica das supostas “dinastias divinas”, os reis gigantes que eram instruidos pelos Iluminados das estrelas, os próprios deuses. Por essa razão, existe o significado secreto da disposição da Loja com seus dois pilares sagrados encimados com globos do Sol e da Lúa. Sobre a Loja, brilham a Estrela Flamígera e o Olho que Tudo Vê, o Iret ou símbolo dos Vigias dentro de urna auréola de raios de luzes e estrelas. Muito tempo antes da cultivação cavalheiresca e dos conceitos barrocos do século XVIII, a sabedoria mágica primária dos Pilares e do Olho, que supostamente vieram do antigo Egito após o Dilúvio, tinha sido sancionada na Inglaterra Saxônicapelo rei Althelstan. Dizem que ele foi o “predileto da Maçonaria”, como o Manuscrito Halliwell ou Poema Regius registra. A fusão do mito dos Vigias com as já preexistentes subeulturas pré-cristãs e de corporações de ofícios, algumas associadas a cultos de bruxaria indígenas, era evidentemente realizada em um período primordial na Inglaterra anglo-saxônica. Aproximadamente trezentos anos mais tarde, a herética Ordem dos Cavaleiros Templários transmitiu uma nova corrente intimamente ligada ao esoterismo dos Yazidis e persas na Europa, alimentando a tradição secreta da bruxaria e enriquecendo seu conteúdo hermético consideravelmente.

O Olho que Tudo Vê, situado no centro da testa do corpo sutil, análogo ao terceiro olho ou glândula pineal, é o centro da gnose do psiquismo e da iluminação. Ele se relaciona com a cimeira de esmeralda, a Arkhmardi ou “pedra na coroa” do Portador da Luz. Em termos cosmológicos, é a Sakhrat, a pedra verde ou “Lapis Smaragdus” que está no cume da montanha cósmica freqüentada pelos djinns, chamada de Qaf. Isso constitui o “eixo do mundo” axial da Estrela Polar do norte, o ponto de acesso para a Terra paradisíaca das Cidades de Esmeraldas “além do arco-íris”, o mundo de Hurqalya. Uma vez que a jóia da coroa caiu na Terra, ela foi guardada no castelo escondido no topo da Wildenberg, ou “montanha selvagem”, de acordo com o que Wolfram von Eschenbach explícitamente nos conta, por uma irmandade eleita de Templários do Graal.

Depois da destruição dos Cavaleiros Templários e do martírio do seu último Grão-Mestre, Jacques DeMolay, em 1314, o Prior do Templo e Marechal da Ordem Pierre d’Aumont reputadamente escapou com sete irmãos cavaleiros para a Escócia. Foi lá, dizem, que eles restabeleceram e preservaram os mais secretos mistérios da Ordem dentro de santuários maçônicos. Um dos primeiros membros da Ordem, Hugh de Payens, de fato se casou com uma integrante da família Saint Claire na Escócia, e um dos primeiros priorados templários foi estabelecido lá. Em continuidade a essa suposta sucessão templária ininterrupta, o barão Johann von Hund estabeleceu o Rito Maçônico Templário da Estrita Observância em 1754.

O barão von Hund tinha sido iniciado em uma Loja Maçônica convencional em Paris dirigida pelo lorde Kilmamock, o então Grão-Mestre da Maçonaria Escocesa, cujas Lojas alegavam ser as guardiãs da tradição templária. Em sua cerimônia de iniciação, von Hund alega que foi apresentado a uma personalidade misteriosa que era chamado de Cavaleiro da Pena Vermelha. Dizem que essa figura era conhecida como Príncipe Charles Stuart ou “Belo Príncipe Charlie”. Desde então, supostamente existiram ligações históricas entre a causa Jacobita, a Maçonaria e a Maçonaria Templária.

Jacques DeMolay tinha orquestrado cuidadosamente a sobrevivência dos Templários antes de sua morte na fogueira. Na noite anterior à sua execução, ele enviou um confidente a uma cripta secreta embaixo de um priorado templário em Paris, em que os corpos dos Grão-Mestres da Ordem anteriores estavam enterrados. DeMolay contou a seu ajudante que os dois pilares na entrada da tumba, que foram modelados a partir dos Pilares de Tubalcaim, e os dois pilares gêmeos na entrada do templo de Salomão eram ocos. Eles supostamente continham moedas de ouro e documentos secretos relacionados à história e às crenças secretas dos Templários. Esse “tesouro” foi aparentemente usado para financiar a sobrevivência futura da Ordem na Escócia.

Resta pouca dúvida de que o iluminismo primordial dos Vigias, cuja assinatura críptica é o Olho que Tudo Vê, fornece a base esotérica da Maçonaria Templária. O deus secreto dos Templários, o Baphomet (da palavra grega “Baphometis” ou “batismo de sabedoria”), resume toda a escala das formas evolucionárias. Essas formas variam dos atavismos de formas serpentiformes e de répteis e bestas comíferas até a humanidade e os anjos alados. A encarnação gnóstica de iluminação espiritual e conhecimento sobre-humano também é representada pelo símbolo do crânio com dois fémures cruzados, encontrado em capelas de Templários e em suas lápides. Com um fundo negro, esse símbolo também constituía a bandeira de batalha dos navios templários, que foi adotada mais tarde pelos piratas. Essa imagem de crânio e ossos é urna das várias ligações íntimas entre a Ordem e as antigas tradições de bruxaria. Nos altares dos modernos convéns tradicionais de magia, um crânio humano ainda representa o Deus.

O iniciado da gnose Luciferiana busca, por meio da iluminação mágica, aceitar ou compreender o Corpo Esmeraldino inextinguível dentro do qual ele ou ela poderá “abrir o Olho que Tudo Vê”. Uma vez aberto, ele dissolve o aparente mundo ilusório para revelar a Xvarenah, a luz do Primeiro Existente, o Reino Divino por trás da aparência visível do plano material de existência. Em um último contexto, o Olho que Tudo Vê deve representar a mente transcendente como a testemunha onisciente de todos os fenómenos. O silencioso Vigia imutável por trás de tudo isso é idêntico ao continuum imaculado de sabedoria.

A compreensão disso destrói os grilhões da ignorância na redenção da libertação mística. E a abertura do Olho Místico a que as profecias ousadas dos adoradores de anjos, os Yazidis, se referem. Como apontamos anteriormente, eles dizem que depois da Queda dos Vigias deverá haver uma Restauração. Em seguida, Azazel reconquistará seu estado divino e habitará mais uma vez no Paraíso. Essa é a promessa murmurada por esses antigos mistérios guardados como relíquias na tradição oculta do antigo Egito, Pérsia e Arábia, como são praticados nas criptas das preceptorias dos Templários, nas antigas abóbadas dos maçons, nas Lojas sombrias dos homens habilidosos e nos encontros sob o luar do domínio das bruxas.

Mais tradição Luciferiana é vinculada ao Mistério da Espada Oriental (provavelmente a cimitarra), que é a arma mística e mágica do quadrante ou estação oriental do fogo elemental no círculo da magia técnica. Ela é mencionada brevemente em uma referência no Velho Testamento, quando o Altíssimo “pôs querubins ao oriente do Jardim do Éden, e uma espada flamejante que se revolvia por todos os lados, para guardar o caminho da Arvore da Vida”. (Gênesis 3:24) Essa espada flamejante e giratória simboliza a purificação e a limpeza iniciática pelo fogo experimentadas por aquele que percorre o caminho tortuoso dos mistérios do Paraíso antes da realização de que o Novo Edén pode ser alcançado. O reflexo no mundo angelical é a espada flamejante de São Miguel, o capitão dos Bandos Divinos e o atual senhor da esfera solar. A significação secreta da espada Zayin é caracterizada por Azazel como o Senhor dos Metais e o Senhor da Foija. A pirotecnia e a arte da fundição são profundamente associadas à gnose dos Vigias, tanto espiritualmente quanto fisicamente. Como o epítome da criativa arte alquímica, elas estão entre as principais habilidades ensinadas aos primeiros humanos pelos Caídos. Longe de ser urna mera referência aos primeiros avanços utilitários na tecnologia primitiva, ela é uma metáfora clara que faz referência ao controle do “fogo interior”, a força sexual e a transmutação mágica de energia por meio do dinamismo criativo.

Ferreiros e feiticeiros sempre compartilharam de uma famosa identidade conjunta nas artes mágicas de muitas culturas. Várias culturas indo- europeias têm um ferreiro divino em seus mitos antigos que ensinou os segredos do uso do fogo para os humanos e que forjou as armas dos deuses. Exemplos disso são: Vulcano, Wayland, Hefesto, etc. No mito de Vulcano, seu pai Zeus ou Júpiter o jogou para fora do Céu e ele caiu na Terra. Na queda, ele machucou a pema e ficou coxo. Uma das denominações do deus de magia tradicional é o Deus Coxo. Vulcano também é casado com a deusa Vênus, a estrela da noite e uma consorte Luciferiana. No Xamanismo mongol e siberiano, invocações eram feitas ao misterioso “ferreiro branco”, que eles acreditavam ser o responsável pela criação dos tambores e outras ferramentas mágicas usadas para chamar espíritos. Em alguns ramos da Arte Tradicional, os instrumentos do ferreiro, como sua foija, tenaz, avental de couro, pregos e ferraduras, têm sido incorporados como símbolos ou ferramentas mágicas da gnose de magia.

A forma da letra hebraica Zayin, a lâmina da espada, é o fogo supra- cósmico que, como um raio ou relâmpago brilhante, “atravessa” o véu da necedade material. Ela sem exceção simboliza a sabedoria iluminativa por todo o mundo, da Celta-Arthuriana Calad-Vwlch (espada relâmpago) ou Excalibur e a Espada de Xangô até a adaga indo-tibetana phurba, usada nos ritos exorcistas da religião Bon. Na tradição secreta da Arte Tradicional da Inglaterra, dizem que a primeira athame (“arthany”, da palavra grega athanatos ou “imortal”), a lâmina ritual usada por bruxas para evocar e controlar espíritos, foi fotjada por Tubalcaim, o mestre de magia ancestral. QYN significa artífice de metais, pirotécnico ou “ponta de lança de ferro” na língua hebraica.

A espada Zayin pode ser alinhada através dos primeiros canais ca- naanitas com o hieróglifo egípcio de Neter, que significa “um deus” (Neteru para o plural) e representa a lámina de um machado. Essa arma parece ter sido preservada ñas formas hebraicas e árabes/sabéia da letra “Z”. Pode ser um glifo do “fogo caído do Céu”, o Bia-en-Pet, ou “metal celestial”. Como já vimos, o deus pré-dinástico Seth ocupava o papel do Senhor dos Metais nos mistérios quânticos, e a faca mágica de Seth era um dos seus atributos importantes. Além disso, de acordo com alguns textos antigos em papiro, o esqueleto de Seth era feito de ferro meteórico. Da mesma forma, dizem que os antigos “ancestrais estrelares” e os deificados “Ancestrais Veneráveis” de Hóms e Seth ou Ancestrais Antigos possuíam ossos com ferro nascido nas estrelas ou lançado das estrelas.

Isso faz lembrar os esqueletos de ferro usados em vestes cerimoniais dos praticantes do Mantícismo do povo Yakut. Essas vestes simbolizavam a iniciação de morte e renascimento do xamã, durante a qual sua “capa de pele” é retirada de seus ossos e seu esqueleto é desmontado. Ele é remontado usando ferro para ligar os ossos. Isso pode ser relacionado com as antigas crenças Xamânicas em relação ao Homem-Ferro-Pilar, ou axis mundi, que conduz ao domínio dos deuses estrelares em relação à escada feita de lâminas de espadas que ascende ao Céu. (Eliade, 1964:36, 263, 426) Na mitologia Celta, a entrada na Terra que conduz à terra dos mortos é às vezes descrita como “a ponte de espadas”. Esse tema dos “ossos de ferro do feiticeiro” é evidentemente de grande antiguidade transcultural.

Geralmente o simbolismo místico e oculto dos metais revela uma verdadeira teofania metalúrgica e alquímica presente na magia egípcia, com relatos de qualidades esotéricas específicas de cada metal. Anti, o deus falcão do 12° e do 18° nomo, possuía ossos de prata que eram expostos quando ele era esfolado como castigo.

Um relato antigo nos conta que “Quanto aos seus ossos, eles existem pelo sêmen do seu paf \ Hedj ou prata, nesse contexto, é o osso- semente lunar seminal dos Neteru e é sagrado ao deus da Lua de Tebas Khonsu. Neb ou ouro é “carne divina”. Rá, por exemplo, é descrito como tendo ossos de prata, carne de ouro e cabelos de turquesa. Ferro, no entanto, é a semente estrelar das Sete Estrelas (Ursa Maior) governadas pela mãe de Seth, Nut. Prata é a semente branca da Lua, e ouro é a semente vermelha do sol, frequentemente igualada ao fluxo menstruai feminino.

Outras ligações metalúrgicas com Azazel e sua hipóstase Tubalcaim são encontradas na tradição quântica. Eles preservaram nas inscrições do templo de Edfu, as quais relatam os mitos de Hórus-Behutet ou Hórus, “que habita no disco”. Ele era adorado nessa forma em seu centro sagrado de Edfu como o “Senhor da Cidade da Foija”, possivelmente um título copiado da sua nêmese sombria Seth.

Lewis Spence escreveu que: “Em Edfu, o grande disco de ouro (...) foi forjado, como vemos a partir de certa inscrição, e no templo daquela cidade havia uma câmara atrás do santuário chamada Mesnet, ou Fundição, em que a casta ferreira de sacerdotes acompanhava um deus". Os seguidores divinos de Hórus-Behutet são mencionados nos textos do templo como Mesnitu ou trabalhadores de metal. Podemos identificar afinidades com os mitos Cainita e de Seth com: “Hórus-Behutet chegou e seus seguidores, que estavam atrás dele em formas de trabalhadores de metal, cada um tendo em sua mão uma lança de ferro e uma corrente”. O deus Thoth também proclamou as vitórias de Hórus como o Habitante no Disco [solar]: “Os Domínios Intermediários deverão ser chamados pelos nomes desses ferreiros (...) e o deus que habita entre eles (...) deverá ser chamado de Senhor de Mesnet”. O simbolismo oculto do trabalhador de metal ou artífice de metal e seu deus ferreiro é consequentemente um aspecto importante no mito Luciferiano, associado tanto com a Espada Flamejante quanto com os Pilares de Tubalcaim.


Luciferianismo - Fora Do Espaço e Do Tempo

Uma legítima compreensão dos mistérios dos Vigias ou dos Caídos e, consequentemente, da paternidade de seus descendentes gigantes depende do entendimento de certas doutrinas profundamente secretas. Essas doutrinas enunciam uma metafísica de liminaridade que define todo o Absoluto como o Outro, estando situada além de nossos horizontes terrenos humanamente condicionados de percepção e atividade mental. As águas primárias, representadas pela letra hebraica Nun, alongando-se de forma desconhecida em direção à infinidade perto da “bolha” finitamente delimitada do mundo-ilha, oferecem tal paradigma. Ele sugere o abismo antigo do firmamento oculto como a origem e a fundação de todas as coisas, a origem não manifestada do manifestado, de onde toda a criação surge e sobre a qual ela repousa.

Outra metáfora é aquela das Terras Despovoadas, a antiga terra incógnita, ou “terra oculta”, cercando o Cosmos finito, um reino diferente da experiência normativa e totalmente contrária aos estados comuns de consciência. Elas são o domínio das bestas e dos espíritos, aquelas máscaras em forma de animais do Outro Lado do ser que são feições verdadeiramente não-humanas dos Antigos ou Deuses Antigos - os “Deuses de Fora”. No mundo da realidade visível, o uso de máscaras de animais em rituais tem sempre sido um método de conseguir contato com as formas atávicas de deus. Na tradição oculta e nas religiões antigas, os animais eram considerados como “as primeiras formas percebidas” da corrente primária de consciência que provêm de uma fonte extraterrena. Eles eram, na verdade, a forma primária das energias cósmicas ou “deuses”, suas formas de deus prosaicas e a suposição, mais tarde, de que o uso dessas formas pelo homem foi um meio mágico de contatar o fluxo de consciência que primeiro penetrou este planeta a partir de “fora”. (Grant, 1973:16- 17) Isso sobreviveu na representação simbólica dos deuses antigos egípcios, em forma humanóide, mas com as cabeças de seus respectivos totens animais sagrados.

As Terras Desoladas são o lugar desconhecido pelos humanos habitado por demônios, espíritos e o Deus Antigo. Elas também são o vácuo imprevisível dos “espaços externos”. Com isso, o ciclo anual de estações, conhecido como a Roda do Ano, encapsula uma execução repetida da re-emergência rítmica, o término e a renovação do mundo a partir daquele território incompreensível do Ser (o Primeiro Existente), a cúspide do Ano-Novo representa a re-absorção do Todo em Um. É o interstício liminar, ou vácuo vazio, que se abre além da temporalidade serial e as dimensões regionais no “tempo entre tempos”. Não é coincidência que no uso popular os Doze Dias (o período entre o solstício de invemo/Natal e Ano-Novo) são marcados por celebrações desordeiras e anárquicas representando “Senhores da Desordem”, transvestismo, doces ou travessuras, o uso de máscaras de animais e todas as formas de “ações abagunçadas”. Essa “Grande Sensação de Não Ser Nem Uma Coisa Nem Outra” significa a negação absoluta e total dos limites condicionais, convenções e definição aparente entre este mundo e o Outro. É a destruição das divisões ilusórias entre estados de entidade na suprema Teose13 e o Grande Mistério da magia antiga. Nessa divisa liminar, as fronteiras que usualmente separam vida e morte, passado e futuro, dentro e fora, humano e não-humano parecem ter desaparecido ou parecem que nunca tiveram uma realidade intrínseca. Há uma reversão ao estado original de não-dualidade do ser, a sublime fonte não manifestada de toda a manifestação. 

O Livro de Enoch conta-nos que, depois da Queda, o anjo Azazel foi enviado para habitar o deserto mais distante, o deserto de Dudael, além do “limite do mundo”. Esse é o exílio do excluído e do banido. E Azazel e seus companheiros demonios são concebidos como quem caracterizam a natureza da pura Diversidade, como “assombradores dos espaços extemos”. Isso é visto na oferta ritualística do bode expiatorio sacrificatorio para Azazel, que até o ano 70 d.C. era enviado na vastidão do deserto no Ano-Novo Judaico. As terras temíveis, quase literalmente as “terras erodidas e inférteis”, que se situam “do lado de fora”, desprovidas de presença humana, por comparação análoga são um exemplo perfeito do reino do deus com máscara de bode, o Comífero, o Grande Vigia peludo das Térras Desoladas, com sua comitiva endemoninhada de entidades hirsutas, semi-animais, semi-homens, conhecidas como seirim ou “peludos”.

Ligada a esse padrão metacósmico, encontra-se a antiga divisão da terra antiga do Egito - e por reflexo o Universo - em Kmt, a Terra Negra que é produtiva com as férteis lamas do Nilo e cultivada por humanos, e Deshret, a Terra Vermelha (Desher = vermelho), o deserto ao sul governado pelo Vermelho. Ele é o forasteiro ou estrangeiro divino Seth. Uma raça peluda de bode, conhecida como os serau, era sagrada para Seth e o ligava tanto com Azrael/Azazel quanto com o centro de adoração de bodes em Mendes. G. Hart menciona que Seth era acompanhado de bodes, sacrificados em Busiris, cujo sangue era derramado sobre a terra.

Seth, Set ou Sut significa quase literalmente “preto” e é, às vezes, chamado de “o negro” ou “o queimado”. Essa é uma referência críptica dupla ao Egito, como Khem ou Khemu - “a terra negra” - e a fertilidade abundante nas margens do Nilo que permitiu que a civilização florescesse no deserto inóspito. Foi a partir de historias medievais e propaganda cristã sobre o Egito Antigo como a terra de demonios e magos que recebemos nossos termos modernos “magia negra” e “bruxaria”. A palavra “Alquimia” (al khem ia) também vem do velho nome para o Egito porque as ciências da Química e da Metalurgia eram praticadas lá desde tempos antigos. Seth também é conhecido como “o negro” ou “o queimado” porque representa simbolicamente o calor queimante do sol do deserto.

Uma análise dos símbolos e mitos acerca de Seth revela certos atributos e conexões Luciferianas interessantes. Para começar, acredita-se que ele é a divindade masculina mais velha no panteão egípcio. Isso é representado em um comentário no Livro dos Morios egipcio, que declara: “Os poderes de Seth, que pereceu, eram maiores dos que os poderes de todos os outros deuses”. Seth era o filho da deusa primária Sept, “sete”, que era associada às sete estrelas da Ursa Maior, e dizem que nasceu na forma de um raio de luz. Sept é identificada com a deusa estrelar Nut ou Neith e aparece no livro Apocalipse como o dragão de sete cabeças. (Grant, 1973:226) O culto a Seth era realizado desde os períodos pré-dinásticos, e acredita-se que ele se desenvolveu na Africa. Os Sabeus, adoradores árabes dos deuses estrelares, supostamente o adulteraram. Por essa razão, Seth sempre foi considerado como o deus dos estrangeiros. Os sabeus adoravam a mãe dele, a Deusa das Sete Estrelas, e também seu filho Seth, considerado como a estrela-cachorro, Sírio ou Sothis. Tempos mais tarde, Seth tomou-se filho ou irmão de ísis, e ela adotou Sírio como seu símbolo estrelar. Também foi sugerido que Thoth originalmente era Sírio e idêntico a Seth. (Grant, 1975:45 e 1972:60)

Seth é produto de uma partenogênese e não tem pai; portanto, ele é simbolicamente o primeiro arquétipo de bastardo e outra forma de forasteiro ou banido social. O centro do culto a ele era originalmente em Nebet, ao lado do Nilo, ao norte de Luxor, e governava o Alto, ou do sul, Egito. Ele era conhecido como o Senhor do Deserto, o deus do trovão e o regente dos metais. Na verdade, o minério de ferro era ffeqüentemente conhecido como “os ossos de Seth” e Nebet era o começo de uma estrada de abastecimento que conduzia as antigas minas de ouro no deserto. Os símbolos e as formas zoomórficas do deus são elementos importantes para a compreensão da sua natureza e atributos. Por exemplo, ele era associado ao signo de Capricórnio e, na astrologia egípcia, tal signo era chamado de a Casa de Seth. Seus outros símbolos incluíam o pentagrama reverso, ou invertido, conhecido como a Estrela de Seth, o hexagrama, chamado de Selo de Salomão, a estrela de sete pontas, que era o símbolo da Grande Fraternidade Branca e a deusa Ishtar, e a Cruz Tau.14 Outros símbolos de Seth eram o pilar, ou menir, simbolizando o axis mundi ou o pilar do mundo, a cimitarra, ou “espada curvada”, e a segadeira. Um hieróglifo importante usado para representar Seth era a serpente com cabeça de leão, que simbolizava a união dos poderes lunares e solares. (Grant, 1973:12)

Seth ganhou uma imagem negativa, como o inimigo dos Deuses e humanos, mais tarde nos períodos dinásticos, e era considerado um oponente à dinastía solar de Osíris e seu filho Hórus. No entanto, seu culto recebeu um impulso, quando o Egito foi invadido pelos hicsos, chamados de “reis pastores”, por volta de 1670 a.C. Eles associaram Seth com o seu deus tempestade da fertilidade Baal. Nesse processo, Seth ganhou duas esposas, Anat e Astarte (As - tar - te), do mesmo panteão. Quando os hicsos foram derrotados, depois de quatrocentos anos de ocupação, todas as imagens de Seth foram destruídas, e era proibido escrever ou pronunciar seu nome. Os hicsos adoravam Seth sob o nome de Sutekh, mas originalmente, como um “viajante ñas térras desoladas”, ele era adorado principalmente por caçadores nômades. Foi alegado que os sacerdotes de Seth eram originalmente astrónomos, o que se adequaria ao papel antigo dele como deus chefe do culto estrelar e também os arquitetos das “montanhas dos deuses estrelares” ou pirâmides. Se esse era o caso, então Seth teve um papel mais importante na historia e mitologia do antigo Egito do que é sugerido por sua imagem posterior de uma personificação do mal.

Na mitologia egípcia, Seth é mais bem lembrado pelo seu papel na morte de Osíris. ísis e seu irmão/esposo Osíris sentavam no trono do Egito pré-dinástico como os primeiros faraós. Nesse papel, eles eram sábios governantes e modelos culturais. Antes do reinado deles, diziam que as pessoas do delta do Nilo eram como bárbaros selvagens viciados em canibalismo e práticas sexuais pervertidas. ísis e Osíris estabeleceram um código legal, construíram templos e apresentaram a forma correta de adoração aos Deuses. Osíris ensinou agricultura aos seus súditos e como fazer ferramentas para cultivar a terra para plantações. Ele também os ensinou a plantar vinhas para produzir vinho e plantar cevada para produzir cerveja. Aset ou ísis instruiu as mulheres egípcias nas artes de fiar linho, tecer tecidos e moer cereais. Ela também era uma especialista nas artes medicinais e passou seus conhecimentos para suas servas e sacerdotisas dos templos construidos pelo marido déla.

Por causa das ações civilizatórias, o povo egípcio amava seus governantes benevolentes e eventualmente eles foram deificados e adorados como seres divinos. O rival e irmão gêmeo de Osíris, Seth, no entanto, tinha inveja do sucesso deles e tramou para destronar o casal e tomar o trono. Em grego, Seth era conhecido como Typhon, que significa “orgulho”. Ele supostamente conspirou com a Rainha da Etiopia e outras pessoas de dentro da corte para destruir Osíris. O deus negro secretamente mediu seu irmão e fez um esquife ricamente decorado que comportaría o rei perfeitamente. Quando Osíris retomou de uma viagem ao exterior, Seth organizou uma festa em sua homenagem. No banquete, ele disse que daria o esquife decorado de jóias para a pessoa que se encaixasse perfeitamente nele. Todos tentaram sem sucesso, até que Osíris se voluntariou e entrou no esquife. Imediatamente Seth e seus comparsas fecharam com força a tampa e a selaram com chumbo derretido. Depois jogaram o esquife no Nilo e Seth se tomou o novo governante do Egito.

isis ficou obviamente devastada quando ouviu as notícias sobre o assassinato brutal do marido. Ela sabia que, se o corpo dele não fosse encontrado e enterrado com os ritos funerais adequados, seu espírito preso à terra não entraria no mundo subterrâneo. Em vez disso, seu espírito iria vagar pelo mundo mortal, como um espírito mundano. ísis então partiu na busca do corpo de Osíris. Ela eventualmente encontrou o esquife na cidade fenicia de Tiro, onde ele tinha sido levado pelas águas e se alojado em uma tamargueira. A árvore tinha sido derrubada e constituía um dos pilares do palácio da rainha Astarte. ísis tomou-se uma serva no palácio e eventualmente resgatou o esquive e o corpo do seu marido.

De volta ao Egito, ela colocou o corpo em um lugar seguro, mas Seth estava caçando um dia e o encontrou. Em sua furia, ele desmembrou o cadáver do faraó morto e o espalhou em 13 pedaços pelo Egito. Em tempos antigos, isso era um ritual reconhecido quando um rei divino era sacrificado. ísis viajou longe para achar cada parte do corpo e, em cada lugar que ela enterrava uma parte, construía um santuário. A décima terceira parte - o órgão reprodutor, conhecido popularmente como o Talismã de Seth-, nunca foi encontrada, por ter sido engolida por um peixe. ísis fez uma réplica em ouro dele e enterrou essa representação do órgão sexual do marido em 

Mendes. Seth é por vezes associado com o deus anão coxo e corcunda Hoor-paar-kraat e é descrito como “o órgão genital de Osíris”.

Hórus, o filho de Osíris e ísis com cabeça de abutre ou falcão, buscou vingança pela morte de seu pai. Ele e Seth lutaram pelo controle das Duas Terras do Egito. Em algumas versões, Hórus governava o Baixo Egito (o norte fértil) e Seth governava o Alto Egito (as regiões desertas ao sul). Seth foi finalmente derrotado e simbolicamente sofreu uma “queda” abaixo do horizonte (simbolizada pela cruz Tau), onde ele se tomou o Senhor das Terras Escondidas. De certa forma, ao matar Osíris, Seth fez com que o deus solar tomasse seu lugar como o deus negro do mundo subterrâneo.

Depois da “queda” de Seth, ele ficou associado ao inverno, à escuridão e à morte. Na verdade, o mito inteiro envolvendo Osíris, Seth e Hórus é uma história de luta entre a religião patriarcal solar e o antigo culto estrelar centrado na deusa. Sendo que a primeira tomou o lugar da segunda. E um clássico exemplo de como os deuses da religião antiga são degenerados e transformados em demônios da nova religião. O primeiro deus único de Horizonte Duplo foi dividido em dois, e Seth se tomou o duplo divino ou o gêmeo negro, o segundo em importância, de Osíris- Hórus. Seth tomou-se o Senhor do Ocidente (o sol poente ou morrendo), e Hóms era o Senhor do Oriente (o sol nascente ou renascido). Seth ou Sírio era conhecido como “a Luz na Escuridão” e, em alguns dos mais iluminados períodos da história egípcia, ele e Hórus eram adorados ao mesmo tempo. Eles eram unidos como Sut-har e representavam o primeiro deus do Horizonte Duplo como uma entidade. Dizem também que, nos ritos dos mistérios egípcios, o candidato era levado para dentro de um santuário interior, e um sacerdote sussurrava em seu ouvido a aterradora revelação de que “Osíris é um deus negro”.

Referindo-se à “queda” simbólica de Seth, Albert Churchward, em seu livro Origin andEvolution of Religión15 (1924), diz: “Seth era considerado um líder caído das multidões angelicais porque ele tinha sido o primeiro na glória e no poder governante...” Churchward, além disso, identificou Seth com o Anjo Pavão adorado pelos Yazidis. Ele lembra o fato de que os Yazidis acreditavam que “existe uma restauração, assim como uma queda”, e o Rei Anjo será restaurado ao seu lugar de direito no Céu.

Seth também era conhecido como o “filho (ou sol) atrás do sol”, “o sol negro” e o “sol da meia-noite”. Isso se relaciona com o simbolismo do deserto, onde tanto ele quanto Azazel habitaram. Na Cabala, é a “imensidão do tempo e do espaço que divide a sefirah Tiphareth (o centro solar) na árvore da vida da sefirah mais alta Kether”. (Grant, 1973:47) Tiphareth é a esfera da influência associada ao rei divino sacrificado, ou “filho de Deus”, tal como Osíris, Jesus, etc. Kether é o local do Absoluto ou Deus Oculto além do Abismo. O ocultista do caminho esquerdo e chefe da Tifoniana O.T.0.16 Kenneth Grant descreveu a extremidade do abismo como “o Deserto Vermelho de Seth; a mesmíssima extremidade na direção da qual os Grandes Antigos têm guiado o espírito humano durante éons de tempo, na verdade, na direção da qual todos os sistemas verdadeiros de conhecimento oculto, místico, espiritual e mágico preparam para guiar seus aspirantes”. (1992:131)

A forma zoomórfica tomada por Seth sempre intrigou os egiptólogos. Ele foi descrito como “uma besta estranhamente composta (...) ele tinha uma longa cauda aforquilhada posicionada rigidamente para cima, sua face tinha um focinho ou nariz curvado e estendido, e suas orelhas para cima, mas com pontas agudamente achatadas”. (Barratt, 1992:127) A primeira vista, ele não parece lembrar nenhum animal conhecido. Alguns analistas o viram como um burro, mas Grant diz que é um feneço ou raposa do deserto. Em hebraico, é a Shugal, a Uivadora do Deserto. Um outro animal relacionado a Seth é o camelo, como “o navio do deserto”. Na cultura árabe, esse animal é símbolo da genitália feminina. Dizem que, quando o anjo negro Samael “desceu [à Terra] com seus bandos”, buscou uma companheira como ele. Infelizmente ela tinha a aparência de um camelo. Expressivamente, o camelo também significa morte ou, mais propriamente, transmutação e, na demonologia Judaica, Samael é o anjo da morte.

A letra hebraica “Gimel” significa “camelo” e é atribuída ao décimo terceiro caminho ligando a sefirah na Árvore da Vida. Na realidade, ele marca o ponto de travessia para o Daath, ou Véu do Abismo, que leva a Kether, o Grande Não Manifesto em que o humano simples é transformado em Adam Kadmon, o Homem Celestial. Gimel é esotéricamente ligada a Aleph e Beth. No Taró, essas letras são associadas respectivamente com O Louco e O Mago. Para o não iniciado, essas duas cartas parecem ser opostas, mas o iniciado identifica as duas apenas como aspectos do mesmo estado de ser. Ao “atravessar o abismo”, o explorador é transformado de urna simbólica criança inocente em um “tolo sábio”. Ele ou ela é alguém cujos “olhos foram abertos”, e eles se tomam um mago no sentido verdadeiro desse termo extremamente mal usado. Um dos símbolos menos conhecidos de Seth é a cruz com braços iguais em um círculo ou Marca de Seth ou a Marca de Caim. Ela representa “a travessia mostrada pelo pólo ou axis setentrional, ou seja, a morte, a Passagem do Abismo”. (Grant, 1977:211)

Grant simbolicamente associou o Deserto de Seth com o deserto Gobi, na Ásia, mas sem se aprofundar no assunto (1999:41). De fato, o Gobi é supostamente o local ou entrada neste mundo para a cidade lendária e mítica de Shambhala. O também conhecido como Vale dos Imortais supostamente é uma região verdejante escondida no deserto ou no interior das montanhas cobertas de neve do Himalaia. No famoso romance e filme pré-guerra de Hollywood Horizonte Perdido, ele era chamado de Xangrilá, e esse nome veio a significar qualquer utopia ou paraíso terreno escondido do observador extemo. Shambhala é um dos muitos mitos relacionados a cidades ou terras misteriosas que estão normalmente ocultas da visão humana ou que agora estão desaparecidas embaixo das areias cambiantes de desertos ou nas profundezas do mar. Em muitos mitos, esses lugares sobrenaturais eram habitados por bruxos e feiticeiros que desafiavam os deuses e foram destruídos pela sua imprudência.

Shambhala é incomum nesse sentido, já que ela nunca foi destruída e ainda existe. Há muitos relatos de viajantes que encontraram por acaso a cidade que às vezes parece existir no plano físico e outras vezes, no Outro Mundo; por essa razão, um dos seus nomes é “Oásis de Luz”. Ela foi chamada de “o reino secreto dos sábios” e, na tradição oriental, é o lar de um grupo de elite de mahatmas, “grandes almas”, ou Bodhisattvas.

Esses adeptos são alegadamente humanos avançados com poderes sobre-humanos e sobrenaturais que completaram seu ciclo de evolução neste planeta. No entanto, eles preferiram reencarnar em “capas de pele” para auxiliar no progresso espiritual da raça humana. Eles são guiados por um misterioso ser imortal, possivelmente não-humano, chamado o Rei ou Senhor do Mundo, e estão também associados às Nagas, ou “pessoas serpentes”. As Nagas são supostamente uma raça espiritual avançada, possivelmente das estrelas, que se casou com a raça diferente dos humanos no passado antigo, na maioria das vezes com reis e rainhas. (Tomas, 1977:62)

O antigo livro persa Shahnameh, ou Livro dos Reis, descreve como Yima, o filho do Mestre do Mundo, viveu em uma fortaleza ou cidade subterrânea com seu povo, que eram descritos como Arianos ou “de sangue puro”. O deus Abura deu a Yima uma visão de uma grande enchente futura que destruiría a humanidade. Em uma cópia ou, para dizer melhor, em um primeiro modelo da história bíblica de Noé e a arca, Yima foi instruído a recolher um espécime de cada planta, peixe, animal e ave, mais mil casais humanos. Ele deveria levá-los para sua cidade subterrânea para que a Terra pudesse ser repovoada depois do dilúvio.

Na tradição esotérica ocidental, Shambhala é também associada à “pedra negra”, supostamente de origem extraterrena, e a uma torre, que é seu local de repouso terreno. Dizem que essa pedra pertenceu temporariamente ao Rei Salomão. Na década de 1920, o explorador, artista e ocultista russo Nicholas Roeoh levou um fragmento dessa pedra para Nova York, em uma missão política, para ajudar na fundação da fadada ao fracasso Liga das Nações. De acordo com uma fonte oriental, quando a pedra está em seu lugar de direito dentro da cidade escondida, dizem que, “como um diamante, ela irradia a luz na Torre do Senhor de Shambhala”.

Kenneth Grant também associa Seth à serpente de fogo ou força da serpente (kundalini) levantada pelos ocultistas durante os ritos de magia sexual. Então o calor do deserto representado pelo deus pode também ser entendido como o calor da sexualidade. Grant alega que “a corrente mágica iniciática é manifestada no Egito como o culto Draconiano, o culto do Dragão ou Serpente de Fogo. Esse culto representa a primeira forma sistemática dos primeiros mistérios africanos, que os egípcios aprimoraram em um poderoso sistema adaptado de ocultismo, que finalmente amadureceu nos tantras da índia, Mongólia, Tibete e ChincF (1975:50).

Isso se conecta à chamada “perda da inocência (sexual)” pelos primeiros humanos, que está presente no mito do Jardim do Éden. Conforme se alega, o conhecimento proibido usado pelo culto Draconiano era baseado na relação sexual com espíritos com características vampirescas, de súcubos ou íncubos. Tais técnicas mágicas fazem-nos lembrar as primeiras relações sexuais entre os Vigias ou anjos educadores e suas estudantes humanas. Não é de se estranhar que as religiões sistematizadas sempre condenaram o relacionamento com “demônios” do “lado de fora”, e a tradição folclórica popular desaprovava os supostos “casamentos de fadas, que levavam os participantes humanos a ganhar conhecimento oculto e poderes psíquicos. Talvez não seja coincidência o que diz a tradição rústica, ou seja, que as fadas, elfos e duendes são as almas dos anjos caídos que caíram na Terra.

No Egito, acreditava-se que todas as terras estrangeiras estavam sob o domínio de Seth como o deus dos estrangeiros. O que está implícito aqui é o que é diferente ou estranho no sentido verdadeiro da palavra latina alienus, que significa forasteiro ou estrangeiro. Essa idéia está mais bem resumida na frase de um conto de Edgar Alian Poe como a “selvagem, estranha região que se encontra de forma sublime, fora de espaço e fora de tempo”. Há o título iniciático gnóstico de Alógeno - estrangeiro ou nascido no exterior-, que indica que o adepto finalmente ultrapassou as fronteiras do Universo profano. Eles são agora um estrangeiro ou forasteiro que se libertou dos sistemas normativos de valores terrenos e realidades convencionais. Eles alcançaram o estado dos Psykhikoi, que confere a compreensão da essência do verdadeiro eu “fora” de todas as coisas, estados e condições concebíveis. Ele ou ela se tomou um “viajante nas terras desoladas” ou no deserto, como Seth, Azazel, Caim e Jesus. Infelizmente, aquele que é espiritualmente liberto é freqüentemente visto como um “estranho em sua própria terra” ou um excluído social pela xenofobia primitiva da sociedade humana. Tristemente, isso em geral condena à fogueira, à forca ou à cruz aquela pessoa banida, que é diferente dos seus pares.


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Luciferianismo - O Senhor Da Estrela Da Manha

Na Biblia, existe apenas uma referência explícita ao arcanjo e ser celestial conhecido popularmente como Lúcifer. Em Isaías 14:12, o profeta diz: “Como caíste do céu, ó Lúcifer, filho da manha Essa frase tem sido vista por alguns estudiosos bíblicos como uma referência a um rei da Babilonia e sua queda do poder. Hoje o nome Lúcifer se tomou intercambiável com o demonio cristão Satã, mas uma análise cuidadosa desse ser divino sugere que ele tem pouco ou nada a ver com esse conceito dualístico de mal cósmico. Como Aleister Crowley disse: “Essa serpente, Satã, não é o inimigo do Homem, mas Ele que fez Deuses de nossa raça, conhecendo o Bem e o Mal; Ele ordenou ‘Conhece a Ti Mesmo! ’ e ensinou a Iniciação” (Magick in Theory and Practice).

Uma visão alternativa de Lúcifer também pode ser encontrada em Aradia: o Evangelho das Bruxas, compilado pelo folclorista americano na década de 1890. Uma bruxa toscana chamada Maddalena supostamente forneceu o material desse livro para Leland e alegou seguir tradição familiar hereditária no norte da Itália. Essa tradição de magia parece ter sido uma combinação rica do paganismo etrusco e romano ainda existente e de magia popular revestida com um toque de Cristianismo e elementos gnósticos. Essa tradição é única se a compararmos com a Wicca moderna em seu ponto de vista anticristão, com Cristo e a Virgem Maria sendo rejeitados como “falsos deuses”. No Evangelho, a bruxa é enaltecida a dizer aos membros do clero que “Seu Deus, o Pai e Maria são três demonios (..) porque o verdadeiro Deus, o Pai, não é o seu”.

No primeiro capítulo do livro, é contada a historia de como a deusa clássica romana da Lua e da caça Diana engravidou e deu à luz uma filha chamada de Aradia ou Herodias. É assim contado: “Diana amava muito o seu irmão Lúcifer, o deus do Sol e da Lua, o deus da luz (esplendor), que era vaidoso por sua beleza, e que pela sua vaidade foi expulso do Paraíso. Diana teve com seu irmão uma filha, a quem eles deram o nome de Aradia (ou também Herodias)”. A missão de Aradia era encamar na terra e ensinar aos camponeses oprimidos pelo sistema feudal as artes mágicas, para que eles pudessem combater os nobres corruptos e os padres maldosos. Nas palavras de Diana para sua filha: “É verdade que você é sem dúvida um espírito, mas você nasceu para se tomar uma mortal novamente. Você deve ir à Terra abaixo e ser uma professora para mulheres e homens que têm anseio de estudar bruxaria em sua escola.’’’

Diana diz a Aradia que ela nunca será como a “filha de Caim” ou os Judeus e ciganos que vagam pela Terra. Curiosamente, o Evangelho também possui uma conjuração de Caim, que dizem estar preso na Lua. Na tradição esotérica, a Lua é observada às vezes como o lugar aonde os espíritos dos mortos vão, como uma escala para o mundo espiritual. Caim é descendente de Vigias e aqui ele é intimamente associado tanto a Lúcifer quanto a uma deusa da Lua pagã em um mito que é uma variação da história dos anjos caídos.

O Evangelho também inclui um mito de criação, envolvendo Diana e Lúcifer, que possui alguns aspectos gnósticos impressionantes e elementos sobre Vigias. Ele afirma que Diana foi criada antes de toda a criação e “nela estavam todas as coisas”. A partir dela mesmo, as trevas iniciais, ela se dividiu em luz e trevas.

Lúcifer, descrito como seu irmão, filho e outro eu, era a luz. Quando Diana viu a luz, esta era tão bonita que Diana imediatamente se apaixonou por ela. A deusa queria receber a luz de volta dentro dela e tremulava de desejo. Esse desejo foi a aurora. Infelizmente, Lúcifer, como um rato diante de um gato, fugiu dela.

De acordo com o Evangelho, Diana foi consultar “os pais e as mães do Começo”. Eles são descritos como “os espíritos que existiam antes do primeiro espírito”, soando como versões dos Deuses Antigos. Eles disseram a ela que, para conquistar o coração de Lúcifer, ela deveria descer à Terra e se tomar uma mulher mortal. O Evangelho prossegue dizendo que, depois que a Terra foi criada e Lúcifer caiu do Céu, Diana encarnou em forma humana. Ela ensinou magia e feitiçaria “às crianças da Terra”. Dos ensinamentos dela, surgiram todas as bruxas e também as fadas e os duendes.

Naquela época, Lúcifer tinha um gato de estimação que ele amava sobre todas as outras criaturas e dormia com ele em sua cama todas as noites. Diana mudou sua forma para a forma do gato e engatinhou para a cama de Lúcifer. Uma vez na cama, ela voltou para forma humana e fez amor com ele. Quando Lúcifer acordou de manhã, ele percebeu o que tinha acontecido e que a luz tinha sido conquistada pelas trevas. Ele ficou muito bravo, mas a deusa o acalmou com um feitiço poderoso chamado Canção da Noite. Ela cantarolou a canção com os lábios fechados, parecendo um zunido de abelhas, um peão ou uma roda de fiar. E Diana esticou todas as vidas dos homens em sua roda de fiar (A Roda da Fortuna no Taró), e era o encantado e fascinado Lúcifer que rodava a alça.

Uma versão levemente diferente da descrita é dada pelo mago hermético do século XVI Giordano Bruno, que foi martirizado pelas suas crenças pagãs pela Inquisição em 1600. Ele disse: “Vão épossível ver o Sol, o universal Apollo, luz pura, em sua melhor e mais alta forma. E possível, no entanto, ver a sombra dele, a Diana dele, o mundo, o Universo, a natureza, que está dentro das coisas [o anima mundi ou ‘espírito do mundo’], que é a luz dentro das trevas da matéria, brilhando nas trevas.” (citado em Couliano, 1987:75-76)

Poucos Wiccanos modernos que leram o livro de Leland indagaram sobre por que as bruxas italianas do século XIX deviam aceitar Lúcifer - identificado como o Satã na demonologia Cristã - como o companheiro da deusa bruxa Diana e o pai de Aradia. Na verdade, Aradia foi um dos nomes da deusa usado originalmente na Wicca Gardneriana. Uma resposta possível é que neo-pagãos e Wiccanos modernos são extremamente paranóicos sobre qualquer coisa que possa arruinar a imagem pública de “luz branca” deles, por associar suas tradições com algo popularmente percebido como “Satânico” ou de “adoração demoníaca”. Ainda, em alguns círculos tradicionais de magia, Lúcifer é venerado com o salvador e redentor da raça humana.

A tradição Luciferiana tem pouco em comum com a heresia cristã do Satanismo, especialmente em suas manifestações juvenis, em nossa sociedade moderna. Na mitologia hebraica, um satã era um anjo tentador menor enviado por Javé para testar a fé das “pessoas escolhidas”. No Livro dejó, Satã é descrito como um dos “filhos de Deus” (anjos), e ele aparece diante do trono de Deus com todos os outros. Javé envia Satã para a Terra para testar Jó e ver se ele iria amaldiçoar seu Deus (2:3-6). No Novo Testamento, Satã aparece para tentar e testar Jesus durante sua provação iniciática no deserto. Considerando a verdadeira identidade do Cristo, Satã e Lúcifer são necessariamente duas entidades diferentes.

Foi somente com o estabelecimento político da Igreja em seus primórdios e sua demonização dos antigos deuses pagãos que Satã é confundido com o mito do anjo caído. Esse mito tomou como bases as ideias dualísticas do Zoroastrismo e a heresia Maniqueísta sobre a luta entre as forças da luz e os poderes das trevas. Ele criou uma personificação satânica de mal cósmico que, às vezes, na Idade Média parecia mais poderosa que o próprio Deus. Lúcifer não é uma figura satânica que conduz a humanidade para a tentação e o mal. Ele é o “guardião do Tempo e da Eternidade” e “o anjo de Deus (que) se rebelou contra a ordem cósmica estática e estabelecida e colocou em movimento as forças da mudança e evolução que também implicam morte e destruição.” (Flowers, 1990:43-44) Madame Blavatsky o descreveu como “a entidade angelical regendo sobre a luz da Verdade como se fosse sobre o dia de luz”. Ela ainda diz: “Lúcifer, ou Portador da Luz, está em nós; é a nossa mente, nosso tentador e redentor, nossa inteligência e salvador do animalismopuro” (1893, Volume II: 539-540). Ele é o primogênito da criação, o Logos Solar, a energia fálica do Sol que vitaliza e sustenta a Terra.

É possível que Lúcifer possa ter surgido em Canaã como Shahar, o deus da Estrela da Manhã. Ele tinha um gêmeo chamado Shalim, que também era Vênus, mas como a Estrela Vespertina. Esses gêmeos divinos representavam a luz solar na aurora e no crepúsculo e seu ciclo de (aparente) morte e renascimento a cada dia. Eles eram os filhos da Grande Deusa Mãe, Asherah, e há evidência arqueológica de que sua adoração foi adotada pelos hebreus. O Velho Testamento tem diversas referências à adoração da deusa como a Rainha do Céu em santuarios construidos em colinas e em bosques sagrados. Sugeriu-se que ela foi por um período considerável a consorte de Javé, embora a ortodoxia se esforce em dizer que, após Moisés e o incidente com o Bezerro de Ouro, os Israelitas tomaram-se monoteístas fervorosos.

No mito canaanita, Shahar, o Senhor da Estrela da Manhã, foi lançado do Céu na forma de um raio, que fertilizou a Mãe Terra. Ele foi associado ao deus da tempestade assírio-babilônico Zu, que foi punido por ter roubado as Tábuas do Destino. Estas foram dadas pela Grande Deusa Mãe Tiamat para seu primogénito, o pai dos Deuses. Zu planejava usar os oráculos divinos para dominar os espíritos ou deuses do Céu. A própria Tiamat era conhecida como a “rainha dragão”. Ela foi gerada nas profundidades do oceano e deu origem a uma raça de homens-serpentes. Serpentes sempre foram associadas a Lúcifer e aos anjos caídos.

Como o arauto do amanhecer, Lúcifer pode ter sido o filho/amante da deusa do amanhecer Aurora, que era conhecida por muitos nomes nas culturas indo-européias. Ela foi a filha do acasalamento de um Titã e a Mãe Terra. Os gregos representavam o arauto do amanhecer como um jovem radiante cruzando o céu da manhã em um cavalo branco. Seu gêmeo das trevas, Vênus como a Estrela Vespertina, anunciava a “morte” do sol no crepúsculo. Entre eles, existe o mistério eterno do balanço cósmico entre luz e escuridão que se encontra no centro da criação.

O mito do Velho Testamento do Jardim do Éden e de como a primeira mulher e mãe da humanidade foi supostamente seduzida pela serpente perversa foi também usado pelos padres da Igreja em seus primordios para desonrar Lúcifer e taxá-lo como Satã. Durante a caça às bruxas na Europa, teólogos tentaram dar explicações sobre o número de mulheres acusadas dizendo que, “como o Diabo, já que ele primeiro tentou Eva, era propenso a oferecer seus Engodos a tais paladares, pois elas são mais desejosas em experimentar Frutos proibidos; e mais negligentes em Questionar a Natureza daquilo que elas Engolem”

(Richard Bovet 1684). A doutrina Católica medieval também acusava as mulheres, especialmente aquelas que eram acusadas de bruxaria, de terem relações com íncubos ou demonios masculinos. Isso novamente se associa à lenda dos Vigias e sobrevive hoje no folclore como os “casamentos de fadas” entre humanos de ambos os sexos e o Povo Bom.

Embora a serpente no mito edênico geralmente fosse identificada com Satã e lembrada como uma criatura maligna, em muitas sociedades não-cristãs, ou que existiram antes do Cristianismo, a serpente não era vista sob esse ponto de vista. Como veremos mais tarde neste livro, quando examinarmos o mito do Jardim do Éden mais detalhadamente, os gnósticos consideravam a serpente como a encarnação do conhecimento, da sabedoria e do esclarecimento. Ao contrário de ser uma criatura maligna, ela era vista como uma libertadora que “abriu os olhos” de Adão e Eva para a realidade do Universo e de suas maravilhas.

A serpente é um símbolo antigo para o poder fálico solar, que é associado a Lúcifer. Quando Adão e Eva perceberam que estavam nus e correram para cobrir seus genitais, eles se tomaram conscientes do “poder da serpente”, que pode ser criado pela relação sexual e outros atos sexuais não reprodutivos. Se for controlada por um mago experiente, a serpente ou a força sexual pode ser usada para fins mágicos e como um auxílio para alcançar a gnose ou o autoconhecimento. Esse foi também o começo do ciclo de nascimento, vida, morte e renascimento, pois “com a procriação a morte veio, mas claro que sem morte não há mudanças nem evolução. Então a abertura do portão da morte, o ato de ‘afundar na matéria ’, era um passo necessário para ligar o homem ao fluxo por meio do qual o Paraíso pode ser recuperado. Mas dessa vez a humanidade vai fazer isso de forma consciente e de própria vontade, ganhando então vida e sabedoria eternas. Dessa forma, o homem, verdadeiramente, tornar-se-á seupróprio deus”. (Flowers, 1990:56)

O mito do Éden, Eva e a serpente é também o mito da Queda humana, que é o fim da “Era de Ouro” inicial de harmonia cósmica e a inocência original que pode ou não ter existido. É a destruição simbólica de um paraíso terreno ou de outro mundo no qual animais e humanos viviam juntos, em paz e contentamento, falando uma língua universal. Em termos Xamânicos, isso é chamado de a Grande Separação, quando os humanos não sabiam ou não entendiam mais como falar a língua dos animais. Ele intimamente se iguala e está conectado com a Queda de Lúcifer do Céu para se tomar o Senhor Deste Mundo. Foi a intervenção deliberada dele na evolução humana em desafio à ordem cósmica, e não por qualquer pecado de vaidade ou tentativa de usurpar a autoridade divina, que o fez cair em desgraça. O único crime de Lúcifer e seus anjos caídos foi querer ajudar a humanidade a progredir tanto espiritualmente quanto materialmente.

O líder dos Vigias ou anjos caídos era Semyasa ou Azazel - “separado de Deus”. O nome dele aparece no Velho Testamento e está associado ao bode expiatório sacrificado como uma “oferta pelo pecado” por Arão e lançado ao deserto para morrer. Por esse sacrifício, o bode era oferecido a Azazel e levava os pecados da tribo.

O sacrifício é descrito com certo detalhe. Dois bodes eram escolhidos, e era tirada a sorte para escolher um para Javé e um para Azazel. O animal escolhido para Javé era morto, mas o bode de Azazel, o bode expiatório, era solto no deserto onde supostamente o anjo caído residia com seus demônios em forma de bode, os Seirim. Antes de ser mandado para o deserto, Arão, como sumo sacerdote, colocava suas mãos sobre a cabeça do bode e confessava todos os pecados dos israelitas. No Livro de Enoch, Semyaza-Azazel foi acusado por Javé de revelar para a humanidade “todas as coisas secretas que estão no Céu”. Por causa desse crime, Azazel foi expulso do Céu e deixado para vagar pelo mundo.

Azazel foi uma forma inicial do rei de sacrifício ou divino que tinha de morrer para que a terra pudesse ser tratada e fertilizada. O simbolismo do rei sagrado é muito antigo e poderoso. Originalmente, o detentor do cargo morrería ao fim do seu reinado predeterminado. Ele simbolicamente se acasalava com Soberania, ou a deusa da terra, no “casamento sagrado” antes de ser ritualisticamente morto, e seu sangue era usado para fertilizar as plantações. Um exemplo famoso do rei sagrado foi o guardião do bosque sagrado de Diana na Itália clássica. Conhecido como Rex Nemorensis, ou “Rei da Floresta”, ele tinha de lutar com um desafiante ao seu cargo a cada sete anos para ter a posse do célebre “ramo de ouro” de uma árvore de carvalho no bosque. 

Nas demonologias hebraica e árabe, Azazel era conhecido como o pai dos djinns ou jinns (espíritos), que geralmente se acreditava que moraram nas regiões áridas e desertas. Como vimos, ele também era o líder dos Seirim. Estes eram demônios na forma de sátiro ou meio humano e meio bode. Não é coincidência que uma das formas tomadas pelo Deus Comífero no sabá das bruxas era a de um bode preto. É também uma das diversas formas tomadas pelo Baphomet, o deus supostamente adorado pelos heréticos Cavaleiros Templários que, de acordo com o que se acredita, obtiveram informações secretas do antigo “conhecimento proibido” dos hebreus e árabes no Oriente Médio.

No que diz respeito ao Igrejismo, um dos maiores crimes de Azazel- Lúcifer e dos anjos caídos foi ensinar para as mulheres as artes mágicas. Os Vigias escolhiam fêmeas humanas como suas alunas na Arte porque Lúcifer sempre preferiu ensinar mulheres. Paul Huson disse: “São os Vigias, os Poderosos dos Locais Celestiais, os pais dos gigantes e dos humanos também, como vistos em forma simbólica e arquetípica como os pais da humanidade, seja como mestres de sabedoria e amor ou simplesmente como poderes benevolentes de fertilidade e caça, que formam as entidades verdadeiras da bruxa’'Explícitamente, Huson afirma: “Azael ouAzrael é um dos deuses modernos da bruxa" (1970: 10-12).

O britânico Huson escreveu três livros muito bons sobre bruxaria, herbalismo e Tarô na década de 1970. Enquanto viveu nos Estados Unidos, ele se tomou um roteirista em Hollywood e, supostamente, fundou vários covens, que permaneceram secretos. Ele foi, conforme o que algumas pessoas alegam, um iniciado de uma tradição inglesa de magia que tinha uma linhagem do século XVI. Parecida com grupos existentes, conhecidos pelos autores, ela combinava magia tradicional com magia cerimonial e uma filosofia gnóstica Luciferiana. O fato de Huson, em seu livro sobre a Arte, recomendar aos aspirantes a Magos que recitassem o Pai- Nosso ao contrário como parte da iniciação solitária deles causou alguma controvérsia. Isso e o conteúdo mágico do livro levaram alguns Wiccanos ignorantes e intransigentes a condenar a publicação como “Satânica”. Na verdade, tudo o que Huson estava fazendo era desprogramar culturalmente o pretenso iniciado e quebrar os grilhões que o prendiam ao condicionamento cristão de sua infância. Isso é relativamente uma técnica gnóstica legítima. Com toda essa confusão, os comentários perceptivos de Huson sobre os Vigias e o importante papel deles na bruxaria tradicional foram amplamente negligenciados.

Huson mencionou a tradição Cabalística em que Naamá, a irmã de Tubalcaim, seduziu Azazel. Naamá era associada à filha ou á forma mais jovem da deusa sumério-hebraica da Lúa negra Lilith. Ela também era associada a outras deusas médio-orientais, incluindo Ishtar da Babilonia, Innana da Suméria e Astarte da Fenicia. Seu irmão Tubalcaim é descrito como Uum artífice de cobre e ferro” (Génesis 4:22). Em termos lendários, ele é um dos avatares de Azazel-Lúcifer e um dois reis sacerdotes da linhagem de seu ancestral Caim (Fesold 1990:69). Huson identifica Tubalcaim e Azazel com o deus sol babilónico Shamash em sua aparência do mundo subterráneo como o Senhor das Riquezas e o Artífice de Metais.

Na magia angelical moderna, Azazel ou Azrael é o regente do re- cém-descoberto (1930) planeta Plutão, o deus romano do tesouro escondido e do mundo subterráneo, e ele é também o Anjo da Morte. No Livro de Enoch, Azazel é descrito como o anjo caído que fez espadas e outras armas para os humanos. Essa é uma imagem de VulcanoAVayland do forjador de metais que fabrica as armas dos Deuses. Curiosamente, Azrael também ensinou para as mulheres a arte dos cosméticos. Ele parece estar associado ao “encanto” mágico da atração sexual usado pelas bruxas no correr dos séculos e, pelo seu relacionamento com Naamá, a figura da mulher fatal.

É consideravelmente óbvio que, nas historias dos anjos caídos, no Jardim do Éden e no Dilúvio estamos lidando com mitos alegóricos que antecedem a religião hebraica. Sabemos que eles constituíram sua mitologia adotando elementos de outras culturas semitas no Oriente Médio antigo, que eles encontraram e conquistaram ou por elas foram conquistados. Personalidades do Velho Testamento, como Moisés e José, parecem ter sido iniciados das escolas de mistérios egípcias, e os exílios dos hebreus no Egito e na Babilônia os colocaram em contato com outras mitologias. Os hebreus também adotaram a adoração de vários “deuses estrangeiros” em Canaã, e há várias referências sobre esse fato no Velho Testamento. Mesmo o termo Elohim, usado para descrever Javé no Gênesis, é uma palavra no plural que significa “os Deuses” ou “Deuses e Deusas”. A versão confusa do mito da criação dos hebreus deixa claro que o primeiro homem e a primeira mulher lendários foram feitos à imagem dos Deuses. Como já vimos, os hebreus copiaram, inclusive, o conceito de anjos de fontes caldéias, assírias, sumérias e egípcias.

No Cristianismo esotérico (ou seja, a forma verdadeira da crença cristã que a Igreja tem tentado reprimir, censurar e perseguir no decorrer de séculos manchados de sangue), Lúcifer representa um papel interessante e único como uma suposta figura satânica do mal. Uma lenda, documentada no romance sobre o Graal do século XIII intitulado Parsifal, alega que o Santo Graal, o cálice usado na Última Ceia por Jesus, foi entalhado a partir de uma esmeralda que caiu da testa ou coroa de Lúcifer durante a guerra no Céu. Supostamente, ou essa pedra foi trazida para a Terra por anjos rebeldes que foram banidos do Céu por não apoiar o lado de Deus ou ela “caiu como um meteorito” enquanto Lúcifer estava lutando com São Miguel. Essa pedra verde alegadamente pertenceu ao Rei Salomão, o filho do Rei Davi e uma personalidade importantíssima na tradição Maçônica e Templária. Depois ela chegou a José de Arimatéia, um mercador rico, que era o tio e o pai adotivo de Jesus depois da morte de seu velho pai. José é descrito como um comerciante de metais e um “artífice de metais”, e foi a pessoa que entalhou a esmeralda Luciferiana, transformando-a em um cálice que ele deu para o seu sobrinho.

O Novo Testamento descreve como um centurião romano golpeou a parte lateral do corpo de Jesus com sua lança enquanto ele estava sendo pregado à cruz. Sangue e água fluíram abundantemente da ferida. Esse é o tão chamado sang rael ou “sangue sagrado”, e ele simbolicamente representa a linhagem hereditária de Jesus. A lança usada para matar Jesus como o bode expiatório ou rei divino sacrificado não era uma arma comum. Supostamente, ela era o símbolo oficial do rei judaico e pertenceu a Salomão. Tubalcaim, cujo nome significa “lança” ou “arpão”, tinha forjado a cabeça daquela lança com ferro de meteorito. O antigo clã de Caim, conhecido popularmente como “o povo do fogo”, era composto de ferreiros hereditários e sacerdotes sacrificatorios da Grande Deusa do Oriente Médio. Eles eram também chamados de “os bons pastores”, título dado aos deuses da vegetação sacrificatorios da região. Eles incluíam Adônis, Átis, Baal, Tamuz, Osíris e Jesus. (Walker, 1983:132-134)

Diz-se que, quando a esmeralda caiu da testa de Lúcifer, ela deixou uma cicatriz. Essa era a também conhecida “Marca de Caim”, que pode ser vista nas auras daqueles que possuem o antigo “sangue bruxo” ou “sangue élfico”. Esses indivíduos são aqueles que são física ou espiritualmente (por encarnação da alma através de vidas passadas) descendentes dos Nephilim nascidos a partir dos casos amorosos entre os Vigias e os humanos. A Marca de Caim foi dada ao primeiro assassino por Javé para protegê-lo de outros seres humanos. Ela também tem o objetivo de separar Caim e seus familiares do resto da raça humana (Gênesis 4:15).

O mestre de bruxaria moderna Andrew Chumbley, do clã tradicional de bruxaria do Cultus Sabbati, que segue um mito Cainita, declarou que, por meio da gnose Luciferiana: “A humanidade poderá incorporar a verdade do Absoluto e então chegar ao estado de Unidade Divina”. Ele acrescenta que “escondida dentro do mito [da Queda, Lúcifer e os fühos de Caim] há uma doutrina iniciática a respeito da natureza da Divindade e da evolução do homem." (1996:70-71) Esses comentários são baseados na crença esotérica de que o próprio progresso de Lúcifer está tão próximamente alinhado à evolução humana por meio da intervenção dos Vigias que a descoberta pessoal do Graal, em um sentido metafísico no nível interior, terá uma repercussão profunda tanto no nosso progresso espiritual quanto na redenção e restauração dos anjos rebeldes aos seus lugares de direito na ordem cósmica.

Nós percorremos um longo caminho desde a história de amor entre Diana e Lúcifer até os simples camponeses, que iniciaram este capítulo. Talvez não, pois, apesar de parecer simples, a história encapsula o mistério cósmico da “luz nas trevas” que está no centro do mito dos Vigias. Nos textos da medieval Ordem da Rosa-Cruz ou Rosa-cruzes, está escrito que a luz e as trevas são idênticas. Elas só podem ser divididas pela mente humana, que as transforma em dualidades opostas. O alquimista, astrólogo e Cabalista do século XVII Robert Fludd disse: “As trevas receberam a iluminação para que pudessem fazer-se vistas”. Infelizmente, a Igreja jamais compreendeu esse fato simples e criou uma fé sobre uma falsa dualidade a partir dos ensinamentos de seu fundador, que resultou na morte brutal de qualquer um que ousasse contrariá-la.

Madame Blavatsky, referindo-se às doutrinas do ocultismo ocidental, alegou que “As trevas são a única realidade verdadeira, a base e a raiz da Luz, sem a qual essa última jamais podería se manifestar, nem mesmo existir. A Luz é a matéria e as Trevas são espírito puro. As trevas, em sua base radical e metafísica, são Luz subjetiva e absoluta. Ao passo que a luz, em todo seu esplendor e glória aparente, é meramente uma massa de sombras, pois nunca poderá ser eterna e é simplesmente uma ilusão ou o Maya”. (1893, Volume I: 99)

A tradição esotérica ensina-nos que, até encontrarmos o Graal, e é preciso deixar bem entendido que não se trata de um objeto físico nesse continuum de tempo-espaço, Lúcifer deve representar o seu papel de rei sacrificatorio. Ele está condenado a encamar em uma “capa de pele” como um avatar para a raça humana, e pagar o preço supremo, como um bode expiatório em favor da humanidade. Esse é o sacrifício supremo por ter sido o portador da luz que trouxe do Céu a iluminação da sabedoria gnóstica e o fogo original da criatividade. Lúcifer eternamente morre e é renascido no intuito de salvar a humanidade de si mesma. Conforme a raça humana progride espiritualmente, ele pode lentamente subir a Escada de Luzes de volta ao reino dos Deuses além da Estrela Polar. Ele é o Senhor da Estrela da Manhã e a Lux Mundi (Luz do Mundo), cujo renascimento da escuridão celebramos todos os anos no solstício de inverno.