sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Touro Negro Dos Chifres Dourados

É evidente que a transmissão da tradição Luciferiana, dos mitos Cainitas e das doutrinas arcanas dos anjos caídos tem sobrevivido por meio das crenças e práticas da bruxaria histórica e tradicional. Seus praticantes modernos alegam que a Arte representa uma antiga herança mágico- religiosa descendente do Xamanismo dos nossos ancestrais pré-históricos. É claro que uma tradição contínua e ininterrupta desde os tempos antigos é impossível de se provar, mas há evidência de elementos xamânicos em relatos medievais de bruxaria. Por exemplo, o uso de máscaras de animais na Arte - uma prática que sobrevive até hoj e em rituais convéns tradicionais - é um aspecto atávico que remonta à adoração de deuses bestiais nos tempos primitivos. Da mesma forma, apesar da dificuldade de se provar a preexistência de sobreviventes da bruxaria moderna há mais de 200 anos, há evidência de que a (alguns ramos da) “Arte Antiga” tradicional herdou a sabedoria antediluviana estelar ensinada aos primeiros humanos pelos deuses antigos.

Essencialmente, a Arte Antiga herdou de forma adulterada e corrompida os símbolos e crenças do tráfego com “Aqueles que são de Fora”, o qual foi filtrado ao longo de muitos períodos históricos e tradições esotéricas diferentes. Como disse Paul Huson: "...nos dias de hoje a magia das bruxas está decadente. Urna colcha de retalhos composta por partes históricas, destroços de um naufrágio religioso” (1970: 18). Essa sobrevivência é mais forte nos padrões genéticos e espirituais daqueles indivíduos que trazem astralmente a marca secreta - a chamada Marca de Caim ou Marca de Seth.45 Essa marca é um símbolo da sua herança mágica, como “o povo da serpente”. Eles são os membros verdadeiros do “sangue das bruxas”, herdado (raramente) fisicamente ou pela reencamação da alma. Esses portadores do “sangue de fada” ou do “sangue élfico” ainda acreditam que, apesar "das distorções dos últimos seis séculos, ainda resta no centro [da Arte] uma centelha daquele misterioso fogo angelical negro que soprou vida nos primordios deste mundo”. (Huson, 1970:18)

O Deus Comíféro46 das bruxas, identificado de diversas maneiras - Cemunnos, Pan, Janus, Dianus, Heme e Puck-, era popularmente conhecido como o Sátiro Negro ou o Homem de Preto no sabá medieval das bruxas. Ele está ligado a Sutekh-Seth, ao Shaitan Yezidi, ao senhor islâmico do Eblis ou Iblis, ao Lúcifer grego e ao hebreu Azazel. O Comíféro da Arte Sabática é a Grande Serpente de Luz que guia seus discípulos à Gnose do Despertar Supremo e ao objetivo final de unidade com o Ente Supremo.

Como uma divindade comífera, o deus das bmxas revivalistas modernas é quase exclusivamente representado como o deus veado gaulês Cemunnos. Entretanto, no passado, o Deus também era representado na forma zoomórfica de um cachorro preto, um gato, um bode, um carneiro e um touro. É essa última forma animal que queremos examinar aqui, pelas suas ligações interessantes com a antiga tradição Luciferiana. A adoração ao deus touro remonta a um passado muito antigo. Na Epopéia de Gilgamesh há uma menção ao Touro do Céu. Quando o rei Gilgamesh recusou o amor de Ishtar, ela enviou essa criatura mística para destruir a cidade dele. Da mesma forma, o amigo de Gilgamesh, Enkidu, é descrito como “metade touro, metade homem”. O deus-sol babilónico Marduk era conhecido como o Touro da Luz e é descrito como tendo um “corpo cheio de chamas de fogo, ele lançava raios à sua frente, ele conduzia a carruagem da tempestade. ” Na religião canaanita, Baal como o deus da tempestade e do trovão era o touro que “montava as nuvens”. O Bezerro ou Touro de Ouro adorado pelos hebreus dissidentes no deserto era provavelmente uma efígie de Baal. Nos mitos hindus, o touro era sagrado para Shiva, deus da criação e destruição. No Egito, o touro sagrado era Apis, e acreditava-se que ele foi concebido pela descarga de um raio. Ele era considerado a forma animal do deus criador Ptah.

Na tradição greco-cretense há o Minotauro, uma criatura imaginária que é metade touro e metade humana. O rei Minos de Creta pediu a Poseidon um presente digno de ser oferecido aos Deuses em sacrifício. O deus do mar deu ao rei um magnífico touro branco, e Minos ficou tão impressionado com esse animal que decidiu ficar com ele para si mesmo. Para vingar-se dessa ofensa contra os deuses, Poseidon fez com que a esposa do rei, Pasífae, se apaixonasse pelo touro. A rainha estava a tal ponto dominada pelo desejo que convenceu Dédalo, o mestre das artes, a fazer uma imagem de uma vaca em tamanho natural. Ela escondeu-se dentro da imagem para facilitar a relação sexual com o touro.

Pasífae significa “ela que brilha” e pode ser uma referência à Lua. A vaca é um animal lunar e acasala-se com o touro, representando a força fálica solar. Minos pode ter sido o nome genérico para os reis-sacerdotes que serviam à deusa Lua. Como resultado desse hieros gamos ou “casamento sagrado” do touro com a vaca, nasceu o Minotauro. Em virtude de sua furia, o rei Minos mandou Dédalo construir um labirinto, no qual o Minotauro foi aprisionado. A cada nove anos, os atenienses mandavam sete dos seus melhores jovens como um tributo à Creta, e eles eram oferecidos em sacrifício ao deus touro. Na famosa lenda, a filha de Minos, Ariadne, apaixonou-se por um desses jovens, chamado Teseu. Ela o ajudou a matar o Minotauro e reconstituiu os seus passos até a saída do labirinto usando um novelo de linha. Ariadne representa a primitiva deusa aranha do destino e da morte, a qual tinha como símbolos o labrys ou machado de duas lâminas e a cobra enrolada.

Na Idade do Bronze na Europa, a adoração ao touro era muito difundida. Ele representou o símbolo primário da virilidade e potência masculinas como um dos zoomorfos da força da vida solar e do deus da tempestade e do trovão. Na Idade do Bronze, petróglifos do touro são retratados ao lado de discos e rodas solares. Na Idade do Ferro, as imagens do touro são igualmente comuns. Para os povos celtas da Europa, o deus touro era associado ao sol, ao trovão, ao céu e ao fogo. Um cetro de bronze, encontrado em Willingham Fen, Cambridgeshire, retrata uma cabeça de touro com três chifres com a figura de um deus jovem segurando um raio. Ele está acompanhado pela roda solar em cima de uma águia, o pássaro sagrado do deus celestial indo-europeu.

Como A. Basham diz em seu livro Origem e Desenvolvimento do Hinduísmo Clássico (Beacon Press, 1989) em relação à antiga civilização hindu do vale onde hoje se localiza o Paquistão: “A Deusa Mãe e o Touro Sagrado, representando o céu fertilizante, eram comuns aos agricultores da época por toda a Eurásia. Eles são os elementos principais de um culto criado para assegurar a fertilidade das colheitas, dos rebanhos e dos humanos. ” O antigo deus védico do trovão, Indra, foi concebido em seu aspecto touro como Paijanya, o liberador das chuvas. Em seu papel itifálico como o fecundador seminal do ventre-terra, era Vayra ou o raio adamantino. Nos cultos indo-iranianos da cosmogenia taurina Mitraísta e da adoração Altaica ao “Touro Negro no norte”, que traz as chuvas fertilizantes, são igualmente relevantes como tipos cognatos.

Na Europa setentrional, o gado sempre foi muito apreciado como um indicador de riqueza e prestígio tribal, evidenciado nas grandes oferendas de touros sacrificados feitas no período romano-britânico. Estas incluíam os sacrifícios clássicos de touros brancos em bosques sagrados durante os rituais druidas para juntar viscos. Imagens de um deus touro chifrudo, geralmente com uma serpente chifruda, são frequentemente encontradas na Grã-Bretanha nesse período e são mais comuns que deuses veados com chifres. O deus touro também aparece com “Cemunnos” no famoso caldeirão celta-trácio de Gundestrup e no alívio em Reims. Em Trier e Paris, o touro é apresentado com três aves empoleiradas nas costas. Dessa forma, ligando-o ao labirinto de Geranos ou “dança das grúas” executada pelo Deus Coxo. O deus comífero dos Brigantes do norte da Inglaterra, do País de Gales e da região da Inglaterra Central era também representado por um carneiro ou touro, como o consorte de Brigit ou Brígida, “A Grande Rainha” ou “A Mãe dos Deuses”. 

Esses são apenas alguns dos muitos sinais evidentes do culto do touro nas religiões pagas populares da Europa. Entretanto, sob esses sinais externos, repousam estratos misteriosos mais profundos e talvez menos visíveis, nos quais a imagem do touro assume uma majestade particularmente pressagiosa, como a personificação dos segredos da eternidade, do tempo e da precessão celestial dos equinócios. Esses aspectos são preservados dentro de um complexo de ritos populares antigos, procissões rituais desordenadas e frenesis mascarados. Estes, um por um, relacionam-se indiretamente ao Via Liminalis, o culto arcaico da desordem e os segredos mais que humanos promulgados no sabá das bruxas. Na realidade, dentro da Arte Tradicional, o touro assume um papel místico até agora desconhecido para aqueles que estão além dos domínios da fé.

O Touro Negro da desordem pertence ao assustador complexo cerimonial de “charivaris”, “música desafinada”, aparência teriantrópica e cultos e rituais incontroláveis da Caçada ao Inferno ou Grande Perseguição. Estes representam o nodo liminar divino das Doze Noites em pleno inverno como o “tempo entre os tempos”, a reversão para a ex- piação primitiva na qual toda a distinção dualística profana entre as formas e as estatísticas mundiais são místicamente inválidas e nulas. Entre o passado, o presente e o futuro, à Meia-Noite ou hora das bruxas, quando o relógio bate 13 vezes, o ano mesocósmico começa. Então ocorre a separação dos limites (fronteiras) dividindo os vivos e os mortos, os humanos e os não-humanos e o fenômeno e o nômeno. Isso, como visto por estudiosos como Carlos Ginzburg, Mircea Eliade e Peter Hans Duerr, entre outros, fornece uma conexão temática incontestável com os mistérios interiores do culto sabático das bmxas e toda a tradição charivari maníaca nos rituais populares.

A Satumália em pleno inverno é a recuperação temporária da época do rei Saturno ou Cronos, os primordios do tempo. Por conseguinte, o primeiro símbolo do alfabeto greco-latino é Alpha ou Apis representando o boi-touro de Sator, o Semeador da semente seminal no campo do Tempo (Saturno é a divindade da Agricultura e do Tempo). A constelação Ursa Maior está intimamente ligada ao mito Daquele que Abre o Caminho e da Grande Caçada. Na Europa, a Grande Caçada também é conhecida na tradição popular como a Caçada de Caim. E igualmente interessante o fato de que no Egito a Ursa Maior era chamada de Khepesh ou Touro Dourado e era a moradia transestelar e a origem da linhagem de Seth. Na verdade, o planeta Saturno era chamado de “Touro do Céu” pelos sacerdotes-astrónomos egípcios. Na Pérsia antiga, as sete estrelas da Ursa Maior eram visualizadas como as “Guardiãs dos Sete Pólos do Céu”, imaginadas como figuras humanas paramentadas com rostos de touro negro, chifres dourados e coroas ornamentais carregando cetros dourados. O Deus persa da luz, Mitra, também aparece portando as ancas douradas de um touro jovem. Isso representou o enxó meshtyw empregado na cerimônia egípcia de “Abertura da Boca”. Na verdade, esta denota a abertura da sutura do crânio ou a passagem através da Estrela do Pólo para liberar a alma.

De acordo com os ensinamentos dos neo-platonistas, como Plotino, o primeiro reinado de Saturno representou a bem-aventurada plenitude de Nous, a Mente Pura do Divino. Esse foi o reinado imortal e imutável das “Idéias” Platônicas: “Aquele arquétipo do mundo é a verdadeira Idade do Ouro, Era de Cronos (...) pois aqui contém tudo o que é imortal; tudo aqui é Mente Divina. ” (Enneads, V: 4) Esse é o Sabá Divino (Shabattu, Zabat, Shabbathai - a esfera de Saturno) no qual o velho Touro Comífero era o Senhor sintetizando a Mente Arrebatadora da Desordem. O Mais Velho é o Senhor liminar do Tempo e da Eternidade, e ele preside além dos circuitos de transformação temporal, acima das incansáveis estrelas circumpolares que descrevem as vastas revoluções do ciclo do progresso ou do Ano Platônico. Em algumas correntes antigas da fé das bruxas na Inglaterra, o Charivari do Touro Negro sintetiza esse estado atemporal da Satumália. Ele leva a Bênção da Desordem para o mundo frió e obscuro de modo estranho e inquietante. Provavelmente, não é coincidência que o mestre de cerimônias da popular festa de inverno de Mari Lwyd, no sul e oeste do País de Gales, usasse um bastão cerimonial com uma cabeça de touro na ponta. O Velho Pai Saturno ainda comanda a alegria de inverno.

No século VII da Era Comum, Theodore, o Grego, enviado por Roma para ser o novo arcebispo de Canterbury e erradicar o renascimento pagão na Inglaterra anglo-saxã, após a falha abjeta da missão papal de Augustino, emitiu sérias proibições sobre as festividades de inverno. Ele impôs proibições drásticas para aqueles que aparecessem com máscaras de veados ou touros nas “Calendas de Janeiro”, Natal pelo cálculo do Calendário Antigo. Apesar de tais regras, o Mais Velho, na forma do Touro de Natal, sobreviveu em Cotswolds e no sudoeste da Inglaterra até pelo menos antes da Primeira Guerra Mundial no século passado. O Touro de Natal era um homem vestindo ou segurando uma vara acima da cabeça com uma máscara ou cabeça de touro. Seu corpo ficava escondido por uma pele de touro verdadeira, por um lençol branco ou por uma capa feita de saco. Dentre estes, um dos mais famosos era o chamado Dorset Ooser, uma máscara feita de madeira pintada com chifres de touros verdadeiros. Essa era usada regularmente na época de Natal, ao redor da vila de Melbury Osmond, até que foi supostamente roubada do seu dono hereditário por volta de 1900. Diz-se que ela acabou sendo guardada no sótão de uma casa em Dorchester, e ali foi apodrecendo aos poucos.

Em Gloucestershire, o Touro de Natal também era conhecido como The Broad. Era acompanhado por um cortejo carregando uma taça para brindar, decorada com fitas vermelhas e ramos verdes. Um dos serventes do touro em Tetbuiy carregava uma pequena árvore de natal em um vaso suspenso por trapos brancos e vermelhos. Presume-se que isso representava, como a árvore de natal, o Arbor Mundi ou Árvore do Mundo, o eixo do Cosmos, que estava frequentemente decorada com a Estrela Polar na ponta. A aparição do Touro de Natal nas peças dramáticas de Natal e Ano-Novo é interessante pela sua conexão com a bruxaria. Por exemplo, em uma peça vitoriana, um personagem do século XVIII conhecido como Capitão Calftail diz: “Vou vestir meu manto demoníaco — quero dizer, meu temo bovino de Natal - e então andar pela floresta (...) e voltar como um diabrete. ” A suposta procissão Godiva (Godgyfu ou “presente de Deus” - um eufemismo para sacrifício) em Southam, um vilarejo perto de Coventry, apresentava um personagem popular chamado O Velho Rosto de Bronze, um homem usando uma máscara de touro. Huson relata que o Mestre das Bruxas pode ocasionalmente cobrir totalmente a cabeça com uma máscara ou capacete de metal nos rituais. Portanto, ele diz “o título cômico para o mestre ‘O Velho Nariz de Bronze’” (1970:215). Na tradição popular, “O Velho Rosto de Bronze” era um apelido para o sol. Durante o julgamento das bruxas, Pierre de Lancre relatou que o Diabo apareceu para as bruxas de Toumelle como “um grande touro negro”. Thomas Ady, em seu livro Uma Vela no Escuro (1656), descreve um homem sábio de Essex, com tendências trapaceiras, invocando O Ser das Trevas para o benefício de um fazendeiro apavorado que o havia consultado. Um colega do homem sábio apareceu a tempo “coberto por uma pele de touro e um par de chifres na cabeça. ”

Do templo anglo-romano do deus Mitra aos bailes de máscara do sudoeste da Inglaterra, do culto à estrela Setian do Antigo Egito às procissões com máscaras do Boeuf Gras na Paris medieval, o Touro Negro de Chifres Dourados é o símbolo eterno dos Mistérios da Satumália. Os adoradores delirantes de Saturno se enfurecem em um êxtase atávico pela luz das chamas, embriagados pelo vinho sacramental e cambaleando ao som dos tambores e do silvo dos chifres pelas ruas congelantes das vilas durante o inverno, sob as frias estrelas do norte.

O sabá das bruxas no período medieval incorporava uma misteriosofia antinomiana envolvendo a subversão ou reversão total dos estados de realidade objetivos habituais. Foi uma ruptura dos limites da normalidade a fim de ocasionar o esclarecimento gnóstico. Isso se traduziu, em termos sociais, em um etos de desordem e revolta contra a falsa autoridade dos poderes do mundo profano. Em 1961, escrevendo sob o pseudônimo de “Arkon Daraul”, o falecido Sayed Idries Shah alegou que o culto europeu medieval de bruxaria havia sido fortemente influenciado por origens árabes. Esta ocorreu supostamente durante os séculos VII ao XIV, quando a Espanha e o norte da África estavam sob influência dos mouros. Pode ter sido um dos caminhos pelo qual a Gnose Luciferiana foi transmitida do Oriente Médio para a Europa.

Essa influência árabe, diz Shah, veio de bandos nômades ascetas, chamados de cultos dos Dois Chifres ou dos Chifres Duplos pelas autoridades islâmicas, que tentavam suprimi-los. Eles eram iniciados no culto após terem infligido em seus corpos um ferimento que deixava uma cicatriz semelhante à suposta diablo stigmata ou Marca do Diabo das bruxas européias. A faca ritual usada na cerimônia da cicatriz chamava-se althame ou “derramadora de sangue”. Esses rituais envolviam danças em círculo no sentido anti-horário para evocar poderes mágicos, acompanhadas de tambores, citações de orações muçulmanas de trás para a frente e invocações ao deus deles, chamado El Aswad, o Homem Negro. Sobre o seu bastão de culto havia dois chifres feitos de latão. Cerimônias noturnas eram realizadas “onde os dois caminhos se cruzavam”, e esses encontros eram conhecidos como Zabbats, “o forte ou poderoso”. Eles adoravam o seu deus como Raban ou Rabanna (Senhor), e este era representado algumas vezes por um ferreiro.

Nas montanhas Atlas do Marrocos, esse culto era seguido pelos misteriosos berberes de olhos azuis, conhecidos como os seguidores do Comífero. O chefe desse culto ensinava seus seguidores como alcançar um estado psíquico de embriaguez por meio do uso do vinho (possivelmente com a adição de narcóticos), no qual eles adquiriam poderes mágicos. O seu líder divino é conhecido como Dhulqamen, ou o “Senhor de Dois Chifres”. Ele também é conhecido como o Senhor dos Dois Séculos, pois supostamente reencama na Terra por um período de cem anos cada vez. Quando desencama, permanece na terra como um guia espiritual do culto por mais cem anos antes de renascer como um dos “homens da perfeição”.

Há semelhanças óbvias entre o culto Dois Chifres do norte da África e a bruxaria medieval da Europa. E. W. Liddell também alega que os Mouros e os cristãos retomando das Cruzadas introduziram aspectos das escolas de mistério Sarraceno no sul da Europa, e isso influenciou a bruxaria tradicional. Esses elementos supostamente incluíam doutrinas Luciferianas e técnicas de magia sexual. Esses magos árabes se formaram em uma irmandade clandestina que, juntamente com os sobreviventes pagaos, supostamente criou o culto medieval das bruxas.

Os bruxos mouros se comunicavam com espíritos, controlavam elementais serventes, animais encantados, liam o futuro e alteravam acontecimentos magicamente. Eles também ensinavam a seus alunos brancos que cada pessoa era seu próprio deus/deusa, e que o conhecimento inerente intemo podería uni-los ao Deus Supremo do Universo (1994:78- 81 e 133-137). Uma visão semelhante foi confirmada pelo ocultista Rollo Ahmed em seu livro A Arte Negra * (1936), no qual ele constata: “Outro efeito das Cruzadas foi a mistura das idéias e crenças do leste e do oeste; em particular homens que eram prisioneiros dos Sarracenos trazem as teorias e práticas da magia oriental, sob as quais é baseada uma grande parte da bruxaria atual. ”

Qual evidência pública pode ser citada hoje para a sobrevivência do deus com máscara de touro na Arte Tradicional? No seu livro Enciclopédia da Bruxaria** (Robert Hale, 1973), a falecida Doreen Valiente contou uma história estranha da cabeça de Atos, a qual ela afirma que representava o deus comífero da bruxaria. Essa imagem pertenceu a um antiquário de Norfolk chamado Raymond Howard, o qual foi associado por um período ao bruxo tradicional Charles Cardell, editor ladino do gardneriano Livro das Sombras em 1964. Howard disse que havia herdado a imagem de uma velha bruxa cigana nos anos de 1930. Infelizmente, após ser exibida na televisão, em 1967, a imagem foi roubada da sua Loja e nunca mais foi vista.

A cabeça de Atos, como apresentada em um desenho no livro de Valiente, era feita de carvalho e tinha chifres de touro com prata e jóias. Os chifres também eram decorados com símbolos do zodíaco, e na testa havia um círculo com cinco anéis. O nariz tinha o formato de um cálice com um pentagrama inscrito. No peito, havia uma figura antropomórfica com os braços levantados como em uma cerimônia e com serpentes gêmeas ao lado. Outros sinais místicos nesse assunto compreendiam a estrela de sete pontas (Ursa Maior), o quarto crescente e o quarto minguante da Lua e a oitava roda de raios solar das estações e das direções. A imagem de Atos resume todo o simbolismo do deus com a máscara de touro da bruxaria cigana e o culto do touro dentro dos mistérios da Satumália da bruxa tradicional ou xamã cigana.

A influência cigana na Arte provavelmente fornece uma pista para a nomenclatura peculiar que identifica o Touro Comífero com Asmoday ou Asmodeus durante o “ritual em tempo transfigurado” na Satumália. No século XII da Era Comum, em Testameníum Salomonis, Asmodeus é descrito como o governante poderoso da Grande Constelação, as estrelas setentrionais da Ursa Maior, as quais têm, como vimos anteriormente, um amplo significado para o arquétipo divino do Touro Negro com Chifres Dourados. Nos grimórios medievais, tais como A Chave de Salomão, Asmodeus é descrito como um demônio de três faces com os semblantes de um homem, de um touro e de um carneiro. Nas tradições rabínicas, ele é o fruto da relação incestuosa entre o ferreiro Tubalcaim e sua irmã tecelã Naamá. Esses dois são reverenciados na Maçonaria esotérica e em alguns ramos da Arte Tradicional como hipóstases ou emanações do Senhor e da Senhora; Azazel-Lúcifer e Lilith como o Comífero e a Mãe Negra.

Os ciganos também adoravam o deus fogo da forja, Tubalo e, dessa forma, é possível que em Atos temos a versão cigana de seu filho Asmodeus, retratado tanto como o Touro Mascarado quanto como o deus das bruxas. Todo esse corpo de doutrina arcana foi alimentado por correntes afluentes dos ensinamentos dos magos dos mistérios indo-iranianos, já que Asmodeus, além da sua imagem demoníaca, é Aezhmaí Daeva. Os segredos da adoração daeva entre os mágicos medianos sobreviveram clandestinamente após as reformas Zoroastrianas. Isso aconteceu especialmente nas criptas-templo do sacerdócio Mitraísta, em que o antigo Deo Arimanio ainda era adorado como Aion, o Senhor do Tempo Ilimitado com a cabeça de um leão. Esses traços do gnosticismo persa foram a todo lugar com a diáspora dos judeus e dos ciganos e também fundamentaram todo o culto da Angelologia Hermética e magia Gnóstica. Também pertence a uma corporação secreta da tradição que liga a bruxaria antiga e a alta Gnose da mágica angelical. Nesse capítulo, está contido o aspecto mais esotérico do culto do Touro Negro, como expresso popularmente no folclore rural e na bruxaria campestre.


Luciferianismo - A Lanterna De Lilith

Um termo arcaico no folclore inglês e na poesia para a Lua é a Lanterna de Lilith. Mas quem exatamente foi Lilith? Por que ela era associada à Lua e qual sua conexão com Lúcifer? Para responder a essas perguntas devemos voltar mil anos no tempo, para quando ela era vista como um demônio vampiro feminino que roubava bebês de seus berços, seduzia os homens com sonhos eróticos e gerava uma raça de diabos. Na mitologia hebraica, Lilith era conhecida por muitos títulos, incluindo “bela donzela”, “o demônio”, “vampiro prostituta”, “o fantasma na noite”, “súcubo”, “rainha dos demônios”, “monstro noturno”, “mãe das bruxas” e “o mocho”. Esses nomes refletem a crença comum de que ela raptava bebês ou sugava o sangue e a energia vital deles, causava abortos em mulheres e coletava o sêmen ejaculado pelos homens durante sonhos eróticos ou masturbação para criar demônios e elementais.

Sem maior análise, Lilith parece ser uma figura consideravelmente desagradável, mas, como já vimos neste livro, as divindades da antiga religião se transformam em demônios pela nova religião. É verdade também que os livros de história são sempre escritos pelos vencedores e isso se aplica também aos livros de religião ou mitologia. Lilith não foi sempre um demonio noturno hebreu. Na mitologia suméria, ela é retratada por volta de 2000 a.C. como uma bela mulher nua e alada com pés de pássaro. Ela está vestindo uma touca ou gorro com chifres e está em pé sobre duas leoas. Comjas a ladeiam pelos dois lados. Na Suméria antiga, Lilith, Lilitu ou Lily foi a líder das Lilu, uma raça de vampiros femininos que foram as predadoras sexuais dos humanos. Elas eram espíritos do ar que habitavam no deserto e se manifestavam durante as tempestades. Dizem que essas entidades se alimentavam de mulheres grávidas e, como no mito hebraico, concebiam demônios ao roubar o sêmen de masturbadores e homossexuais. Lilith era a filha de Ninlil, a deusa dos cereais e do vento que deu à luz a Lua. Por essa razão, os poderes de Lilith eram maiores no período da lua minguante, “quando os cães da noite estão livres de suas correntes para vagar até a manhã”.

A Epopéia de Gilgamesh nos conta a história da deusa Inanna, a Rainha do Céu, e como ela encontrou o salgueiro sagrado nas margens do Eufrates que havia sido desarraigado em uma forte tempestade. A deusa resgatou a árvore caída e a replantou em seu jardim. Ela planejava usar a madeira para uma nova cama e um trono. Entretanto, depois que foi plantada, a árvore se recusava a crescer porque uma cobra havia se aninhado em suas raízes, o feroz pássaro do trovão Zu ouAnzu estava empoleirado em seus galhos e Lilith havia construído uma casa no seu tronco. Inanna estava abalada e em prantos pediu socorro ao herói semidivino Gilgamesh. Este matou a cobra e dermbou a árvore e, por isso, Zu e Lilith perderam seus lares. Lilith fez crescer asas de comja e voou para longe, amaldiçoando a deusa e o defensor dela. Inanna recompensa Gilgamesh com um presente Xamânico de um tambor e uma baqueta, ambos feitos da madeira da árvore de seus galhos superiores e raízes. Esse instrumento mágico permitia que ele se comunicasse com os deuses no Céu (os galhos superiores) e descendesse ao mundo subterrâneo (as raízes).

Alguns escritores compreenderam essa história como uma metáfora que representava o poder em declínio das deusas do Oriente Médio enquanto os patriarcas assumiam o controle. George diz: “O pássaro antigo e a deusa serpente que construíram seus lares na copa e na base da Arvore da Vida uniram céu e terra. Essa imagem continha o poder e o conhecimento presente no pássaro com asas de águia e face de leão e [a] sabedoria da renovação sexual expressa pela serpente” (1992:177).

Nesse mito acima, o pássaro do trovão Zu é extremamente urna figura Luciferiana/Prometéica. Ele é descrito como uma águia com cabeça de leão que provoca furacões no deserto ao bater suas asas. Como o deus Zu, vimos como ele roubou as Tábuas do Destino dos Deuses e tentou se apoderar da ordem cósmica. As Tábuas deram poder a Zu sobre o Universo porque elas controlavam o poder do destino, que geralmente era representado por urna deusa. Por ter ousado desafiar a ordem cósmica, o pássaro Zu foi morto por um raio, as tábuas foram devolvidas e a ordem cósmica foi restaurada ao estado normal. O pássaro do trovão é comparado ao pássaro Bennu, do mito egípcio, à fênix e á Roca árabe.

A associação de Lilith estar vivendo na Arvore do Mundo ou Arvore da vida com urna cobra e um pássaro tem certa significância mística. Andrew Collins acuradamente identifica o pássaro Zu com a lenda bíblica de Azazel e os Vigias e também com os ciclos estrelares ligados aos ciclos cósmicos do destino (1996:226-28/353-55). O motivo da águia, ou certo pássaro lendário, vivendo nos galhos de uma árvore sagrada com um dragão ou serpente em suas raízes pode ser encontrado do norte da Europa até o Oriente distante.

Os animais sagrados de Lilith eram gatos, corujas, cobras, bacurais e cães negros. Tanto Inanna quanto Ishtar eram conhecidas como as “Divinas Damas Comjas”, e esse pássaro é um símbolo duplo de sabedoria e morte nos mitos antigos. Na única referência bíblica a Lilith, diz-se que ela vive “em deserto desolado com feras selvagens, chacais e sátiros como companhia(Isaías 34:14) Os sátiros são, naturalmente, os seirim ou “peludos” que seguem o mestre deles, o deus bode Azazel.

Lilith era associada na Suméria a Ereshkigal, a irmã de Inanna, e na Babilônia a Ishtar (Vênus). Na Fenicia, ela era Baalat, a “Grande Dama”, e a consorte de Baal. Dizem que, quando Inanna conspirou para destronar Ereshkigal, ela se vestiu com suas melhores jóias. Ela então visitou a irmã no seu palácio, parecido com um labirinto em formato de uma teia de aranha e com sete portões. Ereshkigal descobriu que ela estava vindo e ordenou que seus guardas parassem Inanna em cada um dos portões e arrancassem algumas de suas jóias e roupas. Quando chegou ao centro do palácio, ela estava totalmente nua. Naquele instante, sua irmã mais nova fez com que ela fosse enforcada.

Os hebreus provavelmente encontraram Lilith pela primeira vez quando invadiram e ocuparam Canaã, pois naquele tempo o culto a ela já havia se estendido além de suas origens na Suméria. Na tradição Cabalística, Lilith foi a primeira esposa de Adão antes de Eva. Ele havia supostamente pedido a Javé que lhe desse uma companheira feminina, já que estava cansado de se masturbar e de ter relações sexuais com animais - ambas as práticas eram comuns entre os pastores do Oriente Médio, que geralmente tinham vidas solitárias. Tendo sido presenteado com uma companheira sexual, o mal-agradecido primeiro homem se ofendeu com as exigências de Lilith em ignorar a tradicional posição de missionário43 durante o ato sexual e deixá-la tomar o papel dominante. Quando Adão se opôs, Lilith perguntou: “Por que eu devo me deitar debaixo de você? Eu também sou feita de barro e por isso sou igual a você”. Em circunstâncias um pouco diferentes, Lúcifer tinha recusado as exigências de Deus para reverenciar e adorar sua criação Adão. O primeiro se mostrou um bom menino religioso depois de tudo e se recusou a ceder a Lilith. Em um ódio frustrado, dizem que Lilith se transformou em uma coruja e voou para o deserto para se tomar uma banida “viajante no deserto”.

Depois que Javé cedeu às exigências de Adão por uma nova parceira feminina e o casal foi expulso do Éden, Lilith retomou do deserto. Embora Adão fosse abstêmio naquele momento, Lilith usou as ejaculações noturnas dele para criar uma raça de demônios e gigantes. Aliás, dizem que Lilith gerou a raça de fadas e elfos que eram considerados pelas religiões ortodoxas patriarcais como demônios. Os antigos hebreus, como certos cristãos puritanos que vieram depois, parecem ter tido um preocupação peculiar com a masturbação e outras formas de sexo não reprodutivo. Por exemplo, quando Javé viu homens “derramando suas sementes em árvores e rochas” ele os puniu por sua perversidade. Na realidade, essa prática parece com ritos de fertilidade em que a energia sexual estava sendo oferecida aos objetos naturais que supostamente estavam imbuídos de forças divinas.

Na propaganda patriarcal judaica, Lilith era temida por causa de sua independência sexual da dominação masculina, sua poderosa sexualidade e seu poder sobre os homens. A palavra Lilith vem da palavra hebraica Layil, que significa “noite”, e a palavra suméria Lil, que significa “vento” ou “morte”. Quase literalmente, ela é a Dama do Ar e “a morte que vem no vento da noite”, uma companheira perfeita para Azazel ou Azrael, como o Anjo da Morte. Uma derivação alternativa para o nome déla vem do termo sumério-acadiano para “tempestade de areia”. Esse era o termo usado para os incansáveis espíritos presos à terra que viajavam ao vento e eram o “pó da terra”. (Baring e Cashford, 1991:50) Asphodel Pauline Long sugeriu que Lilith pode não ser o “demônio do vento da noite”, mas o primeiro “sopro de vida”. Ela chama a atenção para o fato de que, no mito da criação no Gênesis, Elohim ou deuses sopraram a vida dentro de Adão para que ele se tomasse uma alma viva (1992). Kathy Spurin considerou a energia de Lilith como fogo feminino - o fogo de caos e destruição que apressa as mudanças e os novos começos, necessários à evolução. Esse é um conceito Luciferiano e, como o seu outro eu masculino, ela é muito mais a “deusa de fora”, um exemplo de rebeldia, uma anarquista que se recusa a aceitar a ordem estabelecida e um espírito independente que traça o seu próprio caminho.

Lilith frequentemente foi considerada uma deusa por méritos próprios. Barbara Walker a vê sob esse prisma, como uma figura de “Grande Mãe” para os agricultores assentados que se indignaram com as invasões dos pastores nômades (1983:541). Supostamente os primeiros hebreus não gostavam da Grande Mãe porque ela bebeu o sangue de Abel, o pastor, depois que ele foi assassinado por Caim, o patrono da Agricultura e da arte de trabalhar em metais. O suposto primeiro assassinato foi associado a Lilith por meio de sua identificação com Naamá a Tecelã, irmã de Tubalcaim. Ela era às vezes conhecida como Lilith, a Jovem. Naamá era tão linda que ela podería até levar seu irmão Tubal (Azazel) para o mau caminho.

Lilith Babellon associa sua homônima aos mistérios praticados na ilha grega da Samotrácia, e isso novamente a associa a (Tubal) Caim da mesma forma. Nos ritos praticados na ilha, a deusa das trevas Hécate deu à luz espíritos vampirescos conhecidos como as Lâmias ou Lillim. Blavatsky descreve a raça demoníaca dos Cabari ou Kabari, que já mencionamos, como modelos culturais que ensinaram a humanidade a Agricultura e a arte de trabalhar com metais. Ela também os identifica com a raça gigantesca grega de deuses antigos conhecida como os Titãs e os sete regentes planetários (1893: 408-9). Knight diz que os Cabari eram “uma linhagem de antigas divindades do mundo subterrâneo e servos da Grande Mãe - que eram deidades marinhas e trabalhadores de metaF (1985:58). Adescrição deles como deidades marinhas provavelmente significa que eles eram urna face dos deuses antigos, que na mitologia antiga diziam que “habitavam nas profundezas”.

Huson descreve os Cabari como uma “raça misteriosa (...) resultante do primeiro acasalamento divino, e sob outra terminologia eles podem bem ser chamadas de elfos e bruxas..." (1972:100-101) Os gregos dividiam os Cabari em dois grupos de acordo com o sexo. Os femininos eram bruxas que lançavam feitiços e encantamentos, enquanto os masculinos eram ferreiros e trabalhadores de metal. Eles tinham o poder de quebrar os feitiços das Cabari femininas e se assemelham aos históricos “homens habilidosos”. Os Cabari masculinos foram, além disso, associados com à invenção do alfabeto e da Matemática.

Os masculinos também se especializaram no uso do bronze em vez do ferro. A partir desse material, eles moldaram a foice de Cronos-Satumo usada para castrar seu pai Urano, o tridente do deus do mar Poseidon- Netuno (o deus patrono de Atlântida), o raio de Zeus-Júpiter, o elmo da invisibilidade usado por Hades-Plutão e o cinturão de Vênus-Afrodite. O nome deles vem da palavra grega “kabeiroi ” e da palavra fenicia “qabirim” e significa os “Poderosos”. Blavatsky alega que Caim pertenceu aos Cabari e foi um “instrutor de toda arte profissional em latão e ferro". Ela também se refere aos “misteriosos trabalhadores de ferro de Rodes, eles foram os primeiros a levantar estátuas aos deuses, se guarnecerem com armas e terem homens versados nas artes mágicas". Ela acrescenta: “E não foram eles que foram destruídos pelo Dilúvio a comando de Zeus, como os Cainitas foram por Jeová". Dizem que os Cabari eram filhos do deus grego do fogo, trovão e arte de forjar metais Hefesto e, fisicamente, eles eram negros, deformados e anões. Hefesto foi retratado usando um chapéu cônico, copiado pelos Cabari. Eles vestiam um píleo ou gorro frigio pontudo que também era usado por Átis e Mithras. Também se tomou o símbolo do alquimista e do mago. Talvez não coincidentemente, chapéus pontiagudos também são associados a gnomos, elfos e duendes, que eram espíritos da terra.

Dizem também que Caim ou Qayin foi um metalurgista sumério. Laurence Gardner diz que ele aparece na história suméria como Arwi ’um, o rei de Kish e o filho de Masda. O nome Masda significa “como uma serpente” e Arwi’um vem da palavra hebraica para serpente. Masda ou Mazda, “lorde”, na Pérsia era Ahura Mazda ou o deus da luz. Ele também era chamado de Ormuzd, “a serpente de luz”. Gardner alega que a tradição de magia persa pode ser traçada a partir de Masda e Arwi’um/Caim, e eles foram os ancestrais de Zoroastro (1999:105-106). No livro sagrado dos Mandeístas, Lilith é a esposa de Mazda, o rei da luz e da gnose. Gardner alega que ele é o equivalente ao anjo hebreu Samael, que era o consorte angelical de Lilith. A irmã gêmea e também esposa de Caim era chamada Luluwa, que significa “pérola”, e ela também foi a mãe de Enoch (Gênesis 4:17). Dizem que Luluwa foi a filha de Lilith e Samael.

O demônio feminino Lilith realmente é uma deusa? George diz que a reputação repulsiva como uma assassina de bebês se refere ao ciclo menstruai feminino e ao lado escuro da Lua. Ela diz: “Quando Lilith estava em seu período menstrual era odiada por se recusar a servir os homens e conceber os seus filhos'” (1992). Isso é parte da reação patriarcal e de misoginia ao princípio feminino e, como Black Koltuv destaca: “Lilith é parte da Grande Deusa que foi rejeitada e banida no período pós-bíblico. Ela representa as qualidades do eu feminino que a Shekinah não possui. A primeira dessas qualidades é a consciência lunar, que é uma conexão aos ciclos da lua crescente e minguante, vida e morte e renascimento; e a deusa como donzela, mãe e anciã. Lilith, a Jovem, é Naamá, a donzela e sedutora. Lilith, a Antiga, é a assassina de bebês, bruxa e raptora. Enquanto a própria Lilith é a mãe das multidões miscigenadas, deusa da Vida e Morte, e a chama da espada giratória”. (1986:121)

No texto Cabalista do século XIII chamado de Zohar ou o Livro dos Esplendores, o ódio de Lilith por Javé deriva do fato de que ela foi criada como a “luz inferior” depois do Sol (Lucifer), visto por essa razão pela ortodoxia como seu rival. Na tradição oculta judaica, ela foi criada no mesmo momento que Adão ou antes dele. Ela era considerada, como seu companheiro angelical Samael, como uma faceta do “poder de Deus” e era retratada na Árvore da Vida como a sefirah Geburah. Samael e Lilith eram originalmente um ser andrógino. Eles eram considerados os Qlippoth, ou opostos demoníacos ao hermafrodita Adão-Eva.

Na astrologia esotérica, Lilith é a “Lúa negra” ou asteroide que o astrólogo Sepheriel alegou ter achado no começo do século XX orbitando entre a Terra e a Lua. Nesse aspecto, ela é às vezes conhecida como a “velha Lua” e supostamente antecede o nosso atual satélite. Em um mapa astral, a Lua negra Lilith é o eu paralelo da personalidade que nos impulsiona para a satisfação dos desejos próprios e, no final, para a autodestruição. Ela representa as estranhas influências, os desejos incontroláveis, as paixões e compulsões cegas que, às vezes, afetam nossas vidas de uma forma totalmente inesperada. Em um nível mais positivo, Lilith pode ser a educadora que nos ajuda a lidar com as experiências emocionais desagradáveis e a confrontar nossos piores medos. A astróloga Lynne Steele-Smith diz que a mensagem de Lilith é: “Abrace suas sombras. Então pegue o fio da sua vida e eu o guiarei do labirinto para a luz do autoconhecimento, o objetivo espiritual supremo”. Um conselho muito Luciferiano.

Outro aspecto positivo de Lilith, astrológicamente falando, é o seu papel como a “dama negra” ou musa que inspira poetas e escritores. Mesmo assim, sua influência pode ser uma faca de dois gumes. Robert Graves escreveu sobre sua faceta como a Deusa Branca, mas o poeta Peter Redgrove a viu como a Deusa Negra. Ela também pode ser a “mara44 da noite”, cujo abrigo no alto de uma árvore é repleto de ossos de poetas mortos, e ela pode trazer morte e loucura no seu despertar. Astronómicamente, a estrela fixa Algol (Beta Persei) foi associada a Lilith e às suas (às vezes) más influências nas vidas humanas. Seu nome significa “diabo” ou “demônio” em árabe e é associado a mortes violentas por enforcamento, decapitação (desmembramento), afogamento e envenenamento. Mas por outro lado Lilith é “a morte que vem no vento da noite” e a esposa de Samel- Azrael, o Anjo da Morte. Ele é um aspecto do princípio feminino que deveríamos respeitar e cruzarmos (especialmente homens) com ela por nossa conta e risco.

Por mais que fosse uma figura tão apavorante, um demônio, vampiro, assassina de bebês e agente da Morte, a carreira de Lilith acaba sob estranhas circunstâncias em uma nota singularmente culminante. Javé expulsou a Matronit-Shekinah, a face feminina do Criador Cósmico, e a substituiu por uma “mulher escrava do Egito”, ou seja, Lilith. Isso aconteceu depois da destruição do templo de Salomão e do exílio dos hebreus na Babilônia no final do século VI a.C. Isso sugere que Shekinah estava encerrada no templo ou na Arca da Aliança; Lilith como a Matronit- Shekinah é associada à sefirah Chokmah na Arvore da Vida. Essa esfera é a expressão de “sabedoria” da natureza quádrupla de YHVH ou Javé. Ela também é associada à Binah como a Mãe Negra do Mar Amargo, às vezes considerada a Abençoada Virgem Maria. Dizem que Chokmah, ou Sabedoria, está com Javé desde o começo da criação.

Gardner (1999:115) comparou Matronit com Anat ou Anath, a Rainha do Céu, e uma filha de Astarote, a consorte de Baal. De acordo com os Gnósticos Mandeístas: “Lilith conhece o segredo da escuridão e da luz, e [ela] une Céu e Inferno. Seu aspecto é aquele da sabedoriaOs gnósticos também disseram que, como Sabedoria, Lilith teve um papel importante em uma versão do mito da Grande Enchente. Ela interveio quando Javé ameaçou afogar toda a raça humana por ter parado de adorá-lo. Um texto gnóstico diz: “¿Yod e sua família foram salvos na arca por causa de uma centelha de luz que veio dela [Sabedoria], e por meio dela o mundo foi novamente enchido de seres humanos.” (Pageis, 1981:65)

Uma das partes mais interessantes e freqüentemente mal compreendida da lenda de Lilith é a criação da raça de demônios pelo contato sexual com humanos adormecidos. Como Lilith Babellon diz: “ Visto que Lilith e Samael não são de origem humana, há uma semente dentro da raça humana que pertence a outra ordem de evolução. Isso é conhecido por muitos nomes, incluindo demônios, elfos, fadas e ninfas. Lilith age desse modo como ‘Deusa Fada Mãe ’, conduzindo as almas élficas para evoluírem através das formas humanas em planos onde o simplório Adão não tem a imaginação para entrar”. R.J. Stewart alega que, quando Lúcifer “caiu” na Terra, os seres do reino das fadas caíram com ele (1992: 79). Ele alega: “A antiga Igreja Celta ensinava que Lúcifer atraiu muitos anjos com ele quando caiu na Terra, muito antes de a humanidade ser formada. Esses se tomaram as raças de fadas, os anjos da Mãe abaixo” (1995:80). Stewart descreveu a suposta Aliança de Três em Um ou a Redenção de Lúcifer. Essa é uma ação espiritual na tradição das fadas para unir as três ordens de existência - a humana, a das fadas e a angelical - que foram separadas na Queda.

Nos mitos de Arthur, que contêm muitos elementos Luciferianos, o nascimento de Merlin e sua sedução por Nimue em sua velhice simbolizam aspectos esotéricos dos casamentos de fada entre humanos e elfos. Na propaganda cristã, Myrddin ou Merlin é o produto da união de um diabo com uma freira. Despida da camada artificial cristã, essa união é o acasalamento entre um ser/deus angelical e uma sacerdotisa humana. Para apoiar esse pensamento, o cronista histórico Geoffrey de Monmouth descreve o pai do mago chefe como um ‘ jovem extremamente bonito que foi um da raça de espírito que existe entre a Lua e a Terra, e que chamamos de demônios íncubos. Eles têm uma natureza que tem partes de homens e de anjos, e eles conversam com mulheres mortais'".

A sedução de Merlin na velhice pela encantadora Nimue, a serva da élfica Dama do Lago, é outro exemplo de um casamento de fadas. Ao passo que em termos cristãos a queda de Merlin é vista como um ato negativo, Knight (1983:164-66) a vê como uma forma poderosa de redenção baseada na “magia antiga”. Ele diz: “Quando Nimue, a donzela da terra, aprender toda a sabedoria estrelar de Merlin, e Merlin aprender toda a sabedoria da terra de Nimue, os dois juntos partirão em um casamento cósmico em direção às estrelas, levando com eles os filhos da Terra". Isso é refletido nos contatos entre o Povo Bom e os humanos gravados nos julgamentos de bruxas. O resultado final desses encontros próximos de fadas é que o humano recebe conhecimento oculto sobre ervas e poderes psíquicos de seus amigos élficos. Com relação à morte de Merlin, sua prisão em uma ‘Torre de Vidro”, que certos relatos chamam de observatório, o associa à doutrina dos deuses antigos e vigias e o identifica com um deles.

A propaganda patriarcal ao longo dos séculos tem denegrido, humilhado e transformado em demoníacos os mitos de Lilith e seu consorte Lúcifer. Conceitos esotéricos como os casamentos entre humanos e a raça élfica têm sido malcompreendidos e mal-interpretados como pactos malignos com intermediários diabólicos anti-humanos. Na realidade, essas intervenções em nossa evolução planetária têm ajudado a raça humana a progredir e a se desenvolver tanto espiritualmente quanto materialmente. Esses contatos também nos ajudaram a manter acesa a chama pura da sabedoria e do conhecimento passado pela primeira vez para a humanidade pelos deuses antigos éons atrás.


Luciferianismo - A Rainha Da Sabedoria


Uma das companheiras do Rei Salomão na Bíblia foi a Rainha de Sabá. Ela recebe apenas uma pequena menção, mas ainda assim muitos mitos e lendas notáveis acerca dela têm crescido no decorrer dos séculos. Esse processo é geralmente um forte indicativo de uma antiga figura típica ou lendária que entrou em conflito com a ortodoxia de sua época. Uma dica de que isso se relaciona a Sabá é dada pelo seu nome. Ele significa “sete”, um número místico que nos traz à memória os sete governadores ou regentes planetários angelicais e a Deusa das Sete Estrelas e um “juramento” no sentido de um pacto ou contrato feito com os poderes celestiais. No Cântico dos Cânticos, Sabá diz: “Nao olheis sobre mim, porque sou morena, porque o sol resplandeceu sobre mim” (1:6). Isso nos faz lembrar de um dos títulos dado a Seth, “o queimado”. Por isso Sabá é mais do que apenas uma governante em visita a uma terra exótica por quem Salomão se apaixona, e temos de procurar o verdadeiro significado por trás da fachada exterior.

Referências bíblicas sobre Sabá podem ser encontradas em 1 Reis 10:1-13. O trecho descreve como ela viajou para Jerusalém para ver Salomão depois de ouvir a respeito de sua famosa sabedoria. Sabá queria provar para si que o rei possuía conhecimento (oculto) e, então, de acordo com a Bíblia, ela foi prová-lo por “enigmas”. Isso indica que Sabá era uma pessoa sábia e instruída. Aliás, podemos supor que o encontro foi entre dois iniciados e é interessante ver que Sabá considerava Salomão como “a estrela da manhã”.

Sabá chegou a Jerusalém com “uma grande comitiva, com camelos carregados de especiarias e muitíssimo ouro e pedras preciosas”. Parece que ela estava disposta a pagar um alto preço pelo conhecimento que achou que podería obter do rei hebreu. A referência a especiarias é interessante, pois alguns estudiosos da Bíblia colocam a terra de Sabá no sul da Arábia, que era a fonte de olíbano - oferecido pelos três magos ao menino Jesus. Um escritor francês, Gerald de Nerval, descreveu imaginativamente a rainha como “coroada com estrelas, em um turbante cintilante com as cores do arco-íris, a face dela é de tom de oliva".

Assim como pela sua sabedoria, Salomão era famoso pelo seu conhecimento das artes mágicas. Isso pode ser outro motivo que fez com que Sabá fosse atraída a visitá-lo. Acreditava-se que o rei podia controlar djinns e os espíritos dos elementos o obedeciam - os gnomos, ondinas, silfos e salamandras. Eles ajudaram Salomão na construção do seu templo. Uma das mais famosas contribuições de Salomão para a Arte foi um livro de encantamentos para evocar os espíritos e controlar demônios e elementáis. Esse volume foi banido já no século VIII a.C. pelo rei Ezequias de Judá. No entanto, uma cópia ainda estava em ampla circulação no século I d.C. e era considerado como um grimório altamente apreciado pelos magos judaicos.

O volume é mencionado novamente no século XI como um estudo escrito por Salomão sobre as jóias mágicas e a evocação de demônios. Ele é mencionado novamente no século XIII e, em 1350, um livro chamado de Livro de Salomão35 foi publicamente queimado sob as ordens do papa Inocêncio VI. Todavia, dizem que em 1456 o duque de Borgonha tinha uma cópia do tratado proibido. Em 1559, a Inquisição espanhola também queimou cópias do livro como uma obra herética e perigosa. Mais tarde, ele apareceu como a Clavicula Solomonis ou Chave de Salomão, e uma cópia é mencionada pela Inquisição de Veneza como pertencente a uma bruxa no século XVII. A Chave foi traduzida para o inglês no século XIX por Samuel MacGregor Mathers, membro da Aurora Dourada, e tem sido usada hoje em dia tanto por magos cerimoniais quanto por bruxas tradicionais.

Sabá ficou tão impressionada com a extensão do conhecimento e sabedoria de Salomão que o presenteou com 120 talentos36 de ouro, mais todas as especiarias e jóias que trouxe com ela em sua comitiva. Em resposta a esse generoso gesto, Salomão “deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou e pediu, além do que já lhe havia dado da sua munificência reaF (1 Reis 10:13). Depois dessa troca, a lenda popular diz que eles se tomaram amantes, e a rainha deu à luz um menino. Ele foi chamado de Menelik,37 ou “filho do sábio”. Esse filho de Salomão e Sabá mais tarde foi o fundador da dinastia abissínia ou etiópica dos “reis leões”. O último dessa casa real foi Haile Selassie I - o também chamado “Leão de Judá” que foi deposto em um golpe de Estado na década de 1970. Também na Etiópia, uma das possíveis terras natais de Sabá, ela era conhecida como Makeda ou “a flamejante”. Isso foi uma referência à passagem de um cometa pelo céu. Isso é um sinal de que ela era considerada como uma iniciada dos Mistérios, uma “Alma Antiga”, uma adepta ao ocultismo ou iluminada cujo espírito é transportado para as estrelas após a morte. Depois da desencamação, eles estão livres para retomar à terra, se desejarem, como, para usar o termo oriental, um Bodhisattva para auxiliar a humanidade.

Em uma das lendas mais curiosas sobre Sabá como uma jovem, ela foi amarrada nos galhos de uma antiga árvore imensa como uma oferenda para um dragão (a Árvore do Mundo e a serpente alada que a guarda?). Sete sábios ou homens sagrados sentaram-se à sombra da árvore para discutir assuntos espirituais. Quando o dragão chegou, eles o mataram e resgataram Sabá. Quando ela voltou ilesa à sua vila, os anciões ficaram tão impressionados que a nomearam a “líder de todos os líderes”.

Infelizmente, quando os sábios mataram o dragão, parte do sangue venenoso espirrou no pé e na pema esquerda dela. O sangue tomou a pema dela peluda e o pé ficou como um casco rachado, parecido como o de um bode. Dizem que, quando ela viajou para Jerusalém, Salomão curou seu membro deformado, que voltou à forma humana.

O encontro entre a rainha africana ou árabe e o rei hebreu pode ser compreendido, muitíssimo no nível esotérico, como um “casamento sagrado”. Sabá representa a personificação feminina da sabedoria divina, simbolizada pela Lua, que se une a Salomão como o rei Sol. Ela foi comparada a Sophia ou Sabedoria, conhecida como “o espelho de sabedoria” e a “noiva mística”. O último termo também foi usado para descrever a Shekinah ou “Noiva de Deus” no misticismo hebraico. Outro título de Sophia era a “Senhora do Mundo Interior”, e ela aparece no Taró como a carta da Alta Sacerdotisa. Ela retrata uma figura feminina, vestindo uma coroa de lua crescente e um manto azul, sentada em um trono entre os dois pilares gêmeos de Joachin e Boaz. Na página título da obra de Kircher A rs Magna Sciendi (1969), Sophia é retratada entronizada segurando um livro que contém um alfabeto. Essa é uma representação das sete chaves hieroglíficas que supostamente contém o todo do conhecimento humano. Sabedoria ou Sophia também foi descrita como a “companheira de juventude” de Adão e comparada a Eva, que foi criada a partir da anima ou do eu feminino do primeiro homem andrógino (Roob, 1997:171). Como “companheira de juventude”, Sophia é possivelmente a primeira esposa de Adão, Lilith, que examinaremos no próximo capítulo.

O filósofo hermético do século XVI Giordano Bruno comparou a deusa da Lua Diana com Sophia baseando-se no fato de que Luna (a Lua) é um espelho refletindo a luz do Sol. Na lenda de Actaeon e Diana, o caçador é o intelecto do homem buscando a sabedoria divina. Quando ele finalmente agarra Diana-Sophia no espelho da natureza e levanta o véu de seu segredo lunar, toma-se vítima de sua própria luta, pois a matilha dela o rasga em pedaços. O caçador toma-se o caçado e ele percebe que atraiu o Ser Supremo para dentro de si, e que não precisa mais buscá-lo fora. Aliás, como Aradia, a filha de Diana, diz: “Se o que busca não encontrar dentro de você, jamais encontrará sem você”

Dizem que, depois de Sabá dar à luz o filho deles, Salomão deu a ele a Arca da Aliança, como um presente de nascimento. Em uma versão da história, Sabá e Menelik conspiraram juntos para roubar a Arca e levá-la de volta para a terra natal deles. Alega-se que a Arca - representando a efetiva presença de Javé na Terra e contendo as placas dos Dez Mandamentos - ainda é preservada em um mosteiro etíope. Sacerdotes-monges que são os guardiões hereditários fervorosamente a protegem de intrusos. Outra história diz que Salomão também deu a Sabá a pedra de esmeralda que caiu da coroa de Lúcifer. Supostamente essa pedra foi entalhada em uma tigela ou bandeja que foi usada na Ultima Ceia e hoje pode ser vista em uma igreja em Gênova.

Uma lenda em relação às origens de Sabá diz que ela governou sobre Sabá, a terra dos sabeus ou adoradores de estrelas. Eles supostamente viveram no sul da Arábia no que é hoje a república do Iêmen. Em setembro de 2000, o jornal The Times relatou que os arqueólogos descobriram um templo de 3 mil anos dedicado ao deus Lua no norte do Iêmen. Ele estava localizado perto da cidade de Marib, que por muito tempo é associada à rainha de Sabá. Eles acreditavam que a descoberta nas areias cambiantes do deserto podería provar que a rainha bíblica veio do sul da Arábia. No entanto, em 1999, um arqueólogo britânico anunciou que havia achado as minas da cidade da rainha nas florestas tropicais da Nigéria, na África ocidental. Os habitantes locais chamavam Sabá de Birikisu Sungbo, e peregrinos ainda visitam o local que dizem que é o túmulo dela. Outra versão ainda diz que ela governou a civilização perdida de Núbia no atual Sudão. Diversos governantes núbios migraram para o norte e se tomaram faraós no Egito.

Outra história lendária relata como um pássaro poupa contou a Salomão sobre a “grande rainha” que vinha de “uma terra maravilhosa” da qual ele nada conhecia. Esse pássaro falante estava aparentemente ensinando a Salomão a suposta “língua dos pássaros” conhecida pelos mestres Sufis medievais. Essa era a língua de Enoch ou língua universal angelical falada antes da Torre de Babel. Nessa história, foi Salomão quem ordenou Sabá, descrita como uma “adoradora do sol”, a comparecer em sua corte. Quando ela chegou, ele ficou horrorizado quando ela passou por um chão espelhado do seu palácio. Ele podia ver por baixo do vestido, e ela tinha pernas peludas como um bode. Salomão concluiu que ela deveria ser um dos demônios do deserto, chamados seirim, que seguiam Azazel, ou o vampiro demônio feminino Lilith.

Alguns escritores associaram Sabá ao culto medieval da Virgem Negra que era reverenciada por heréticos medievais como os Cavaleiros Templários. Pode ser assim que ela foi ligada estranhamente ao mito do Graal. Sabá supostamente foi a responsável pela construção da Nave de Salomão, uma embarcação mágica com o poder de viajar pelo tempo e o espaço. Foi supostamente nesse barco que sir Galahad viajou até o Castelo do Graal no mito de Arthur. Sabá revelou que Salomão teve uma visão do cavaleiro no futuro e, por essa razão, ordenou a construção do navio. Ele aparentemente foi construído da madeira obtida da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Éden. Há muito simbolismo estranho aqui...

Sabá também faz uma aparição coadjuvante como convidada no Novo Testamento que serve para ligar Jesus a seu ancestral Salomão. Jesus indiretamente se refere a ela como “a rainha do sul”. Ele fala aos fariseus, uma seita que ele desprezava, que “a rainha do Sul se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará”, (Mateus 12:42) É possível, a partir desse comentário, e o fato de que a Condessa de Toulouse às vezes tenha sido chamada de Rainha do Sul, que Sabá pode ter sido associada ao culto da Virgem Negra. Sua adoração era mais forte no sul da França, onde, heresia também floresceu durante a Idade Média.

Ean Begg (1985) também associa Sabá a uma lendária personagem folclórica da Idade Média, chamada rainha Sybilla, cujo nome provavelmente deriva de “sibila” ou vidente feminina. Ela supostamente foi a ancestral de todas as bruxas, bruxos e mágicos. Ela era caracterizada fisicamente por ter pés palmados como os de um ganso. Isso é comparado às pernas ou aos pé de bode de Sabá. Aliás, Sabá foi descrita como “uma sibila com pés iguais aos de um ganso e olhos cintilantes como as estrelas”. O pé de ganso é um nome antigo para o pentagrama, a Estrela de Davi,40 e dizem que é a pegada da deusa-demônio Lilith. Caitlin Matthews associou Sabá-Lilith com à deusa clássica Vênus e a lenda do Monte de Venus. Ela é “a deusa escondida na montanha que conhece tudo e cujo abraço concede a transmissão de conhecimento” (1991: 212). Essa “deusa escondida”, diz Matthews, é a Deusa Preta ou Negra que guarda o Graal e inicia o explorador na sabedoria.

A deusa de pé de ganso das bruxas aparece ñas rimas infantis como a Velha Mamãe Ganso, que possui a imagem típica de uma bruxa velha. Sibilina foi associada à princesa merovíngia Bertha, conhecida pelo apelido de “Pé Grande”. Embora Bertha seja um nome cristão convertido, seu nome é uma variação de Berchta ou Holda, a deusa germânica do inverno. Frau41 Holda viajava pelo céu à noite na forma de um ganso e neve caía de suas asas.

Dizem que os merovíngios descendem de um casamento de fadas entre um humano e um monstro feminino conhecido como um quinotauro42 chamado Melusine. Popularmente conhecidos como os “reis feiticeiros de cabelos compridos”, os merovíngios eram adoradores da deusa Diana- Ártemis, antes de serem convertidos ao Cristianismo. Na Idade Média, cabelo comprido em homens ou em mulheres era considerado um sinal de que eles praticavam feitiçaria e adoração ao demônio. Dizem que a dinastia preservou a linhagem sagrada do rei Davi e seu filho Salomão. Por essa razão, eles aparecem intensamente em especulações sobre a existência do sang rael ou a linhagem de Jesus de Nazaré.

Sabá pode também ser relacionada com Herodias, a esposa do rei Herodes que, dizem, imigrou para a França. Herodias, às vezes chamada de Herodiana, foi confundida com a deusa bruxa Habondia ou Nocticula. Ela concedeu um dos nomes alternativos para Aradia, a deusa das bruxas italianas e a filha de Diana e Dianus (Lúcifer). Habondia é também outra versão de Perchta ou Holda e ainda é reverenciada sob aquele nome em covens de bruxas tradicionais. Paul Huson descreve Habondia como “a deusa [bruxa] vista como a Dama do Amor e Abundância” (1970: 218). Portanto, fizemos uma análise completa, porém é óbvio que existe muito mais a respeito da Rainha de Sabá do que a breve menção dela na Bíblia pode dar a entender.


Luciferianismo - O Templo De Salomão


Historiadores maçônicos não deram nenhuma razão para a história de Ninrode e da Torre de Babel ter sido substituída pela lenda do Rei Salomão e seu templo nas origens lendárias da arte deles. No entanto, o projeto e a construção do templo em Jerusalém são imersos em doutrina arcana, simbolismo Luciferiano e história maçônica. Já no século XIII, um bispo cristão associou a construção do templo à construção das grandes catedrais góticas pela Europa. E observou como os construtores que as edificaram haviam incorporado naquelas igrejas medievais a escada em caracol do templo judaico, que representava “o conhecimento oculto que somente aqueles que ascenderam aos planos celestiais possuem. O bispo prossegue dizendo como ‘as pedras são polidas e quadriculadas, que é sagrado e puro e são construídas pelas mãos do Grande Desconhecido em um lugar permanente na igreja.” (Jones, 1950:426-7)

No relato bíblico sobre a construção do templo, é afirmado que Salomão pediu assistência ao pagão rei Hirão de Tiro na Fenicia (Líbano atual). Naquele tempo, Tiro era famosa em todo o Oriente Médio pela adoração da deusa Astarte. Salomão trocou com o Rei suprimentos de cevada, trigo, óleo, cereais e vinho como pagamento pela madeira de cedro usada para construir o templo e os serviços dos arquitetos, pedreiros, carpinteiros e trabalhadores de metal. O Rei também enviou um ferreiro e mestre construtor chamado Hiram Abiffpara supervisar os construtores e o trabalho deles. Abiff é descrito de várias maneiras como “um artífice de metal” ou “homem habilidoso”. Em termos bíblicos, um “artífice habilidoso” era um mago ou feiticeiro e, como veremos, o homônimo do rei tinha algum conhecimento das artes mágicas.

Hiram Abiff é às vezes chamado de filho do rei Hirão, e é descrito enigmaticamente como “o filho da viúva”. Ainda hoje os maçons se referem a si mesmos usando esse termo, que é às vezes usado para se apresentar para um membro Irmão. Em termos pagãos, a expressão é uma referência codificada ao “deus mortal” da mitologia do Oriente Médio, que morre, descende ao mundo subterrâneo e é pranteado pela sua mãe deusa. Essa figura da “viúva” aparece em muitas culturas; ela é Ishtar chorando por Tamuz, Isis em luto por Osíris e Frigga lamentando a morte de Baldur. Nos mistérios cristãos, ela é a Abençoada Virgem Maria, como Mãe Dolorosa, a “mãe aflita” ao pé da cruz que recebe em seus braços o corpo armiñado de seu filho sacrificado — a “Luz do Mundo”. (João 8:12)

A adoração do deus pagão Tamuz nos arredores do templo em Jerusalém é mencionada no Velho Testamento. Descrevendo uma visão recebida de Javé, o profeta Ezequiel diz: “Então ele me levou ao átrio interior da casa do Senhor, que está do lado do norte, e vi ali mulheres assentadas chorando por Tamuz”. Ele prossegue descrevendo como foi levado ao átrio intemo do templo. Lá, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte homens estavam em pé com os rostos para o Oriente adorando o sol na maneira pagã. (Ezequiel 8:14-16)

Na doutrina maçônica, Hiram Abiff dividiu seus empregados em três grupos ou graus conhecidos como Aprendiz, Companheiro e Mestre Constmtor (maçom) e ainda hoje eles são usados na Maçonaria. Cada grau aplicava seu próprio conhecimento, palavras de passe secretas, sinais e marcas de construtores pelas quais eles se reconheciam e identificavam seus graus. Alguns dos construtores não estavam satisfeitos com os graus que tinham recebido e conspiraram para obter uma posição mais alta. Três Companheiros, Jubela, Jubelo e Jubelum, decidiram confrontar Hiram Abiff e forçá-lo a revelar a palavra de passe secreta do grau de Mestre Construtor. Eles prepararam uma emboscada nas três entradas do templo inacabado.

Enquanto Abiff passava pela entrada sul, ele foi confrontado por Jubela. Quando se recusou a revelar a palavra de passe, Abiff foi golpeado na garganta com uma régua. O construtor machucado cambaleou até a entrada oeste, e sua saída foi impedida por Jubelo. Novamente ele se recusou a entregar a palavra de passe e foi atingido no peito por um compasso. No final, mortalmente ferido e sangrando intensamente pelas duas feridas, ele tentou escapar pela entrada norte. Ali Jubelum estava à espera. Apesar de estar morrendo, Abiff ainda se recusou a revelar o segredo pela terceira vez. Ele foi atingido entre os olhos com um malho ou martelo de construtor e caiu morto.

Para esconder o seu ato covarde, os assassinos apavorados secretamente esconderam o corpo do arquiteto no Monte Monah, onde Enoch havia “andado com Deus e Ele o tomou”. Eles plantaram um arbusto de acácia perene sobre a cova rasa para esconder a terra remexida. Tentaram então fugir para o sul, em direção à Etiópia, mas foram pegos na fuga e executados. O Rei Salomão enviou grupos de busca para encontrar o corpo de Abiff e no final ele foi encontrado. Os Aprendizes do templo tentaram sem sucesso trazer seu mestre de volta do mundo dos mortos. Ele foi finalmente ressuscitado pelos Mestres Construtores usando “o aperto forte da garra do leão”.

Manly Palmer Hall disse sobre a história de Hiram Abiff e seu assassinato: “Dessa forma, o construtor assassinado é um tipo de mártir cósmico - o espírito crucificado do Bom, o deus mortal cujo mistério é famoso por todo o mundo". (1962: IXXVIII)

Hall associa Abiff à força criativa (fálica) solar que morre e é renascida durante o curso do ano. O rito de necromancia realizado pelos Mestres Construtores chamado de “o aperto forte da garra do leão” é, segundo Hall, uma referência ao signo zodiacal de características da realeza, o Leão. Ele é associado ao mês de agosto e, na moderna tradição neo- pagã, com Lammas e o sacrifício do rei divino.

Nos ritos de iniciação dos mistérios pagãos, o leão representava “a superação das forças da morte e do renascimento, e a afirmação da imortalidade individual do espírito humano”. (Knight, 1985:70) No Rosacrucianismo, o leão é o símbolo para o sol e a força fálica solar associada ao “poder da serpente” do kundalini, acordado na magia sexual por um processo de equilíbrio dos quatro poderes elementais e pelo crescimento a partir dos poderes da Lua em conjunção com as outras seis forças planetárias. (Knight, 1985:88)

Na Alquimia, a união mística ou “casamento sagrado” dos poderes solares e lunares é simbolizada pela serpente com cabeça de leão. Podemos recordar que ela é um dos símbolos usados pelos antigos egípcios para descrever o deus solar negro Seth. Em processos alquímicos, a união entre o rei solar e a rainha lunar produziu um “filho mágico”, que era o ser humano andrógino aperfeiçoado antes de Adão. Como Gareth Knight diz: “a maior visão de unidade encontra-se na transformação da Deusa, a dançarina no centro da rosa. Esse é um mistério a ser encontrado também nas lendas do Santo Graal e o segredo da jóia na cabeça do sapo da Alquimia. Aquela [jóia]que caiu da coroa do caído Filho da Manhã'. (1985:189)

Jesus foi descrito como “... o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi...” (Apocalipse 5:5). Alguns escritores sugeriram que isso era porque ele nasceu sob o signo astrológico de Leão (Gilbert, 1996:223). No entanto, é mais provável que ele tenha recebido esse título por causa de sua ligação com os antigos mistérios egípcios e a linhagem sagrada dos antigos “reis leões”.

Alguns antigos historiadores maçônicos viam Hiram Abiff como outra forma de Osíris. Uma das entradas em que Abiff foi golpeado foi a do oeste, onde o sol se põe. Na mitologia egípcia, o mundo subterrâneo governado por Osíris depois de sua própria morte era situado no oceano ao oeste. Osíris tradicionalmente levanta dos mortos no norte, e na astrologia egípcia esse é o local associado ao Leão. O sul, onde Abiff foi ferido primeiro, era tradicionalmente o domínio de Seth. Osíris às vezes também era chamado de o Senhor da Arvore de Acácia, e essa é a mesma árvore que os três assassinos plantaram sobre a cova do mestre construtor.

A tradição esotérica alega que Hiram Abiff foi membro de uma antiga sociedade de construtores e arquitetos conhecida como os Artífices de Dioniso. Eles supostamente apareceram pela primeira vez por volta do ano 1000 a.C. e adotaram seu nome a partir do deus grego Dioniso, que é outra versão do deus mortal da vegetação. A Sociedade usava sinais secretos e palavras de passe para se identificar, era dividida em capítulos ou Lojas governadas por um mestre construtor e se dedicava a ajudar os pobres e os doentes. Dizem que eles estabeleceram Lojas secretas na maioria dos países mediterrâneos, por todo o Império Romano e até a índia no Oriente. Eles eram associados a outra sociedade secreta ligada à construção civil chamada Jônios. Membros desse grupo haviam se estabelecido na Ásia Menor e, como modelos culturais, eles se dedicaram a expandir a cultura, especialmente em sua forma grega, àquele que eles consideravam o mundo bárbaro.

Os Jônios foram supostamente responsáveis pelo famoso templo à deusa Diana, em Efeso, na Turquia de hoje, que foi condenado por São Paulo e destruído pelos cristãos. Uma lenda diz que os Jônios e os Artífices viajaram de Tiro para trabalhar no templo de Salomão. Mais tarde, os Artífices adotaram na prática o nome de os Filhos ou Crianças de Salomão, em sua honra. Eles também fundaram os Cassidens, um grupo na Palestina responsável pela construção e restauração de sinagogas. Foi alegado que, em contrapartida, os Cassidens colaboraram para a fundação da comunidade mística dos Essênios, cujos membros podem possivelmente incluir João Batista e Jesus de Nazaré.

Os Artífices de Dioniso tinham muitas opiniões em comum com as corporações de construtores medievais e com os maçons que os seguiram. Eles acreditavam que templos tinham de ser construídos usando os princípios da Geometria sagrada. Pelo uso habilidoso da simetria, medida e proporção, os Artífices construíram edifícios religiosos que representavam o corpo humano como um símbolo de Deus, o Universo e o Primeiro Adão, o “homem aperfeiçoado”. Os projetos de muitos templos antigos foram baseados na proporção do corpo humano como um microcosmo no macrocosmo em termos herméticos. Kircher, em seu livro Arca Noê27 (1675), disse: “Quando o homem se estica em cruz, de forma que o círculo toca as extremidades de suas mãos e pés, o centro está no umbigo. Mas, se ele coloca seus pés juntos, o centro está no meio do membro [falo] humano. Era de acordo com essa medida do corpo humano que Noé supostamente construiu sua arca e Salomão, seu templo.'’'

As teorias dos Artífices sobre o projeto do templo, a Geometria sagrada e a Arquitetura foram amplamente baseadas na unidade mística entre a humanidade, o Universo e Deus. Eles também fomentavam uma crença conjunta em uma utopia na Terra. Isso era expresso simbolicamente por um bloco grosseiro de pedra ou rocha chamado de pedra polida,28 que o mestre construtor, representando o Grande Arquiteto do Universo, estava constantemente polindo e talhando para transformá-la em um objeto de perfeição. O malho e o cinzel do construtor representam as forças cósmicas que moldam o destino da humanidade. As semelhanças entre essas crenças e aquelas dos maçons tempos depois são certamente notáveis para ser totalmente coincidentes.

Uma das muitas coisas surpreendentes sobre o templo de Salomão, que deveria supostamente ser a “Casa de Javé”, é que o rei hebreu pediu materiais e ajuda de um rei pagão e usou trabalhadores pagãos para construí-lo. Isso foi em uma época em que os hebreus deveríam estar adorando um deus monoteísta. B.W. Anderson alegou que “o templo projetado por arquitetos fenicios (isto é, canaanitas) representava a invasão da cultura canaanita exatamente no centro da vida e adoração de Is- raer. Aliás, o projeto do templo em Jemsalém era muito similar, se não idêntico, a outros templos do Oriente Médio, incluindo aqueles do Egito. Além disso, os suprimentos enviados por Salomão a Tiro como pagamento suspeitosamente se parecem com o tipo de ofertas sacrificatorias feitas às divindades dos cultos de fertilidade na região.

Dizem na tradição cabalista que havia uma troca de correspondências prolongada e secreta entre os dois reis contendo enigmas que Salomão tinha de responder. E extremamente tentador especular que Salomão tinha se tomado um aluno do rei pagão e “foi instruído por ele nos mistérios das deusas Ishtar e Astarte e na descida delas ao mundo subterrâneo”. (Howard, 1989: 15) O historiador e pesquisador maçônico J.S.M. Ward vai mais além ao alegar que o Rei Hirão e o Mestre Construtor Hiram Abiff eram uma e a mesma pessoa - um rei-sacer- dote de Tiro, “a encarnação viva de Adônis [Tamuz]”. Nessa função, ele foi oferecido como um sacrifício de consagração na conclusão do templo de Salomão.

Enquanto muitos leitores da Bíblia acreditam na história fabricada de que o templo foi construído e dedicado para a adoração de Javé, o dr. Raphael Patai alegou que por mais de quase quatrocentos anos existiu em Jemsalém uma estátua de Asherah, representando a deusa da fertilidade e a consorte secreta de Javé. O dr. Patai diz: “A adoração a ela fazia parte da verdadeira religião aceita e guiada pelo rei, a corte e a classe sacerdotal....” (1990:50) Essa imagem da deusa canaanita somente foi removida quando os babilônios invadiram o templo em 586 d.C. e o destruíram.

Mesmo enquanto ele era um seguidor dedicado de Javé, Salomão imitou o exemplo de muitos dos seus próprios súditos e foi também um adorador da deusa da fertilidade. O Antigo Testamento afirma de forma perfeitamente clara: “No tempo da velhice de Salomão, suas mulheres [estrangeiras] lhe perverteram o coração para seguir a outros deuses (...) Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios...” Suas mulheres também “queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses (1 Reis 11:4-8) Enquanto dizem que isso aconteceu quando Salomão era velho, antes mesmo de construir seu templo, ele havia feito uma aliança com o faraó egípcio e se casou com uma de suas filhas. Fazer bolos como oferendas à “Rainha do Céu” e queimar incenso em bosques sagrados em “locais altos” para Baal, Anat e Asherah-Astarte eram práticas comuns durante o reinado de Salomão. Existem diversas referências a elas no Velho Testamento e sua reprovação pelos profetas.

Na doutrina esotérica maçônica, dizem que houve três templos de Salomão. O primeiro foi conhecido como “A Grande Casa do Universo” ou “A Casa da Luz Eterna”. Ele era representado pelos 12 símbolos do zodíaco girando em tomo do sol e simbolizava o sistema solar e o Universo físico. O “segundo templo” era o corpo humano como um microcosmo do macrocosmo. Ele representava o iniciado percorrendo o Caminho, aquele que está na busca da gnose e da iluminação espiritual por meio do contato com o Deus Oculto dentro dele.

Em termos esotéricos, o “segundo templo” era erguido quando o iniciado compreendia que ele ou ela era um “templo do espírito” e que “o espírito de Deus habitava dentro deles”. Um dos dizeres atribuídos às cerimônias de iniciação nos Mistérios pagãos era “Tu és Deus”. O assim conhecido “terceiro templo” é o “templo invisível e não feito com mãos humanas”. No Cristianismo esotérico é a “Igreja Oculta do Santo Graal” e “O Templo Celestial”.

Dizem que o templo “não foi construído por mãos humanas” porque supostamente um verme misterioso ou uma criatura serpentiforme chamada de Shamir talhava e cortava as pedras. Outras histórias dizem que Salomão contou com a ajuda sobrenatural para construir o templo na forma de serventes elementáis que ele invocou usando seus poderes de mago. Ele supostamente evocou djinns (espíritos) e demônios para mover enormes blocos de pedra para a posição correta. Curiosamente, um antigo documento de Alexandria refere-se aos poderes mágicos dos sacerdotes egípcios que “tinham domínio sobre os espíritos dos elementos”. Eles conseguiam, supostamente por magia, “carregar pedras para seus templos, através do ar, que mil homens não conseguiríam erguer”. (Collins, 1998: 39)

Um dos mais notáveis objetos no templo era o chamado Mar de Fundição. Ele era um caldeirão ou tigela enorme com uma borda decorada com lírios. Era sustentado por 12 bois, três em cada quadrante. (1 Reis 7:23-26) Manly Palmer Hall comenta sobre ele: “A alma, formada por uma invisível substância ardente, um metal dourado brilhante, é fundida pelo mestre construtor Chiram Abiff em um molde de barro (o corpo físico) e é chamado de Mar de Fundição”. (1962 CLXXV) Isso é uma alegoria ligada aos poderes da arte do forjador de metais, como um meio de transmutar o físico no espiritual. O Mar de Fundição é a obtenção da consciência cósmica por meio da “centelha divina na foija” operada pelo ferreiro divino. Anderson também diz: “O mar (alegórico ao primeiro oceano) era sustentado por 12 bois [e] reflete fertilidade e temas mitológicos do Crescente FértiF (1971). Na verdade, Hiram Abiff teve uma visão de Tubalcaim que concedeu a ele o poder para terminar o templo e fazer o Mar de Fundição. Dizem que a Rainha de Sabá se apaixonou por Hiram Abiff enquanto ela era hóspede e amante de Salomão. Quando o rei descobriu, contratou três dos construtores para matar o seu rival.

Dois outros objetos entre os mais importantes no templo eram os pilares gêmeos chamados de Joachin e Boaz, que se encontravam na entrada do edifício. Eles eram decorados com romãs, que dizem ter sido as “maçãs” que nasciam na Arvore do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Diz-se que estes pilares foram montados como cópias dos obeliscos encontrados nas entradas dos templos egípcios. Os mais famosos destes são aqueles erguidos pelo faraó Tutmés ou Tutmósis III na cidade solar de Heliópolis por volta do século XV a.C. Freqüentemente, mas de forma incorreta, referidos como os Obeliscos de Cleópatra, um se encontra na barragem do Tâmisa em Londres e o outro, no Central Park em Nova York.

No Egito Antigo, mesmo antes da construção das pirâmides, obeliscos ou pilares eram usados para unir simbolicamente a Terra com o Céu. Antes da unificação das Duas Terras, cada uma tinha seu djed ou pilar especial. No Baixo (ou do norte) Egito, o pilar ficava em Heliópolis e no Alto (ou do sul) Egito ele era situado em Tebas. Pilares gêmeos similares foram encontrados no templo de Astarte em Tiro e em seu outro centro de culto em Biblos, que aparece como o local de descanso de Osíris, cujo caixão foi transformado em um dos pilares do templo. Jacó também ergueu um menir ou um pilar para ligar o Céu à Terra (Gênesis 28:18), e esses diversos pilares poderíam ser outra versão da Torre de Babel.


Foi sugerido que os pilares gêmeos representavam o poder fálico e da yoni29 na natureza, simbolizados pelos casais divinos como Baal e Astarote, ísis e Osíris, Ishtar e Tamuz e talvez até Javé e Asherah. (Home, 1977:223) O escritor e historiador maçônico Albert Churchward, em seu livro Os Mistérios da Maçonaria30 (1915), diz que os pilares gêmeos podem ter sido cópias dos egípcios chamados de Pilares de Seth e Hóms. Eles simbolizavam os poderes da escuridão e as forças da luz e sua luta pela supremacia sobre o Egito (o Universo).

Os pilares exerceram uma parte importante na tradição salomónica. O Rei requisitou ser ungido como o governante de Israel enquanto era coroado entre eles. Foi também aqui que Javé concedeu a ele o dom da sabedoria, onde ele saudou o rei Hirão de Tiro e onde ele entrevistou Hiram Abiff para a função de arquiteto chefe e mestre construtor. O que acabou de ser citado sugere que os pilares estavam em suas posições originais antes de as fundações do templo ser construídas. Foi também entre os pilares que o rei casou com sua princesa egípcia, a Rainha de Sabá, e a receberam em audiência. (Home, 1977: 231, citando documentos maçônicos do século XVIII)

Na tradição maçônica, os pilares gêmeos salomónicos são evidentemente associados aos famosos Pilares Antediluvianos, que são conhecidos de diversas maneiras, como, por exemplo, os Pilares de Seth, os Pilares de Enoch, os Pilares de Noé, os Pilares de Jabal ou os Pilares de Tubalcaim, dependendo da versão na qual suas origens são relatadas. Eles não são obviamente os originais, mas cópias feitas por Hiram Abiff sob as ordens de seu empregador real. No entanto, ainda em outro ato de sanitização, os pilares salomónicos substituíram os Pilares Antediluvianos em algum momento no século XVI ou no começo do século XVII. (Home, 1977:238) Hoje esses dois pilares devem ser encontrados em toda Loja Maçônica. Dentro de algumas ordens mágicas, como a Ordem Hermética da Aurora Dourada, fundada por maçons de altos graus e neo-rosa- cruzes, alguns mágicos cerimoniais modernos adotaram os pilares gêmeos como acessórios de templo convenientes.

Um exemplo medieval de como crenças maçônicas, pagas e heréticas se misturaram na construção religiosa crista, tendo como modelo o templo de Salomão, pode ser encontrado na capela Rosslyn, perto de Edimburgo, na Escocia. A capela foi projetada e construída no século XV por sir William de St. Clair (Sinclair na ortografía moderna do nome da familia). Ele tinha sangue viking e possuía os títulos de Conde de Órcades, Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro e Cavaleiro da Ordem de Santiago de Compostela. A familia St. Clair era associada aos Templários e, desde tempos antigos, foram protetores da Maçonaria e defensores dos costumes (pagãos) populares ainda existentes. No século XVIII, foram também leais seguidores da causa Jacobita para restaurar a dinastia Stuart ao trono britânico no lugar dos usurpadores da casa real de Hanover.

A singular capela em Rosslyn incorpora em sua decoração interior símbolos dos mistérios dos maçons e rosa-cruzes, paganismo Nórdico e Celta, Gnosticismo e heresia cristã. Sir Andrew Sinclair mencionou que, além do simbolismo cristão, judaico, islâmico, rosa-cruz e maçônico na capela, “os construtores também gravaram suas crenças antigas nos espíritos da floresta da qual os nórdicos vieram”. (1993:107) Em relação a isso, por toda a capela há mais de cem exemplos de máscaras em formas de folha do símbolo de fertilidade, conhecido como o Homem Verde. Ele é considerado por alguns escritores uma imagem dos deuses mortais de vegetação do Oriente Médio.

A capela possui uma imagem de São Jorge, o santo patrono grego da alegre Inglaterra, que também é venerado por algumas seitas Sufis na forma do seu Santo Verde Khidr. Como Osíris, ele foi desmembrado e renascido e aparece aos seus devotos como uma pura luz branca. Dizem que, por onde quer que vá, ele deixa pegadas verdes. Coincidentemente compartilha seu dia festivo de 23 de abril com o santo patrono da Inglaterra. São Jorge sempre foi associado ao Homem Verde e Tamuz. Em Rosslyn, ele se encontra sobre uma tábua decorada com rosas. Como sabemos, essa é uma flor com certa significância Luciferiana. Ela é um emblema de Vênus e Ishtar e o símbolo da linhagem sagrada, ou a “Família da Rosa” que descende dos Vigias. 

É importante notar que, entre as outras imagens (nominalmente) cristas na capela, podemos encontrar a de São Miguel. Em urna forma menos ortodoxa, ele é, naturalmente, o Arcanjo Miguel, mas como um santo ele é o patrono dos Templários. Outra figura controversa encontrada na capela é São Longuinho. Ele foi o centurião romano que golpeou a parte lateral do corpo de Jesus enquanto ele estava pregado à cruz e acelerou a sua morte. A arma usada foi supostamente a mística Lança do Destino forjada por Tubalcaim.

Dizem que sir William construiu a capela de Rosslyn como “um memorial às crenças da herética Ordem dos Templários” (T. Wallace Murphy). Um dos ancestrais de William havia lutado ñas Cruzadas* e cavalgou ao lado de Hugh de Payens, um dos fundadores dos Templários. Além disso, De Payens casou com alguém da família St. Clair. Apenas recentemente um entalhe ligeiramente danificado em uma das paredes em Rosslyn foi identificado com um Cavaleiro Templário aparentemente iniciando um homem na Maçonaria. Ou isso ou os ritos de iniciação maçônica e templária são quase idênticos.

Sua Alteza Real Príncipe Michael de Albany,* 31 o presente chefe da casa real dos Stewart, disse que os Cavaleiros Templários franceses que fugiram para a Escócia para escapar da perseguição no começo do século XIV se associaram a família St. Clair. Dizem que, “sob a orientação dos St. Clair, os membros escondidos da Ordem dos Templários selecionaram candidatos adequados para as corporações de arte operativa [de construtores] para ensino nos diversos ramos do conhecimento sagrado. As disciplinas tratadas incluíam ciências, geometria, füosofia e os conteúdos dos manuscritos recuperados pelos Templários durante suas escavações em Jerusalém.” (Elopkins, Simmons e Wallace Murphy, 2000)

A capela de Rosslyn também tem sua própria versão sobre o mito de Hiram Abiff associado a um pilar entalhado. O chamado Pilar do Aprendiz perpetua a história de como, durante a construção da igreja, o mestre construtor viajou para o exterior deixando o pilar inacabado. Enquanto ele estava fora, seu aprendiz teve um sonho do pilar acabado. Quando acordou, começou a trabalhar e finalizou a construção do pilar. Quando o mestre construtor chegou, ele estava tão dominado pela inveja em razão da qualidade do trabalho do jovem, e tão furioso pelo fato de o aprendiz ter completado o pilar sem permissão enquanto ele estava fora, que matou o aprendiz a golpes de martelo. Um entalhe do mestre construtor com barba pode ser visto na capela. Suas feições são contorcidas, dizem que elas são assim porque ele foi enforcado pelo seu crime. Perto há uma cabeça de mulher, e ela é conhecida como “a mulher viúva”. Isso indica que seu filho assassinado é o “filho da viúva”. 

O próprio pilar possui de certa forma um simbolismo muito interessante entalhado nele. Ele é baseado no Yggdrasil ou Arvore do Mundo na mitologia nórdica. Aparentemente, o aprendiz assassinado veio das Órcades, onde crenças pagãs nórdicas se estenderam até a Idade Média. A base do pilar tem nada menos do que oito cobras com as caudas nas bocas, criando o ouroboros, um antigo símbolo de eternidade. Esse é o símbolo da “serpente alada” ou dragão que vive na base da Arvore do Mundo ou Árvore da Vida em muitas mitologias antigas ao redor do mundo. De forma alternativa, ela pode ser a Serpente do Mundo que circunda a Terra. Outros a viram como a misteriosa criatura chamada Shamir, que entalhou as pedras do templo de Salomão.

Sir Andrew Sinclair interessantemente associa o pilar à Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Ele diz que “a serpente com a canda na boca não era apenas Lucifer, mas também parte da sabedoria sagrada dos Cátaros e dos Templários” (1993). Ele acrescenta que o Pilar do Aprendiz, e outro na capela de Nossa Senhora em Rosslyn, “simbolizavam o conhecimento hermético, a compreensão secreta do Cosmos, dada à humanidade pela serpente" (1995:83).

O mais notável entre todos os muitos entalhes na capela é descrito como o “anjo caído de Rosslyn”. A tradição popular teme que seja uma imagem de Lúcifer depois da queda. Ele retrata uma figura humanóide masculina pendurada de cabeça para baixo e frouxamente atada com uma corda - ou talvez ela deva simbolizar uma serpente enrolada em seu corpo. Ele lembra a famosa pintura do místico William Blake representando Deus ladeado pelos seus “dois filhos” - Jesus32 e Satã - pendurados de ponta-cabeça com serpentes enroladas em tomo deles. Andrew Collins identificou essa figura com Semyasa, o líder dos anjos caídos na mitologia persa, que é associado ao anjo caído hebraico e ao deus bode do deserto Azazel. De acordo com uma lenda, foi Azazel que revelou a Salomão “o mistério divino” que o tomou o homem mais sábio do mundo. 

E. W. Liddell alegou que as idéias e o simbolismo maçônico infiltraram o culto de bruxaria medieval, ou talvez vice-versa. Todavia, Liddell afirmou que bruxas e maçons divergiam sobre a interpretação dos mesmos símbolos. Por exemplo: “Maçons não associam os pilares gêmeos com polaridade sexual (...) Maçons e Cátaros concordavam que tinham opiniões diferentes acerca dos meios de alcançar seu objetivo em comum [a união com o Deus interior] (1994:54). Liddell alega que no século XVII “muitos intelectuais foram atraídos para a Arte [magia] porque eles acreditavam que ela continha elementos do druidismo. Rosa-cruzes, maçons e pseudo-ocultistas foram admitidos na Arte.” (1994:54)

Ele ainda alega que as “muitas semelhanças entre a Arte [das bruxas] e a Arte Maçônica podem ser amplamente esclarecidas pelo influxo dos ‘homens habilidosos ’ no movimento maçônico” (1994: 64). Liddell afirma que esses homens habilidosos se criaram dentro das Lojas. Alguns eram proprietários de terras locais e também mestres de magia. Eles se associavam livremente aos ocultistas rosa-cruzes e maçons.

Uma tradição de magia antiga preenchendo a lacuna entre as duas formas da “Arte” pode existir ainda. Andrew Chumbley escreveu sobre “um mito que foi transmitido, tanto oralmente quanto em forma escrita, e que recorda a descendência do sangue bruxo desde a preexistência até os dias de hoje por meio da transmissão do Fogo Criativo Primordial”. Chumbley diz que o mito hoje está “disfarçado na linguagem da gnose demonológica” e “no imaginário folclórico nativo - o ferreiro e a forja”. Isso se associa às magias e ao simbolismo Luciferiano do Oriente Médio. Tal tradição sobrenatural ainda é praticada de diferentes formas em grupos de magia e covens de magia em Essex, Cheshire, Staffordshire, País de Gales e Ilha de Man.

De acordo com Chumbley: “Em essência, o mito fala sobre os deuses antigos, seu estado preexistente de negatividade, a criação e a revelação do Fogo Antigo à raça dos Vigias, pelo casamento entre a raça humana e a dos antigos, a interpenetração da chama e da semente de Sarnael e Lilith, a criação de Caim, e seu papel como o Senhor dos Cavaleiros”. Essa lenda da descendência dos Vigias e a criação por eles do “sangue bruxo”, herdado ou em um nível físico ou espiritual transmitido para aqueles que estão no círculo hoje, é ainda uma fortíssima crença da fé antiga nas práticas e costumes da tradição de magia pré-modemista nos dias de hoje.

E.W. Liddell informa que: “As afinidades que existiam entre maçons e bruxas provém do seu devotamento comum a Lúcifer, o Portador da Luz. Lúcifer era considerado o ‘espírito que mora ’ no mecanismo humano. A queda dos anjos foi corretamente entendida como a representação da encarnação da divindade na carne mundana. A alegoria em relação aos Filhos de Deus e as ‘filhas dos homens ’ é ainda outra tentativa de explicar o mistério segundo o qual a divindade se associa com a carne” (1994:72-3). A encarnação da Luz em forma humana e a criação do “sangue bruxo” pelos Caídos constituem os ensinamentos centrais do que pode ser descrito, para distanciar da Wicca neo-pagã moderna, como a tradição da Arte Luciferiana.