sábado, 29 de junho de 2024

Mistérios Kabíricos


No ano de 1950 a.C., na ilha de Samotrácia (atualmente Samandrakis), viveram os Kabires. A Grécia era então considerada o centro dos Mistérios Antigos.


No paganismo grego antigo Hekate era a deusa da feitiçaria, uma das jovens Titânides. Por permanecer ao lado de Zeus na luta contra os Titãs, a deusa não perdeu nenhum de seus privilégios, garantindo-lhe, assim, o poder sobre a terra, o céu, o mar e o Mundo Inferior.


Nos ritos esotéricos da O.L.N a Corrente Saturnina da grande triforme Hekate Soteira é identificada como “Alma do Mundo” (Anima Mundi) ou Alma Cósmica do Universo.


Essa visão de Hekate é idêntica aquela adotada pelos filósofos pagãos do Neoplatonismo grego que entendiam Hekate como a personificação de uma ENERGIA PRIMORDIAL ( Shakti, no hinduísmo), o substrato inteligível de toda Magia, tendo autoridade sobre daemons, anjos, eguns e todos os outros espíritos que estavam ligados a Bruxaria ou Magia Cerimonial (que naquela época possuíam uma abordagem diferente do que temos hoje). Eles também adoravam  Hekate como existindo na borda entre o mundo espiritual (inteligível) e o mundo material (sensível), agindo como uma barreira invisível ( e ao mesmo tempo uma conexão) entre esses dois mundos.  


Alguns poetas gregos relatam que Hekate tinha como seus servos os poderosos Kabires (kábeiroi, em grego), “os Grandes Deuses dos Mistérios da Samotrácia”, ilha do mar Egeu, ao largo da costa Trácia, perto da Ásia Menor. Os Mistérios da Samotrácia se juntavam aos Mistérios de Elêusis e outros da religião grega antiga. Segundo Blavatsky: “Samotrácia foi colonizada pelos fenícios e antes deles pelos misteriosos Pelasgos que vinham do Oriente; se recordarmos a identidade dos “deuses de Mistério” dos fenícios, caldeus e israelitas, será fácil descobrir de onde provém o mito confuso do dilúvio de Noé”. (in a Doutrina Secreta, Volume III)


Blavatsky indica que os Kabires ou Cabires “correspondem a Divindades ou deuses mistéricos entre as nações antigas, inclusive os israelitas, alguns dos quais (como Tharé, pai de Abraão) os adoravam com o nome de Teraphim.” Os arcanjos modernos seriam uma transformação desses mesmos Kabires. Os Kabires eram reconhecidos como os Espíritos Planetários mais elevados, os maiores deuses e “os poderosos”.


Seja qual for a interpretação do nome, estamos sem dúvida perante a idéia de “Poderes Celestiais” muito primordiais e sublimes, daí que com este nome de Kabires, sejam designados os Deuses do Mistério por excelência da Antiguidade.  Eles representavam as potências divinas civilizadoras por excelência, e por isso a tradição esotérica da humanidade primitiva está enraizada neles. 


Os Mistérios Kabíricos, não sendo senão uma translação dos Mistérios egípcios, exerceram grande influência sobre a civilização grega, o que bem atesta o elevado grau de sua civilização.


Seus ritos envolviam a navegação (ou seja, a arte de dominar as Águas da Vida), com cultos aos Dióscuros (Castor e Pólux), e esses deuses da Navegação eram cultuados com fervor pelos Adeptos.


Eram oito os deuses kabíricos, divididos em quatro categorias: Oxieres, Axio-Keroa, Dióscuros e Coribantes.  Para o mestre ocultista  Samael Aun Weor, os Kabires são Deuses (Devas) do Fogo ligados intimamente à Kundalini do centro da Terra. 


A Kundalini Terrestre é derivada de Fohat², ou Fogo do Espírito Santo, a energia primordial do Sol, que transmite à Terra calor, força, movimento e magnetismo. Essa energia que alimenta e dá vida à Terra, seria administrada pelos 8 Kabires e distribuída harmonicamente, de acordo com o dualismo do yin-yang, para a manutenção e preservação da vida na superfície e no interior do planeta. 


Nós percebemos o Sol como físico, mas ele também tem sua contraparte espiritual (astral, celestial ou mental e divina), chamada por nós de Kundalini Solar ou Fohat, que tem origem no Primeiro Logos¹ ou centro transmissor de força, cuja fonte é Parabrahman. Considerada a energia dinâmica da Ideação Cósmica (o construtor dos construtores), a Luz do Logos, Fohat “desce” ou é emanada do Sol Espiritual e ao mergulhar no Abismo da Matéria e penetrar cada vez mais fundo no coração do Globo, “densifica-se” e transforma-se em Kundalini Terrestre ou Shakti-Kundalini, a força serpentina, o fogo astral, um aspecto de buddhi. 


Interessante notar que após o apogeu dos Mistérios da Samotrácia os Kabiros passaram ser considerado, na mitologia grega,  apenas deuses ctônicos (do grego χθόνιος, khthonios, "da terra", de khthōn, "terra") propiciadores da fertilidade e das riquezas. Costumavam ser representados com martelos e tenazes, como auxiliares de Hefesto e deuses do fogo e da metalurgia e usando barretes pontudos.


Existe também a possibilidade que o termo Kabire estar relacionado ao do deus indiano Kubera, ao grego kóbalos (espécie de pequenos dáimones), ao eslavo antigo kobi ("espírito protetor"), ao alemão Kobold, ao francês gobelin e ao inglês goblin, palavras aproximadamente equivalentes a "duende".


No Egito faraônico a idéia de Kabire, está associada a Hermes ou Thot  (a língua de Rá e o Logos* Demiurgo), e na antiga Mesopotâmia a Oanes ou Marduk; nas tradições semíticas e aos Teraphim, que posteriormente passaram a ser os Seraphins, ou serpentes de fogo. Também eles estão associados a Forças Celestiais (Nephilim), seres angélicos que se enamoram das filhas dos homens e desceram à Terra para procriaram com elas e gerar uma raça de varões gigantes. 


Aliás, o culto do deus Hermes é certamente pré-helênico, remontando aos pelasgos (povo que ocupou a Grécia muito antes dos aqueus). O culto de Hermes também podia ser encontrado nos chamados Mistérios da Samotrácia.


Venerado nestes cultos, juntamente com Hécate, chamada de Zerenthya, o deus Hermes, com o nome de Kadmylos, sob uma forma itifálica, representando a fertilidade, constituía com ela um par, honrados juntamente. Nestes Mistérios, Hermes era acompanhado por dois irmãos gêmeos, Dárdano e Iasion, em tudo semelhantes aos Dióscuros gregos (Castor e Pólux) e aos Ashwins védicos, todos associados astrologicamente ao signo de Gêmeos. 


1-   Segundo Heráclito de Éfeso (530-470 a. C) o Logos “é o princípio eterno de ordem no universo”. Ele mantinha ainda que o “o Logos, por trás de qualquer mudança duradoura, é o que faz que o mundo se torne um cosmos e um todo ordenado”. 


2-   Sendo assim Fohat é nada mais do que Kundalini em seu aspecto Solar ou Cósmica que em seu processo de involução impele a atividade e orienta suas diferenciações primárias em todos os sete planos de consciência cósmica. Fohat é, simplificando, o "Pensamento Divino" transmitido e manifestado por meio dos Dhyan Chohans, os Arquitetos do Mundo visível.


Do atrito de Fohat – Kundalini geram-se os chakras, “vórtices energéticos”, por onde se expressa a Consciência agindo nos Planos afins ao seu desenvolvimento, valendo isto tanto para um Logos Planetário como para um homem.