sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - O Anjo Da Terra


Nos escritos cabalistas anglicizados de ocultistas modernos, o arcanjo designado para Malkuth, a sefírah ou esfera da Terra na Arvore da Vida, é chamado de Sandalphon. Ele é descrito como o regente planetário da Terra, assim como Uriel é o arcanjo realmente associado ao elemento terra. Na tradição Luciferiana alternativa e mais subversiva, o Grande Arcanjo da Terra é conhecido como Lumiel ou a Luz de Deus.

Uma dica para a real natureza desse anjo da Terra é dada por Dion Fortune em seu livro A Cabala Mística (1935). Ela diz que os cabalistas às vezes chamam Sandalphon de anjo negro. Esse é um título que também é dado para Lumiel-Lúcifer, apesar de sua real associação com a luz. Fortune diz que, nesse papel e função como anjo negro, Sandalphon governa o débito cármico. Por esse motivo, ela diz que Malkuth é conhecido como o Portal da Justiça e Lágrimas ou poeticamente como o vale das lágrimas. E a esfera na qual o carma geralmente é trabalhado (p. 290). Em Aradia: Evangelho das Bruxas, é Lúcifer que gira a Roda do Destino controlada por Diana-Lilith.

Mais recentemente, David Goddard publicou um livro chamado A Magia Sagrada dos Anjos. Nele, reproduziu um quadrado mágico, descrito como a Carta de Proteção de Vida de Lumiel. Isso, disse ele a seus leitores, protegeu a alma do medo e do enfraquecimento, a mente do dano e o corpo do estrago dentro do confinamento da lei do carma (pp. 140-141). 

Goddard descreve Lumiel como meramente um dos anjos do planeta Terra. Ele não dá a ele status de arcanjo, tampouco de regente planetário e, no estilo cabalístico tradicional, coloca Sandalphon nesse papel. Como o livro de Goddard é amplamente baseado no curso de correspondência criado nos anos de 1950 por Madeline Montalban, da Ordem da Estrela da Manhã, ele deveria estar ciente da verdadeira natureza de Lumiel. Enquanto ele naturalmente esperava que a Igreja rejeitasse o chamado anjo negro e todo seu trabalho, é sempre muito triste e surpreendente encontrar ocultistas caindo nessa armadilha.

Uma indicação da natureza e posição verdadeiras de Lumiel no padrão cósmico ainda sobrevive no Cabalismo ortodoxo, apesar das tentativas de erradicá-lo. Na Arvore da Vida, o arcanjo oposto a Sandalphon é o misterioso Metraton, que é o governante da elevada sefírah Kether. Isso representa o objetivo da busca interior de iluminação espiritual, liberdade da manifestação no Universo físico e a união mística com o Divino. Há um velho ditado cabalístico que diz: “Kether está em Malkuth, assim como Malkuth está em Kether”. Essa é uma variação do velho axioma hermético “como é acima, assim é abaixo”. Isso nos diz que Lumiel, como a luz do relâmpago que desce o pilar do meio da Árvore, tem o poder de agraciar a perfeição para aqueles que o seguirem e aqueles que seguirem o caminha da Alquimia espiritual.

Quem é Metraton? Seu nome significa perto do trono [de Deus] e, às vezes, é chamado de Embaixador de Deus, com relação aos seus assuntos com o mundo humano. O Sepher Yetzirah o descreve como a fonte de iluminação e toda a luz do Universo. Ele também é descrito como o anjo chefe de Deus e o filho de Shekinah, ou Noiva de Deus, a presença feminina do Criador do pai-mãe. O Shekinah, como vimos, foi associado de várias maneiras com muitas deusas ocidentais, incluindo Lilith e Anat. Essa última foi uma deusa da fertilidade, da guerra e do amor sexual, cujo filho foi um deus do fogo. As afinidades entre Metraton e Lumiel são muito fortes para serem meramente coincidência.

Metraton é um anjo instrutor, como são os regentes planetários, e diz-se que ele ensinou os segredos da Cabala para Moisés, o príncipe egípcio e iniciado do templo. Acredita-se que uma das esposas de Moisés, uma egípcia, tenha sido Lilith disfarçada de humana. As águas também estão lamacentas, com a alegação de que o próprio Metraton tenha sido humano. De fato, ele aparentemente foi o profeta Enoch do Velho Testamento, que caminhou com Deus e deixou de existir. Isso pode ser entendido como uma pista mais abrangente para a real identidade angelical de Metraton, já que Enoch é uma figura-chave na história dos Vigias. No Livro de Enoch, que carrega seu nome, ele é o escriba que recontou sua queda do Paraíso.

Outras evidências de águas lamacentas e encobrimentos teológicos podem ser detectadas no papel de Lumiel como um regente planetário. Na velha tradição, ele é claramente o Demiurgo, ou regente da Terra, como Senhor Deste Mundo. Sua imagem histórica primária nesse papel é o deus-bode dos Templários heréticos chamado Baphomet. Entretanto, Lumiel foi originalmente o arcanjo do sol e portanto o logos solar desse sistema estelar.

Na Angelologia Cabalista ortodoxa, Mikael ou Miguel (São Miguel) é descrito como o arcanjo solar. Em Filosofia Oculta, de Agrippa, o assunto acaba se tomando mais confuso, designando Rafael, o arcanjo de Mercúrio, como o do sol e Miguel como o da terra. Agrippa está parcialmente correto, pois, antes da mítica “Guerra no Céu”, Miguel era o Anjo da Terra, e ele e Lumiel trocaram de lugar e de papéis quando o Portador da Luz caiu em desgraça.

Imagens cristãs de São Miguel derrotando o dragão e a constmção de igrejas deliberadamente dedicadas a esse santo/arcanjo em antigos locais de adoração pagã são todas partes do encobrimento. As vezes, estátuas do Arcanjo Miguel em igrejas ou túmulos o representam vestindo a Estrela da Manhã de Lumiel em sua testa.

Reproduzida neste capítulo está uma ilustração de Lumiel na forma tradicional por Nigel Aldcroft Jackson. E baseada em uma experiência visionária do artista e contém símbolos representando seu papel como Anjo da Terra. Como guia para invocar o poder e a presença desse ser angelical incrível, o significado desses signos são dados em seguida. Antes de mais nada, ele está envolto em uma aura de estrelas, formando um portão ou arco sobre seu corpo. Isso significa que ele não apenas é o Senhor do Mundo, mas também sua posição cósmica pré-Queda era a do primeiro a ser criado, o Logos ou a Palavra de Deus e primeira luz do Universo. Suas asas são uma lembrança de que, apesar dos anjos poderem aparecer na forma humanóide ou nas duas formas na realidade, eles são poderosos Senhores da Chama sem sexo. Asas podem também ser encontradas nos querubins da antiga Assíria e nos deuses sumérios dos planetas. Em todos os casos, eles são um sinal da origem divina e poder celestial. Conseqüentemente, há a crença de que, se um anjo perder suas asas, se tomará mortal.

Brilhando na testa de Lumiel está a Estrela da Manhã. Como vimos, isso representa Vênus, o Terceiro Olho e a Marca de Caim. Na bruxaria tradicional, é a vela entre os chifres do bode sabático representando a iluminação. No terceiro nível da Maçonaria, a Estrela Ardente na Loja é descrita para o candidato como aquela estrela da manhã brilhante cuja nascente traz paz e tranquilidade para os fiéis e obedientes da raça humana. No seu livro O Taró dos Mágicos (1927), Oswald Wirth diz que, quando a Estrela Ardente surge no crepúsculo depois do sol se pondo, embora sua luz seja discreta, é penetrante, pois ela ilumina o aspecto interior das coisas. Nos mistérios esotéricos do Cristianismo, é o signo do Cristo Ressuscitado. O apócrifo Evangelho da Infância de Jesus Cristo diz que a estrela no leste seguida pelos magos até a criança Jesus Cristo era de fato a luz refletida de um anjo que os guiou até o local de nascimento. O pentagrama ou estrela de cinco pontas é conhecido na tradição mágica cabalista como o “Selo de Salomão”.

O manto de Lumiel está preso por um cinto ou faixa que forma o signo da Cruz de Tau. Uma das acusações feitas sobre os Templários é que eles vestiam uma faixa especial ou cordão sob as roupas. Esse costume também é encontrado em outras seitas herméticas. Especialmente no Oriente Médio. Como vimos, o Tau é o símbolo único de Lumiel e seu papel como um avatar para a raça humana. Seu destino é encamar na forma humana em certos momentos-chave da história do mundo como um salvador e redentor da humanidade.

Nesse processo de duas vias, tanto o anjo negro quanto seu povo recebem um grau de redenção. Esse processo também está representado na ilustração pelo selo no lado esquerdo sobre a rosa. Alguns observadores vêem isso como um sinal para os ungidos, mas na verdade é baseado em um hieróglifo egípcio para Vênus. Nesse contexto, é o conhecimento divino trazido para a Terra pelo Senhor da Estrela da Manhã. 

No canto esquerdo, está a rosa de cinco pétalas, e esse é um dos mais importantes símbolos na tradição Luciferiana. Elapode ser vermelha (Lúcifer) ou branca (Lilith) e ser a rosa Tudor ou a rosa canina. Hoje, rosas híbridas são usadas porque elas estão disponíveis e os tempos mudam. A rosa é primariamente o sinal da linhagem de sangue sagrada e mística criada pela união dos Vigias com a raça humana, a chamada Familia da Rosa ou Sangue da Rosa. Em seu nivel mais elevado, a rosa refere-se a pendragons ou dragões reis, e ela aparece naqueles contos de fadas e lendas que escondem os ensinamentos das tradições Luciferianas. Ela também tem sido usada como brasão por grupos ocultos, ao longo das eras, que (secretamente) devem sua submissão ao Portador da Luz.

A rosa é também um símbolo do aspecto feminino do Espírito da Terra e Sophia-Sabedoria como a consorte de Lumiel-Lúcifer. No folclore medieval, ela é geralmente vista como o personagem conhecido como Dama Vênus ou Habondia preservada no Taró como a carta da Imperatriz. Ela é associada ao morro vazio semimítico de o Monte de Vênus, como o útero telúrico da Magna Mater ou Grande Mãe e portal para o Outro Mundo. A folclorista vitoriana Sabine Baring Gould descreve, em seu livro Curiosos Mitos da Idade Média (1866), como um cavaleiro e trovador francês chamado Tannhauser viajava próximo ao Monte de Vênus para participar de um encontro bárdico. Com o crepúsculo, ele passou por uma caverna e viu uma bela figura brilhante em pé ao lado da entrada. Ela acenou para ele, que a reconheceu como a deusa do amor. Uma fraca luz rosada brilhou de seu corpo e ninfas apareceram, jogando pétalas de rosas aos seus pés. Consumido pela paixão, Tannhauser seguiu a Senhora da Rosa dentro do morro vazio. Ali, ele firmou um casamento de sete anos com a deusa.

A história de Tannhauser e Vênus pode ter se originado na lenda de sibila, que viveu em um labirinto nas cavernas abaixo do templo de Apoio em Cumae. Ali, ela previu o futuro até a chegada do Cristianismo. Em Guerino Meschino (1390), a história de Guerino conta como ele conheceu Lúcifer nas montanhas próximas à Umbría. Lúcifer tentou o garoto com contos sobre uma fada ou mulher encantadora chamada Sybilla, que tinha um jardim subterrâneo de encantos terrestres em uma caverna guardada por uma cobra. A sibila tentou seduzir Guerino, mas o garoto viu por baixo de seu vestido e percebeu que ela tinha pernas de um monstro. Ele conseguiu escapar de seus ardis e, como Tannhauser, vai para Roma em busca de absolvição pelo papa. O pontífice identifica Sybilla com Vênus.

A lenda de Tannhauser ficou muito popular a partir do século XIV. Pelos trezentos anos seguintes, bruxas, videntes e doutores astutos alegaram ter visitado o Monte de Vênus e aprendido os segredos concedidos pela Dama Vênus. Em 1550, a Inquisição conseguiu uma confissão de Zuan dele Piarte, que declarou ter visitado a montanha de sibila. Ali ele conheceu a Dama Vênus e renunciou a fé cristã para segui-la. O cristalomancista e herbalista Diell Breull alegou, em 1630, que tinha viajado para a montanha dela quatro vezes por ano. Ele aprendeu a bruxaria verde herbalista, e a deusa mostrou a ele visões de pessoas mortas em um recipiente de água. Em 1623, um médico clérigo chamado Hans Hauser alardeou em uma tavema que ele tinha viajado para o Monte de Vênus e tinha aprendido divinação, cura e magia natural.

Durante a Idade Média, a rainha de Elfame e senhora das bruxas, Dama Vênus-Habondia, foi reverenciada pelos camponeses europeus, como uma potência feminina habitando uma caverna sob um pico sagrado. Sua lenda representa outro exemplo de contatos entre humanos e elfos, quando conhecimentos ocultos eram compartilhados. Para os filósofos e magos da Renascença, a rosa era o símbolo primitivo de Vênus e Agrippa nos conta que a Rosa de Lúcifer foi dedicada a ela. Em visões de alquimistas, ela surgia como Senhora Vênus “... em um manto carmim em camadas com fios verdes... ” E interessante que o vermelho e o verde também sejam as cores associadas a Santa Maria Madalena. Ela foi por vezes pintada usando um vestido verde e um manto vermelho.

Na Alquimia, a Rosa Mística é o símbolo da Tintura do Sábio. Essa tintura tinha o poder de curar todas as enfermidades e doenças, regenerar metais e transformar tudo em ouro. A rosa alba ou rosa branca de Lil ith é a pedra branca lunar-mercurial que converte o metal em prata. A rosa rubae é a rosa vermelha de Lúcifer e é de natureza solar-sulfúrica. É o equivalente à Pedra Filosofal ou Pedra do Sábio, pois pode transformar chumbo em ouro. Basil Valentine disse: “Essa tintura é a Rosa dos Mestres. O alquimista deve juntar o mercúrio filosófico e o sulfúrico filosófico em um casamento químico entre a Rainha Branca com o Rei Vermelho para produzir a Pedra Filosofal”. Nicolás Flamel (1330 -1418) descreve metaforicamente a pedra como existente em uma montanha em que dragões se aninham ou em um jardim no qual a roseira sobe por um carvalho encantado sagrado. Dizem que o místico medieval de Mallorca Raymond Lully cunhou moedas feitas de ouro alquimista gravado com uma rosa.

Na ilustração, sobre a rosa, está o ankh egípcio antigo ou crux ansata. É conhecido às vezes como a tira da sandália de Isis e foi um símbolo de vida universal. Ela representa a imortalidade e a força de vida que permeia e sustenta o Universo. O ankh é composto da cruz de Tau como um símbolo fálico unido a um oval representando o yoni, e este é o casamento sagrado dos opostos ou rosas vermelhas e brancas. As forças masculinas e femininas como o Sol, Lúcifer-Apolo, e a Lua, Lilith-Diana, se juntam em um Grande Rito de Alquimia espiritual. Em um nível esotérico, o ankh é importante por mostrar a importância das famílias reais egípcias na continuidade física da linhagem de sangue sagrada desde tempos antigos.

O tema do casamento sagrado é trazido à tona novamente no canto inferior direito, no qual há imagens do Sol e da Lua com a essência espiritual transbordando deles dentro do cálice. Ele é criado da união das energias masculina e feminina e os fluidos masculinos e femininos correspondentes no Grande Rito entre o sumo sacerdote e a sumo sacerdotisa. A essência feminina é conhecida como o Oleo de Lilith e, na Alquimia, a combinação entre as essências masculina e feminina é chamada de Sangue do Leão Vermelho e o Glúten da Águia Branca.

A união física e espiritual do Grande Rito produz o chamado orvalho da rosa, a aqua vitae ou água da vida, ou a estrela-fogo da Deusa. Ele corre em direção ao Cálice da Luz ou Graal, o Copo das Águas, que representa a flor yoni da Deusa Estrela e seu útero do espaço sideral. Em termos esotéricos, o Graal é o objetivo no final do Caminho, no centro do labirinto ou no topo da Árvore do Mundo ou Árvore da Vida. No mito pré-cristão, é o Caldeirão da Inspiração, Regeneração e Renascimento da Deusa Negra do mundo inferior. Na mitologia Celta, possui o poder criativo de curar o castrado rei Pescador, restaurar a fertilidade da Terra Desolada, ressuscitar heróis mortos, alimentar os famintos e transformar o iniciado em um sacerdote/ sacerdotisa da Luz Interior. 

O Graal na ilustração está marcado com uma cruz de braços idênticos. Esse é outro símbolo importante e versátil na bruxaria Luciferiana para harmonia cósmica e o equilíbrio dos quatro elementos que devem ser adquiridos pelo mago para completar o Grande Trabalho. Com a cruz abaixo do círculo, é um símbolo de Vênus-Lilith e do sexo feminino. Sobrepujado por uma crescente, ou dois chifres, ele se toma o selo de Hermes-Thoth-Merlin-Woden. Com a cruz como uma serpente com a cauda em sua boca e sobrepujada pela cruz, é o selo de Ordo Draconis e a Ordem de Melquisedeque, para quem todos os reis-sacerdotes da rosa de sangue pertencem por direito de nascença ou encarnação da alma.

Esses são, portanto, os selos primários da Anjo do Terra Lumiel, e seu uso contatará o usuário com o Senhor da Luz em suas várias formas. Durante os séculos, os inimigos da verdade e os sacerdotes de religiões falsas tentaram degradar e depreciar o mito de Lumiel. Ao confundi-lo com o anjo tentador Satanael, eles deliberadamente transformaram o Senhor da Primeira Luz em um imaginário príncipe das trevas. Na mente coletiva da horda, ele foi transformado em um bicho-papão demoníaco usado para assustar e controlar os fiéis com o fogo do inferno e a condenação. De fato, em contraste com essas tolas histórias de horror, Lumiel oferece para todos aqueles que acreditam nele e o aceitam um caminho além do materialismo vulgar e para longe dos ensinamentos estéreis das falsas religiões. Esse caminho não leva ao Inferno, mas sim à auto-realização e iluminação.



Luciferianismo - A Serpente e a Arvore


Aqueles que foram criados como cristãos ou judeus foram ensinados sobre o mito hebreu da criação descrito no Génesis, como crianças encenando o Jardim do Éden. É um mito que provavelmente foi tirado das culturas suméria e babilónica pelos escribas hebreus. Éden significa um lugar de encanto e prazer e se refere a um paraíso terrestre ou a um parque restrito ou fechado. Em acadiano antigo, significa terraço e se refere a urna plataforma elevada usada para o plantío de flores ou plantações. Escritoras feministas alegam que Eva foi a primeira jardineira, e foram as mulheres na Mesopotâmia pré-histórica que primeiro cultivaram plantas, irrigaram terras e cercaram áreas de terra, como jardins para cultivar vegetais, ñutas e ervas medicinais.

Outros escritores, como Andrew Collins, sugeriram que a agricultura e a horticultura eram ensinadas para mulheres da Europa oriental por uma raça antiga chamada Os Vigias. Collins chegou inclusive a descrever o Éden como um povoado dos Vigias organizado em jardins de cultivo, orquídeas, terraços cultivados, escolas e observatorios astronómicos. Ele se localizava na área do Curdistão-Iraque. (Collins, 1996)

Aparentemente, essas mulheres neolíticas desenvolveram tecnologias de irrigação e cercado para controlar o gado e as ovelhas usando arbustos de acácia e mais tarde estacas de madeira. Elas também cultivaram e domesticaram flores silvestres. Durante o processo, elas criaram novas espécies e híbridos, incluindo as rosas. Apalavra persagul significa rosa e aparentemente tem origem pré-indo-européia. Os primeiros relatos de jardins exclusivamente de flores vieram da Assíria e Babilonia, vide os famosos jardins suspensos da Babilonia. Jardins floridos foram plantados próximos a casas para aproveitar seus perfumes. Eles também eram usados para relaxamento, refeições ao ar livre e santuários religiosos.

Em 1998, cientistas alegaram ter encontrado evidências das origens da civilização na fronteira curda, nas montanhas ao sudeste da Turquia. Análises de DNA do trigo silvestre no sudeste da Ásia permitiram aos cientistas datar suas origens genéticas em 9 mil anos. Foi uma das chamadas plantações fundadoras que permitiu que os humanos antigos deixassem de ser caçadores/coletores nômades para se tomar fazendeiros fixos. Essas mudanças culturais e sociais dramáticas foram as precursoras das sociedades organizadas, com o aparecimento de governantes, burocratas, escribas, soldados e artesãos que viviam em povoados permanentes.

Essa descoberta apóia a idéia contemporânea de que um grupo pequeno de humanos domesticou plantas silvestres e divulgou suas técnicas e conhecimentos agrícolas para outros lugares. Diz-se também que, em um período de apenas algumas centenas de anos, os humanos fizeram uma transição radical de caçadores/coletores de plantas silvestres para cultivar plantações domesticadas como fazendeiros. Quando Caim foi exilado na terra de Nod, ao leste do Éden, por matar seu irmão Abel, conta-se que seus descendentes se tomaram os primeiros fazendeiros, ceramistas, ferreiros e construtores de cidades. Alguns escritores os identificaram com os Sumerianos, e certamente as similaridades entre o Gênesis e a criação deles e os mitos sobre o Dilúvio é impressionante. Toda a história de Caim e Abel podería ser vista como o relato mítico da transição entre os nômades da Era Neolítica para as comunidades estabelecidas no início da Era do Bronze com sua tecnologia superior.

A história bíblica diz que um rio saiu do Éden para aguar os jardins; e por isso ele se dividiu em quatro braços. (Gênesis 2:10) O simbolismo do rio correndo desde o Éden para irrigar e a sua divisão em quatro afluentes é altamente simbólico. Ele representa a emanação dos afluentes da vida desde a Fonte e como ela se divide em uma variedade de formas diferentes. Os escribas que escreveram o mito da criação original que foi incluído no Gênesis sabiam que a vida, animada e inanimada, era uma delineação visível do princípio cósmico ou fonte da vida. Era também a manifestação visível da Alma Universal agindo por meio do Universo físico para se manifestar concretamente. Eram as idéias da Mente Divina cristalizada em formas materiais. O Criador Cósmico, o Grande Arquiteto do Universo, o Deus por trás dos deuses, formou primeiro nessa mente divina a forma arquetípica das coisas que surgiríam, formando, portanto, um padrão ideal que mais tarde se manifestou no Universo físico por meio dos sete governantes.

A criação do mito do Éden inclui a história da Queda, quando Eva foi tentada pela serpente e comeu o fruto proibido da Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal. De acordo com a bíblia: O senhor Deus disse; Eis que o homem se tomou como um de nós, conhecedor do bem e do mal (sublinhado nosso). Por causa desse evento, os primeiros seres humanos emergiram dos seus estados de inocência e perceberam que estavam nus (ou seja, descobriram o sexo físico). Como Eva havia desobedecido Javé, o primeiro casal foi banido do Jardim do Éden, e seus descendentes foram condenados a nascer com o chamado pecado original. Essa crença falsa e perniciosa assombra a humanidade há eras. Como resultado desse mito judaico-cristão, a propaganda rotulou a serpente como uma criatura má e detestável. Diz-se que a tentação de Eva, a Mãe de Todos os Seres Vivos, representa a primeira tentação da humanidade por Satanael e tem sido ffeqüentemente repetida. Em comum com a serpente, as religiões patriarcais costumam representar as mulheres como tentadoras malignas que levam os homens à perdição com seus ardis femininos.

Satanael, na versão judaico-cristã da Queda do Éden, não é o espírito maligno cristão, e sim Lúcifer-Azazel. Quando o primeiro homem e mulher viveram no Éden, eles tinham contato direto com as forças angelicais. O apócrifo Primeiro Livro de Adão e Eva diz que, quando eles foram expulsos, Adão lamentou: “Oh, Deus, quando habitávamos o Jardim e nossos corações estavam elevados, nós víamos os anjos que entoavam cânticos no Paraíso, mas agora não os vemos como costumáva- mos” (8:1). Em outras palavras, os primeiros humanos tinham perdido contato com o reino espiritual.

A Bíblia diz: E Adão conheceu Eva, sua esposa; e ela concebeu e carregou Caim e disse: Eu recebi um homem do Senhor. Na tradição Luciferiana, esse Senhor era a serpente conhecida no mito hebreu como Samael (Azazel), e Caim foi o fruto da união deles. Lúcifer também aparece em uma visão para o outro filho de Adão e Eva, Seth, como um lindo anjo, brilhante com a luz; com um cajado de luz em sua mão, envolvido em uma cinta de luz. Lúcifer diz a Seth que ele e seus anjos habitam lugares maravilhosos em um outro mundo além da Terra. Ele oferece a Seth a troca para se converter na raça angelical, mas Seth recusa-se e acaba se casando com a irmã gêmea de Abel, Aklia (Adão e Eva 5:4-7).

No Livro Secreto de João, um texto egípcio cristão encontrado entre os famosos documentos de Nag Hammadi, descobertos no deserto do Egito em 1945, o governante chefe tentou capturar e seduzir as crianças de Adão e Eva. Nesse texto, Lúcifer plantou a semente do desejo sexual em Eva, e ele é descrito como o pai tanto de Caim quanto de Abel. Antes dele interferir nas suas vidas no Jardim, eles não sabiam o que era o sexo. O texto diz que o destino foi criado porque os governantes (anjos) cometeram adultério com sabedoria, e um destino amargo se abateu sobre eles.

Levando-se em consideração isso, era a serpente no Jardim realmente a personificação do mal? Nem mesmo os primeiros cristãos acreditam nisso. Santo Patrício, ainda que de forma condescendente, comparou a serpente aum Serafim ou anjo da presença de Deus. Ele insinuou que Eva havia tolamente confundido a linda e brilhante serpente com um mensageiro do paraíso enviado por Deus para iluminá-la, pois ela não era tão inocente para acreditar que uma besta podería falar. Essa conclusão parece ter sido baseada no fato de que a palavra Serafim em hebraico significa serpente e também anjo. Eles também eram conhecidos como serpentes aladas.

Na demonologia cristã, a serpente edênica ficou associada a Satanael e Lúcifer como o lado derrotado na Batalha dos Céus. Quando Lúcifer caiu do reino do céu na Terra e se tomou o Senhor Deste Mundo, ele foi chamado pelos cristãos de Velha Serpente ou Dragão Vermelho. Alenda da pedra esmeralda em sua coroa pode estar ligada a uma estranha pedra com supostas propriedades mágicas chamada draconita. Ela supostamente se encontra incrustada nas testas de serpentes ou dragões alados. Na mitologia do norte da Europa, os dragões geralmente são os guardiões de tesouros enterrados. Isso os conecta com Azazel/Azrael, o governante planetário de Plutão, como Plutão-Hades na mitologia greco-romana controlava os tesouros enterrados. Em termos esotéricos, esse tesouro não precisava ser necessariamente jóias ou ouro, mas sim conhecimentos ocultos e sabería antiga.

Os Gnósticos, que combinaram a heresia cristã e o paganismo em suas crenças, consideraram a tentação de Eva uma ato de liberação para o futuro da raça humana. Para eles, a serpente representava a sabedoria na sua forma mais pura. Os Ofitos, ou Irmandade da Serpente, no século II d.C., viam a serpente como a personificação da sabedoria absoluta e divina. Em suas crenças, ela era a Grande Professora e uma civilizadora da humanidade, a mãe e autora de todo o conhecimento e as ciências. Para os Ofitos, e outros Gnósticos, a Queda não era algo do qual se arrepender, mas a transição da humanidade antiga para um estado mais elevado de conhecimento e consciência.

Os Ofitos também acreditavam que o Mundo Serpente, ou Leviathan, com sua cauda na boca conhecida como ouroboros, era o guardião entre o mundo mortal e o divino. A cobra enrolada formando um círculo com um buraco no meio foi chamado de kuklos anagkes ou “o buraco da cobra” pelos gregos. Simbolicamente, foi o ciclo de necessidade ou a alma passando pelos vários elementos para alcançar o crescimento evolucionário. É o símbolo da lei natural pós-Queda, quando a alma se toma imersa em matéria. Isso foi para que se pudesse superar a matéria e desenvolver e crescer em encarnações sucessivas em carne. O espírito tem de se transformar em matéria para que paradoxalmente possa retomar novamente para a Fonte. Madeline Montalban via a Terra como uma escola de vida em que a alma encama para aprender lições e se formar.

É por isso que o resultado final da tentação de Eva foi a perda da inocência primitiva e a introdução da morte na equação. Adão e Eva se tomaram deuses, conhecedores do bem e do mal, porque seus olhos foram abertos para a realidade do Universo e como ele funcionava. Descendo do estado edênico espiritual para o mundo material além dos portões do Jardim, os humanos experimentaram a morte do corpo físico. Entretanto, os mais iluminados perceberam que após a morte a alma retomava para a Fonte e eventualmente renascia. No final do ciclo de necessidade, porém, a alma estava liberta da roda da morte e do renascimento. Eles podiam então decidir retomar voluntariamente para o mundo como guias e professores da humanidade, que estava adormecida, ou seja, presa no materialismo vulgar do plano físico sem qualquer conhecimento da luz interior.

E a jomada do alquimista para ir além do círculo extemo do mundo inferior, também conhecido como o círculo da serpente governado por Saturno. Ele é idêntico a Cronos, o deus grego do tempo, e, ao superá- lo, o iniciado quebra o tempo transiente, seqüenciado, e reverte a Era Dourada da juventude eterna e divina benevolência. (Roob, 1997:30) Simbolicamente, Satumo-Cronos vive no centro da Terra como o Senhor dos Metais, mas ele já foi o governante da Era Dourada antes de se tomar a Morte com a foice nas mãos. Ainda que Saturno seja mencionado em um tratado alquímico Hermético do século XVIII dizendo: “Eu vos digo que sou a coisa em si, mas não deveis me tocar: em mim habita a semente de todos os animais, ervas e minérios ”. Outro ditado Hermético dizia sobre Ouroboros: “Círculofeito por homem ou mulher, quando une a cabeça com a cauda, você obtém o traço completo Isso se refere ao processo alquímico sexual ou ao próprio casamento sagrado em termos físicos.

Outras seitas gnósticas que veneraram a serpente foram os Maniqueístas, seguidores do profeta Mani. Eles ensinaram que Jesus veio do Sol e, quando ele morreu, para lá retomou. Eles acreditavam que ele era a Grande Serpente que voou sobre o berço da Virgem Maria, quando ela nasceu. Jesus foi a serpente edênica enviada pela Mãe da Luz para libertar a humanidade da escravidão espiritual do falso deus Javé. Este era o Jesus da Luz, e ele está em cada árvore e nasce a cada dia, sofre e morre. Seu espírito se dispersa por toda a criação, em especial pelo mundo natural da vegetação, que o conecta com os deuses salvadores do Oriente Médio.

Em um dos mitos gregos primitivos sobre a criação atribuídos aos Pelasgos, a primeira divindade era uma deusa do mar chamada Eurínome. Ela se acasalou com o vento do norte, que assumiu a forma do Grande Velho na forma de uma cobra gigante chamada Ofion. Os dois se uniram em uma dança cósmica de vida e amor com a deusa, por vezes assumindo a forma de uma pomba. Da união entre eles, surgiu o ovo cósmico que, quando chocado, deu vida a tudo o que existe no Universo. Após o acasalamento deles, Eurínome rejeitou a serpente, ela machucou a cabeça dele com seu calcanhar e o expulsou do reino dos céus do Monte Olimpo. A serpente foi rebaixada para as cavernas debaixo da terra porque ele alegou ser o único criador da vida.

Dos dentes espalhados de Ofíon, surgiram os primeiros humanos. Eurínome também criou poderes titánicos gêmeos, masculino e feminino, e deu a eles poder sobre os sete deuses planetários.

Eurínome, coincidentemente, aparece emuma lenda posterior, que diz respeito a Hera, a Rainha do Céu, e seu indesejado filho, o deus forjador Vulcano. Quando ele nasceu, era um anão manco e feio, e sua mãe horrorizada o rejeitou. Ela o jogou de um penhasco para o mar, de onde foi resgatado por duas deusas antigas do mar, Thetis e Eurínome. Ele permaneceu com elas em uma cidade submarina, onde produziu jóias para elas. Seus companheiros eram os famosos Cabari, os servos da Deusa Grande Mãe, que foram mencionados várias vezes neste livro.

No antigo México, a serpente da sabedoria era adorada como um deus chamado Quetzalcoatl ou “a serpente com penas”. Ele era conhecido como o Senhor da Vida e da Morte e o Senhor da Estrela da Manhã e era o deus do vento, como o sopro da vida e da vegetação. Quetzalcoatl era uma figura de rei divina e culturalmente exemplar no exterior. Ele foi o primeiro governante mítico dos toltecas, que assumiram o império asteca, e ensinou a seu povo os segredos da agricultura, artes e artesanato e o calendário. O deus serpente foi descrito como um homem branco alto os cabelos castanhos longos, com reflexos avermelhados, caindo até os ombros, olhos verdes-castanhos e vestindo um manto branco decorado com uma cruz Tau em forma de T. Quando os conquistadores espanhóis chegaram no século XVI carregando imagens de Jesus, os nativos reconheceram o seu deus serpente Quetzalcoatl e pensaram que ele tinha retomado. Quando ele velejou do México para sua terra, além do sol se pondo, se tomou a estrela da noite e da manhã (Vênus). Na posterior arte sul-americana, ele foi claramente identificado com o Cristo, assim como uma serpente com penas crucificada.

No México e na América Central, Quetzalcoatl foi e continua sendo associado às (infames) famosas 13 caveiras de cristal.

Embora algumas sejam consideradas farsas modernas, a lenda das caveiras chama o deus serpente como um dos avatares que desceram à Terra para ensinar a humanidade. Esses avatares supostamente vieram de Plêiades, Orion e Sírius, e eles trouxeram com eles as caveiras de cristal codificadas com conhecimentos sobre a ciência, Astronomia e Filosofia. Foi alegado que esses objetos podem ser usados como os monolitos no famoso romance de ficção científica 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Arthur C. Clarke, para acelerar a evolução humana. Isto é, claro, se o acesso a eles puder ser redescoberto. Alguns velhos nativos americanos supostamente disseram que isso vai acontecer na Era de Aquário.

Um dos símbolos mais antigos na tradição esotérica é a serpente na árvore. Isso geralmente é representado por urna cobra enrolada ou crucificada em urna cruz Tau. Urna das referências mais antigas a isso está em Números 21:4-9, em que os israelitas reclamam das condições em suas viagens pelo interior. Em resposta, Javé enviou serpentes ardentes para atormentá-los. Javé aparentemente cedeu e disse a Moisés para erguer uma serpente de bronze e colocá-la em um poste. Qualquer um que olhasse para ela seria curado de mordidas de serpentes e sobrevivería. Aparentemente, aqueles que não o faziam, morriam.

Em termos ocultos, a serpente é o espírito da luz e a vida sacrificada na cruz da matéria. Essa imagem pode ser encontrada no mundo todo e, no século VII, um bispo baniu o culto a uma cobra dourada em uma árvore entre os Lombardos. A árvore foi derrubada e a imagem de bronze foi derretida para fazer um cálice para a igreja local. Essa árvore é a Arvore do Mundo ou Arvore da Vida, que no mito pagão gera a maçã da imortalidade. Ela é guardada por uma serpente alada ou dragão, e as raízes da árvore afundam no mundo subterrâneo, enquanto seus galhos chegam aos céus. O exemplo mais conhecido é Yggdrasil ou a Arvore do Mundo, na mitologia nórdica, que surge todos os anos em nossos lares como árvore de Natal. No topo da árvore há uma águia, e suas raízes espreitam uma serpente ou dragão. A águia com a serpente ou o brilho do raio em suas garras é outro símbolo antigo do Portador da Luz trazendo seus presentes das estrelas.

A serpente não foi apenas um símbolo da sabedoria divina, pois podia também representar a sabedoria adquirida por aqueles que seguem o caminho oculto. Desde eras remotas, uma varinha com uma serpente enrolada ao redor tem sido a ferramenta preferida de mágicos e magos. Os sumo sacerdotes do Egito, Babilônia e índia se auto-intitulam “filhos da serpente” ou “filhos do dragão”, assim como os druidas. De fato, dizem que as cobras expulsas da Irlanda por São Patrício eram uma referência aos druidas. O sacerdocio egípcio vestia a serpente da sabedoria em suas testas. Nas lendas Arthurianas, o título antigo de rei da Grã- Bretanha era “Pendragon” ou “dragão chefe”. Isso indicava que eles vieram da linhagem de sangue real dos Reis Dragões, descendentes dos Vigias, que usaram a cruz Tau como selo heráldico.

Na Maçonaria esotérica, a cruz tripla de Tau simboliza o templo em Jerusalém. É a chave para tesouros escondidos ou um lugar em que algo precioso está oculto, ou até mesmo a coisa preciosa em si. Como sabemos, isso pode não se referir à riqueza material. Na Maçonaria do Real Arco, o Tau triplo aparece dentro de um triângulo rodeado por um círculo com a Estrela de Davi. Isso simboliza os três aspectos da deidade, como criador, preservador e destruidor. Na tradição maçônica, o Tau era o martelo usado para desferir o golpe final que matou o Mestre Hiram Abiff, entre os olhos, o martelo do próprio Abiff tinha o formato de um Tau e foi um presente de Tubalcaim.

A imagem da serpente e da cruz pode ser encontrada também naqueles níveis mais avançados da Maçonaria, associados aos Cavaleiros Templários. Baigent e Leigh (1989) publicaram duas fotografias das jóias dos Templários Maçônicos. Elas tinham a forma de uma estrela de sete pontas com uma serpente enrolada em uma cruz Tau no meio. Uma das jóias tem abaixo desse símbolo um caixão vazio e uma caveira e ossos cruzados como representação da morte e do renascimento. Ao redor da borda, está a inscrição: In hoc signo vincis ou “Com este signo vencerei”. Uma espada torta, “o símbolo de Seth” pode ser vista sob a cruz em outra jóia. Nos túmulos templários, as pernas cruzadas da efígie supostamente representam Tau. Essa mesma imagem aparece também na carta do enforcado no Taró. O Templo também lembra a imagem da serpente crucificada na cruz Tau, como um símbolo legítimo do Cristo. Por que eles assim o fizeram sempre foi um mistério para os historiadores. E um mistério que pode ser facilmente entendido por aqueles que leram as entrelinhas deste livro até o momento. Essa ligação se tomará mais explícita ao nos aprofundarmos no simbolismo da tradição Luciferiana. É um simbolismo que é a verdadeira linguagem dos anjos. Símbolos como a serpente e a cruz fornecem a chave para entender os eternos mistérios da vida, o mundo espiritual e a natureza oculta do Universo. 


Luciferianismo - A Arte De Hermes

Urna das maiores figuras míticas que une o paganismo clássico e a Magia Medieval, ou teurgia, com a tradição Luciferiana é Hermes Trismegisto ou o Trés-Vezes-Grande. O dr. Francés Yates diz: “Grande parte da literatura em grego se desenvolveu sob o nome de Hermes Trismegisto interessado na Astrologia e nas ciências ocultas, com a virtude secreta das plantas e pedras e a magia simpatizante baseada no conhecimento de tais virtudes, com a manufatura de talismãs para sugar o poder das estrelas, e assim por diante ” (1969:2). Essa naturia magia ou magia natural é exatamente o mesmo conhecimento oculto que os anjos caídos concederam aos primeiros seres humanos.

Quem, então, foi Hermes e como ele se transformou na figura que teve tamanha e importante influência na Magia Medieval e renascentista? Originalmente, em sua terra natal, Grécia, Hermes foi uma divindade um tanto quanto primitiva. Suas origens são anteriores ao panteão olímpico, embora ele tenha sido aceito de forma bem-sucedida, ao contrário de outras divindades mais antigas. Diz-se que existem referências a ele na Era Neolítica, e que ele tem suas raízes no culto aos espíritos da terra, que se acreditava habitarem cavernas. Ele também é associado aos três cultos e às ninfas que reinavam sobre bosques e fontes termais sagradas. Ele provavelmente também foi um antigo deus pastoral dos rebanhos, adorado pelos fazendeiros e pastores nómades. Em eras remotas, Hermes foi cruelmente representado como urna pilastra ou pedra fálica que, por vezes, eram entalhadas com seu rosto barbado e sua genitália. Essas “herms”, como eram chamadas, eram erguidas em encruzilhadas, e camponeses deixavam queijo, pão e canecas de vinho como oferendas para o deus. Viajantes de passagem consumiam essas oferendas e, em troca, deixavam moedas antes de prosseguirem suas jomadas. O nome Hermes vem dos montes ou pilhas de pedras que inicialmente eram colocadas nesses santuários nas encruzilhadas.

Em suas manifestações posteriores, Hermes tomou-se a divindade protetora dos comerciantes, mentirosos, ladrões, diplomatas e viajantes. Hoje ele provavelmente é também a divindade protetora dos políticos. Ele é o mestre da palavra escrita e falada e é um trapaceiro, mas também um habilidoso artesão. Quando ele foi aceito no panteão olímpico, se tomou o pai do deus com cabeça de bode Pan. Zeus também o designou como o anjo mensageiro dos deuses. Assim como o romano Mercurius, ou Mercúrio, ele possuía um capacete e sandálias com asas. Nesse papel, ele também se tomou um psicopompo ou guia dos mortos, conhecido como “a companhia da noite escura”. Hermes é a forma pagã do arcanjo Rafael, e eles eram (e são) invocados por magos tentando fazer contato entre os reinos do céu e da terra. Como governante do signo astrológico de Gêmeos, ele domina o comércio, o jornalismo e todas as formas de comunicação. Ele age como mediador entre as polaridades de energias masculinas e femininas e é companheiro da deusa Vênus.

O símbolo primário de Hermes é o caduceu, que pode ter se originado no bastão usado para agrupar rebanhos, bodes e ovelhas ou a herm fálica ou pedra em pé. Uma outra interpretação é que ela era uma “varinha falante” passada adiante em uma reunião tribal para que todos os presentes tivessem a chance de falar enquanto a seguravam. Em termos esotéricos, o caduceu simboliza a natureza andrógina de Hermes. As duas cobras entrelaçadas ao seu redor são as energias solar (masculino) e lunar (feminino) e também representam a kundalini ou a força-serpente. A varinha ou bastão é a coluna vertebral humana, que leva a força da serpente ou do dragão para o cérebro. Por meio desse processo mágico, o Terceiro Olho, ou a glândula pineal, é ativada, e o mago obtém poderes psíquicos e, em seu nível mais elevado, iluminação espiritual. Na tradição Luciferiana, o Terceiro Olho é a esmeralda que caiu da testa de Lúcifer. Ele também está relacionado à Marca de Caim usada astralmente por aqueles com “sangue de bruxo”. De forma significativa, Lilith Babellon disse: “Hermes é o anjo rebelde, aquele impulso da mente que faz a humanidade voltar suas energias para as artes e ofícios”.

Quando os gregos colonizaram o Egito, reconheceram Hermes como sendo Tethuti ou Thoth, o deus egípcio da sabedoria. Cícero disse que Hermes teve de fugir para o Egito após assassinar Argos, o deus de muitos- olhos, que foi transformado por Hera-Juno em um pavão. Hermes então deu ao povo egípcio suas “leis” e recebeu o nome de Thoth. Em uma referência aos Livros de Thoth, Lactantius, um escritor cristão do século IV, tutor na casa do imperador Constantino, o Grande, o descreveu como “três vezes maior”. Esse termo foi usado para expressar que ele possuía todo o conhecimento do mundo. Lactantius afirma que Thoth-Hermes era originalmente um mortal, mas era também de “grande antiguidade” (muito velho) e profundamente versado em todo tipo de arte e ciência. Hermes também escreveu muitos livros sobre a “Gnose e todas as coisas divinas”. Obviamente, o mais famoso dos Livros de Thoth deveria ser o Taró, mas é provável que essa idéia criativa tenha sido inventada por ocultistas do século XVIII. Hermes também recebeu o nome de um antigo faraó do Egito, que ensinou aos nativos a escrita, a Astronomia e a Matemática.

Na mitologia egípcia, Thoth foi um deus pré-dinástico que aparentemente esteve na Terra muito antes da chegada de ísis e Osíris e sua família divina. Diz-se que Thoth e o pássaro Bennu, a fênix egípcia ou o íbis que botou o ovo da criação, chegaram aqui ao mesmo tempo. O íbis era a forma original de Thoth e mais tarde foi adotado como seu pássaro sagrado. Na tradição sabéia, Thoth era representado como Seth-Anubis e Sírio, a estrela-cão. Tanto Thoth-Anubis quanto Hermes possuíam cães e macacos como seus animais sagrados. O historiador grego Heródoto disse que babuínos eram os animais sagrados de Thoth porque eles eram guardiões do tempo, ou seja, a macaca, quando estava menstruando, emitia uivos noturnos no momento da lunação. (Grant, 1994:49)

A Coletânea Hermética diz: “Eles (Osíris e ísis) vão aprender todas as minhas escrituras secretas e distinguir seus significados e irão manter algumas dessas escrituras com eles mesmos, mas algumas delas, como são para o benefício dos mortais, eles entalharão em blocos e obeliscos ”. Hermes entalhou seus segredos em obeliscos e tábuas de pedra, as quais ele escondeu para serem descobertas por gerações futuras. Amais famosa delas foi a Tábua de Esmeralda, contendo o axioma hermético “O que está em cima é como o que está embaixo ”, ou simplesmente “como é acima, assim é abaixo Isso se refere ao mundo como um microcosmo do macrocosmo ou Universo e realça o conceito de correspondências mágicas. Supostamente a Tábua de Esmeralda foi baseada nos Pilares de Seth-Enoch-Noé-Tubalcaim, que Hermes encontrou em uma caverna.

Diz-se que Hermes-Thoth possuía todo o conhecimento secreto da história do mundo em 36.535 rolos de papiro. Eles foram escondidos para uma posterior descoberta por “alguém que fosse merecedor”, que usasse esse conhecimento para o benefício do progresso da humanidade. Alguns ocultistas acreditam que esses documentos estão escondidos em uma “câmara secreta” na Grande Pirâmide de Giza ou na famosa sala de registros sob a Esfinge. Atualmente os arqueólogos estão se esforçando para localizar esse antigo conhecimento acumulado, que eles realmente acreditam existir em termos físicos.

Nas Antigas Leis Fundamentais, Hermes é descrito como um filósofo, rei e pastor do Egito. Ele também é o neto de Cush, que foi o avô de Noé. As Antigas Leis Fundamentais afirmam que Hermes era um astrônomo responsável pela divisão do dia em períodos de 12 horas e do zodíaco em 12 signos. Ele também inventou a escrita e “a ciência dos mergulhadores”. Hermes também era descendente do Titã chamado Atlas e de Prometeu, que roubou o fogo do Paraíso. Essas visões maçônicas de Hermes fornecem mais informações para sugerir que ele era basicamente de natureza Luciferiana e um figura importante em nossa jomada de descobertas dos mistérios Daqueles Que Caíram.

Em meados do século XVI, um manuscrito escrito em grego foi trazido para Florença, no norte da Itália, por um monge Macedónico. Esse monge era um agente contratado por Cosimo de Mediei para procurar documentos históricos raros. O manuscrito que ele apresentou para seu patrão era uma cópia de Corpus Hermeticum, supostamente escrito por Hermes. Era uma tradução em latim do grego e acreditou-se na época que ele tivesse originalmente sido escrito em hieróglifos egípcios. Na verdade, Corpus era uma coletânea de textos Gnósticos que provavelmente foram escritos na Alexandria nos primeiros séculos da Era Cristã.

Os ensinamentos de Hermes apresentados em Corpus Hermética demonstram a natureza da divindade como “oculta, porém obviamente em tudo (...) Ele é a unidade de todas as coisas, então nós devemos conhecê-lo por todos os nomes e chamar tudo de Deus.

Essa é uma visão panteísta do mundo que é muito parecida com as crenças neo-pagãs modernas. Entretanto, a doutrina Hermética também possui uma dimensão Gnóstica ao descrever o luminoso Mundo de Deus ou Logos surgindo das trevas como um filho de Deus. Cellanius disse que Hermes chamou o sol de “deus invisível” e o governante do Universo (Harmônica Macrocosmia, 1660). Há também uma menção a Demiurgo, descrito como deus do fogo, que criou os sete governantes - os regentes angelicais dos sete planetas clássicos.

Na Hermética, uma entidade chamada Pimander aparece em um sonho para Hermes e o instrui sobre a natureza de Deus e seu relacionamento com a humanidade. Pimander diz a Hermes que para se tomar um ser espiritual ele deve “conhecer a si mesmo” porque “aquele que conhece a si mesmo vai além de si mesmo”. Pimander diz que somente um homem (um ser humano) que tenha intelecto pode então conhecer a si mesmo. Essa é a essência da Gnose ou autoconhecimento do Divino expresso por meio dos ensinamentos ocultos das tradições Luciferianas. Ele é resumido pelas palavras entalhadas acima da entrada do oráculo de Delfos: “O, homem, conhece a ti mesmo e conhecerás os deuses

A doutrina Hermética também implica que o Criador do Cosmos, o Ser Supremo, o Deus dos Deuses, não foi responsável pela criação do mundo. Essa foi tarefa de Demiurgo, ou o Filho de Deus, e os sete governantes que ele criou. Em Corpus Hermética: “Adão é mais que humano, ele é divino e pertence à raça dos demônios estrelas, os governantes criados divinamente (...) Diz-se até que ele é o ‘irmão’ do mundo criativo - demiurgo - filho de Deus, o ‘segundo deus’ que move a estrela” (Yates, 1969:27). No Livro De Lumiel, um manuscrito esotérico não publicado distribuído pela Ordem da Estrela da Manhã, Adão e Eva eram os líderes do chamado “povo raio”, de natureza puramente não-material. O Jardim do Éden também não existia no mundo físico, mas estava no plano espiritual. A queda da humanidade foi na verdade a queda de uma raça não- física do espírito para a matéria. O Livro de Lumiel diz como o “povo raio” caído cruzou com os humanos primitivos. Desse cruzamento nasceram os gigantes ou Titãs. Como resultado desses eventos, Lúcifer foi considerado culpado, como o anjo do intelecto, por se intrometer em assuntos humanos, e banido do reino dos céus.

De onde veio a cópia da Hermética levada para a Itália pelo monge grego? Suspeitas apontam para a lendária cidade de Harã, fondada 4 mil anos antes na Mesopotámia, que se acredita ser a cidade bíblica de Ur. Hará foi colonizada pelos assírios e durante muitos séculos foi o centro da adoração do deus da Lúa Sin. Harã também foi uma cidade habitada por muitos sabeus ou adoradores da estrela e no século VI d.C. eles reverenciavam Órion como o “Senhor dos Cães”. Seus habitantes eram pagãos praticantes até o século XII d.C., quando a cidade foi destruída pelas hordas mongóis. Assim como o Corpus Hermética, o Harranites também possuía muitos outros manuscritos gregos sobre Alquimia e Medicina, que os mais velhos haviam traduzido do árabe. Os sabeus de Harã fizeram peregrinações constantes para o Egito para adorar as pirâmides, pois eles acreditavam que elas foram erguidas pelos antigos deuses estrelas. Isso levou alguns escritores a concluir que eles tinham o conhecimento estelar dos egípcios e os segredos astronômicos das pirâmides. (Gilbert, 2000:80)

No século VIII, o muçulmano Califa Umar II fundou uma universidade em Harã, e isso atraiu Hermeticistas da Alexandria. Aparentemente, esses ocultistas eram bastante elitistas, pois se recusavam a revelar seus segredos para qualquer um, exceto para aqueles que tinham sido iniciados, caso seus conhecimentos das artes e ciências fosse adulterado pelo comum. Alguns desses magos até mesmo alegavam serem descendentes diretos de Hermes Três-Vezes-Maior. Eles também alegavam ter escrito os Livros de Edris, o nome muçulmano para o Enoch, que eles identificaram com Hermes. Essa identificação entre Hermes e Enoch levou alguns ocultistas renascentistas a acreditar que a Hermética tinha origens anteriores ao dilúvio. Esses hermeticistas construíram templos “dedicados aos espíritos” e “construções de sabedoria mágica”. Alguns deixaram Harã e viajaram para o oeste, em direção à índia e China, divulgando o evangelho de Hermes.

Uma segunda classe de ocultistas em Harã específicamente se auto intitulava de “Irmandade de Hermes” e eram guardiões da Gnose. Um escritor do início do século XVIII disse: “eles a preservaram, geração após geração, até os dias de hoje Um terceiro grupo alegava ser descendente da irmã de Hermes, que foi chamada de Theodios Trismegistus. Eles “se miscigenaram com alguns estrangeiros”, e seus conhecimentos 

eram assim passados para pessoas fora do grupo. A quarta classe era chamada de “andarilhos” e consistia de estrangeiros que tinham se misturado com “as crianças de Hermes”. Foram eles, provavelmente sabeus nativos e Harranites, que abandonaram a adoração à Alá pela adoração às estrelas e constelações.

Há evidência de que, durante as Cruzadas, cavaleiros cristãos visitaram Harã. Os Cavaleiros Templários certamente ocuparam os arredores de Edessa (uma das cidades supostamente construídas porNimrod). Há também uma capela cristã em Harã de arquitetura cruzada. Ela fica próxima de um mosteiro muçulmano, e os dois prédios compartilham um mesmo hall de entrada. O escritor wicca Donald Hudson Frew viu isso como um exemplo de notável grau de tolerância religiosa em Harã. Foi um lugar onde o paganismo, o Hermeticismo, o Islã e o Cristianismo sobreviveram harmónicamente próximos uns dos outros.

Drew, que escreve para o jornal americano The Pomegranate (fevereiro de 2000), parece acreditar que o neo-platonismo, fundado por Plotino no século III, teve uma influência importante na tradição Hermética em Harã. Ele menciona a teoria de Plotino sobre Aquele de onde emanam todos os seres de uma hierarquia consistindo de mente (demiurgo e os deuses), almas (os Demônios) e finalmente a matéria. De acordo com Plotino, “todas as coisas estão tanto emanando quanto retomando para Aquele e existem simultaneamente em todos os níveis da hierarquia.’ ’ Muitos dos neo-platonistas sintetizaram a adoração aos deuses pagãos e eram devotos dos mistérios de Mitra e ísis. O neo-platonista do século IV Macrobius tentou reconciliar todas as religiões pagãs. Ele também alegava que todos os deuses eram aspectos do deus Sol e todas as deusas eram aspectos da deusa Lua, e eles estavam unidos n’Aquele. Essa visão foi modificada pelo ocultista do século XX Dion Fortune, conhecido por dizer: “Todas os deuses são um deus e todas as deusas são uma deusa ”. Essa idéia foi aceita por muitos Wiccas modernos, que não parecem entender que isso não está relacionado com o deus bruxo e a deusa bruxa, já que eles são divindades específicas.

Nesse artigo, Drew refere-se ao pupilo de Plotino, Iamblichus, que favoreceu a abordagem d’Aquele chamado de “criador de Deuses” ou teurgia. Tratavam-se de rituais mágicos para contatar Deus, e suas fontes incluíam a Hermética, material payri mágico grego e os oráculos caldeus,

que se acreditava terem sido originados com Hécate e outras divindades. Foi creditado ao mago neo-platônico do século II Juliano, que editou e compilou os Oráculos Caldeus de Zoroastro. Foram dados a ele poderes mágicos incríveis, incluindo a habilidade de invocar os deuses, controlar o clima e viajar espiritualmente na forma astral. Essa forma de teurgia se focava em duas formas separadas de “criação de deuses”, possessão por divindades e a manufatura de estátuas ou imagens que pudessem ser animadas por espíritos ou deuses. Diz-se que, quando a Academia em Atenas fechou no século VI d.C., muitos neo-platonistas foram para Harã. Ali eles fundaram uma nova academia, que perdurou pelos seiscentos anos que se seguiram.

É significante o fato de que o imperador Julián, conhecido popularmente como o Apostato, por tentar reviver o paganismo após o Cristianismo ter sido aceito como a religião oficial do Império Romano, tenha visitado Harã em 363. Enquanto esteve na cidade, Julián consultou os oráculos no templo do deus Lua. Ele recebeu o aviso de um desastre iminente, mas ignorou o aviso. Em sua batalha seguinte, ele foi morto por um assassino cristão infiltrado em seu exército. Seu corpo foi carregado por toda Harã, e a cidade foi a única do Império Romano a declarar luto público por sua morte.

A tradição hermética, como foi expressa na Renascença, tem sido descrita como uma mistura entre paganismo, Gnose e magia cerimonial. Os aspectos mágicos vieram de um trabalho chamado O Picatrix, escrito no século XII de fontes árabes. Acredita-se que seja de origem sabéia e provavelmente veio de Harã. Ele lida principalmente com a manufatura de talismãs, mas o seu tema central é a descida forçada dos spiritus (espíritos) em matéria (matéria). Também lista as imagens mágicas dos espíritos planetários e fornece informações sobre correspondências mágicas exigidas para evocá-las. De fato, foi um dos mais completos grimórios da magia prática.

Escritos sobre Hermes Trismegisto, e o fato dele ser frequentemente associado a sociedades secretas, Paris (1990), trazem o seguinte ponto: “Os famosos segredos dos grupos esotéricos não são tão secretos quanto rituais nos quais os não iniciados são trazidos a um certo nível de consciência em que eles podem entender algo até então não 

disponível para suas consciências. Na maior parte do tempo, o segredo não é nada além da habilidade de ver o que já está lá, que é o objetivo da iniciação.

Isso, posto de forma simplificada, é a chave escondida para entender tanto a Hermética quanto as tradições Luciferianas, e como elas estão interligadas pela figura mítica de Hermes-Thoth. O seu objetivo maior é resumido por Pitágoras na frase: ‘‘Livrando-se do corpo mortal, chegarás à mais pura essência, serás um deus, imortal, incorruptível, e a morte não terá poder sobre ti... ”


Luciferianismo - O Touro Negro Dos Chifres Dourados

É evidente que a transmissão da tradição Luciferiana, dos mitos Cainitas e das doutrinas arcanas dos anjos caídos tem sobrevivido por meio das crenças e práticas da bruxaria histórica e tradicional. Seus praticantes modernos alegam que a Arte representa uma antiga herança mágico- religiosa descendente do Xamanismo dos nossos ancestrais pré-históricos. É claro que uma tradição contínua e ininterrupta desde os tempos antigos é impossível de se provar, mas há evidência de elementos xamânicos em relatos medievais de bruxaria. Por exemplo, o uso de máscaras de animais na Arte - uma prática que sobrevive até hoj e em rituais convéns tradicionais - é um aspecto atávico que remonta à adoração de deuses bestiais nos tempos primitivos. Da mesma forma, apesar da dificuldade de se provar a preexistência de sobreviventes da bruxaria moderna há mais de 200 anos, há evidência de que a (alguns ramos da) “Arte Antiga” tradicional herdou a sabedoria antediluviana estelar ensinada aos primeiros humanos pelos deuses antigos.

Essencialmente, a Arte Antiga herdou de forma adulterada e corrompida os símbolos e crenças do tráfego com “Aqueles que são de Fora”, o qual foi filtrado ao longo de muitos períodos históricos e tradições esotéricas diferentes. Como disse Paul Huson: "...nos dias de hoje a magia das bruxas está decadente. Urna colcha de retalhos composta por partes históricas, destroços de um naufrágio religioso” (1970: 18). Essa sobrevivência é mais forte nos padrões genéticos e espirituais daqueles indivíduos que trazem astralmente a marca secreta - a chamada Marca de Caim ou Marca de Seth.45 Essa marca é um símbolo da sua herança mágica, como “o povo da serpente”. Eles são os membros verdadeiros do “sangue das bruxas”, herdado (raramente) fisicamente ou pela reencamação da alma. Esses portadores do “sangue de fada” ou do “sangue élfico” ainda acreditam que, apesar "das distorções dos últimos seis séculos, ainda resta no centro [da Arte] uma centelha daquele misterioso fogo angelical negro que soprou vida nos primordios deste mundo”. (Huson, 1970:18)

O Deus Comíféro46 das bruxas, identificado de diversas maneiras - Cemunnos, Pan, Janus, Dianus, Heme e Puck-, era popularmente conhecido como o Sátiro Negro ou o Homem de Preto no sabá medieval das bruxas. Ele está ligado a Sutekh-Seth, ao Shaitan Yezidi, ao senhor islâmico do Eblis ou Iblis, ao Lúcifer grego e ao hebreu Azazel. O Comíféro da Arte Sabática é a Grande Serpente de Luz que guia seus discípulos à Gnose do Despertar Supremo e ao objetivo final de unidade com o Ente Supremo.

Como uma divindade comífera, o deus das bmxas revivalistas modernas é quase exclusivamente representado como o deus veado gaulês Cemunnos. Entretanto, no passado, o Deus também era representado na forma zoomórfica de um cachorro preto, um gato, um bode, um carneiro e um touro. É essa última forma animal que queremos examinar aqui, pelas suas ligações interessantes com a antiga tradição Luciferiana. A adoração ao deus touro remonta a um passado muito antigo. Na Epopéia de Gilgamesh há uma menção ao Touro do Céu. Quando o rei Gilgamesh recusou o amor de Ishtar, ela enviou essa criatura mística para destruir a cidade dele. Da mesma forma, o amigo de Gilgamesh, Enkidu, é descrito como “metade touro, metade homem”. O deus-sol babilónico Marduk era conhecido como o Touro da Luz e é descrito como tendo um “corpo cheio de chamas de fogo, ele lançava raios à sua frente, ele conduzia a carruagem da tempestade. ” Na religião canaanita, Baal como o deus da tempestade e do trovão era o touro que “montava as nuvens”. O Bezerro ou Touro de Ouro adorado pelos hebreus dissidentes no deserto era provavelmente uma efígie de Baal. Nos mitos hindus, o touro era sagrado para Shiva, deus da criação e destruição. No Egito, o touro sagrado era Apis, e acreditava-se que ele foi concebido pela descarga de um raio. Ele era considerado a forma animal do deus criador Ptah.

Na tradição greco-cretense há o Minotauro, uma criatura imaginária que é metade touro e metade humana. O rei Minos de Creta pediu a Poseidon um presente digno de ser oferecido aos Deuses em sacrifício. O deus do mar deu ao rei um magnífico touro branco, e Minos ficou tão impressionado com esse animal que decidiu ficar com ele para si mesmo. Para vingar-se dessa ofensa contra os deuses, Poseidon fez com que a esposa do rei, Pasífae, se apaixonasse pelo touro. A rainha estava a tal ponto dominada pelo desejo que convenceu Dédalo, o mestre das artes, a fazer uma imagem de uma vaca em tamanho natural. Ela escondeu-se dentro da imagem para facilitar a relação sexual com o touro.

Pasífae significa “ela que brilha” e pode ser uma referência à Lua. A vaca é um animal lunar e acasala-se com o touro, representando a força fálica solar. Minos pode ter sido o nome genérico para os reis-sacerdotes que serviam à deusa Lua. Como resultado desse hieros gamos ou “casamento sagrado” do touro com a vaca, nasceu o Minotauro. Em virtude de sua furia, o rei Minos mandou Dédalo construir um labirinto, no qual o Minotauro foi aprisionado. A cada nove anos, os atenienses mandavam sete dos seus melhores jovens como um tributo à Creta, e eles eram oferecidos em sacrifício ao deus touro. Na famosa lenda, a filha de Minos, Ariadne, apaixonou-se por um desses jovens, chamado Teseu. Ela o ajudou a matar o Minotauro e reconstituiu os seus passos até a saída do labirinto usando um novelo de linha. Ariadne representa a primitiva deusa aranha do destino e da morte, a qual tinha como símbolos o labrys ou machado de duas lâminas e a cobra enrolada.

Na Idade do Bronze na Europa, a adoração ao touro era muito difundida. Ele representou o símbolo primário da virilidade e potência masculinas como um dos zoomorfos da força da vida solar e do deus da tempestade e do trovão. Na Idade do Bronze, petróglifos do touro são retratados ao lado de discos e rodas solares. Na Idade do Ferro, as imagens do touro são igualmente comuns. Para os povos celtas da Europa, o deus touro era associado ao sol, ao trovão, ao céu e ao fogo. Um cetro de bronze, encontrado em Willingham Fen, Cambridgeshire, retrata uma cabeça de touro com três chifres com a figura de um deus jovem segurando um raio. Ele está acompanhado pela roda solar em cima de uma águia, o pássaro sagrado do deus celestial indo-europeu.

Como A. Basham diz em seu livro Origem e Desenvolvimento do Hinduísmo Clássico (Beacon Press, 1989) em relação à antiga civilização hindu do vale onde hoje se localiza o Paquistão: “A Deusa Mãe e o Touro Sagrado, representando o céu fertilizante, eram comuns aos agricultores da época por toda a Eurásia. Eles são os elementos principais de um culto criado para assegurar a fertilidade das colheitas, dos rebanhos e dos humanos. ” O antigo deus védico do trovão, Indra, foi concebido em seu aspecto touro como Paijanya, o liberador das chuvas. Em seu papel itifálico como o fecundador seminal do ventre-terra, era Vayra ou o raio adamantino. Nos cultos indo-iranianos da cosmogenia taurina Mitraísta e da adoração Altaica ao “Touro Negro no norte”, que traz as chuvas fertilizantes, são igualmente relevantes como tipos cognatos.

Na Europa setentrional, o gado sempre foi muito apreciado como um indicador de riqueza e prestígio tribal, evidenciado nas grandes oferendas de touros sacrificados feitas no período romano-britânico. Estas incluíam os sacrifícios clássicos de touros brancos em bosques sagrados durante os rituais druidas para juntar viscos. Imagens de um deus touro chifrudo, geralmente com uma serpente chifruda, são frequentemente encontradas na Grã-Bretanha nesse período e são mais comuns que deuses veados com chifres. O deus touro também aparece com “Cemunnos” no famoso caldeirão celta-trácio de Gundestrup e no alívio em Reims. Em Trier e Paris, o touro é apresentado com três aves empoleiradas nas costas. Dessa forma, ligando-o ao labirinto de Geranos ou “dança das grúas” executada pelo Deus Coxo. O deus comífero dos Brigantes do norte da Inglaterra, do País de Gales e da região da Inglaterra Central era também representado por um carneiro ou touro, como o consorte de Brigit ou Brígida, “A Grande Rainha” ou “A Mãe dos Deuses”. 

Esses são apenas alguns dos muitos sinais evidentes do culto do touro nas religiões pagas populares da Europa. Entretanto, sob esses sinais externos, repousam estratos misteriosos mais profundos e talvez menos visíveis, nos quais a imagem do touro assume uma majestade particularmente pressagiosa, como a personificação dos segredos da eternidade, do tempo e da precessão celestial dos equinócios. Esses aspectos são preservados dentro de um complexo de ritos populares antigos, procissões rituais desordenadas e frenesis mascarados. Estes, um por um, relacionam-se indiretamente ao Via Liminalis, o culto arcaico da desordem e os segredos mais que humanos promulgados no sabá das bruxas. Na realidade, dentro da Arte Tradicional, o touro assume um papel místico até agora desconhecido para aqueles que estão além dos domínios da fé.

O Touro Negro da desordem pertence ao assustador complexo cerimonial de “charivaris”, “música desafinada”, aparência teriantrópica e cultos e rituais incontroláveis da Caçada ao Inferno ou Grande Perseguição. Estes representam o nodo liminar divino das Doze Noites em pleno inverno como o “tempo entre os tempos”, a reversão para a ex- piação primitiva na qual toda a distinção dualística profana entre as formas e as estatísticas mundiais são místicamente inválidas e nulas. Entre o passado, o presente e o futuro, à Meia-Noite ou hora das bruxas, quando o relógio bate 13 vezes, o ano mesocósmico começa. Então ocorre a separação dos limites (fronteiras) dividindo os vivos e os mortos, os humanos e os não-humanos e o fenômeno e o nômeno. Isso, como visto por estudiosos como Carlos Ginzburg, Mircea Eliade e Peter Hans Duerr, entre outros, fornece uma conexão temática incontestável com os mistérios interiores do culto sabático das bmxas e toda a tradição charivari maníaca nos rituais populares.

A Satumália em pleno inverno é a recuperação temporária da época do rei Saturno ou Cronos, os primordios do tempo. Por conseguinte, o primeiro símbolo do alfabeto greco-latino é Alpha ou Apis representando o boi-touro de Sator, o Semeador da semente seminal no campo do Tempo (Saturno é a divindade da Agricultura e do Tempo). A constelação Ursa Maior está intimamente ligada ao mito Daquele que Abre o Caminho e da Grande Caçada. Na Europa, a Grande Caçada também é conhecida na tradição popular como a Caçada de Caim. E igualmente interessante o fato de que no Egito a Ursa Maior era chamada de Khepesh ou Touro Dourado e era a moradia transestelar e a origem da linhagem de Seth. Na verdade, o planeta Saturno era chamado de “Touro do Céu” pelos sacerdotes-astrónomos egípcios. Na Pérsia antiga, as sete estrelas da Ursa Maior eram visualizadas como as “Guardiãs dos Sete Pólos do Céu”, imaginadas como figuras humanas paramentadas com rostos de touro negro, chifres dourados e coroas ornamentais carregando cetros dourados. O Deus persa da luz, Mitra, também aparece portando as ancas douradas de um touro jovem. Isso representou o enxó meshtyw empregado na cerimônia egípcia de “Abertura da Boca”. Na verdade, esta denota a abertura da sutura do crânio ou a passagem através da Estrela do Pólo para liberar a alma.

De acordo com os ensinamentos dos neo-platonistas, como Plotino, o primeiro reinado de Saturno representou a bem-aventurada plenitude de Nous, a Mente Pura do Divino. Esse foi o reinado imortal e imutável das “Idéias” Platônicas: “Aquele arquétipo do mundo é a verdadeira Idade do Ouro, Era de Cronos (...) pois aqui contém tudo o que é imortal; tudo aqui é Mente Divina. ” (Enneads, V: 4) Esse é o Sabá Divino (Shabattu, Zabat, Shabbathai - a esfera de Saturno) no qual o velho Touro Comífero era o Senhor sintetizando a Mente Arrebatadora da Desordem. O Mais Velho é o Senhor liminar do Tempo e da Eternidade, e ele preside além dos circuitos de transformação temporal, acima das incansáveis estrelas circumpolares que descrevem as vastas revoluções do ciclo do progresso ou do Ano Platônico. Em algumas correntes antigas da fé das bruxas na Inglaterra, o Charivari do Touro Negro sintetiza esse estado atemporal da Satumália. Ele leva a Bênção da Desordem para o mundo frió e obscuro de modo estranho e inquietante. Provavelmente, não é coincidência que o mestre de cerimônias da popular festa de inverno de Mari Lwyd, no sul e oeste do País de Gales, usasse um bastão cerimonial com uma cabeça de touro na ponta. O Velho Pai Saturno ainda comanda a alegria de inverno.

No século VII da Era Comum, Theodore, o Grego, enviado por Roma para ser o novo arcebispo de Canterbury e erradicar o renascimento pagão na Inglaterra anglo-saxã, após a falha abjeta da missão papal de Augustino, emitiu sérias proibições sobre as festividades de inverno. Ele impôs proibições drásticas para aqueles que aparecessem com máscaras de veados ou touros nas “Calendas de Janeiro”, Natal pelo cálculo do Calendário Antigo. Apesar de tais regras, o Mais Velho, na forma do Touro de Natal, sobreviveu em Cotswolds e no sudoeste da Inglaterra até pelo menos antes da Primeira Guerra Mundial no século passado. O Touro de Natal era um homem vestindo ou segurando uma vara acima da cabeça com uma máscara ou cabeça de touro. Seu corpo ficava escondido por uma pele de touro verdadeira, por um lençol branco ou por uma capa feita de saco. Dentre estes, um dos mais famosos era o chamado Dorset Ooser, uma máscara feita de madeira pintada com chifres de touros verdadeiros. Essa era usada regularmente na época de Natal, ao redor da vila de Melbury Osmond, até que foi supostamente roubada do seu dono hereditário por volta de 1900. Diz-se que ela acabou sendo guardada no sótão de uma casa em Dorchester, e ali foi apodrecendo aos poucos.

Em Gloucestershire, o Touro de Natal também era conhecido como The Broad. Era acompanhado por um cortejo carregando uma taça para brindar, decorada com fitas vermelhas e ramos verdes. Um dos serventes do touro em Tetbuiy carregava uma pequena árvore de natal em um vaso suspenso por trapos brancos e vermelhos. Presume-se que isso representava, como a árvore de natal, o Arbor Mundi ou Árvore do Mundo, o eixo do Cosmos, que estava frequentemente decorada com a Estrela Polar na ponta. A aparição do Touro de Natal nas peças dramáticas de Natal e Ano-Novo é interessante pela sua conexão com a bruxaria. Por exemplo, em uma peça vitoriana, um personagem do século XVIII conhecido como Capitão Calftail diz: “Vou vestir meu manto demoníaco — quero dizer, meu temo bovino de Natal - e então andar pela floresta (...) e voltar como um diabrete. ” A suposta procissão Godiva (Godgyfu ou “presente de Deus” - um eufemismo para sacrifício) em Southam, um vilarejo perto de Coventry, apresentava um personagem popular chamado O Velho Rosto de Bronze, um homem usando uma máscara de touro. Huson relata que o Mestre das Bruxas pode ocasionalmente cobrir totalmente a cabeça com uma máscara ou capacete de metal nos rituais. Portanto, ele diz “o título cômico para o mestre ‘O Velho Nariz de Bronze’” (1970:215). Na tradição popular, “O Velho Rosto de Bronze” era um apelido para o sol. Durante o julgamento das bruxas, Pierre de Lancre relatou que o Diabo apareceu para as bruxas de Toumelle como “um grande touro negro”. Thomas Ady, em seu livro Uma Vela no Escuro (1656), descreve um homem sábio de Essex, com tendências trapaceiras, invocando O Ser das Trevas para o benefício de um fazendeiro apavorado que o havia consultado. Um colega do homem sábio apareceu a tempo “coberto por uma pele de touro e um par de chifres na cabeça. ”

Do templo anglo-romano do deus Mitra aos bailes de máscara do sudoeste da Inglaterra, do culto à estrela Setian do Antigo Egito às procissões com máscaras do Boeuf Gras na Paris medieval, o Touro Negro de Chifres Dourados é o símbolo eterno dos Mistérios da Satumália. Os adoradores delirantes de Saturno se enfurecem em um êxtase atávico pela luz das chamas, embriagados pelo vinho sacramental e cambaleando ao som dos tambores e do silvo dos chifres pelas ruas congelantes das vilas durante o inverno, sob as frias estrelas do norte.

O sabá das bruxas no período medieval incorporava uma misteriosofia antinomiana envolvendo a subversão ou reversão total dos estados de realidade objetivos habituais. Foi uma ruptura dos limites da normalidade a fim de ocasionar o esclarecimento gnóstico. Isso se traduziu, em termos sociais, em um etos de desordem e revolta contra a falsa autoridade dos poderes do mundo profano. Em 1961, escrevendo sob o pseudônimo de “Arkon Daraul”, o falecido Sayed Idries Shah alegou que o culto europeu medieval de bruxaria havia sido fortemente influenciado por origens árabes. Esta ocorreu supostamente durante os séculos VII ao XIV, quando a Espanha e o norte da África estavam sob influência dos mouros. Pode ter sido um dos caminhos pelo qual a Gnose Luciferiana foi transmitida do Oriente Médio para a Europa.

Essa influência árabe, diz Shah, veio de bandos nômades ascetas, chamados de cultos dos Dois Chifres ou dos Chifres Duplos pelas autoridades islâmicas, que tentavam suprimi-los. Eles eram iniciados no culto após terem infligido em seus corpos um ferimento que deixava uma cicatriz semelhante à suposta diablo stigmata ou Marca do Diabo das bruxas européias. A faca ritual usada na cerimônia da cicatriz chamava-se althame ou “derramadora de sangue”. Esses rituais envolviam danças em círculo no sentido anti-horário para evocar poderes mágicos, acompanhadas de tambores, citações de orações muçulmanas de trás para a frente e invocações ao deus deles, chamado El Aswad, o Homem Negro. Sobre o seu bastão de culto havia dois chifres feitos de latão. Cerimônias noturnas eram realizadas “onde os dois caminhos se cruzavam”, e esses encontros eram conhecidos como Zabbats, “o forte ou poderoso”. Eles adoravam o seu deus como Raban ou Rabanna (Senhor), e este era representado algumas vezes por um ferreiro.

Nas montanhas Atlas do Marrocos, esse culto era seguido pelos misteriosos berberes de olhos azuis, conhecidos como os seguidores do Comífero. O chefe desse culto ensinava seus seguidores como alcançar um estado psíquico de embriaguez por meio do uso do vinho (possivelmente com a adição de narcóticos), no qual eles adquiriam poderes mágicos. O seu líder divino é conhecido como Dhulqamen, ou o “Senhor de Dois Chifres”. Ele também é conhecido como o Senhor dos Dois Séculos, pois supostamente reencama na Terra por um período de cem anos cada vez. Quando desencama, permanece na terra como um guia espiritual do culto por mais cem anos antes de renascer como um dos “homens da perfeição”.

Há semelhanças óbvias entre o culto Dois Chifres do norte da África e a bruxaria medieval da Europa. E. W. Liddell também alega que os Mouros e os cristãos retomando das Cruzadas introduziram aspectos das escolas de mistério Sarraceno no sul da Europa, e isso influenciou a bruxaria tradicional. Esses elementos supostamente incluíam doutrinas Luciferianas e técnicas de magia sexual. Esses magos árabes se formaram em uma irmandade clandestina que, juntamente com os sobreviventes pagaos, supostamente criou o culto medieval das bruxas.

Os bruxos mouros se comunicavam com espíritos, controlavam elementais serventes, animais encantados, liam o futuro e alteravam acontecimentos magicamente. Eles também ensinavam a seus alunos brancos que cada pessoa era seu próprio deus/deusa, e que o conhecimento inerente intemo podería uni-los ao Deus Supremo do Universo (1994:78- 81 e 133-137). Uma visão semelhante foi confirmada pelo ocultista Rollo Ahmed em seu livro A Arte Negra * (1936), no qual ele constata: “Outro efeito das Cruzadas foi a mistura das idéias e crenças do leste e do oeste; em particular homens que eram prisioneiros dos Sarracenos trazem as teorias e práticas da magia oriental, sob as quais é baseada uma grande parte da bruxaria atual. ”

Qual evidência pública pode ser citada hoje para a sobrevivência do deus com máscara de touro na Arte Tradicional? No seu livro Enciclopédia da Bruxaria** (Robert Hale, 1973), a falecida Doreen Valiente contou uma história estranha da cabeça de Atos, a qual ela afirma que representava o deus comífero da bruxaria. Essa imagem pertenceu a um antiquário de Norfolk chamado Raymond Howard, o qual foi associado por um período ao bruxo tradicional Charles Cardell, editor ladino do gardneriano Livro das Sombras em 1964. Howard disse que havia herdado a imagem de uma velha bruxa cigana nos anos de 1930. Infelizmente, após ser exibida na televisão, em 1967, a imagem foi roubada da sua Loja e nunca mais foi vista.

A cabeça de Atos, como apresentada em um desenho no livro de Valiente, era feita de carvalho e tinha chifres de touro com prata e jóias. Os chifres também eram decorados com símbolos do zodíaco, e na testa havia um círculo com cinco anéis. O nariz tinha o formato de um cálice com um pentagrama inscrito. No peito, havia uma figura antropomórfica com os braços levantados como em uma cerimônia e com serpentes gêmeas ao lado. Outros sinais místicos nesse assunto compreendiam a estrela de sete pontas (Ursa Maior), o quarto crescente e o quarto minguante da Lua e a oitava roda de raios solar das estações e das direções. A imagem de Atos resume todo o simbolismo do deus com a máscara de touro da bruxaria cigana e o culto do touro dentro dos mistérios da Satumália da bruxa tradicional ou xamã cigana.

A influência cigana na Arte provavelmente fornece uma pista para a nomenclatura peculiar que identifica o Touro Comífero com Asmoday ou Asmodeus durante o “ritual em tempo transfigurado” na Satumália. No século XII da Era Comum, em Testameníum Salomonis, Asmodeus é descrito como o governante poderoso da Grande Constelação, as estrelas setentrionais da Ursa Maior, as quais têm, como vimos anteriormente, um amplo significado para o arquétipo divino do Touro Negro com Chifres Dourados. Nos grimórios medievais, tais como A Chave de Salomão, Asmodeus é descrito como um demônio de três faces com os semblantes de um homem, de um touro e de um carneiro. Nas tradições rabínicas, ele é o fruto da relação incestuosa entre o ferreiro Tubalcaim e sua irmã tecelã Naamá. Esses dois são reverenciados na Maçonaria esotérica e em alguns ramos da Arte Tradicional como hipóstases ou emanações do Senhor e da Senhora; Azazel-Lúcifer e Lilith como o Comífero e a Mãe Negra.

Os ciganos também adoravam o deus fogo da forja, Tubalo e, dessa forma, é possível que em Atos temos a versão cigana de seu filho Asmodeus, retratado tanto como o Touro Mascarado quanto como o deus das bruxas. Todo esse corpo de doutrina arcana foi alimentado por correntes afluentes dos ensinamentos dos magos dos mistérios indo-iranianos, já que Asmodeus, além da sua imagem demoníaca, é Aezhmaí Daeva. Os segredos da adoração daeva entre os mágicos medianos sobreviveram clandestinamente após as reformas Zoroastrianas. Isso aconteceu especialmente nas criptas-templo do sacerdócio Mitraísta, em que o antigo Deo Arimanio ainda era adorado como Aion, o Senhor do Tempo Ilimitado com a cabeça de um leão. Esses traços do gnosticismo persa foram a todo lugar com a diáspora dos judeus e dos ciganos e também fundamentaram todo o culto da Angelologia Hermética e magia Gnóstica. Também pertence a uma corporação secreta da tradição que liga a bruxaria antiga e a alta Gnose da mágica angelical. Nesse capítulo, está contido o aspecto mais esotérico do culto do Touro Negro, como expresso popularmente no folclore rural e na bruxaria campestre.


Luciferianismo - A Lanterna De Lilith

Um termo arcaico no folclore inglês e na poesia para a Lua é a Lanterna de Lilith. Mas quem exatamente foi Lilith? Por que ela era associada à Lua e qual sua conexão com Lúcifer? Para responder a essas perguntas devemos voltar mil anos no tempo, para quando ela era vista como um demônio vampiro feminino que roubava bebês de seus berços, seduzia os homens com sonhos eróticos e gerava uma raça de diabos. Na mitologia hebraica, Lilith era conhecida por muitos títulos, incluindo “bela donzela”, “o demônio”, “vampiro prostituta”, “o fantasma na noite”, “súcubo”, “rainha dos demônios”, “monstro noturno”, “mãe das bruxas” e “o mocho”. Esses nomes refletem a crença comum de que ela raptava bebês ou sugava o sangue e a energia vital deles, causava abortos em mulheres e coletava o sêmen ejaculado pelos homens durante sonhos eróticos ou masturbação para criar demônios e elementais.

Sem maior análise, Lilith parece ser uma figura consideravelmente desagradável, mas, como já vimos neste livro, as divindades da antiga religião se transformam em demônios pela nova religião. É verdade também que os livros de história são sempre escritos pelos vencedores e isso se aplica também aos livros de religião ou mitologia. Lilith não foi sempre um demonio noturno hebreu. Na mitologia suméria, ela é retratada por volta de 2000 a.C. como uma bela mulher nua e alada com pés de pássaro. Ela está vestindo uma touca ou gorro com chifres e está em pé sobre duas leoas. Comjas a ladeiam pelos dois lados. Na Suméria antiga, Lilith, Lilitu ou Lily foi a líder das Lilu, uma raça de vampiros femininos que foram as predadoras sexuais dos humanos. Elas eram espíritos do ar que habitavam no deserto e se manifestavam durante as tempestades. Dizem que essas entidades se alimentavam de mulheres grávidas e, como no mito hebraico, concebiam demônios ao roubar o sêmen de masturbadores e homossexuais. Lilith era a filha de Ninlil, a deusa dos cereais e do vento que deu à luz a Lua. Por essa razão, os poderes de Lilith eram maiores no período da lua minguante, “quando os cães da noite estão livres de suas correntes para vagar até a manhã”.

A Epopéia de Gilgamesh nos conta a história da deusa Inanna, a Rainha do Céu, e como ela encontrou o salgueiro sagrado nas margens do Eufrates que havia sido desarraigado em uma forte tempestade. A deusa resgatou a árvore caída e a replantou em seu jardim. Ela planejava usar a madeira para uma nova cama e um trono. Entretanto, depois que foi plantada, a árvore se recusava a crescer porque uma cobra havia se aninhado em suas raízes, o feroz pássaro do trovão Zu ouAnzu estava empoleirado em seus galhos e Lilith havia construído uma casa no seu tronco. Inanna estava abalada e em prantos pediu socorro ao herói semidivino Gilgamesh. Este matou a cobra e dermbou a árvore e, por isso, Zu e Lilith perderam seus lares. Lilith fez crescer asas de comja e voou para longe, amaldiçoando a deusa e o defensor dela. Inanna recompensa Gilgamesh com um presente Xamânico de um tambor e uma baqueta, ambos feitos da madeira da árvore de seus galhos superiores e raízes. Esse instrumento mágico permitia que ele se comunicasse com os deuses no Céu (os galhos superiores) e descendesse ao mundo subterrâneo (as raízes).

Alguns escritores compreenderam essa história como uma metáfora que representava o poder em declínio das deusas do Oriente Médio enquanto os patriarcas assumiam o controle. George diz: “O pássaro antigo e a deusa serpente que construíram seus lares na copa e na base da Arvore da Vida uniram céu e terra. Essa imagem continha o poder e o conhecimento presente no pássaro com asas de águia e face de leão e [a] sabedoria da renovação sexual expressa pela serpente” (1992:177).

Nesse mito acima, o pássaro do trovão Zu é extremamente urna figura Luciferiana/Prometéica. Ele é descrito como uma águia com cabeça de leão que provoca furacões no deserto ao bater suas asas. Como o deus Zu, vimos como ele roubou as Tábuas do Destino dos Deuses e tentou se apoderar da ordem cósmica. As Tábuas deram poder a Zu sobre o Universo porque elas controlavam o poder do destino, que geralmente era representado por urna deusa. Por ter ousado desafiar a ordem cósmica, o pássaro Zu foi morto por um raio, as tábuas foram devolvidas e a ordem cósmica foi restaurada ao estado normal. O pássaro do trovão é comparado ao pássaro Bennu, do mito egípcio, à fênix e á Roca árabe.

A associação de Lilith estar vivendo na Arvore do Mundo ou Arvore da vida com urna cobra e um pássaro tem certa significância mística. Andrew Collins acuradamente identifica o pássaro Zu com a lenda bíblica de Azazel e os Vigias e também com os ciclos estrelares ligados aos ciclos cósmicos do destino (1996:226-28/353-55). O motivo da águia, ou certo pássaro lendário, vivendo nos galhos de uma árvore sagrada com um dragão ou serpente em suas raízes pode ser encontrado do norte da Europa até o Oriente distante.

Os animais sagrados de Lilith eram gatos, corujas, cobras, bacurais e cães negros. Tanto Inanna quanto Ishtar eram conhecidas como as “Divinas Damas Comjas”, e esse pássaro é um símbolo duplo de sabedoria e morte nos mitos antigos. Na única referência bíblica a Lilith, diz-se que ela vive “em deserto desolado com feras selvagens, chacais e sátiros como companhia(Isaías 34:14) Os sátiros são, naturalmente, os seirim ou “peludos” que seguem o mestre deles, o deus bode Azazel.

Lilith era associada na Suméria a Ereshkigal, a irmã de Inanna, e na Babilônia a Ishtar (Vênus). Na Fenicia, ela era Baalat, a “Grande Dama”, e a consorte de Baal. Dizem que, quando Inanna conspirou para destronar Ereshkigal, ela se vestiu com suas melhores jóias. Ela então visitou a irmã no seu palácio, parecido com um labirinto em formato de uma teia de aranha e com sete portões. Ereshkigal descobriu que ela estava vindo e ordenou que seus guardas parassem Inanna em cada um dos portões e arrancassem algumas de suas jóias e roupas. Quando chegou ao centro do palácio, ela estava totalmente nua. Naquele instante, sua irmã mais nova fez com que ela fosse enforcada.

Os hebreus provavelmente encontraram Lilith pela primeira vez quando invadiram e ocuparam Canaã, pois naquele tempo o culto a ela já havia se estendido além de suas origens na Suméria. Na tradição Cabalística, Lilith foi a primeira esposa de Adão antes de Eva. Ele havia supostamente pedido a Javé que lhe desse uma companheira feminina, já que estava cansado de se masturbar e de ter relações sexuais com animais - ambas as práticas eram comuns entre os pastores do Oriente Médio, que geralmente tinham vidas solitárias. Tendo sido presenteado com uma companheira sexual, o mal-agradecido primeiro homem se ofendeu com as exigências de Lilith em ignorar a tradicional posição de missionário43 durante o ato sexual e deixá-la tomar o papel dominante. Quando Adão se opôs, Lilith perguntou: “Por que eu devo me deitar debaixo de você? Eu também sou feita de barro e por isso sou igual a você”. Em circunstâncias um pouco diferentes, Lúcifer tinha recusado as exigências de Deus para reverenciar e adorar sua criação Adão. O primeiro se mostrou um bom menino religioso depois de tudo e se recusou a ceder a Lilith. Em um ódio frustrado, dizem que Lilith se transformou em uma coruja e voou para o deserto para se tomar uma banida “viajante no deserto”.

Depois que Javé cedeu às exigências de Adão por uma nova parceira feminina e o casal foi expulso do Éden, Lilith retomou do deserto. Embora Adão fosse abstêmio naquele momento, Lilith usou as ejaculações noturnas dele para criar uma raça de demônios e gigantes. Aliás, dizem que Lilith gerou a raça de fadas e elfos que eram considerados pelas religiões ortodoxas patriarcais como demônios. Os antigos hebreus, como certos cristãos puritanos que vieram depois, parecem ter tido um preocupação peculiar com a masturbação e outras formas de sexo não reprodutivo. Por exemplo, quando Javé viu homens “derramando suas sementes em árvores e rochas” ele os puniu por sua perversidade. Na realidade, essa prática parece com ritos de fertilidade em que a energia sexual estava sendo oferecida aos objetos naturais que supostamente estavam imbuídos de forças divinas.

Na propaganda patriarcal judaica, Lilith era temida por causa de sua independência sexual da dominação masculina, sua poderosa sexualidade e seu poder sobre os homens. A palavra Lilith vem da palavra hebraica Layil, que significa “noite”, e a palavra suméria Lil, que significa “vento” ou “morte”. Quase literalmente, ela é a Dama do Ar e “a morte que vem no vento da noite”, uma companheira perfeita para Azazel ou Azrael, como o Anjo da Morte. Uma derivação alternativa para o nome déla vem do termo sumério-acadiano para “tempestade de areia”. Esse era o termo usado para os incansáveis espíritos presos à terra que viajavam ao vento e eram o “pó da terra”. (Baring e Cashford, 1991:50) Asphodel Pauline Long sugeriu que Lilith pode não ser o “demônio do vento da noite”, mas o primeiro “sopro de vida”. Ela chama a atenção para o fato de que, no mito da criação no Gênesis, Elohim ou deuses sopraram a vida dentro de Adão para que ele se tomasse uma alma viva (1992). Kathy Spurin considerou a energia de Lilith como fogo feminino - o fogo de caos e destruição que apressa as mudanças e os novos começos, necessários à evolução. Esse é um conceito Luciferiano e, como o seu outro eu masculino, ela é muito mais a “deusa de fora”, um exemplo de rebeldia, uma anarquista que se recusa a aceitar a ordem estabelecida e um espírito independente que traça o seu próprio caminho.

Lilith frequentemente foi considerada uma deusa por méritos próprios. Barbara Walker a vê sob esse prisma, como uma figura de “Grande Mãe” para os agricultores assentados que se indignaram com as invasões dos pastores nômades (1983:541). Supostamente os primeiros hebreus não gostavam da Grande Mãe porque ela bebeu o sangue de Abel, o pastor, depois que ele foi assassinado por Caim, o patrono da Agricultura e da arte de trabalhar em metais. O suposto primeiro assassinato foi associado a Lilith por meio de sua identificação com Naamá a Tecelã, irmã de Tubalcaim. Ela era às vezes conhecida como Lilith, a Jovem. Naamá era tão linda que ela podería até levar seu irmão Tubal (Azazel) para o mau caminho.

Lilith Babellon associa sua homônima aos mistérios praticados na ilha grega da Samotrácia, e isso novamente a associa a (Tubal) Caim da mesma forma. Nos ritos praticados na ilha, a deusa das trevas Hécate deu à luz espíritos vampirescos conhecidos como as Lâmias ou Lillim. Blavatsky descreve a raça demoníaca dos Cabari ou Kabari, que já mencionamos, como modelos culturais que ensinaram a humanidade a Agricultura e a arte de trabalhar com metais. Ela também os identifica com a raça gigantesca grega de deuses antigos conhecida como os Titãs e os sete regentes planetários (1893: 408-9). Knight diz que os Cabari eram “uma linhagem de antigas divindades do mundo subterrâneo e servos da Grande Mãe - que eram deidades marinhas e trabalhadores de metaF (1985:58). Adescrição deles como deidades marinhas provavelmente significa que eles eram urna face dos deuses antigos, que na mitologia antiga diziam que “habitavam nas profundezas”.

Huson descreve os Cabari como uma “raça misteriosa (...) resultante do primeiro acasalamento divino, e sob outra terminologia eles podem bem ser chamadas de elfos e bruxas..." (1972:100-101) Os gregos dividiam os Cabari em dois grupos de acordo com o sexo. Os femininos eram bruxas que lançavam feitiços e encantamentos, enquanto os masculinos eram ferreiros e trabalhadores de metal. Eles tinham o poder de quebrar os feitiços das Cabari femininas e se assemelham aos históricos “homens habilidosos”. Os Cabari masculinos foram, além disso, associados com à invenção do alfabeto e da Matemática.

Os masculinos também se especializaram no uso do bronze em vez do ferro. A partir desse material, eles moldaram a foice de Cronos-Satumo usada para castrar seu pai Urano, o tridente do deus do mar Poseidon- Netuno (o deus patrono de Atlântida), o raio de Zeus-Júpiter, o elmo da invisibilidade usado por Hades-Plutão e o cinturão de Vênus-Afrodite. O nome deles vem da palavra grega “kabeiroi ” e da palavra fenicia “qabirim” e significa os “Poderosos”. Blavatsky alega que Caim pertenceu aos Cabari e foi um “instrutor de toda arte profissional em latão e ferro". Ela também se refere aos “misteriosos trabalhadores de ferro de Rodes, eles foram os primeiros a levantar estátuas aos deuses, se guarnecerem com armas e terem homens versados nas artes mágicas". Ela acrescenta: “E não foram eles que foram destruídos pelo Dilúvio a comando de Zeus, como os Cainitas foram por Jeová". Dizem que os Cabari eram filhos do deus grego do fogo, trovão e arte de forjar metais Hefesto e, fisicamente, eles eram negros, deformados e anões. Hefesto foi retratado usando um chapéu cônico, copiado pelos Cabari. Eles vestiam um píleo ou gorro frigio pontudo que também era usado por Átis e Mithras. Também se tomou o símbolo do alquimista e do mago. Talvez não coincidentemente, chapéus pontiagudos também são associados a gnomos, elfos e duendes, que eram espíritos da terra.

Dizem também que Caim ou Qayin foi um metalurgista sumério. Laurence Gardner diz que ele aparece na história suméria como Arwi ’um, o rei de Kish e o filho de Masda. O nome Masda significa “como uma serpente” e Arwi’um vem da palavra hebraica para serpente. Masda ou Mazda, “lorde”, na Pérsia era Ahura Mazda ou o deus da luz. Ele também era chamado de Ormuzd, “a serpente de luz”. Gardner alega que a tradição de magia persa pode ser traçada a partir de Masda e Arwi’um/Caim, e eles foram os ancestrais de Zoroastro (1999:105-106). No livro sagrado dos Mandeístas, Lilith é a esposa de Mazda, o rei da luz e da gnose. Gardner alega que ele é o equivalente ao anjo hebreu Samael, que era o consorte angelical de Lilith. A irmã gêmea e também esposa de Caim era chamada Luluwa, que significa “pérola”, e ela também foi a mãe de Enoch (Gênesis 4:17). Dizem que Luluwa foi a filha de Lilith e Samael.

O demônio feminino Lilith realmente é uma deusa? George diz que a reputação repulsiva como uma assassina de bebês se refere ao ciclo menstruai feminino e ao lado escuro da Lua. Ela diz: “Quando Lilith estava em seu período menstrual era odiada por se recusar a servir os homens e conceber os seus filhos'” (1992). Isso é parte da reação patriarcal e de misoginia ao princípio feminino e, como Black Koltuv destaca: “Lilith é parte da Grande Deusa que foi rejeitada e banida no período pós-bíblico. Ela representa as qualidades do eu feminino que a Shekinah não possui. A primeira dessas qualidades é a consciência lunar, que é uma conexão aos ciclos da lua crescente e minguante, vida e morte e renascimento; e a deusa como donzela, mãe e anciã. Lilith, a Jovem, é Naamá, a donzela e sedutora. Lilith, a Antiga, é a assassina de bebês, bruxa e raptora. Enquanto a própria Lilith é a mãe das multidões miscigenadas, deusa da Vida e Morte, e a chama da espada giratória”. (1986:121)

No texto Cabalista do século XIII chamado de Zohar ou o Livro dos Esplendores, o ódio de Lilith por Javé deriva do fato de que ela foi criada como a “luz inferior” depois do Sol (Lucifer), visto por essa razão pela ortodoxia como seu rival. Na tradição oculta judaica, ela foi criada no mesmo momento que Adão ou antes dele. Ela era considerada, como seu companheiro angelical Samael, como uma faceta do “poder de Deus” e era retratada na Árvore da Vida como a sefirah Geburah. Samael e Lilith eram originalmente um ser andrógino. Eles eram considerados os Qlippoth, ou opostos demoníacos ao hermafrodita Adão-Eva.

Na astrologia esotérica, Lilith é a “Lúa negra” ou asteroide que o astrólogo Sepheriel alegou ter achado no começo do século XX orbitando entre a Terra e a Lua. Nesse aspecto, ela é às vezes conhecida como a “velha Lua” e supostamente antecede o nosso atual satélite. Em um mapa astral, a Lua negra Lilith é o eu paralelo da personalidade que nos impulsiona para a satisfação dos desejos próprios e, no final, para a autodestruição. Ela representa as estranhas influências, os desejos incontroláveis, as paixões e compulsões cegas que, às vezes, afetam nossas vidas de uma forma totalmente inesperada. Em um nível mais positivo, Lilith pode ser a educadora que nos ajuda a lidar com as experiências emocionais desagradáveis e a confrontar nossos piores medos. A astróloga Lynne Steele-Smith diz que a mensagem de Lilith é: “Abrace suas sombras. Então pegue o fio da sua vida e eu o guiarei do labirinto para a luz do autoconhecimento, o objetivo espiritual supremo”. Um conselho muito Luciferiano.

Outro aspecto positivo de Lilith, astrológicamente falando, é o seu papel como a “dama negra” ou musa que inspira poetas e escritores. Mesmo assim, sua influência pode ser uma faca de dois gumes. Robert Graves escreveu sobre sua faceta como a Deusa Branca, mas o poeta Peter Redgrove a viu como a Deusa Negra. Ela também pode ser a “mara44 da noite”, cujo abrigo no alto de uma árvore é repleto de ossos de poetas mortos, e ela pode trazer morte e loucura no seu despertar. Astronómicamente, a estrela fixa Algol (Beta Persei) foi associada a Lilith e às suas (às vezes) más influências nas vidas humanas. Seu nome significa “diabo” ou “demônio” em árabe e é associado a mortes violentas por enforcamento, decapitação (desmembramento), afogamento e envenenamento. Mas por outro lado Lilith é “a morte que vem no vento da noite” e a esposa de Samel- Azrael, o Anjo da Morte. Ele é um aspecto do princípio feminino que deveríamos respeitar e cruzarmos (especialmente homens) com ela por nossa conta e risco.

Por mais que fosse uma figura tão apavorante, um demônio, vampiro, assassina de bebês e agente da Morte, a carreira de Lilith acaba sob estranhas circunstâncias em uma nota singularmente culminante. Javé expulsou a Matronit-Shekinah, a face feminina do Criador Cósmico, e a substituiu por uma “mulher escrava do Egito”, ou seja, Lilith. Isso aconteceu depois da destruição do templo de Salomão e do exílio dos hebreus na Babilônia no final do século VI a.C. Isso sugere que Shekinah estava encerrada no templo ou na Arca da Aliança; Lilith como a Matronit- Shekinah é associada à sefirah Chokmah na Arvore da Vida. Essa esfera é a expressão de “sabedoria” da natureza quádrupla de YHVH ou Javé. Ela também é associada à Binah como a Mãe Negra do Mar Amargo, às vezes considerada a Abençoada Virgem Maria. Dizem que Chokmah, ou Sabedoria, está com Javé desde o começo da criação.

Gardner (1999:115) comparou Matronit com Anat ou Anath, a Rainha do Céu, e uma filha de Astarote, a consorte de Baal. De acordo com os Gnósticos Mandeístas: “Lilith conhece o segredo da escuridão e da luz, e [ela] une Céu e Inferno. Seu aspecto é aquele da sabedoriaOs gnósticos também disseram que, como Sabedoria, Lilith teve um papel importante em uma versão do mito da Grande Enchente. Ela interveio quando Javé ameaçou afogar toda a raça humana por ter parado de adorá-lo. Um texto gnóstico diz: “¿Yod e sua família foram salvos na arca por causa de uma centelha de luz que veio dela [Sabedoria], e por meio dela o mundo foi novamente enchido de seres humanos.” (Pageis, 1981:65)

Uma das partes mais interessantes e freqüentemente mal compreendida da lenda de Lilith é a criação da raça de demônios pelo contato sexual com humanos adormecidos. Como Lilith Babellon diz: “ Visto que Lilith e Samael não são de origem humana, há uma semente dentro da raça humana que pertence a outra ordem de evolução. Isso é conhecido por muitos nomes, incluindo demônios, elfos, fadas e ninfas. Lilith age desse modo como ‘Deusa Fada Mãe ’, conduzindo as almas élficas para evoluírem através das formas humanas em planos onde o simplório Adão não tem a imaginação para entrar”. R.J. Stewart alega que, quando Lúcifer “caiu” na Terra, os seres do reino das fadas caíram com ele (1992: 79). Ele alega: “A antiga Igreja Celta ensinava que Lúcifer atraiu muitos anjos com ele quando caiu na Terra, muito antes de a humanidade ser formada. Esses se tomaram as raças de fadas, os anjos da Mãe abaixo” (1995:80). Stewart descreveu a suposta Aliança de Três em Um ou a Redenção de Lúcifer. Essa é uma ação espiritual na tradição das fadas para unir as três ordens de existência - a humana, a das fadas e a angelical - que foram separadas na Queda.

Nos mitos de Arthur, que contêm muitos elementos Luciferianos, o nascimento de Merlin e sua sedução por Nimue em sua velhice simbolizam aspectos esotéricos dos casamentos de fada entre humanos e elfos. Na propaganda cristã, Myrddin ou Merlin é o produto da união de um diabo com uma freira. Despida da camada artificial cristã, essa união é o acasalamento entre um ser/deus angelical e uma sacerdotisa humana. Para apoiar esse pensamento, o cronista histórico Geoffrey de Monmouth descreve o pai do mago chefe como um ‘ jovem extremamente bonito que foi um da raça de espírito que existe entre a Lua e a Terra, e que chamamos de demônios íncubos. Eles têm uma natureza que tem partes de homens e de anjos, e eles conversam com mulheres mortais'".

A sedução de Merlin na velhice pela encantadora Nimue, a serva da élfica Dama do Lago, é outro exemplo de um casamento de fadas. Ao passo que em termos cristãos a queda de Merlin é vista como um ato negativo, Knight (1983:164-66) a vê como uma forma poderosa de redenção baseada na “magia antiga”. Ele diz: “Quando Nimue, a donzela da terra, aprender toda a sabedoria estrelar de Merlin, e Merlin aprender toda a sabedoria da terra de Nimue, os dois juntos partirão em um casamento cósmico em direção às estrelas, levando com eles os filhos da Terra". Isso é refletido nos contatos entre o Povo Bom e os humanos gravados nos julgamentos de bruxas. O resultado final desses encontros próximos de fadas é que o humano recebe conhecimento oculto sobre ervas e poderes psíquicos de seus amigos élficos. Com relação à morte de Merlin, sua prisão em uma ‘Torre de Vidro”, que certos relatos chamam de observatório, o associa à doutrina dos deuses antigos e vigias e o identifica com um deles.

A propaganda patriarcal ao longo dos séculos tem denegrido, humilhado e transformado em demoníacos os mitos de Lilith e seu consorte Lúcifer. Conceitos esotéricos como os casamentos entre humanos e a raça élfica têm sido malcompreendidos e mal-interpretados como pactos malignos com intermediários diabólicos anti-humanos. Na realidade, essas intervenções em nossa evolução planetária têm ajudado a raça humana a progredir e a se desenvolver tanto espiritualmente quanto materialmente. Esses contatos também nos ajudaram a manter acesa a chama pura da sabedoria e do conhecimento passado pela primeira vez para a humanidade pelos deuses antigos éons atrás.