terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Historiografia Alquímica


A Alquimia surgiu provavelmente no Egito, como sugere a raiz grega do nome (khemia = transmutação, fusão, mistura) e corresponde ao nome copta do Egito (Khem = terra negra), segundo Plutarco. Alguns estudioso indicam que a palavra está relacionado com o vocábulo grego “chyma”, que se relaciona com a fundição de metais. Os árabes, que invadiram o Egito em 640 d.C., incorporaram esse vocábulo na forma Al-Kimiya (transformação através de Alah). Associada ao culto do deus Thoth, que se tornou Hermes na Grécia Antiga e Mercúrio, em Roma, foi atribuída aos anjos pelas lendas cristãs, narrando que os mesmos teriam ensinado os segredos da natureza a alguns homens ao apaixonarem-se pelas mulheres terrenas. Possui três objetivos: transmutar metais inferiores em ouro; fabricar o Elixir da Longa Vida; e a criação de vida humana artificial a partir de materiais inanimados (homúnculos). 

O conceito do homúnculo (do latim, homúnculos, pequeno homem) parece ter sido usado pela primeira vez pelo alquimista Paracelso (pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, (1493 – 1541) - esse pseudônimo significa “superior a Celso", médico romano) para designar uma criatura que tinha cerca de 12 polegadas de altura e que, segundo ele, poderia ser criada por meio de sêmen humano posto em uma retorta hermeticamente fechada e aquecida em esterco de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se formaria o embrião. Outro Alquimista famoso que tentou criar homúnculos foi Johanned Konrad Dippel, que utilizava técnicas bizarras como fecundar ovos de galinha com sêmen humano e tapar o orifício com sangue de menstruação. No entanto, também é possível que o homúnculo seja uma alegoria, uma interpretação demasiado literal das imagens alquímicas referentes à criação.

O trabalho relacionado com a Pedra Filosofal era chamado por eles de “A Grande Obra”, pois narra-se que era um objeto que poderia aproximar o homem de Deus. A Pedra Filosofal (ou Mercúrio dos Filósofos, como também era chamada) era o principal objetivo dos alquimistas ocidentais - e é inexistente na Alquimia Chinesa, pois poderia não só efetuar a transmutação, mas também elaborar o Elixir da Longa Vida, uma panaceia universal que prolongaria a vida indefinidamente. Isto demonstra as preocupações dos alquimistas com a saúde e a medicina, muitos dos quais são de fato considerados precursores da moderna medicina, entre eles Paracelso. Segundo a descrição de centenas de manuscritos antigos e livros modernos, a Pedra Filosofal não é uma substância sólida, mas uma substância composta, que podia ser quase líquida ou gel. A descrição mais comum é um pó pesado e vermelho, às vezes uma pedra vermelha. Mas também podia ser um material ceroso amarelo, algo como o âmbar. uma substância mística que amplifica os poderes de um alquimista. A busca pela Pedra Filosofal é, em certo sentido, semelhante à busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Segundo os alquimistas europeus, o Elixir da Longa Vida poderia ser sintetizado por meio da Pedra Filosofal. Também segundo eles, o elixir poderia prolongar a vida somente até que um acidente os matasse, ou seja, não é um elixir da imortalidade.



Na concepção alquímica, o Universo originou-se de uma substância única, indiferenciada (matéria prima ou quintessência, que é o que ela tem de comum com a moderna cosmologia, que se sustenta na Física Quântica e sua Teoria das Membranas), a qual polarizou-se em princípios ativo e passivo, derivando daí o mundo manifesto. Este azoth (luz astral de correlação imediata com a fonte) alquímico corresponde ao conceito ocultista da luz astral (o mesmo veículo ao qual se referem os médiuns que lidam com cura espiritual ou materializações e que também encontra suporte no desconhecimento de 95% da matéria que compõe o Universo que nos cerca, sendo essa matéria desconhecida chamada de Matéria Escura).

A Alquimia nasceu como uma ciência natural que buscava a compreensão da própria natureza a partir de uma especulação filosófica, como se pode ver já na filosofia pré-socrática no século VI a.C. É dela que surge o conceito de prima matéria, a partir da crença de que o mundo tinha origem em uma única substância que era subdividida nos quatro elementos terra, ar, fogo e água, os quais, segundo diferentes recomposições, faziam surgir todos os objetos físicos existentes no universo.

"A Arte imita a Natureza", diz o lema alquímico.

O trabalho dos alquimistas em seu laboratório era acelerar ou fazer, dentro de condições controladas  (laboratoriais), aquilo que a natureza demoraria anos para fazer. Os alquimistas trabalhavam em seus fornos, com vasos semelhantes a úteros, lidando com o fogo, com o calor adequado a cada operação. Registravam, passo-a-passo, os procedimentos, mas os ingredientes são desconhecidos. Os “verdadeiros” alquimistas não divulgam seu sucesso, a não ser por pseudônimo, por receio de serem torturados para revelar o segredo; até porque durante a Idade Média muitos alquimistas foram julgados pela Inquisição e condenados à fogueira sob alegação de pacto com o diabo. Por isto, até os dias de hoje, o enxofre, material usado pelos alquimistas, é associado ao demônio.

É reconhecido que, apesar de não ter caráter científico, a Alquimia medieval foi uma fase importante na qual se desenvolveram muitos dos procedimentos e conhecimentos que mais tarde foram utilizados pela Química. Diversas novas substâncias foram descobertas. A obsessão pela transmutação levou ao desenvolvimento da mineração e da metalurgia, e essas artes, originalmente sagradas, desencadearam uma revolução científica e tecnológica que não apenas alterou o nosso modo de viver e de pensar como modificou todo o rumo tomado pela evolução.

Entretanto, com o florescimento do conhecimento científico, constatou-se que a transmutação alquímica, conforme defendida pelos alquimistas, é impossível. Sabe-se que a transmutação implica na alteração dos núcleos atômicos e estes se encontram fortemente unidos, e a energia envolvidas nas reações químicas são insuficientes para rompê-los ou alterá-los. Ironia do destino, o desejo dos alquimistas de transmutar os metais tornou-se realidade nos nossos dias com a fissão e a fusão nuclear.



Podemos dividir a história da Alquimia em dois movimentos independentes: a Alquimia Chinesa e a Alquimia Ocidental, esta última desenvolvendo-se ao longo do tempo no Egito (em especial Alexandria), Mesopotâmia, Grécia, Roma, Índia, Mundo Islâmico e Europa. Na cidade de Alexandria, no Egito, a alquimia recebeu influência das filosofias gregas de Aristóteles e do neoplatonismo. Foi graças às campanhas de Alexandre, o Grande, que a Alquimia se disseminou em todo o oriente. E foram os muçulmanos que a levaram novamente para a Europa, em razão da conquista Islâmica da Península Ibérica, ao redor do ano de 950 d.C.. Além de na Alquimia medieval estarem vários traços da cultura muçulmana, está também presente traços da cabala judaica, com a qual a possui forte relação. Todavia, os primeiros registros escritos datam do tempo de Cristo, mas apontam que já eram velhos os sistemas usados. Um dos primeiros é atribuído a Maria, a Judia, que datar entre 1 e 300 d.C. Esta sábia alquimista teria sido a responsável pela criação do processo conhecido como “banho Maria”.

São fáceis de achar textos judeus, egípcios e árabes sobre o assunto. Estudiosos europeus logo traduziram e tentaram a transmutação. Os filósofos do oriente médio, entre os séculos VI e VII afirmavam que alguns deles conheciam o segredo da fabricação da Pedra Filosofal, cujo processo era perigoso pois podia haver envenenamento por gás monóxido de carbono, uma vez que trabalhavam em ambientes fechados; ou ainda envenenamento por metais, como o mercúrio. Tais insucessos eram atribuídos aos espíritos malignos, que tentavam desviar o buscador de seu caminho.

Em muitos países a alquimia era uma arte proibida, pois poderia desestabilizar não só o país, mas o mundo, com uma quantidade muito grande de ouro e outros metais nobres. Ainda assim, existia uma exceção: o alquimista real. O que se sabe é que esteve em evidência nos séculos XVI e XVII, quando atingiu o seu desenvolvimento completo, graças em grande parte ao trabalho de Paracelso e seus alunos. O auge da alquimia ocidental durou cerca de 300 anos. Dessa forma o século XVIII marca o desaparecimento da Alquimia já que o seu “método de explicação: “obscurum per obscurius, ignotum per ignotius” (obscuro pelo mais obscuro e o desconhecido pelo mais desconhecido), era incompatível com o espírito do iluminismo e particularmente com o alvorecer da ciência química, no final do século. Após a Renascença a Alquimia passou a ser chamar Química.

Já a Alquimia chinesa está associada ao Taoismo e parece ter evoluído quase ao mesmo tempo em Alexandria ou na Grécia. Há um mito que diz que a Alquimia chinesa já era usada em 4.500 a.C., tendo dado origem ao Taoismo. Entretanto os textos alquímicos começaram a surgir somente na dinastia Tang, em torno de 600 a.C. O seu principal objetivo era fabricar o Elixir da Longa Vida (também chamado por eles de Elixir do Retorno, Pílula da Imortalidade), que segundo eles estava relacionado com fabricação do ouro, não havendo a Pedra Filosofal e o Homúnculos, que tratam-se de conceitos puramente ocidentais. As escritas dos antigos chineses citam a “Ilha dos Bem Aventurados“, a morada dos imortais. Também havia uma corrente de pensamento que dizia que o elixir era capaz, além de ceder a vida eterna, fazer o alquimista ir ao paraíso e viver com os imortais. Note-se que na China o ouro não possuía o mesmo valor que no Ocidente, não se trata de buscar o ouro alquímico com o objetivo de enriquecer, mas sim de se aperfeiçoar. É deste modo que o ouro fabricado possui muito mais importância por concentrar nele a sabedoria de sua produção, enquanto o ouro natural é considerado apenas matéria bruta, embora a mais perfeita da natureza.

Na filosofia védica da Índia ao redor do ano 1.000 a.C. também havia uma relação entre o ouro e a imortalidade, cuja ideia provavelmente foi adquirida dos gregos, quando Alexandre, o Grande invadiu a Índia no ano de 325 a.C. e teria procurado a fonte da juventude.

Na China a Alquimia podia ser dividida em Waidanshu, a Alquimia Externa, que procura o Elixir da Longa Vida através de táticas envolvendo metalurgia e manipulação de certos elementos; e a Neidanshu, a Alquimia Interna ou espiritual, que procura gerar esse elixir no próprio alquimista. A medicina tradicional chinesa herdou da Waidanshu as bases da farmacologia tradicional e da Neidanshu as partes relativas ao chi (pronuncia-se qi = energia). Muitos dos termos usados hoje na medicina chinesa provém da sua forma de Alquimia. Ainda assim a Alquimia chinesa não está diretamente ligada à metalurgia, talvez por necessitar de minérios ou pelo devagar desenvolvimento dessas técnicas na China. Esta prática possui características próprias e outras semelhantes à do ocidente, sendo que muito daquilo que sabemos sobre a Alquimia Chinesa encontra-se registrado no livro "O Segredo da Flor de Ouro".

Por sua vez, o livro alquímico chinês mais famoso é o Tan chin yao chüeh (“Grandes Segredos da Alquimia”), provavelmente escrito por Sun Ssu-miao, que viveu em torno de 581-673 d.C. A pólvora foi primeiramente descoberta por acidente por alquimistas chineses no século IX que procuravam pelo elixir. A partir do século X a Alquimia na China abdicou da preparação de ouro e centrou-se mais na espiritualidade. Em vez de fazerem experiências alquímicas com metais, a maioria dos alquimistas as faziam diretamente com seu corpo e espírito. Essa volta a uma ciência espiritual teve seu ápice no século XIII com as práticas da escola Zen e o Taoísmo Budista.



Simbolismo

De um modo geral, o processo alquímico é descrito de forma velada usando-se uma complicada simbologia que inclui símbolos astrológicos, animais e figuras enigmáticas. Os termos alquímicos, desde os mais simples até aos mais complicados, não podiam ser catalogados em um dicionário, pois eram usados com sentidos diferentes, até por uma mesma pessoa. A simbologia alquímica consiste em diversas alegorias e símbolos com diversas representações. Símbolos como animais, monstros mitológicos, ícones do cristianismo e cabala demais símbolos são usados para representar os processos químicos e a interação das substâncias para fins alquímicos tanto para representar as substâncias e elementos em si.



Talvez conhecido pelos antigos mesopotâmios (como os sumérios), foi muito considerado por Pitágoras que observou sua relação com o número aúreo. A maioria dos autores opina que o pentagrama foi primeiro conhecido e estudado pelos babilônios, e daí em diante pelos pitagóricos, devido a coincidente associação do pentágono regular com o cosmos e ordem divina. Eudemo de Rodas e Proclo mencionam que os pitagóricos apenas conheciam, das três figuras cósmicas, os poliedros regulares, desconhecendo o octaedro e o icosaedro. A explicação dada é que eles os conceberam da forma dos cristais naturais e que surgiram de uma dedução matemática, o que iria contra a herança babilônica. Desde então, ao mesmo tempo místico-mágico e científico, o pentáculo passou a ser usado na magia com sua ponta voltada para cima significando o ser humano (de fato, durante a Idade Média se esboçavam figuras humanas adequadas ao espaço de um pentáculo, como se verificou com Leonardo Da Vinci), cuja junção dos quatro elementos, em total comunhão, celebrariam o ápice espiritual.

Nonagrama, uma estrela de nove pontas utilizada como símbolo em diversas religiões. Muitas vezes é relacionada ao satanismo, porém, assim como o pentagrama e outros símbolos mágicos, de fato não o é. Símbolo de realização e de estabilidade, também pode ser relacionado ao sistemas de nove pontas, tal como o nove kanji taoista (centros psíquicos) que são semelhante ao chakras do Hinduísmo. Nove é o número de planetas conhecidos no sistema solar, e o número de deidades no Enéade do Egito antigo, que agruparam suas deidades de numerosos modos a partir do número três. 

Grandes Alquimistas

Nicholas Flamel: Nasceu em 1330, na França. A partir de 1380, começa a dedicar-se a experimentos alquímicos. Cerca de dez anos mais tarde ao início dos experimentos, ele teria conseguido transmutar metais em prata e ouro e inicia a realização de um grande número de obras de caridade como a construção de igrejas, hospitais, abrigos, decorando-os com pinturas e esculturas contendo símbolos alquímicos. Tanto ele como sua esposa gozavam de uma saúde invejável e não aparentavam a idade que tinham, segundo alguns devido aos conhecimentos alquímicos de Flamel. Conta a lenda, que após a sua morte, ladrões violaram o seu túmulo em busca de ouro, mas não encontraram nem ouro, nem o corpo de Flamel. É por isso que dizem que, além da pedra filosofal, ele descobriu também o elixir da longa vida, e que está vivo até hoje. 

Nostradamus ou Michel de Notre-Dame: Médico, alquimista e astrólogo. Nasceu em 14 de dezembro de 1503. Suas profecias ficaram tão conhecidas que chegam a ofuscar o restante de sua obra. Foi convidado por um alquimista, Julius César Scalinger, para conhecer suas pesquisas e permaneceu um tempo em sua casa. Acabou se casando com Marie Auberligne, grande estudiosa e auxiliar de Scalinger em seus experimentos. Foi nesta época que Nostradamus passou a aprofundar-se na Alquimia, utilizando a biblioteca escondida de Scalinger, porque nesse tempo era proibida qualquer prática alquímica. 

Paracelso: Nasceu em 17 de dezembro de 1493 na Suíça e tinha como princípio que a Pedra Filosofal da alquimia não devia ser somente para a procura do ouro e da prata, mas também de medicamentos para melhorar as condições de saúde do corpo humano, e assim, providenciar a forma de alcançar a vida eterna. Afirmava que “O homem não está na natureza; ele é da natureza.” 

Roger Bacon: Viveu em torno do ano 1250 e foi um dos mais sábios estudantes da Alquimia, realizando até mesmo transmutações de metais. Bacon trabalhou no Calendário Juliano, aperfeiçoou instrumentos de óptica, fabricou a pólvora e aproximou-se muito dos princípios que permitiram a fabricação de óculos e telescópios alguns anos mais tarde. Foi preso duas vezes, pois os Franciscanos não toleravam seus questionamentos.

Isaac Newton: Nasceu em 04 de janeiro de 1643, em Londres. Era alquimista, matemático e físico e foi um dos maiores gênios de todos os tempos. Desde pequeno já tinha uma enorme inteligência, resolvia problemas e criava engenhos. Sempre foi obstinado por seus livros e aos vinte e sete anos foi eleito Professor Titular de Matemática da Universidade de Cambridge. Nesta mesma época elaborou o cálculo infinitesimal. Publicou a obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, onde expunha sua teoria para a explicação do universo, baseada na atração da matéria. Acreditava que a Alquimia deveria permanecer secreta e por esse motivo nunca publicou os resultados de seus experimentos alquímicos. Deve-se a isto o fato de pouco se saber a respeito. Newton buscava na Alquimia encontrar a estrutura do microcosmo. Apesar de seus intensos estudos sobre o assunto, que duraram de 1668-1696, ele não conseguiu explicar as forças que governam os corpos pequenos. Em 1940, baseado nos manuscritos deixados por Newton, foi escrito o livro “Os Fundamentos da Alquimia de Newton". 



Postulados Alquímicos

A unidade do princípio material (matéria prima primordial);
Evolução da matéria (todos os elementos são radioativos, uns mais outros menos, de forma que ao longo de milhões de anos, mesmos os átomos considerados estáveis, sofrem transformações análogas à dos elementos instáveis);
Os elementos químicos representam estados de evolução (sendo o ouro o mais perfeito);
A transformação é o resultado de uma evolução natural ainda desconhecida do homem, a qual é possível reproduzir em laboratório, sendo este trabalho ao mesmo tempo espiritual e material (ora et labora = reza e trabalha; de onde vem a palavra “laboratório” = labor + oratório).

Segundo a filosofia alquímica e os princípios da magia, os sete metais planetários são os que mais acumulam spiritus de natureza análoga à “influência” planetária correspondente. Eles apresentam um ritmo energético oscilante, de acordo com a posição do astro a ele associado (é o “biorritmo” do metal). Como o próprio Hahnemann (fundador da Homeopatia) comprovou, as coisas que são de alguma maneira semelhantes na natureza de suas vibrações características têm afinidade entre si. Isto é conhecido como “Princípio das Correspondências ou Concordâncias”. Os Florais e a Homeopatia baseiam-se em princípios elementares da Alquimia Herbácea (alquimia vegetal, que compõe a “Pequena Circulação”, em contraposição à Alquimia Mineral ou “Grande Circulação”). Em ambos os casos, o princípio ativo é a quintessência dos elementos impregnada num catalisador (que no caso da aplicação vegetal pode ser água ou álcool, e na mineral geralmente um ácido).

Os alquimistas acreditavam que o mundo material é composto por matéria-prima sob várias formas, as primeiras dessas formas eram os quatro elementos (água, fogo, terra e ar), divididos em duas qualidades: úmido (que trabalhava principalmente com o orvalho), Seco, Frio ou Quente. As qualidades dos elementos e suas eminentes proporções determinavam a forma de um objeto, por isso, os alquimistas acreditavam ser possível a transmutação: transformar uma forma ou matéria em outra alterando as proporções dos elementos através dos processos de destilação, combustão, evaporação, etc.

Por outro lado, um grande número de alquimistas afirmava: “as vias usadas no processo são duas e as chamamos de seca e úmida (ou a do sábio e do filósofo)”. Uma é mais rápida do que a outra; no entanto, é muito mais arriscada. A via seca era sempre mais rápida, realizada no athanor (forno) aberto, com fogo direto, vivo e forte e numa espécie de panela que normalmente era chamada de ‘cadinho’. A via úmida era mais eficaz, porém mais lenta. Normalmente feita em um recipiente fechado que levava o nome de ‘retorta’ ou ‘pelicano’ e cozinhada em fogo brando por bastante tempo. O forno também era fechado e muito maior do que na via seca. A maioria dos escritores dividia a via úmida em quatro estágios principais, que por vezes, também ter significado espiritual, e os associava a cores e suas vibrações. Como não podia deixar de ser, os nomes eram em latim.

Nigredo: ou Operação Negra, é o estágio em que a matéria é dissolvida e putrefata (associada ao calor e ao fogo);
Albedo: ou Operação Branca, é o estágio em que substância é purificada;
Citrinitas: ou Operação Amarela, é o estágio em que opera-se a transmutação dos metais;
Rubedo: ou Operação Vermelha, é o estágio final.
Entre a Nigredo e o Albedo, há a fase da Cauda Pavonis (cauda do pavão ou arco-íris). Deve ser por Eisso que se diz que no fim do arco-íris está um pote de ouro. O problema é que nunca encontramos o fim do arco-íris, mas na maioria das vezes o caminhar é o verdadeiro tesouro. Os processos apresentam perigo real de explosão (algumas composições tratam-se de reações violentas, que se aproximam da pólvora), queimaduras (temperatura próximas dos 1000°C e quase sempre acima dos 100°C, ácidos e bases fortes), envenenamento (gases) e toxicidade por metais (Mercúrio, Antimônio, Chumbo). Os perigos psicológicos são também reais, em conseqüência de trabalho excessivo, concentração prolongada, frustração repetida, falta de repouso, por vezes isolamento, estímulos à imaginação, etc.




O processo se dá com quatro operações:

Solução ou Liquefação – A primeira é a solução (liquefação) da matéria em água mercurial pela semente do mar. A geração começa pela conjunção do macho e da fêmea de suas sementes. Segue a putrefação. Pela solução, os corpos, dizem eles, retornam à sua primeira matéria e se reincorporam pela cocção (cozimento). Nesse momento, faz-se o casamento entre o macho e a fêmea, e dele nasce o corvo. A pedra se transforma em quatro elementos, todos misturados; o céu e a terra se unem para dar à luz Saturno. Na química filosófica é uma redução do corpo à sua primeira matéria, uma desunião natural das partes compostas e uma coagulação das partes espirituais; eis porque os filósofos chamam-na uma solução do corpo e um congelamento do espírito.

Ablução ou Calcinação – A segunda é a preparação do mercúrio dos filósofos, que volatiliza e espermatiza os corpos, expulsando a umidade supérflua e coagulando toda a matéria sob forma de terra viscosa e metálica. A ablução ensina a branquear o corvo e fazer nascer Júpiter de Saturno, o que é feito pela transformação do corpo em espírito. A calcinação comum é a pulverização pelo fogo e a redução do corpo em cal, cinza, terra, etc. é a morte do misto. A filosófica é a extração da substância, da água, do sal, do óleo e do resto terroso. A calcinação comum se faz pela ação do fogo comum ou dos raios concentrados do Sol. A filosófica tem a água por agente, por isso se diz ablução.

Redução ou Putrefação – A terceira parte é a corrupção que separa as substâncias, retifica-as e as reduz. As águas tiveram que ser separadas das águas com peso e medida [destilação]. A função da redução é devolver ao corpo seu espírito, que a volatilização havia retirado, e alimentá-lo a seguir com um leite espiritual, em forma de orvalho, até que Júpiter criança tenha adquirido uma força perfeita. É, de algum modo, a chave de todas as operações, ainda que não seja a primeira. É a ferramenta que rompe as ligaduras das partes. A destilação e a sublimação comuns são a imitação das da natureza.

Fixação ou Fermentação – A quarta é a geração e a criação do enxofre filosófico, que une e fixa as substâncias; é a criação da pedra; o mistério acabou. Sem ouro não se pode fazer ouro. O ouro é, portanto, a alma e o que determina a força intrínseca da pedra. O medicamento amarelo não é mais do que uma composição de terra e água, isto é, de enxofre e mercúrio fermentados com o ouro, porém um ouro reincorporado.

As cores que a matéria assume no decorrer das operações da obra são signos demonstrativos, que permitem saber que se agiu de maneira a ter êxito. Elas sucedem imediatamente e por ordem. A perturbação desta ordem é uma prova de que se operou mal. Há três cores principais: a primeira é negra, chamada cabeça de corvo, serpentes, dragões e muitos outros nomes. A segunda cor é o branco. Essa matéria, dita fumaça branca, é considerada como a raiz da arte, o verdadeiro mercúrio dos filósofos. A formação dessa brancura desejada anuncia-se por um círculo capilar de cor alaranjada, que aparece ao redor da matéria, nos lados do recipiente.

A matéria ao deixar  a cor negra, não se torna branca de repente; a cor cinzenta, que participa das duas é a intermediária. Os sábios lhe deram o nome de Júpiter porque ela sucede ao negro, que eles chamam de Saturno. A matéria que se fixou na parte inferior do vaso é Júpiter. Essa matéria branca é, desde então, um remédio universal para todas as doenças do corpo humano. A terceira cor primordial é o vermelho, que se obtêm continuando o cozimento da matéria. Deve-se saber que, para despistar os garimpeiros, a maioria dos sábios começam seus tratados da Obra com a pedra vermelha. Nessa operação, o corpo fixo se volatiliza; sobe e desce no vaso até que o fixo, tendo vencido o volátil, o precipite ao fundo com ele, não fazendo mais do que um corpo de natureza absolutamente fixa. As três cores – preta, branca e vermelha – devem necessariamente sucederem-se na ordem que acabamos de indicar. Não são as únicas que se manifestam. Indicam as mudanças essenciais que ocorrem na matéria, enquanto as outras cores, quase indeterminadas e semelhantes ao arco-íris, são passageiras e de curta duração; afetam antes o ar do que a terra, repelem umas às outras e dissipam-se para dar lugar às três cores principais, das quais estamos falando.

Principais Obras Alquímicas

O Arcano Hermético (de Jean d’Espagnet)
Anfiteatro da Sabedoria Eterna (de Heinrich Khunrath)
Atalanta Fugiens (de Michael Maier)
Aurora Consurgens (de São Tomás de Aquino)
A Aurora dos Filósofos (de Paracelso)
Coelum Philosophorum (de Paracelso)
A Carruagem Triunfal do Antimônio (de Basílio Valentim)
Doze Chaves de Basilio Valentim (de Basílio Valentim)
As Seis Chaves (de Eudoxus)
A fabricação de Ouro (de Francis Bacon)
O Parentesco dos Três (de Wei Boyang)
Tabula Esmeragdina (de Hermes Trismegistus)
O Tratado Dourado (de Hermes Trismegistus)
Corpus Hermeticum (de Hermes Trismegistus)
Teorias e símbolos dos Alquimistas (de Albert Poisson)
Mutus Liber (editado por Eugene Canseliet)
As Moradas dos Filósofos (de Fulcanelli)
Teorias e símbolos dos Alquimistas (de Albert Poisson)
O Livro das Figuras Hieroglíficas (de Nicolas Flamel)

O Baphomet

Uma das mais controversas figuras da Alquimia/Cabala. Criada com o proposital intuito de afastar os leigos, os despreparados, os imaturos e as pessoas de “mente fraca”, que tomariam tal figura como sendo a de adoração do demônio. Repleta de simbolismo, a figura retrata o processo de autotransformação, mascarando com figuras do imaginário religioso. A palavra “Baphomet” em hebraico é como segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se a cifra Atbash (método de codificação usado pelos cabalistas judeus), obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que soletra-se Sophia, palavra grega para “sabedoria”.

A Alquimia como Técnica de Autotransformação Psicológica

A Alquimia é, antes de tudo, um sistema de autotransformação. O caminho é ao mesmo tempo espiritual e material. Muito do trabalho alquímico relacionado com os metais era apenas uma metáfora para um trabalho espiritual. Torna-se mais clara a razão para ocultar toda e qualquer conotação espiritual deste trabalho, na forma de manipulação de “metais”, se nos lembrarmos que na Idade Média qualquer um poderia ser acusado de heresia e satanismo, acabando por ser perseguido pela Inquisição.

Para o alquimista, o universo todo tendia a um estado de perfeição. Como, tradicionalmente, o ouro era considerado o metal mais nobre, ele representava esta perfeição. Assim, a transmutação dos metais inferiores em ouro representa o desejo do alquimista de auxiliar a natureza em sua obra, levando-a a um estado de maior perfeição. Portanto, a alquimia é uma arte filosófica, que busca ver o universo de uma outra forma, encontrando nele seu aspecto espiritual e superior. Assim, a transformação dos metais em ouro pode ser interpretada como uma transformação de si próprio, de um estado inferior para um estado espiritual superior. Outros consideram que as operações alquímicas e a transmutação do operador ocorrem em paralelo; existem, ainda, outras opiniões.

A Psicologia moderna também incorporou muito da simbologia da alquimia. Carl Jung reexaminou a simbologia alquímica procurando mostrar o significado oculto destes símbolos e sua importância como um caminho espiritual. Os símbolos alquímicos sendo semelhantes aos símbolos de nossos sonhos, fantasias, dos mitos, das artes. Expressando portanto as profundidades da alma humana, onde somos todos semelhantes.

A cor dourada e o ouro geralmente estão associados ao Self e à totalidade. Na interpretação de Jung, a obra alquímica é análoga ao processo de individuação, e a pedra filosofal é um símbolo do Self. Pondo em jogo sua intuição e sua teoria dos arquétipos, Jung encontrou uma correspondência entre as clássicas operações da Alquimia e as etapas já assinaladas que é necessário percorrer no caminho da Individuação. Tais operações alquímicas adquiriram, assim, uma significação simbólica. Todo o processo aparece como resultado de uma projeção arquetípica. Entretanto, a metáfora alquímica é um tema muito vasto e complexo que amplia o horizonte de estudo sobre a natureza humana.



domingo, 3 de dezembro de 2017

Alta Magia Cerimonial


Alta Magia é um tipo de Magia Cerimonial cujo objetivo é relacionar psiquicamente o Adepto com os Planos Superiores e com as Inteligências que neles habitam. Para o mago no Universo existem vários planos ou esferas de vida e consciência. Existem Hierarquias Espirituais Superiores (Seres Angélicos, Guru-Devas, Nirmanakayas etc), assim como também Hierarquias Espirituais Inferiores. O mago se esforça em construir uma conexão psíquica (antakarana) com os Seres de Alta Hierarquia Espiritual, canalizando suas energias e forças, para depois exercer domínio e dirigir as Hierarquias Inferiores em proveito de seus objetivos.  

Segundo os tradicionalistas a Alta Magia tem como objetivo principal, o despertar no homem de sua de Luz interior e posterior reintegração com a Divindade. Da mesma forma os antigos egípcios entendiam que o deus falcão Hórus (representado pelo disco solar alado) simboliza a consciência superior e sua capacidade de reintegração com Ra, a fonte da luz.

Os cerimoniais de Alta Magia

O objetivo final do magista (termo usado para ambos os sexos) é aprender os ensinamentos que lhe são ministrados por sua Ordem ou por sua Escola de Iniciação e cujo objetivo final é a expansão permanente da consciência. Atualmente o termo mago é usado para aqueles que passaram pelas operações mágico-ritualísticas, de forma prática, então denominados magistas.  O mago já não precisa de ponto de referência, ele usa sua vontade para agir e dirigir no mundo da Lua Astral. O magista, ainda em processo iniciático de desenvolvimento, requer a ajuda e o treinamento de rituais mágicos com pontos de referências.

O magista visa sempre evoluir como ser humano a abraçar sua Luz interior, processo místico que apresenta uma variedade de nomes, entre os quais temos: atingir a Consciência Cósmica, obter o Conhecimento e Conversação com o Santo Anjo Guardião, despertar seu Ser Imortal, realização do Eu e muitos outros.

Os meios que o magista utiliza para isso são as Cerimônias, e os elementos destas consistem no Emprego de Talismãs, Espada, Triângulo, Pantáculo, Nomes de Poder, Invocações etc.

A realização maior de um magista acontece quando ele é capaz de trazer/encarnar esse Poder Divino em seu corpo e mente e, em seguida, manifestá-lo na Terra, no mundo dos homens. De fato a potência mágica só flui quando o magista, nem que seja por um breve momento, fica unido à Divindade (ou um aspecto da mesma) e enverga a capa da Onipotência.

Um poder assim conquistado deve ser usado para agir de forma abnegada e oculta sobre seus semelhantes, em nome dos interesses superiores da Coletividade Humana.

Sem dúvida o milagre que o mago realiza não é uma violação das leis da natureza, mas sim a familiaridade com suas leis ocultas, a sua realização.

A Luz Astral ou Alma do Mundo

Em sua atuação o magista busca sempre mobilizar a Luz Astral ou Anima Mundi (Alma do Mundo ou Alma do Universo).  Na Alta Magia a Anima Mundi é vista como veículo de influências estelares e base das operações mágicas. Ela é o veículo de manifestação da Ideação Divina, pois fornece o substrato capaz de plasmar na matéria desordenada, caótica, os arquétipos criados pela Mente Cósmica, dando ordenação a um grau mínimo de luz inteligível. A antiga ideia de Alma do Universo foi substituída na Física Moderna pelo conceito de Campo Unificado Primordial. Saber atuar sobre esse mediador plástico é de enorme importância para o magista, porque é pela manipulação da Luz Astral que ele consegue provocar as mudanças da consciência (em si próprio ou nos outros) que o tornam capaz de precipitar efeitos no mundo físico.

Na Alta Magia a Anima Mundi é personificada como uma Deusa Mãe do Universo, seja ela Isis, Diana, Astarte ou mesmo Shekinah - a presença feminina e imanente de Deus no reino da manifestação.

Esse Mundo Secundário ou Astral é também chamado de Mundo Imaginal onde a Grande Deusa, apresenta-se multiforme criando figuras, imagens, sonhos que são reais em seu próprio nível. É nesse Mundo Imaginal ou lugar da inteligência imaginativa, que os deuses, anjos e demônios recebem forma e adquirem um corpo ou seja: assumem formas e materializações através da Luz Astral ou Alma do Mundo.

O fato do magista utilizar instrumentos físicos para mobilizar as forças da Luz Astral e provocar mudanças (internas e externas), torna-se compreensível pelo fato de que os materiais ritualísticos só atuam, só tem validade, se corresponderem ao estado íntimo adquirido. Assim, cada instrumento exterior (seja a vela, o bastão, a espada, o Tetragramaton, o Pentagrama e outros) é uma expressão exterior da força interior do mago, são meios de catalisação das entidades e forças espirituais convocadas durante o cerimonial.

Alquimia Interior

O praticante de Alta Magia procura a dissolução progressiva dos elementos inferiores de sua personalidade. Este processo é denominado “espiritualização da matéria”, que “constitui um outro aspecto da “ressurreição dos mortos”, ou seja, das forças inativas dentro do homem. Assim, procede sua libertação do jugo da matéria, jugo que limita as possibilidades espirituais do homem e lhe dificulta o conhecimento de si mesmo e do mundo que o rodeia. Em seguida, ou simultaneamente a isso, deve ocorrer a “materialização do espírito”, onde o magista se esforça para a encarnação do Eu superior e a realização da Vontade Divina na Terra.

Cumprindo satisfatoriamente estas duas etapas ele formula o velho axioma hermético Solve et coagula, que pode ser reconstituído como “Dissolver e coagular”, cumprindo assim a Grande Obra (Magnum Opus), que nada mais é do que a desintegração e reintegração da própria personalidade do estudante. Dessa forma, ele usa os cerimoniais e técnicas da Alta Magia para efetuar a dissolução e a reformulação.

De fato, os cerimoniais de Alta Magia pertencem mais a segunda parte do desenvolvimento ocultista, pois não é possível praticá-los sem conhecer a fundo as técnicas da visualização; ademais, é imprescindível ter capacidade para uma concentração demorada, uma mediunidade ou psiquismo controlado e, ainda, uma profunda compreensão intuitiva, que só pode ser conseguida mediante técnicas de meditação. Ser um mago ocultista não é comprar qualquer livro de Alta Magia e sair colocando em prática. Alta Magia requer um tempo de estudos e conhecimento acerca das forças sobrenaturais, não se deve abrir portas nos mundos invisíveis e não saber como fechá-las, muitas vezes uma imaginação descontrolada acarreta danos psíquicos e até mesmo físicos ao magista iniciante. 

Teurgia ou Magia Divina

Em geral magistas cerimoniais trabalham com energia interna (Ki ou Chi) combinada com a energia de diversas entidades não-humanas (deuses, anjos, gênios etc) para realizar suas operações mágicas. O magista domina e ordena as entidades de diversas hierarquias e para tal tem que ter controle tanto interno como externo. Algumas vezes uma forma de energia espiritual mais geral (planetária, astrológica ou elemental) pode ser usada para criar servidores artificiais, consagrar talismãs e amuletos, lançar encantamentos etc. Outras vezes ele precisa pedir ajuda a um arcanjo ou mesmo evocar um daemon para fazer sua magia.

O aspecto mais elevado da Alta Magia é a Teurgia.

A Teurgia trabalha com parte mais alta da Árvore Sefirotal, onde o iniciado já opera livre dos rituais e se encontra conectado com os Elohim ou Deuses. Nesse nível acredita-se que o mago já ocupa o seu lugar de direito na criação, que é o de Senhor de Toda a Criação.

Os verdadeiros rituais teúrgicos envolvem também a comunicação com as hierarquias daemônicas e elementais que servem/atuam na corrente vibratória dos deuses ou, como modernamente denominamos, “essências divinas universais”, as divindades de Deus.

H. P. Blavatsky explica que a Teurgia “não é exatamente a presença de um Deus, mas uma verdadeira – conquanto temporária – encarnação, uma fusão, por assim dizer, da deidade pessoal, o Eu Superior, com o homem seu representante na Terra... Quando a encarnação é temporária durante aqueles mistérios transes ou êxtases, o qual Plotino definiu como a libertação da mente de sua consciência finita tornando-se una e identificada com o Infinito, tal sublime condição é deveras fugaz... Em casos excepcionais, contudo, o mistério torna-se completo. O indivíduo torna-se divino na plena acepção do termo, pois que seu Deus Oculto transformou-se em seu tabernáculo permanente por toda a vida – o Templo de Deus, como afirma Paulo”.

Origens da Alta Magia

Ao contrário do que muitos pensam a Magia Cerimonial Ocidental (ou Alta Magia), é muito mais antiga do que o cristianismo.

A origem da palavra Magia vem do grego Mageia, que se originou de um adjetivo (magoi ou magus) de origem Persa (atual Irã). Os magoi persas viveram muitos séculos antes de Cristo e eram considerados exímios taumaturgos “fazedores de milagres”. De fato a Alta Magia, no mundo antigo, tem suas raízes em quatro culturas primárias, o egípcio, hebraico, grego e persa.

Tal como é conhecida hoje a Alta Magia começou a assumir sua forma no Egito e na Pérsia, espalhando-se aos Gregos, praticada pelos bizantinos do Império Romano do Oriente a Alta Magia sobreviveu a Era das Trevas na Europa, seus métodos e técnicas foram afinal levados para a América e outras colónias europeias pelos imigrantes cristãos.



Sangue Menstrual e seus Mistérios

Para todas as mulheres em idade fértil a fase menstrual é um período de grande intuição, criatividade e inspiração, o ápice do poder feminino. A palavra “menstruação” tem origem na raiz grega “men” que significa mês, e “menus”, que significa ao mesmo tempo lua e poder. Nessa fase  as mulheres ficam mais conectadas as energias astrais e aquilo que Jung chamava de inconsciente coletivo.

Embora se encontrem diversos tabus que tratem o sangue menstrual como algo impuro, nem sempre foi assim. Muitas culturas antigas acreditavam que a Lua  menstruava e que era um símbolo apropriado para a Grande Deusa Mãe.


A  evolução do ciclo lunar de vinte e nove dias e meio aproximadamente, tal como o ciclo menstrual das mulheres, podia ser associado as Três Faces da Deusa como Jovem, Mãe e Anciã. Na fase da Lua Crescente a Deusa é jovem e cheia de vigor, já na Lua Cheia a Deusa é Mãe, e na Lua Minguante torna-se a Anciã. A Lua Negra (Lua Nova) corresponde à transformação da Deusa, a sua transição, a passagem pelo mundo dos mortos, para que depois reencarne e renasça como Jovem novamente.

Em tempos remotos o sangue menstrual era utilizado para fertilizar o solo para que seus nutrientes fossem absorvidos pelas plantas. Era desta forma, que as Antigas Sacerdotisas realizavam sua comunhão com Deusa, retribuindo seu sacrifício, que foi dar origem a vida infundindo seu sangue sobre terra. 

Também o sacramento com a ingestão do sangue era antes relacionado ao sangue menstrual da Deusa, por vezes chamado de Leite da Deusa Mãe, que conferia o poder da imortalidade.  No Egito antigo o leite de Ísis era muito utilizado nas procissões. Sua cor era rosada, que remete ao sangue menstrual, carregado dentro de um vaso com forma de vulva, às vezes derramado na terra para torna-la fértil e era famoso por seus poderes curativos.

Eles também tinham a deusa Sekhmet, a Leoa Escarlate, a deusa da guerra e ligada ao ciclo menstrual das mulheres. Sekhmet é a guerreira sem medo, capaz de destruir e espalhar os flagelos, deusa selvagem e terrificante mas que, paradoxalmente, sua energia sanguínea pode curar os doentes assim como destruir os inimigos do Estado. A estátua de Sekhmet protegia as entradas dos templos egípcios e seu culto contribui para a manutenção da ordem cósmica.

Assim para as sacerdotisas que realizam trabalhos magísticos o sangue menstrual (sabiamente utilizado) pode ser fonte de enorme poder de cura assim como de precipitação (materialização) de suas magias. 

Sagrado feminino


A mulher deve reaprender a celebrar a abundância da vida que existe em seu útero e reverenciar a Deusa através do sangue menstrual que flui através do colo uterino. Quando aceitamos a menstruação como algo sagrado, nos tornamos mais conscientes de suas influências e podemos usufruir de forma plena de seus benefícios. Desta forma, restabelecemos a nossa conexão com os Mistérios Femininos.

Segundo  J.J Bachofen, com base em suas pesquisas arqueológicas ele pode afirmar que “A maternidade foi à fonte de todas as sociedades humanas”.

No período Neolítico, décimo milênio A.c, a sociedade humana descobriu a agricultura, saindo da condição de nômades e aderindo a um estilo de vida sedentário. Agora possuindo moradias fixas; desenvolveram métodos de cultivo agrícola e descobriram como armazenar alimentos.

Neste período existe o primeiro indicio de religião, que assumiu a forma de um culto de natureza matrifocal. Foram encontradas em escavações várias estatuas femininas que representavam varias formas da Deusa, a figura maternal era totalmente associada à natureza, pelo seu poder de criar a vida e por sua fertilidade. Inclusive, foram descobertas dentro cavernas conchas com descrições “o portal por aonde a criança vem ao mundo”, feitas em Ocre Vermelho que simbolizava o sangue menstrual.

Na Tradição Sumério-babilônica o sangue menstrual é considerado sagrado, um símbolo que representa a vida, veículo pelo qual a Deusa Mãe Tiamat concebeu a vida, derramando seu sangue sobre a terra.

A passagem da cultura Matrifocal para a Patriarcal pode ser representada pelo mito da morte da Deusa Tiamat por seu inimigo o Deus Marduk. Que divide seu corpo em duas partes e com eles forma o céu e a terra.

Ritual Egípcio Rosacruz



O Ritual Egípcio Rosacruz é um dos rituais internos da Ordem do Lotus Negro. Este ritual tem sua origem nos métodos cerimoniais da extinta Ordem Hermética da Aurora Dourada que incorporou a alquimia em seus ensinamentos ocultistas. A ordem foi fundada em 1887, mas ainda era intensamente ativa nas primeiras duas décadas do século XX e sua influência pode ser percebida em muitas ordens esotéricas atuais. Ela exigia, para aqueles que desejassem prosseguir em seus graus, que estivessem familiarizados com o simbolismo alquímico e, talvez, que tivessem alguma experiência prática da Alquimia Mística cuja fórmula e operação são de natureza espiritual e psicológica. De fato muitos negaram a validade da Alquimia Física ou Artesanal, dizendo que ela é, puramente, o símbolo de uma operação interior que é de natureza espiritual e psicológica. A Alquimia Artesanal é a arte de transformar metais de base em ouro. Entretanto para o para o Alquimista Místico o ouro é o material simbólico de uma realidade espiritual simbolizada pelo Sol de Luz. O ouro é o metal perfeito entre todos os metais – a forma mais exaltada do reino mineral. É, de fato, o alfa e o ômega do reino mineral.

A grande Obra Alquímica é a verdadeira transmutação dos metais onde o alquimista procura remover de todos os metais básicos suas desordenadas imperfeições ou características básicas para trazê-los ao seu estado de essência natural e transmuta-los no perfeito Ouro do Sol. Para os antigos egípcios o Sol era o centro do cosmos e fonte de luz e calor, era também a manifestação natural da própria Fonte Divina do Ser. Ou seja Sol era reconhecido não só pelo seu poder físico, como também como símbolo do Verdadeiro Sol que é a Luz do Mundo, o Sol do Ser que, no Ritual Egípcio Rosacruz, é representado por Osíris.

A ideia da transformação de metais em ouro, acredita-se estar diretamente ligada a uma metáfora de mudança de consciência. O metal seria a mente "ignorante" que é transformada em "Ouro", ou seja, sabedoria. 

(Alta) Magia Cerimonial

O Ritual Egípcio Rosacruz é um trabalho alquímico ritualista ou seja: baseado nos métodos do cerimonial mágico. Nele apreciamos a Magia Cerimonial em seu mais amplo sentido.

“Incluídos nessa expressão (Magia Cerimonial)  estão pelo menos três tipos distintos de trabalho cerimonial, todos, porém, sujeitos a um único conjunto geral de regras ou governados por uma única fórmula principal. A palavra "cerimonial" inclui rituais para iniciação, para invocação dos chamados deuses e para a evocação de espíritos elementares e planetários. Há também a enorme esfera de talismãs, e sua consagração e carga. Cerimonial é provavelmente o mais ideal de todos os métodos para desenvolvimento espiritual, pois envolve a análise e subseqüente estimulação de toda faculdade e poder individuais. Seus resultados são gênio e iluminação espiritual.”
Israel Regardie

O ritual divide-se em três etapas. Na primeira delas ocorre a purificação do mago através dos Quatro Elementos. Em cada estação ou quadrante uma divindade tutelar apropriada é invocada por meio da formulação da forma astral e dos símbolos alquímicos adequados. Em seguida as quatro forças elementais são então evocadas e recebem ordens para fluir através do mago, visando purificar sua personalidade quádrupla, cada uma delas associada a um elemento. A Astrologia (estudo da influência dos Astros na Terra) explica que tal como a Terra, o Ser Humano também é constituído por quatro Elementos: Terra, Água, Ar e Fogo. A Terra e a Água são elementos Yin (femininos), o Ar e o Fogo são elementos Yang (masculinos). Sabemos que os Quatro Elementos estão também no corpo humano e que pela purificação de um objeto dos quatro Elementos nós nos defrontamos com um quinto elemento que chamamos de Akasha, a Quintessência e a Matéria-prima de nossa obra. No homem, este quinto elemento é chamado de Espírito.

Como em todo ritual teúrgico, logo no início da cerimônia todas as forças e todos os seres são cuidadosamente banidos a fim de deixar um espaço limpo e sagrado para a celebração da cerimônia. Mas para esta esfera consagrada são chamadas todas as ordens de elementos, compreendidas na divisão quíntupla das coisas. E é esta poderosa legião, purificando a esfera do mago por consumir os elementos indesejáveis dentro dele, que é consagrada e abençoada pela Eucaristia e pela descida da Luz refulgente.

           No final da purificação ritual o mago assume a injunção de Eliphas Levi:

"Sê alerta e ativo como os Silfos, mas evita frivolidade e capricho. Sê enérgico e forte como as Salamandras, mas evita irritabilidade e ferocidade. Sê flexível e atento às imagens como as Ondinas, mas evita ociosidade e inconstância. Sê laborioso e paciente como os Gnomos, mas evita grosseria e avareza. Deste modo desenvolverás gradualmente os poderes da tua Alma e te capacitarás a comandar os Espíritos e os elementos.”

                                              O Sol do Espírito - Osíris (Ausar)

O ritual passa então para a segunda etapa onde o magista assume a forma astral do deus egípcio Osíris, utilizando o conhecido método de “assunção da forma deus”. Osíris, em simbolismo mágico, é a própria consciência humana, depois de finalmente purificada, exaltada e integrada – o ego humano como se acha em posição equilibrada entre o céu e a terra, reconciliando e unindo ambos. Os antigos egípcios acreditavam que pela repetida mistura com a essência de um deus, a alma do mago é exaltada e sua personalidade elevada e purificada.

Osíris, o deus Sol, ligado à vegetação e a vida no Além, é sem dúvida o deus mais conhecido da mitologia egípcia. Osíris significa muitos-olhos, um significado apropriado para representar os raios do Sol, que veem tudo, tanto a terra quanto o mar. Ele é a deidade apropriada para estabelecer o contado com o mundo divino dentro de nós, simbolizado pela letra hebraica Yod que, neste ritual, corresponde a Osíris, a centelha divina que existe dentro de nós.

Este ritual é um verdadeiro psicodrama onde o operador (o magista) busca identificar-se com o deus Osíris (Ausar em egípcio) que desce ao mundo subterrâneo ou Amenti (Região dos Mortos) e vence a prova dos quatro elementos. O neófito, no Egito, em uma de suas provas, quando ia ao país de Amenti, tinha que vencer inúmeros obstáculos, inclusive os dos “4 elementos”, se saísse vitorioso passava a um grau superior. Iniciar a jornada rumo ao nosso sagrado ser requer o domínio completo dos quatro elementos que compõem a nossa natureza e todo o neófito ou chela que anelasse muito compreender, aprender e estudar sobre os mistérios que transcendem a matéria e o mundo das imperfeições humanas deveriam inevitavelmente passar pelas quatro provas básicas iniciais; se saísse vitorioso poderia então prosseguir seus estudos e cada vez mais se aprofundar nos mistérios insondáveis de Deus; se fosse derrotado não poderia seguir  por este caminho, pois a alma ainda era imatura para ancorar em si as terríveis e divinas provas que se seguiriam mais adiante.

É importante ter em vista que Osíris é o marido de Ísis e pai de Hórus, ele é quem julga os mortos na "Sala das Duas Verdades", onde se procedia à pesagem do coração ou psicostasia. Ao identificar-se com Osíris o magista volta-se para dentro de Si mesmo como se olhasse sua alma refletida no espelho. Ele entra em contato com seu Ser profundo e renova suas forças espirituais. Em um estágio posterior (fusão com a divindade) ele ganha autoridade sobre as forças dos Elementos.

A matéria prima do mago egípcio é a palavra falada (mantra) que, acrescentando-se ao gesto (mudra), produz o ato mágico. Pelas fórmulas tornadas vivas, o mago encanta o céu, a terra, as potências noturnas, as montanhas, as águas, compreende a linguagem dos pássaros e dos répteis. O alvo é considerável: a recitação correta das fórmulas mágicas torna-o capaz de aceder ao cortejo de Osíris e de fazer parte da confraria dos reis do Alto e do Baixo Egito, a sociedade iniciática mas fechada que é possível conceber.

Em um ritual de iniciação da Aurora Dourada, um oficiente, ao mesmo tempo que assume a máscara astral do deus, define a natureza dele afirmando:

"Eu sou Osíris, a alma de aspecto gêmeo, unida ao mais alto por purificação, aperfeiçoada por sofrimento, glorificada através de provação. Vim de onde estão os grandes Deuses, através do Poder do sagrado Nome."

As próprias divindades vêem-se obrigadas a obedecer às palavras de poder do mago:

" O vós, todos os deuses e todas as deusas, voltai para mim o vosso rosto! Sou o vosso mestre, filho de vosso mestre! Vinde a mim e acompanhai-me... sou o vosso pai! Sou um companheiro de Osíris, percorri o céu em todos os sentidos, explorei a terra, atravessei o mundo intermediário seguindo os passos dos Iluminados veneráveis, porque detenho inúmeras fórmulas mágicas."

O mago proclama-se eficaz pela sua boca, glorioso pela sua forma. Tendo cavado o horizonte e percorrido o Cosmo em todas as direções, recolheu o ensinamento dos bem-aventurados.

A Fórmula Y H V H

O Ritual Egípcio Rosacruz é o primeiro de uma série de ritos de imersão na egrégora egípcia através da Fórmula Yod He Vav He que são as quarto letras hebraicas "YHVH" que constituem o Tetragramaton ou o Inefável Nome de Deus a que chamamos Jeová. O Tetragrammaton contém uma fórmula complexa relacionada à união cósmica e à manifestação dos elementos. Só depois de a criação se manifestar completamente que o termo IHVH é empregado para designar "Deus" na Bíblia.

Assim temos que o Tetragramaton YHVH sintetiza os quatro elementos metafísicos: Yod=Fogo, He=Água, Vau=Ar e o He final =Terra nessa ordem.

Os mistérios egípcios davam àquele que chegava a dominar os elementos e, portanto, o corpo de Terra, Água, Ar e Fogo, a possibilidade de se tornar um Veículo de Luz, e como dizem os textos egípcios, "de Vagar na barca de Rá rodeado pelos Seres Luminosos". Na terminologia alquímica a Cruz, com hastes de mesmo comprimento, representa os quatro elementos acrescida de um quinto (o Espírito ou Akasha) em seu centro.

Na versão egípcia do Tetragramaton temos:

Yod – Osíris (Fogo): Está ligado ao Espírito Masculino; princípio criador ativo; o Fogo Espiritual. Corresponde ao Lingan de Shiva , ao bastão ou cetro do Tarô, e a Coluna Jakhin do Templo de Salomão. Em alquimia é o enxofre. Na Kabalah é Chokmah.

HE – Isís (Água): A substância passiva; princípio produtor feminino; a Alma Universal; corresponde a Yoni de Shakti, a Taça do Tarô e pela coluna Boaz do Templo de Salomão. Em alquimia é o Mercúrio. Na Kabalah é Binah.

Vau - Hórus (Ar): A união fecunda dos dois princípios; a copulação divina; o eterno devir; representado pelo caduceu e pela Espada do Tarô. Na Kabalah é Tipharet. Hórus o deus com cabeça de falcão, sempre relacionado com a mente, às vezes é chamado de Senhor da Era de Aquário. É um Ser alado e completo, contendo dentro de si o seu pai Osiris (Sol) e sua Mãe Ísis (Lua). Hórus simboliza o Voo do Pensamento Divino, e também o SAG, “Sagrado Anjo Guardião” ou “Eu superior”.

HE – Seth (Terra): O polo fixo, material, o mundo sensível e a criação concreta, os Ouros do Tarô. Seth equivale ao Satã medieval ligado ao enxofre e ao chumbo. No mito egípcio Osíris, um deus associado a vegetação e a umidade (aspectos essenciais a vida), é assassinato por seu irmão Seth (Thífon em grego) que era associado ao calor e a aridez do deserto. Assim Set representa o papel universal da oposição. Em alquimia é o Sal. Na Kabalah é Malkuth.

Yod He Vau He resumido na fórmula YHVH: as potências masculina e feminina unidas num único nome - Yehovah - e que é impronunciável porque não pode ser falada. Esta é a palavra silente, e seus efeitos são manifestados através de vibração. As quatro sílabas da palavra representam o ternário, resumido na unidade.

Os 9 Corpos Da Tradição Egípcia


Para os egípcios, Aufu significa o corpo físico, que também é um recipiente para a experiência de vida completa. Todos os nove corpos espirituais identificados como parte do organismo vivo crescem continuamente no Aufu. As muitas formas de luz e iluminação que compõem o corpo de Rá foram chamadas de Aufu Rá. Todas as coisas que tinham nomes eram seus aspectos divinos; Eles eram "membros do deus", "sua carne", "seu aufu". Aufu Rá é o senhor de Duat, ele e Osíris, neste aspecto eram semelhantes. No livro "O que está em Duat", identifica com a unificação do espírito envolto na matéria.

O Khaibit, muitas vezes chamado de sombra, não era conhecido no sentido Junguiano. Ele operava mais como um instinto ou como um princípio animador que mantem nossa ligação com o plano físico.

Poder do nome e de sua linguagem. Som e vibrações da alma atribuem a um nome, e com a repetição, as palavras ganham poder. O sekhem é a força vital que anima todo o universo. 

Sekhem literalmente significa "os poderes", e pode ser sentida fisicamente como um canal de energia correndo pelo corpo. A energia Sekhem é a força vital que viaja entre deuses e humanos.

Os quatro corpos mais sutis e espirituais engajados na tarefa de elevar a consciência eram o Ab (o coração), o Ka (duplo espírito), o Ba (alma) e o Khu (eu superior ou inteligência divina).

A integração de todos esses estados espirituais superiores resulta na criação do Sahu, ou Corpo de Luz.

Culto Atlante ao Deus Oculto


O Templo de Auset-Ka é uma sub-ordem da Ordem do Lotus Negro (O.L.N) que se dedica aos estudo e prática da Magia Egípcia Isíaca (ou Lunar ) assim como os Mistérios do Sagrado Feminino com base naquilo que chamamos Gnose Afro-Atlante. Neles a deusa egípcia Neith encarna o Arquétipo de Deusa Primordial.

Neith era chamada “a que abre os caminhos”. É a protetora dos deuses e guardiã das almas dos mortos, a quem ela acompanha rumo à morada definitiva.

Neith como a personificação das águas primordiais da criação, deu origem ao deus Amon, o Sol Oculto que projeta de si mesmo Rá, a Força Solar Criativa e a Luz (LVX) do Mundo. Assim Neith cumpre seu papel como “a Grande Mãe Negra” que carrega em seu ventre a faísca luminosa do Espírito (isto é, Amon).  Aqui é importante lembrar que todos os deuses solares, com seu símbolo, o Sol Visível, são os criadores da natureza física, apenas. O mundo espiritual é obra do Deus Superior - o SOL Oculto, Central e Espiritual, Ele é o pai do “Segundo Deus”, o Demiurgo ou Artífice que também se chama Nous, a Sabedoria Divina de Hermes-Thot, ou razão (Logos).

Neith – A Serpente do Caos Aquático

A mística do Culto de Neith no Templo de Auset-Ka afirma que Amon é a semente masculina ou faísca luminosa (L.U.X) que fecunda o ventre de Neith a Serpente Primordial do Abismo Cósmico, permitindo que ela dê Luz a todas as coisas através de Rá, que é o responsável pela criação do mundo e representa o Sol. Neith muitas vezes foi descrita como a "Grande Vaca que deu à luz Rá".

Segundo Blavastsky (1831- 1891) em seu livro, A Doutrina Secreta – Vol. III, Antropogênese, “(...) como o primeiro dilúvio foi de origem cósmica refere-se a criação primordial ou a formação do céu e da terra, que tiveram origem no Caos, e o abismo aquático significa a Lua a mãe de cujo seio procedem todos os germes da vida. Ela é o receptáculo dos princípios masculinos do Sol ou Amon que a vivifica e fecunda. Neith é uma Deusa Andrógina ela é a outra metade do Deus Amon, o Oculto”

Neith é vinculada com o elemento Água, Amon é vinculado com o elemento Ar. O deus Amon é o espírito, que pairava sobre as águas de Neith conforme a Bíblia hebraica ensina:

“No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém, estava vazia e nua; e as trevas cobriam a face do abismo; e o espírito de Deus pairava sobre as águas...”  Gênesis 1:2

As águas primordiais são o inconsciente profundo, já o espírito representa a plena luz da consciência, o mar sendo o símbolo da interação entre esses dois domínios, representando a luz (LUX) que surgiu das trevas (NOX). 

Amon- O Sol Oculto, Central e Espiritual

A luz-incriada original estava contida em Amon, o Sol Oculto que os egípcios identificavam com a estrela Sírius, o Grande Sol Central da Via Láctea, o Sol por detrás do Sol de nosso sistema.  Mas qual é a face verdadeira do Deus Oculto? O deus que se esconde atrás do Sol de nosso sistema? Para tentar responder a essa pergunta temos que contemplar os mistérios esotéricos de Amon, conforme a visão da Ordem do Lotus Negro.

Amon-Rá significa “sol escondido ou oculto”. Ele é o Sol Oculto, o Deus Oculto, invisível, relacionado a Sírius e representado pela fórmula alquímica de Salomão, ou Sol Amom (SOLOMON). Ele é o deus de chifres de carneiro o que nos faz lembrar o Baphomet dos Templários e a Lúcifer-Azazel, o bode expiatório do deserto.

Amon-Rá é Sol que não pode mais ser visto quando desaparece no Oeste, o Sol em Amenti, o Mundo inferior (submundo) dos egípcios. Na Religião Kemética do Egito Antigo, a Estrela Siriús, o Grande Sol Central da Via Láctea, era a morada dos deuses e teria relação com o Logos Galáctico, o verdadeiro Pai ou Deus de nosso Universo. Para entendemos melhor as origens do Culto de Amon, o Deus Oculto, precisamos analisar também o Culto de Neith conforme é ensinado no Templo de Auset-Ka. Este culto é muito mais arcaico que o culto ao Sol e na compreensão de seus iniciados aborda não só os Mistérios da Deusa como Mãe-Terra mas também como Deusa-Lua (Mistérios Lunares) assim como os, mais vastamente antigos, Mistérios Marítimos onde Neith, a Deusa do Abismo Aquático, surge como Mãe de Todos os Deuses.

Ele também foi realizado no continente perdido (Atlantis) onde o culto ao antigo deus marinho, e seu avatar o Touro aquático, remontava a uma antiga forma de adoração onde a Deusa Mãe era representada pelas águas do oceano de onde o Touro emergia trazendo as experiências de nascimento, vida e morte, tudo isso ligado ao Cosmo.

Neste culto as profundezas do oceano primal era o ventre escuro da Deusa, que refletia a imensidão do mar e do espaço negro, onde giram estrelas e galáxias.

Mistérios Marítimos de Atlantis

O culto atlante do mar conectava seus iniciados não apenas ao Logos Solar (o deus de nosso Universo) como além dele, ao Universo cósmico e extra-cósmico. Ao que tudo indica esse culto influenciou outras civilizações marítimas como a dos cretenses onde a Grande Deusa Mãe, Réa, reinou sozinha sem um consorte, como a Grande Mãe Oceano e presidia um grande panteão de divindades. Sem dúvida, ele é muito anterior aos os cultos solares-patriarcais das civilizações mesopotâmicas e egípcias. Entretanto, conforme o esoterismo do lótus negro ensina, ele também inclui o importante papel exercido pelo Deus como esposo e filho da Deusa.

Nos Mistérios Marítimos de Atlantis a Mãe Negra é o Abismo Aquático, o Útero Escuro de onde o Deus surge em sua forma zoomórfica como um Touro, um símbolo que representa o deus fertilizador da terra e que é associado simbolicamente ao Sol, devido a sua atividade e a Lua devido a sua fecundidade.

Acredita-se que o culto do Touro Aquático pertence a primeira fase da civilização atlante.  Em sua segunda fase o Touro era uma animal lunar e em sua terceira e última fase o Touro passou a incluir também os Mistérios Solares.  Em todos suas fases o Deus era adorado em sua forma primitiva como animal ou besta (therion) e como portador da Luz (LVX) original que deu origem a toda vida na Terra. 

O culto do Touro Sagrado faz parte de rituais de fertilidade das religiões indo- mediterrâneas, devido à sua fecundidade infatigável e anárquica de Urano. O deus védico Indra também surge na forma de um Touro e os deuses que ele corresponde no Irã e no Oriente Próximo são, ainda, comparados aos carneiros e aos bodes.

Os antigos egípcios também consideravam o Touro como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal. Ele encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do touro Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal era venerado desde tempos remotos.

Na civilização cretense, o touro era o símbolo supremo. Ele era representado em murais e esculturas em diversos palácios, principalmente em Cnosos. O culto ao Touro deu origem a figura do Minotauro,  ou “Touro de Minos”, uma criatura com corpo de homem, cabeça e cauda de touro.  

Assim não só no antigo Egito onde o Touro Ápis encarnava ao mesmo tempo os deuses Osíris e Ptah, como também no Irã (Culto de Mitra) e entre os antigos cananeus onde o touro representeou o elevado Deus El, e finalmente nas distantes planícies da Ásia Central. Em todos esses lugares encontramos vestígios do Culto do Touro, um animal consagrado a Poseidon, deus dos oceanos e das tempestades e que nos faz lembrar os Mistérios Atlantes onde o Culto do Touro, ou Bode D’água, que fertiliza a Terra, estava ligado também ao da Deusa Mãe.

Neste ponto podemos notar que os Mistérios da Grande Mãe dizem respeito também aos primitivos mistérios do Deus. Entretanto para nós do Templo de Auset-Ka os Mistérios do Deus não se resumem apenas aos cultos patriarcais-fálicos de origem Solar pois estes são posteriores e dependentes dos Cultos Lunares e aos Cultos Marítimos da Deusa. Estes últimos possivelmente faziam parte de um conhecimento esotérico transmitido aos egípcios pré-dinásticos pelos sobreviventes da pura raça vermelha, isto é, dos atlantes.