domingo, 3 de dezembro de 2017

O Templo do Dragão Negro


"Assim Lúcifer - o espírito da Iluminação Intelectual e da Liberdade do Pensamento - é metaforicamente o farol guia que ajuda o homem a encontrar seu caminho através das rochas e bancos de areia da Vida, já que Lúcifer é o Logos em sua plenitude." Helena Blavatsky, HP - A Doutrina Secreta, v. II, p. 162

O Templo do Dragão Negro é uma sub-ordem da Sociedade do Lótus Negro que trabalha com um ramo de Bruxaria Cerimonial. Nesse artigo parte de sua filosofia luciferiana é esclarecida.

Em seu sentido etimológico a palavra Lúcifer significa porta-luz ou portador da luz. No universo físico, os livros sacros identificam Lúcifer como Vênus, a Estrela Matutina, o prenúncio do Sol. No mundo metafísico Lúcifer é a inteligência, como precursora do Logos ou seja:  a Luz, o Verbo: “No princípio era o Verbo...” ( a Luz, o Logos).

Para além dos simbolismos podemos entender que Lúcifer representa a vida, pensamento, progresso, liberdade, independência. Lúcifer é o Logos, a Serpente da Gnose, o Salvador dentro do Homem.  Ele ensina a humanidade adormecida os meios hábeis necessários para imortalizar o Self tornando o iniciado humano muito mais que humano ao avançar espiritualmente para o estado de Auto-deificação, transformando-se em um Asar-Un-Nepher (“Eu mesmo feito Perfeito"). 

Lúcifer é o Primogênito da criação, o Portador da Luz Divina que desce a Terra como uma energia solar fálica. Lúcifer antes da queda era “ o Anjo da Coroa”  (ou seja:  Kether, a primeira Sephira da Árvore da Vida).  Parece que esse simbolismo explica a lenda da Pedra do Santo Graal que teria sido talhada pelos anjos numa esmeralda caída da fronte de Lúcifer quando de sua queda.

Lúcifer teria nascido na Aurora da Criação ou Maha-Manvantara, como uma estrela brilhante que surge do Caos Primal, ele é, portanto, o  filho primogênito de Apep, a serpente primordial do Caos.

Nós também acreditamos que Satã é a oitava inferior de Lúcifer, sua sombra terrestre, sendo o verdadeiro regente deste mundo, e realmente um Rei deste mundo. Por sua vez Lúcifer é, ao mesmo tempo, a Luz Divina e Terrestre, o Espírito Santo, o Dragão Vermelho, o Portador da Luz que está em nós.

Como primogênito da Criação, Lúcifer é o Logos Spermátikos, isto é a energia criativa, a face dracônica da Kundalini , ou o “poder ígneo” que dá vida a todas as coisas e tudo produz. Lúcifer nunca caiu, ele desceu aos planos inferiores da criação e deu origem à lenda dos Guardiões ou Nephilim, os anjos caídos do pseudo-epigráfico livro de Enoch.

A Mãe Dragão e Lúcifer

Em todas as Cosmogonias antigas a Luz vem da Obscuridade. No Egito, como em todas as nações, a escuridão foi o Princípio de todas as coisas. Daí que o Pensamento Divino saia como a Luz das Trevas. O próprio cosmos nasce da escuridão do caos; as estrelas nascem da escuridão infinita do espaço cósmico e os seres humanos nascem da escuridão do útero de suas mães, e retornam um dia para as trevas de seus túmulos.

Na Alquimia o Negrume ou Nigredo é um estado inicial, sempre presente no início como uma qualidade da Matéria Prima, do Caos ou da Massa Confusa. O conjunto da realidade, incluindo a Humanidade, é criada a partir dessa Matéria Prima não-física (a primeira matéria), o elemento mágico universal, que assume a forma dos elementos terra, fogo, ar e água. Como poeticamente expresso numa antiga oração rosacruz: “Que os esplendores hostis e multicores, pela Luz branca – síntese pacífica das cores – sejam restituídos à homogeneidade daquelas trevas materiais e sagradas, das quais se irradia a Luz Original.”

Sendo o Caos o princípio de todas as coisas, e o inicio da criação do Universo ao qual conhecemos, ele se assemelha à Apep, a serpente primordial do Caos. Do Caos primordial ou Matéria Escura surge o "Fiat Lux"  ou olho dentro do Triângulo, o "Olho que tudo Vé", um símbolo da onisciência divina e cujo simbolismo provém do antigo Egito, onde o Olho do deus Hórus ou "Udyat" significava proteção e poder. Muito antes de Jesus dos cristãos; Hórus o Deus Sol do Egito recebeu o título de "Filho de Deus", a luz do mundo, o salvador da humanidade. Por volta de 3.000 a.C Hórus já era visto como uma espécie de messias solar. ele tinha um "inimigo" chamado Seth, que era a personificação das trevas ou da noite. Sendo Hórus representado pelo Sol todas as manhãs Hórus lutava e ganhava a batalha contra Seth, enquanto que no fim da tarde, Seth conquistava Hórus e o enviava para o mundo das Trevas (ou ventre Escuro da Deusa). Essa dualidade mitológica  "Trevas versus Luz" perdurou por toda a história do Egito antigo e nunca foi motivo de dicotomia moral do tipo "Bem versus Mal" como hoje é entendido pelas Religiões Abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo).  Podemos dizer que o simbolismo de Lúcifer incorpora os dois conceitos de Luz e Trevas e mesmo os transcende em prol de uma Percepção Unificada . 

Assim é do ventre escuro da Mãe Negra (Apep, Tiamat, Hékate etc.) que surge Lúcifer – o que traz a luz. Por isso que na Cosmogênese de Blavatsky está escrito:

“(…) O primeiro Arcanjo, que emergiu das profundezas do Caos, foi chamado Lux (Lúcifer), o Filho Luminoso da Manhã (…) A Igreja o transformou em (…) Satã, porque era mais antigo e de mais elevada categoria que Jehovah…”

 Os Portais Amentinos de Leviatã 

Para os cabalistas os demônios habitam o lado reverso da Árvore da Vida. Essa Árvore “negativa”, “sombria” que está atrás da Árvore exterior manifesta, denomina-se mundo dos Qliphoth – o lado caótico, desequilibrado do Universo. Acreditamos que a origem espiritual das “forças qliphóticas” associadas ao panteão daemônico como Lilith, Azazel, Shaitan, Asmodeus etc. retrocedem à gênese do Universo de onde surgem os deuses primordiais, nascidos do Abismo ou Caos Primal e do primeiro ponto (Kether). Eles são considerados por todas as cosmogonias como “terrivelmente divinos”, pois absorvem o Universo projetado por eles mesmos no final de um ciclo cósmico.  São conhecidos como Reis de Edon, Titãns, Assuras, Jotuns etc. conforme a terminologia.

A mitologia de todos os povos afirma que os deuses da Luz procedem dos deuses das Trevas. Também encontramos arquetípos ligados ao panteão daemônico (ou demoníaco) na mitologia da Mãe Terrível, que incorporava os aspectos do mundo inferior, do tártaro, do Caos da Noite do Tempo e que, originalmente, se manifestava sempre como escuridão e mistérios sombrios. Ela é a decrépita, velha ou avó, em resumo, é a primeira Mãe que os Tantras Hindus conhecem como Deusa Kali. 

Na antiga mitologia mesopotâmica a Mãe Negra Universal é Tiamat, o  Dragão Fêmea do Caos original. No Egito pré-dinástico ela é Ta-Urt, uma forma primitiva da deusa céu Nuit. Em sua forma de Nuit ela é a Mãe Cósmica, a Deusa que precede todas as outras formas de Deidade, e que ao anoitecer engolia o deus-sol Rá, a Luz da Manifestação, no oeste e o expelia de seu ventre escuro na manhã seguinte, a leste. Nela estão ocultos os esplendores radiantes de Rá que é o Sol nascente, o seu filho como Logos (ou Hórus) – o Verbo Criador e senhor dos Deuses Excelsos e de seus emissários os Anjos Planetários, os Sete Poderosos Espíritos ante o Trono. 

A deusa egípcia Nuit personifica o Vazio Negro Estelar, o Útero Primal ou Campo Unificado que deu origem as 11 dimensões celestes.  Ela é representada como uma mulher com jarro de água na cabeça, símbolo do que é maternal, fecundo e redentor, Entretanto, Ela também  é a “porca que devora seus porquinhos”, ou seja, absorve todos os corpos e néteres (deidades) em seu próprio ser. A Grande Deusa em sua face terrível é NOX – a escuridão da Noite Cósmica que, como símbolo do inconsciente, absorve em seu útero escuro a luz (LUX) da manifestação universal ou a consciência-ego do iniciado. Aliás, mesmo no Universo, a matéria negra é cinco vezes mais abundante que a matéria estelar comum.

O Logos Cresthos-Lúcifer  

Esse particular Ser Angélico conhecido como Logos, cujo veículo físico é o Sol, está entronizado no centro de nosso universo local. “Ali por todo o Manvântara, Ele está voluntariamente auto-sacrificado, não em agonia e morte e derramando suor e sangue, mas em êxtase criativo e vertendo perpetuamente força e vida” (Geoffrey Hodson). No esoterismo dos Mistérios Angélicos a crucificação do Cristo Cósmico (não confundir com o Cristo Jesus histórico) representa o Logos Solar descendo a matéria regida pelos quatro elementos.

A encarnação de um Logos Solar, ou do Cristo Cósmico, é tida como o mais alto sacrifício. Ele era conhecida como Chrestus-Lúcifer entre algumas seitas de gnósticos que conheciam a verdadeira relação de Cristo com o Sol. Os Logoi Solares, seres cujos envoltórios são sóis, foram representados em todas as religiões antigas como uma força crística redentora (avatares) da humanidade.

Aliás (para quem não sabe) a palavra grega Chrestos existia muito antes de se ouvir falar em Cristandade. Foi usada desde o século quinto A.C por Heródoto, Esquilo e outros. Nos dias de Homero o nome Chrêstos era usado como título durante a celebração dos Mistérios. Christos ou Chrestos era um título que os antigos pagãos davam aos verdadeiros Adeptos e Iniciados nos Mistérios. Os grandes Magos que atingiram a autoconsciência logóica após muito trabalho e provas, e eram considerados como "heróis" como muitos deuses e semideuses da mitologia universal. Os iniciados podiam também serem chamados de Ophis-Christos, a "Serpente Ungida", ou seja: o Dragão-Serpente do Conhecimento (gnosis).