sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - A Virgem Negra e o Sangue Sagrado

Em 1982, Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln publicaram o mega-bestseller Sangue Sagrado, Cálice Sagrado e, dezenove anos mais tarde, ele continua sendo publicado. O livro saiu após uma série de documentários televisivos para a BBC2 apresentados por Lincoln e palestras dadas em Londres pelos três autores. Os filmes e palestras investigavam o mistério acerca do pastor de uma paróquia em uma pequena vila francesa em Rennes-le-Chateau, no século XIX. Esse mistério girava em tomo de sua alegada descoberta de um tesouro escondido e seus extensos contatos com sociedades secretas, ocultistas e nobres europeus.

O tema principal do livro era que o Santo Graal era uma referência codificada para o sang rael ou sangue real dos descendentes europeus de Jesus e Maria Madalena. Esses descendentes aparentemente encontraram a dinastia merovíngia da França medieval. Desde 1982, outros autores tentaram traçar essa linhagem de sangue por meio das lendas Arthurianas, a casa real francesa, os Tudors, os Stuarts e os Habsburgos. Esse conceito da linhagem de sangue de Maria Madalena foi amplamente baseado em documentos fornecidos pela sociedade secreta francesa chamada Priorado de Sião. Esse grupo tinha documentado uma genealogia histórica impressionante ligada aos Templários, aos rosa-cruzes e aos maçons. Politicamente, o Priorado apoiava os Estados Unidos da Europa governados por uma monarquia pan-européia.

Recentemente foi alegado por Robert Richardson, em um artigo no jornal americano esotérico Gnosis #51 (primavera de 1999), que essa “falsa historia se originou em documentos fraudulentos criados por uma seita de extrema-direita francesa”. Richardson alega que o Priorado era urna farsa elaborada, e o grupo só foi criado nos anos de 1950. Foi a criação de um francés chamado Pierre de Plantard, que tinha anteriormente fundado uma sociedade secreta anti-semita e, estranhamente, antimaçônica na França de Vichy em guerra. O Priorado, segundo Richardson, só foi fundado em 1956, quando Plantard começou a circular documentos falsos sobre Rennes-le-Chateau e seu famoso tesouro. Entretanto, dizem que ele obteve o material dos arquivos de sociedades secretas e ordens mágicas que foram apreendidos pela polícia secreta de Vichy durante a guerra.

Se existe alguma verdade no que foi mencionado há pouco, a idéia de um casamento entre Jesus e Maria Madalena e sua linhagem de sangue descendendo da nobreza européia não foi uma completa invenção de Plantard. Esse conceito de um reino divino e uma linhagem de sangue sagrada é um ensinamento esotérico antigo. Em anos mais contemporâneos, antes da Segunda Guerra Mundial, iniciados ocultos como Julius Evola na Itália e o dr. Walter Stein na Alemanha escreviam sobre tais assuntos, ainda que com pontos de vista políticos diferentes. Em um livro publicado no começo de 1928, o dr. Stein escreveu sobre a linhagem de sangue do Graal que envolvia tanto os Templários quanto a casa real francesa. Os membros dessa antiga família estavam, segundo ele, com espíritos antigos altamente evoluídos que possuíam poderes psíquicos que os diferenciavam das demais pessoas. E interessante que o rei Luís da França (1461-83) tenha insistido que sua família descendia de Maria Madalena.

Maria Madalena é um dos personagens mais fascinantes, ainda que enigmáticos, mencionados no Novo Testamento. Nos Evangelhos, ela também é conhecida como Maria de Betânia, o lugar onde os discípulos dizem ter visto Jesus subir aos céus. Ela é (mal) representada pela Igreja como uma prostituta e adúltera. Em João 11:2, ela é descrita como a irmã de Lázaro, a quem Jesus ressuscitou. No secreto Evangelho de Marcos, esse evento é visto como uma iniciação nos Mistérios Cristãos, apresentando uma morte simbólica e um renascimento. Os Evangelhos ortodoxos de Mateus e Marcos descrevem como Jesus visitou Betânia e a casa de um leproso chamado Simão. Enquanto estava sentado à mesa na casa, uma mulher ungiu sua cabeça e pés com um perfume caro. De fato, ela usou um ungüento feito de nardo guardado em um jarro de alabastro. Essa mulher com o jarro de alabastro foi identificada como Madalena. De acordo com o proibido Primeiro Evangelho da Infância de Jesus Cristo, esse jarro foi dado por uma velha senhora que tinha sido a parteira da Virgem Maria (Jesus Cristo 2:2-5). Pelo seu ato simbólico, Maria reconhecia Cristo como o Christos, o ungido, ou messias que salvaria os judeus do Império Romano. Ele era o rei sagrado que deveria morrer como bode expiatório pelos pecados de seu povo. Até mesmo Jesus reconhecia esse fato, quando exclamou a todos os presentes que a mulher o tinha preparado para o enterro com suas ações.

Nardo era um perfume caro extraído da uma planta originária da índia. Por conta de seu custo, apenas era usado por mulheres ricas e isso traz alguma luz sobre o status social de quem o possui. Seu custo era notado por murmúrios de desaprovação entre outros presentes, incluindo Judas. Ele se referiu a seu uso para ungir Jesus como um desperdício de dinheiro. Outros presentes, entretanto, viram além das considerações puramente materiais e entenderam perfeitamente o significado e a importância do ritual que haviam presenciado. De fato, era costume judaico o parceiro sobrevivente ungir o cadáver de seu marido ou esposa antes do enterro. Maria não estava apenas ungindo o rei sagrado para prepará-lo para o ritual da morte, como a sacerdotisa da Deusa, mas ela também estava indicando para todos os presentes que era a esposa do ungido.

Na antiga Canção das Canções, creditada a Salomão e escrita pela rainha de Sabá, o nardo é mencionado como a fragrancia usada no banquete do rei. Isso se refere ao casamento sagrado entre Salomão e Sabá como o rei-sacerdote/deus e a sacerdotisa/deusa. No século XII, São Bernardo de Clairveax identificou nessa canção a irmã de Lázaro, Maria de Betânia, que era Maria Madalena. São Bernardo era um grande partidário dos Tem- plários e um devoto da Madonna Negra, que foi identificada como Madalena. Quando ela deu autonomia aos Templários, eles juraram obediência a Betânia, o castelo de Maria e Marta, não para a Virgem Maria.

Quem era Maria Madalena? Uma grande pista é fornecida pelo seu segundo nome ou título. É traduzido como “observadora” ou “torre do rebanho”. O uso comum se refere a um lugar alto, usado pelos pastores para observar seus rebanhos. Em termos esotéricos, refere-se aos reis pastores da linhagem de sangue mística dos angelicais Vigias que, literalmente, observavam a humanidade. Isso também tem ligações simbólicas óbvias com a Torre de Babel, a Torre Atingida pelo Raio no taró, os quatro Vigias no círculo mágico, o Castelo das Rosas na bruxaria tradicional e as torres dos contos de fadas, em que princesas são aprisionadas por madrastas perversas ou duendes. No plano físico, Maria e sua família possuíam sete castelos na vila de Betânia e outros terrenos nos arredores de Jerusalém. A própria Maria viveu em um castelo ou torre na costa do Mar de Galiléia, onde Jesus fez muitas de suas pregações. O profeta hebreu Miquéias também usava o termo observador dos rebanhos como alusão à futura restauração de Jerusalém como uma cidade sagrada da filha de Sião.

Dizem que Maria Madalena veio da tribo de Benjamim e era uma princesa de sangue real. Todos os rabinos judaicos tinham de se casar e é lógico que Jesus, como descendente da casa real do rei Davi, deveria conceber um herdeiro para perpetuar a linhagem de sangue. Também é lógico que tal casamento deveria acontecer com alguém de origem real. Foi insinuado que a profecia de Miquéias não se refere de forma alguma a Jemsalém, e sim ao exílio forçado da princesa real depois da execução de seu marido. No século IX, o arcebispo de Mayence escreveu A Vida de Maria Madalena, no qual alega que a mãe dela, Euchania, tinha ligações com a casa real dos Macabeus de Israel.

Escritos do século XIII do arcebispo de Gênova, James de Vorágine, afirmam abertamente que Maria havia sido uma nobre rica com genealogia real. O arcebispo alegou que o pai dela tinha sido um aristocrata sírio. O nome da mãe de Maria, Euchania, também era um dos nomes da versão grega de Vênus-Affodite. Alguns escritores modernos têm visto alguma verdade na difamação da Igreja de que Maria era uma prostituta. Eles a ligaram com as chamadas prostitutas do templo que serviram às deusas do Oriente Médio, tais como as mulheres que choraram por Tamuz do lado de fora do templo em Jerusalém.

O papel de Maria Madalena na crucificação e suas conseqüências são um tanto quanto incomuns. Em três dos Evangelhos ortodoxos de Mateus, Marcos e João, ela é apresentada ao pé da cruz com outros membros da família de Jesus. Todos os quatro Evangelhos dizem que ela sozinha ou com outros membros da família foi para a sua tumba no terceiro dia. A história inventada foi que ela visitou a tumba para preparar o corpo dele para a embalsamação. Essa era tradicionalmente a tarefa da esposa do falecido. O Evangelho de João diz que ela foi para a tumba sozinha e a encontrou vazia. Ela é, de forma significativa, a primeira pessoa a encontrar o Cristo Ressuscitado, mas não reconhece o seu Mestre, acreditando a princípio que se tratava de um jardineiro. Esse é um episódio curioso que simbolicamente liga Jesus aos primeiros jardineiros Adão e Caim. Enquanto Adão e Eva eram expulsos de seu jardim paradisíaco e Lúcifer era expulso do paraíso celestial, Jesus simbolicamente caminha no jardim. Jesus é relacionado com Caim, o Viajante, porque, com o seu ato supremo de auto-sacrificio, o Cristo toma redundantes as oferendas de sangue feitas pelos judeus e pagãos.

Maria é responsável então por levar as boas novas ou o evangelho do renascimento de Jesus para os outros discípulos. Isso mostra o papel importante dela no grupo, algo que é enfatizado quando alguns dos discípulos se recusam a acreditar no relato dela. Quando Jesus estava vivo, ela tinha reclamado com ele sobre a atitude machista de alguns dos discípulos. Incluindo Pedro, que iria trair seu Mestre três vezes antes do amanhecer. É evidente que Jesus tinha um círculo intemo de discípulos para os quais ensinava os mistérios do reino de Deus. Em Marcos 4:11, ele afirma abertamente: “A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos defora tudo se lhes diz por parábolas Esse método de ensino fechado e aberto é comum nas antigas escolas de mistérios e entre professores espirituais em todas as culturas.

Nos evangelhos Gnósticos, encontrados emNag Hammadi,* no Egito, em 1945, há várias referências a Maria Madalena. De fato, um dos textos, o Evangelho de Maria, era dedicado a ela. Ele alega que foi escolhida por Jesus como sua representante entre os discípulos. É por esse motivo que o evangelho diz que Pedro a temia e odiava, pois ele acreditava que iria suceder Jesus. No Evangelho Gnóstico de Felipe, há uma descrição de Jesus beijando uma discípula, identificada como Maria, porque ele a amava mais que a todos os outros discípulos. No mesmo evangelho, ela é descrita como sua companheira e no original grego isso significava uma parceira ou uma amante. Ela também foi descrita como uma iluminatriz e iluminadora chamada Maria Lucífera, a portadora da luz, a doadora da iluminação por meio da união sexual sagrada. (Picknett ePrince, 1997:259)

No confuso período imediatamente posterior à crucificação, a Igreja nazarena em Jerusalém, liderada por um dos irmãos de Jesus, Tiago, o Justo, enredou-se em conflito com grupos cristãos rivais e o sacerdócio judaico. Alguns dos gmpos rivais, incluindo a facção criada por Paulo, queriam divulgar os evangelhos para os pagãos. Os seguidores de Tiago, entretanto, continuavam seguindo costumes judaicos. Realmente, a insistência de Tiago de que ele era um rabino judeu legítimo eventualmente o levou a ser apedrejado até a morte por blasfêmia. Um dos primeiros convertidos cristãos, José de Arimatéia, que havia persuadido seu amigo Pôncio Pilatos a ceder o corpo de Jesus para ser sepultado em sua tumba particular, foi preso quando suas crenças se tomaram conhecidas. Após sua soltura, ou fuga, dizem que José percorreu o país com Maria Madalena, a irmã dela Marta e o irmão Lázaro. De acordo com o chamado Documento Montgomery, que pertence a uma antiga família escocesa, Maria, descrita como esposa de Jesus, também foi presa pelos romanos. Eles a soltaram, aparentemente, porque ela estava em avançado estado de gravidez. No documento, Maria é chamada de sacerdotisa de um culto de mulheres. Podem ter sido os nazarenos, mas sugere algum tipo de grupo ou religião pagã.

A princípio, como a Família Sagrada antes deles, José, Maria e os parentes dela fugiram em busca de abrigo no Egito. Em seguida, velejaram para o sudoeste da França onde aparentemente Maria, Marta e Lázaro decidiram ficar. José seguiu viagem até a Grã-Bretanha, onde ele tinha contatos desde os dias em que era um comerciante de estanho e mercador de metais. Existe a famosa lenda de West Country que diz que José trouxe seu sobrinho Jesus para a Grã-Bretanha como um jovem a ser iniciado nos mistérios druidas. Também se diz que a avó materna de Jesus, Santa Ana, era na verdade uma princesa de uma tribo Silure no sul do País de Gales. Quando José chegou na Grã-Bretanha, dizem que ele trazia consigo o Santo Graal e que foi posteriormente enterrado em GlastonburyTor.

Maria chegou ao pequeno vilarejo francês de Les Saintes Maries de la Mer (Santa Maria dos Mares), na área de Carmargue. 

Quando Maria chegou, dizem que ela estava acompanhada por uma jovem criada chamada Sara ou Sarah. Em hebraico, esse nome significa “princesa” e hoje os ciganos continuam celebrando o festival em que a chamam de “a Rainha Negra”. Uma imagem da Madonna Negra é carregada pelas mas e acredita-se que ela representa Santa Sara ou Madalena. Quando a Igreja romana celebra o dia de Santa Maria Madalena, é feita uma leitura da Canção das Canções, referindo-se à noiva em busca do seu noivo, de quem foi separada (como ísis de Osíris). Aparentemente, Sara era a filha de Jesus e Maria.


Alguns relatos dizem que eles também tiveram uma segunda criança, um menino chamado Tiago, que tinha 2,5 anos na época da crucificação. Seu tio paterno, Judas Tomé, o São Tomé dos evangelhos, tomou-se seu guardião após Maria ser forçada a se exilar no deserto egípcio. Judas Tomé levou seu sobrinho até Compostela, na Espanha, que mais tarde se tomou um local de peregrinação famoso dedicado ao apóstolo São Tiago. O interessante é que esse São Tiago de Santiago de Compostela era o santo protetor dos físicos e alquimistas. E por isso que no século XV o alquimista Nicholas Flamel fez uma peregrinação especial até o túmulo dele.

Uma antiga tradição cristã diz que São Tiago derrotou Hermes Trismegisto e roubou todo o seu conhecimento secreto. Na tradição esotérica, dizia-se que a rota para Santiago representava a Via Láctea, e o peregrino ou viajante que a seguia representava o viajante divino Hermes- Mercúrio. De fato, alguns dos peregrinos que para lá viajaram na Idade Média não o fizeram por devoção cristã, mas por causa da iluminação hermética oferecida pelos ocultistas judaicos e árabes na Espanha Moura. Simbolicamente, eles estavam procurando possuir a estrela do latino compás, ou posse, e stella ou estrela. (Roob, 1997: 700-707)

Maria Madalena eventualmente se mudou para Marselha e em seguida para Aix-on-Provence. Ali, ela evangelizou por muitos anos antes de se tomar uma eremita em uma caverna, anteriormente associada à adoração pagã de Diana-Lucíferas, onde ela faleceu. No final do século XIII, o conde de Provence, Charles II, alegou ter descoberto o corpo dela na cripta de St. Máxime la Baume. Um crânio envolto em uma máscara dourada que supostamente pertenceu a Maria continua sendo carregado pelas mas no dia do seu festival. A caverna na qual ela morreu se tomou um lugar de peregrinação para o gremio maçônico medieval conhecido como Crianças de Salomão. Hoje os seus sosias modernos, a Companhia da Volta da França, continuam realizando essa peregrinação como parte de sua iniciação.

Na Idade Média, os heréticos Cátaros também conheciam Maria Madalena como esposa de Jesus. Foi dito que esse é um dos motivos pelos quais a Inquisição os perseguiu até a sua extinção. Maria foi uma das santas especiais dos Cátaros, e eles sempre comemoraram o seu dia em 22 de julho. Provavelmente não foi coincidência que os cruzados cristãos tenham escolhido assassinar 20 mil habitantes da cidade francesa de Beziers naquele dia em 1209.0 crime deles foi abrigar heréticos Cátaros dos grupos de busca cruzados.

Mesmo que o Priorado de Sião seja uma farsa moderna e que a lenda de uma linhagem de sangue física de Jesus tendo sobrevivido na Idade Média seja demais para ser considerada, ainda ficamos com os traços de uma herança espiritual poderosa. O conceito do sangue sagrado, o mito antigo do rei divino casado com uma deusa da terra e a encarnação recorrente do Senhor da Luz na Terra, é um tema mítico que não pode ser facilmente descartado ou ignorado.


Luciferianismo - A Lança O Caldeirão e a Pedra


Uma quantidade considerável de simbolismo Luciferiano pode ser encontrada nos mitos do Graal e suas origens pré-cristãs. A idéia de que o Graal foi esculpido da coroa de esmeraldas de Lúcifer foi propagada em um romance do Graal escrito em 1205 pelo trovador alemão Wolfram von Eschenbach. Há duas maneiras de entender esse romance do Graal medieval; como um conto de fadas romântico, sonhado por um mestre contador de histórias para entreter as massas, ou um trabalho de literatura mágica escrito por um iniciado para ligar o misticismo do Oriente Médio com a tradição esotérica ocidental. No que diz respeito a esse trabalho, a segunda explicação parece ser a mais provável. A história de Wolfram é parte de um processo de conhecido oculto sendo trazido do leste por cruzados e outros até a Europa. O seu objetivo era reunir os mitos do Graal do Oeste cristão com suas origens do leste.

Aversão de Wolfram do mito do Graal é creditada a um astrólogo judaico chamado Flegetanis, que viveu em Toledo, na Espanha, um centro da Cabala e ocultismo mágico na época. Era uma cidade multi-étnica para o misticismo árabe-mouro e judaico e ostentou uma escola de treinamento para magos. 

Flegetanis foi descrito como um adorador bárbaro e tolo pelo lado do pai. A expressão posterior sugere uma ligação com os antigos israelitas e pode se referir à adoração do deus touro Baal. Flegetanis alegou descendência de Salomão e, se isso era verdade, então ele era da linha real de sangue do rei Davi. Ele passou seu conhecimento do Graal para um trovador francês chamado Koyt de Provença. Ele tinha vivido em Jerusalém e era um parceiro conhecido de Heréticos, Gnósticos e Assassinos.

De acordo com Baigent, Leigh e Lincoln (1982), Kuyot era na verdade Guiot de Provins, um monge que escreveu canções de amor, criticou a Igreja e compôs poemas exaltando as virtudes dos Templários. De Provins também tinha estudado a Cabala em Toledo, e foi lá que conheceu Flegetanis. Em 1184, De Provins encontrou Wolfram von Eschenbach na corte do rei Frederick Barbarrosa, o governante do Sagrado Império Romano. Os dois se tomaram amigos, e o francês passou adiante o que Flegentis tinha contado a ele sobre a fonte Luciferiana do Graal. Essa história dizia que, quando a pedra verde caiu na Terra, foi guardada por anjos banidos por Deus do Céu, quando eles se recusaram a apoiá-lo contra a rebelião de Lúcifer. Outra versão diz que eles perderam suas asas e encarnaram como humanos para serem guardiões do objeto secreto.

Algumas fontes ligam a Pedra Esmeralda com a Pedra Filosofal dos alquimistas e com o kaba ou pedra negra sagrada venerada por milhares de muçulmanos em Meca, que supostamente é de origem meteórica. Essa pedra foi supostamente dada a Abraão de Ur pelo anjo lunar Gabriel. Entretanto, a pedra é popularmente chamada de Velha Mulher e, em tempos pré-islâmicos, Meca era um local de adoração de uma deusa da lua árabe, a deusa síria Cybele e a deusa romana Vênus. Originalmente, diz-se que a pedra em Meca era branca, mas, com o passar dos séculos, ela absorveu os pecados da humanidade e se tomou negra.

Isso a conecta com a Pedra do Destino de Tara, na Irlanda, que se tomou a Pedra de Scone usada para coroar os reis escoceses. Ela tinha a reputação de ter sido o travesseiro de pedras (pilar?) de Jacó. Embora a Pedra de Scone fosse branca na cor, é conhecida entre os iniciados modernos da Ordem dos Templários Escoceses como a Pedra Negra. A Pedra do Destino supostamente foi trazida para a antiga Irlanda pelo Tuatha de Danaan ou Povo da [deusa] Dana. O líder deles era Lugh, o deus da luz que derrotou o gigante Balor, chefe da raça demoníaca dos Formorianos que vieram das profundezas do oceano. Bator tinha apenas um olho e, quando o abría, ratos de energia destruidora surgiam. Lugh o matou atirando uma pedra com uma funda em seus olhos. Isso soa como um mito solar do tipo associado a Seth e Hórus, Apoio e Typhon e Baldur e Loki.

No romance de Wolfram, o personagem central ou herói é Parsifal, ou Percival, que é representado como um jovem inocente ou tolo sagrado. Isso é sutil, pois, no Sufismo e no taró, o Tolo não é o que parece. No tarô, sua máscara de palhaço esconde o rosto de alguém iluminado que, em termos cabalísticos, atravessou o Abismo e se tomou o Mago. Na arte Luciferiana, o Tolo ou Trapaceiro é um aspecto do Deus encamado na Terra em seu papel como guia e mestre. Na história, Percival é chamado para o castelo de Graal peto rei Pescador, ou rei Graal, que está morrendo. No castelo, ele vê um pajem carregando uma lança ensangrentada, a Lança do Destino, pelo corredor principal. Ele passa pelo rol dos cavaleiros do Graal vestindo túnicas brancas ornadas com a cruz vermelha de braços iguais dos Templários. Atrás do pajem vem a rainha do Graal carregando uma pedra verde sobre uma almofada de seda verde.

Percival entende que este é o Graal, e a família que vive no castelo é a família escolhida por ele e os guardiões hereditários. Em troca de seus serviços pelo Graal, eles vivem em um banquete suntuoso, com a melhor comida e bebida, miraculosamente fornecida todos os dias pelo recipiente sagrado. O adotado Percival desconhece que o rei e a rainha do Graal são seus tios. Isso o associa com Lancelote do Lago, o genioso cavaleiro bretão criado pela elfa Dama do Lago nas ordens de Merlin. Gardner (1996) associou a Dama do Lago a Maria Madalena. Lancelote tem um papel como Judas nas lendas Arthurianas, como o destruidor da Irmandade da Távola Redonda, mas ele também se casou com a filha do rei do Graal. O filho deles, Galahad, era o único cavaleiro da Távola Redonda que conseguiu ver totalmente o Santo Graal.

A Lança Ensangrentada é a arma que perfura as coxas (órgãos sexuais) do rei Pescador e o toma tanto sexualmente quanto espiritualmente impotente. Aterra também perde sua fertilidade se tomando a Terra Desolada, e o seu povo começa a morrer de doenças e inanição. De fato, o rei Pescador é o Deus Manco, Deus Agonizante ou Rei Divino da mitologia do Oriente Médio que é sacrificado para que seu sangue possa fertilizar a terra infértil. Ele morre em um ritual de morte, desce ao mundo inferior e renasce. Apenas o Graal, como um símbolo da Grande Deusa, pode curar sua ferida e restaurar a Terra Desolada em um paraíso na Terra. Nos mitos celtas-arthurianos, a Arma Sobrenatural é associada à lança do deus celta da luz Lugh ou Llew (cujo nome em galês também significa leão). Como vimos, nos mistérios esotéricos cristãos, é a lança forjada por Tubalcaim e usada por Longuinho para despachar Jesus na cruz. Nos mitos nórdicos, é um dardo ou flecha feita por Loki para matar o deus da luzBaldur.

A esmeralda Luciferiana pertenceu a Salomão antes de ser entalhada no copo usado na Ultima Ceia. É interessante que o rei hebreu também possuísse uma mesa circular supostamente esculpida de uma única esmeralda. Depois da queda de Jerusalém para os Romanos e a destruição do templo de Herodes, essa mesa foi levada para Roma. Quando em resposta a cidade imperial foi saqueada pelos Visigodos, a Mesa Esmeralda acabou em Toledo, Espanha. Quando os Mouros invadiram o país no século VIII, procuraram por todas as partes por esse objeto que, em comum com o Graal, podería curar os enfermos e alimentar os famintos. Uma história diz que a mesa foi escondida em um castelo fincado nas montanhas pelos iniciados para impedir que caísse em mãos árabes. O imperador Carlos Magno do Sagrado Império Romano era aparentemente tão fascinado pela lenda que fez uma réplica da mesa.

Se a fabulosa Mesa Esmeralda existiu mesmo, como objeto físico, é discutível. Uma pista para sua real natureza é que foi dito que ela era parte da famosa Tábua Esmeralda ou Tábua de Hermes Trismegisto, e seu nome pode bem ser um jogo de palavras para ocultar sua origem. Outras versões da história dizem que ela era a Pedra Filosofal. Claro, como sabemos por experiência, tais lendas de tesouros escondidos, a busca por eles, como em Rennes-le-Chateau, e mitos sobre espadas e cálices com poderes sobrenaturais geralmente escondem a busca de conhecimento esotérico e oculto. Por toda história, os não iniciados perderam seu tempo e energia procurando a quimera de tais tesouros sem perceber que eles poderíam sequer existir no plano físico. Nesse contexto, a jomada da Tábua Esmeralda de Salomão de Jerusalém até a Espanha pode se referir à transmissão da tradição hermética, alquímica e Luciferiana do Oriente Médio para a Espanha Moura. Da Espanha, essa corrente Gnóstica oculta teria fluído em direção à Europa do Norte.


A habilidade universal do Graal era sua capacidade de assumir formas, como o mito universal adaptado para diferentes culturas, religiões e sistemas de crenças. Como VrAndrew Sinclair disse sobre o recipiente: “Aos olhos dos Celtas e do folclore nórdico, o Graal era o caldeirão e a lança; na era clássica, a vasilha cósmica e cornucopia; para os Judeus, a Arca e o tabernáculo; para os Cristãos, o cálice e o prato; para os Muçulmanos, o kaba com sua pedra negra; para os dissidentes do fogo, a serpente e a pomba. Todavia, o Graal não era tudo para todos, mas apenas um símbolo da abordagem direta de cada pessoa da luz divina”. (1998: 261)

É interessante que Wolffam von Eschenbach tenha erguido seu Castelo do Graal em um morro arborizado ou uma montanha. Esse é o Monte Sagrado, o Morro da Visão ou o Monte Vazio, que é importante na mitologia Luciferiana. Ele pode aparecer em muitas formas físicas, como o Monte de Vênus, o Brocken, Thor de Glastonbuiy, Morro de São Miguel, Morro Silbury, Monte Shasta, as sagradas montanhas do Himalaia ou até mesmo um monte de pedras ou terra encantada. Quando o Tolo entra no castelo do Graal e tem a visão do Santo Graal, o rei Pescador é curado e a terra desolada fora do castelo se enche de rosas. Isso nos lembra do conto de fadas Rosa Brava ou Bela Adormecida, com o casamento sagrado entre o cavaleiro (a rosa vermelha) e a princesa (a rosa branca) selado com um beijo. Esse tema das rosas também aparece em Branca de Neve e os Sete Anões e é associado com a Deusa Negra do mundo inferior, em cujo caldeirão o herói é transformado em deus.

Um escritor galês disse sobre o Graal e os mitos criados: “A história do Graal é a história de um símbolo que é transformado, de uma religião para outra, retendo a maior parte do seu significado original. O deus celta que possuía o miraculoso recipiente era o deus do sol, Senhor do Mundo Sobrenatural, criador da humanidade. A donzela que carregou o cálice e casou com o herói era Sovereignty, a deusa da terra que representava o reino. A união entre o herói e a deusa simbolizou a posse do seu reino pelo herói.


Luciferianismo - O Rei Sumo Sacerdote


Uma das figuras mais misteriosas, extremamente significante, no Velho Testamento é Melquisedeque, ainda que ele tenha apenas oito linhas no Gênesis. Elas dizem que, após a batalha vencida por Abraão, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho: “e ele era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra, e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos! E de tudo Abrão deu-lhe o dízimo”. (Gênesis 14:18-21)

A real identidade e significância de Melquisedeque permanecem um segredo para a maioria dos leitores e escolásticos da Bíblia. Se sua identidade era amplamente conhecida, seu nome teria sido imediatamente censurado. É uma das referências bíblicas, como muitas outras, com significados secretos que escaparam ilesas enquanto a Igreja decidia que textos selecionar como ortodoxos e aqueles que seriam rejeitados como heresia. De fato, a referência a Melquisedeque significa uma visão herética que a Igreja jamais podería aceitar porque eles a considerariam a blasfêmia suprema.

No Gênesis, Melquisedeque é descrito como o rei de Salém e como o sacerdote do Deus Altíssimo. Esse Deus pode não ser o Javé do Velho Testamento, como muitas pessoas presumem, mas o Absoluto, o Deus aquém de toda a compreensão humana. No texto, Melquisedeque abençoa Abraão de Ur e dá a ele uma refeição sacramental de pão e vinho. Essa eucaristía é anterior à Última Ceia e pode ser vista como urna das primeiras tentativas para substituir os sacrifícios de sangue dos semitas por urna alternativa mais civilizada. Javé sempre demandava oferendas queimadas, e os rituais judaicos de sacrifício animal sobreviveram até a destruição do templo de Herodes, em 70 d.C. pelos romanos. Detalhes mórbidos de vários tipos de sacrifícios exigidos pelo deus hebreu podem ser encontrados em Levítico 5-9. Também há mais do que uma indicação de sacrifício humano na história de Abraão e seu filho Isaac (Gênesis 22:1 -19).

O elemento do sacrifício de sangue na religião hebraica também é destacado na narrativa de Caim e Abel e o motivo do primeiro assassinato. O relato bíblico diz: “E Abelfoi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou1'’ (Gênesis 4:2-5). Como resultado dessa rejeição por Javé de seu sacrifício, o primeiro jardineiro e Abel discutiram nos campos, o que levou à morte de Abel. A oferta de Abel do sacrifício de sangue é mencionada ainda nas missas católicas. Paradoxalmente, poucas linhas depois, é feita uma referência ao pão e vinho oferecidos para Abraão por Melquisedeque. No século VI, o mosaico Abel é representado oferecendo a Melquisedeque uma ovelha branca como sacrifício para Deus. Na frente do rei-sacerdote está um altar coberto com uma toalha de mesa branca. No altar está um cálice dourado e um par de pães redondos no formato de discos solares.

No Velho Testamento, Paulo menciona Melquisedeque em sua epístola para os hebreus. Isso está no contexto do papel entendido de Jesus como sumo sacerdote. Paulo descreve Jesus como um sacerdote após a Ordem de Melquisedeque. Isso sugere a tradição de grupos de sacerdotes hereditários, ou sacerdotes-reis, similares aos membros masculinos da família Cohén, que serviram como sacerdotes no templo e rabinos por séculos. Paulo descreve também Melquisedeque como órfão de pai e mãe, sem descendência, mas transformado em filho de Deus. Essa afirmação não aparece em nenhum outro lugar e, portanto, deve ter vindo de outra fonte ou sido uma tradição passada verbalmente para Paulo. A frase “sem pai, sem mãe” costuma ser uma referência codificada para alguém de origem divina ou semidivina. O uso do termo “filho de Deus” para descrever o rei-sacerdote seria herético e blasfemo para a maioria dos cristãos ortodoxos. Para eles, existe apenas um filho de Deus, e ele foi Jesus. Na tradição esotérica, “Bem Elohim” ou “filho de Deus” se refere aos arcan- jos e, especificamente, aos anjos caídos.

A primeira vista, parece estranho que Paulo tenha selecionado uma figura obscura como Melquisedeque dentre todos os personagens famosos do Velho Testamento e o comparado com Cristo. De fato, um olhar mais detalhado nesse rei-sacerdote na tradição esotérica pode esclarecer essa escolha estranha. Em A Doutrina Secreta (1893), Blavatsky conecta Melquisedeque com nossos velhos amigos Titãs e com os Cabari, ou Kaberim, os velhos deuses do mar e do mundo subterrâneo que ensinaram os humanos sobre a agricultura e a fundição. Presumidamente, esses Poderosos, que ffeqüentemente aparecem em nossa história, eram às vezes chamados de filhos de [Melqui] Zadok. De fato, Zadok era um velho nome associado ao sacerdócio judaico, que serviu no templo de Salomão. Blavatsky compara Melquisedeque com o deus romano da guerra Marte, que era conhecido com o Senhor da Morte e governava a agricultura, a construção e a arquitetura. De acordo com Blavatsky, Marte era também associado no mundo antigo a Vulcano e Caim. Blavatsky diz que o rei-sacerdote Melquisedeque era conhecido como o Justo e, de acordo com ela, também era o governante da Terra Mater, o Rex Mundi ou Rei do Mundo.


Na tradição esotérica, Melquisedeque supostamente teria trazido três presentes especiais do planeta Vênus (a Estrela da Manhã) para os primeiros humanos. O primeiro deles era o trigo, um símbolo de fertilidade e morte do Deus Sacrificado ou Rei Divino. O seu segundo presente foi a abelha, que é essencial para a polinização de plantas, ainda que hoje elas estejam em perigo em virtude do uso indevido de pesticidas e plantações modificadas geneticamente. Tanto a abelha quanto o mel que ela produz eram associados com o culto primitivo à Grande Deusa Mãe. A Flor de Lis, adotada pela família real francesa como um dos seus emblemas, aparentemente é derivada de uma imagem estilizada de uma abelha. Antigos reis costumavam ser embalsamados, tendo seus corpos besuntados com mel. Abelhas de ouro também eram importantes símbolos da dinastia merovíngia dos reis bruxos. O terceiro e último presente foi o amianto, um material com a capacidade mágica de resistir ao fogo e absorver calor. Se aceitarmos que há milhões de anos Venus era um planeta quente e estéril, então a alegação de que esses presentes são originários do planeta irmão da Terra deve ter um significado simbólico.

Melquisedeque também está intimamente ligado aos mistérios do Graal. Na catedral de Chartres, na França, construída em um antigo local pagão de adoração à deusa, dedicada à Madonna Negra e financiado pelos Templários, pode se ver estátua de um rei-sacerdote bíblico. E estranho que os maçons e arquitetos medievais tenham selecionado essa figura obscura para dar tal tratamento. Entretanto, como muitos deles eram iniciados nos Mistérios, presumimos que eles entendessem seu real significado, soubessem sua verdadeira identidade, e o que ele representava na evolução deste planeta e da raça humana. A estátua segura um cálice identificado como o Santo Graal. Nesse cálice, está uma pedra e isso nos lembra da lenda medieval que diz que o Graal foi esculpido da esmeralda de Lúcifer.

Então, quem é o misterioso rei-sacerdote de Salém? Para ocultistas imersos na tradição teosófica, ele é um dos Manus, os grandes mestres e modelos culturais também conhecidos como os Mestres da Sabedoria. Eles abandonaram suas formas etéreas e encarnaram na Terra como guias e professores.

Melquisedeque é, portanto, revelado como um dos avatares do Mundo Mestre, o Senhor do Mundo, Rex Mundi. É importante que ele seja chamado às vezes de Pai da Humanidade. Não é, portanto, surpresa que Paulo tenha chamado Jesus de sacerdote, depois da Ordem de Melquisedeque, ou ele era conhecido como a Luz do Mundo (João 8:12 e 12:46). Mais explicitamente, no Apocalipse 22:16, Jesus diz: “Eusoua Raiz e a Geração de Davi, a resplandecente Estrela da Manhã'. Essa é outra referência herética na Bíblia que escapou dos censores.


Luciferianismo - O Anjo Da Terra


Nos escritos cabalistas anglicizados de ocultistas modernos, o arcanjo designado para Malkuth, a sefírah ou esfera da Terra na Arvore da Vida, é chamado de Sandalphon. Ele é descrito como o regente planetário da Terra, assim como Uriel é o arcanjo realmente associado ao elemento terra. Na tradição Luciferiana alternativa e mais subversiva, o Grande Arcanjo da Terra é conhecido como Lumiel ou a Luz de Deus.

Uma dica para a real natureza desse anjo da Terra é dada por Dion Fortune em seu livro A Cabala Mística (1935). Ela diz que os cabalistas às vezes chamam Sandalphon de anjo negro. Esse é um título que também é dado para Lumiel-Lúcifer, apesar de sua real associação com a luz. Fortune diz que, nesse papel e função como anjo negro, Sandalphon governa o débito cármico. Por esse motivo, ela diz que Malkuth é conhecido como o Portal da Justiça e Lágrimas ou poeticamente como o vale das lágrimas. E a esfera na qual o carma geralmente é trabalhado (p. 290). Em Aradia: Evangelho das Bruxas, é Lúcifer que gira a Roda do Destino controlada por Diana-Lilith.

Mais recentemente, David Goddard publicou um livro chamado A Magia Sagrada dos Anjos. Nele, reproduziu um quadrado mágico, descrito como a Carta de Proteção de Vida de Lumiel. Isso, disse ele a seus leitores, protegeu a alma do medo e do enfraquecimento, a mente do dano e o corpo do estrago dentro do confinamento da lei do carma (pp. 140-141). 

Goddard descreve Lumiel como meramente um dos anjos do planeta Terra. Ele não dá a ele status de arcanjo, tampouco de regente planetário e, no estilo cabalístico tradicional, coloca Sandalphon nesse papel. Como o livro de Goddard é amplamente baseado no curso de correspondência criado nos anos de 1950 por Madeline Montalban, da Ordem da Estrela da Manhã, ele deveria estar ciente da verdadeira natureza de Lumiel. Enquanto ele naturalmente esperava que a Igreja rejeitasse o chamado anjo negro e todo seu trabalho, é sempre muito triste e surpreendente encontrar ocultistas caindo nessa armadilha.

Uma indicação da natureza e posição verdadeiras de Lumiel no padrão cósmico ainda sobrevive no Cabalismo ortodoxo, apesar das tentativas de erradicá-lo. Na Arvore da Vida, o arcanjo oposto a Sandalphon é o misterioso Metraton, que é o governante da elevada sefírah Kether. Isso representa o objetivo da busca interior de iluminação espiritual, liberdade da manifestação no Universo físico e a união mística com o Divino. Há um velho ditado cabalístico que diz: “Kether está em Malkuth, assim como Malkuth está em Kether”. Essa é uma variação do velho axioma hermético “como é acima, assim é abaixo”. Isso nos diz que Lumiel, como a luz do relâmpago que desce o pilar do meio da Árvore, tem o poder de agraciar a perfeição para aqueles que o seguirem e aqueles que seguirem o caminha da Alquimia espiritual.

Quem é Metraton? Seu nome significa perto do trono [de Deus] e, às vezes, é chamado de Embaixador de Deus, com relação aos seus assuntos com o mundo humano. O Sepher Yetzirah o descreve como a fonte de iluminação e toda a luz do Universo. Ele também é descrito como o anjo chefe de Deus e o filho de Shekinah, ou Noiva de Deus, a presença feminina do Criador do pai-mãe. O Shekinah, como vimos, foi associado de várias maneiras com muitas deusas ocidentais, incluindo Lilith e Anat. Essa última foi uma deusa da fertilidade, da guerra e do amor sexual, cujo filho foi um deus do fogo. As afinidades entre Metraton e Lumiel são muito fortes para serem meramente coincidência.

Metraton é um anjo instrutor, como são os regentes planetários, e diz-se que ele ensinou os segredos da Cabala para Moisés, o príncipe egípcio e iniciado do templo. Acredita-se que uma das esposas de Moisés, uma egípcia, tenha sido Lilith disfarçada de humana. As águas também estão lamacentas, com a alegação de que o próprio Metraton tenha sido humano. De fato, ele aparentemente foi o profeta Enoch do Velho Testamento, que caminhou com Deus e deixou de existir. Isso pode ser entendido como uma pista mais abrangente para a real identidade angelical de Metraton, já que Enoch é uma figura-chave na história dos Vigias. No Livro de Enoch, que carrega seu nome, ele é o escriba que recontou sua queda do Paraíso.

Outras evidências de águas lamacentas e encobrimentos teológicos podem ser detectadas no papel de Lumiel como um regente planetário. Na velha tradição, ele é claramente o Demiurgo, ou regente da Terra, como Senhor Deste Mundo. Sua imagem histórica primária nesse papel é o deus-bode dos Templários heréticos chamado Baphomet. Entretanto, Lumiel foi originalmente o arcanjo do sol e portanto o logos solar desse sistema estelar.

Na Angelologia Cabalista ortodoxa, Mikael ou Miguel (São Miguel) é descrito como o arcanjo solar. Em Filosofia Oculta, de Agrippa, o assunto acaba se tomando mais confuso, designando Rafael, o arcanjo de Mercúrio, como o do sol e Miguel como o da terra. Agrippa está parcialmente correto, pois, antes da mítica “Guerra no Céu”, Miguel era o Anjo da Terra, e ele e Lumiel trocaram de lugar e de papéis quando o Portador da Luz caiu em desgraça.

Imagens cristãs de São Miguel derrotando o dragão e a constmção de igrejas deliberadamente dedicadas a esse santo/arcanjo em antigos locais de adoração pagã são todas partes do encobrimento. As vezes, estátuas do Arcanjo Miguel em igrejas ou túmulos o representam vestindo a Estrela da Manhã de Lumiel em sua testa.

Reproduzida neste capítulo está uma ilustração de Lumiel na forma tradicional por Nigel Aldcroft Jackson. E baseada em uma experiência visionária do artista e contém símbolos representando seu papel como Anjo da Terra. Como guia para invocar o poder e a presença desse ser angelical incrível, o significado desses signos são dados em seguida. Antes de mais nada, ele está envolto em uma aura de estrelas, formando um portão ou arco sobre seu corpo. Isso significa que ele não apenas é o Senhor do Mundo, mas também sua posição cósmica pré-Queda era a do primeiro a ser criado, o Logos ou a Palavra de Deus e primeira luz do Universo. Suas asas são uma lembrança de que, apesar dos anjos poderem aparecer na forma humanóide ou nas duas formas na realidade, eles são poderosos Senhores da Chama sem sexo. Asas podem também ser encontradas nos querubins da antiga Assíria e nos deuses sumérios dos planetas. Em todos os casos, eles são um sinal da origem divina e poder celestial. Conseqüentemente, há a crença de que, se um anjo perder suas asas, se tomará mortal.

Brilhando na testa de Lumiel está a Estrela da Manhã. Como vimos, isso representa Vênus, o Terceiro Olho e a Marca de Caim. Na bruxaria tradicional, é a vela entre os chifres do bode sabático representando a iluminação. No terceiro nível da Maçonaria, a Estrela Ardente na Loja é descrita para o candidato como aquela estrela da manhã brilhante cuja nascente traz paz e tranquilidade para os fiéis e obedientes da raça humana. No seu livro O Taró dos Mágicos (1927), Oswald Wirth diz que, quando a Estrela Ardente surge no crepúsculo depois do sol se pondo, embora sua luz seja discreta, é penetrante, pois ela ilumina o aspecto interior das coisas. Nos mistérios esotéricos do Cristianismo, é o signo do Cristo Ressuscitado. O apócrifo Evangelho da Infância de Jesus Cristo diz que a estrela no leste seguida pelos magos até a criança Jesus Cristo era de fato a luz refletida de um anjo que os guiou até o local de nascimento. O pentagrama ou estrela de cinco pontas é conhecido na tradição mágica cabalista como o “Selo de Salomão”.

O manto de Lumiel está preso por um cinto ou faixa que forma o signo da Cruz de Tau. Uma das acusações feitas sobre os Templários é que eles vestiam uma faixa especial ou cordão sob as roupas. Esse costume também é encontrado em outras seitas herméticas. Especialmente no Oriente Médio. Como vimos, o Tau é o símbolo único de Lumiel e seu papel como um avatar para a raça humana. Seu destino é encamar na forma humana em certos momentos-chave da história do mundo como um salvador e redentor da humanidade.

Nesse processo de duas vias, tanto o anjo negro quanto seu povo recebem um grau de redenção. Esse processo também está representado na ilustração pelo selo no lado esquerdo sobre a rosa. Alguns observadores vêem isso como um sinal para os ungidos, mas na verdade é baseado em um hieróglifo egípcio para Vênus. Nesse contexto, é o conhecimento divino trazido para a Terra pelo Senhor da Estrela da Manhã. 

No canto esquerdo, está a rosa de cinco pétalas, e esse é um dos mais importantes símbolos na tradição Luciferiana. Elapode ser vermelha (Lúcifer) ou branca (Lilith) e ser a rosa Tudor ou a rosa canina. Hoje, rosas híbridas são usadas porque elas estão disponíveis e os tempos mudam. A rosa é primariamente o sinal da linhagem de sangue sagrada e mística criada pela união dos Vigias com a raça humana, a chamada Familia da Rosa ou Sangue da Rosa. Em seu nivel mais elevado, a rosa refere-se a pendragons ou dragões reis, e ela aparece naqueles contos de fadas e lendas que escondem os ensinamentos das tradições Luciferianas. Ela também tem sido usada como brasão por grupos ocultos, ao longo das eras, que (secretamente) devem sua submissão ao Portador da Luz.

A rosa é também um símbolo do aspecto feminino do Espírito da Terra e Sophia-Sabedoria como a consorte de Lumiel-Lúcifer. No folclore medieval, ela é geralmente vista como o personagem conhecido como Dama Vênus ou Habondia preservada no Taró como a carta da Imperatriz. Ela é associada ao morro vazio semimítico de o Monte de Vênus, como o útero telúrico da Magna Mater ou Grande Mãe e portal para o Outro Mundo. A folclorista vitoriana Sabine Baring Gould descreve, em seu livro Curiosos Mitos da Idade Média (1866), como um cavaleiro e trovador francês chamado Tannhauser viajava próximo ao Monte de Vênus para participar de um encontro bárdico. Com o crepúsculo, ele passou por uma caverna e viu uma bela figura brilhante em pé ao lado da entrada. Ela acenou para ele, que a reconheceu como a deusa do amor. Uma fraca luz rosada brilhou de seu corpo e ninfas apareceram, jogando pétalas de rosas aos seus pés. Consumido pela paixão, Tannhauser seguiu a Senhora da Rosa dentro do morro vazio. Ali, ele firmou um casamento de sete anos com a deusa.

A história de Tannhauser e Vênus pode ter se originado na lenda de sibila, que viveu em um labirinto nas cavernas abaixo do templo de Apoio em Cumae. Ali, ela previu o futuro até a chegada do Cristianismo. Em Guerino Meschino (1390), a história de Guerino conta como ele conheceu Lúcifer nas montanhas próximas à Umbría. Lúcifer tentou o garoto com contos sobre uma fada ou mulher encantadora chamada Sybilla, que tinha um jardim subterrâneo de encantos terrestres em uma caverna guardada por uma cobra. A sibila tentou seduzir Guerino, mas o garoto viu por baixo de seu vestido e percebeu que ela tinha pernas de um monstro. Ele conseguiu escapar de seus ardis e, como Tannhauser, vai para Roma em busca de absolvição pelo papa. O pontífice identifica Sybilla com Vênus.

A lenda de Tannhauser ficou muito popular a partir do século XIV. Pelos trezentos anos seguintes, bruxas, videntes e doutores astutos alegaram ter visitado o Monte de Vênus e aprendido os segredos concedidos pela Dama Vênus. Em 1550, a Inquisição conseguiu uma confissão de Zuan dele Piarte, que declarou ter visitado a montanha de sibila. Ali ele conheceu a Dama Vênus e renunciou a fé cristã para segui-la. O cristalomancista e herbalista Diell Breull alegou, em 1630, que tinha viajado para a montanha dela quatro vezes por ano. Ele aprendeu a bruxaria verde herbalista, e a deusa mostrou a ele visões de pessoas mortas em um recipiente de água. Em 1623, um médico clérigo chamado Hans Hauser alardeou em uma tavema que ele tinha viajado para o Monte de Vênus e tinha aprendido divinação, cura e magia natural.

Durante a Idade Média, a rainha de Elfame e senhora das bruxas, Dama Vênus-Habondia, foi reverenciada pelos camponeses europeus, como uma potência feminina habitando uma caverna sob um pico sagrado. Sua lenda representa outro exemplo de contatos entre humanos e elfos, quando conhecimentos ocultos eram compartilhados. Para os filósofos e magos da Renascença, a rosa era o símbolo primitivo de Vênus e Agrippa nos conta que a Rosa de Lúcifer foi dedicada a ela. Em visões de alquimistas, ela surgia como Senhora Vênus “... em um manto carmim em camadas com fios verdes... ” E interessante que o vermelho e o verde também sejam as cores associadas a Santa Maria Madalena. Ela foi por vezes pintada usando um vestido verde e um manto vermelho.

Na Alquimia, a Rosa Mística é o símbolo da Tintura do Sábio. Essa tintura tinha o poder de curar todas as enfermidades e doenças, regenerar metais e transformar tudo em ouro. A rosa alba ou rosa branca de Lil ith é a pedra branca lunar-mercurial que converte o metal em prata. A rosa rubae é a rosa vermelha de Lúcifer e é de natureza solar-sulfúrica. É o equivalente à Pedra Filosofal ou Pedra do Sábio, pois pode transformar chumbo em ouro. Basil Valentine disse: “Essa tintura é a Rosa dos Mestres. O alquimista deve juntar o mercúrio filosófico e o sulfúrico filosófico em um casamento químico entre a Rainha Branca com o Rei Vermelho para produzir a Pedra Filosofal”. Nicolás Flamel (1330 -1418) descreve metaforicamente a pedra como existente em uma montanha em que dragões se aninham ou em um jardim no qual a roseira sobe por um carvalho encantado sagrado. Dizem que o místico medieval de Mallorca Raymond Lully cunhou moedas feitas de ouro alquimista gravado com uma rosa.

Na ilustração, sobre a rosa, está o ankh egípcio antigo ou crux ansata. É conhecido às vezes como a tira da sandália de Isis e foi um símbolo de vida universal. Ela representa a imortalidade e a força de vida que permeia e sustenta o Universo. O ankh é composto da cruz de Tau como um símbolo fálico unido a um oval representando o yoni, e este é o casamento sagrado dos opostos ou rosas vermelhas e brancas. As forças masculinas e femininas como o Sol, Lúcifer-Apolo, e a Lua, Lilith-Diana, se juntam em um Grande Rito de Alquimia espiritual. Em um nível esotérico, o ankh é importante por mostrar a importância das famílias reais egípcias na continuidade física da linhagem de sangue sagrada desde tempos antigos.

O tema do casamento sagrado é trazido à tona novamente no canto inferior direito, no qual há imagens do Sol e da Lua com a essência espiritual transbordando deles dentro do cálice. Ele é criado da união das energias masculina e feminina e os fluidos masculinos e femininos correspondentes no Grande Rito entre o sumo sacerdote e a sumo sacerdotisa. A essência feminina é conhecida como o Oleo de Lilith e, na Alquimia, a combinação entre as essências masculina e feminina é chamada de Sangue do Leão Vermelho e o Glúten da Águia Branca.

A união física e espiritual do Grande Rito produz o chamado orvalho da rosa, a aqua vitae ou água da vida, ou a estrela-fogo da Deusa. Ele corre em direção ao Cálice da Luz ou Graal, o Copo das Águas, que representa a flor yoni da Deusa Estrela e seu útero do espaço sideral. Em termos esotéricos, o Graal é o objetivo no final do Caminho, no centro do labirinto ou no topo da Árvore do Mundo ou Árvore da Vida. No mito pré-cristão, é o Caldeirão da Inspiração, Regeneração e Renascimento da Deusa Negra do mundo inferior. Na mitologia Celta, possui o poder criativo de curar o castrado rei Pescador, restaurar a fertilidade da Terra Desolada, ressuscitar heróis mortos, alimentar os famintos e transformar o iniciado em um sacerdote/ sacerdotisa da Luz Interior. 

O Graal na ilustração está marcado com uma cruz de braços idênticos. Esse é outro símbolo importante e versátil na bruxaria Luciferiana para harmonia cósmica e o equilíbrio dos quatro elementos que devem ser adquiridos pelo mago para completar o Grande Trabalho. Com a cruz abaixo do círculo, é um símbolo de Vênus-Lilith e do sexo feminino. Sobrepujado por uma crescente, ou dois chifres, ele se toma o selo de Hermes-Thoth-Merlin-Woden. Com a cruz como uma serpente com a cauda em sua boca e sobrepujada pela cruz, é o selo de Ordo Draconis e a Ordem de Melquisedeque, para quem todos os reis-sacerdotes da rosa de sangue pertencem por direito de nascença ou encarnação da alma.

Esses são, portanto, os selos primários da Anjo do Terra Lumiel, e seu uso contatará o usuário com o Senhor da Luz em suas várias formas. Durante os séculos, os inimigos da verdade e os sacerdotes de religiões falsas tentaram degradar e depreciar o mito de Lumiel. Ao confundi-lo com o anjo tentador Satanael, eles deliberadamente transformaram o Senhor da Primeira Luz em um imaginário príncipe das trevas. Na mente coletiva da horda, ele foi transformado em um bicho-papão demoníaco usado para assustar e controlar os fiéis com o fogo do inferno e a condenação. De fato, em contraste com essas tolas histórias de horror, Lumiel oferece para todos aqueles que acreditam nele e o aceitam um caminho além do materialismo vulgar e para longe dos ensinamentos estéreis das falsas religiões. Esse caminho não leva ao Inferno, mas sim à auto-realização e iluminação.



Luciferianismo - A Serpente e a Arvore


Aqueles que foram criados como cristãos ou judeus foram ensinados sobre o mito hebreu da criação descrito no Génesis, como crianças encenando o Jardim do Éden. É um mito que provavelmente foi tirado das culturas suméria e babilónica pelos escribas hebreus. Éden significa um lugar de encanto e prazer e se refere a um paraíso terrestre ou a um parque restrito ou fechado. Em acadiano antigo, significa terraço e se refere a urna plataforma elevada usada para o plantío de flores ou plantações. Escritoras feministas alegam que Eva foi a primeira jardineira, e foram as mulheres na Mesopotâmia pré-histórica que primeiro cultivaram plantas, irrigaram terras e cercaram áreas de terra, como jardins para cultivar vegetais, ñutas e ervas medicinais.

Outros escritores, como Andrew Collins, sugeriram que a agricultura e a horticultura eram ensinadas para mulheres da Europa oriental por uma raça antiga chamada Os Vigias. Collins chegou inclusive a descrever o Éden como um povoado dos Vigias organizado em jardins de cultivo, orquídeas, terraços cultivados, escolas e observatorios astronómicos. Ele se localizava na área do Curdistão-Iraque. (Collins, 1996)

Aparentemente, essas mulheres neolíticas desenvolveram tecnologias de irrigação e cercado para controlar o gado e as ovelhas usando arbustos de acácia e mais tarde estacas de madeira. Elas também cultivaram e domesticaram flores silvestres. Durante o processo, elas criaram novas espécies e híbridos, incluindo as rosas. Apalavra persagul significa rosa e aparentemente tem origem pré-indo-européia. Os primeiros relatos de jardins exclusivamente de flores vieram da Assíria e Babilonia, vide os famosos jardins suspensos da Babilonia. Jardins floridos foram plantados próximos a casas para aproveitar seus perfumes. Eles também eram usados para relaxamento, refeições ao ar livre e santuários religiosos.

Em 1998, cientistas alegaram ter encontrado evidências das origens da civilização na fronteira curda, nas montanhas ao sudeste da Turquia. Análises de DNA do trigo silvestre no sudeste da Ásia permitiram aos cientistas datar suas origens genéticas em 9 mil anos. Foi uma das chamadas plantações fundadoras que permitiu que os humanos antigos deixassem de ser caçadores/coletores nômades para se tomar fazendeiros fixos. Essas mudanças culturais e sociais dramáticas foram as precursoras das sociedades organizadas, com o aparecimento de governantes, burocratas, escribas, soldados e artesãos que viviam em povoados permanentes.

Essa descoberta apóia a idéia contemporânea de que um grupo pequeno de humanos domesticou plantas silvestres e divulgou suas técnicas e conhecimentos agrícolas para outros lugares. Diz-se também que, em um período de apenas algumas centenas de anos, os humanos fizeram uma transição radical de caçadores/coletores de plantas silvestres para cultivar plantações domesticadas como fazendeiros. Quando Caim foi exilado na terra de Nod, ao leste do Éden, por matar seu irmão Abel, conta-se que seus descendentes se tomaram os primeiros fazendeiros, ceramistas, ferreiros e construtores de cidades. Alguns escritores os identificaram com os Sumerianos, e certamente as similaridades entre o Gênesis e a criação deles e os mitos sobre o Dilúvio é impressionante. Toda a história de Caim e Abel podería ser vista como o relato mítico da transição entre os nômades da Era Neolítica para as comunidades estabelecidas no início da Era do Bronze com sua tecnologia superior.

A história bíblica diz que um rio saiu do Éden para aguar os jardins; e por isso ele se dividiu em quatro braços. (Gênesis 2:10) O simbolismo do rio correndo desde o Éden para irrigar e a sua divisão em quatro afluentes é altamente simbólico. Ele representa a emanação dos afluentes da vida desde a Fonte e como ela se divide em uma variedade de formas diferentes. Os escribas que escreveram o mito da criação original que foi incluído no Gênesis sabiam que a vida, animada e inanimada, era uma delineação visível do princípio cósmico ou fonte da vida. Era também a manifestação visível da Alma Universal agindo por meio do Universo físico para se manifestar concretamente. Eram as idéias da Mente Divina cristalizada em formas materiais. O Criador Cósmico, o Grande Arquiteto do Universo, o Deus por trás dos deuses, formou primeiro nessa mente divina a forma arquetípica das coisas que surgiríam, formando, portanto, um padrão ideal que mais tarde se manifestou no Universo físico por meio dos sete governantes.

A criação do mito do Éden inclui a história da Queda, quando Eva foi tentada pela serpente e comeu o fruto proibido da Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal. De acordo com a bíblia: O senhor Deus disse; Eis que o homem se tomou como um de nós, conhecedor do bem e do mal (sublinhado nosso). Por causa desse evento, os primeiros seres humanos emergiram dos seus estados de inocência e perceberam que estavam nus (ou seja, descobriram o sexo físico). Como Eva havia desobedecido Javé, o primeiro casal foi banido do Jardim do Éden, e seus descendentes foram condenados a nascer com o chamado pecado original. Essa crença falsa e perniciosa assombra a humanidade há eras. Como resultado desse mito judaico-cristão, a propaganda rotulou a serpente como uma criatura má e detestável. Diz-se que a tentação de Eva, a Mãe de Todos os Seres Vivos, representa a primeira tentação da humanidade por Satanael e tem sido ffeqüentemente repetida. Em comum com a serpente, as religiões patriarcais costumam representar as mulheres como tentadoras malignas que levam os homens à perdição com seus ardis femininos.

Satanael, na versão judaico-cristã da Queda do Éden, não é o espírito maligno cristão, e sim Lúcifer-Azazel. Quando o primeiro homem e mulher viveram no Éden, eles tinham contato direto com as forças angelicais. O apócrifo Primeiro Livro de Adão e Eva diz que, quando eles foram expulsos, Adão lamentou: “Oh, Deus, quando habitávamos o Jardim e nossos corações estavam elevados, nós víamos os anjos que entoavam cânticos no Paraíso, mas agora não os vemos como costumáva- mos” (8:1). Em outras palavras, os primeiros humanos tinham perdido contato com o reino espiritual.

A Bíblia diz: E Adão conheceu Eva, sua esposa; e ela concebeu e carregou Caim e disse: Eu recebi um homem do Senhor. Na tradição Luciferiana, esse Senhor era a serpente conhecida no mito hebreu como Samael (Azazel), e Caim foi o fruto da união deles. Lúcifer também aparece em uma visão para o outro filho de Adão e Eva, Seth, como um lindo anjo, brilhante com a luz; com um cajado de luz em sua mão, envolvido em uma cinta de luz. Lúcifer diz a Seth que ele e seus anjos habitam lugares maravilhosos em um outro mundo além da Terra. Ele oferece a Seth a troca para se converter na raça angelical, mas Seth recusa-se e acaba se casando com a irmã gêmea de Abel, Aklia (Adão e Eva 5:4-7).

No Livro Secreto de João, um texto egípcio cristão encontrado entre os famosos documentos de Nag Hammadi, descobertos no deserto do Egito em 1945, o governante chefe tentou capturar e seduzir as crianças de Adão e Eva. Nesse texto, Lúcifer plantou a semente do desejo sexual em Eva, e ele é descrito como o pai tanto de Caim quanto de Abel. Antes dele interferir nas suas vidas no Jardim, eles não sabiam o que era o sexo. O texto diz que o destino foi criado porque os governantes (anjos) cometeram adultério com sabedoria, e um destino amargo se abateu sobre eles.

Levando-se em consideração isso, era a serpente no Jardim realmente a personificação do mal? Nem mesmo os primeiros cristãos acreditam nisso. Santo Patrício, ainda que de forma condescendente, comparou a serpente aum Serafim ou anjo da presença de Deus. Ele insinuou que Eva havia tolamente confundido a linda e brilhante serpente com um mensageiro do paraíso enviado por Deus para iluminá-la, pois ela não era tão inocente para acreditar que uma besta podería falar. Essa conclusão parece ter sido baseada no fato de que a palavra Serafim em hebraico significa serpente e também anjo. Eles também eram conhecidos como serpentes aladas.

Na demonologia cristã, a serpente edênica ficou associada a Satanael e Lúcifer como o lado derrotado na Batalha dos Céus. Quando Lúcifer caiu do reino do céu na Terra e se tomou o Senhor Deste Mundo, ele foi chamado pelos cristãos de Velha Serpente ou Dragão Vermelho. Alenda da pedra esmeralda em sua coroa pode estar ligada a uma estranha pedra com supostas propriedades mágicas chamada draconita. Ela supostamente se encontra incrustada nas testas de serpentes ou dragões alados. Na mitologia do norte da Europa, os dragões geralmente são os guardiões de tesouros enterrados. Isso os conecta com Azazel/Azrael, o governante planetário de Plutão, como Plutão-Hades na mitologia greco-romana controlava os tesouros enterrados. Em termos esotéricos, esse tesouro não precisava ser necessariamente jóias ou ouro, mas sim conhecimentos ocultos e sabería antiga.

Os Gnósticos, que combinaram a heresia cristã e o paganismo em suas crenças, consideraram a tentação de Eva uma ato de liberação para o futuro da raça humana. Para eles, a serpente representava a sabedoria na sua forma mais pura. Os Ofitos, ou Irmandade da Serpente, no século II d.C., viam a serpente como a personificação da sabedoria absoluta e divina. Em suas crenças, ela era a Grande Professora e uma civilizadora da humanidade, a mãe e autora de todo o conhecimento e as ciências. Para os Ofitos, e outros Gnósticos, a Queda não era algo do qual se arrepender, mas a transição da humanidade antiga para um estado mais elevado de conhecimento e consciência.

Os Ofitos também acreditavam que o Mundo Serpente, ou Leviathan, com sua cauda na boca conhecida como ouroboros, era o guardião entre o mundo mortal e o divino. A cobra enrolada formando um círculo com um buraco no meio foi chamado de kuklos anagkes ou “o buraco da cobra” pelos gregos. Simbolicamente, foi o ciclo de necessidade ou a alma passando pelos vários elementos para alcançar o crescimento evolucionário. É o símbolo da lei natural pós-Queda, quando a alma se toma imersa em matéria. Isso foi para que se pudesse superar a matéria e desenvolver e crescer em encarnações sucessivas em carne. O espírito tem de se transformar em matéria para que paradoxalmente possa retomar novamente para a Fonte. Madeline Montalban via a Terra como uma escola de vida em que a alma encama para aprender lições e se formar.

É por isso que o resultado final da tentação de Eva foi a perda da inocência primitiva e a introdução da morte na equação. Adão e Eva se tomaram deuses, conhecedores do bem e do mal, porque seus olhos foram abertos para a realidade do Universo e como ele funcionava. Descendo do estado edênico espiritual para o mundo material além dos portões do Jardim, os humanos experimentaram a morte do corpo físico. Entretanto, os mais iluminados perceberam que após a morte a alma retomava para a Fonte e eventualmente renascia. No final do ciclo de necessidade, porém, a alma estava liberta da roda da morte e do renascimento. Eles podiam então decidir retomar voluntariamente para o mundo como guias e professores da humanidade, que estava adormecida, ou seja, presa no materialismo vulgar do plano físico sem qualquer conhecimento da luz interior.

E a jomada do alquimista para ir além do círculo extemo do mundo inferior, também conhecido como o círculo da serpente governado por Saturno. Ele é idêntico a Cronos, o deus grego do tempo, e, ao superá- lo, o iniciado quebra o tempo transiente, seqüenciado, e reverte a Era Dourada da juventude eterna e divina benevolência. (Roob, 1997:30) Simbolicamente, Satumo-Cronos vive no centro da Terra como o Senhor dos Metais, mas ele já foi o governante da Era Dourada antes de se tomar a Morte com a foice nas mãos. Ainda que Saturno seja mencionado em um tratado alquímico Hermético do século XVIII dizendo: “Eu vos digo que sou a coisa em si, mas não deveis me tocar: em mim habita a semente de todos os animais, ervas e minérios ”. Outro ditado Hermético dizia sobre Ouroboros: “Círculofeito por homem ou mulher, quando une a cabeça com a cauda, você obtém o traço completo Isso se refere ao processo alquímico sexual ou ao próprio casamento sagrado em termos físicos.

Outras seitas gnósticas que veneraram a serpente foram os Maniqueístas, seguidores do profeta Mani. Eles ensinaram que Jesus veio do Sol e, quando ele morreu, para lá retomou. Eles acreditavam que ele era a Grande Serpente que voou sobre o berço da Virgem Maria, quando ela nasceu. Jesus foi a serpente edênica enviada pela Mãe da Luz para libertar a humanidade da escravidão espiritual do falso deus Javé. Este era o Jesus da Luz, e ele está em cada árvore e nasce a cada dia, sofre e morre. Seu espírito se dispersa por toda a criação, em especial pelo mundo natural da vegetação, que o conecta com os deuses salvadores do Oriente Médio.

Em um dos mitos gregos primitivos sobre a criação atribuídos aos Pelasgos, a primeira divindade era uma deusa do mar chamada Eurínome. Ela se acasalou com o vento do norte, que assumiu a forma do Grande Velho na forma de uma cobra gigante chamada Ofion. Os dois se uniram em uma dança cósmica de vida e amor com a deusa, por vezes assumindo a forma de uma pomba. Da união entre eles, surgiu o ovo cósmico que, quando chocado, deu vida a tudo o que existe no Universo. Após o acasalamento deles, Eurínome rejeitou a serpente, ela machucou a cabeça dele com seu calcanhar e o expulsou do reino dos céus do Monte Olimpo. A serpente foi rebaixada para as cavernas debaixo da terra porque ele alegou ser o único criador da vida.

Dos dentes espalhados de Ofíon, surgiram os primeiros humanos. Eurínome também criou poderes titánicos gêmeos, masculino e feminino, e deu a eles poder sobre os sete deuses planetários.

Eurínome, coincidentemente, aparece emuma lenda posterior, que diz respeito a Hera, a Rainha do Céu, e seu indesejado filho, o deus forjador Vulcano. Quando ele nasceu, era um anão manco e feio, e sua mãe horrorizada o rejeitou. Ela o jogou de um penhasco para o mar, de onde foi resgatado por duas deusas antigas do mar, Thetis e Eurínome. Ele permaneceu com elas em uma cidade submarina, onde produziu jóias para elas. Seus companheiros eram os famosos Cabari, os servos da Deusa Grande Mãe, que foram mencionados várias vezes neste livro.

No antigo México, a serpente da sabedoria era adorada como um deus chamado Quetzalcoatl ou “a serpente com penas”. Ele era conhecido como o Senhor da Vida e da Morte e o Senhor da Estrela da Manhã e era o deus do vento, como o sopro da vida e da vegetação. Quetzalcoatl era uma figura de rei divina e culturalmente exemplar no exterior. Ele foi o primeiro governante mítico dos toltecas, que assumiram o império asteca, e ensinou a seu povo os segredos da agricultura, artes e artesanato e o calendário. O deus serpente foi descrito como um homem branco alto os cabelos castanhos longos, com reflexos avermelhados, caindo até os ombros, olhos verdes-castanhos e vestindo um manto branco decorado com uma cruz Tau em forma de T. Quando os conquistadores espanhóis chegaram no século XVI carregando imagens de Jesus, os nativos reconheceram o seu deus serpente Quetzalcoatl e pensaram que ele tinha retomado. Quando ele velejou do México para sua terra, além do sol se pondo, se tomou a estrela da noite e da manhã (Vênus). Na posterior arte sul-americana, ele foi claramente identificado com o Cristo, assim como uma serpente com penas crucificada.

No México e na América Central, Quetzalcoatl foi e continua sendo associado às (infames) famosas 13 caveiras de cristal.

Embora algumas sejam consideradas farsas modernas, a lenda das caveiras chama o deus serpente como um dos avatares que desceram à Terra para ensinar a humanidade. Esses avatares supostamente vieram de Plêiades, Orion e Sírius, e eles trouxeram com eles as caveiras de cristal codificadas com conhecimentos sobre a ciência, Astronomia e Filosofia. Foi alegado que esses objetos podem ser usados como os monolitos no famoso romance de ficção científica 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Arthur C. Clarke, para acelerar a evolução humana. Isto é, claro, se o acesso a eles puder ser redescoberto. Alguns velhos nativos americanos supostamente disseram que isso vai acontecer na Era de Aquário.

Um dos símbolos mais antigos na tradição esotérica é a serpente na árvore. Isso geralmente é representado por urna cobra enrolada ou crucificada em urna cruz Tau. Urna das referências mais antigas a isso está em Números 21:4-9, em que os israelitas reclamam das condições em suas viagens pelo interior. Em resposta, Javé enviou serpentes ardentes para atormentá-los. Javé aparentemente cedeu e disse a Moisés para erguer uma serpente de bronze e colocá-la em um poste. Qualquer um que olhasse para ela seria curado de mordidas de serpentes e sobrevivería. Aparentemente, aqueles que não o faziam, morriam.

Em termos ocultos, a serpente é o espírito da luz e a vida sacrificada na cruz da matéria. Essa imagem pode ser encontrada no mundo todo e, no século VII, um bispo baniu o culto a uma cobra dourada em uma árvore entre os Lombardos. A árvore foi derrubada e a imagem de bronze foi derretida para fazer um cálice para a igreja local. Essa árvore é a Arvore do Mundo ou Arvore da Vida, que no mito pagão gera a maçã da imortalidade. Ela é guardada por uma serpente alada ou dragão, e as raízes da árvore afundam no mundo subterrâneo, enquanto seus galhos chegam aos céus. O exemplo mais conhecido é Yggdrasil ou a Arvore do Mundo, na mitologia nórdica, que surge todos os anos em nossos lares como árvore de Natal. No topo da árvore há uma águia, e suas raízes espreitam uma serpente ou dragão. A águia com a serpente ou o brilho do raio em suas garras é outro símbolo antigo do Portador da Luz trazendo seus presentes das estrelas.

A serpente não foi apenas um símbolo da sabedoria divina, pois podia também representar a sabedoria adquirida por aqueles que seguem o caminho oculto. Desde eras remotas, uma varinha com uma serpente enrolada ao redor tem sido a ferramenta preferida de mágicos e magos. Os sumo sacerdotes do Egito, Babilônia e índia se auto-intitulam “filhos da serpente” ou “filhos do dragão”, assim como os druidas. De fato, dizem que as cobras expulsas da Irlanda por São Patrício eram uma referência aos druidas. O sacerdocio egípcio vestia a serpente da sabedoria em suas testas. Nas lendas Arthurianas, o título antigo de rei da Grã- Bretanha era “Pendragon” ou “dragão chefe”. Isso indicava que eles vieram da linhagem de sangue real dos Reis Dragões, descendentes dos Vigias, que usaram a cruz Tau como selo heráldico.

Na Maçonaria esotérica, a cruz tripla de Tau simboliza o templo em Jerusalém. É a chave para tesouros escondidos ou um lugar em que algo precioso está oculto, ou até mesmo a coisa preciosa em si. Como sabemos, isso pode não se referir à riqueza material. Na Maçonaria do Real Arco, o Tau triplo aparece dentro de um triângulo rodeado por um círculo com a Estrela de Davi. Isso simboliza os três aspectos da deidade, como criador, preservador e destruidor. Na tradição maçônica, o Tau era o martelo usado para desferir o golpe final que matou o Mestre Hiram Abiff, entre os olhos, o martelo do próprio Abiff tinha o formato de um Tau e foi um presente de Tubalcaim.

A imagem da serpente e da cruz pode ser encontrada também naqueles níveis mais avançados da Maçonaria, associados aos Cavaleiros Templários. Baigent e Leigh (1989) publicaram duas fotografias das jóias dos Templários Maçônicos. Elas tinham a forma de uma estrela de sete pontas com uma serpente enrolada em uma cruz Tau no meio. Uma das jóias tem abaixo desse símbolo um caixão vazio e uma caveira e ossos cruzados como representação da morte e do renascimento. Ao redor da borda, está a inscrição: In hoc signo vincis ou “Com este signo vencerei”. Uma espada torta, “o símbolo de Seth” pode ser vista sob a cruz em outra jóia. Nos túmulos templários, as pernas cruzadas da efígie supostamente representam Tau. Essa mesma imagem aparece também na carta do enforcado no Taró. O Templo também lembra a imagem da serpente crucificada na cruz Tau, como um símbolo legítimo do Cristo. Por que eles assim o fizeram sempre foi um mistério para os historiadores. E um mistério que pode ser facilmente entendido por aqueles que leram as entrelinhas deste livro até o momento. Essa ligação se tomará mais explícita ao nos aprofundarmos no simbolismo da tradição Luciferiana. É um simbolismo que é a verdadeira linguagem dos anjos. Símbolos como a serpente e a cruz fornecem a chave para entender os eternos mistérios da vida, o mundo espiritual e a natureza oculta do Universo. 


Luciferianismo - A Arte De Hermes

Urna das maiores figuras míticas que une o paganismo clássico e a Magia Medieval, ou teurgia, com a tradição Luciferiana é Hermes Trismegisto ou o Trés-Vezes-Grande. O dr. Francés Yates diz: “Grande parte da literatura em grego se desenvolveu sob o nome de Hermes Trismegisto interessado na Astrologia e nas ciências ocultas, com a virtude secreta das plantas e pedras e a magia simpatizante baseada no conhecimento de tais virtudes, com a manufatura de talismãs para sugar o poder das estrelas, e assim por diante ” (1969:2). Essa naturia magia ou magia natural é exatamente o mesmo conhecimento oculto que os anjos caídos concederam aos primeiros seres humanos.

Quem, então, foi Hermes e como ele se transformou na figura que teve tamanha e importante influência na Magia Medieval e renascentista? Originalmente, em sua terra natal, Grécia, Hermes foi uma divindade um tanto quanto primitiva. Suas origens são anteriores ao panteão olímpico, embora ele tenha sido aceito de forma bem-sucedida, ao contrário de outras divindades mais antigas. Diz-se que existem referências a ele na Era Neolítica, e que ele tem suas raízes no culto aos espíritos da terra, que se acreditava habitarem cavernas. Ele também é associado aos três cultos e às ninfas que reinavam sobre bosques e fontes termais sagradas. Ele provavelmente também foi um antigo deus pastoral dos rebanhos, adorado pelos fazendeiros e pastores nómades. Em eras remotas, Hermes foi cruelmente representado como urna pilastra ou pedra fálica que, por vezes, eram entalhadas com seu rosto barbado e sua genitália. Essas “herms”, como eram chamadas, eram erguidas em encruzilhadas, e camponeses deixavam queijo, pão e canecas de vinho como oferendas para o deus. Viajantes de passagem consumiam essas oferendas e, em troca, deixavam moedas antes de prosseguirem suas jomadas. O nome Hermes vem dos montes ou pilhas de pedras que inicialmente eram colocadas nesses santuários nas encruzilhadas.

Em suas manifestações posteriores, Hermes tomou-se a divindade protetora dos comerciantes, mentirosos, ladrões, diplomatas e viajantes. Hoje ele provavelmente é também a divindade protetora dos políticos. Ele é o mestre da palavra escrita e falada e é um trapaceiro, mas também um habilidoso artesão. Quando ele foi aceito no panteão olímpico, se tomou o pai do deus com cabeça de bode Pan. Zeus também o designou como o anjo mensageiro dos deuses. Assim como o romano Mercurius, ou Mercúrio, ele possuía um capacete e sandálias com asas. Nesse papel, ele também se tomou um psicopompo ou guia dos mortos, conhecido como “a companhia da noite escura”. Hermes é a forma pagã do arcanjo Rafael, e eles eram (e são) invocados por magos tentando fazer contato entre os reinos do céu e da terra. Como governante do signo astrológico de Gêmeos, ele domina o comércio, o jornalismo e todas as formas de comunicação. Ele age como mediador entre as polaridades de energias masculinas e femininas e é companheiro da deusa Vênus.

O símbolo primário de Hermes é o caduceu, que pode ter se originado no bastão usado para agrupar rebanhos, bodes e ovelhas ou a herm fálica ou pedra em pé. Uma outra interpretação é que ela era uma “varinha falante” passada adiante em uma reunião tribal para que todos os presentes tivessem a chance de falar enquanto a seguravam. Em termos esotéricos, o caduceu simboliza a natureza andrógina de Hermes. As duas cobras entrelaçadas ao seu redor são as energias solar (masculino) e lunar (feminino) e também representam a kundalini ou a força-serpente. A varinha ou bastão é a coluna vertebral humana, que leva a força da serpente ou do dragão para o cérebro. Por meio desse processo mágico, o Terceiro Olho, ou a glândula pineal, é ativada, e o mago obtém poderes psíquicos e, em seu nível mais elevado, iluminação espiritual. Na tradição Luciferiana, o Terceiro Olho é a esmeralda que caiu da testa de Lúcifer. Ele também está relacionado à Marca de Caim usada astralmente por aqueles com “sangue de bruxo”. De forma significativa, Lilith Babellon disse: “Hermes é o anjo rebelde, aquele impulso da mente que faz a humanidade voltar suas energias para as artes e ofícios”.

Quando os gregos colonizaram o Egito, reconheceram Hermes como sendo Tethuti ou Thoth, o deus egípcio da sabedoria. Cícero disse que Hermes teve de fugir para o Egito após assassinar Argos, o deus de muitos- olhos, que foi transformado por Hera-Juno em um pavão. Hermes então deu ao povo egípcio suas “leis” e recebeu o nome de Thoth. Em uma referência aos Livros de Thoth, Lactantius, um escritor cristão do século IV, tutor na casa do imperador Constantino, o Grande, o descreveu como “três vezes maior”. Esse termo foi usado para expressar que ele possuía todo o conhecimento do mundo. Lactantius afirma que Thoth-Hermes era originalmente um mortal, mas era também de “grande antiguidade” (muito velho) e profundamente versado em todo tipo de arte e ciência. Hermes também escreveu muitos livros sobre a “Gnose e todas as coisas divinas”. Obviamente, o mais famoso dos Livros de Thoth deveria ser o Taró, mas é provável que essa idéia criativa tenha sido inventada por ocultistas do século XVIII. Hermes também recebeu o nome de um antigo faraó do Egito, que ensinou aos nativos a escrita, a Astronomia e a Matemática.

Na mitologia egípcia, Thoth foi um deus pré-dinástico que aparentemente esteve na Terra muito antes da chegada de ísis e Osíris e sua família divina. Diz-se que Thoth e o pássaro Bennu, a fênix egípcia ou o íbis que botou o ovo da criação, chegaram aqui ao mesmo tempo. O íbis era a forma original de Thoth e mais tarde foi adotado como seu pássaro sagrado. Na tradição sabéia, Thoth era representado como Seth-Anubis e Sírio, a estrela-cão. Tanto Thoth-Anubis quanto Hermes possuíam cães e macacos como seus animais sagrados. O historiador grego Heródoto disse que babuínos eram os animais sagrados de Thoth porque eles eram guardiões do tempo, ou seja, a macaca, quando estava menstruando, emitia uivos noturnos no momento da lunação. (Grant, 1994:49)

A Coletânea Hermética diz: “Eles (Osíris e ísis) vão aprender todas as minhas escrituras secretas e distinguir seus significados e irão manter algumas dessas escrituras com eles mesmos, mas algumas delas, como são para o benefício dos mortais, eles entalharão em blocos e obeliscos ”. Hermes entalhou seus segredos em obeliscos e tábuas de pedra, as quais ele escondeu para serem descobertas por gerações futuras. Amais famosa delas foi a Tábua de Esmeralda, contendo o axioma hermético “O que está em cima é como o que está embaixo ”, ou simplesmente “como é acima, assim é abaixo Isso se refere ao mundo como um microcosmo do macrocosmo ou Universo e realça o conceito de correspondências mágicas. Supostamente a Tábua de Esmeralda foi baseada nos Pilares de Seth-Enoch-Noé-Tubalcaim, que Hermes encontrou em uma caverna.

Diz-se que Hermes-Thoth possuía todo o conhecimento secreto da história do mundo em 36.535 rolos de papiro. Eles foram escondidos para uma posterior descoberta por “alguém que fosse merecedor”, que usasse esse conhecimento para o benefício do progresso da humanidade. Alguns ocultistas acreditam que esses documentos estão escondidos em uma “câmara secreta” na Grande Pirâmide de Giza ou na famosa sala de registros sob a Esfinge. Atualmente os arqueólogos estão se esforçando para localizar esse antigo conhecimento acumulado, que eles realmente acreditam existir em termos físicos.

Nas Antigas Leis Fundamentais, Hermes é descrito como um filósofo, rei e pastor do Egito. Ele também é o neto de Cush, que foi o avô de Noé. As Antigas Leis Fundamentais afirmam que Hermes era um astrônomo responsável pela divisão do dia em períodos de 12 horas e do zodíaco em 12 signos. Ele também inventou a escrita e “a ciência dos mergulhadores”. Hermes também era descendente do Titã chamado Atlas e de Prometeu, que roubou o fogo do Paraíso. Essas visões maçônicas de Hermes fornecem mais informações para sugerir que ele era basicamente de natureza Luciferiana e um figura importante em nossa jomada de descobertas dos mistérios Daqueles Que Caíram.

Em meados do século XVI, um manuscrito escrito em grego foi trazido para Florença, no norte da Itália, por um monge Macedónico. Esse monge era um agente contratado por Cosimo de Mediei para procurar documentos históricos raros. O manuscrito que ele apresentou para seu patrão era uma cópia de Corpus Hermeticum, supostamente escrito por Hermes. Era uma tradução em latim do grego e acreditou-se na época que ele tivesse originalmente sido escrito em hieróglifos egípcios. Na verdade, Corpus era uma coletânea de textos Gnósticos que provavelmente foram escritos na Alexandria nos primeiros séculos da Era Cristã.

Os ensinamentos de Hermes apresentados em Corpus Hermética demonstram a natureza da divindade como “oculta, porém obviamente em tudo (...) Ele é a unidade de todas as coisas, então nós devemos conhecê-lo por todos os nomes e chamar tudo de Deus.

Essa é uma visão panteísta do mundo que é muito parecida com as crenças neo-pagãs modernas. Entretanto, a doutrina Hermética também possui uma dimensão Gnóstica ao descrever o luminoso Mundo de Deus ou Logos surgindo das trevas como um filho de Deus. Cellanius disse que Hermes chamou o sol de “deus invisível” e o governante do Universo (Harmônica Macrocosmia, 1660). Há também uma menção a Demiurgo, descrito como deus do fogo, que criou os sete governantes - os regentes angelicais dos sete planetas clássicos.

Na Hermética, uma entidade chamada Pimander aparece em um sonho para Hermes e o instrui sobre a natureza de Deus e seu relacionamento com a humanidade. Pimander diz a Hermes que para se tomar um ser espiritual ele deve “conhecer a si mesmo” porque “aquele que conhece a si mesmo vai além de si mesmo”. Pimander diz que somente um homem (um ser humano) que tenha intelecto pode então conhecer a si mesmo. Essa é a essência da Gnose ou autoconhecimento do Divino expresso por meio dos ensinamentos ocultos das tradições Luciferianas. Ele é resumido pelas palavras entalhadas acima da entrada do oráculo de Delfos: “O, homem, conhece a ti mesmo e conhecerás os deuses

A doutrina Hermética também implica que o Criador do Cosmos, o Ser Supremo, o Deus dos Deuses, não foi responsável pela criação do mundo. Essa foi tarefa de Demiurgo, ou o Filho de Deus, e os sete governantes que ele criou. Em Corpus Hermética: “Adão é mais que humano, ele é divino e pertence à raça dos demônios estrelas, os governantes criados divinamente (...) Diz-se até que ele é o ‘irmão’ do mundo criativo - demiurgo - filho de Deus, o ‘segundo deus’ que move a estrela” (Yates, 1969:27). No Livro De Lumiel, um manuscrito esotérico não publicado distribuído pela Ordem da Estrela da Manhã, Adão e Eva eram os líderes do chamado “povo raio”, de natureza puramente não-material. O Jardim do Éden também não existia no mundo físico, mas estava no plano espiritual. A queda da humanidade foi na verdade a queda de uma raça não- física do espírito para a matéria. O Livro de Lumiel diz como o “povo raio” caído cruzou com os humanos primitivos. Desse cruzamento nasceram os gigantes ou Titãs. Como resultado desses eventos, Lúcifer foi considerado culpado, como o anjo do intelecto, por se intrometer em assuntos humanos, e banido do reino dos céus.

De onde veio a cópia da Hermética levada para a Itália pelo monge grego? Suspeitas apontam para a lendária cidade de Harã, fondada 4 mil anos antes na Mesopotámia, que se acredita ser a cidade bíblica de Ur. Hará foi colonizada pelos assírios e durante muitos séculos foi o centro da adoração do deus da Lúa Sin. Harã também foi uma cidade habitada por muitos sabeus ou adoradores da estrela e no século VI d.C. eles reverenciavam Órion como o “Senhor dos Cães”. Seus habitantes eram pagãos praticantes até o século XII d.C., quando a cidade foi destruída pelas hordas mongóis. Assim como o Corpus Hermética, o Harranites também possuía muitos outros manuscritos gregos sobre Alquimia e Medicina, que os mais velhos haviam traduzido do árabe. Os sabeus de Harã fizeram peregrinações constantes para o Egito para adorar as pirâmides, pois eles acreditavam que elas foram erguidas pelos antigos deuses estrelas. Isso levou alguns escritores a concluir que eles tinham o conhecimento estelar dos egípcios e os segredos astronômicos das pirâmides. (Gilbert, 2000:80)

No século VIII, o muçulmano Califa Umar II fundou uma universidade em Harã, e isso atraiu Hermeticistas da Alexandria. Aparentemente, esses ocultistas eram bastante elitistas, pois se recusavam a revelar seus segredos para qualquer um, exceto para aqueles que tinham sido iniciados, caso seus conhecimentos das artes e ciências fosse adulterado pelo comum. Alguns desses magos até mesmo alegavam serem descendentes diretos de Hermes Três-Vezes-Maior. Eles também alegavam ter escrito os Livros de Edris, o nome muçulmano para o Enoch, que eles identificaram com Hermes. Essa identificação entre Hermes e Enoch levou alguns ocultistas renascentistas a acreditar que a Hermética tinha origens anteriores ao dilúvio. Esses hermeticistas construíram templos “dedicados aos espíritos” e “construções de sabedoria mágica”. Alguns deixaram Harã e viajaram para o oeste, em direção à índia e China, divulgando o evangelho de Hermes.

Uma segunda classe de ocultistas em Harã específicamente se auto intitulava de “Irmandade de Hermes” e eram guardiões da Gnose. Um escritor do início do século XVIII disse: “eles a preservaram, geração após geração, até os dias de hoje Um terceiro grupo alegava ser descendente da irmã de Hermes, que foi chamada de Theodios Trismegistus. Eles “se miscigenaram com alguns estrangeiros”, e seus conhecimentos 

eram assim passados para pessoas fora do grupo. A quarta classe era chamada de “andarilhos” e consistia de estrangeiros que tinham se misturado com “as crianças de Hermes”. Foram eles, provavelmente sabeus nativos e Harranites, que abandonaram a adoração à Alá pela adoração às estrelas e constelações.

Há evidência de que, durante as Cruzadas, cavaleiros cristãos visitaram Harã. Os Cavaleiros Templários certamente ocuparam os arredores de Edessa (uma das cidades supostamente construídas porNimrod). Há também uma capela cristã em Harã de arquitetura cruzada. Ela fica próxima de um mosteiro muçulmano, e os dois prédios compartilham um mesmo hall de entrada. O escritor wicca Donald Hudson Frew viu isso como um exemplo de notável grau de tolerância religiosa em Harã. Foi um lugar onde o paganismo, o Hermeticismo, o Islã e o Cristianismo sobreviveram harmónicamente próximos uns dos outros.

Drew, que escreve para o jornal americano The Pomegranate (fevereiro de 2000), parece acreditar que o neo-platonismo, fundado por Plotino no século III, teve uma influência importante na tradição Hermética em Harã. Ele menciona a teoria de Plotino sobre Aquele de onde emanam todos os seres de uma hierarquia consistindo de mente (demiurgo e os deuses), almas (os Demônios) e finalmente a matéria. De acordo com Plotino, “todas as coisas estão tanto emanando quanto retomando para Aquele e existem simultaneamente em todos os níveis da hierarquia.’ ’ Muitos dos neo-platonistas sintetizaram a adoração aos deuses pagãos e eram devotos dos mistérios de Mitra e ísis. O neo-platonista do século IV Macrobius tentou reconciliar todas as religiões pagãs. Ele também alegava que todos os deuses eram aspectos do deus Sol e todas as deusas eram aspectos da deusa Lua, e eles estavam unidos n’Aquele. Essa visão foi modificada pelo ocultista do século XX Dion Fortune, conhecido por dizer: “Todas os deuses são um deus e todas as deusas são uma deusa ”. Essa idéia foi aceita por muitos Wiccas modernos, que não parecem entender que isso não está relacionado com o deus bruxo e a deusa bruxa, já que eles são divindades específicas.

Nesse artigo, Drew refere-se ao pupilo de Plotino, Iamblichus, que favoreceu a abordagem d’Aquele chamado de “criador de Deuses” ou teurgia. Tratavam-se de rituais mágicos para contatar Deus, e suas fontes incluíam a Hermética, material payri mágico grego e os oráculos caldeus,

que se acreditava terem sido originados com Hécate e outras divindades. Foi creditado ao mago neo-platônico do século II Juliano, que editou e compilou os Oráculos Caldeus de Zoroastro. Foram dados a ele poderes mágicos incríveis, incluindo a habilidade de invocar os deuses, controlar o clima e viajar espiritualmente na forma astral. Essa forma de teurgia se focava em duas formas separadas de “criação de deuses”, possessão por divindades e a manufatura de estátuas ou imagens que pudessem ser animadas por espíritos ou deuses. Diz-se que, quando a Academia em Atenas fechou no século VI d.C., muitos neo-platonistas foram para Harã. Ali eles fundaram uma nova academia, que perdurou pelos seiscentos anos que se seguiram.

É significante o fato de que o imperador Julián, conhecido popularmente como o Apostato, por tentar reviver o paganismo após o Cristianismo ter sido aceito como a religião oficial do Império Romano, tenha visitado Harã em 363. Enquanto esteve na cidade, Julián consultou os oráculos no templo do deus Lua. Ele recebeu o aviso de um desastre iminente, mas ignorou o aviso. Em sua batalha seguinte, ele foi morto por um assassino cristão infiltrado em seu exército. Seu corpo foi carregado por toda Harã, e a cidade foi a única do Império Romano a declarar luto público por sua morte.

A tradição hermética, como foi expressa na Renascença, tem sido descrita como uma mistura entre paganismo, Gnose e magia cerimonial. Os aspectos mágicos vieram de um trabalho chamado O Picatrix, escrito no século XII de fontes árabes. Acredita-se que seja de origem sabéia e provavelmente veio de Harã. Ele lida principalmente com a manufatura de talismãs, mas o seu tema central é a descida forçada dos spiritus (espíritos) em matéria (matéria). Também lista as imagens mágicas dos espíritos planetários e fornece informações sobre correspondências mágicas exigidas para evocá-las. De fato, foi um dos mais completos grimórios da magia prática.

Escritos sobre Hermes Trismegisto, e o fato dele ser frequentemente associado a sociedades secretas, Paris (1990), trazem o seguinte ponto: “Os famosos segredos dos grupos esotéricos não são tão secretos quanto rituais nos quais os não iniciados são trazidos a um certo nível de consciência em que eles podem entender algo até então não 

disponível para suas consciências. Na maior parte do tempo, o segredo não é nada além da habilidade de ver o que já está lá, que é o objetivo da iniciação.

Isso, posto de forma simplificada, é a chave escondida para entender tanto a Hermética quanto as tradições Luciferianas, e como elas estão interligadas pela figura mítica de Hermes-Thoth. O seu objetivo maior é resumido por Pitágoras na frase: ‘‘Livrando-se do corpo mortal, chegarás à mais pura essência, serás um deus, imortal, incorruptível, e a morte não terá poder sobre ti... ”