sábado, 4 de novembro de 2017

Culto da Serpente Negra Parte 2


Kennth Grant
Cults of the Shadow, Capítulo 10. Frederick Muller, 1975.


MICHAEL BERTIAUX faz alusão à ‘um antigo provérbio Atlanteano que afirma que na hora do orgasmo o órgão sexual brilha como um espelho mágico’. Ele continua: ‘isto é indubitavelmente devido à radioatividade, uma vez que o brilho e a própria radioatividade são ambos formas da luz astral’.

A radioatividade sexual depende e pode ser produzida somente por um refulgir voluntário das energias sexuais em dimensões astrais. O coito realizado pelo não iniciado, portanto gera somente uma quantidade mínima de energia radioativa, e ela é rapidamente dispersada pela operação dos pensamentos descontrolados e caóticos e pela imaginação indisciplinada.

Em todas as formas de magick, a imaginação ou a faculdade de criar imagens é o fator mais importante. A imaginação plenamente treinada é capaz de visualização prolongada e vívida que se torna criativa somente após períodos de disciplina mágica intensa. Na fórmula de Crowley a ‘lucidez erato-comatosa’, a prática de Spare de ‘sensação visualizada’, o poder de Fortune com seu ‘sonho lúcido’, a fórmula de Dali de sua ‘atividade crítico-paranóica obsessiva’, em meu próprio sistema de controle onírico, e aqui, no sistema de Bertiaux da ‘engenharia esotérica’, a imaginação – energizada pelas energias sexuais – é completamente estabelecida para funcionar em níveis astrais. É como se o magista fosse capaz de sonhar ainda desperto; e, a fim de se alcançar esta consecução, ele deve ‘viver’ em dois mundos simultaneamente, mas também entre estes mundos, transportando as energias sutis do plano astral para a atmosfera mais densa da consciência mundana onde a imagem onírica pode congelar e reificar-se no imediato ambiente físico do magista.

Energias radioativas liberadas pelos magistas que utilizam a Corrente Ofidiana são tão poderosas que quando funcionam em sua carga total de capacidade mágica, são poucas as pessoas que são capazes de agüentar sua presença. A aura de Crowley, p.e. era altamente carregada com esta energia; isso gerava em algumas pessoas um medo por ele completamente inexplicável. MacGregor Mathers descreveu este encontro com Altos Adeptos em termos, sugerindo apenas condições similares, e é bem conhecido o fato em que Éliphas Lévi inspirou pânico no espírita e médium D.D. Home.

Bertiaux faz alusão a uma passagem em que a energia radioativa é elevada de sua esfera para o Exterior via a quarta dimensão. Durante a ausência do magista seu escudo radioativo permanece pairando sobre a área consagrada de sua operação mágica até que ele seja liberado. Ele é então projetado em um espaço ‘mais elevado’ onde atua como um veículo ou reservoir da energia do magista, um reservoir sobre o qual ele pode se retirar para operações em outras dimensões: ‘Tais esferas são freqüentemente avistadas pelos físicos que pensam serem Ufos ou discos voadores, ao passo que elas são na realidade suprimentos de radioatividade sexual em reserva’.

A Iniciação Sexual, de acordo com o sistema do Culto da Serpente Negra consiste na consagração do Alto Sacerdote enquanto tal. Ele é assim unido aos princípios ocultos ou leis do universo através da união sexual com as doze influências zodiacais em sua incorporação humana. Diferentes mulheres são selecionadas de acordo com suas afinidades em relação a cada uma destas influências. As Sacerdotisas – ou ‘diabas’ como elas são chamadas no Culto – são as incorporações psico-sexuais das influências representadas pelos signos do zodíaco.

Para operações especificamente mágicas, mulheres consagradas aos signos da Terra e da Água são escolhidas porque nestes signos as ‘forças e poderes são ricos e densos, como pesadas substâncias em calda, mel ou sirops-des-bon-bons, e a magie ou sourcellerie é mais tangível, e mais óbvio a percepção elemental’. Mulheres incorporando qualquer um dos outros seis signos são também admitidas ao Culto, mas os estereótipos que se relacionam a Terra e a Água são mais cobiçados, como também ‘aqueles signos do Ar e do Fogo que são modificados pela a Água e Terra elementais [...]. Mas a união da Terra e da Água produzirá a mistura densa desejada’. O Culto seleciona suas Sacerdotisas ao longo de linhas Astrosóficas. Na antiguidade a magick sexual fora fundamentada sob a absoluta ciência Astrosófica, i.e. o uso mágico do zodíaco. No Culto de Thelema de Crowley, p.e. a Mulher Escarlate é identificada ao signo de Capricórnio, o signo das forças telúricas elementais, ou ao Escorpião, o veículo das forças Uranianas.

Embora o macho possa ser o Alto Sacerdote em mais de um templo ou conven Vodu, a Alta Sacerdotisa opera somente em um templo, e este é sua mandala; a expressão, em termos das energias manifestas, de seus poderes mágicos. O Culto da Serpente Negra desenvolve o kali-kalas na mulher de forma que ela seja capaz de realizar sua Verdadeira Vontade como uma sacerdotisa das ‘forças profundas e negras do Espaço Infinito’.

Estes aspectos do Culto se aplicam também a relações sexuais mundanas:

Se existe uma ligação entre os seres humanos, deixe-a ser através da Lua nos signos da água, pois esta é a base mais perfeita para as relações sexuais. Deixe que todos os amantes busquem primeiramente seus companheiros da Lua, e então o amor virá a partir desta realidade.

Porém tais considerações astrológicas não estão baseadas nas zonas de poder físico e suas influências:

Nós não aspiramos estar ensinando astrologia, que é dividida em várias escolas de métodos e reivindicações conflitantes. Nós nos preocupamos em dar os significados esotéricos da magia e da metafísica, que estão associadas com os símbolos do zodíaco, pois nós rejeitamos a possibilidade objetiva de qualquer método astrológico válido, e afirmamos que a influência das estrelas é não existente, pois existe realmente apenas a influência dos símbolos da consciência nos limites das esferas da experiência interior e exterior, que dirigem e integram as várias energias e estruturas da consciência em padrões significativos e mágicos. É isso que nos interessa.

E novamente:

Não é verdade que se uma pessoa nascida em um certo dia ela é automaticamente do signo que a astrologia convencional diz que ela é. Ao contrário, o signo de cada pessoa é determinado inteiramente por fatores esotéricos apenas. Não existe método físico de astrologia que tenha validade para qualquer pessoa, muito menos para toda raça humana.

Crowley possuía reservas similares e isso é notado em sua entrada em seu Diário Mágico datada de 21 de Novembro de 1914:

Se existe qualquer verdade na Astrologia, certamente o momento do nascimento do Elixir deveria determinar sua carreira. Portanto deixe-me invariavelmente erigir uma imagem genética para o logos ou sêmen no momento de sua criação a partir dos elementos que o compõem.

Os iniciados do Culto da Serpente Negra usam um símbolo especial como um trampolim para os aethyrs ou dimensões extraterrestres. Ele é conhecido como o ‘símbolo da liberação’ e é na forma de um cubo quadri-dimensional. A concentração mental neste símbolo induz a uma profunda auto-hipnose que libera o corpo astral e capacita-o a passar através do cubo para dentro de outras dimensões. É interessante notar que alguns Surrealistas experimentavam por este método de astralização por volta dos anos vinte e anteriormente – como no caso de Austin Osman Spare – experiências psíquicas de grande valor mágico. A experiência é comunicável. Muitos são os que olhando uma pintura ou escutando uma peça musical, têm compartilhado as sensações de ‘alteridade’ conferidas ao trabalho pelos artistas que o criaram.

Cubo Quadri-Dimensional.
Símbolo de Liberação usado por Adeptos da Serpente Negra

Justaposições incomuns de cores, uma massificação misteriosa de sombras, estranhas perspectivas tais como aquelas introduzidas por Delvaux, têm o poder de mergulhar a mente em abismos de pesadelos aeônicos. Os estranhos espectros de Max Ernst; os pavimentos de Dali assombrados pelas sombras alongadas do crepúsculo; os cubos quadri-dimensionais de Bertiaux e seus retratos astrais dos ‘Deep Ones’ a partir dos golfos do espaço, são todos elementos potentes para liberar a mente de suas mundanas limitações, permitindo assim o completo florescer do ideal obsessivo. Todos os mantras da magick e os encantamentos da feitiçaria são vibrados e emitidos com a intenção de liberar a consciência de sua escravidão do corpo físico.

O ponto de entrada em reinos desconhecidos difere no caso de cada individuo que faz do símbolo de liberação seu ponto de partida, porém, uma vez que este ponto seja descoberto o corpo astral passa através do portal com espantosa facilidade. Ele se encontra subitamente em um mundo completamente novo – contudo estranhamente familiar – e é somente após entradas e explorações repetidas que a maestria das novas condições é alcançada. Energizada pela magick sexual, a meditação gera uma energia propulsora que arremessa o Adepto profundamente para dentro do espaço interior.

É neste momento aespacial e atemporal da projeção através do ponto de entrada que o Adepto ‘sonda as profundezas e faz os alinhamentos sagrados’. Este é o momento indescritível que celebra o nascimento da Verdadeira Imaginação, a contradição em termos que indica o poder (shakti) na raiz do ocultismo criativo conforme exemplificado por tais Adeptos como Lévi, Blavatsky, Crowley, Spare, Bertiaux, Grant e etc. O exercício constante desta Imaginação verdadeiramente mágica desenvolve uma nova faculdade de apreensão que se torna cósmica em escopo. Os maiores trabalhos de arte e, portanto a magick são formulados e projetados enquanto a mente habita estas dimensões desconhecidas. Esta é a verdadeira mística do Gênio, e é um dos objetivos do Culto da Serpente Negra engendrar este gênio pela vontade.

Michael Bertiaux encarnou em 21 de Janeiro de 1935, o Sol estando em Capricórnio e a Lua no signo do Escaravelho, ambos, Sol e Lua estando em conjunção mágica. Seu ascendente, Leão, completa a tríade dos signos bestiais que explica, quem sabe, sua afinidade com o mundo animal e com a fórmula da Resurgência Atávica que Spare tornou o pivô de seu sistema.

A fórmula de Spare é desenvolvida por Bertiaux no curioso Grau da Licantropia, que constitui um dos quatro Graus do Couleuvre Noire. Ela encontra expressão também no Conven de Lovecraft que é conduzido por uma Sacerdotisa do Culto da Serpente Negra. O Conven é estruturado a partir das leis básicas de polaridade sexual. O principio feminino é representado pela besta dos oceanos, o bode marítimo cujo totem é Capricórnio. O mito de Cthulhu de Lovecraft é representado pela cidade chocadeira de Innsmouth. A Sacerdotisa (Sol em Capricórnio, Lua em Escorpião) incorpora uma espécie de shakti-marítima, ou elixir fluído, tipificada por sua vez pelas deidades Atlanteanas das quais Dagon foi o chefe. Ela copula com o principio masculino como o Bode (besta-marítima) e ‘animais cabeludos ligados ao lobisomem’ que habitam a grande profundeza. O principio masculino é equiparado com o campo de Dunwich; o terreno escuro cujos habitantes degenerados abandonaram de seu meio os atavismos mais nojentos e abomináveis. A corrente mágica é concentrada em Shub-Niggurath  que – no Conven de Bertiaux – representa a energia masculina em sua forma cega e bestial; o ‘Bode com mil anos’ sendo as shaktis ou veículos femininos de sua manifestação. Bertiaux, como Alto Sacerdote, promulga o rito de Licantropia pelo fechamento do círculo, janela, ou caverna através dos quais os Great Old Ones ingressam. Ele impregna a Sacerdotisa com a semente da besta-marítima, co-criando com ela o teratoma que manifesta os atavismos latentes nas profundezas.

O Conven deriva-se do Vodu no sentido que ele utiliza os ritos do Caminho da Mão Esquerda combinados com a metafísica do mito de Cthulhu. Este estrato particular da corrente do Vodu gera poderes mágicos pela animação dos dezesseis centros genitais, as zonas de poder refletidas dentro da matéria pelos dezesseis cakras metafísicos do cerebelo. Assim refletidos, ou duplicados, estas são as trinta e duas zonas de poder de Erzulie-Frieda, que no Vodu é equivalente a Kali. ‘Estes trinta e dois centros produzem certos acoplamentos de força, sobre os quais o Tarot dos Ofidianos baseia seus poderes divinatórios.’ Certas zonas de poder vitais conhecidas como points-chauds (pontos quentes) projetam as shaktis ou energias representadas pelas cartas. Este Tarot resume em símbolos o mecanismo completo da engenharia esotérica de Bertiaux conforme refletido no Conven Licantrópico do Culto da Serpente Negra.

A corrente mágica que floresceu na fantástica arte de Michael Bertiaux produziu – nos dias de Lovecraft – as extraordinárias criações de Clark Ashton Smith, e Austin O. Spare que contribuíram muito para o desenvolvimento da corrente. O Conven Lovecraft é o sétimo raio do Monastério dos Sete Raios. Este é o raio da magia cerimonial formando um corredor de espaço-tempo entre Yuggoth (Plutão) e os últimos planetas transnetunianos representados na Árvore da Vida por Kether e Chokmah respectivamente.

Em 1973, Bertiaux erigiu uma ‘Estação de Transmissão Trans-Yuggothiana’ em sua residência particular para capacitá-lo na aquisição de mais material para trabalhos futuros sobre os planetas e para estabelecer contato com os ‘adeptos do espaço Zothyrio, Genii, e os Espíritos Vodu Bön-Pa’ dos quais ele recebe comunicações incorporadas e as descreve em seus Papeis de Grau. Ele fora instruído no tráfego com estas entidades por Jean-Maine, seu ‘Mestre e Initiateur’.

De acordo com August Derleth, o homem que continuou a tradição literária dos mitos de Cthulhu dos trabalhos de Lovecraft, certas partes de Wisconsin contém zonas de poder específicas, cuja mais poderosa fica nas proximidades de um lago deserto. Um pequeno grupo de iniciados dirigidos por Bertiaux freqüentemente visita esta região com a intenção de evocar os Deep Ones, cujo portal de entrada para o plano terrestre fica nos limites do lago. O rito é efetivado quando o Sol se encontra em um dos Signos da Água no zodíaco: Câncer, Escorpião ou Peixes. Isso harmoniza os magistas com a natureza dos seres evocados, Câncer e Escorpião sendo os melhores signos para este tipo de operação; e se Júpiter, Lua e Plutão estão nestes signos, os resultados são espetacularmente bem sucedidos, pois as criaturas assumem uma substância quase tangível.

Antes que a Operação tome início, certas chamadas elementais são proferidas e imagens mágicas são consagradas com os kalas especiais da Sacerdotisa-Marítima. O mais poderoso destas chamadas elementais é o encantamento Francês-Crioulo composto especialmente para ser utilizado no Culto dos Deep Ones. Nenhum instrumento musical acompanha o encantamento que em si mesmo é potente para realizar as forças requeridas.

O Culto dos Deep Ones floresce em uma atmosfera úmida e fria, o posto exato do calor extremamente quente gerado pela iniciação cerimonial que inclui os ritos licantrópicos que evocam os habitante do lago. Os participantes neste estágio se emergem na água gelada onde uma transferência da energia magico-sexual ocorre entre sacerdotes e sacerdotisas enquanto estão naquele elemento. Isso é muito comum na bruxaria Cigana onde ela combina com as práticas Vodu no qual a água fria é usada para despertar a positividade feminina ou o magnetismo. A manifestação positiva dos eflúvios femininos serve para invocar as manifestações positivas no macho. Dion Fortune elaborou os princípios deste dinamismo feminino-masculino em várias de suas novelas.

A intensa pesquisa de Bertiaux sobre os mecanismos da magick sexual o capacitou a elaborar um diagnóstico particularmente criativo de certos tipos de inversão sexual baseados em um detalhado estudo dos cakras na região genital:

Muitos estudantes do oculto parecem pensar que a homossexualidade é devida haver uma alma feminina em um corpo masculino, ou o reverso. Isso não parece ser verdadeiro demonstrando que uma alma com uma disposição sexual encarnou em um corpo possuindo uma disposição sexual que não seja a da alma, pois a alma irradia sexualidade na morte. Contudo, o equilibrado desenvolvimento oculto dos centros de magnetismo, os chakras, não mostra nenhuma possibilidade de desequilíbrio sexual. Por exemplo, se certos chakras fossem mais desenvolvidos em uma pessoa do que outra de uma maneira sexual, Yesod I sendo mais forte que Yesod II no homem, ele seria levado a fazer práticas de um sodomita passivo. Se o seu chakra Kether II (garganta) tem um certo hiper desenvolvimento sexual, o homem em questão seria levado a praticar intercurso sexual oral passivamente. Em ambos os casos a homossexualidade passiva é o resultado, porque o centro de Câncer, ou o chakra fálico do parceiro deve ser introduzido no centro Yesod I ou Kether II. Uma pessoa assim, assumindo ser basicamente um macho, é em comportamento sexual uma fêmea, tendo duas vaginas, Yesod I e Kether II.

Na análise sexual feminina, a vagina é regida por Lua em Escorpião, ao passo que nos homens essa é uma característica atribuída à base da espinha. O Sol em Câncer rege o falo, e nas mulheres, a base da espinha. Assim, a diferença sexual entre homem e mulher, é a diferença entre os regimentos designados entre Yesod I e II. Se fosse de outra maneira a atração magnética perfeita entre os sexos não seria possível sendo o corpo físico o instrumento de energias ocultas.

O muladharacakra ou o centro basal no homem é o portal para o plano astral, para o reino habitado pelas entidades do espírito, cascões dos mortos e as criaturas dos Qliphoth. Os Adeptos da Serpente Negra às vezes empregam uma técnica Tibetana antiga para despertar a Kundalini adormecida. Eles aplicam na base da espinha um bastão eletro-magnético que galvaniza as zonas eróticas, evitando assim que o fogo liberado campeie para baixo (i.e. para fora) e se dissipe na conflagração da sexualidade autodestrutiva. O poder sexual deste cakra é relacionado diretamente ao plano astral através das quatro fases lunares básicas. A Lua Nova representa o aspecto mais vital da corrente lunar; sua energia é ainda virgem, não desperta; sua vitalidade é potencial, latente, não patente. Esta fase é relacionada aos três Signos da Água, Escorpião, Peixes e Câncer, oculto, místico e criativo respectivamente. A Lua Crescente representa a construção e consolidação do poder que surge do estado potencial ou virgem. Esta fase é representada pelos Signos da Terra ou reificantes, Touro, Virgem e Capricórnio. Touro é o glifo astrológico da força bruta, e seu magnetismo correspondente é de um tipo sensual pesado. É o signo da paixão sexual não adulterada e luxúria; o signo que Crowley – como o Hierofante – adotou para seu Tarot particular. O magnetismo sexual de virgem, por outro lado, é do tipo puramente humano, e como uma fórmula técnica com referência ao cakra genital, representa o exercício de controle do fluxo seminal; sua fórmula, portanto, é conhecida como Karezza: o orgasmo é suprimido ou atrasado a fim de desenvolver uma grande tensão elétrica. É na fase Capricorniana da Lua Crescente que o magnetismo sexual bruto é transformado em poder mágico real através dos processos rituais de iniciação. Quando Touro está no macho – Therion, a Besta – Capricórnio é o glifo da Mulher Escarlate com quem ele se acasala em uma ‘beatitude blasfema’.

Nestas três formas de corrente lunar, o epítome do magnetismo astral coletivo pode ser usado para: (a) resurgência atávica; (b) o desenvolvimento da energia oculta via Karezza; e (c) transformação espiritual através da união sexual com entidades extraterrestres – ‘deuses’, ‘demônios’ ou ‘espíritos’, pois ‘as grandes escolas de Mistérios ensinam que o deus nasceu de uma Virgem tendo um pai divino. Isso significa que a mulher pura evita o sensualismo de Touro fugindo para o templo de Capricórnio, onde a concepção do salvador do mundo ocorreu’.

A Lua Cheia é relacionada aos três Signos do Fogo: Sagitário, Áries e Leão. Esta fase da Lua se relaciona ao fenômeno da completude no sentido alquímico no qual Sagitário representa tanto a chuva quanto o arco-íris.

A Lua Minguante é regida pelos Signos do Ar: Libra, Aquário e Gêmeos. Suas analogias no organismo humano provem a chave para o retorno do homem aos Deuses. Libra representa a Mulher Realizada; Aquário é a Estrela, o produto da Mulher que veio a terra para liberar a humanidade; Gêmeos representa a natureza gêmea da estrela sob o mito-glifo de Seth-Horus, os pólos negativo e positivo que circundam a estrela.

Ao passo que através de Câncer, na Lua Nova, o homem aspira e alcança a divindade; através da Lua Minguante – regida pelos signos do Ar ou Espaço – os Deuses atingem o homem e se unem com ele nesta fase lunar.

Bertiaux traça conexões entre os Loas Vodu e os Tulkus Tibetanos do Bön-Pas e Nigma-Pas, a Seita Negra do Lamaísmo. Ele equipara os Gelugpas com o Loa Arada do Vodu, e o Karma-Pas com o sistema Petro que exalta Erzulie Rouge et Noire, que é idêntica com a Mulher Escarlate e a Deusa Tântrica Kalika.

O Renascer da Magia, contém um retrato por Crowley de uma Inteligência extraterrestres chamada Lam. Enquanto trabalhando com a corrente Bön-Pa nos anos sessenta, Bertiaux contatou esta entidade. Em uma carta particular datada de 21 de Março de 2004 ele escreveu:

Sem dúvida alguma este é o mesmo ser que trabalhou com Lucien-Francois Jean Maine. [...] quando ele organizara o trabalho da Couleuvre Noire nos anos vinte. Foi então que a teoria dos points-chauds tomou uma forma xamânica e tântrica oriental bastante forte, e o termo Les Siddhis foi empregado para representar um estágio no desenvolvimento dos points-chauds, tais como a Licantropia e etc. Estes ser, LAM, de fato possui um sistema mágico interessante o qual ele deseja que nós façamos uso e é minha intenção devotar muito tempo a apresentá-lo em linhas gerais.

As pesquisas de Bertiaux estabelecem uma identidade prática, portanto, entre os Mistérios Tibetanos do Tantra Xamânico e o Vodu Haitiano.

Conforme previamente observado, em Agosto de 1973, o Monastério dos Sete Raios, e seu culto interno – La Couleuvre Noire – oficialmente aceitou a Lei de Thelema, assim se alinhado com a Corrente 93 conforme exemplificada por Crowley e pela O.T.O.

Em um artigo intitulado Aleister Crowley & os Gnósticos Haitianos, Bertiaux, escrevendo sob o pseudônimo de Frater Joseph, observa que ‘já existia uma Ordem comparada a O.T.O. de Karl Kellner e Theodor Reuss. Eu me refiro a Ordem e o Rito criados por Toussaint-Louverture que formou-se através do cabalismo Francês, iluminismo, e as correntes Africanas Dahomeianas [...].’

Bertiaux vai mais além para dizer que os mistérios do Vodu ‘estão bem próximos aos trabalhos do Grau VIIIº e IXº O.T.O. [...] os mysteries de la solitude e marriage mystique’ e ele mostra como um acréscimo por Crowley de um XIº Grau comparou-se a certos mistérios altamente esotéricos do Vodu, ambos os quais provam que havia um desenvolvimento ou evolução das teorias da magick sexual que existiam Graus secretos de consecução não contemplados pelos fundadores desta Sociedade Oculta.

Em Aleister Crowley & o Deus Oculto eu analisei o XIº Grau, tanto em relação à interpretação de Crowley (a qual eu questiono), e seu significado esotérico conforme sugerido por comparação de seus mistérios com várias tradições antigas. A analogia que se buscou fazer aqui é que ambos os sistemas, Vodu e Tantra, similarmente, i.e. as escolas arcanas Africanas e Orientais, aceitam e praticam os trabalhos sexuais mais desenvolvidos e representados pela O.T.O. de Crowley, não menos também que a O.T.O.A. fundada por Lucien-Francois Jean Maine em 1921-2 como uma dissidência da O.T.O. que incorpora elementos do Vodu Haitiano retirados do Culto da Serpente Negra.

À parte da similaridade – se não identidade real – das operações magico-sexuais realizadas na O.T.O. e na O.T.O.A., os ensinamentos do Monastério dos Sete Raios e do Culto da Serpente Negra tornaram claro que eles estão em concordância essencial com o ‘programa político Externo’ resumido por Crowley em Liber Oz vel LXXVII. Bertiaux tem o seguinte a dizer no Curso de Segundo Ano do Monastério:

O novo Yoga ou presença imediata corpo a corpo, da pele se misturando com a pele, de corpos se derretendo para dentro de um órgão maravilhosamente muscular, de óleos, transpiração, e líquidos corporais alcançando essa modelagem física, essa muito natural e completamente desinibida modelagem física pelo gênio da arte cósmica – sim, esse novo yoga da nova matéria viva, sim, essa nova forma de gerar identidade física, sim, essa vulgarização dos ensinamentos mais internos da Fraternidade do Monastério dos Sete Raios, sim, isto servirá para salvar a humanidade daqueles que buscariam proibir e inibir, suprimir e reprimir, em resumo ‘vestir’ o impulso básico do gênio criativo o qual o homem compartilha com os animais, que nunca perderam sua força criativa porque seus corpos nunca foram sufocados na falta de naturalidade do vestir e do hábito.

A nova liberdade da juventude contemporânea é baseada em sua percepção inconsciente da verdade básica por trás do universo. Não deveria haver inibição, que serve somente para inibir o pensamento criativo. Já se pensou uma vez que por meio da prática da inibição, o gênio criativo se tornaria possível porque a energia sexual comumente gasta na atividade sexual poderia ser usada para um fim criativo na arte, ou literatura. Nós agora sabemos que isso é falso, já que os escritos e arte daqueles mais sexualmente ativos são os maiores trabalhos do gênio: Michaelangelo, Renoir, Moreau, Redon, Huysmans, des Goncourts, Baudelaire, Proust, etc. Portanto a velha noção de que a repressão é o prelúdio à genialidade é e sempre foi incorreta, para não dizer desesperançosamente perigosa.
O Monastério dos Sete Raios, portanto, se opõe à velha ética puritana, a qual era tão amplamente ensinada, e que ainda é ensinada pelas escolas ocultas de pensamento.




[1] Veja The Demchog Tantra (Shricakrasambharatantra, vol. VII, de Sir John Woodroffe, Tantrik Texts, para um particular exemplo).
[2] Uma fórmula baseada nos experimentos de Ida Nellidoff (uma irmã do IXº O.T.O.) que fora incorporada por Crowley em suas instruções ‘secretas’ para membros do Soberano Santuário da Ordem.
[3] O relato de Mathers é citado em Aleister Crowley & o Deus Oculto, Capítulo 1.
[4] Lévi relata o fato em A Chave dos Grandes Mistérios.
[5] Descrito no capítulo anterior.
[6] Bertiaux chama a atenção para o sinônimo entre os termos ‘leis’ e ‘loas’. Os loas ou ‘invisíveis’ são os princípios espirituais que operam atrás do universo fenomênico.
[7] I.e Touro, Virgem, Capricórnio e Escorpião, Peixes, Câncer respectivamente.
[8] Libra e sagitário; Aquário e Áries.
[9] Comunicação privada datada de Abril de 2004.
[10] Escorpião, Peixes e Câncer.
[11] Itálicos pelo presente autor.
[12] Itálicos pelo presente autor.
[13] Austin Osman Spare, O Grimório Zoético de Zos.
[14] O Conven de Lovecraft é inspirado nos escritos de H.P. Lovecraft (1890-1937), o escritor da Nova Inglaterra cujos contos de horror se igualam e às vezes até mesmo superam os contos de Poe, Machen, Blackwood, e outros. O maior tema dos trabalhos de Lovecraft é referente aos ‘Old Ones’, deuses que uma vez reinaram sobre a terra e foram banidos para distantes golfos do espaço muitos aeons atrás e que desde então buscam pela eternidade seu retorno, e que – como em alguns contos – estabelecem contato com seres humanos, o que faz com que sua ânsia de retorno aumente. Veja particularmente The Whisperer in Drakness em The Haunter of the Dark and other Tales of Horror.
[15] Veja The Shadow over Innsmouth de Lovecraft.
[16] De acordo com Lovecraft, Dunwich é um ambiente decadente de Massachusetts.
[17] O ‘Bode com mil anos’. Nos mitos de Lovecraft uma deidade feminina.
[18] I.e. o subconsciente.
[19] Com seus respectivos kalas.
[20] ‘Dos quais existem 16 cartas positivas e 16 negativas’.
[21] Michael Bertiaux nos papéis de Grau do Monastério dos Sete Raios.
[22] Clark Ashton Smith (1893-1961), um artista da Califórnia que fora um dos maiores interpretes visuais dos Mitos de Lovecraft. É clamado pelo Conven Lovecraft que Smith está agora trabalhando com Lês Ophites – uma Seita do Culto da Serpente Negra – do ‘outro lado’.
[23] Em outras palavras, seu Sagrado Anjo Guardião.
[24] Local onde Derleth estabeleceu a editora de suas publicações e das publicações de Lovecraft.
[25] Pinturas e esculturas (por Bertiaux) de monstros-marítimos, tartarugas, anfíbios e batráquios.
[26] Veja, particularmente, Lua Mágica, Ed. Pensamento, São Paulo.
[27] Base da espinha, muladharacakra.
[28] Genitália, suadisthanacakra.
[29] I.e. Yesod.
[30] Papeis de Grau do Monastério dos Sete Raios.
[31] A Lua Nova, Lua Crescente, Lua Cheia e a Lua Minguante.
[32] O Livro de Thoth, Atu V.
[33] Magick em Teoria & Prática, por Aleister Crowley.
[34] Bertiaux, instruções do Monastério dos Sete Raios.
[35] Para uma explicação apurada do simbolismo do arco-íris Aleister Crowley & o Deus Oculto, Capítulo 7.
[36] O Livro de Thoth, Atu VIII.
[37] O Livro de Thoth, Atu XVII.
[38] As serpentes Ob e Od; veja o diagrama no Capítulo 2.
[39] Os equivalentes Tibetanos do conceito Hindu de avatares.
[40] Lucien-Francois Jean Maine, nascido em 1869. Um Adepto Haitiano que conheceu Papus (Dr. Gerard Encause) em Paris. Lucien-Francois Jean Maine retornou ao Haiti em 1921 e no ano seguinte criou a Ordem Mágica conhecida como La Couleuvre Noire. Também em 1921 Lucien-Francois Jean Maine criou a Ordo Templi Orientis Antiqua (O.T.O.A.), que indubitavelmente surgiu de seu contato com Papus, que era o Gão-Mestre da O.T.O. na França, nomeado por Karl Kellner. Lucien-Francois Jean Maine morreu em Madri em 1960.
[41] Recentemente certos Adeptos da O.T.O. nos Estados Unidos conduzidos por Soror Tanith contataram esta entidade. Veja Mistérios Draconianos para o desenho de Lam por Aleister Crowley.
[42] O Oculto, vol. III, no. 1, Chicago, 1973. Revista de divulgação interna aos membros da O.T.O.A.

Culto da Serpente Negra Parte 1


Kenneth Grant
Cults of the Shadow, Cápitulo 9. Frederick Muller, 1975.


COM MICHEL Bertiaux, o Mestre do Vodu Gnóstico do Culto La Couleuvre Noire, nós entramos na atmosfera densa da decadência dos Magos de linhagem Francesa. Os aspectos desta decadência sobrevivem até hoje, e no presente momento, sua equivalência se esconde no centro de Chicago sob a sombra de Joseph Péladan, Stanislas de Guaita, Pierre Vintras, J-K Huysmans, e o sinistro Boullan, com quem Bertiaux mantém uma comunicação astral direta. Entretanto, essa atmosfera de nostalgia que circunda o Monastério dos Sete Raios, dirigido por Bertiaux, com seus ritos de cunho sombrio que invocam a presença de entidades muitas vezes indescritíveis, até o mais alto grau, dão combustível a uma atmosfera etérica de decadência. Eu me refiro aos monstros sombrios das profundezas conjurados pelo encantador Inglês H.P. Lovercraft, seres estes com quem Bertiaux clama ter estabelecido contato, os ‘Deep Ones’, terríveis inteligências do Espaço Exterior que Lovecraft trouxe para perto da terra em suas tenebrosas ficções.

A toca da Serpente Negra não é de fácil acesso como era a da Besta 666. Para conhecer a Besta, o chela tinha de ir até Cefalù, e, se atrevesse, visitar a Abadia de Thelema nos arredores na turbulenta baía dominada pelo ‘Recife Lião’. O Quartel General do Culto da Serpente Negra, embora situado em uma cidade amplamente desenvolvida, é dirigido de Leogane (Haiti), a zona de poder oculto dos mistérios negros dos quais Bertiaux é o Adepto Chefe.

Atualmente, com características que envolvem Chicago, o aspirante a esta filosofia primeiro aprende por meio de um curso de correspondência que leva mais de cinco anos para ser completado, mas que, ao contrário da maioria dos cursos desta natureza, oferece conhecimento mágico muito além do escopo apresentado por muitas fraternidades ‘ocultas’ de ensinamento superficial. Este curso é à base dos ensinamentos do Monastério dos Sete Raios que é em si o Colégio Externo do Culto da Serpente Negra. O Monastério é uma célula da O.T.O.A. ou Ordo Templi Orientis Antiqua, que incorporou em sua base iniciática as doutrinas mágicas promulgadas por Aleister Crowley. Em 15 de Agosto de 1973, a O.T.O.A. ligou-se nos planos internos com a Corrente 93 e anunciou sua oficial aceitação da Lei do Faz o que tu queres. Essa ocasião foi celebrada pela O.T.O.A. revogando sua regra anterior de não aceitação de mulheres nos Graus mais altos da Ordem.

Michael Bertiaux, líder espiritual da O.T.O.A. e do Monastério dos Sete Raios e um Alto Sacerdote do Culto da Serpente Negra é indubitavelmente um dos mais proeminentes ocultistas contemporâneos. Seu Curso de Instrução começa com uma máxima oculta: ‘o que está fora de nós é como o que está dentro, e o que está dentro de nós é como o que está fora’. Está máxima está em concordância com algumas afirmações de Krishnamurti, o ‘filho-da-lua’ de Besant e Leadbeater, e a prova da eficácia mágica da Sociedade Teosófica. Krishnamurti em relação à Sociedade Teosófica pode ser comparado a Crowley em relação a Golden Dawn; eles eram, em cada caso, o resultado de ‘real’ valor produzido por estas sociedades. Mas neste ponto a analogia termina, pois ao passo que Krishnamurti e Crowley eram, em suas respectivas esferas, ligados pela fórmula de sua herança racial, Bertiaux é uma combinação entre o branco e o negro que em contato formam um arrojado sistema de ocultismo criativo.

Este livro, como os dois que o precedem, trata da exploração do homem em regiões desconhecidas da consciência e seu tráfego com entidades extraterrestres. A concepção de Bertiaux sobre o demônio Choronzon tem fundamental importância para os devotos da Serpente Negra. Choronzon como o Guardião do portal entre o universo conhecido e o universo desconhecido – A e B – se equipara com as idéias concebidas pelo Culto das Sombras que, sem exceção, utilizam este conceito de uma maneira ou de outra. Nos Ritos Petro do Vodu, p.e. o loa é invocado pelas batidas fora do ritmo entre as batidas vibradas na cerimônia de Rada; eles assim aparecem nos vazios entre a luz e a escuridão. A fórmula desenvolvida por Austin Osman Spare para a reativação de antigos atavismos e as afirmações de Lovecraft sobre a existência de entidades não humanas nas profundezas do espaço entre as estrelas.

Historicamente falando, Dr. John Dee (1527-1608) foi o primeiro a deixar relatos concisos entre o trafego humano e seres habitantes de Abismos sem dimensões entre os universos. Três séculos mais tarde Crowley evocou uma destas entidades do Abismo, e é provável que esta evocação causou mais problemas em sua vida mágica do que os demônios de Abramelin evocados por ele anteriormente – conforme a suposição de alguns estudiosos. Bertiaux descreve este Abismo como ‘os reinos gélidos do nada chamado Meon’. Este golfo é a analogia cósmica em termos de infinito, resistência e remodicidade do infinitamente profundo com o infinitamente distante: o abismo normalmente imperceptível entre pensamentos que se submetem a consciência hiper-sensitiva, um insight súbito para dentro do real substrato do Ser. Isso somente é a Realidade, a única Realidade, e isso é Não-Ser – a fonte fenomênica da qual surge o mundo das aparências.

Crowley tinha uma compreensão de Choronzon como a incorporação de terríveis energias do caos cósmico; uma entidade contraditória que reduz cada conceito com o qual está em pleno contato para seu próprio estado indescritível de nada amorfo e fluido. Era uma característica de Crowley reconhecer esta energia como confusão, dispersão, fora de controle; e Sir Edward Kelley, anteriormente, identificara esta energia como ‘o mais terrível e obsessivo demônio chamado Choronzon’. Bertiaux, por outro lado, identifica Choronzon como o Guardião do portal entre o mundo do Ser e o mundo do Não-Ser, tratando-o em concordância com um sistema matemático-mágico de negação dinâmica ates que uma força positiva de ruptura.

Essa interpretação se aproxima bastante da sugeria por Lovecraft que, entretanto, não menciona Choronzon especificamente, mas que se refere a habitantes de dimensões sem espaço entre sistemas universais. Contudo, antes destas premissas, pré-datando até as visões de Dr. Dee, os Adeptos Chineses do Culto Ch’an já possuíam a consciência do guardião Choronzônico do reino do Não-Ser como uma experiência meditativa da consciência sem ego, pois Ser e Não-Ser são contra-partes independentes e como tal somente têm validade para a consciência limitada a um sujeito ou ego. Esta interpretação, completamente distinta de qualquer estigma de moral, retira deste conceito toda forma de horror essencial que a consciência do puro nada deve necessariamente evocar nas mentes que ainda não se dissolveram na Consciência Cósmica. No Ch’an, a construção mágica é totalmente e inteiramente naturalmente ausente, pois Ch’an é um culto místico que se encontra além de todas as categorias de meditação.

Michael Bertiaux desenvolveu um meio mágico para o controle do Abismo, i.e. Meon que o tornou o primeiro a fundar um Culto de Choronzon alinhado aos princípios ocultos formulados por Lovecraft. Lovecraft usa ficção para projetar conceitos da realidade que, nos dias de hoje, são consideradas fantásticas em demasia para apreciação de qualquer médium. Bertiaux traduz os conceitos ou valores Choronzônicos para ‘dimensões meta-matemáticas’, uma ação perfeitamente legítima onde qualquer iniciado de alto Grau pode compreender que a consciência jamais é experienciada no plural, mas sim e tão somente no singular. Isto implica que nada por completo, nem mesmo o não-ser, existe fora da mente.

O foco mágico de poder emanado destas ‘regiões negras metacósmicas’ é localizado em uma zona de poder cósmica abismal conhecida como Daäth. Ela è a undécima Sephira da Árvore da Vida que comumente é chamada de ‘falsa’. Onze é o número dos Qliphoth – o ‘Mundo das Conchas’ – que é o lócus de habitação das Sombras da Escuridão; ela é o portal de egresso para os espaços exteriores além ou atrás da Árvore da Vida. Adeptos do Culto da Serpente Negra têm trilhado este ‘secreto caminho descendente atrás da Árvore, que é muito importante para criação mágica’. Daäth significa Conhecimento, é simbolizada pela Oitava cabeça do Dragão Encurvado das Profundezas que se levanta quando a Árvore é quebrada. É significativo que o número de Daäth, 474, quando adicionado ao número de Choronzon, 333, produz 807, o número entre 806 (Thoth) e 808 (a Serpente Desavergonhada), a interpretação mágica da fórmula da Serpente de Fogo e do Deus Seth (Thoth) é ativada pela evocação de Choronzon. Este, por sua vez, abre os portais para as influências extracósmicas.

A subida na Árvore da Vida é efetivada pela ‘ascensão sobre os planos’ até que a consciência seja fundida com o mais Elevado (i.e. Kether). Afim de reíficar este estado em Malkuth[6] o processo deve ser revertido na Árvore descendente pelas costas do Pilar do Meio. Isso é equivalente ao viparita karani discutido nos Capítulos 4 e 5, em conexão com o Círculo Kaula. Similarmente, a Serpente de Fogo eleva-se no canal espinhal, o Pilar do Meio, adquirindo a consciência mágica dos cakras pelos quais ela passa em sua subida. O Místico retem sua consciência no Brahmandhra, mas o Magista a traz novamente para terra. Esta é a fórmula de Prometeu que roubou o fogo dos céus no tubo vazio. Desta mesma maneira, o Adepto Tântrico traz a Luz para manifestá-la em Maya – o mundo das sombras das imagens ilusórias.

Assim como o Tântrico descobre os poderes mágicos em cada zona de poder iluminada pela marcha ascendente da Serpente de Fogo, também o Magista adota a assunção de formas divinas de cada Sephira na medida em que se eleva sobre os planos da Árvore da Vida. As formas divinas, normalmente, são associadas a deidades com cabeça de animais da antiguidade. Desta maneira, atavismos e forças pré-humanas manifestam-se no magista que experiencia e atualiza, no plano astral, as forças e energias possuídas pelos animais em questão. Adeptos do Culto da Serpente Negra referem-se a este processo como o Mystère Lycantropique constituindo o ponto de ligação entre o Tantra e o Vodu. O Mystère Lycantropique é também o ‘Mistério do Templo Vermelho’ da Magia Atlantiana em sua forma primêva, que tem como segunda manifestação o Mystère L’Ataviqier, que possui – como o nome sugere – afinidades com a fórmula de Spare da Ressurgência Atávica.

O Caminho Secreto através dos Qliphoth nas costas da Árvore segue o caminho para baixo, i.e. para dentro, comporta a assunção de formas animalescas que correspondem aos ‘deuses’ do sistema qabalístico. Esta é uma explicação válida do lobisomem em relação a atavismos pré-humanos.

O Culto da Serpente Negra é baseado no Tantra e no Vodu. Concernente ao Tantra, ‘ele é um sistema baseado na construção de um estado sem-medo no magista ou no yogin.’ Como demonstrado no Capítulo 4, este estado é o atributo dos Bhairavas, que o alcançam pela absorção dos elixires magicamente preparados que bissexualisam o corpo humano, tornando-o auto-generativo e completo, como são os mais elevados deuses. O Tantra e o Vodu são provindos ‘da mais antiga magia Atlanteana do Templo Vermelho’, com elementos do trabalho do ‘Templo Negro’ Atlanteano. O trabalho do ‘Templo Vermelho’ envolve a invocação da Serpente de Fogo, que é a fórmula básica do Tantra, ao passo que o trabalho do ‘Templo Negro’ comporta les cultes des morte, com uma fórmula similar àquela da Postura da Morte desenvolvida por Austin Osman Spare no Culto Zos Kia, mais o Mystère du Zombeeisme.

Os dois points chauds – magick sexual (Tantra) e os ritos de morte (Vodu) – são assimilados no Culto da Serpente Negra por Michael Bertiaux que, com seus ‘diabos e diabruras’ é um dos maiores expoentes nos Mistérios de Choronzon.

A licantropia astral do Culto da Serpente Negra envolve não somente os cominhos secretos dos Qliphoth, mas um grau de projeção astral voluntária denominada Voligeurs, através do qual todos os caminhos da parte de trás da Árvore são percorridos em ‘pulos’. O segredo daqueles saltadores – em distância e em profundidade – é reunido no vevé de Marassas ou Gêmeos. “As Três Colunas são dadas neste desenho com a Coluna central marcando a unidade. Em meu próprio trabalho eu cruzei estas três colunas com o bastão mágico de Saturno, ou Guedhé Nibho, de modo a produzir um modelo para os caminhos dos voltigeurs, assim como os caminhos secretos para as escolas de Iniciação Vodu.” Isso nos dá um ‘diagrama mágico completo’ da Iniciação Vodu:

A ordem mágica da hierarquia das costas da Árvore está sob a égide de Choronzon, Senhor do Caminho Descendente e Guardião do Pilono de Daäth. O número 333 (Choronzon) é também o número do Chacal ou da Raposa (ShGL), o hieróglifo de Shaitan-Aiwass que Crowley invocou como o Supremo Daemon de Thelema (Vontade). Daäth significa ‘conhecimento’ no sentido que a palavra é usada na alegoria bíblica da ‘Queda’; o ‘conhecimento’ que abriu os olhos do homem para a natureza criativa do poder fálico-solar no interior de si mesmo, em especial relação com a mulher que é a manifestação externa deste poder (shakti). Este pilono (Daäth) é o Portal para as costas da Árvore e tem a representação planetária de Urano que é também o Portal para a magick sexual de Seth ou Shaitan, como é praticada no XI° O.T.O.

O uso dos caminhos atrás da Árvore e a evocação das Sombras são carregados de inúmeros perigos porque, conforme observado, os Qliphoth são as sombras destes caminhos, muitos dos quais são sem saída e sem egresso. Cair em alguma armadilha nestes caminhos é entregar a consciência as mais malignas influências encontradas pelo magista. A loucura e a morte reivindicam àqueles que se extraviam nestes caminhos. Estando o magista em um caminho sem saída, e se a força dele é dirigida ao longo deste caminho, ela retrocede contra ele como um bumerangue carregado com a força maligna adicionada as influências psíquicas agregadas por ele durante os seus ‘saltos’.

Apesar do perigo inevitável e constante de super-simplificar estas questões complexas e ocultas, pode ser sugerido que ao passo que o aspecto ordinário da Árvore da Vida representa o Magista em relação aos seus poderes presentes e futuros, o reverso da Árvore tipifica as pré-humanas e extra-humanas influências que impingem a consciência via os pilonos de Daäth. O mínimo destas influências filtra-se, por assim dizer, para frente da Árvore, mas quando o operador passa além do Portal da Undécima Zona de Poder ele automaticamente invoca Choronzon e se torna exposto ao completo ataque de forças atávicas.

O Mystère Lycantropique envolve a assunção da forma de um lobo (ou algum outro animal de natureza predatória) no plano astral. Adeptos do Culto da Serpente Negra explicam a razão desta transformação em termos de uma necessidade de obter periodicamente os conteúdos da subconsciência perdidos ou suprimidos durante a transição do reino animal para o reino dos humanos. Antes de se classificar os dois aspectos da Árvore como ‘bem’ e ‘mal’, os ocultistas da Serpente Negra adotam a atitude do Novo Aeon e observam os aspectos sephiróticos da frente da Árvore como ‘positivos’ e os aspectos qliphóticos de trás da Árvore como ‘negativos’. Um magista somente se torna um Mago quando ele aprende a evocar e controlar estes dois aspectos. As influências sephiróticas são agrupadas em forças positivas e negativas, sendo as positivas agrupadas como ‘Flamas da Luz’ e as negativas agrupadas como ‘Flamas da Escuridão Refletida’: Similarmente as influências qliphóticas são conhecidas como ‘Sombras da Escuridão’ e ‘Sombras da Luz Refletida’, sendo a prioridade dada aos espíritos negativos no caso dos Qliphoth porque eles são negativos em relação aos Sephiroth.

Choronzon é possivelmente uma forma corrupta de Chozzar, o deus negro dos feiticeiros Atlanteanos que é um tipo de entidade extraterrestre tendo um ser espectral ou sombra além das fronteiras de nosso universo. Por meio de um sistema engenhoso de ‘engenharia esotérica’, Bertiaux construiu aparelhos mágicos capazes de receber impulsos de áreas Transnetunianas do espaço que transmitem músicas misteriosas e remotas. Ele também emprega máquinas humanas ocultas conhecidas como ‘furias’, o equivalente, mais ou menos, a Mulher Escarlate de Crowley que pela virtude de suas afinidades com as vibrações telúricas são capazes de explorar níveis chtônicos de consciência pré-larval. Por tais meios, Bertiaux é capaz de aplicar, cientificamente, a fórmula para reativar fases primordiais de consciência elemental. Isto é remanescente da fórmula de Spare de Ressurgência Atávica e é significativo que Bertiaux clame que Spare é um membro de seu Conselho Interno (i.e. astral) de seu culto mágico.

Que estas máquinas, mecânicas e humanas, também compartilham dos kalas, é provado pelas referências de Bertiaux a certos runs e licores que interpretados sob a luz da doutrina Kaula Tântrica, sugerem que elas utilizam as vibrações ofidianas em suas formas Lunares, Netunianas e mesmo Transplutonianas. Concernente a estas máquinas ele observa:

A mais recente invenção para os ocultistas é realmente a redescoberta de uma coisa tão antiga quanto a evolução do universo que é remota de um período absolutamente anterior. Dessa maneira o acumulador mais avançado de energia mágica já havia sido aperfeiçoado no planeta Vênus muito antes da raça humana ter emergido do estado do reino mineral.

Isso me faz lembrar das declarações de Spare com relação às leis mágicas da evolução expressadas em The Book of Pleasure:

A Lei da Evolução é o regresso da função que governa a progressão da capacidade de alcance, i.e. quanto mais maravilhosas nossas conquistas, mais baixa é na escala da vida a função que as governa.

Umas das ‘ultimas’ invenções de Bertiaux é o Zothyriometro. Seu propósito é disciplinar os campos magnéticos astrais e etéricos de energia para dentro de vetores precisos de forças que formam uma rede complexa de zonas de poder. Pelo estabelecimento de intercessões, ou o cruzamento entre dois campos um vórtice especial de energia é criado. Este vórtice pode ser usado para concentrar correntes maciças de poder; ela funciona como um tubo oculto para projeção de força mágica para qualquer dimensão requerida para o plano astral. Esta máquina é baseada no sistema de marmas e sandhis que os Tântricos têm mapeado minuciosamente em relação à anatomia sutil do corpo humano. Eles são exemplificados em um elaborado yantra da Deusa, o Sri Yantra em particular.

Uma outra máquina inventada por Bertiaux é o Mandalum Instrumentum, que ele projetou para facilitar trabalhos de magia cerimonial sem o estorvo do mobiliário físico usualmente associado com sua performance. A Mandala cria e transmite forças mágicas de um ponto para outro. Ela pode ser descrita como um templo abstrato no qual os vários oficiantes são partes da máquina. Bertiaux explica que ela ‘é usada por altos magistas no cerimonial magnético que se desenvolveram no uso do aparato cerimonial convencional de grupo e que, contudo, desejam que seu resultado mágico seja tão eficiente quanto trabalhos em lojas ou templos.’ Aqueles que estão familiarizados com os Rituais de Loja da Loja Nu-Isis, em que cada oficiante representa um ‘canal’ ou ‘foco’ planetário na construção da força da esfera transplutoniana de Nu-Isis notará que qualquer perda residual de energia ocorrida e acumulada durante os rituais, é absorvida e reciclada pelo Mandalum Instrumentum.

O Culto da Serpente Negra é energizado pelos Adeptos do Vodu, e a classificação de suas máquinas mágicas estão em sintonia com o sistema de iniciação Vodu. Eles se dividem em quatro Graus: O Lave-tete ou Iniciado; o Canzo ou Serviteour; o Houngan ou Sacerdote e finalmente o Baille-ge ou Hierofante. Para estes Graus são alocados vários tipos de maquinário mágico. Para o Grau de Iniciados são alocados as máquinas físicas, i.e. todas as máquinas que têm uma funcionabilidade real no plano físico. Para o Canzo são alocadas as máquinas astrais. Para o Hougan são alocados as máquinas mentais; ele trabalha com a faculdade da mente representada pelo Ar. Para o mais elevado Grau, o de Hierofante – representado pelo Fogo ou Espírito – são alocadas as máquinas de intuição. Bertiaux observa que ‘o sistema de plano puramente físico de iniciação foi revivido recentemente por certos ocultistas na América, que se especializam no domínio das máquinas do plano físico.’

As instruções secretas do Monastério dos Sete Raios aludem a um instrumento oculto misterioso que era de conhecimentos dos antigos Chineses com o nome de Kwaw-loon. Muito pouco é dito sobre este instrumento, mas ele é conhecido por ter conexões com a Serpente de Fogo. O Kwaw-loon também é conhecido como o mirroir-fantastique. Ele é feito de substâncias quadridimensionais que refletem e transmitem as correntes ativas e passivas de energia radioativa no plano astral. Sobre as correntes de energia ‘que passam através do Kwaw-loon são transportadas às mensagens para e a partir da quarta dimensão, o mundo do magnetismo astral’.

Sob a luz do fato de que Bertiaux luta pela supremacia absoluta do controle de todos os sistemas mágicos – mundanos e cósmicos – não é de se surpreender que ele já tenha estabelecido uma rede ramificada de influências ocultas sob várias partes do globo, com zonas de poder específicas situadas no Equador, Leogane (Haiti), Madrid, Chicago, e – através da afiliação de seu Culto da Serpente Negra com a O.T.O. – Londres, Nova York e Nova Iorque.

Os ensinamentos secretos internos do Culto revelam sete principais linhas de evolução disponíveis aos seres humanos. O Monastério dos Sete Raios epitomiza estes sete degraus de desenvolvimento e prepara a consciência para o estágio final de evolução neste planeta.

Mas existe um sentido oculto e não revelado no qual as linhas de evolução se referem a mutações de consciência que produzirão sete tipos distintos de ser durante o Aeon presente e subseqüente. De acordo com uma tradição mágica antiga as sete linhas ou fases da evolução foram originalmente presididas por uma das sete estrelas da Constelação da Ursa Maior. A culminação desta tradição no Oitavo ou Mais Elevado foi tipificado pelo nascimento a partir da Deusa de seu filho macho, Seth, cujas forças são manifestas por seu Irmão gêmeo, Horus, Senhor do presente Aeon. A fórmula dos gêmeos é de extrema importância, como já foi observado.

A Antiga Genetrix Odudua suprimiu o nome-tipo de palavras basais vibradas como Od, Ado, Aud. O Vodu incorpora a mesma corrente mágica. O Culto da Serpente Negra nos ensina que o Vodu foi à religião antiga da Atlântida e da Lemuria e que ela sobrevive hoje em dois centros ocultos, um em Leogane (Haiti) e o outro nos E.U.A. (Chicago). As técnicas do Culto da Serpente Negra são desenvolvimentos dos Mistérios ensinados no Monastério dos Sete Raios. Os dois centros citados acima representam as duas formas do Vodu. O centro da forma primitiva no Haiti, e sua forma mais refinada – conhecida como Voudon Cabala – em Chicago, Illinois. A magick sexual é a base de ambos estes centros, nos quais a serpente de Fogo é equiparada com a radioatividade sexual ou o magnetismo astral. Isso é localizado em diversos centros corporais, a saber: a base da espinha, as palmas das mãos, e nos próprios centros sexuais. Este esquema é baseado na antiga tradição Africana que trazia reminiscências dos ensinamentos Atlanteanos. A Bruxaria da Antiga Atlântida alcançou sua apoteose no nosso sistema de mundo durante o período das civilizações Egípcias e Maias. Estes quatro centros básicos de radioatividade sexual captam as ondas mais concentradas de energia astral conhecidas pela ciência oculta. Os Alquimistas da tradição Afro-Vodu as conheciam como radio-activitas sexualis, tendo quatro pontos de referência de zonas de poder no corpo.

No Culto de Thelema de Crowley representado pela O.T.O. as energias ódicas são liberadas por uma forma de massagem ou masturbação mágica que, de acordo com Bertiaux, ‘estabiliza o campo astral do magista e forma sua força magnética mais harmoniosa e tranqüila’. I.e., naturalmente, porque a masturbação é o que se recorre em termos de ansiedade; e é uma forma natural de relaxamento que é instintivamente aplicado na vida diária:

A atividade sexual é a maior forma de terapia porque a radioatividade sexual é a mais poderosa dos campos astrais magnéticos.

Esta forma de terapia pode ter mais do que um efeito tranqüilizante ou efetivamente negativo, ela pode ser usada como uma forma de proteção contra o vampirismo sexual, que é excessivamente freqüente hoje em dia devido à quebra e colapso dos antigos códigos estabelecidos para o comportamento humano. Bertiaux, que tem ampla experiência em trabalhos sociais e campos colaterais de atividade, é da opinião que:

Agora mais do que nunca nós atraímos entidades sexuais de dimensões de eras passadas cujas vidas dependem da absorção da radioatividade sexual.

Parte da liturgia da Ecclesia Gnostica Spiritualis, composta e dirigida por Bertiaux, contém invocações mágicas que protegem o magista contra o vampirismo sexual durante o curso de suas operações mágicas. As invocações são construídas de tal maneira que as palavras formam um padrão mântrico carregados com vibrações que formam um escudo impregnado contra todos os tipos de ataques. Uma parede de luz circunda o magista, luz carregada com poder fálico-solar canalizado do Sol de nosso sistema. Os habitantes dos Qliphoth não podem apropriar-se dos fluídos sexuais ejaculados no momento do orgasmo e na hora em que os centros magnéticos positivos e negativos estão completamente em conjunção transmitindo uma atividade meta-sexual e eletroradioativa. Quando vistos clarividentemente, esta parede parece um escudo de luz cintilante. A versão de Crowley para esta prática foi à assunção da forma divina de Harpocrates: um ovo de luz azul vívida salpicada com ouro; como um céu de verão sem manchas cheio de raios de luz solar. Vampiros sexuais, vendo esta parede radiante de luz, são atraídos precipitadamente em direção a ela e se destroem em pedaços, ou – se ela é especialmente carregada – são literalmente eletrocutados no impacto. Este escudo de proteção é tão perfeito que em sua impregnabilidade nem mesmo os Mestres podem quebrá-lo para atravessá-lo. O escudo continua a existir até o momento em que o magista o bani por um ato de vontade. Neste momento a energia sexual acumulada dentro dele ‘explode sobre a atmosfera externa criando um flash de luz astral que além de cegar, pode destruir qualquer entidade hostil que esteja ao redor do campo magnético do magista.’ Se não dissolvido pela vontade, o escudo astral – após sete ou oito horas – gradativamente perderá sua potência e se deteriorará, emitindo no processo um vapor branco azulado que muitas vezes é confundido com a radioatividade sexual em sua forma recém-liberada. Bertiaux notou sombras sutis de cor características de cada fase das emanações radioativas. Elas têm suas tonalidades mudadas em concordância com o estágio de sua evolução, o flash sendo uma luz branca que cega ao passo que os últimos estágios de decadência parecem púrpura’.

Devido a sua natureza fugitiva, a radioatividade sexual é muito difícil de se analisar; portanto o melhor é estudá-la enquanto está contida dentro da parede de luz protetora. O rationale do Vodu, que se relaciona primariamente com a manipulação de energias ódicas no corpo humano tem, portanto, uma relação com a radioatividade sexual. De acordo com os Tântricos, a vibração lunar que emana da fêmea durante o período catamênio é também altamente radioativa, e embora os Ocultistas da Serpente Negra não façam específica menção a este fato, Bertiaux se preocupa com a exploração dos misteriosos ‘runs’ e ‘elixires’ transmitindo a impressão de que o culto não está alheio às técnicas desta natureza. Especialmente quando nós consideramos as shaktis ou ‘furias’ que ele reúne sobre si durante a performance dos ritos.

Bertiaux dá atenção ao fato de que:

A atividade sexual radioativa não é igual ao fluído sexual produzido pelo homem no momento do orgasmo. O fluído sexual é mágico em um sentido não desenvolvido,[30] e deve ser bombardeado por emanações de mercúrio e nitrato de prata e sob condições completamente controladas antes de possuir o poder mágico que alguns clamam ele ter.

Aqui, eu penso, nós temos a indicação dos kalas e as vibrações lunares ofidianas que são tão importantes no Tântrico Círculo Kaula.



[1] Nascido em Chicago, Illinois, 1935.
[2] Ele foi representado em Là-Bas, uma novela de J-K Huysmans baseada na experiência do autor nos lados sombrios do ocultismo.
[3] O Renascer da Magia (1972) e Aleister Crowley & o Deus Oculto (1973).
[4] Veja a Árvore da Vida.
[5] Em seu comentário do Décimo Aethyr, Liber 418, Crowley diz: ‘A doutrina da ‘Queda’ e do ‘Dragão Encurvado’ deve ser estudada cuidadosamente. The Equinox, vol. I, nos. 2 e 3 trazem muitas informações com seus diagramas [...] veja também Líber 777.’
[6] I.e. afim de ‘aterrar’ a consciência mágica.
[7] Reversão dos sentidos.
[8] O mais elevado cakra na região da sutura craniana.
[9] Malkuth-Muladhara.
[10] O Pilar do Meio, a coluna espinha ou sushumnanadi.
[11] O Mistério do Zumbeísmo também é derivado do ‘Templo Negro’ da antiga Atlântida onde é assumida a forma divina do animal-homem ou lobisomem. Neste caso a forma divina de Carrefour ou Carfax, Deus da morte. Um sinônimo também para Kalfu, Deus das Encruzilhadas (i.e. entrecruzamentos vibracionais). Uma forma de Baron Samedhi ou Baron Cimitière, Senhor do Submundo e da Morte.
[12] A fórmula dos Gêmeos é fundamental nos Cultos da África primêva. Ele foi continuado no Egito como o complexo Seth-Horus. O sinal dos Gêmeos (Gemini) é de particular referência no Novo Aeon. Em A Doutrina Cósmica, Dion Fortune observa: ‘Ter em mente [...] o Sinal de Gemini, pois as forças significantes que este Sinal influenciou a antiga Atlântida ainda influenciarão a Terra no fim da presente era.’
[13] As Três Colunas da Árvore da Vida.
[14] Michael Bertiaux. (O Vodu descrito aqui é uma escola de mistérios iniciáticos, portanto, diferente do Vodu Tradicional.
[15] Conforme expliquei em Aleister Crowley & o Deus Oculto (Capítulo 7), o XI° não comporta necessariamente o uso de fórmulas homossexuais; ao contrário, ele envolve o uso da yoni em sua fase lunar, esta é a fórmula do ‘outro olho’, ayin ou yoni, que é conhecido pelos iniciados da Corrente Ofidiana como o ‘Olho de Seth’.
[16] O símbolo desta deidade negra lembra o tridente de Netuno, que é o nome pelo qual Chozzar é reconhecido pelos profanos. A letra Caldéia Shin com sua ‘língua tripla de fogo’ é atribuída a Seth ou Shaitan. A palavra ‘chozzar’ significa ‘porco’. Este animal foi adotado pelos Draconianos como um símbolo de Set. Nos Cultos Tântricos do Vama Marga o porco foi escolhido como um símbolo secreto porque ele é o único animal conhecido que como excremento humano. Veja Aleister Crowley & o Deus Oculto, Capítulo 6.
[17] Outro espírito humano desencarnado clamado por Bertiaux é o Abade Boullan (1824-93), um ocultista Francês cujo nome e atividades provavelmente permaneceram desconhecidos ao mundo por muito tempo, mas pela atenção recebida por J-K-Huysmans, que utilizou Boullan como modelo para ‘Dr. Johannes’ em sua novela, Là Bas, ele tornou-se melhor conhecido. De acordo com a Enciclopédia do Sobrenatural (Ed. Richard Cavendish, L&PM Editores, 1993) ‘Boullan acreditava que o caminho da salvação somente se daria através do intercurso sexual com arcanjos e outros seres celestiais.’
[18] A Loja Nu-Isis (conhecida Externamente como Loja Nova Isis) foi um braço da O.T.O. fundada por Kenneth Grant em 1955 para os propósitos descritos em Aleister Crowley & o Deus Oculto, Capítulo 10. A Loja operou por sete anos e fechou após os seus propósitos serem cumpridos.
[19] Regido pelo elemento terra.
[20] O Canzo trabalha no mundo das águas ou o mundo fluídico dos sonhos.
[21] Este é o Colégio Externo que possui no Culto da Serpente Negra os ensinamentos do Colégio Interno.
[22] I.e. o Ma-Ion anunciado por Frater Achad. Veja Capítulo 8.
[23] Veja Capítulo 3. A Ursa Maior representa a Deusa das Sete Estrelas.
[24] Veja Capítulo 2.
[25] Veja Capítulo 1, diagrama.
[26] Especialmente no VIII° Grau.
[27] Michael Bertiaux.
[28] O magista do Caminho da Mão Esquerda, que habitualmente faz uso da Corrente Ofidiana em sua manifestação sexual, tem mais propensão a ser atacado pelos habitantes dos Qliphoth do que o magista que emprega o embaraçoso mobiliário da magia cerimonial.
[29] I.e. quando o macho e a fêmea unem os terminais gêmeos de suas respectivas zonas de poder.
[30] I.e. em sua fase potencial. Este é o poder atribuído a prática mágica conhecida como Karezza. Veja Aleister Crowley & o Deus Oculto.

Introdução às Obras de Kenneth Grant



Kenneth Grant foi um dos ocultistas mais influentes do século XX. Ele deixa para trás um substancial e formidável corpo de obras que irá ser explorado e desenvolvido ao longo dos próximos anos. O que se segue aqui é um estudo introdutório de sua obra – uma base para uma consideração mais profunda, mais substancial de seu trabalho no futuro.

Nascido em Essex em 1924, Kenneth Grant desenvolveu um intenso interesse pelo ocultismo desde tenra idade, bem como ao longo da vida uma devoção ao Budismo e a outras religiões orientais. Ele comentou em algum lugar em seus escritos que o Misticismo Oriental foi seu primeiro amor – não apenas uma indicação de quão bem instruído ele foi, mas talvez mais importante que isso, de seu exacerbado senso de imanência. Grant relata em Outside the Circles of Time como ele se deparou com uma cópia de Magick in Theory and Practice - em Zwemmers, na Charing Cross Road – no final da década de 1930 ou início da de 1940. Neste período, ele também havia descoberto The Book of Pleasure de Austin Osman Spare na Livraria Atlantis de Michael Houghton na Museum Street.Posteriormente mergulhando nas obras de Crowley, ele finalmente conseguiu fazer contato com ele em 1944, escrevendo para o endereço fornecido em The Book of Thoth que acabara de ser publicado.Visitando-o várias vezes, Grant posteriormente ficou com ele em ‘Netherwood’ em Hastings em 1945, imerso em Magick. Muitos anos depois, Grant escreveu um livro de memórias deste período de sua vida, Remembering Aleister Crowley. É evidente a partir de observações em seus diários e em outros lugares, que Crowley desenvolveu uma alta estima por Grant, vendo nele o potencial para tornar-se um futuro líder da O.T.O.

Foi nessa época que Grant se deparou pela primeira vez com o desenho de Lam de Crowley, ou “O Lama”, como Crowley se referia a ele. Tendo oferecido a Grant um documento de sua escolha, inicialmente ele foi hesitante quando Grant escolheu o desenho – ou, como Kenneth coloca, Lam o escolheu. Eventualmente, ele passou o desenho para Grant após um ataque de asma extremamente grave que Grant ajudou a aliviar apressando o médico de Crowley para lhe dar heroína. Crowley se refere a este incidente em seu diário em 08 de maio de 1945: “Aussik ajudou bastante; dei-lhe ‘O Lama’…” O desenho foi posteriormente reproduzido no The Magical Revival e Outside the Circles of Time, e passou a ocupar cada vez mais um papel proeminente no desenvolvimento do corpo da obra de Grant.

Após a morte de Crowley, em dezembro de 1947, Kenneth e Steffi Grant estiveram entre os presentes no funeral de Crowley, e foram posteriormente membros do pequeno círculo que se esforçou para manter a memória de Crowley e seu trabalho vivo. Crowley nomeou Karl Germer – vivendo então nos EUA – como seu sucessor, e sua Vontade estipulou que seus papéis fossem enviados a Germer. Preocupado que devesse haver cópias dos documentos mais importantes em caso de alguma coisa acontecesse a eles enquanto em trânsito, Grant e, posteriormente, Gerald Yorke começaram a fazer cópias datilografadas daqueles que consideraram de importância particular. Assim eles fizeram, depois disso a coleção de documentos de Germer foi roubada de sua viúva Sascha em 1967 por membros da Solar Lodge e, posteriormente, destruídos em um incêndio. As cópias datilografadas feitas por Grant, Yorke e outros formaram a base do arquivo que Yorke mais tarde passou para o Instituto Warburg da Universidade de Londres, e que continua acessível a pesquisadores.

Durante o fim dos anos de 1940 e início dos anos de 1950, um pequeno círculo de ocultistas acumulou-se em torno de Grant, desenvolvendo-se como o núcleo de um grupo de operações. Germer tinha patenteado Grant em 1951 para formar um ‘Capítulo’ da O.T.O.. À parte disso desenvolveu a New Isis Lodge como uma célula dependente da O.T.O., com uma estrutura de qualidade e programa de operações que foram influenciados pela Astrum Argenteum de Crowley, bem como pela O.T.O. como era nos dias de Crowley. A relação com David Curwen foi o que contribuiu para Grant obter uma cópia de um comentário de um adepto de Kaula sobre um texto tântrico, o Anandalahari.Este comentário deu importantes insights sobre a magia sexual tântrica, aproximando a magia sexual de uma direção muito diferente daquela de Crowley. A abordagem de Crowley é basicamente solar-fálica, para não dizer falo-cêntrica, há grande ênfase na importância das energias sexuais masculinas, mas muito pouco sobre as energias femininas. Muitas vezes, a parceira é considerada como pouco mais do que um copo em que o magista masculino verte seu bindu.O texto Kaula aborda o assunto de uma perspectiva diferente, acentuando o papel dos kalas e como eles variam ao longo do ciclo menstrual.

No lançamento formal da Loja, em 1955, Grant emitiu um Manifesto da New Isis Lodge no qual falou da descoberta de um planeta além de Plutão, o Isis transplutoniana, e o que ele pode significar para a evolução da consciência neste planeta:

    A nova e atraente influência está envolvendo a Terra e ainda há poucos indivíduos que estão abertos ao influxo das vibrações sutis dessa influência.

    Seus raios procedem de uma fonte ainda inexplorada por aqueles que não estão unos com eles em sua essência e em espírito, e que encontra seu foco atual no universo exterior no transplutoniano planeta Isis.

    No íntimo do homem, igualmente, esta influência tem um centro que irá lentamente começar a se agitar na humanidade como um todo, a influência se fortalece e floresce. Como ela está no início de seu curso em relação ao homem, porém, muitos séculos passarão antes que ela possa valer-se totalmente dos grandes poderes e energias das quais essa influência está silenciosa e continuamente concedendo em todos os que sabem identificar o núcleo interior de seu ser com o seu profundo e inescrutável coração.

Certamente é óbvio que Grant não estava falando sobre a descoberta de um planeta físico, tal descoberta poderia ter sido mais relevante para uma revista astronômica. Se tivermos em mente que a primeira sephira, Kether, é atribuída a Plutão, então um planeta transplutoniano seria ‘Um além do Dez “, o Grande Exterior. Grant expressou isso portanto alguns anos mais tarde, em Aleister Crowley and the Hidden God:

    No Livro da Lei, a deusa Nuit exclama: “Meu número é onze, como todos os números aqueles que são de nós “, que é uma alusão direta à A ∴ A ∴, ou Ordem da Estrela de Prata, e seu sistema de Níveis. Nuit é o Grande Exterior, representada fisicamente como o “Espaço Infinito e as Infinitas Estrelas” — isto é, Isis.

    Nuit e Isis são identificadas em O Livro da Lei. Isis é o espaço terrestre, iluminado pelas estrelas. Nuit é o exterior, ou espaço infinito, a escuridão imortal que é a secreta fonte de Luz, ela é também, em um sentido místico, o Espaço Interno e o Grande Interior.

Germer certa vez, assim como Crowley, considerou Grant como um futuro líder da O.T.O. em potencial (ver, neste contexto, os resumos de suas cartas à Grant, publicadas no artigo ‘It’s an Ill Wind That Bloweth’ na Starfire Volume I n º 5, Londres, 1994).No entanto, ele foi essencialmente infeliz como alguém que se desviou da linha que, após a morte de Crowley, a única coisa a fazer era simplesmente preservar e promover o trabalho de Crowley. Além disso, ele também não ficou satisfeito quando Grant se recusou a recolher o dinheiro dos membros de sua Loja. Ele, aliás, se irritou ao saber que Grant tinha formado conexões com Eugen Grosche, um antigo adversário de Germer da Alemanha na década de 1920. Ele exigiu que Grant retratasse seu Manifesto, quando ele se recusou, Germer emitiu um aviso de expulsão. Grant simplesmente ignorou a expulsão e continuou com a New Isis Lodge como uma loja dependente da O.T.O., confiante de que seu trabalho mágico lhe permitiria fazer a conexão direta com a corrente mágica no núcleo da O.T.O., assim, substituindo a autoridade de Germer e tornando a expulsão irrelevante. Esta confiança em sua posição como sucessor de Crowley reforçada ao longo dos anos subseqüentes com desenvolvida sua obra mágica e mística.

A New Isis Lodge tinha um programa de operações que começou em 1955 e foi concluído em 1962, embora a Loja tenha continado a operar até meados dos anos de 1960. Desenvolvendo algumas técnicas mágicas inovadoras e interessantes, um relato de alguns de seus trabalhos é dado em Hecate’s Fountain, escrito no início da década de 1980, mas não publicado até dez anos mais tarde. As experiências de Grant na New Isis Lodge foram a base para suas obras posteriores, talvez mais aparente nos volumes posteriores das Trilogias com a publicação de duas das transmissões reificadas durante o curso de Operações da Loja. Uma dessas transmissões foi a requintada e delicada, Wisdom of S’lba a qual foi incorporada no sétimo volume das Trilogias, Outer Gateways, publicado em 1994.O outro foi The Book of the Spider, em torno do qual Grant teceu seu volume final das Trilogias, The Ninth Arch (2002).

A New Isis Lodge não é muito mencionada nos primeiros livros de Grant. Tenho a impressão de que, embora o trabalho realizado na Loja tenha sido formativo para Grant – a fundação de seu corpo de obras posteriores – pela mesma razão foram os cumulativos insight’s destilados ao longo dos anos seguintes, o que permitiu a Grant entender plenamente as realizações dos anos anteriores, e a levar o trabalho a outro nível. O potencial desses anos vieram a serem concretizados muitos anos após a Loja ter cessado suas operações. Lembro-me dele comentando para mim no início de 1990 que ele tinha recentemente topado com o arquivo de materiais que havia sido guardado por muitos anos, e que ao passar por isso novamente uma revigorante corrente de iníciação havia sido deflagrada.

Ao longo dos anos de 1959 a 1963, Grant produziu uma série de monografias, as Carfax Monographs, cada uma sobre um assunto diferente.Anos mais tarde, em 1989, elas foram reeditadas num só volume como Hidden Lore.Mais recentemente, elas foram republicadas, desta vez com material adicional, como Hidden Lore, Hermetic Glyphs (Fulgur, 2006).

Uma das influências mais importantes sobre Kenneth Grant foi Spare. Em 1949 ele e sua esposa Steffi conheceram o artista e escritor ocultista. Eles continuaram amigos até a morte de Spare em 1956, apoiando-o com alguns elementos essenciais à vida, bem como materiais para seu trabalho artístico, e este contato provocou um renascimento eno trabalho de Spare. Grant durante algum tempo adquiriu um grande interesse pela magia e misticismo de Spare, assim como por sua arte, e em particular pelos sistemas de sigilos que Spare havia apresentado em The Book of Pleasure, publicado pela primeira vez em 1913.Contudo, exceto por notáveis exceções como o desenho “Teurgia” de 1928, os sigilos geralmente se tornaram ausente do trabalho de Spare depois da Primeira Guerra Mundial, e ele confessou a Grant que, ao longo dos anos, ele havia esquecido os princípios subjacentes ao sistema. Estimulada pelo interesse e entusiasmo de Grant, Spare aplicou-se à recuperação desses princípios, e sigilos ressurgiram em muitos de seus desenhos e pinturas no final dos anos 1940 e no anos de 1950. O rendimento dos últimos anos de sua vida foi uma espécie de renascimento para Spare, um florescimento tardio.

Este renascimento incluiu obras escritas, que Grant digitou para ele, no processo de fornecer críticas e comentários, e pressionar por elucidação onde parecia benéfico.Muito deste trabalho tardio foi posteriormente publicado por Grant em Zos Speaks! (Fulgur, 1998), junto com cartas e trechos de diários que documentam seu período com Spare, bem como reproduções das obras de arte de Spare. Em sua morte, Spare legou a Kenneth seus manuscritos, textos datilografados, e livros. Incansável na promulgação das obras de Spare ao longo dos anos subseqüentes, em 1975 Grant publicou o belo Images & Oracles of Austin Osman Spare (Muller, 1975; Fulgur, 2003), introduzindo sua obra – escrita e artística – a um novo público.O renascimento do interesse em Spare nos últimos anos se deve muito a seus esforços.

Assim como Spare, do começo ao fim de sua obra Grant enfatizou o primado da imaginação. Longe de ser mero capricho ou fantasia, este é de fato o principal meio para encontrar e explorar o universo e nossa relação com ela. O trabalho de Grant é essencialmente dirigido à imaginação, soando ecos na consciência do leitor de sua obra. Como já vimos, Grant descreveu o Misticismo Oriental como seu primeiro amor, e durante os anos de 1950, ele mergulhou no Advaita Vedanta – a percepção de que a consciência é indivisível – escrevendo uma série de artigos para revistas asiáticas, posteriormente reunidos e publicados muitos anos depois como At the Feet of the Guru (Starfire Publishing, 2006).Embora muitas vezes entendida como um culto que glorifica a individualidade, Thelema está de facto enraizada neste solo, tendo muito em comum com o taoísmo.

Com John Symonds, o executor literário de Crowley, Grant editou autobiografia extensa e turbulenta autobiografia de Crowley, The Confessions (Cape, 1969). Esta desempenhou um importante papel em trazer o trabalho de Crowley à atenção popular. Symonds e Grant edificaram-se nisso, continuando a editar e publicar outras obras de Crowley ao longo dos anos de 1970, especialmente o The Magical Record of the Beast 666 (Duckworth, 1972) – uma seleção de diários de Crowley - e Comentários mágica e filosófica sobre o Livro do Direito (93 Publishing, 1974).

Ao longo dos anos, Kenneth Grant criou seu próprio corpo de obras, e em as obras sobre o trabalho de Crowley – “Amor sob Vontade”, publicado no Internacionais Times durante 1969 – ele se referiu a um estudo das mesmas que estava aguardando publicação, intitulado ‘Aleister Crowley and the Hidden God’. Sua editora, Muller, posteriormente pediu-lhe para dividir o trabalho em dois volumes, o primeiro dos quais foi publicado em 1972 como The Magical Revival. O segundo, emitido sob o título original Aleister Crowley and the Hidden God, publicado em 1973.Este foi o início das Trilogia Typhoniana, dos quais o nono e último volume, The Ninth Arch, foi publicado em 2002 pela Starfire Publishing.Esses volumes compreendem um corpo substancial de obras que, embora ecléticas e que abrangem vastas áreas da magia e do misticismo, estão firmemente enraizadas em Thelema. No decorrer destas obras, Grant levou Thelema à áreas além do que muitas vezes é considerado como sendo os limites das obras de Crowley, destacando no processo a universalidade de Thelema e suas afinidades com uma ampla gama de tradições e disciplinas. O que se segue é um breve resumo de cada um dos volumes das Trilogias, pelo caminho, alguns temas serão destacados.

The Magical Revival (Muller, 1972; Starfire Publishing, 2009) foi um estudo e análise de uma variedade de tradições ocultistas que sobreviveram durante milhares de anos, e que estão agora revivendo em novas formas e com um vigor renovado.Em particular, foi traçada a gênese e o desenvolvimento do Culto Draconiano ao longo das dinastias egípcias, e diante deste pano de fundo mais antigo foram examinadas as mais modernas manifestações, como Blavatsky, Crowley, a Golden Dawn, Dion Fortune, e Spare. Foi demonstrado que, embora essas manifestações sejam recentes, estão enraizadas na considerada mais antiga corrente mágica, que tem nutrido e sustentado todas as eflorações subseqüentes. Foi incluída como uma ilustração no livro uma reprodução do desenho de Lam de Crowley, a primeira vez que foi publicada desde a sua aparição original em The Blue Equinox em 1919.

No capítulo ‘Barbarous Names of Evocation’, Grant desenvolve a ideia da similaridade entre os elementos do Mito de Cthulhu como elaborado na ficção de Lovecraft, e aspectos da obra de Crowley. Isto veio a sugerir que eles se basearam em arquétipos semelhantes do inconsciente coletivo. Em seu trabalho posterior, Grant ocasionalmente brinca com o panteão de divindades, mas isso nunca veio a sugerir que as divindades eram reais, ou que deveriam ser adoradoas.

Este foi sucedido pelo segundo volume, Aleister Crowley and the Hidden God (Muller, 1973).Este foi um estudo mais especifico acerca do sistema de magia sexual de Crowley, amplificado por uma reflexão sobre o comentário Kaula acima referido. Grant resumiu o livro da seguinte forma:

    Este livro contém um estudo crítico do sistema de magia sexual de Crowley e suas afinidades com os antigos ritos tântricos de Kali, a deusa negra do sangue e da dissolução representada no Culto de Crowley como a Mulher Escarlate. É uma tentativa de fornecer uma chave ao trabalho de um Adepto cujo vasto conhecimento de ocultismo foi insuperável por qualquer autoridade ocidental anterior. Tenho enfatizado a semelhança entre o Culto de Thelema de Crowley e o Tantra, porque a atual onda de interesse no Sistema Tâmtrico torna provável que os leitores estejam aptos a avaliar melhor a importância da contribuição de Crowley ao ocultismo em geral e ao Caminho Mágico em particular.

Houve também um capítulo sobre ‘Nu-Isis and the Radiance Beyond Space’, em que Grant cita a New Isis Lodge e seu programa de operações.

O terceiro volume, Cults of the Shadow (Muller, 1975), explorou os obscuros aspectos do ocultismo que freqüentemente são vistos negativamente como “magia negra”, o “caminho da mão esquerda”, etc. A ideia deste livro é apresentada no parágrafo de abertura da Introdução:

    Este livro explica os aspectos do ocultismo que muitas vezes são confundidos com ‘magia negra’. Seu objetivo é restaurar o Caminho da Mão Esquerda e re-interpretar seus fenômenos à luz de algumas de suas manifestações mais recentes. Isto não pode ser conseguido sem uma pesquisa de cultos primitivos e de fórmulas simbólicas que neles residem. Não existe campo mais rico para uma pesquisa dessa natureza e esqueleto não mais perfeito onde acha-la do que os sistemas de Fetiches da África Ocidental e sua eflorescência em cultos Egípcios pré-monumentais. Tal pesquisa é apresentada nos três primeiros capítulos, após o quais os símbolos emergem à luz dos períodos históricos e aparecem sob a forma da Corrente Tântrico explicada nos Capítulos Quatro e Cinco.

    Esta Corrente parece se dividir em duas correntes principais que refletem infinitamente a fenda original entre os devotos dos princípios criativos feminino e masculino conhecidos tecnicamente no Tantra como Caminho da Mão Esquerda e Direita. Eles são os princípios da Lua e do Sol, e sua confluência desperta o fogo da serpente (Kundalini), o Grande Poder Magicko que ilumina o caminho escondido entre eles – o Caminho do Meio – o caminho da Iluminação Suprema.

    É a falha quase universal em compreender o adequado funcionamento do Caminho da Mão Esquerda que levou à sua depreciação — principalmente por causa de suas práticas não convencionais — e a uma realização imperfeita dos últimos Mistérios por parte daqueles que são incapazes de sintetizar os dois.

Destaca-se um capítulo sobre o trabalho de Frater Achad (Charles Stansfield Jones) e o Aeon de Maat, em que Grant tinha uma visão um pouco cética em relação às reivindicações de Frater Achad do alvorecer do Aeon de Maat. Posteriormente, como veremos, Grant veio a rever suas opiniões. O livro também contém capítulos sobre a obra de Michael Bertiaux, introduzindo Bertiaux a um público novo e levando a um aumento do interesse em sua obra.

A segunda trilogia abriu com Nightside of Eden (Muller, 1977).No centro deste é uma exploração dos Túneis de Set, que subjazem os caminhos da Árvore da Vida. O trabalho de Grant foi inicialmente baseado em um breve e obscuro trabalho de Crowley, Liber 231, publicado pela primeira vez no The Equinox. Este Liber é composto de sigilos dos gênios dos 22 escamas da Serpente, aquelas dos 22 cárceres das Qliphoth, e alguns oráculos obscuros;ele evidentemente, fascinou Grant, e a exploração dessas cárceres das Qliphoth formaram um elemento importante nas operações da New Isis Lodge. Grant foi criticada em algumas lugares por trabalhar com o que alguns consideram como o mal e aspectos adversos da magia. Contudo, os aspectos mais escuros da experiência são tão necessário de serem compreendidos quanto os aspectos mais luminosos; uma compreensão de ambos é necessária. A seguinte passagem da Introdução do Nightside of Eden aborda este assunto:

    Isso me leva ao ponto final: A menos que o ocultismo se torne criativo, no sentido da abrir-se à novas abordagens, modificando e desenvolvendo conceitos tradicionais e de forma geral revelando um pouco mais daquela Deusa Suprema, cuja identidade está escondida atrás do véu de Ísis, Kali, Nuit, ou Sothis, haverá estagnação no pântano de crenças tornados inertes pela recente rápida aceleração da consciência da humanidade, o que é quase um milagre. Se a ciência do não-manifesta não permanecer aterrada a um estágio pré-púbere, enquanto as ciências manifestas voam para o espaço, o ocultista amadurecido deve pôr de lado os brinquedos da superstição e enfrentar sem medo as Árvores da Eternidade, cujos troncos e ramos brilham com o fogo solar, mas cujas raízes são alimentadas na escuridão.

Embora esta passagem se refira especificamente ao Nightside of Eden, o caso aqui articulado pela inovação e criatividade se aplica ao trabalho de Grant como um todo.

Ao longo do livro, há várias referências ao Aeon de Maat, e é claro que Grant teve até agora revisto sua opinião, visão um tanto cética em relação a este aspecto da obra de Achad. Na verdade, ele tinha nesta época recebido um material de Margaret Ingalls (Soror Andahadna), que o levou a reavaliar a obra de Achad acercada chegada em 1948 de outro Aeon que segue ao lado do Aeon de Horus, os dois aeons constituindo uma dupla corrente.

Em 1980 Grant publicou Outside the Circles of Time (Muller, 1980; Starfire Publishing, 2008), um trabalho que abrange uma área extremamente vasta e expõe, para citar a sinopse da contracapa: “uma rede mais complexa do que se imaginava: uma rede não muito diferente da sombria visão de H.P. Lovecraft de forças sinistras que espreitam na borda do universo “.Há muitos fios em um tecido rico e deslumbrante, uma vertente principal sendo a não-dualidade:

    O mundo fenomenal não tem existência real para além de sua fonte noumenal. O mundo não está procurando por ninguém, o mundo não sabe nada de ninguém, mas as pessoas estão procurando o mundo e não conseguem encontrá-lo, porque eles são o mundo e elas estão realmente é procurando por si mesmas. Mas por elas não serem refinadas, não serem sutis, não serem silenciosas; por elas serem grosseisas e barulhentas, o mundo também lhes aparece como grosseiro e barulhento. Eles são identificados com estas qualidades, elas são suas, e, portanto, não podem controlá-las.

    Somente através do refinar do grosseiro no sutil, o mundo do objeto no mundo do sujeito, o mundo-desperto no mundo dos sonhos, só assim pode ser encontrada a chave para o poder “oculto”. Ele só pode ser encontrado em total silêncio, quando mente cessou os pensamentos, quando a boca cessou a fala, quando o olho cessou a projeção de imagens. Só então a fórmula do controle-onírico levará ao total despertar da ilusão da vida.

    É, portanto, necessário se habituar à ideia, a viver perpetuamente com a idéia, que toda a vida de um indivíduo – tudo o que pode ser lembrei dela – foi composta pelo indivíduo como uma peça de teatro é composta por um dramaturgo. É uma invenção, uma lîla, uma máscara ou dança em qual o indivíduo é o único ator, e mesmo este ator é apenas uma figura na peça. Ele não é real; nenhum objeto pode ser real, pois não há absolutamente coisa alguma.

    Nada é Nuit, e ela não é uma coisa precisamente neste sentido particular de um jogo de poder (shakti) evoluindo um drama sem fim de luz e sombra que surge à existencia como sujeito e objeto. Mas a objetividade é um sonho, pois não há sujeito, não ha sonhador, ha apenas um sonho.É apenas quando esta verdade é profundamente percebida que o sonho é decifrado em sua origem, que é o bindu conhecido como Hadit, no coração de Nuit…

    Hadit se dissolve em Nuit, algo em nada, objeto em sujeito, e sujeito – finalmente! – naquela subjetividade absoluta que, sendo livre tanto de objetividade e subjetividade, permanece indescritível.

O livro é o mais famoso, talvez, por apresentar a obra de Soror Andahadna, uma contemporânea sacerdotisa de Maat, cujo trabalho tinha paralelos com a obra de Frater Achad várias décadas atrás. Muitos Thelemitas têm problemas com o Aeon de Maat. Estão tão distantes quanto preocupados, cada Aeon dura 2.000 anos, estamos no início do Aeon de Horus, então até o de Maat ainda ha um longo caminho. Eles irão ecoar a famosa réplica de Crowley ao jovem Grant: “Maat pode esperar!”. No entanto, a seguinte passagem de Outside the Circles of Time coloca a questão de forma muito mais interessante:

    Mitos e lendas são do passado, mas Maat não deve ser pensada em termos de eras passadas ou futuras. Maat está presente agora para aqueles que, conhecendo os ‘alinhamentos sagrados’ e os ‘Portais da Intertemporalidade’, experimentam a Palavra sempre vinda, sempre expressa, da Boca, nas sempre novas e sempre presente formas que estão continuamente a serem geradas a partir do Atu místico ou Casa de Maat, o Ma-atu…

Mas o livro é sobre muito mais que isso. É um potente ondular, em uma série de linhas aparentemente diversas em uma única corrente, larga e potente. Apesar dos livros de Grant serem cada um diferentes de seus antecessores, Outside the Circles of Time parecia anunciar um salto para uma dimensão diferente.

Outside the Circles of Time foi o ultimo livro de Grant publicado pela Muller, e houve uma pausa de 12 anos até 1992, quando a Skoob Publishing lançou o Hecate’s Fountain. Grant tinha originalmente concebido este como um relato dos rituais da New Isis Lodge.No entanto, como é frequentemente o caso, o trabalho tomou uma dinâmica própria e fez brotar uma  flor muito diferente.O livro foi ainda tecido em torno dos trabalhos da Loja. No entanto, este trabalho foi ilustrado como relatos anedóticos de trabalhos específicos, demonstrando em particular o que Grant designa por ‘tantra tangencial’, onde um trabalho mágico tem curiosos e às vezes alarmantes efeitos colaterais em desacordo com o seu propósito aparente. Grant rastreou estas anomalias para uma interface catalítica que ele chamou de ‘the Mauve Zone’, existente entre os reinos do sonho e sono sem sonhos. Há movimentos, impressões e redemoinhos na Zona Malva que dão origem a espectros frágeis, sonhos, imagens que entram na consciência e são vestidas pela imaginação.

A terceira Trilogia abre com Outer Gateways, publicado pela Skoob, em 1994.Este livro continuou e ampliou alguns dos temas do Hecate’s Fountain. Contendo um longo relato das diversas variáveis e de O Livro da Lei, explorou o trabalho de Crowley em relação ao Sunyavada, e teve algumas coisas notáveis a dizer sobre o potencial criativo da gematria:

    A percepção, um conceito, ou um número – qualquer objeto de fato – não tem relação real com qualquer outra percepção, conceito ou número. A relação só existe na consciência do observador, a consciência que é o fundo sobre o qual todos os objetos aparecem como imagens em uma tela. Não pode haver associação de idéias, nenhum tipo de correspondências de qualquer natureza, entre os números ou as idéias que representam, salvo na consciência do seu observador, porque nenhuma coisa existe como um objeto em si.

    As implicações dessas considerações não são geralmente apreciadas, embora sejam de grande importância. Os números podem significar para o cabalista precisamente o que ele deseja que eles significam no âmbito de seu universo mágico. Eles têm uma existência relativa, mas nenhuma realidade objetiva.

    Os números podem, portanto, ser utilizados como um meio mágico de invocar energias específicas latentes na consciência do mago. Em outras palavras, números podem ser vistos como entidades que são identidades objectivas aparentes, ou personalidades, pois eles são um com o poder objetivo do mago.

    O poder de números não reside nos números de si, mas sempre e apenas no mago. Se a mente dele está bem guarnecida com números mágicos (ou seja, números significativos para ele) não há limite, quantitativamente falando, para os mundos que ele pode construir a partir de suas energias (shaktis).Esta é a base da ciência dos números e o fundamento da numerologia como uma arte criativa distinta de um indicador meramente interpretativo das probabilidades fenomenais.

    O magista não almeja ao prever o futuro – o que implicaria que ele já existiu – quando de acordo com as leis de seu universo mágico está criando o futuro.

    Gematria criativa é, portanto, a ciência e a arte de projetar outros mundos ou ordens de seres, em harmonia com as vibrações simbolizados pelos números, que tornam as vibrações receptíveis diretamente.

Gematria é usada ao longo trabalho de Grant para sustentar uma visão que já existe, em vez de deduzir uma visão a partir de uma relação gemátrica.

No entanto, o núcleo do livro foi, sem dúvida, The Wisdom of S’lba e os vários capítulos de análise, que foram anexados.S’lba é uma bonita, altamente carregada e rica transmissão recebida durante muitos anos por Kenneth Grant desde final dos anos de 1930, a maior parte do que reificadas durante os anos da New Isis Lodge.

Há uma boa dose de incompreensão sobre a natureza das transmissões. Não é o caso de simplesmente tomar ditado de uma entidade desencarnada.Contato com o que é referido como nos planos internos é muito mais complexo e mais sutil do que isso. Tomemos por exemplo a seguinte nota introdutória por Grant:

    A série de versos intitulado coletivamente a Sabedoria de S’lba … não foram escrito em qualquer tempo ou lugar em particular, embora o estado de consciência em que foram recebidos tenha sido invariavelmente o mesmo. O processo foi iniciado já no ano de 1939 quando a visão de Aossic primeiro manifestou na maneira descrita em Outside the Circles of Time (capítulo 8).

    A visão se desdobrou esporadicamente durante o tempo de associação com Aleister Crowley e Austin Osman Spare. Mas o aspecto dinâmico do trabalho, que é dizer a integração da visão em um todo, ocorreu durante o período de existência da New Isis Lodge.

Em uma entrevista à Skoob publicada pouco antes de Outer Gateways ser lançado liberado, respondendo a uma pergunta sobre S’lba, Grant disse: “foi ‘destilado ‘, por um processo prolongado que se estendeu por muitos anos, desde os intensivos rituais realizados na New Isis Lodge entre 1955-1962 “.

Como mencionado acima, Grant estabeleceu pela primeira vez em The Magical Revival sua tese de que houve analogias sugestivas entre os elementos do panteão de Lovecraft e aspectos da obra de Crowley. Há uma passagem em Outer Gateways que joga a função destes e outros dos deuses “em uma luz muito diferente:

    … Como outro relato de fases inclassificáveis da história da Terra, o Culto de Cthulhu simboliza o subconsciente e as forças externas a consciência terrestre. Pode-se dizer de partida que a verdadeira criatividade só pode ocorrer quando essas forças são invocados para inundar com sua luz a rede magica da mente. Para fins de explicação a mente pode ser encarada como sendo dividida em três áreas, o edifício que as contém sendo o único principio real ou permanente. Estas áreas são:

    1) Subconsciente, o estado de sonho;

    2) Consciência mundana, o estado de vigília;

    3) Consciência transcendental, velado no não-iniciado pelo estado de sono;

    Os compartimentos são ainda concebido como estando ligado com a casa que os contém, por uma série de condutores ou túneis. A casa representa a consciência trans-terrena. As forças invocadas – Cthulhu, Yog-Sothoth, Azathoth, etc – são assim entendidas, não como malignas ou entidades destrutivas, mas como as energias dinâmicas da consciência, as funções que servem para destruir a ilusão da existência separada (os quartos em nossa ilustração).

O próximo volume, Beyond the Mauve Zone foi lançado pela Starfire Publishing em 1999.É, como o próprio nome sugere, uma consideração mais profunda da região entre o sono sem sonhos e sonhos que fecundam a imaginação, e em particular uma consideração de vários métodos de acesso à Zona de Malva. Há três capítulos sobre o Rito Kaula da Serpente de Fogo, dando muito mais material do comentário Kaula iniciado obtido a partir de David Curwen.Há também uma análise prolongada de Liber Pennae Praenumbra recebido por Soror Andahadna, e uma consideração do trabalho do autor sérvio Mihajlovic Zivorad Slavinski.

O volume final das Trilogias, The Nine Arch, foi lançado pela Starfire Publishing em 2002.Consiste de um comentário versículo por versículo em uma transmissão recebida no decorrer do funcionamento da New Isis Lodge, Liber OKBISh, ’The Book of the Spider’.Esta transmissão começou durante um trabalho mágico de Qulielfi, o túnel de 29 de Set, por volta de 1952 O meio principal para as transmissões era uma sacerdotisa conhecida como Soror Arim. Ela aparece no romance de Grant Against the Light como Margaret Leesing.Ela não era o único meio para as transmissões, mas ela teve o papel mais importante e coordenou o trabalho de várias sacerdotisas da Loja.

The Book of the Spider é essencialmente uma coleção de oráculos enigmáticos que foram recebidos ao longo de vários anos, e estavam organizados retrospectivamente em 29 capítulos, cada um dos 29 versos, alguns dos versos não foram ouvidos, ou foram perdidos, mas este é o padrão básico.Alguns anos depois que a transmissão inicial foi recebida, a Corrente mais uma vez se tornou ativa. Esta transmissão subsequente proporcionou um menor número de versos, e foi arranjado em 3 capítulos adicionais, novamente de 29 versos cada.

Transmissões não são uma questão de estabelecer algum tipo de contato de rádio com uma entidade desencarnada e transcrever o que ele tem a dizer Uma transmissão pode ser através de qualquer dos sentidos Muitas vezes será intuída ou sutilmente apreendida, com a imaginação como catalisador. A imaginação não é mero capricho ou fantasia, mas esta é a bagagem que a palavra tem acumulado nos tempos modernos. É cósmica, embora existam áreas individuais de consciência da imaginação, e é nessas áreas em torno do indivíduo de que ele ou ela está mais diretamente consciente que nós consideramos como ‘nossa’ imaginação. A verdade é, porém, que não é nossa, mas uma área comum ou cósmica – um continuum, o alcance local em que somos mais imediatamente conscientes.

Transmissão assume muitas formas. É um fluxo de inspiração para as áreas mais pessoais da imaginação e muitas vezes se vestem em formas extraídas do subconsciente pessoal.Vemos isso na obra de Lovecraft por exemplo, muito da inspiração ocorrendo através de sonho e expressa através de imagens tiradas a partir da leitura extensiva e fantasias da infância de Lovecraft. Como a luz é refractada por da sua passagem através de um prisma ou um pedaço de vidro colorido, ou como o sol poente através da matéria atmosférica produz um concurso de cores gloriosas e vivas, assim a transmissão de uma Corrente será colorida pelas áreas pessoais da imaginação através que ele passa. O vento, por exemplo, só se torna evidente na agitação que causa nas folhas da árvore por onde ele se move, os perfumes que agita, a pele contra a qual se escova, dando forma de redemunhos as areias do deserto.

Na época dos trabalhos da New Isis Lodge que atraiu e em seguida incubou esta Corrente em formação, a sacerdotisa principal, Margaret Leesing, e outros foram apanhados na ficção oculta e em dois livros em particular – Dope por Sax Rohmer e O Besouro por Richard Marsh.Neste momento a New Isis Lodge tinha desenvolvido uma técnica mágico ritual que envolveu a dramatização da ficção. Como Kenneth Grant descreve em The Ninth Arch:

    Como já mencionado na introdução geral a este livro, os ritualistas da New Isis Lodge utilizaram certos romances e histórias como outros magistas podem usar pinturas ou composições musicais para simular circularidade e encontros astrais. Eles entraram em um conto como eles poderiam ter entrado em uma imagem, cena, deserto, uma lotada sala de estar, ou outro local. Aplicado ao romance, o processo se desenvolve de forma dramática como uma experiência vividamente cinética que se torna assustadoramente oracular. Utilizamos, principalmente, o romance de Richard Marsh The Beetle, e “A Tale of Chinatown” ou Dope de Sax Rohmer, por nenhuma outra razão além do fato do Vidente principal recentemente ter lido esses escritos, e por outros membros da Loja também terem se familiarizado com eles. O conto de Marsh, em particular, foi escolhido porque continha o único relato publicado conhecido pelo presente autor do Children of Isis e portanto parecia em harmonia com o Wisdom of S’lba e com os oráculos de OKBISh.

Estas são as circunstâncias, o prisma, o vidro colorido, através dos quais os versículos do The book of the Spider são expressos.Existem referências, por exemplo, a personagens como Shoa, a Mulher Má; Sin Sin Wa, o vilão e sábio chines; Tling-a-Ling, seu corvo de estimação e familiar; Tûk Sam, seu antepassado venerado; todos esses personagens são extraídos do Dope de Sax Rohmer. Há referências a Limehouse, a Ho-Nan, a Chandu, ao Rio Amarelo, as trilhas de papoula, que são locais retirados também de Dope.Há o langor do sonho, do devaneio, as imagens parecem flutuar, a mudar, a se fundir – a emergir, a tremer, a cair. Há também referências a personagens extraídos de outras histórias, como Helen Vaughan e Sra. Beaumont da história de Arthur Machen, The Great God Pan.Essas são mascaras, cobertas, e não tem a intenção de apontar a profundidade de significado inerente a essas historias de onde esses personagens foram tirados. Há referências a cenas de novelas, como The Brood of the Witch Queen de Sax Rohmer, ou personagens de histórias de Lovecraft, como Joseph Curwen em O Caso de Charles Dexter Ward.

Há muito nos versos de The Book of the Spider que tem bastante importância na vida de Kenneth Grant, e parecem, por vezes, como se a reveladora Corrente fosse direcionada principalmente a ele.Estamos todos nós expressando uma reveladora Corrente de energia mágica. Nenhum de nós pode expressar uma verdade absoluta, apenas transmitir a verdade como a vemos. O trabalho de um adepto é sempre em um sentido intrínseco a ele ou a ela. A luz é uma, mas as lâmpadas são muitos, e cada lâmpada transmite aquela luz de sua própria maneira.

Personagens não-fictícios também são tecidos nesta Teia de Aranha. No decorrer de The Book of the Spider, nos tornamos conscientes de uma doutrina de avatares, em que várias pessoas que vivem ao mesmo tempo, podem cada uma serem personificações de uma entidade.Como qualquer um que tenha lido Against the Light irá saber, se trata de uma bruxa chamada Awryd, uma ancestral de Grant, que foi executada por bruxaria no século XVI.Awryd retorna, sob o disfarce de Margaret Leesing, Soror Arim, a vidente principal, e antes dela, Yelda Paterson, a bruxa-mentora de Spare. No entanto, a situação se torna mais complexa quando várias pessoas que vivem ao mesmo tempo, são cada uma avatares de Awryd – por exemplo, Margaret Leesing e Clanda Fane, ambas contemporâneas de Grant na New Isis Lodge.Alguns dos avatares são personagens tirados da ficção, como Helen Vaughan de The Great God Pan de Marchen, ou Loriel Besza do romance The Stellar Lode de Grant.Há referências a David Curwen, um contemporâneo de Grant na New Isis Lodge que tinha um forte interesse em alquimia, na Teia da Aranha ele é lançado como um avatar de Joseph Curwen, o alquimista cuja presença sombria paira sobre uma das melhores histórias de Lovecraft , The Case of Charles Dexter Ward.

Seguindo esta breve consideração das Trilogias Tifonianas, no que é que constitui a Tradição Tifoniana que é fundamental para a obra de Grant? ‘Typhoniana’ não é uma indicação precisa, como perceptível nas considerações das entradas de glossário para Typhon, Draco, Ta-Urt e tópicos relacionados através das Trilogias Tifonianas, há uma grande diversidade. Embora durante o período de trinta anos entre as publicações do primeira e do último volume a ênfase tenha mudado, nenhuma dessas entradas por si só são definições da Tradição Tifoniana. Em vez disso, cada uma articula uma faceta dela, não importando o quão importante essas facetas individuais possam parecer à primeira vista. É mais proveitoso, portanto, não pprocurar uma definição firmemente estabelecida, mas permitir à intuição detectar uma coerência subjacente e uma continuidade recorrente ao longo destas passagens.

Se há uma coisa que poderia ser dita para caracterizar a Tradição Tifoniana então é que ela comunga com o que alguns têm chamado de ‘Outside’, quer seja considerado como os confins do espaço além do terrestre, ou as extensões da consciência além da humana. Neste contexto, ‘Outside’ sempre só poderá ser um termo relativo, uma vez que a partir da perspectiva do continuum da consciência não existe dentro ou fora.

Em Beyond the Mauve Zone Grant analisa o transmitido texto Maatiano Liber Pennae Praenumbra a partir de uma perspectiva Tifoniana, e faz a seguinte observação:

    É neste ponto que a curge aparece entre o Caminho de Aiwass-Lam e aquele de N’Aton que prefigura uma futura encarnação da consciência humana – em outras palavras, como nós mesmos iremos aparecer em alguma época futura. Como deve ser evidente a esta altura, refutamos este postulado em favor da noção de que a consciência em sua fase humana é um fenômeno completamente transitório, um mero flash na imensidão do Tempo-Espaço (Nu-Isis). Transmissões tais como as Stanzas of Dzyan, Liber AL, o Necronomicon, e continuando, o próprio Liber Pennae Praenumbra, não apoiam a noção de que uma máscara humana identificável com a consciência perpetue-se indefinidamente. Mas tudo cuja vontade seja dar – como a frase de Nema – “o salto mutacional em ser uma nova espécie” deve está preparado para abandonar o conceito de consciência ‘humana’ com todo seu dualismo implícito.

Estes abismos da consciência são muito mais profundos e mais amplos do que a consciência humana, que, como indicado na citação acima, é transitória e relativamente superficial. A Gnosis Tifoniana está preocupada em encontrar e explorar esses abismos. Como Crowley comentou em um posfácio ao capítulo 30 de Magick without Tears:

    Eu pensei em um bom plano para colocar minha posição fundamental por si só em um posfácio, para concebê-la. Minha observação do Universo me convence de que há de uma qualidade muito maior do que qualquer coisa que possamos conceber como humano; que eles não necessariamente se baseiam nas estruturas nervosas e cerebrais que conhecemos, e que a única chance que a humanidade tem de avançar como um todo é a de que indivíduos façam contato com tais seres.

Era a convicção de Crowley de que a operação do Cairo de 1904, que levou ao contato com Aiwaz e à recepção d’O Livro da Lei, foi a primeiro de uma série de comunicações.Depois de afirmar sua crença em The Confessions de que não havia mais nenhuma razão a priori para duvidar da existência de inteligência desencarnada, ele afirma:

    O caminho é, portanto, claro para eu vir adiante e afirmar positivamente que eu abri comunicação com uma tal inteligência, ou melhor, que eu fui escolhido por ele para receber a primeira mensagem de uma nova ordem de seres.

De facto tem havido mais mensagens ou transmições. A Operação do Cairo de 1904 foi seguida sete anos mais tarde pela Operação de Abuldiz, e sete anos depois que pela Operação de Amalantrah. Todos as três operações foram caracterizados pelo contacto com inteligências praeter-humanas que transmitiram informação. Hauveram também uma série de textos transmitidos conhecidos como The Holy Books, como por exemplo os sigilos e expressões sentenciosas que constituem o Liber 231.

Tais contatos não se restringiram a Crowley. Eles continuaram depois da sua morte com Liber OKBISh e The Wisdom of S’lba, ambos reificados – como delineado acima – durante o período de atividade da New Isis Lodge.Sem dúvida, houveram outras transmissões, e haverá mais no futuro. Estas são irrupções das camadas mais profundos da consciência à consciência desperta.

Assim como suas Trilogias, Grant também publicou vários volumes de poesia e uma série de contos e novelas. Em 1963 viu a publicação de seu primeiro volume de poesia, Black to Black and other poems.Uma intensa e comovente coleção de poemas, foram seguidas em 1970 por The Gull’s Beak and other poems.Um terceiro volume foi lançado pela Editora Starfire em 2005, Convolvulus and other poems, que incluía os dois volumes anteriores e acrescentava um terceiro, coleção inédita anteriormente, Convolvulus: Poems of Love and the Other Darkness.Esta coletânea incluiu rascunhos de Austin Osman Spare, alguns dos quais haviam sido especialmente desenhados para Grant por Spare.

Grant começou a escrever contos em uma idade jovem, e escreveu seu primeiro romance no início de 1950, Grist to Whose Mill? (que em breve será publicado pela primeira vez). Outros se seguiram, e foram publicados a partir de 1996. A maioria desses romances foram escritos durante o período da New Isis Lodge, e revisados antes da publicação. Eles exibiram personagens, muitos dos quais foram baseados em maior ou menor grau nos membros da Loja. Grant deu um insight sobre isso em sua resenha na contracapa do segundo volume da série, Snakewand & the Darker Strain:

    Essas histórias, e outros contos nesta série, foram escritos no despertar de rituais realizados durante um período de sete anos na New Isis Lodge. Muitos foram os magistas e médiuns que passaram pela Loja, e alguns deles foram exibidos na série de romances. Suas personalidades mundanas não poderiam ter parecido incomuns para a observação casual, mas quando extendida e percebida pelas perspectivas únicas que seus papéis mágicos criaram para elas, atingiram uma apoteose, uma epifania. Este fenômeno extraordinário demonstrou as alturas e as profundidades que a natureza humana é capaz de escalar e atingir, no frenesi delirante inspirado por sua arte. Estes contos são do mesmo modo orientados para o outro lado de uma realidade raramente vislumbrada fora de um Círculo carregado magicamente.

Apesar de manter uma devoção a Crowley, Spare, e muitos outros místicos e ocultistas, cujo trabalho influenciou toda a sua vida, Grant nunca foi um seguidor, mas, pelo contrário, criou o seu próprio caminho a partir de uma série de influências, transformado através do crisol de sua experiência mística e mágica. Ele tinha uma profunda consciência do princípio de parampara ou linhagem espiritual, segundo o qual é da responsabilidade de um iniciado desenvolver o trabalho de seu antecessor, o antecessor, neste caso, sendo CrowleyNo curso de tal desenvolvimento, novas vias de abordagem são abertas, enquanto conclui-se que outras agora talvez sejam redundantes. Desta forma, um corpo de obras é uma coisa viva, desenvolvida por sucessivas gerações de iniciados.

A obra de Kenneth Grant foi rica, diversificada e eclética, tecida a partir de muitas vertentes e destilada a partir de muitas fontes. No entanto, sua principal influência foi Crowley, e Thelema é o cerne de sua obra. No velar de sua morte, a tarefa imediata é garantir que toda sua obra publicada esteja mais uma vez em versão impressa e prontamente disponível, e continuar a explicação dos princípios que subjazem a essas obras. Além disso, no entanto, o corpo de obras que ele desenvolveu irá, por sua vez, ser continuado, trabalhado e reconstruído por aqueles que vieram depois dele.Este é o maior testamento de que qualquer um de nós pode esperar.

Eu gostaria de encerrar este exame preliminar com uma passagem da Introdução de Outside the Circles of Time. Aqui, Grant deu uma visão sobre os objetivos de sua obra, a passagem em questão é sucinta e belamente expressa:

    Um último ponto é relevante aqui, e digo isso sem apologias. Não é meu objetivo tentar provar nada, meu objetivo é construir um espelho mágico capaz de expressar algumas das imagens menos evasivas vistas como sombras de um futuro aeon. Faço isto por meio da sugestão, evocação, e por aqueles oblíquos e ‘intertemporais conceitos’ que Austin Spare definiu como ‘Nem uma coisa-Nem outra’. Quando isto é compreendido, a mente do leitor torna-se receptiva ao influxo de certos conceitos que podem, se recebidos sem distorções, fertilizarem as desconhecidas dimensões de sua consciência. A fim de atingir este objectivo uma nova forma de comunicação tem de ser desenvolvido; a própria linguagem tem que renascer, revivida, e dada a um novo rumo e um novo momento. A verdadeiramente imagem criativo nasce da imaginação criativa, e isto é — finalmente — um processo irracional que transcende a compreensão da lógica humana.

    É bem conhecido que os cientistas e matemáticos desenvolveram uma linguagem secreta, uma linguagem tão esquiva, tão fugaz, e ainda assim essencialmente cósmica que forma um modo quase cabalístico de comunicação, muitas vezes mal interpretada por seus próprios iniciados! Nossa posição não é tão desesperadora, pois estamos lidando primariamente com o complexo corpo-mente em sua relação com o universo, e o aspecto corporal está profundamente enraizado no solo da sensibilidade.

    Nossas mentes não podem compreender, mas nas camadas mais profundas do subconsciente onde a humanidade compartilha uma base em comum, há um reconhecimento imediato. Da mesma forma, um magista elabora sua cerimônia em harmonia comas forças que ele deseja invocar, do mesmo modo que um autor deve prestar considerável atenção para a criação de uma atmosfera que é adequada às suas operações. Palavras e suas vibrações não devem produzir um ruído meramente arbitrária, mas uma elaborada sinfonia de reverberações tonais que desencadeiam uma série de ecos cada vez mais profundos na consciência de seus leitores. Não se pode sobre-enfatizar ou superestimar a importância desta forma sutil de alquimia, pois é nas nuances, e não necessariamente nos significados racionais das palavras e números empregues, que a magicka reside. Além disso, é muito frequente e na sugestão de certas palavras não utilizadas, porém indicadas ou empregadas por outras palavras, não tendo direta relação com eles, produzirem as definições mais precisas. O edifício de uma realidade construída, às vezes podem ser criados apenas por uma arquitetura de inexistência, através do qual o edifício real é revelado e ao mesmo tempo oculto por uma estrutura alienígena assombrado por probabilidades. Estas são a legião, e é a faculdade criadora do leitor — desperto e ativo — que podem povoar a casa com almas. portanto, este livro pode significar muitas coisas para muitos leitores, e coisas diferentes a todos eles, mas a nenhum deles pode significar nada em absoluto, pois a casa é construída de tal maneira que nenhum eco pode ser perdido.

por Michael Staley
Traduzido por Lorkshem e por um colaborador que preferiu não se identificar.