sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Manipulação - Temas sinistros


Trata-se de um fato na magia sinistra externa, a necessidade da manipulação. Há a manipulação de formas, imagens e energias mágickas, bem como uma manipulação direta e indireta de pessoas. 

A manipulação de pessoas pode surgir de muitos fatores e ser realizada por muitos motivos. Inicialmente, ela é geralmente feita pelos Iniciados que desejam se deleitar com a sensação de que tal manipulação pode trazer, e que muitas vezes traz - uma sensação de poder e reforço do ego: ela cria um senso de auto-identidade e propósito, aumentando a “posição” do Satanista/Mago Negro. 

Além disso, há o uso pelo Adepto Externo de diversos papéis - como um Sacerdote ou Sacerdotisa - que por sua natureza envolve determinadas porções de manipulação de terceiros, por exemplo, na execução de um Templo ou grupo. A experiência traz habilidade - uma aprendizagem através dos erros e, portanto, uma abordagem mais sutil. Em vez do confronto direto, há um "fluir com" outra(s) pessoa(s) e um hábil redirecionamento deles: ou seja, elas acreditam que estão agindo livremente, ao invés de estar sendo manipuladas. Após o estágio de Adepto Externo, pode haver o uso de tais habilidades conforme o wyrd do Adepto (consulte o Apêndice). 

O que todos os níveis têm em comum é a aceitação da crença de que o Iniciado mágicko é superior ao não-Iniciado: que os outros podem ser usados para alcançar objetivos pessoais/mágickos. Logicamente, no início esse sentimento de superioridade pode ser infundado e mal colocado - por ser decorrente de uma simples arrogância e auto-ilusão. No entanto, se o Iniciado realmente aprende e segue o difícil caminho de magia interna, isso se tornará realidade, o Adepto Externo tendo adquirido a habilidade e começado o processo de desenvolvimento do caráter: que o distingue dos meros mortais. Além disso, determinadas habilidades serão desenvolvidas (algumas conectadas com o ‘Oculto’) e surge um  grande potencial - criando um novo indivíduo a partir do pré-Iniciado. 
       
O pós-Iniciado perceberá a compreensão bastante limitada da maioria e a verá como sendo influenciada por todos os tipos de influências externas e inconscientes: em suma, compreenderá que essas pessoas não são realmente livres. Elas serão vistas como dirigidas e controladas de diversas formas por diferentes meios - por forças arquetípicas dentro de sua própria psique, direta ou indiretamente por terceiros e por ideias/formas/instituições/ideologias, bem como pelos diversos padrões de energias psíquicas assumidos (um deles é o éthos da cultura/civilização a qual pertencem).        

Para o Iniciado sinistro isso será esclarecedor e muito útil, pois fornece oportunidades para experimentação e auto-aprendizagem, como por exemplo, administrar um Templo. 

Não há nenhuma moralidade aqui - apenas o juízo de experiência: a maioria das pessoas não é conscientemente ou esotericamente bem desenvolvida. Na verdade, ainda é bastante primitiva. O iniciado assume uma visão desapaixonada - ainda que haverá vezes em que o seu envolvimento direto irá levá-lo ao comprometimento/envolvimento emocional, conduzindo a um auto-aprendizado a partir dessa(s) experiências, como deve ser no progresso do Iniciado em relação aos outros Graus. No entanto, inicialmente, os outros são vistos como meios. 

Gradualmente, há um distanciamento - do envolvimento pessoal e direto para um mais indireto e mágicko: uma internalização. Isso traz a consciência da psique do próprio Iniciado e, assim, a real compreensão. Pode haver, e na maior parte ainda há, a manipulação de terceiros - mas isso evolui do aleatório para o direcionado, centrado no que o Iniciado acredita como sendo seu próprio destino em termos mágickos. O mesmo se aplica na manipulação de energias mágickas - há primeiro uma evolução do tipo externa não-direcionada (que muitas vezes surge a partir do inconsciente - ou seja, que não foi compreendida conscientemente) para o tipo interna como um processo da magia interna, e então novamente para o tipo externa em uma forma direcionada, a direção surge a partir dos objetivos mágickos estabelecidos para aqueles envolvidos no percorrimento do caminho sinistro. Em suma, há uma consciência desse equilíbrio que também é muito importante para um Adepto genuíno. 

Esse equilíbrio - para um Adepto Externo - é expresso na compreensão, a partir da experiência [ou seja, não "de aprendizado em livros"], de que magia como uma forma direcionada nem sempre é causal quando usado para assistir o indivíduo externamente (e, às vezes, internamente) - ou seja, envolve outros fatores que o indivíduo, no momento do trabalho/ritual, pode não estar ciente ou no controle. Resumidamente, a ilusão de ter alcançado o controle/domínio de todas as formas mágickas através de técnicas, é perdida. Um dos fatores envolvidos é o wyrd do indivíduo; outro é o wyrd do Aeon; e ainda outro - e talvez o mais importante para a compreensão do indivíduo, é a natureza da própria magia: ninguém que não tenha transcendido o abismo pode direcionar ou controlar de uma forma causal todas as formas divergentes de qualquer energia mágicka assumida no causal. No entanto, muitas vezes a maioria das divergências passam desapercebidas quando a “magia prática” é executada, pois a escala de tempo dessas divergências não é o mesmo que o dos efeitos ou de quando é notado pelos Iniciados/Adeptos Externos e na maioria das vezes é o que considerado “sucesso/fracasso” do trabalho. Algumas dessas divergências não representam, ou podem não representar, nenhuma consequência para o indivíduo que conduziu o trabalho - ou seja, podem não produzir efeitos externos discerníveis - e mesmo no caso de representarem alguma consequência, o Iniciado/Adepto Externo as ignoras ou as toma como outras formas temporárias. O reconhecimento ou sensibilidade dessas divergências inicia o processo que conduz o Adepto de Externo para Interno: novamente, a experiência prática é o mestre. Deve ser óbvio que a consequência (seja percebida ou não) é efeito dessas mudanças acausais sobre o indivíduo devido ao a) wyrd desse indivíduo e/ou b) wyrd do Aeon. 

Essa é a curva de aprendizado que os trabalhos mágickos transmitem. Em um sentido, cada Ritual de Grau e as experiências associadas transmitem mais habilidade para apreender e assim controlar as manifestações causais - proporcionam mais habilidade na manipulação mágicka e de pessoas (há um estágio onde os dois são vistos como sendo a mesma coisa), bem como traz a consciência de efeitos causais além da escala de tempo do trabalho e seus desejos/resultados. 
          
A compreensão dos limites (bem, alguns deles!) ocorre frequentemente após o rito dos Nove Ângulos solitário de um Adepto Externo - primeiramente, intuitivamente, e depois de forma mais consciente. Isso inicia o processo de consolidação e leva a promoção de uma auto-percepção, retorno da auto-ilusão, ou rejeição da mágicka e da busca. Por isso, em essência, o rito solitário é uma amostra do caos do abismo - a energia acausal não-direcionada, os efeitos [ou seja, que resultam do presenciamento no causal [”na terra”]) que em sua maioria são imprevistos e muitas vezes indesejados, o ritual em si tão bem estruturado (ou melhor, não-estruturado) que pouca ou nenhuma direção é dada à essas energias - elas fluem e se apresentam de acordo com sua natureza, com o indivíduo sendo um canal. [Observação: isso é o que acontece em uma extensão maior ou menor nos trabalhos externos de um Iniciado/Adepto Externo, que são o ‘componente acausal’ do trabalho.] Assim, o wyrd do indivíduo em alguma extensão direciona e/ou interrompe o fluxo, produzindo determinadas alterações no causal. A natureza dessas mudanças depende desse wyrd. 

A essência da mágicka - e portanto, da manipulação sinistra - é vislumbrada e aprendida em maior parte pela primeira vez. Isso permite que ambos os componentes causais e acausais das energias acessadas através de um trabalho mágico sejam controlados e manipulados e assim, presenciados no causal, e é isso que caracteriza o Adepto genuíno: o Adepto interno possui a compreensão, e o Mestre/Mestra pode tornar essa compreensão real. 

Manipulação II


Um dos princípios fundamentais da Magia Negra é o elitismo: a crença que a maioria está abaixo dos iniciados em termos de compreensão, inteligência e habilidade. Isso fornece a base para manipulação - tanto no nível pessoal, quanto no mágicko. 

Geralmente, o novato em Magia Negra desdenha os outros - até e a menos que o seu valor seja demonstrado ou comprovado. No entanto, conforme explicado anteriormente (em Manipulação I), um novato experiente terá aprendido a sutileza da manipulação: raramente a confrontação direta como um modo de manipulação será usada (a menos que uma pessoa ou grupo mereça ser tratado dessa forma: ou caso essa abordagem seja magickamente necessária. Em vez disso, haverá a abordagem "fluindo com"- manipulação sem a pessoa ou pessoas estarem cientes disso. Muitas vezes, essa abordagem é "psicológica"; outras vezes pode ser psíquica (por exemplo, diretamente mágicka) - ou ainda através do carisma do magista que domina a personalidade da(s) pessoa(s) em questão. 

Seja como for, haverá uma arrogância com base na crença da própria superioridade - e, dessa forma, um isolamento. Pois o verdadeiro Magista Negro, é fundamentalmente um forte individualista que considera a sua própria companhia melhor que a dos outros - a menos que os outros possam ser úteis de alguma forma. Ou seja, não há nenhuma dependência de qualquer tipo, especialmente emocional, em relação a qualquer indivíduo ou indivíduos. Logicamente, é isso que o novato se esforça para alcançar. Não é possível alcançar isso rapidamente - ou somente pela "vontade". Pelo contrário, trata-se de um processo cumulativo - uma mudança alquímica, uma reorientação da personalidade, e tais mudanças levam tempo. 

No caminho sinistro septenário, essas mudanças ocorrem durante o estágio de Adepto Externo e são um prelúdio necessário para o Ritual de grau de Adepto Interno. Um dos aspectos mais importantes desta mudança é o que envolve a companhia - o envolvimento emocional inicial vai mudando gradualmente, deixando de ser uma dependência para se tornar uma parceria - um entendimento mutualmente evoluído; a paixão (sexual e emocional) que o novato possui transforma-se em maturidade. 

A arrogância do Magista Negro não é vazia: não é uma postura. Pelo contrário, ela surge de dentro: a partir do conhecimento e do discernimento que o próprio novato adquire de si-mesmo - ao ter tido êxito em ambos os sentidos, pessoal e mágicko. Através dos objetivos mágickos e práticos definidos para os novatos, eles desenvolvem a autoconfiança, o orgulho e a arrogância verdadeiramente satânicas. O  treinamento e a obtenção desses objetivos práticos geralmente levam o novato ao limite de resistência física e mental - e isso forma o caráter de uma maneira específica [ou derrota o novato, que desiste e deixa a auto-ilusão triunfar - “Eu não preciso de nada disso: isso é tudo ultrapassado ou não me serve; Eu já conquistei o suficiente... - ou ele abandona a busca mágicka e talvez, para mais tarde, tentar outro “método” (que seja mais fácil) ou encontrar outro “professor”].  

Inicialmente, essa arrogância é superficial e expressa por modos, atitudes e até mesmo na aparência. Mais tarde, quando o Adepto a alcança, ela torna-se oculta - exceto nos olhos e no carisma que caracterizam um Magista Negro. Muitas vezes, a manipulação inicial é externa - um complemento para a magia externa - posteriormente, ela se torna “interna” (relacionada aos objetivos internos do Adepto Externo) e mais tarde ainda, aeônica (atada às energias acausais e supra-pessoais). [qv. No Deofel Quartet há exemplos de vários tipos apropriados para Iniciados e Adeptos Externos.] 

Tradução: Yogamaya Purnamasi Devi Dasi
Revisão: AShTarot Cognatus
- Ordem dos Nove Ângulos -