sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Qabalah Draconiana Parte 2


A Inquietante Qabalah Qliphótica & suas Interconexões Energéticas

Há uma porta na alma que se abre para Deus e outra que se abra para as Profundezas. Não tenham dúvida: as Profundezas emergem assim que a porta é efetivamente aberta.
Tifon, Juggernaut e Hécate não eram menos divinos dos que os deuses do mundo superior, e os ofícios de Canídea eram provavelmente, a sua maneira, tão sagrados quanto os mistérios pacíficos de Ceres.
A.E. Waite


Sem as chaves iniciáticas apropriadas e completamente ignorantes do reino da anti-matéria e os mistérios do Não-Ser, os antigos tecedores de mitos interpretaram equivocadamente os símbolos primitivos que os representavam, caracterizando-os como «malignos», energias provindas do «mal» moral. A consequência foi à maciça deturpação dos mitos e lendas que sobrevivem nos dias de hoje na forma de demônios, vampiros, criaturas sombrias das trevas, íncubos, súcubos, monstros etc., todos símbolos que representam um abismo inconcebível de mistérios inomináveis e apavorantes que muitos, desde os homens mais primitivos, ainda concebem como a «fonte da maldade», mas em realidade é o universo do Nada, a ausência absoluta. Mas este «universo oculto» tem sido apontado desde tempos imemoriais por arcaicas tradições que hoje sobrevivem em formas variadas e seus traços têm sido encontrados nas mais diferentes escolas de iniciação da era moderna. Muitas vezes veladas, outras, abertamente reveladas e estas, mesmo provendo as chaves para o aprofundamento do espaço interior, permanecem escondidas daqueles que ainda se encontram na verdadeira escuridão do espírito, a ignorância ou falta de compreensão espiritual.

Esta doutrina oculta hoje está reemergindo da noite dos tempos na forma de novas tradições, diferentes na expressão, mas idênticas na doutrina. Máscaras novas que expressam semelhança com a cultura arcaica primordial e ainda demonstram traços que sugerem afinidade com especulações mais estranhas. A Gnose Primitiva estava baseada na Corrente Ofidiana. Seus mistérios eram de natureza fisiológica e a chave para sua maestria estava conectada a sábia manipulação da energia ofidiana. Com a deturpação dos mitos e os mistérios a eles conectados, outros cultos se erigiram, levando a humanidade a adotar fórmulas religiosas equivocadas, amorfas e enganosas, muitas vezes sob a tutela de pessoas cujo único objetivo é a gratificação pessoal e o domínio da massa.

Talvez o mito mais deturpado e incorretamente compreendido seja o mito da serpente ou dragão das profundezas, tão fundamental para compreensão do presente tema. Nos termos do Culto Theriônico, a serpente ou dragão do abismo é a Besta com cabeça de Jano, a Besta 666 do saber bíblico e o deus-demônio adorado pelos Yezidis sob o nome de Teitan, cujo nome é Choronzon-Shugal. Para Gerald Massey, este mistério residia na compreensão de uma «fórmula numérica». Choronzon-Shugal soma 666. Essa é uma fórmula mágica! Choronzon (333) a metade feminina – portanto o protótipo de Babalon – e Shugal (333) a metade masculina. Sua conjunção na abertura de Daäth, o portal para o universo oculto da anti-matéria, cria um eidolon de luz que suga forças deste plano existencial, admitindo intrusões na consciência ordinária (jagarita) – provindas do estado de prajñā, supra-cognição – da consciência de suśupta, o estado de sono sem sonhos. Em outras palavras, a Besta das Profundezas ou Abismo Infinito da Alma, Shaitan, o Princípio de Luz cuja vibração é o Silêncio, tem de se unir a Choronzon, a consciência dinâmica ou Princípio do Caos na Fissura da Morte, Daäth. Essa união cria uma vibração potente atraindo forças ocultas de lócus além dos círculos do tempo e espaço representados pelas costas da Árvore da Vida. Emitindo os kālas e bindus – o néctar da mulher e o veneno da serpente – ao longo da Árvore da Morte, a Besta escamosa caminha. Seu acesso se dá sobre um arranjo de vinte e dois sigilos que operam como yantras2 que concentram a força e o dinamismo das sentinelas que guardam os reinos mais sombrios e insondáveis da natureza humana.

Mas o papel de Choronzon nessa fórmula mágica tem sido deveras mal interpretado. Adriano Camargo Monteiro, em sua obra A Cabala Draconiana (Madras Editora, 2007), afirma que «Choronzon é o fantasma da confusão, da dispersão, da instabilidade, do labirinto (cárcere) de coisas incoerentes e ilógicas que causam incertezas, dúvidas, frustrações mentais, ansiedade, descontrole e medo por falta de verdadeira compreensão das coisas. [...] é o conhecimento sem compreensão (binah), confuso, sem clareza, intricado, a cilada intelectual que aprisiona a consciência espiritual [...].» Nesta obra, e outras do mesmo autor, ele chega perto da compreensão, mas falha ao tentar reconstruir a Gnose Primordial.

Ao contrário do que o autor nos apresenta em sua obra, Choronzon é a metade da fórmula que liberta e provê clareza e discernimento espiritual, tirando o adepto do cativeiro da dualidade representada como uma miragem ou ilusão na consciência do universo fenomênico. Da mesma forma que encontramos nos śāstras (escrituras) tântricos a afirmação de que «Śiva sem Śakti é śava», o adepto – como Shaitan-Shugal-AL-Seth-Lúcifer-Pã-Baphomet – sem Choronzon não completa sua obra. Portanto, a falha do autor está em não demonstrar que a afirmação dele é válida somente no que concerne os Irmãos Negros, aqueles que tipificam os atavismos da Besta separados de seu veículo natural de manifestação, quer dizer, Babalon, a Mulher Escarlate. Como Crowley afirma em 777: «eles tipificam o tipo errado de silêncio».

Os antigos qabalístas reivindicam que este é o reino das Qliphoth, o reverso ou a antítese das Sephiroth. Este é o reino do caos! As forças que ali residem são de uma natureza não-humana, além da humana e extra-terrenas, pois existem em um universo não concebido pelo estado de consciência ordinária ou estado de vigília (jagarita). Influenciados por mitos construídos ao redor de uma doutrina deturpada, interpretamos estas forças caóticas da anti-matéria, do Não-Ser, como aspectos malévolos conectados a personalidade. Mas «maldade», atos «desumanos» e a miríade de nomes que damos aos aspectos mais obscuros de nossa personalidade – relacionados à moral da sociedade – não têm nada a ver com o reino da anti-matéria e os seres que ali habitam. Falando em termos claros, ao contrário do que escrevem os autores modernos sobre o assunto, estes seres do Universo «B» estão muito além dos vícios e tendências animalescas do ser humano. Eles são experiências que estão além da compreensão ordinária – Universo «A» – e não se comparam a nada que seja humano. Para ter acesso à dimensão destes seres, adeptos do passado, xamãs, tântricos, gnósticos e alquimistas, se valeram das fórmulas mágicas da Corrente Ofidiana e iniciados do presente como Aleister Crowley, Kenneth Grant, Austin Osman Spare e Michael Bertiaux utilizaram-na com os mesmos objetivos.

O presente artigo é uma introdução básica sobre aquilo que ficou conhecido como os Túneis de Seth. Uma rede de túneis que se alastram por trás da Árvore da Vida. Em realidade, quando levamos em consideração a árvore qabalística, eles representam os vinte e dois caminhos retrógrados, a antítese dos caminhos na frente da árvore. Existem muitos autores desenvolvendo novas «teorias» acerca do trabalho com estas forças por trás da Árvore da Vida. De acordo com a Corrente Ofidiana, o local de encontro com estas forças é através do Portal da Morte, a falsa sephira conhecida como Daäth. Essa mesma corrente, em concordância com os mistérios primitivos, alega que estas forças se manifestam através das secreções destiladas pelas sacerdotisas no momento da explosão do eidolon de êxtase promovido pela fórmula mágica. Estas secreções ou néctares são conhecidos pelo nome de kālas. Cada acesso, cada túnel e sua sentinela, bem como a horda de seres que habitam aquele lugar, têm acesso ao universo fenomênico através da sacerdotisa e seus néctares, cada um designado a uma fórmula mágica do Soberano Santuário da Gnose, O.T.O.

Nós falaremos dos túneis e suas sentinelas. Podemos citar experiências e indicações apontando caminhos distintos para o trabalho mágico. Mas a fórmula mágica não será explicitamente revelada. Isso devido aos óbvios acidentes que envolvem seu abuso, seja por inconsequência ou malícia. Mas a técnica será evidente àqueles que já operam com a Corrente Ofidiana da Gnose Primordial.

Você está diante de um labirinto intricado de túneis, células e tubos que se interconectam como uma grande teia de aranha. Embora o diagrama da árvore qabalística seja utilizado por nós como um mapa, a parte de trás da Árvore da Vida ou a Árvore da Morte, do Conhecimento, não deve ser concebida em padrões precisos. Da mesma maneira que uma veia tem seus inúmeros vasos auxiliares que se distribuem por todo o corpo, assim são as células das Qliphoth e seus túneis e tubos. Uma vez que o «portão principal» esteja aberto, cada aspecto desta existência torna-se acessível com facilidade. Todavia, o experimentador perdido, desorientado ou desprotegido pode ser sugado para dentro dos vértices rodopiantes das energias qliphóticas.

O Simbolismo Ofidiano do Mito da Queda ou a Fórmula Mágica do Jardim do Éden & o Delírio de Satã.

E nas Cabeças do Dragão estavam escritos os nomes dos Oito Reis de Edom e em seus chifres, os nomes dos Onze Duques de Edom, pois Daäth, havendo desenvolvido no Dragão uma nova Cabeça, o Dragão com Sete Cabeças e Dez Chifres, tornou-se o Dragão de Oito Cabeças e Onze Chifres.
Gn. 36: 31-43 e Cr. 1: 43-54

Como demonstrado no artigo anterior, a interpretação primordial do mito da queda reside no mistério da polaridade sexual. Segundo o mito, Adão caiu para dentro da matéria, Malkuth. Ele fora expulso ou lançado para fora do Jardim do Éden, Daäth, deixando a mulher para «trás». Portanto, o segredo do «retorno» ao «paraíso» é a Mulher, o próprio Jardim. Essa alegoria representa a forma primordial da mulher como a «primeira», a «interna», a «inferior», as «costas», o «lado noturno». Ela é o Portal da Morte, Daäth, o Santuário Oculto da Transformação, o útero. Sua fórmula é o Abraço de Choronzon porque ela encarna o mistério do Dragão das Profundezas, o Dragão de Oito Cabeças, Shugal-Choronzon, como demonstrado acima.

Como os hebreus não possuíam uma doutrina evolucionista, o mito primitivo da queda foi interpretado nos termos da moral social e posteriormente do pecado original. Mas a Gnose Primitiva por trás do mito sobreviveu nos Tantras do Oriente e é somente através deles que podemos acessar a corrente mágica genuína e interpretá-la sob a luz de sua origem primordial.

No mito da queda, não somente Adão e Eva foram interpretados equivocadamente, mas a Serpente do Éden também. Essa Serpente, provedora da maçã sagrada, o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, o mistério da encarnação e da miscigenação mágica, representa o primeiro impulso, a vibração primordial «spanda» que nos leva em direção a Luz através do Nada. Essa Serpente foi chamada de Satã, o protótipo judaico-cristão do deus mais antigo e adorado no Planeta, Seth.

Seth era a divindade atribuída a Sothis (Sirius), o Grande Sol da constelação denominada Canis Major. Sothis simbolizava o Sol por detrás do Sol de nosso sistema solar. Sothis era para os egípcios a Estrela Dupla, àquela que criava e refletia imagens. Sothis ou Seth era o Sol no Sul, a baixa região, i.e. a África. Em egípcio, Cão é An. Quando os devotos do Princípio Feminino – Draco, Tifon, Nuit, Isis – invocavam Seth (Sothis), o Deus da Constelação do Cão (An), eles chamavam-no de Seth-An. A palavra tornou-se Satan ou Shaitan, a Estrela da Constelação do Cão, o Senhor das Regiões Infernais (Sul) ou a Região do calor Infernal (África). Posteriormente, a concepção astronômica e geográfica do mito foi deturpada e interpretada no sentido teológico do inferno cristão. «Esta é a raiz de onde se deriva chamar o diabo de cão negro.»

Este impulso primordial no homem, este desejo ardente de retorno ao Éden, é o próprio Satã em seu delírio de êxtase. Hislop8 chamou Seth de «o deus da confusão», mas no sentido em que Seth (Satã, Shaitan, Teitan, Baphomet, Lúcifer, Mako etc.) se manifesta como um «turbilhão» inconcebível, uma chama viva que arde e faz movimentar. No Culto Theriônico, Seth (Hadit) é o bindu silencioso (Hoor-paar-Kraat), o ponto que é Nada, o Não-Ser cuja imagem refletida, o Ser, é Horus, o falcão (Ra-Hoor-Khuit). Portanto Sothis, via Daäth, projeta o Sol de Tiphereth. Nos termos da Gnose Ofidiana, Seth é a «Vontade-Botão»9 e o Horus sua manifestação, o falo ereto. É esta Vontade-Botão que se manifesta no Vazio Negro do Espaço (Ain) através da fórmula mágica do Jardim do Éden, o Abraço de Choronzon.

Qabalisticamente, estes mistérios têm conexão com os números 11 e 66. No O Livro da Lei (I: 60), Nuit diz: «Meu número é 11, conforme todos seus números que são nossos.» A frase revela o mistério do «oito, e um em oito» no AL II: 15, pois o Dragão é um, embora tenha oito cabeças. 11 é o número da magia, a «energia tendendo a mudança»,10 e também do Portal da Morte, Daäth, o lugar da cruz, o lócus da modificação – energia que tende a mudança – mágica. Daäth provê acesso a Nuit, o Não, Vazio, Nada. No verso, a palavra «nossos» soma 66, o «Número Místico das Qliphoth e da Grande Obra». Kenneth Grant esclarece que este é um mistério que tem confundido ocultistas e qabalístas durante eras: a não compreensão de que o reino das Qliphoth está conectado a realização da Grande Obra. 66 é a soma dos números de um a onze e o número de DNHBH, o nome de uma cidade de Edom, a sombra da Cidade das Pirâmides (Binah) no Deserto de Seth (Shin). Seu pilono, Daäth é a morada ou o santuário secreto do Oitavo, a Besta com cabeça de Jano adorada pelos antigos Templários na forma do Baphomet, o Octinomos gnóstico. 66 é ainda o número de ALHIK que, segundo o Deuteronômio (4:24) é «O Senhor teu Deus cujo Fogo consome». Este é o fogo da Serpente Ígnea ou Corrente Ofidiana. Finalmente, 66 equivale a Gigal (GLGL), uma roda ou espiral, o que conecta todo este simbolismo com a teoria tântrica dos cakras ou zonas de poder cuja equivalência pode ser encontrada na Árvore da Vida.

A imagem de Austin Osman Spare (acima) sobre o mito da queda encerra os mistérios dessa Gnose Tifoniana. Em sua arte, as cabeças do Dragão levam os nomes dos oito Reis de Edom, e em seus Chifres os nomes dos onze Duques. Os oito Reis representam as oito zonas de poder: Malkuth (Terra), Yesod (Lua), Hod (Mercúrio), Netzach (Vênus), Tiphereth (Sol), Geburah (Marte), Chesed (Júpiter) e Daäth (Urano). Os onze Duques representam as Qliphoth, pois 11 é seu número. Na mitologia primitiva, as oito zonas de poder eram atribuídas aos oito deuses que governavam o Caos. É interessante notar que Crowley compara o Caos com a Besta (Therion), No Egito, o Caos era designado pelo nome amem-smen ou am-smen. Somente depois em uma fase tardia da evolução mitológica – ou da Consciência – que estas zonas de poder foram atribuídas a hierarquias cósmicas menores como os planetas. No sistema qabalístico, elas representaram as sete zonas de poder que formavam a base da pirâmide na Árvore da Vida com sua culminação no ápice na oitava ou mais elevada zona de poder, Daäth, o Caos ou Abismo. Kenneth Grant, restaurando os mistérios primordiais, atribuiu estas zonas de poder no corpo físico através da Cruz Magnética, um arranjo de marmas e cakras no corpo humano cuja soma total das letras hebraicas atribuídas é 360, o número de dias no círculo do ano descontando os cinco dias «perdidos» quando a ocultação mística da lua ocorre. É o ciclo completo de forças eletromagnéticas que circulam a anatomia astral do homem.

Na fase sumeriana da mitologia, as sete Cabeças do Dragão Devorador (Apófis) foram representadas como segue:

·         Um Escorpião.
·         Um Raio (suástica).
·         Um Leopardo (e às vezes uma Hiena).
·         Uma Serpente.
·         Um Leão.
·         Um Gigante.
·         Tifon, o Anjo do Vento Fatal.

Não existe uma perfeita concordância de símbolos, mas não podemos negar que as sete Cabeças do Dragão citadas acima refletem os poderes dos planetas listados anteriormente em conexão com as Sephiroth.

O Escorpião representou o calor apavorante do Sol no período em que ele era tido como o «que consome» o mundo e seus raios eram abominados por seu calor excessivo. A deturpação mitológica posterior acerca do inferno se baseia nessa estrutura primitiva da mitologia. O que tipificava o calor infernal era o Filho-Sol, Har, que secava as terras. O Har foi identificado com «hell», inferno, que metafisicamente passou a ser identificado como o mal moral.

O Raio representou o movimento expansivo de Júpiter. Tanto o Leopardo quanto a Hiena representavam a Terra como símbolos de transformação. A Hiena é conhecida como a «besta de sangue», o que sugere uma fase ou aspecto lunar da Terra. Na representação do Dragão na Qabalah Khemética, o Touro toma lugar da Hiena, confirmando sua atribuição a Terra.

A Serpente foi atribuída a Lua por sua natureza regenerativa e cíclica, bem como os mistérios que envolvem o menstruum de Yesod. As correspondências aqui são numerosas: Na Qabalah Khemética, a Serpente é descrita como a «devoradora do tempo». Tempo aqui é kāla. Essa é uma alusão ao eclipse lunar ou os cinco dias negros quando a luz é obscurecida, quer dizer, o período de catamênio. Pela mesma Qabalah, a Serpente é ainda identificada como «a que faz a existência invisível aparente», outra alusão a encarnação ou entificação – e portanto identificação – da carne (encarnação) que é a função peculiar da energia lunar em sua fase ofidiana.

O Leão fora atribuído a Marte. Isso pode ser identificado na Qabalah Khemética com a frase «olhos vermelhos», pois o Leão está em fúria.

O Gigante é o Babuíno de Thoth, o macaco rebelde como um veículo de Mercúrio. O macaco é um arquétipo conectado aos Teratomas Tifonianos. Nos mistérios primitivos, ele era tipificado pela morte transformadora, quer dizer, o nascimento dentro do mundo do espírito. O significado esotérico é que, na noite da morte (Daäth), o ego é dissolvido, descarta sua existência ilusória e alcança o ser real que é não-ego, Não-Ser.

Tifon representou o Tufão, o vento avassalador ou sopro do fogo. Portanto, as sete Cabeças do Dragão (as Sephiroth de Malkuth a Chesed) culminaram na oitava Cabeça (Daäth), o lugar da purgação ou transformação e preparação para experiência das supernas, Kether, Chokmah e Binah, somando assim 11 zonas de poder.

A Serpente de Oito Cabeças sobe pelas oito zonas de poder a fim de experimentar a experiência das supernas. Essa Serpente é o desejo ardente pela iluminação, é Lúcifer iluminando o caminho de retorno ao Éden. É a kuṇḍalinī perpassando os centros de poder. Esse é o objetivo de todas as escolas de mistérios. É somente quando a Serpente de Fogo chega a Altura Mais Elevada, quando a Oitava Cabeça do Dragão aponta mais alto, que o salto para o reino do Não-Ser poderá ser efetivado. Este mistério tem sigo apontado por inúmeros Adeptos ao longo da história. Entre eles, H.P. Blavatsky – que muito ocultou –, Aleister Crowley, Kenneth Grant e Michael Bertiaux. Estes adeptos mostraram a verdadeira identidade sexual que existe entre a Gnose Primordial e os mitos tecidos ao seu redor. Salvo Blavatsky que chegou a pensar que esta Gnose era obra do demônio, eles deixaram seus leitores com poucas dúvidas acerca da validade mágica desta corrente e sua utilização como um meio de realização interior. De modo a compreender melhor como esta chave opera, passamos a uma análise da corrente que infunde nossas práticas.

A Corrente Ofidiana Kuṇḍalinī, Marmas e Kālas


A Corrente Ofidiana foi o substrato primevo que deu origem e subjaz todas as escolas de mistérios, no passado e no presente, de forma corrompida ou completamente estabelecida. A Missa Católica, por exemplo, cuja performance é uma corrupção da Fórmula Gnóstica IAO, é uma encenação da Missa do Espírito Santo. O sacrário representa o útero enquanto que o cálice representa a vulva. O vinho representa o sangue lunar de Babalon. O báculo é o falo e a hóstia a semente, a «vontade-botão» da Besta. A Missa Católica teatraliza o eidolon de êxtase da união entre a Besta e Babalon, como demonstrado acima.

Os Tantras da Índia preservaram a tradição em sua forma primordial e a eles devemos a formulação da doutrina que nos permite manipular com destreza e sabedoria a corrente psico-sexual. Essa corrente mágica no Ocidente se concentrou em uma das Ordens mais influentes do século passado, a Ordo Templi Orientis, O.T.O. Formulada a partir de uma cadeia de sucessão espiritual da Fraternidade Hermética da Luz, seu fundador foi o industrial austríaco e maçom de alto grau, o Dr. Karl Kellner. Exímio buscador, em suas viagens pela Europa, América e Ásia, contatou inúmeros adeptos e esteve em contato com várias organizações iniciáticas. De todos os iniciados que manteve contato, três foram de suma importância na formulação do segredo central da O.T.O. Eles foram o Adepto Árabe Solomon bem Aifa e dois Adeptos Indianos, o tântrico Bhima Pratad e o yogī Śrī Mahātma Guru Paramahaṃsa. Estes três adeptos repassaram informações concernentes à utilização da energia psico-sexual para finalidades mágicas e místicas através de sucessivas iniciações. Após sua morte sob circunstâncias misteriosas em 1905, Theodor Reuss assumiu o controle da Ordem. Ele recebera das mãos de Kellner o segredo. Contudo, ambos se mostraram incompetentes ao transmiti-lo de forma adequada. Portanto, ao receber das mãos de Reuss estes mistérios, Crowley não sabia de sua natureza já deturpada. Ao traduzir os mistérios para Tradição Hermética Ocidental, Reuss adulterou a fórmula, repassando-a a Crowley que, novamente reformulando-a segundo suas próprias concepções, criou um arranjo inadequado das verdadeiras chaves tântricas enterradas com Kellner.

Ao que parece ainda, Reuss e Crowley foram incapazes de compreender o papel da sacerdotisa no rito. Crowley, no fim de sua vida, em resposta a um comentário tântrico feito por um adepto da Ordem,refez sua opinião em um texto conhecido como O Elixir da Vida, embora tenha mantido firme até o final sua interpretação acerca do Ritual Qadosh que ele incorporou em sua visão do XIº Grau como a fórmula de sodomia homossexual. Kenneth Grant, o adepto que ocupou seu lugar como Líder da Ordem, suplantou as más interpretações de Crowley com base na sabedoria tântrica do Śrī Vidyā, uma tradição Śākta do sul da Índia.Em sua «administração», Grant realinhou a Ordem com a Sabedoria Estelar e atribuiu ao XIº Grau os mistérios de materialização do candra-kāla, quer dizer, a menstruação.

Para uma compreensão efetiva dos mistérios ofidianos encerrados pela O.T.O., é necessário fazer algumas considerações acerca daquilo que nos Tantras é denominado «a experiência da kuṇḍalinī» e essa experiência encerra o conhecimento dos cakras, marmas e srotas, vórtices de energia, pontos de compreensão e sistemas prânicos que alimentam e fazem funcionar o corpo físico.

Após anos de experimento com o «fenômeno» da kuṇḍalinī pude comprovar que fora das escrituras sânscritas, nos manuais modernos de Yoga e Ocultismo, o tema é abordado de forma equivocada. Em meus estudos das escrituras, direto no original em sânscrito, notei que muitas informações disseminadas nos livros modernos são simplesmente invenções e não têm relação alguma com os verdadeiros ensinamentos da tradição tântrica. Um exemplo clássico é a obra de C.W. Leadbeater, Os Chacras (Editora Pensamento, 1986). Embora um exímio clarividente, Leadbeater proveu inúmeras informações incorretas acerca dos cakras.29 Outro termo equivocado encontrado nos livros modernos é «o despertar da kuṇḍalinī». Talvez essa seja a maior das concepções equivocadas. A tradição tântrica, segundo as escrituras, não concebe um «despertar» da kuṇḍalinī. Para qualquer tântrico, a kuṇḍalinī já está desperta. Ela já se encontra no sahasrāra-cakra e sua «estadia» no mūlādhāra-cakra não passa de uma ilusão projetada no universo fenomênico. Essa doutrina tem equivalência com o mito da queda, pois Adão fora do Jardim do Éden, lançado em Malkuth, é equivalente ao «raio» da kuṇḍalinī que fez de sua morada no mūlādhāra-cakra. Para um tântrico, os cakras ou vórtices de energia não passam de «interruptores» que acionam determinados centros no cérebro. Cada cakra ascende ou coloca em funcionamento uma parte do cérebro. Trazendo para o campo da ciência, a experiência da kuṇḍalinī é a iluminação total de todas as regiões do cérebro, fazendo com que ele opere em sua plena capacidade, não apenas 5 ou 10% como no homem comum.30 Este mistério está além da dualidade. Na verdade, ele somente é acessível na não-dualidade. A kuṇḍalinī imprime em nosso interior a verdadeira natureza, é o pulso (spanda) que torna o Adepto autentico e perfeito. Ela assume a forma do corpo físico – porque está na terra, o mūlādhāra-cakra. Portanto, a kuṇḍalinī somos nós mesmos enquanto manifestação objetiva. A doutrina tântrica promulga que, quanto mais o corpo físico expressar essa força poderosa, mais perfeito, natural e produtivo ele se tornará. A fim de acessar outros planos, a fim de se adentrar a esfera de Júpiter, por exemplo, a kuṇḍalinī tem de se movimentar até sua zona de poder particular. Contudo, se ela deixa a terra, o mūlādhāra, a vida se esvai. É por isso que se diz que os tântricos da mão esquerda operam com a kuṇḍalinī na esfera do mūlādhāra, pois é neste plano, de uma perspectiva terrestre, que o adepto tem acesso a uma esfera não-terrestre, mas para isso, deve ter pleno controle do prāṇa, sem o qual é impossível manipular a kuṇḍalinī.

O prāṇa é a vida do Universo. Foi concebido pelos sábios hindus como «aquilo que faz as coisas se moverem e se movimentarem». Quando o prāṇa se move, é como o vento, que arrasta consigo tudo aquilo que ele encontra em seu caminho. As sacerdotisas da Ordem que exercem o «ofício» de Babalon controlam o prāṇa para tornar o corpo obediente aos comandos da kuṇḍalinī, pois o prāṇa pode conduzir o arranjo peculiar de kālas para as zonas de poder no corpo, os cakras e marmas e através deles, sua purgação pela yoni durante as operações mágicas. Mas o controle do prāṇa só ocorre via a mente unidirecionada. O prāṇa tem a mesma natureza da mente. Ele é a mente em movimento! A sacerdotisa treinada, portanto, pode movimentar o prāṇa através da rede oculta de canais e vórtices de poder, direcionando assim os kālas através de sua vontade focada.Um exemplo do trabalho desta natureza foi delineado por Kenneth Grant para o Soberano Santuário da Gnose, O.T.O., no esquema que ele chamou de Cruz Humana ou Cruz Magnética, a intercessão ou cruzamento do espírito com a matéria. Como acima indicado, este esquema apresenta um arranjo de cakras e marmas que possibilita através da concentração unidirecionada, o aterramento dos kālas pela da sacerdotisa. Estes cakras e marmas quando embebidos de prāṇa através dos «passes do transe ofidiano», colocam a Serpente de Fogo em movimento.

Marma, por definição, significa «zona vulnerável» ou «sensível». A existência de regiões tão vitais demonstra que o corpo não é simplesmente uma massa física, mas um campo de energia complexo, com pontos de força por meio dos quais é possível controlar tanto os processos fisiológicos quanto os psicológicos. Os marmas são parte de uma «fisiologia sagrada» que delineia o corpo de acordo com as correntes sutis de energia (nāḍīs e srotas) e suas inúmeras zonas de poder. O corpo possui seus próprios pontos de convergência, assim como o Planeta possui seus locais sagrados e suas correntes de energia de acordo com a geografia oculta demonstrada nos Tantras. É necessário que a sacerdotisa compreenda a geografia sagrada de seu corpo para que esteja em sintonia tanto com os centros de energia do Planeta quanto com o cosmo em sua vastidão.

Os marmas variam de tamanho, indo dos muito pequenos até os muito grandes. Quando manipulados, são capazes de alterar tanto as funções orgânicas quanto a condição estrutural do corpo. Por sua correta utilização, toda a energia física e mental pode ser aumentada, diminuída ou redirecionada de forma consciente. A principal definição de marma não é anatômica, mas energética, nos termos do prāṇa e do doṣa (biotipo) do adepto. Seu local exato depende dos prāṇas tanto do adepto quanto da sacerdotisa. Em termos práticos, para que a sacerdotisa consiga canalizar através de suas vibrações vaginais os kālas de regiões transplutonianas, é necessário fazer uma desobstrução completa no sistema. Isso se faz retirando a energia bloqueada em determinados marmas que convergem duas ou mais nāḍīs. Os «passes do transe ofidiano» não somente canalizam determinados kālas através das zonas de poder e centros de energia no corpo, mas também purificam todo o complexo protoplasmático do corpo astral da sacerdotisa. O adepto será capaz de direcionar seu prāṇa para qualquer marma ou cakra da sacerdotisa a fim de infundi-lo com sua própria energia e ainda encontrará nela os pontos onde seu prāṇa está enfraquecido ou bloqueado. O prāṇa do adepto irá sempre operar em conjunto com o prāṇa da sacerdotisa para equilibrá-lo, da mesma forma que a água irá naturalmente fluir para dentro de áreas de baixo nível.

Os marmas e cakras formam um circuito psico-sexual no corpo humano. Ele está em sintonia perpétua com as forças cósmicas do universo. Operando sobre seu próprio corpo, seu templo, o adepto forma um elo de conexão duradouro com estas forças macrocósmicas, pois o corpo é a própria conexão com elas.

O circuito psico-sexual humano é um Tarot. Embora em tempos remotos essa palavra tenha sido identificada com as cartas do baralho divinatório baseado na Árvore da vida e estivesse associada à bruxaria medieval, seu significado mais primitivo tem uma profundidade maior. Por permutação qabalística (temurah), o termo «tarot» pode significar lei «torah», roda «rotah» e princípio ou essência «tarô». A raiz da palavra pode ser buscada no nome da Mãe das Revoluções ou Ciclos do Tempo, a deusa egípcia Ta-Urt. Por representar um tipo de lei periódica e portanto de duração ou eternidade, pode-se dizer também que a palavra designa um ciclo periódico de tempo (kāla) ou essências transmitidas pelo organismo humano. Assim, a palavra Tarot denota a natureza essencialmente sexual da estrutura psíquica do homem, resgatando seu significado mais antigo. As cartas do Tarot representando as Sephiroth e os Caminhos são designações metafísicas dos Mistérios Arcanos cuja base é essencialmente fisiológica. Em outras palavras, os Atus representam o Tarot vivo ou o circuito psico-sexual da constituição humana.

O corpo humano é um sistema intrincado de forças interconectadas, coberto por milhões de meridianos e linhas de energia (srotas e nāḍīs), que se interligam para formar tanto os marmas quanto os sandhis que recebem dos cakras (vórtices de energia) seus princípios vitais. Quando falo sobre toda estrutura psíquica do homem, costumo usar este exemplo: cada fibra do corpo está conectada a uma corrente prânica através do complexo sistema de canais de energia ou fluxos. Estes fluxos foram pesquisados e sua função pode ser comparada a um sistema elétrico. A energia é distribuída em nosso corpo físico da mesma forma que o sistema elétrico distribui energia a partir da estação de geração até a sua casa. O mūlādhāra-cakra é a estação geradora. A partir dele a energia é distribuída por meio de três fios de alta tensão: iḍā, piṅgalā e suṣumṇā-nāḍīs, para os cakras ou subestações elétricas situadas ao longo da coluna vertebral. Dos cakras, a energia é distribuída através das principais nāḍīs e srotas para os diferentes marmas associados aos órgãos e partes do corpo. Das nāḍīs principais outra distribuição ocorre através de milhares de nāḍīs menores que carregam a energia para cada célula do corpo.

Tarot psico-sexual da estrutura humana delineado por Kenneth Grant. Aos marmas são atribuídas letras do alfabeto hebraico e sua localização é: ājñā (ayin, 70) + nuca (qoph, 100) + palmas das mãos (kaph + kaph, 40) + kteis (ayin, 70) + anus (ayin, 70) + falo (yod, 10) = 360.

Como citado anteriormente, Kenneth Grant mapeou essa estrutura psico-sexual na Cruz Magnética ou Cruz Humana como uma fórmula a ser utilizada pelos adeptos da Corrente Ofidiana. Para cada marma ele atribuiu uma letra do alfabeto hebraico, construindo uma cruz psico-sexual na estrutura geométrica da Árvore da Vida que possibilita o acesso ou contato com forças da anti-matéria através da sacerdotisa – destilando seus kālas – como um portal.

Marma sthapani :: ājñā-cakra :: letra ayin

Este é o primeiro marma da Cruz Magnética e está localizado no ājñā-cakra, entre as sobrancelhas, no brumadhya. A atribuição qabalística para este marma é a letra ayin, cujo valor é 70. Este marma rege a mente, os sentidos e em um sentido mágico-místico, o próprio prāṇa.Este é o marma que auxilia no controle dos sentidos, fundamental a qualquer prática de pratyāhāra, e administra o agni da mente.Este agni é o fogo da percepção, manasika-agni. Ele permite a digestão das impressões sensoriais. Entre os órgãos dos sentidos, o fogo mental é o que mais se conecta com os olhos (ayin), que correspondem ao fogo entre os sentidos. Entre os órgãos de ação, ele é o mais conectado com a fala em um nível mental – a fala dentro da mente, a voz interior. O agni mental digere as impressões e as transforma no cenário interior, o campo de nossa imaginação. Sua atividade é a do Olho de Śiva, quando o olho se abre o mundo de aparências e ilusões desvanece e a realidade é experimentada, algumas vezes em sua brutal totalidade. Esta experiência pode ser de extrema intensidade e apenas adeptos preparados podem passar pela experiência com impunidade (veja A História do Grande Deus Pã de Arthur Machen). Astrologicamente, este marma está conectado com o signo de Capricórnio por simbolizar a experiência de Pã, a visão da integridade e unicidade de todas as coisas.

Marma simanta :: região da nuca :: letra qoph

O segundo marma está localizado na região da nuca – mas abrange grande parte do crânio – sendo o trono cerebral da atividade sexual dentro da espécie humana, pois rege o sistema límbico também, e é atribuído à letra hebraica qoph, cujo valor é 100. É interessante notar, uma vez que este marma é de importância vital na Corrente Ofidiana, que pela Qabalah Grega «P» de phallus «falo» é equivalente a 80 e «K» de kteis «vagina» equivale a 20. Juntos, o falo e a vagina, a Lança e o Graal, somam 100. Astrologicamente, qoph é atribuída a corrente lunar, associada as secreções que estimulam o desenvolvimento sexual, curam o organismo e espiritualizam a dimensão psíquica humana por servirem ao aterramento ou conexão com forças trans-mundanas.

Marma lanith :: viśuddha-cakra

O terceiro marma está oposto a qoph e localiza-se no viśuddha-cakra, o centro laríngeo. Este é o centro que emana a Palavra, o Logos criado pela interação dos marmas sthapani e simanta, do ājñā e qoph, da Vontade e Vibração. Este Logos é manifesto em Daäth. Ayin (70) + qoph (100) = 170. Este é o número dos Nephilim, os gigantes caídos ou abortos mágicos tipificados pela imagem do macaco, um Teratoma Tifoniano remanescente da experiência pré-humana de miscigenação mágica. São seres dotados de «puro logos»; a formulação da Vontade por Hadit – como S’lba – no ayin através das forças sexuais de qoph que se manifestam no viśuddha. Este é o marma da comunicação oculta, a clariaudência. É através dele que o mundo espiritual, quer dizer, além do universo manifesto, pode ser percebido. É a fonte de onde os grimórios ganham manifestação na matéria.

Marma tala-hṛdaya :: palma da mão :: letra kaph

O tala-hṛdaya encontra-se no centro das palmas das mãos. A eles foi atribuída a letra kaph, cujo valor é 20. Este marma é responsável pelo funcionamento do sistema respiratório e pulmões, portanto, está diretamente associado à manipulação e circulação da energia prânica, cujo veículo de manifestação mais preponderante é o ar. Também é responsável pela saúde do coração, circulação e recepção de calor na pele. As palmas das mãos são utilizadas para infusão de energia prânica e funcionam como polos alternados responsáveis pela recepção, circulação e emissão dessa energia. A palma direita é positiva, a esquerda é negativa. Nas mulheres é o oposto.

No Tantra, o trabalho com as mãos ocupa lugar de destaque através das mudrās. Efetivamente, as mudrās são chaves psíquicas que direcionam a energia vital. Em outras palavras, elas conduzem a energia ofidiana da kuṇḍaliniī. O mesmo ocorre com os «passes do transe ofidiano». Através da manipulação da corrente mágica por meio das palmas das mãos, o adepto pode canalizar a energia gerada pela interação dos marmas ayin e qoph e utilizá-la para desbloquear os centros de energia, infundi-la nos locais de baixa ou queda energética, limpar a estrutura protoplasmática do corpo astral, direcioná-la para os cakras superiores ou para a «boca da yoginī».

Juntas, as palmas das mãos somam 40. Este é o número de GYAL, «libertar» e LI, «néctar», «leite», referências à utilização das mãos como agente de libertação dos fluxos psico-sexuais durante as operações mágicas. Neste ponto, nos interessa lembrar que a letra mem, cujo valor também é 40, significa «uma mulher», «sangue», «vinho», «fluído» e «secreção». Outra referência às mãos como agentes de liberação da corrente ofidiana.

Kenneth Grant nos traz o seguinte esclarecimento:

A palma é utilizada principalmente para despertar os marmas em seu próprio corpo ou no corpo de outra pessoa. Quando o Adepto estimula as sutis zonas de poder no corpo de uma Sacerdotisa especialmente preparada, precipita a Serpente de Fogo em determinados níveis ou dimensões correspondentes àquelas de suas manipulações. Por este método, o Sacerdote pode estimular a Kundalini de sua morada na base da espinha para quaisquer marmas que ele possa escolher. Quando ela se eleva ao ajnacakra à mulher então se torna uma Sacerdotisa inspirada, uma vidente ou oráculo sagrado dotada com clarividência; ela é capaz de acessar qualquer evento astrológico sendo capaz de ver tanto o passado quanto o futuro. No Culto Kaula do Caminho da Mão Esquerda, onde a adoração da Deusa é desempenhada exclusivamente no nível do muladharacakra, a Sacerdotisa, após concentrar os ojas na palma de sua mão esquerda, eleva a Serpente de Fogo e, não levando-a para cima da espinha, vê clarividentemente com seu útero. Ela assim o faz durante o período do catamênio, quando as forças astrais são capazes de assumir formas quase tangíveis a partir dos eflúvios emanados de suas vibrações vaginais. Crowley faz alusão a estes fenômenos em seu comentário sobre a palavra qoph: «A letra Hebraica Qoph representa o [...] útero selado a noite; o útero «vê coisas» no glamour do transtorno fisiológico enquanto o Sol se esconde.»

Marma nabhuthi :: na raiz do clitóris :: letra ayin

O quinto marma de ação sobre a energia psico-sexual situa-se na raiz do clitóris. Aleister Crowley atribui um cakra de quarenta e nove pétalas a essa região.36 A letra deste marma é ayin (70). No esquema formulado por Grant, esta é a sede da kuṇḍalinī e o número 70 revela a natureza material de 7, o número da Deusa Primordial tipificada pelas sete estrelas da constelação Canis Major. Este é o número de LIL, «noite» e SVD, «secreto», «divã» ou «assento». Palavras como arca, caixa ou sarcófago evocam a ideia de morte ou, mais precisamente, vida na morte. 70 também é IIN, «vinho». Grant explica:

O fluído inebriante do qual está escrito: “Para reverenciar-me tomai vinho e estranhas drogas.” Vinho é assimilado ao simbolismo dos kalas ou emanações ofidianas que são geradas e tornam-se vibrantes pela invocação mágica da Serpente de Fogo. O svd ou «secreto» olho é o órgão misterioso sobre o qual muitas alusões secretas aparecem na literatura ocultista; ele é usualmente associado com mistérios abomináveis, bruxaria e feitiçaria. Este olho é feminino e é representado pelo ânus do bode, pois Capricórnio é o glifo astrológico da Mulher Escarlate quando ela é utilizada no Rito para constituir o poder mágico sobre os planos internos. [...] Éliphas Lévi se refere a esta fórmula em seu Magia Transcendental, e Crowley – talvez mais do que qualquer outro magista – usava-a repetidamente. Quando aplicado ao macho à fórmula é degradada em magia negra e é condenada pelos tântricos, apesar de sua utilização bastante difundida entre os Árabes e Gregos da antiguidade, [o que fez com que] surgisse seu valor como uma fórmula de prática mágica tão intensa que nenhum remorso é sentido em empregá-la. A interpretação correta deste «vaso não impronunciável» – como Crowley o chama em seu Diário Mágico – é, como eu expliquei em Aleister Crowley & o Deus Oculto, a vulva da Sacerdotisa em sua fase lunar, e sua fórmula é a da materialização; daí sua conexão com o elemento Terra, pois sua fórmula «aterra» ou reifica a corrente nos fenômenos tangíveis.

Marma guda :: no ânus :: letra ayin

Este marma está diretamente associado ao mūlādhāra-cakra, pois sua região se estende por toda estrutura do períneo. No homem, o mūlādhāra-cakra está entre o ânus e o escroto. Na mulher o mūlādhāra-cakra está no colo do útero. É um marma importante porque está associado aos canais do sistema excretor, urinário, reprodutivo e menstrual. Sua influência também se dá sobre os testículos e os ovários. Este marma abrange o marma nabhuthi. Na verdade, o marma nabhuthi concentra sua energia via o guda. Por isso Grant o associou a Cruz Magnética, uma vez que é o marma mais importante nas operações do XIº Grau, que não envolve a sodomia, mas a correta utilização do excremento lunar.

Marma Vitapa :: no pênis :: letra yod

Este último marma no esquema de Grant é o fogo interno, atribuído à letra yod, cujo valor é 10. Representa o ponto, o bindu,39 onde os dois sistemas sexuais conectados unem-se para formar uma simbiose. Pela Gematria, encontramos que dez está relacionado a elevado, planar e janela. Todas estas imagens podem se relacionar ao uso do calor sexual para ir além do organismo em direção às visões do espaço interno.

Este é o esquema da Cruz Humana que delineia o tarot astro-sexual dos kālas. Contudo, o esquema mais importante para nós no que concerne aos kālas é o glifo geométrico da Árvore da Vida, que inclui as 10 Sephiroth e os 22 Caminhos. Nesta série de artigos, nós falaremos dos 22 kālas associados às sentinelas dos Túneis de Seth e as 10 Qliphoth que formam a Árvore da Morte. Mas antes de adentrarmos neste tema fascinante, é necessário uma pequena nota sobre os kālas.

Em Outside Circles of Time (Starfire Publishing, 2008), Grant fornece uma definição esclarecedora acerca dos kālas:

Kalas: tempo, essência, raio, divisão ou dígito. Um termo usado no Tantra para denotar a essência ou fragrância da Suvasini. Em seu sentido de tempo, nossa palavra «calendário» deriva de kala, em seu sentido de essência ou vibração, nossa palavra «cor». Portanto, as flores da Deusa são seus kalas.

O termo kāla é usado no vocabulário da Corrente Ofidiana de duas maneiras distintas. Macrocosmicamente, os kālas são as emanações de Kālī-Ain na forma de Aeons e ciclos de evolução. Microcosmicamente, eles são as secreções produzidas pelos órgãos sexuais do macho e da fêmea durante os rituais sexuais. Estas secreções são as flores do organismo. Tradicionalmente, o termo suvasini ou dama de doce cheiro tem sido usado para designar a sacerdotisa dos kālas. No Tantra utilizam-se as secreções masculinas e femininas, ambas produzindo os kālas ou flores da essência. O termo kāla é encontrado em muitas culturas, de muitas formas, sua larga amplitude de significado insinua o poder mágico de sua natureza. Na África e no Egito o termo «ka» significava a sacerdotisa iniciada, derivando disto o termo «khu», significando essência ou poder mágico.

As 22 Celas das Qliphoth ou os Túneis de Seth

Os nomes das sentinelas não são os túneis em si mesmos. Os yantras ou sigilos que representam sua assinatura vibram em consonância energética com a sentinela que guarda o túnel. Por sua vez, ao deslacrar o túnel, toda sorte de acontecimentos podem ocorrer. Muitos tantras tangenciais e estranhas pericoreses têm sido mapeadas através das operações com os Túneis de Seth e a Magia da Zona Malva. Neste blog o leitor pode encontrar o relato de experiências mágico-espirituais que atualmente têm servido de auxílio a muitos Ocultistas Experimentais.

A partir deste ponto vamos explorar um universo intricado de seres sobrenaturais e regiões perdidas nos golfos do espaço. Estes seres e estas regiões estão dentro do organismo humano e suas vibrações se materializam nos kālas da sacerdotisa. Na descrição acerca dos túneis e suas sentinelas – a pedido de muitos leitores deste blog – tentaremos traçar definições simples que auxiliem no trabalho dos magistas que se empenham nesta corrente. Às vezes experiências mágico-espirituais serão citadas para esclarecer pontos obscuros e esperamos que todos possam se beneficiar delas. Todavia, neste terreno, traçar definições é um caminho perigoso, uma vez que cada sentinela e as miríades de seres que lhe acompanham podem se manifestar de maneira distinta no universo pessoal de cada um. Ao lidar com as forças caóticas dessas regiões, haverá interconexões e conexões inevitáveis, até mesmo necessárias, pois a influência que permeia os túneis não são eles, não têm origem neles. Os túneis formam uma rede de tráfego com energias além do portal de Daäth, são células oníricas da mente subconsciente capaz de se comunicar com estas forças.

11ª Célula Qliphótica

Amprodias é a sentinela do 11º Túnel de Seth. Ele é tipificado pela negação da razão e por isso pode ser identificado com o Louco (Atu I). Esta negação da razão, por outro lado, é caracterizada pela irracionalidade peculiar ao desarranjo dos sentidos, tão necessário para manifestação da consciência mágica. Este é o kāla utilizado pelos adeptos que traficam com entidades além do véu da não-existência e recebem destas inteligências o influxo criativo para o seu trabalho. Grandes iniciados utilizaram este kāla para desenvolverem suas equações mágicas: Blavatsky, Gurdjieff, Crowley e no Oriente os «mestres loucos» são seu protótipo, pois estão além do alcance da inteligência cotidiana. Portanto, a irracionalidade típica deste túnel não é designada pela falta da razão, mas por algo que está além da limitação razão.

O elemento deste túnel é o ar e seu órgão o nariz. Por sua natureza aérea, práticas intensas de prāṇa-nigraha e prāṇayāma aliadas a Corrente Ofidiana são utilizadas durante as operações com esta sentinela com a finalidade de causar uma ruptura na consciência pelo desarranjo dos sentidos, provocando por um breve momento a irracionalidade mágica do Louco capaz de dotar o adepto com a visão do todo, quer dizer, com a visão de Pã, capacitando-o a ver a verdade do mundo em seu brilho nu, desprovida de sua ilusão característica. Com os poderes deste kāla o adepto percebe o mundo velado pelo jogo divino que tipifica a ilusão na consciência, um véu do sacramento primordial rasgado através da suprema fórmula da aniquilação, pois este é o caminho final, via Kether, que conduz ao Vazio (Ain – Nuit). Este é o caminho da reversão tipificado pelo número 11, o número da magia e da energia tendendo a mudança, e sua fórmula é aquela do Portal da Morte, Daäth, aquela que provê a aniquilação do ego.

O tom para evocação de Amprodias é o «MI». Em inglês, «MI» é «E», cuja associação é com a letra hebraica He que, segundo Crowley,«é a letra do útero da virgem impregnado pelo louco». Através dessa descrição, Kenneth Grant associa este kāla ao Acheron, o rio do submundo que recebe espíritos como o útero recebe a Semente Criativa de Luz. Essa atribuição é correta, pois o arqui-demônio deste túnel é Satã, Senhor dos Poderes do Ar (Aleph) que infunde a Luz na manifestação (útero) através do raio iluminador ou a suástica, símbolo típico deste túnel. Essas correspondências indicam a natureza da fórmula mágica da Corrente Ofidiana utilizada para o aterramento deste kāla. Eu me refiro à fórmula do XI° Grau. Isso é comprovado pela doença característica deste túnel, o fluxo, vômito ou diarreia caracterizado pelas descargas desequilibradas ou intempestivas da energia lunar, quer dizer, o mênstruo da Lua Negra. Este mênstruo ou fluido vital, quando desperdiçado em seu transbordamento típico, gera um resíduo de energia mágica desequilibrada que cria e alimenta fantasmas que se apresentam na forma de silfos, elementais tipicamente associados ao elemento ar. Estas criaturas formadas pelos glóbulos de sangue perdidos, mas carregados ou impregnados de imagens que refletem o subconsciente feminino, assombram os golfos do universo interno onde aparecem em formas de horror, causando a obsessão típica do período pré-menstrual nas mulheres e a loucura típica das doenças mentais associadas ao elemento ar. Esses seres vampirizam a essência da consciência (citta). No organismo, este fluxo, associado ao elemento ar, caracteriza-se nos fortes desequilíbrios do sistema nervoso, gerando doenças como síndrome do transtorno bipolar, esquizofrenia, déficit de atenção, mania hipertrófica e outros distúrbios como vícios exagerados, impulsos desenfreados, esgotamento, exaustão e delírios. Nas operações mágicas esse desequilíbrio se manifesta também nos kālas carregados de toxinas e demais sujeiras do organismo. Estes kālas engendram os seres que aprisionam os magistas nos cárceres da loucura. Essa é a origem do mito dos magistas que, empenhados em determinadas operações, se veem aprisionados no espaço exterior com suas mentes segregadas em células transparentes que flutuam nos golfos do vazio como bolhas iridescentes enquanto os silfos drenam a energia vital de seus fluxos.

Amprodias soma 401. Portanto, seu número concentrado é 5. No O Livro da Lei (I: 60), Nuit descreve como seu símbolo «A Estrela de Cinco Pontas, com um Círculo no Meio, & o círculo é Vermelho. Minha cor é negro para o cego [..]». Estas são ideias relativas ao 11º caminho – «Meu número é 11, conforme todos seus números que são nossos» – e ao XIº Grau. O círculo vermelho é a Lua Negra ou a lua de sangue; as cinco pontas da estrela são as vibrações vaginais da mulher durante o derramamento de sangue nos cinco dias do catamênio, além de um glifo dos Antigos (Old Ones); negro para o cego é o Ovo do Espírito, um glifo do ākāśa que está velado aos olhos daquele que não possui conhecimento espiritual, o cego ou ignorante. Por estar nestas condições, ele não consegue ver, perceber ou conceber a realidade da não-existência (Nuit), portanto representa a virgem que um dia será impregnada pelo raio ou relâmpago deste kāla.

O trabalho com Amprodias acelera a vibração da vitalidade, o que capacita o adepto a vislumbrar e contatar consciências praeter-humanas típicas de dimensões paralelas cuja vibração é tão veloz que a consciência cotidiana não pode perceber. Através deste aceleramento, o iniciado alcança as mais altas forças de percepção, adentrando em realidades alternativas não-euclideanas, falando línguas estranhas provindas de regiões esquecidas. Esse é o verdadeiro riso, salva guarda da sanidade e a liberação saudável da tensão através do circuito psico-sexual.

É interessante notar que as armas mágicas associadas a este túnel são a pena, a flauta e a adaga. As três armas conectam todo o simbolismo acima. A pena é leve; ela dissipa a visão turva da ignorância espiritual e representa a sutilidade ou refinamento da Consciência desprovida de dualidade. É a Pena de Maät que libera o adepto do karma no juízo final. A flauta expressa a loucura divina e extasiante da Consciência inundada de bem-aventurança na percepção da do Grande Todo, Pã. A adaga é a arma que rompe o hímen do éter (ākāśa) revelando a imagem «daquele que está sentado no centro de tudo» além da fronteira do universo conhecido, o «deus louco» ou «sem face» rodeado por «tocadores de flauta idiotas», Nyarlathotep.

12ª Célula Qliphótica

O 12º Túnel de Seth é tipificado pelo Sacerdote das Sombras, o Feiticeiro da Escuridão, o Bruxo das Trevas, o Mago Negro. Ele não deve ser confundido com um Irmão Negro ou como a reversão do Atu I, o Mago. Mas ao contrário, ele é o verdadeiro Mago do Poder, aquele que manipula com impunidade a Corrente Sombria. Ele é o Chayogī, o Yogī das Sombras.

O Irmão Negro é à sombra do Mago Negro. Enquanto o primeiro opera na esfera do ego, criando a ilusão ou miração do fenômeno dualidade – pois a Corrente Aleph (um) da célula anterior agora se dividiu, tornou-se o dois da Corrente Beth – o segundo, um Alquimista da Arte Negra, utiliza este kāla manipulando a Corrente Kaliana para centrifugar o ego pelo poder de seu turbilhão e ser arremetido no reino da anti-luz.

Esta é também a célula do cinocéfalo, a sombra do Mago e portanto a distorção de sua Palavra. Ele não faz uso do poder do verbo ou a magia das letras, pois tipifica o murmúrio do ego, não o ventriloquismo atávico da voz emitida pelo útero da Mãe. Esta é a verdadeira fórmula mágica da Corrente Beth, pois representa o silencioso sibilo transmitido das profundezas do cosmo, a semente ou o secreto-ion que «urra» silenciosamente.

Portanto, nesta célula, o Mago Negro descarta o cinocéfalo, pois ele utiliza a ciência negra do Vazio para ver além do véu que separa os mundos. Aqui o adepto tem dois caminhos: ao se identificar com a miração projetada pela distorção da palavra que emite, intensifica a consciência egóica e cria a dualidade fenomênica. A falta de identidade aumenta, a ilusão se agrava. Ele acaba por tornar-se um Irmão Negro, aquele que tipifica a forma equivocada de silêncio. Contudo, se ele se entrega a carnificina de Kālī, retorna ao silêncio da não-manifestação. Em outras palavras, o Sacerdote das Sombras utiliza este kāla como o sangue de Kālī, cujo poder é o retorno a anti-matéria. Através da ciência negra do Vazio ele promove a chacina mágica, eliminando a ilusão e a dualidade. Um Irmão negro não é capaz de manipular a Corrente Kaliana pois sua palavra não cria, mas ilude, engana. Ele é o cachorro mentiroso, Cid, o rei cuja coroa é de papel e cuja morada é um castelo de areia.

A sentinela desta célula qliphótica é Baratchial. Seu valor é 260. Este é o número de MINMON, «deleites prazerosos» e IRKIK, «coxas voluptuosas». Essas correspondências conectam este kāla aos mistérios sexuais do VIIIº O.T.O., cuja fórmula é a do «olho», o órgão da fascinação e projeção da miragem. Sua corrupção é o voyeurismo, o onanismo e doenças paranoico-sexuais conectadas a masturbação.

Este kāla ou célula qliphótica encerra os mistérios das plantas de poder. Desde tempos imemoriais, Adeptos do Caminho da Mão Esquerda, Magos, Feiticeiros, Xamãs e Tântricos têm utilizado enteógenos como meio de realização espiritual. Este é um ponto delicado, pois nesta célula estão aprisionadas justamente aquelas pessoas egóicas cujo temor de realidades alternativas representa o horror do inominável. Não se pode falar em plantas de poder com pessoas deste tipo, cuja mente está engessada e engendrada com medos e preconceitos gerados pela falta de conhecimento e ignorância espiritual.

As plantas de poder libertam o livre e escravizam o escravo. Isso reflete a natureza deste kāla: o néctar da cura do Mago Negro ou o veneno da doença do Irmão Negro. Nas escolas tântricas da Índia, é ensinado que a maneira mais efetiva de se manipular a Corrente Ofidiana, quer dizer, a kuṇḍalinī, é através do Auśuddhi, a ciência dos enteógenos ou intoxicantes divinos. Swami Satyananda Saraswati (Kundalini Tantra, Yoga Publications Trust, 2006), enfatiza que nos centros tântricos mais tradicionais do interior da Índia essa ciência é ainda utilizada como uma maneira de se despertar as siddhis (poderes psíquicos) dos cakras e manipular a kuṇḍalinī em todos os centros de poder.

Portanto, o Sacerdote das Sombras é o alquimista das plantas. Este é o túnel dos bruxos e feiticeiros cujos preparos bioativos afetam sutilmente a estrutura molecular humana, promovendo uma abertura ou estado de consciência que proporciona o contato e acesso com locais além dos círculos do tempo e espaço.

Por sua conexão com a ciência das plantas de poder, este também é o túnel com a fórmula química da produção dos zumbis ou mortos vivos através do IXº(-) O.T.O. Eu falei sobre isso no ensaio Mystère du Zombeeisme, disponível neste blog.

Aos dezoito anos de idade eu fui iniciado em uma escola Kaula (yoginī-kaula) na cidade de São Pedro, na boca do deserto de Atacama, Chile.46 Eu viajava pela América Latina contatando xamãs e curandeiros de inúmeras comunidades ayuahuasqueiras da Amazônia Venezuelana a Argentina.

Uma noite, dormindo ao relento, encontrei duas pessoas intrigantes. Emanuel e sua esposa, Pácula. Adeptos tântricos, eles me levaram para conhecer seu guru, um indiano de caráter profundo que estava de passagem pelas Américas, Śrī Parameśvāra Āiyar e sua esposa, a gurujī Īśvarī Mā.

Quando os conheci fiquei completamente envolvido pelo sistema Kaula de iniciação e três dias depois engajei em um ritual que mudaria para sempre o curso de minha carreira espiritual.

No dia de minha iniciação, fui levado a uma caverna a seis quilômetros da cidade. Era uma noite fria, como todas naquela região. Na boca da caverna Pácula pediu que eu me despisse. Tirei minha roupa e Emanuel a queimou. Eu não disse nada. Ele olhou direto nos meus olhos sob a luz da Lua Cheia e falou: «com esta ropa quemada morir también». A caverna era fria, muito fria. Mas na medida em que fomos entrando ao interior da terra o frio se foi quando encontramos uma série de sete pequenas fogueiras acesas dispostas na forma de uma estrela de seis pontas. A sétima fogueira, um pouco maior e mais forte que as outras, ficava no centro.

Śrī Parameśvāra Āiyar me conduziu frente a uma pedra onde estava sentada sua esposa, Īśvarī Mā. Ela estava nua e seu corpo parecia uma serpente em transe. Entre nós, só a fogueira central. Ele se sentou ao meu lado. Emanuel e Pádua se sentaram também ao redor da fogueira. Śrī Parameśvāra Āiyar tirou de sua cintura, atada a uma cinta de couro, uma garrafa. Despejou seu conteúdo em uma kāpalā (crânio) e me ofereceu. A bebida era negra, logo supus que deveria ser uma espécie de cogumelo. Sem exitar, bebi todo o conteúdo.

Após trinta minutos eu já podia sentir os efeitos da bebida. Durante um longo tempo nós entoamos inúmeros mantras, todos nus. Circumbulamos ao redor da fogueira, fizemos adorações aos pés da gurujī em transe, comemos carne e pintamos o corpo. No clímax do ritual, Śrī Parameśvāra Āiyar conduziu sua esposa ao centro. Eu estava sentado. Ela ajoelhou-se a minha frente, olhou em meus olhos e proferiu o encantamento da iniciação. Imediatamente, após a vibração mântrica, meu corpo começou a queimar por dentro. Senti um forte formigamento na região do mūlādhāra e swādhisṭhāna-cakras, o que me conferiu a maior e mais efetiva ereção de minha vida. A Grã-Sacerdotisa se debruçou sobre mim em viparīta-rati e iniciamos o maithuna, o coito ritualístico de minha iniciação.

Jāyā Gurujī Mā!

Jāyā Kālī Mā!



Notas

1. Isso ocorre desde os primórdios das gerações. Nossa atual mitologia e o intricado mundo de mitos em que vivemos serão tecidos somente pelas gerações futuras. Um exemplo clássico dessa evolução mitológica ou pericorese, se podemos chamar assim, é o mito do Sol: em sua fase mais primitiva, o Sol foi identificado pelo inferno e não o céu. A ele foram atribuídos os ardentes ferrões do escorpião. Portanto, na mitologia primitiva, o Sol não era celebrado por seus raios doadores de vida, mas amaldiçoado e abominado por seu calor explosivo. Somente quando os primordiais tecedores de mito deixaram seu lar, a África Equatorial, que o Sol passou a assumir gradativamente um papel mais beneficente e o herói das mitologias posteriores.

2. Um yantra é um modelo energético ou diagrama de força que substitui a imagem pictórica ou iconográfica da deidade. É um suporte ritualístico cuja mente deve estar completamente focada durante a cerimônia. Quando utilizado desta maneira, suas características geométricas e cores começam a atuar de maneira subliminar na mente do praticante, produzindo uma mudança no estado de consciência. Sob esse aspecto, a mente faz uma leitura do yantra da mesma maneira que uma identificadora digital lê o código de barras. O fruto dessa leitura é o início de um processo de transformação em direção à divindade representada pelo yantra.

3. O tráfico com inteligências prater-humanas, habitantes de outros mundos, requer um sistema de comunicação. No Ocidente, a Qabalah e o glifo da Árvore da Vida têm sido usados como um sistema operacional de comunicação através do arranjo e permuta de informações para estabelecer o contato com seres de outra existência. Este sistema contém o corpo mais convincente e confiável de correspondência representada através das dez Sephiroth e os vinte e dois caminhos que compreendem todo o universo mágico.

4. Qabalah Draconiana #1. Neste blog.

5. Spanda denota uma vibração, uma pulsação da Consciência, uma dinâmica, recorrente e criativa atividade do Absoluto, Consciência Pura, Śiva (Seth-Hadit).

6. A composição de Seth-Anúbis que deu origem a palavra Satan. Anúbis é o Cão Dourado, Seth o Cão Negro.

7. Veja Euclydes Lacerda de Almeida, A Deusa Negra. Editora Bhavani, 1998.

8. Veja H.P. Hislop, Set’s Confusion. Arcan Books, 1993.

9. Veja Aleister Crowley, Liber Aleph, Cap. 85 «De Missa Spiritus Sancti».

10. Aleister Crowley, 777 Revised, Samuel Weiser, 1981.

11. Nos termos qabalísticos, Ain, o nada, vazio, não-manifesto ou a ausência de luz (e portanto a verdadeira essência da luz). Ain, por permuta, é Ayin, cujo valor é 70.

12. Idem nota 10.

13. Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Cap. 3. Tradução Particular de Fernando Liguori.

14. Forma arquitetônica egípcia que sustentava a entrada ou portal dos templos.

15. Crowley assumiu o nome de Baphomet como O.H.O. (Cabeça Externa da Ordem) da O.T.O. Durante o curso da Operação Amalantrah Crowley recebeu a numeração 729 equivalente ao nome com o qual ele iria assumir a liderança da Ordem. Kenneth Grant sugere em Beyond the Mauve Zone (Starfire Publishing, 1999), que o acróstico «O.H.O.» refere-se à frase Head of Outer Ones (Cabeça ou Líder dos Externos) como uma «cria» de Nu-Isis. É interessante notar aqui que 729 é ainda o número de QROShTN, o curso de Satã e do Great Old One (Poderoso Antigo) que denomina-se como Alamantrah, o bruxo. Este é um número peculiar na Gnose Tifoniana. 729 = 9x9x9. 999 é a soma de Therion (666) + S’lba (333), a Filha Maatiana ou Noiva que desperta os Poderosos Antigos. Somando, 9+9+9, temos 27, o número do Caminho atribuído a Pé, significando uma boca, um dos glifos mais importantes do Aeon de Maät. Esse também é o número do útero cheio ou o vazio (Nuit-Tifon) cuja ausência de luz comporta a essência da iluminação (Hadit-Seth).

16. É sustentado por muitos autores a equivalência entre os sistemas dos cakras na tradição tântrica e o esquema das Sephiroth na Árvore da Vida. Embora Ocultistas de calibre como Dion Fortune, Aleister Crowley e Kenneth Grant tenham chamado a atenção para esta equivalência, o tema ainda precisa de estudo e aprofundamento, pois a simples atribuição dos cakras, segundo suas características principais, as zonas de poder na Árvore da Vida não sustenta a equivalência. Fortune em seus A Cabala Mística e Doutrina Cósmica e Crowley com seu 777 fizeram considerações nobres sobre o tema, mas não terminaram a equação. Grant em suas Trilogias Tifonianas desenvolve o assunto, mas como suas atribuições variam de acordo com o mundo qabalístico (Assiah, Yetzirah, Briah e Atziluth), não foi ainda possível estabelecer uma conclusão sobre um plano lógico de atribuição.

17. Edom é outro nome de Esau, que significa «vermelho». Esau foi chamado de vermelho porque ele sugou o sangue de sua mãe antes de seu nascimento, vendendo seu direito de nascença por um punhado de «vermelho». A tradição arcana apresenta Esau como o falcão solar, que simbolizava «sangue». Os «Reis de Edom», portanto, eram Reis da Terra Vermelha ou local do sangue.

18. Aleister Crowley, Magia em Teoria & Prática (tradução particular de Fernando Liguori), comentários acerca do Ritual da Estrela de Sangue (Rubi Estrela) e o capítulo 25 de O Livro das Mentiras (tradução particular de Fernando Liguori).

19. Quer dizer, a base quádrupla e o ápice triangular.

20. Kenneth Grant, Cultos da Sombra (tradução particular de Fernando Liguori), Cap. 1.

21. Com a evolução mitologia, o Har passou a ser o Horus, o glorioso deus criativo tipificado pelo falcão solar. Veja nota 1.

22. IAO (Isis-Apófis-Osíris), uma chave fundamental no Culto Theriônico. «I» (yod), o Eremita do Tarot, é a semente solitária atribuída a Virgem. «A» é Apófis, a serpente do «mal» (Escorpião) de corrupção e dissolução, representada pela Prostituta. «O» é o verdadeiro «olho», ayin ou yoni atribuído a Capricórnio; i.e. a Mulher Escarlate representada pela lua cheia, na qual a concentração de toda cor ou kāla alcança sua apoteose. Este é o significado secreto de IAO, que oculta à fórmula que tem sido praticada por longas eras pelos Adeptos que trabalhavam a Corrente Ofidiana em lugares tão distantes um do outro quanto Khem (Egito), Suméria, Assam, Mongólia e Peru, para mencionar poucos dos mais antigos assentos deste poder. Crowley desenvolveu a Fórmula IAO em FIAOF, realinhando-a com a Corrente Theriônica na divina expressão de Ra-Hoor-Khuit. Enfatizando dessa maneira a Criança («F» = vau, «V», o Filho), ele estabeleceu o Culto do Amor sob Vontade como uma expressão dinâmica da fórmula original. Isso capacita o magista a encarnar a «criança» de sua Vontade; esta é a criança-vontade da Besta para criança-amor de Babalon.

23. Veja J.M. Ragon, A Missa e seus Mistérios, Jaboritiba, 1989. Veja também Jorge Adoum, Do Sexo a Divindade, Editora Pensamento, 1993.

24. A Ordo Templi Orientis (O.T.O.) é o nome dado a uma Organização Espiritual, uma Ordem Secreta, formada por um Corpo de Adeptos cuja finalidade é o estabelecimento de uma Corrente Mágica chamada Shaitan-Aiwass. Este é o Supremo foco do Culto Thelêmico ou Theriônico que canaliza as Energias de Sirius (Shaitan) através do Ministro Aiwass, uma Inteligência praeter-humana contatada por Aleister Crowley em 1904 no Cairo, Egito. A O.T.O. é a incorporação externa de uma Ordem Oculta conhecida pelo nome de Grande Fraternidade Branca. Aleister Crowley nomeara esta Fraternidade de Argenteum Astrum ou A.’.A.’. (a Estrela de Seth ou Sothis / Sirius – o Sol no Sul). Esta Ordem Oculta se manifestou no Ocidente como a Golden Dawn em 1886. Antes desta manifestação específica, esta Fraternidade era composta por inúmeros representantes e autoridades espirituais – muitos deles não abertamente declarados – como Sir Edward Bulwer-Lytton, Éliphas Lévi, Gerald Massey, Fabre d’Olivet e etc. Bulwer-Lytton estava diretamente conectado com Adeptos continentais como Lévi, Papus, Steiner e Hartman, todos celebrados personagens do Ocultismo Ocidental. Estes Adeptos compunham a Fraternidade Hermética da Luz. Esta Fraternidade foi finalmente concentrada no plano físico por volta de 1895 pelo Dr. Karl Kellner que revelou o verdadeiro nome da Fraternidade como Ordo Templi Orientis ou Ordem do Templo do Oriente. O Oriente é o lócus do nascer do sol, a fonte de toda iluminação. Adam Weishaupt (1748-1830) fora o Adepto que concentrou e transmitiu a essência desta Corrente Mágica em uma Organização Espiritual chamada de Ordem dos Illuminati. Antes dele, Jacques De Molay (cerca 1312) concentrou e transmitiu esta Corrente através da Ordem dos Cavaleiros do Templo. As iniciais O.T.O. possuem um significado próprio e especial; além de serem uma Fórmula Mágica, elas simbolizam a energia fálico-solar da Besta que posteriormente fora incorporada no selo pessoal de Aleister Crowley, o Terceiro Gão-Mestre da Ordem. Para dar continuidade à corrente revivida por Crowley através da O.T.O. – e para distinguir a Ordem de certas organizações espúrias que hoje detém judicialmente o nome Ordo Templi Orientis – concentramos o seu trabalho no verdadeiro nome da Organização espiritual, Ordo Tifoniana Occulta. Para uma história iniciática da Ordem, veja Kenneth Grant, O Renascer da Magia (Madras Editora, 1999) e Beyond the Mauve Zone (Starfire Publishing, 1999). Veja também Euclydes Lacerda de Almeida, A Lança e o Graal e Thelema e a O.T.O. no Brasil (Editora Bhavani, 1996 e 1997). Francis King, Secret Rituals of the O.T.O. (Samuel Waiser, 1973) e A.R. Naylor, O.T.O. Rituals & Sex Magick (I.H.O. Books, 1999).

25. Veja Euclydes Lacerda de Almeida, A Lança e o Graal, Editora Bhavani, 1996. É possível que Lacerda tenha se equivocado em suas pesquisas. Peter Koenig em sua introdução ao O.T.O. Rituals & Sex Magick (I.H.O. Books, 1999) de A.R. Naylor, menciona outro nome para o suposto guru yogī que transmitiu alguns segredos tântricos acerca dos cakras e a kuṇḍalinī a Kellner. Segundo ele o Guru é Swami Dharmanada.

26. Kellner era amigo íntimo de P.B. Randolph, primeiro adepto na América a difundir a utilização do sexo como meio de transcendência espiritual.

27. David Curwen, conhecido na Ordem como Frater Ani Abthilal, 535 ‘.’ IXº O.T.O., amigo íntimo de Kenneth Grant, quem se baseou muito neste texto para formular suas Trilogias Tifonianas. Grant recebeu o comentário tântrico como um presente para o Soberano Santuário da Ordem. Note que 535 é o número de Kteis e portanto, emblema da Grande Deusa. Também, 131 (PAN) +535 = 666, o glifo numérico do contato trans-humano.

28. Eu tenho mantido esforços no presente para trazer a Ordem um conhecimento tântrico mais profundo acerca da destilação dos kālas através de uma tradição tântrica do norte da Índia, conhecida como Uttarāmnāya ou Tradição Krama. A tradição Krama, associada à tradição Kaula, trata do segredo central do tantrismo, conectado aos mistérios da Deusa Kālī.

29. Mas este é um erro passível e muito comum até mesmo nos autores modernos indianos. A verdade é que cada adepto, segundo seu grau de sensibilidade e clarividência, verá o corpo astral com seus cakras, nāḍīs etc. de uma maneira. É por isso que a constituição psíquica do homem recebe características distintas em várias escrituras tântricas.

30. Neste blog o leitor poderá encontrar muitos artigos sobre o tema kuṇḍalinī. Em especial, Kuṇḍalinī & Esquizofrenia, Gṛhastha Brahmacarya & o Despertar da Śakti, Alquimia da Kuṇḍalinī & Transmutação Sexual e Kuṇḍalinī & os Segredos Espirituais da Āyurveda.

31. De acordo com a sabedoria arcana, o microcosmo é uma réplica do macrocosmo. A fim de conhecer o macrocosmo, o adepto opera com a Corrente Ofidiana, quer dizer, ele explora o universo exterior – que é o universo interior – quando a kuṇḍalinī está operando em determinado cakra ou zona de poder. A kuṇḍalinī alterna seu foco e concentra diferentes tipos de energia em planos variados de consciência, e isso lança correspondentes padrões de objetividade na tela da consciência. Uma vez que a Serpente de Fogo está ativa nos diferentes centros e sub-centros de energia, ela envia suas manifestações ofido-prânicas a diferentes marmas, sandhis e srotas do corpo da sacerdotisa engajada no rito. A consequência é o destilar de uma gama sutil de secreções que transmitem influências trans-mundandanas.

32. Idem nota 20.

33. O ājñā-cakra é fundamental no processo do deslocamento do prāṇa no corpo do próprio adepto e no corpo da sacerdotisa. É o órgão psíquico fundamental a prática do prāṇa-vidyā, a arte de manipular o prāṇa dentro do corpo (o universo interior) e fora dele (o universo exterior).

34. O princípio ígneo do universo é chamado de agni em sânscrito, que significa a força transformadora. Não é simplesmente o fogo em sua forma Elemental, mas todos os potenciais de calor, luz e eletricidade. Esse fogo divino é a origem da vida – os poderes da alma que nos motivam a partir do interior. Hadit é nosso fogo interior, a aspiração espiritual profunda que nos acompanha através de todos os nossos nascimentos. É a flama inextinguível, a testemunha por trás de todos os estados de consciência, aquele-que-vê sempre em alerta e no silêncio.

35. Veja Kenneth Grant, Cultos da Sombra. Tradução particular de Fernando Liguori.

36. Veja Kenneth Grant, O Renascer da Magia, Cap. 4. Madras Editora, 1999.

37. Idem nota 35.

38. Em suas explicações sobre estes dois últimos marmas, Grant os associa livremente.

39. Os Tantras explicam a existência do bindu-visarga-cakra, o cakra na parte de trás da cabeça de onde a vida se manifesta, pois ele é o ponto infinitamente pequeno de onde tudo provem.

40. Veja Aleister Crowley, O Livro de Thoth. Madras Editora, 1998.

41. Veja Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden. Tradução particular de Fernando Liguori.

42. O trabalho com Amprodias resulta na loucura divina típica dos adeptos que transcenderam a dualidade pela fórmula da aniquilação do ego no Portal da Morte (Daäth). Crowley no Ocidente e Tilopa e Naropa no Oriente são um exemplo clássico do trabalho de Amprodias. Adeptos que transcenderam a racionalidade convencional e adentraram ao vazio do Não-Ser. A fórmula corrompida dos Irmãos Negros com este túnel gera a loucura passiva, os distúrbios mentais, a falta de equilibro e discernimento. Como Amprodias provê a visão por trás do véu da ilusão, aqueles que falham em seu trabalho se veem perdidos na dor e sofrimento (e portanto dualidade) ao perceberem a falta de sentido na existência, o capricho divino e seu jogo eterno com as almas desafortunadas. Portanto, a irracionalidade típica do trabalho com este túnel liberta o adepto e aprisiona o escravo. Para o adepto, esta irracionalidade afrouxa os suportes da alma, quer dizer, a corrente normal de causa e efeito que atrela o ser humano ao ciclo perpétuo de morte e renascimento. Dessa maneira, fluindo para além da realidade objetiva, liberto dos preconceitos e desprovido da ilusão, percebe a existência como ela é. O escravo, ao contrário, reverte a fórmula e apegado ao ciclo existencial, chafurda na miragem projetada pela não-existência, se esquecendo da fonte de onde tudo provem.

43. Nyarlathotep é o celebrado deus da gnose lovecraftiana que distribui caos e é acompanhado de mal cheiro e tocadores idiotas de flauta. É o deus sem face ou sem cabeça. Cf. o deus sem cabeça de Liber Samekh, a invocação preferida de Crowley.

44. ChAYOGA soma 93, Thelema. Este é o Yoga das Sombras.

45. Este é o kāla que inspira bruxos e feiticeiros das sombras na recepção de grimórios mágicos. Ele é o Beth Kol, a «voz oracular» tipificada pelo ventriloquismo bestial ou som sibilante que vibra no silêncio através dos confins do Vazio. Isso é comprovado pela doença típica deste caminho, ataxafazia, uma série de distúrbios que comprometem a fala, tipificando assim o uivo bestial da criação, a fala monstruosa que vibra além do Vazio (Nuit).

46. Na época eu estava envolvido com o sistema de iniciação de Samael Aun Weor. Fui Missionário, Sacerdote e Bispo de sua Igreja Gnótica e viajava por toda América Latina abrindo Lumisiais Gnósticos. Portanto, quando passei pela iniciação Kaula, já conhecia magia sexual, mesmo que de forma deturpada pelos ensinos de SAW.


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