Dom Marcelo A.C. Santos
I – Introdução
O objetivo destas linhas não é outro senão retirar o manto com que os atuais oficiais brasileiros da auto-intitulada OTO Americana – daqui por diante denominada "Califado" – insistem em encobrir a história e o comportamento dessa organização em nosso país.
Demonstraremos como a sedução dos títulos tem ciclicamente derrubado a Obra, que acaba por restar desprezada em favor da vaidade. Por sua vez, as razões da atual manipulação dos fatos históricos, pelo Califado, ficarão óbvias com a evolução de nossa narrativa, assim como ficará óbvio, também, o motivo pelo qual os seus primeiros oficiais nestas terras acabaram por recentemente desqualificá-lo perante o público nacional.
Os sintomas aqui expostos, contudo, não ferem a dignidade nem a honra de qualquer uma das personagens citadas, sendo apenas uma conseqüência teratológica da alta competitividade da sociedade moderna, descambada para uma necessidade de compensação no reino da fantasia.
Esta primeira apresentação, entretanto, sói ainda ser complementada, pois árdua tem sido a tarefa de organizar e analisar a volumosa documentação colocada ao nosso dispor, bem como ainda está para ser preenchida a lacuna destinada à versão dos outros dois oficiais originais do "Califado" no Brasil: os ex-Mestre do Oásis Therion e ex-chefe do grupo de São Bernardo do Campo. Além disso, alguns acontecimentos mais recentes ainda estão por ser concluídos, de modo que aguardaremos o seu desfecho para acrescentá-los em nosso escrito.
I - Das Causas
Para um bom entendimento do rumo tomado na instalação do "Califado" no Brasil, devemos, primeiro, retroagir alguns anos.
Em meados de 1993, o sr. Marcelo A. C. Santos (Frater Iskuros Australis), membro da Fraternitas Rosicruciana Antiqua, afastava-se da Loja Nuit da Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, após ter sido severamente repreendido pelo simples fato de haver inquirido acerca de uma certa Loja Therion, acreditando-a parte da estrutura daquela Sociedade. Na verdade, a Loja a que se referira Marcelo era parte da Sociedade Novo Aeon, fundada em 1975 pelo primeiro – e, até este escrito, único - Grão Mestre da O.T.O. para o Brasil, Sr. Euclydes Lacerda de Almeida (Frater Aster, também conhecido sob o mote Zaratustra), ao qual foi conferido o IXº OTO pelo brasileiro Marcelo Ramos Motta e, posteriormente, por Kenneth Grant, da Inglaterra. Euclydes, tendo sido suspenso entre os anos de 75 e 80 e não mais restabelecido o contato com o Cabeça Externa da Ordem, Frater Parzival XIº (Sr. Marcelo Ramos Motta), não gozava da simpatia dos membros da Loja Nuit. (1)
Diante da intolerância demonstrada pela Loja Nuit, Marcelo, que até então nunca tinha sequer trocado um bilhete com o tal Sr. Euclydes, acirrou contato com a Sociedade Novo Aeon, com a qual já havia iniciado correspondência através do Sr. Carlos Raposo (Pan/ Ommini Zelator/A.K./Sorath). Essa correspondência mostrou-se muito proveitosa e instrutiva, e foi mantida até Marcelo ser apresentado à Loja Thelema, uma espécie de atrium para a Loja Therion.
Contudo, dias antes de sua iniciação, Marcelo soube que a Loja Thelema havia se desvinculado da Sociedade Novo Aeon, passando a integrar uma nova organização, denominada Fraternitas Lucis Hermetics. Tendo em vista a falta de razões convincentes para o cisma, Marcelo resolveu por adiar sua afiliação.
Em 01 de junho de 1994, Carlos Raposo voltou a escrever para Marcelo Santos, justificando a sua longa ausência com a afirmativa de que as cartas anteriores haviam sido retidas por um dos irmãos que deram causa ao rompimento com a S.N.A. Essa é uma carta particularmente relevante no contexto da história do "Califado" no Brasil, pois as palavras do seu remetente hoje voltam-se contra ele mesmo. Raposo, atualmente um dos líderes do "Califado" no Brasil, dentre outras, fazia, então, questão de condicionar o contato com a Tradição ao vínculo com Euclydes Lacerda de Almeida.(2)
Neste contexto, também merece destaque carta anterior de Raposo – o qual hoje, além de oficial do Califado, como já dito, é amasiado da atual representante do Califa Hymenaeus Beta para o Brasil, Srª Marisol Seabra (Shaitara), que, por sua vez, fora também oficial da Sociedade Novo Aeon – na qual proclamava Frater Aster como Grão-Mestre da O.T.O e reconhecia neste um verdadeiro herdeiro da Ordo Templi Orientis no Brasil. Por via oblíqua, também reconhecia a autoridade de Marcelo Ramos Motta (Frater Parzival) e Kenneth Grant (Frater Aossic Aiwass). (3)
Note-se que, atualmente, Raposo, o responsável pela página do Oásis Sol no Sul do Califado, corta as raízes da árvore na qual ele e sua companheira subiram, ao declarar que o contato com a O.T.O. no Brasil somente pode ser feito através dos corpos locais do "Califado".
Prosseguindo a correspondência, Raposo propôs um teste a ser feito para comprovar a legitimidade dos então atuais chefes da Loja Thelema: nada mais, nada menos, do que pedir-lhes cópias das instruções dos altos Graus da OTO, justificando-se no fato de as mesmas já estarem publicadas por Francis X. King (4). Isto também é particularmente interessante, pois, hoje, por questões de conveniência, os atuais representantes do "Califado" no Brasil seriam facilmente reprovados no mesmo teste que criaram; basta dizer que o chefe da Loja Nova Isis, Frater A-B-O, sofreu recentemente ameaças do Califado, pelo simples fato de Marcelo ter exposto trechos dos ditos Rituais Secretos na sua lista de discussões na Internet!
Diante de tanta confusão, não fica difícil encontrar-se o porquê de Marcelo Santos haver contatado outras ramificações da O.T.O. fora do Brasil. Escreveu, então, em 26 de abril de 1994, três cartas, endereçando-as aos ramos suíço, venezuelano e americano, apresentando-se como um membro da Fraternitas Rosicruciana Antiqua e narrando um tanto da história de Télema no Brasil.
II – Do Contato
Dos três ramos acima citados (na verdade, dois, pois os venezuelanos trabalhavam sob a autoridade dos suíços), apenas o americano respondeu. Assim, no início de dezembro de 1994, Marcelo recebia a carta que lhe fora remetida pela Secretária Geral do Califado, Soror Helena (Lynn Scriven, substituída em 20 de junho de 1999 por Marcus Jungurth/Aion), e, em 19 de dezembro daquele mesmo ano, solicitava inscrição com o membro associado do "Califado".
Na próxima carta, a sempre gentil Srª Scriven deu continuidade à troca de informações sobre a F.R.A e os grupos telêmicos brasileiros, e não tardou a propor a Marcelo o envio de uma equipe de iniciação ao Rio de Janeiro (5).
A resposta de Marcelo pareceu ter sido muito positiva, tanto que, na carta seguinte, ela já falava em marcar as iniciações, dizendo que enviaria ao Brasil o melhor iniciador do Califado, Glenn Alcorn (Saladin). O mais interessante, porém, foi que a Sra. Scriven, falando oficialmente pelo Califado, declarou, naquela carta, que Euclydes Lacerda de Almeida era a maior autoridade de Télema no Brasil (6). Isto deve ser guardado na memória, para que se entenda, mais tarde, a razão por que o "Califado" passou a perseguir e a tentar denegrir ao máximo a imagem de Euclydes, quando este veio a cortar relações com a ordem.
Marcelo resolveu, então, procurar por pessoas que pudessem vir a ajudá-lo. Apresentou sua idéia aos poucos membros que haviam restado da Sociedade Novo Aeon, mas, de início, ela não foi agasalhada senão por um outro irmão da F.R.A., Sr. Antonio Carlos Ochiuzzo (Sabak, hoje afastado do mundo do ocultismo e vice-presidente da Sociedade Budista do Brasil). Isto porque Carlos Raposo e Marisol Seabra ainda tinham esperanças de reorganizar a S.N.A., embora cada vez mais os irmãos do Rio estivessem se afastando deles.
Marcelo voltou a escrever para Soror Helena, dizendo do resultado de sua reunião com os ex-membros da S.N.A. no Rio de Janeiro. Na mesma carta, perguntava acerca da possibilidade de o "Califado" reconhecer os graus de Euclydes, principalmente diante da sua história pessoal, que em muito se confundia com a própria história de Télema no Brasil. Mais: dizia-lhe que Raposo publicaria Liber Agape em sua revista, Safira Estrela, que em breve seria lançada.
A resposta da Sra. Scriven seria o ponto de partida para mais uma história de mentiras e traições. Segundo a Secretária Geral do Califado, os graus de Euclydes não poderiam ser reconhecidos. Nós não garantimos graus na O.T.O.; eles devem ser trabalhados completamente em ordem e forma, a partir de Minerval (7). Essa informação não era verdadeira, pois Marcelo sabia que o próprio fundador do Califado, Grady Louis McMurtry (Hymenaus Alfa) jamais havia percorrido sistematicamente os graus da O.T.O., o mesmo tendo ocorrido com seu sucessor, William Breeze (Hymenaus Beta). Mais tarde, viriam a ouvir da boca de um de seus iniciadores, Lon Milo DuQuette, que a iniciação deste ao IXº foi-lhe feita de surpresa, quando ele ainda era um membro da tríade inferior do "Califado".
Quanto à publicação de Liber Agape, Soror Helena foi incisiva: - Eu devo lhes pedir que não publiquem Liber Agape...publicar tal documento é um mau serviço ao leitor. As técnicas ali descritas são extremamente potentes e podem seriamente machucar aqueles não propriamente instruídos no seu uso(8).
Preocupado com a possibilidade de criar-se um conflito precoce com o Califado, o grupo do Brasil resolveu por devolver a mentira: em 02 de julho de 95, a pedido de seus colegas, Marcelo dava à Sra. Scriven a falsa informação (9) de que apenas 20 exemplares do volume 0 da revista Safira Estrela haviam sido publicados com Liber Agape, e que uma nova edição sairia sem aquela bem conhecida instrução secreta (10)
Sem grandes surpresas, logo todos decidiriam aderir à idéia de trazer o "Califado" para o Brasil. O incidente abaixo consta das anotações do diário de Marcelo Santos e pode ajudar a esclarecer um pouco a questão: 15.7.95 – (...) Ainda não estou tranqüilo diante da idéia que me assusta. Fomos eu, Carlos e Marisol a Paraíba do Sul, onde conheci Euclydes. Carlos me pediu que assinasse com eles um certo documento, segundo ele para renovar o registro da S.N.A. Mas Teresa [mulher de Euclydes] recusou-se a assinar, dizendo que, na verdade, aquele documento tinha o propósito de mudar a S.N.A. de mãos. Espero estar entendendo tudo errado. Quem está enganando quem?.
As cartas seguintes, entre Marcelo Santos e Lynn Scriven, trataram das iniciações vindouras, tendo ficado decidido que os membros fundadores do futuro Acampamento seriam Marcelo, Carlos e Marisol. Novas informações falsas foram trocadas. Por exemplo, em 24.10.95, o "Califado" proibiu expressamente que Raposo publicasse Liber CL no volume I da sua revista, mas novamente o material foi distribuído sem autorização.
Em 21 de outubro, chegou a Marcelo uma carta que seria decisiva para que o seu entendimento sobre o "Califado" se tornasse mais livre e imparcial. Tal carta lhe fora endereçada pelo Sr. Steve King, representante do frater superior do "Califado" para a Austrália, pessoa verdadeiramente digna de todo respeito e admiração. Ele perguntava se Marcelo tinha os livros de Peter R. König, e se prontificava a copiá-los e remeter as cópias para o Brasil (10).
As iniciações se aproximavam, mas nem tudo era um mar de rosas. Em 11 de dezembro de 1995, Marcelo lançava em seu diário: Começam os preparativos para as iniciações na O.T.O. Surgem os primeiros problemas entre o grupo. O título faz com que o trabalho seja esquecido.
Mentira, Vaidade, Discórdia: o "Califado" no Brasil
Entre os dias 14 e 17 de abril, foram realizadas as primeiras iniciações na C-O.T.O. e os primeiros batismos na E.G.C.. Os oficiais que presidiram as cerimônias foram Glenn Alcorn, Lon Milo DuQuette e Kip Coddington.
Uma das instruções trazidas pelos representantes do "Califado" era no sentido de que Marcelo Santos deveria ser o futuro Mestre do primeiro corpo local no Brasil. Isto causou o inconformismo do Sr. Carlos Raposo, que não podia aceitar subordinar-se a alguém vários anos mais jovem do que ele. Esse assunto foi levado ao conhecimento de Marcelo por Glenn e Kip, que ressaltaram igual preocupação por parte de Lon DuQuette. O brasileiro, então, disse-lhes que não se importaria, acaso tivesse que abrir mão do seu título em favor da harmonia do grupo, contra o que Glenn Alcorn argumentou que havia recebido uma ordem, e que essa ordem deveria ser cumprida. Marcelo não tinha escolha: ele deveria ser o representante para o Brasil.
No dia 17 de dezembro, convencido da irresignação de Raposo, Lon Milo DuQuette propôs, diante de todos, que ele viesse a assumir o cargo de co-Mestre de Acampamento, juntamente com Marcelo. Raposo reagiu positivamente, e o caso foi dado por encerrado. Partiram todos, então, ao encontro de Euclydes, que havia sido acometido de um mal súbito quando do seu primeiro encontro com os americanos e se encontrava acamado (que vejam aqueles que têm olhos de ver!). Por conta disso, Euclydes passaria apenas pelo ritual de Minerval, e não pelo Iº, num templo mais do que improvisado. Mais uma vez, uma mão invisível dava um rumo aos acontecimentos. Explica-se: das pequeninas alterações que o "Califado" fez aos textos publicados dos rituais, uma foi a criação do culto ao Califa, através da inclusão do nome Hymenaues Beta nas cerimônias ao lado de "Baphomet". Isto é especimente relevante para os estudantes mais sérios, e a sua gravidade será bem entendida pelos mais perspicazes. Não tendo passado pelo ritual do Grau I, Euclydes não jurou fidelidade a, nem reconheceu a autoridade de, Hymenaeus Beta.
Após as iniciações, houve algumas reuniões, mas o grupo teve por bem aguardar o envio da carta-patente que autorizaria a fundação do Acampamento, para somente então iniciar efetivamente os trabalhos.
Em março, Marisol enviou uma mensagem eletrônica para Lynn Scriven, dizendo que Carlos desistira de atuar como co-Mestre. Conversando com Marcelo, Carlos disse que aceitaria o cargo de secretário. Assim, em 14 de março de 1996, seguia para os EUA o pedido formal de autorização para a instalação de um Acampamento do "Califado" no Rio.
Entretanto, Marcelo já não se sentia mais tão bem onde estava. Tinha lido os livros de König e relido os escritos de Marcelo Ramos Motta (Parzival XIº). Tinha meditado sobre os acontecimentos recentes. Por conta disto, escolheu para o futuro corpo local do "Califado" um dos nomes mágicos usados por Marcelo Ramos Motta: Sol no Sul (veja-se, por exemplo, a famosa carta enviada por Motta ao Rei Suíço da OTO, Joseph Metzger). Esse foi o seu primeiro ato mágico de insubordinação; porém somente mais tarde perceberia o seu alcance.
Em 16 de abril de 96, Soror Helena informou a Marcelo que a carta patente não lhe chegaria antes de junho. Disse também que havia dado a Euclydes a oportunidade para que ele fundasse um Acampamento, a despeito de somente haver tomado o Grau 0 do "Califado". Para ela, Euclydes era certainly an exception to the rule. Nesse período, Marcelo passava por um período de profunda perturbação espiritual. A carta da Lua o perseguia. Ele percebia que algo de sombrio o rondava, e buscava uma maior aproximação de Euclydes, então seu instrutor na A\ A\ (12) Logo, uma nova maquinação de seus irmãos chegaria ao conhecimento de Marcelo. Em 18 de junho de 1996, Soror Helena informava-lhe que Marisol havia solicitado uma carta-patente para dirigir seu próprio Acampamento, sob o argumento de que Marcelo não permitia que os irmãos se encontrassem. Helena queria maiores informações sobre o que estaria acontecendo.
A resposta foi imediata e sutilmente expressava a dúvida que Marcelo tinha quanto às atitudes de seus colegas. (13)
Em 08 de julho de 1996, finalmente de posse da carta-patente – datada de 06 de maio de 1996 – foi fundado o Acampamento Sol no Sul, no Rio de Janeiro.
Euclydes, por sua vez, logo decidiu retirar-se em definitivo do "Califado" (14). E, desconfiado das intenções daqueles que se diziam seus amigos, revogou todas as patentes e documentos por ele conferidas até Setembro de 1996, conforme declaração registrada perante o 2o. Ofício de Paraíba do Sul, RJ. No final do referido documento, Euclydes alertou: As razões desta irreversível decisão baseiam-se em vários fatos e razões que futuramente serão expostos publicamente, se assim for necessário.
O "Califado" perdia, então, o seu maior trunfo em potencial: a si não se submeteria a pessoa cujos Graus e Consecuções, tanto na O.T.O. quanto na A\ A\, tinham o toque da legitimidade em que a organização americana pretendia se apoiar (15). Isto acabou gerando o descontentamento do Califa, que mais tarde não conseguiria mais esconder sua irritação, como demonstraremos.
O próximo evento ocorrido foi igualmente relevante. Surge mais um protagonista da história do "Califado" no Brasil: Marcos Torrigo (Frater Piarus), um dos mais promissores estudantes da A\ A\ sob a orientação de Marcelo, decide se filiar ao "Califado". Marcelo, então, lhe escreveu: Eu estou pensando em fazer de você o representante do Acampamento Sol no Sul, após as iniciações de novembro, em S.P. Você ficaria a cargo de organizar e coordenar grupos de estudos nessa cidade (16).
Interessante é o texto da carta seguinte, em que Marcelo Santos escrevia a Torrigo, como que demonstrando um quê do sentimento que guardava no seu íntimo e profetizando muito do que ainda estava por ocorrer: Nos dias que seguirão a este, você entrará em um período no qual eu lhe recomento a mais sincera reflexão, pois em pouco tempo toda a sua perspectiva de vida poderá mudar.
Dentro de cerca de 20 dias, você poderá ser um Probacionista da A\ A\ e um irmão do Iº O.T.O., dois fatos que farão de um momento um ponto crítico na sua vida. Dia após dia, você verá conceitos desmoronados e aprenderá, com felicidade ou agonia, que tudo o que você puder construir sobre esses escombros não será mais do que castelos de areia. Nesses momentos, lembre-se de que, às vezes as pétalas perfumadas, às vezes os espinhos afiados, mas sempre será a Rosa que você terá às suas mãos... Caso eu venha fazer de você o representante do Acampamento Sol no Sul na sua cidade, tenha certeza de que esta será a sua maior provação, o seu ordálio mais terrível. Desvie-se da Grande Obra e só lhe restará...talvez...um ego monstruoso, em busca de projeção para a compensação das suas frustrações mundanas... Com uma única exceção [Euclydes], tudo o que tenho visto entre as pessoas que exercem funções administrativas na Ordem, ou em organizações parecidas, é uma imensa fogueira de vaidades. Espero que você não se torne mais um a queimar-se naquelas labaredas. (17)
Em novembro de 1996, Glenn Alcorn voltou ao Brasil e novas iniciações foram realizadas, dentre elas a de Torrigo, que, em 23 daquele mês, era feito o representante do Acampamento Sol no Sul em São Paulo. Fato estranho foi que Marcelo Santos - tal como já havia ocorrido no ano anterior e sempre se repetiria durante as cerimônias do "Califado" que viesse a oficiar - passara mal durante o período de iniciações, chegando a perder mais de cinco quilos. Mesmo assim, esteve presente a todos os rituais, pois nenhum oficial estrangeiro acompanhara Glenn daquela feita. Mais estranho, ainda, era o fato de que, até então, nenhum material de instrução havia sido fornecido aos membros brasileiros, a não ser o chamado guia de estudos, que, como o próprio nome sugere, trata-se, apenas, de um roteiro que indica algumas obras (vendidas pelo Califado!) e práticas a serem observadas. Após as iniciações de novembro de 1996, os brasileiros passaram meses sem receber qualquer notícia do exterior, até que, em 03.01.97, chegou ao conhecimento de Marcelo mais um fato desagradável: a injustificada perseguição havida contra os membros do "Califado" da cidade de Manchester, na Inglaterra, que levou ao fechamento da Loja local e à expulsão do casal que a chefiava, numa atitude lamentada por toda a comunidade telêmica inglesa. Em conseqüência, Frater U\ D\, baseando-se numa condição peculiar da Fraternitas Saturni, funda um novo ramo da O.T.O. e, ato contínuo, abre mão da sua liderança em nome do casal perseguido pelo Califa. Particularmente, chamava a atenção um trecho do documento, que, traduzido, dizia: Desde a assunção da autoridade do "Califado" por William Breeze, aka Hymenaeus Beta, em 1985 e.v., nós, nosso trabalho, nossas consecuções, nossa própria existência, por vezes, ou assim parecia, representaram uma ameaça às alegações e às pretensões da liderança da O.T.O., tal como constituída sob os poderes do "Califado" que Breeze herdou de Grady McMurtry... Isto foi agravado pelo fato de a nossa Obra em serviço da Argenteum Astrum não ter ficado sob o controle daqueles que, de dentro do Califado, gostariam de expropriar toda a Obra para si mesmos e seu círculo de favorecidos, como se alguém tivesse, hoje, a autoridade de declarar qual é, ou qual não é, a verdadeira A\ A\ (...) Com a aprovação e o encorajamento do centro, Ben Furnee, o Inquisidor de Breeze, juntou, orquestrou, agravou e editou covardia, mentiras, falsa representação e inveja.... Ironicamente, o mesmo ainda viria a acontecer no Brasil. Também em janeiro de 1997, Carlos Raposo e Marisol Seabra entregaram seus cargos oficiais, sob a alegação de que estavam deveras atarefados. Também utilizando-se das mesmas justificativas, aos poucos se afastaram das atividades do Acampamento, muito embora, mais tarde, viessem a pedir acolhimento no Acampamento Therion, que, curiosamente, ficava, apenas (?), a cerca de 400 Km do Rio de Janeiro!
No dia 23 de janeiro, Marcelo receberia uma mensagem eletrônica de Hymenaues Beta, na qual este parecia misturar os conceitos de OTO e A\ A\ e, ainda, esquecer-se de que o Grau de Euclydes nesta última era muito superior dele, Califa. Dizia H.B: ...I have been trying to make some sense out of OTO organizational situation, complicated by Euclydes’ resignation, and the complete confusion concerning A.A. activity in Brazil...
Prosseguindo, o Califa, "esquecendo-se" de que o Grau de Euclydes lhe era superior, se queixava de não ter recebido relatórios da A.A., e de não saber nada sobre a admissão de Neófitos no Brasil, o que, nas suas palavras, era totalmente inaceitável.
Pedia, ainda, o endereço da Editora Madras para contatá-los e escrever cartas legais, pois – segundo Hymenaues Beta – "o Brasil é considerado um dos centros mundiais de pirataria intelectual" (18)
As informações solicitadas foram fornecidas por Marcelo, que também informou ao Califa que Euclydes pretendia publicar um livro sobre a história de Télema no Brasil. Entretanto, ressalvou que Euclydes era o seu Zelator Superior, e que ambos não concordavam com as imposições feitas a respeito da A\ A\ O que Marcelo Santos omitiu, contudo, foi que, por lealdade ao seu Zelator, compartilhava com Euclydes todos os documentos relativos à A\ A\, inclusive os que espelhavam sua correspondência com alegados membros no exterior. A resposta de Hymenaeus Beta, de 04 de fevereiro, repetia um pouco do que havia acontecido na Inglaterra. A pretensão do Califa concernente à A\ A\ era totalmente descabida. O objeto das suas alegações, na mente de Marcelo, era uma frontal violação a Liber OZ: You ask me how you can assist me in connection with A\ A\ You can begin by quietly severing any formal ties with Euclydes Lacerda, who is no longer in communication with the Order...
Na sua réplica, Marcelo Santos já deixava perceber traços de sua queda. Baseado nos rumores – cujas fontes são facilmente imaginadas - de que Euclydes havia se distanciado do "Califado" porque não conseguiria aceitar uma criança como Mestre de Acampamento, Marcelo já começava a se deixar seduzir pela idéia de que um "reconhecimento" vindo do exterior poderia lhe ser mais interessante. (20) Também dava ciência ao "Califado" de que Marcos Torrigo havia constituído uma editora, Anúbis, e pretendia lançar alguns títulos de Crowley pagando royalties ao Califado, o que, obviamente, deve ter deixado o Califa muito feliz (21).
Em seguida, iniciou-se um processo lamentável: Marcelo, já tomado pela vaidade, passou a obrar contra aqueles que não se enquadravam na política proposta pelo Califado, dentre eles, Euclydes, pois, segundo o Frater Superior, "nós [o Califado] não gostaríamos que as companhias que pretendem publicar nossos livros pensem em publicar o livro de Euclydes.
Também com a ajuda de Marcelo, o Califa enviou, em 16 de abril de 97, uma carta à editora Madras, ameaçando-a por conta da publicação de seus livros. Mais tarde, Marcelo viria a se arrepender amargamente dessas atitudes, muito embora as atitudes da organização americana não houvessem passado do limite das ameaças.
Ao mesmo tempo em que isso ocorria, Carlos Raposo e Marisol Seabra davam causa a novos problemas: agora, publicavam em sua revista anúncios do Califado, apresentando o seu endereço como aquele em que os contatos com a ordem deveriam ser feitos.
Em 25 de julho de 1997, Marcus Vannuzini, Conselheiro do Acampamento, repassava a Marcelo um e-mail no qual Carlos Raposo usava de todos os seus expedientes para detratar a imagem de Marcelo, inclusive alegando ter o apoio de Torrigo. Nessa época, deflagrava-se uma terrível batalha, pois Raposo havia se apropriado da correspondência entre Marcelo e Euclydes e dado ciência da mesma ao Califa. Posteriormente, Raposo também se apropriaria da correspondência entre Marcelo e o próprio Califa.
Para tornar uma longa história curta, basta dizer que, em 26 de julho de 1997, o Califa enviava uma mensagem a Carlos Raposo, na qual este era severamente criticado por ter se apossado daquela correspondência e repreendido por sua insistência em tentar minar o trabalho de Marcelo. H.B. também expressava o seu descontentamento pelo uso que Carlos fazia do material telêmico para se auto-promover. Contudo, interessante é notar que a quase totalidade das mesmas críticas que foram di rigidas a Raposo e Marisol poderiam ser, também, aplicadas ao próprio Califa. Eis alguns trechos dessa mensagem:
You usually contact me in order to undermine Bro. Santos...and frankly, I think you play games... a great deal of the time. ... I have been trying to find a way to accomodate you and your wife without destroying the rest of our organization in Rio. However, you continue to act as a "player" in OTO affairs...IHQ is sending a Sovereign Grand Inspector General to Brazil in the fall...
Em outubro de 1997, o Rio de Janeiro recebia novamente oficiais estrangeiros do Califado, tanto para realizar novas iniciações, quanto para proceder às investigações acerca dos fatos ocorridos. Quanto a estas, contudo, os inquisidores não obtiveram êxito, pois um pacto prévio de silêncio garantiu que os acontecimentos não fossem examinados a fundo. Na verdade, toda a culpa foi empurrada para cima do então Mestre do Acampamento Therion, Marcos Torrigo, pois descobriu-se ter sido ele quem enviou cópias da correspondência entre Hymenaeus Beta e Marcelo Santos para Raposo e Seabra. Na verdade, os oficiais brasileiros, sem exceção, já estavam carcomidos pela vaidade e pela sede de poder. Eles não percebiam, porém, que esse poder; jamais existiu fora de seus sonhos e fracassos.
Além da entrada de mais um protagonista da história do Califado, Sr. Mario Gil (Frater Abbashaitan), mais tarde líder de um grupo em São Bernardo do Campo, a série de 60 iniciações trouxe outras informações que contribuiriam para que a verdadeira face do "Califado" fosse escancarada.
Com efeito, Glenn Alcorn trouxe consigo vários documentos produzidos por uma das Lojas a que integrou. Os brasileiros que lhe eram mais afetos foram autorizados a fazer cópias desses documentos, contanto que os preservassem sob sigilo, pois, de acordo com Alcorn, o Califa havia determinado a supressão de quaisquer instruções no seio do "Califado". Ainda de acordo com o inquisidor, essa prática asseguraria a venda dos livros, ou seja, asseguraria a percepção de royalties pela C-OTO.
Por sua vez, a esposa de Rodney Orpheus, Heidi, revelou a um grupo de membros da ordem que o seu batismo na EGC foi-lhe ministrado contra a sua vontade. Segundo ela, por se recusar a integrar a EGC, as missas na sua cidade estavam prejudicadas. Chegou um dia, porém, que, andando às margens de um rio, Hymenaues Beta tomou um pouco d’água nas mãos, jogou-lhe sobre a cabeça e disse: - Você acaba de ser batizada.
Por pura vaidade, mesmo já estando convencido da falta de seriedade e de legitimidade do Califado, Marcelo Santos aceitou sua carta de iniciador, datada de 27 de Outubro de 1997.
Nos meses que se seguiram, mais confirmações traziam a Marcelo e outros vários irmãos a certeza de que o "Califado" não merecia o trabalho que eles vinham desempenhando.
Em maio de 98, por exemplo, Marcelo Santos recebeu uma carta do testamenteiro literário de Aleister Crowley, Sr. Anthony Robert Naylor, dando-lhe ciência de que as alegações do Califado, acerca da propriedade dos direitos autorais da Besta, em nível mundial, eram equivocadas. (23)
De mentira em mentira, Marcelo Santos dava-se por conta de que ele também mentia; de que ele também obrava contra seus irmãos em Télema; de que ele também havia caído.
Os problemas eram intermináveis. Em setembro de 1998, um dos membros do "Califado" lançou várias mensagens em listas da internet, com o fito de desmoralizar Marcelo. Novamente, Glenn Alcorn viria ao Brasil, desta vez apenas como inquisidor.
Conversando com seu grande amigo, Antônio Ochiuzzo – que já havia se desligado do "Califado" – Marcelo finalmente percebeu como estava desperdiçando seus anos naquela organização. Antônio chamou-lhe a atenção para o fato de que o "Califado" nada tinha a oferecer para o sincero buscador: nenhuma instrução era fornecida; ao longo de toda a história, o ambiente na C-OTO jamais foram saudável; Télema, ali, era apenas chamariz. O agora budista Antônio comparou a vida espiritual à escalada de uma montanha: - Jogue fora o peso desnecessário, disse ele. Antônio Ochiuzzo tinha razão: Marcelo Santos finalmente acordava do seu doce pesadelo e iniciava o seu afastamento do "Califado". Ironicamente, somente havia duas pessoas que poderiam assumir o Oásis, devidos ao grau requisitado (IIIº): Carlos Raposo e Marisol Seabra! Em 28 de outubro de 1999, apesar da pressão contrária da maioria de seus colegas, dentre eles Humberto Maggi (Frater Zarazaz), que insistia em alertar sobre a má-fé de Carlos e Marisol, Marcelo confirmava esta última como sua substituta, o que veio a ser acatado pelo Supremo Conselho do "Califado".
Entretanto, como já deveria ser esperado, tão logo se deu a transferência do cargo, Marisol passou a obrar em desfavor de Marcelo. (24)
Em dezembro, Marcelo Santos viajou para os Estados Unidos, onde se iniciou no IVº e P.I., além de ter passado pelo Ritual DCLXXI, da A\ A\ Sua permanência no "Califado" era cada vez mais insuportável. Apenas para ilustrar, Marcelo descobriu que, através de mediana bajulação, o Vº é considerado o grau mais alto a que normalmente se atinge; a partir daí, os critérios são bem obscuros. Soube, ainda, da boca da contadora do Califa, que a mansão em que este reside era sustentada pela ordem. Salvo melhor juízo, tendo em vista a arrecadação com roylaties e com as taxas de iniciação e anuidades, torna-se verdadeiramente difícil de se entender a razão por que os corpos locais não recebem qualquer subsídio da Ordem, ao passo que o seu chefe é confortavelmente alojado. Vários outros fatos chamaram a atenção do brasileiro, os quais não convém entrar agora em detalhe.
Entretanto, a viagem de Marcelo não lhe foi desfavorável por completo: o Ritual 671 (A\ A\) foi-lhe extremamente benéfico, e serviu para quebrar algumas amarras de longo tempo.
Em quatro de janeiro de 1999, Marcelo declarou expressamente seu afastamento do Oásis Sol no Sul, e seu vínculo com o "Califado" também estava por um fio, como demonstram suas entradas no diário (25).
Em fevereiro, Marcelo receberia uma carta do tesoureiro geral da Ordem, Bill Heidrick, dizendo que já havia pedido para Marisol repassar-lhe as questões ali formuladas e reclamando por não ter recebido resposta. Obviamente, aquela era a primeira vez que Marcelo via aquelas questões, as quais respondeu prontamente. Logo em seguida, a gota d’água: Após ter viajado por duas horas durante a noite com sua esposa grávida, tão somente para auxiliar Marisol a proceder às suas primeiras iniciações, Marcelo Santos foi barrado à porta do templo pelo então tesoureiro do Oásis, Noé Alvarenga (Sinn). Após alguns momentos, foi-lhe permitido adentrar a casa, mas Marisol disse-lhe que perderia seu tempo se tirasse o robe da mochila. Segundo Marisol, o secretár io do Oásis, Daniel Velho (Iehi Schamir), lhe havia dito que Marcelo iria lá para fiscalizar os trabalhos. Como tudo aquilo era claramente um grande palco de mentiras, Marcelo simplesmente deu adeus e pegou suas coisas, deixando claro que não mais seria omisso quanto a expor o que tinha vivido no Califado; ao que Marisol pediu-lhe que ficasse.
Ao retornar ao Rio, Marcelo escreveu ao Califa, cortando seus laços com o "Califado". (26)
A partir daí, vários outros acontecimentos e traições tiveram lugar, os quais provocaram o afastamento de Marcos Torrigo, que fechou o Acampamento Therion, e de Mágio Gil, outrora líder do grupo de São Bernardo do Campo, o qual veio a fazer novas revelações e a desferir vários ataques públicos contra o "Califado". Mas estes assuntos serão tratados quando da próxima atualização desta narrativa, por seus próprios protagonistas.
Finalmente, merece destaque uma das mais recentes conseqüências dos atos do "Califado" no Brasil: a criação, em finais de julho de 1999, da Aliança 93, à qual aderiram importantes expoentes e manifestações da corrente telêmica, acabando com as ilusórias barreiras até então existentes entre diversos indivíduos e organizações. Adesões de novas organizações (exceto, é óbvio, o Califado) ainda poderão vir a ser aceitas.
IV – Conclusão
De nossa exposição, extrai-se facilmente que o "Califado" em nenhum sentido pode ser encarado, quer como uma Fraternidade, quer como uma Ordem mágica.
Os expedientes de que essa organização se utiliza para manter seus seguidores são a coação moral (é comum ouvir-se que quem toma o Iº deve prosseguir até, no mínimo, o P.I., sob pena de sofrer as terríveis conseqüências de sua retirada precoce), ou o estímulo da vaidade (títulos pomposos são sempre uma boa compensação para as frustrações do dia-a-dia).
No Brasil, o "Califado" tem, hoje, uma liderança que se prende a uma história de discórdias e jogos subterrâneos, com raízes anteriores à própria instalação dessa organização nestas terras; aí talvez resida a razão da afinidade recíproca.
Na próxima atualização, traremos à baila fatos mais recentes, que comprovam que as práticas dos oficiais brasileiros do "Califado" têm seguido o mesmo sentido que até aqui foi demonstrado. Os seguidores do Livro da Lei não deveriam acreditar em mudanças.
Notas:
Carta enviada a Marcelo A. C. Santos, datada de 16.8.93, sob o selo da Sociedade O.T.O: ...Por duas vezes você se refere a ‘Ordens’ que são repudiadas por nós: na primeira à ‘Loja Therion’ e na segunda à sociedade assim-chamada ‘Novo Aeon’. Kenneth Grant foi expulso da O.T.O. sem retorno e seu dileto pupilo (se o foi mesmo; cremos que tenha sido pois a farinha é do mesmo saco) Euclydes Lacerda de Almeida, que abortou essas duas ordens também seguiu o mesmo caminho... Recebemos infindáveis cartas de ‘espiões’ do ‘mestre Euclydes’ que querem manter contato conosco e nos compram livros. Inumeráveis panfletos nos são enviados com a tentativa de ‘união’, mas todos eles têm o mesmo fim: o lixo... Você deverá pensar que também o temos como um espião dessas pseudo-ordens. Acertou!...
Carta de Carlos Raposo a Marcelo Santos, datada de 01.6.94: ...É lamentável que indivíduos que tendo ontem assinado juramento de Probacionistas na nossa querida A.A., hoje ou se clamam como clamados Grãos-Mestres, Rex disto ou daquilo, ou caiam na grande ilusão de pensar estar em contato direto com nada mais nada menos que TO MEGA THERION; e ainda por cima ‘rompem’ com o único vínculo [com Euclydes] que os mantinham próximos da egrégora Thelêmica. Mas estas coisas acontecem. ... Também é lamentável ver como a conveniência dirige o discurso de alguns. Se ontem o vínculo [com a SNA] era não só necessário, como imprescindível para que a Tradição fosse mantida, hoje este vínculo não tem mais importância, pois ‘a tradição será criada por nós’...
Carta de Carlos Raposo para Marcelo Santos, datada de 25 de maio de 1993: ...Marcelo Motta...nomeara por escrito Frater Aster como Grão Mestre Nacional da O.T.O. no Brasil....Ironicamente, um a um foram caindo aqueles que tentaram corromper o Sistema Thelêmico e ao final apenas Frater Aster [Euclydes] manteve-se íntegro em Thelema e deu continuidade a seu trabalho até receber o IX º OTO de Kenneth Grant, O.H.O. da seção inglesa da O.T.O.... ...De modo que se quisermos traçar nossa linhagem Iniciática teríamos por um lado: Crowley, Germer (Fra. Saturnus), Marcelo Motta (Fra. Parsival) e Frater Aster; e por outro lado encontramos: Crowley, Kenneth Grant (Fra. Aossic Aiwass) e Frater Aster. Resumidamente, isto deve sewr suficiente para que tenhas uma noção de nossa Ascendência Mágica, bem como nossa identidade com a O.T.O. e a A.A.
Carlos Raposo para Marcelo Santos, 09 de julho de 1994: Note que esta hierarquização [de graus] é a princípio tão arbitrária quanto circunstancial, obedecendo somente aos anseios e desejos de quem banca a estrutura. Com o passar do tempo, e com o seu sistemático aceite por parte dos novos pupilos, esta estrutura passa a ser entendida como sendo algo tradicional e não só absolutamente normal como indispensável. ..Agora eu te pergunto se está correto aceitar esse procedimento para si próprio mas querer impor a outros um longo e ilusório percurso até um ‘segredo’ publicado pelos quatro cantos do mundo? Apenas a conveniência poderia, como pôde, responder (e posicionamento do tipo ‘mas a estrutura da FLH é outra, aquilo era a S.N.A! Aceite as nossas regras, pô!’ será hipócrita a não ser que se resolva reinventar a roda...faça um pequeno t este pedindo ao(s) chefe(s) da FLH as seguintes instruções: De Natura Deorum (instrução do VIIº), De Homunculus (instrução do VIIIº) e Liber C vel Agape (instrução do IXº). Depois estude-as e requisite os devidos graus... [essas instruções] todas foram publicadas por Francis X King em seu livro Secret Rituals of the O.T.O... Aliás peça o livro todo (o Marcos [Marcos ‘Pagani’, Sekhem, um dos fundadores da F.L.H.] tem ceramente o grau de alguém diz pouco sobre o sujeito. É acidental. Nesta nota, fazemos duas observações: 1) Carlos Raposo equivoca-se a respeito da instrução De Homunculo, que é destinada ao Xº, não ao VIIIº; 2) sugiro que os leitores troquem "F.L.H." por "Califado", de modo a entenderem como a mesma história se repete hoje, desastrosamente pelas mãos da pessoa que tão sabiamente endereçou aquelas palavras a Marcelo.
Lynn Scriven para Marcelo Santos, 20 de janeiro de 1995: Mr. Euclydes has expressed interest in bringing down an initiation team. This may well be possible, give it some thought.
Although everyone acknowledges Mr. Lacerda as the senior authority on Thelema in Brazil, he doesn’t seem half so enthusiastic about helping us as you. Pehaps he is more interested in the Magical side of the Order...we will be quite content and respect you both for what you have to offer to bring O.T.O. to Brazil (carta de 09 de maio de 1995).
carta enviada a Marcelo Santos, em 20 de junho de 1990.
idem.
Carta de Marcos Torrigo para Marcelo Santos, datada de 11 de março de 1996: Adquiri ‘Safira Estrela’, achei muito interessante as matérias ‘Aleister Crowley e o Culto da Besta 666’, ‘Uma Nova Face para o Diabo’ e, sem dúvida, ‘Liber C’.
In fact, that edition was distributed between old members of SNA, beyond myself, you and Brother Steve King, from Australia, and was limited in 20 exemplars...an eventual exposition of Volume Zero will not have ‘Liber Agape’ therein.
Steve King, Representante do Frater Superior para a Austrália, para Marcelo: Do you have the books by Peter R. König? ... I can photocopy them for you. All up they are about 600 pages!". Em 01 de janeiro de 1995, Steve escreveria para Marcelo: "Did you meet König when he was in Brazil? I have not heard any good reports of him yet, and he seems to be quite malicious, or at least some kind of pest! But for the serious researcher (as I believe you are) h is book has valuable letters and documents which can come in useful.
De fato, Marcelo já havia assinado dois juramentos anteriores. O primeiro, perante Frater QVIF (Marcos Pagani), seguido de outro, perante Carlos Raposo. Raposo havia desqualificado Pagani como instrutor da Santa Ordem, inclusive tendo-lhe dirigido um texto em sua revista, Safira Estrela (Carta a um Aprendiz). Mais tarde, porém, Euclydes também desqualificou Raposo, dizendo que ele não poderia se apresentar como um Neófito, pois nunca havia lhe apresentado, sequer, uma página de um diário mágico. Em 23 de maio de 96, Marcelo, já se conformando com a idéia de conviver com serpentes dentro de um poço, escrevia para Euclydes: ...com toda clareza do mundo, somente pude ver através das névoas, somente pude me recompor e perceber que eu ainda estava de pé, quando, tendo vivido os rituais [da A\ A\], fixei-me na busca do Anjo...Quisera eu beijar meu Anjo, Caro Frater e Superior meu na Estrela de Prata, para então estar apto ao próximo passo, à aventura da dissolução em Nuit, ao Supremo Orgasmo, quando cada gota de sangue é vertida no Cálice de Nossa Senhora BABALON!. O que Marcelo não sabia é que, muito pelo contrário contrário, as constantes tentativas de retirar-lhe a autoridade fariam com que se trancasse numa ilusão de poder, e seu ego, a partir daí, se inflaria a níveis que o tornariam insuportável aos olhos dos não-membros do "Califado".
Marcelo Santos para Soror Helena, 10 de julho de 1996 e.v.: ... I could not believe my eyes when I read it! You asked me to tell you what’s going on, and I’ll try to. I say I’ll try to, because I must use only the objective elements that I’ve got at my disposal and put aside my intuition. The facts:
... I kept in touch with Carlos, Marisol, Antonio and Euclydes, and I’ve never set aside my obligations that I assumed to myself concerning the OTO and the A.A.
– In my Country, things DO NOT work before Carnival and it was agreed that we would start meeting in March.
– In the second week of March, I was at the residence of Carlos and Marisol, and they told me that some acquaintances of theirs would like to join us. We decided that it would be time to gather everybody around and start working, since we’ve already had the study guides handy. A group of studies should be meeting once or twice a month.
– In April, Carlos and Marisol went some days out of Rio, in vacations. Thanks to that, our plans were adjourned... The next time I talked to Carlos, he told me he would not like to co-Master the Camp. The reasons he gave me were those that I exposed in my letter of May 12. As I did not have a Charter, I could not actually feel myself as the Camp Master... sometimes it is difficult to make them see that within our Camp there are only 0º and Iº members! (...) Now, if it had happened that anybody asked me to organize meetings and classes, I would be the first one to say: DO IT! I am not an absolutist despot who wants every power in his hands! On the contrary, I want and I need my brethren to assist me. Now, if one wants to be a Master, or a RSS, or the President of the USA, believing to be a Thelemite, I think one must to be clear to one’s folks and not to act by means of sly and lying maneuvers.
Euclydes Lacerda de Almeida para Soror Helena, 07 de outubro de 1996: Today I report to you and all members my detachment as membership of the O.T.O. This is a personal and irrevocable resolution of my own. So I give back my Charter of the Minerval Degree.
Hoje, parece não haver mais dúvidas, para os pesquisadores, de que Marcelo Ramos Motta foi escolhido por Karl Germer (Frater Saturnus) como o seu sucessor. Igualmente, graças ao trabalho de Peter R. König, já é de conhecimento de todos o apontamento de Kenneth Grant como sucessor de Crowley. Essas eram, justamente, as duas fontes da autoridade de Euclydes, que o "Califado" pretendia absorver.
Carta de 03 de setembro de 96.
Marcelo para Torrigo, 18.10.96.
e-mail de 23.01.97
email de 25 de janeiro de 1997.
Marcelo Santos para Hymenaeus Beta, em 07.2.97: Soon, Euclydes sent back his OTO material to the USA, but not before calling the Brazilian members and telling them that he could not recognize a "child"(me!) as a Camp Master. Even so, he keeps around me until these days and always says that I am his only friend in the OTO. Bullshit?
William Breeze para Marcelo Santos, 16.02.97: Thank you for yours of Feb 7 and your note of today. P-R Koenig is an idiot. I expect to fax Anubis a draft contract this week.... A referência a König se devia ao fato de Marcelo ter entrado em contato com o escritor suíço em 12 de fevereiro e, por curiosidade, ter perguntado ao Califa o que o pensava sobre o mesmo. Quanto a Euclydes, H.B. acrescentou: I would simply suggest that he is an example unworthy of emulation. We should keep an eye out for his works, as he may decide to leave an unpleasant legacy in Brazil before he dies.... Notem que estas palavras foram escritas sobre alguém que, desde antes da Ditadura e durante seus momentos mais sombrios, sempre assumiu sua condição de Telemita, e graças ao qual a Obra de 666 tinha chegado aos, então, líderes do "Califado" no Brasil.
Vannuzini suicidou-se em 1998.
Dentre outras informações, daquela carta constava a seguinte declaração de John Symonds: Pela autoridade investida em mim como direito de meu Alto Cargo (sendo oúnico membro sobrevivente da OTO de Aleister Crowley designado para um Alto Cargo pelo próprio Crowley) e pela autoridade de que sou investido como Executor Literário, eu aqui declaro que, nesta data, nenhuma organização se intitulando "OTO" possui alegação válida de descender da OTO fundada por Aleister Crowley. Ademais, eu declaro que jamais outorguei nem renunciei, em parte ou totalmente, nem garanti a propriedade nem os efeitos de quaisquer direitos a qualquer pessoa ou organização". Outrossim, dava ciência de que, em 5 de abril de 1998, Symonds transferira para Anthony Naylor a função de testamenteiro literário de Crowley.
Comparem os seguintes trechos de mensagens enviadas naquela época:
Soror Helena para Marcelo:
02.11.98
I hear that after years at the helm of Sol no Sul, you are planning on
passing it on to Sr Marisol. You have done an exemplary job virtually
single handed, so I could understand your desire for a rest, but I just want
to make sure this is your intention.
24.11.98
I think it would be good for everyone if you formally, perhaps ritually, pass the chair with the Oasis in attendance; I am sure Br Glenn can devise a very suitable scenario. You can look forward to having things completely settled in a couple of weeks. From what I hear, you have a fantastic view at Sol no Sul, and you above all deserve to enjoy what the driver has no chance to enjoy-- what you helped to create! Giving up authority sounds easy, but I know it isn't. I have the deepest respect for you, my brother, and am sure you are up to the task.
Marisol Seabra para Marcelo Santos, 27.11.98:
O Glenn acabou de receber a sua mensagem junto com o e-mail de Soror Helena que vc enviou. Ele acha apropriado que seja feita uma cerimonia de passagem do cargo de Mestre de Oasis... para homenagear os teus tres anos de liderança. A reuniao sera amanha a noite por volta das 19:00h aqui em casa...
Marcelo Santos para Marisol Seabra, 28.11.98:
>A reuniao sera amanha a noite por volta das
>19:00h aqui em casa.
>O que vc acha?
Tudo bem, mas eu nao quero ser homenageado por nada. Nunca fiz nada alem daquilo que achei ser reflexo da minha vontade. E, sinceramente, minha vontade nao esta' mais no Sol no Sul; talvez nem mesmo na OTO, a unica excecao sendo a possibilidade de iniciar e ser iniciado...
Finalmente, Hymenaues Beta para Marcelo Santos, 30.11.98:
I've been a bit mystified by the subsequent goings-on. Just please do
everything you can do to assure an orderly transfer of authority.
Isto deve ser suficiente para demonstrar que boatos estavam por detrás dos verdadeiros fatos.
A história tem registrado que a tendência do homem é preservar o seu grupo e atacar os ‘forasteiros’. Desta forma, preserva-se o conteúdo interno e abre-se a possibilidade de expandi-lo, impondo-o aos assim dominados.
Isto é o que tem acontecido, não só com os povos, mas também com as religiões, tendências, correntes políticas etc.
Porém, no "Califado" tenho vivenciado justo o oposto. Há uma tensão interna beirando o insuportável (i.e., o ridículo) por todo o tempo. Por uma má compreensão da própria filosofia que pregam, os membros da ordem, crendo-se deuses soberanos, recusam-se a aceitar a existência de outra soberania tão divina quantos eles mesmos.
Assim, tais ‘soberanos’, enlouquecidos e cegos, atiram-se num mar de paranóia e estratégias estéreis contra seus ‘inimigos’, que não são aqueles que estão do lado de fora, mas sim aqueles a que chamam de ‘irmãos’. O resultado é uma caótica comédia intracultural/social, que implode a organização, além da vulgaridade que já lhe traz fama (08 de fevereiro de 1999).
Marcelo Santos para Hymenaeus Beta, 13 de março de 1996: After the most recent facts, which included people placing words I’ve never said in my mouth; demonstration, by IHQ officers, of lack of confidence in my Work; demonstration, by IHQ officers of lack of respect to my Silence; and an unforgivable humiliation imposed unto me by IHQ + Sol no Sul officers last night at a temple of initiation, I’ve finally found out there’s no more space in the OTO for me.
Nota: Euclydes Lacerda de Almeida faleceu no dia 24 de junho de 2010.