segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

FRATERNITAS SATURNI SATURNO-GNOSE

A Arte de Amar e Viver por Peter-R. Koenig


Prefácio para os dois volumes "In Nomine Demiurgi Saturni" e "In Nomine Demiurgi Nosferati", In Nomine Demiurgi Homunculi, que contêm aproximadamente 800 páginas de fac-símiles sobre a famosa Ordem de Saturno.

O título deste capítulo refere-se programaticamente a essa sociedade secreta alemã, que nós generosamente analisamos a partir do seu ângulo "criativo".

Sobre a história, os interessados encontrarão maiores informações nos seguintes livros de P.R. Koenig:

Das O.T.O.-Phänomen (sobre a História)
Materialien zum O.T.O. (fac-símiles de cartas e fotografias)
Ein Leben für die Rose (referente aos magicamente significativos graus 18° e 33°, que parecem alimentar um vampiro astral. Ver, também, "Falling In Sperm Again" no livro "In Nomine Demiurgi Nosferati", por Marlene Leander/Zarah Dietrich, isto é, Barbara Weisz, Ottmar Domainko and P.R. König)
Abramelin & Co (contém vários desenhos de sexo-mágicos)
Das Beste von Heinrich Tränker (com fac-símiles das cartas originais de Eugen Grosche para Aleister Crowley).


Por que a Fraternitas Saturni (FS), fundada nos anos 20, é conhecida, famosa, notória e atrai um tipo de curiosidade completamente diferente dos grupos da OTO, apesar de praticamente coisa alguma ser sabida sobre ela, a não ser o que é publicado em contos de fada superficiais?

Além de Eugene Grosche (1888-1994), seu fundador, que por mais de uma de uma década publicou seus "Papéis para a Arte de Viver Oculta Adaptada" e as "Lições" correspondentes, há outros criativos protagonistas que formam a reputação e a aura da FS: Johannes Göggelmann (Saturnius); o oficial de justiça criminal, Walter Jantschik (Jananda, Aythos, Levum, CIT); o químico Guido Wolther (Daniel); o acadêmico Adolf Hemberger; e o funcionário público Karl Wedler (Giovanni), na novela "Auf Teufel komm raus" ["Como o Diabo"], que moldou um escândalo real de sexo e suicídio em torno da FS.

O que têm essas figuras em comum? Aparentemente, diligência e persistência. Dê só uma olhada na revista mensal de Grosche, que no início era produzida em papel jornal e limitada a cópias de carbono no final dos anos 40. Essas revistas e lições eram envolvidas em estatutos, circulares, relatórios, cartas (um nível no qual o servidor público sentia-se em casa). E, de modo similar aos grupos da O.T.O., a rebeli&a tilde;o anticultural e o despertar "religioso" de Télema (dos primeiros anos) rastejam atrás de botões de uniformes e condecorações de ordens.

Todos os protagonistas aqui apresentados têm em comum a limitação da compleição de sua imaginação e da riqueza de sua assimilação. Parece que eles nunca se erguem acima dos seus problemas pessoais, de modo a dar forma a um caminho artístico geralmente compreensivo. Os textos misóginos editados por Grosche (e reproduzidos aqui) claramente demonstram a razão por que a sua viúva vendeu todos os document os de seu falecido marido e jamais veio a tocar em seu universo.

Todos os protagonistas têm, em comum, seu impulso criativo combinado com uma seriedade mortal. Tentamos explicar nossas impressões com o exemplo de Saturnius e, a partir de então, deixamos a base para a análise dos demais protagonistas,

Johannes Göggelmann/Saturnius
Em milhares de cartas e desenhos, nós encontramos tendências de comportamento e modelos que fisiogonomistas ilustram, na tentativa de construir uma relação com um ambiente estranho, dando-o uma "face" expressiva e significativa (e.g., demônios femininos alados). Geralmente muito da arte da "ocultura" expressa experiências trocadas de significados e relações cuja tendência de formulação em esquemas (supressão da expressão, vocabulário e explicações pseudo-acadêmicas etc) parece ser oposta à emoção. 

Na arte de Saturnius, a redução a ícones isolados e perdidos atrai a nossa atenção. Parece refletir sua solidão na sociedade, mas também na Fraternitas Saturni; isolamento que também pode encontrar alívio na verborréia, isto é, em seus milhares de cartas.

Aqui encontra-se a base do gnosticismo. Tendências à hiperatividade e exagerada acentuação do conteúdo do consciente (i.e., tudo será interpretado de modo satanista e saturnino) suportam a necessidade de se simbolizar novas fileiras de significados. Isto cria um estado de constantes mudanças de concepção e atitude. E isto leva a uma expressão modificada da criatividade (nos casos demonstrados: à sua distinta redu& ccedil;ão).

Com sua produção criativa, Saturnius desejava explicar a si mesmo como um "ser humano", sua biologia, sua relação para e com Deus e sua posição dentro da Fraternitas Saturni. Ele parece conservador, se comparado aos demais protagonistas com suas enchentes ad hoc de produtos de fantasia, e parece mais limitado em sua estreita conseqüência. O conflito interno de Saturnius é e enhos desajeitados, encontramos formas completamente isoladas, ao passo em que outras partes do papel são totalmente preenchidas com tinta. Às vezes, os modelos parecem ser suaves e sóbrios, e repentinamente tornam-se erráticos, irregulares e dissolvidos em estruturas geométricas; às vezes, os desenhos são feitos em fortes linhas, às vezes, os mesmos motivos são jogados no papel de uma maneira aparentemente fácil. 

Saturnius adorava fazer uso de formalismos pseudocientíficos: representações como esquemas, gráficos, diagramas, modos experimentais de uso de uma linguagem "especializada". Tal tipo de geometria pode ser interpretado como um tipo de alucinação afastada da sexualidade e dos desejos sexuais. E o espermo-gnosticismo não é alimentado pela sexualidade reprimida?

Parece ser a norma para os ocultistas criativos preferir-se o conteúdo à forma (exatamente isto atrai os jornais). O ambiente visível perde o seu significado porque a sua relação com a realidade parece perturbada, e a imagem parece perder importância. Ele é substituído pela realidade interna da experiência subjetiva e pelo sofrimento da necessidade de uma "linguagem" especializada para que possa se expressar. A capaci dade para se abstrair o pensamento e a consciência da linguagem é modificada, para que se possa ter uma cognição das idéias extremamente complicadas do ocultismo e, então, internalizá-las e comunicá-las.

Contrariamente ao artista, o esforço do ocultista criativo para expressar-se através de imagens não necessita de aparatos estilísticos e modos de expressão. Ele usa os métodos tradicionais de mudança de consciência que liberam estados de transe (esporte, música, dança, drogas, rituais, yoga) e ataca vigorosamente o supermercado dos símbolos tradicionais (e.g. Saturnius: diabinhos com tridentes, vampiros com longas unhas, sereias, caveiras; Guido Wolter preferia desenhos pornográficos, e Walter Jantschik ainda usa Baphomet).

Enquanto os ocultistas criativos movem-se entre estilos limitados e tabus da cultura de massa (na qual a "ocultura" habita), parece que eles não são capazes de criar Arte. Os trabalhos criativos encontrados em nossos dois volumes sobre a Fraternitas Saturni parecem ser restritos e possuídos por tópicos subjetivos. Os objetos e temas apresentados parecem ser suportes para o self, de modo a oferecer estabilidade interna. Refletindo a reduzida performanc e de expressão e inibição do protagonista, Saturnius centrou-se nas "escuras forças satânicas", e Guido Wolther circulou pela sexualidade. Exatamente estes dois tópicos caracterizam as Ordens de Saturno, tanto do interior (através dos seus membros), quanto do exterior (a recepção dos críticos e jornalistas). A redução à "clubemania" após a morte de Grosche somente é óbvia para a lguns membros.

Podemos, aqui, levantar uma importante questão: quem coleciona tais trabalhos criativos dos ocultistas? Para quem eles fazem sentido? 

Já que nossos dois volumes versam sobre a Fraternitas Saturni, nós negligenciamos Austin Osman Spare, Aleister Crowley, Phyllis Seckler, Linda Falorio, Maggie Ingalls, Steffi Grant etc. Também não discutimos os desenhos do pupilo de Quintscher, Josef Anton Schuster (Silias, 1896-1968), cujo tomo do diário de 1931 contém instruções mágicas de anjos guardiães masculinos e femininos. O diário de Silia lembra a Ar t Brut de Adolf Wölfli. Na década de 20, através de seus "Bauherrenorden", Wilhelm Friedrich Quintscher (Rah- Omir, 1893-1945) juntou-se à Fraternitas Saturni, da qual logo se distanciou. O "Adonismo" de Quintscher é sempre trazido ao contexto da FOGC ("Freimaurer Orden des Goldenen Centuriums"), inventada por ele e Franz Bardon. A FOGC é um exemplo típico da visão paranóica e protofascista do mundo, de muitos ocultistas. Mas, d essa vez, não se trata de uma conspiração judeo-maçônica, mas de Bartzabel, o demônio da discórdia, discussão, ódio e ambição, que lidera; Astaroth, às vezes uma demônia da sexualidade e da fertilidade; Belial, carregado de excesso, depravação e vício; Asmodeus, raivoso, ciumento e radical; e Belphegor, que se alimenta de carne humana.

O antigo Grão Mestre da FS, Guido Wolther, escreveu alguns rituais da FOGC, tidos como muito importantes pelos ocultistas. 



Outros Protagonistas
Enquanto Aleister Crowley e "a" O.T.O. apenas acanhadamente confessavam a prática da magia sexual, Eugen Grosche a tomou diretamente como objetivo em seu universo saturnino, no começo.

No curso de seu desenvolvimento, a FS constantemente amontoou material esotérico-ocultista (afinal, os membros precisavam encontrar entretenimento mensal nos jornais) e, após a morte de seu fundador, toda a organização se limitou a assuntos corriqueiros ou reprodução de material antigo. Vice-versa: eles retornaram à origem da gnose. Tal como as verdadeiras organizações gnósticas, as Ordens de Saturno têm suas ra&i acute;zes no mundo. Em outras palavras: em magia, nada há de irrelevante. Daí, Eugene Grosche ter dado, até mesmo, regras da "arte oculta de viver" na sala de jantar. O que parece ser trivialidade burguesa à primeira vista (vide fotografias em "Materialien zum O.T.O.", página 92, onde um grupo de membros de alto grau da Ordem aparecem em seus sofás, agrupados ao redor de várias garrafas de "au de vie"), gnosticamente é o "luga r pútrido" de onde goteja o Pleroma. Para demonstrar a importância dessa raiz, nós apresentamos os conflitos ao redor de Wolther, Hemberger e o assassinato na família de Jantschik. Saturnius, Jantschik e Wolther contribuíram para impulsionar a FS, cada qual de sua maneira particular.

Queremos enfatizar que não desejamos satisfazer o suspense barato da imprensa escrita, denunciar alguém nem contribuir para a crescente escandalização no cenário da mídia. Pelo contrário: nós condenamos, por exemplo, o ponto de vista limitado que os auto-intitulados jornalistas demonstram ao considerar, por exemplo, Walter Jantschik como um "perigo para a sociedade".

Os eventos coloridos que envolvem Saturnius, Wolther e Jantschik espelham o aspecto criativo que pode ser encontrado fora da consciência mediana. Isto, por si só, justifica que se reproduzam fac-símiles de documentos que, de outra maneira (do ponto de vista de um sapo), irrefletidamente seriam considerados "rumores", quando, na realidade, refletem aquilo que influenciou decisivamente a história da Ordem.



Walter Jantschik (nascido em 09.11.1939)
Como já discutimos sobre Jantschik (aliás, Jananda sucessor de Wolther como Grão Mestre da Fraternitas Saturni) em vários de nossas publicações, gostaríamos de nos reportar a elas.

Jantschik, um oficial de justiça criminal extraordinariamente amistoso e prestativo, vive em condições modestas. É casado pela segunda vez com uma mauritânia, desde de 1973, com a qual ele tem dois filhos. Sua família ignora completamente as suas atividades religiosas, mas não se sente perturbada pelo fato de o apartamento ser repleto de material esotérico: o guarda roupa no quarto das crianças, a sala, os corredores, todo enfi m; ocorreu mesmo de haver uma cabeça de Baphomet pendurada sobre a cama. 

Jantschik trabalha infatigavelmente. Ele empilha metros de documentos, estudos, anotações de universidades, que ele meticulosamente resume e sublinha com o zelo de um pupilo, e papéis de sociedades ocultas e secretas. Desde o início da década de 70, ele goza de uma reputação peculiar no cenário oculto, a qual veio a tornar-se mundialmente notória. Logo, atraiu a atenção dos observadores de cultos alemães, F.-W. Haack e Horst Knaut. Mas a cordialidade e a amizade de Jantschik o fizeram cair, quando Haack, através de uma trapaça, apoderou-se de sua correspondência com Saturnius e a publicou pela mesma editora que hoje publica os livros de P.R. König. A "Série Hiram" da A.R.W. foi, portanto, a responsável pelo renascer do ocultismo nas áreas de língua alemã, desde a década de 70.

Jantschik ainda é uma roda bem ajustada da sociedade, o que o difere de Aleister Crowley, que, graças à sua condição financeira, saiu da sociedade e vivenciou sua necessidade de retornar a ela através da afiliação a todos os tipos de ordens, igrejas, títulos e cargos. 

Novamente, Jantschik se oferece como "vítima" e permite que o seu endereço mundano seja publicado no website sobre a Fraternitas Saturni. Discutir ou desentender-se com ele parece impossível. A série de livros dobre o Fenômeno O.T.O. deve-lhe muito, pois Jantschik é um grande colecionador de tudo que cai nas suas mãos (por exemplo, tal como o presente tradutor viria a fazer em sua terra natal, Janschik foi o co-fundador da s eção do "Califado da O.T.O." na Alemanha) . Similar a Saturnius, que alimentou a antiga FS com idéias, no início dos anos 80 Jantischik apoiou a organização que a sucedeu, a Ordo Saturni, com idéias, especialmente as ligadas à magia sexual. Entretanto, Jantschik não se adequou ao cargo de Grão Mestre da FS, onde ele se mostrava desgostoso com as conspirações e intrigas, a vanglória e a confusão que s e apresentavam como necessárias para manter a Ordem viva — um ambiente que é documentado nesses dois volumes sobre as Ordens de Saturno.

Há uma certo paralelo com relação ao famoso artista Adolf Wölfli (1864-1930), que considerava a álgebra o topo de todas as ciências e artes, autodenominando-se "Algebrator". Paralelamente, Jantschik se intitula "Baphometor". Exatamente como Wölfli, Jantschik vive de acordo com a sua necessidade de obedecer ao vácuo de horror do seu universo. Enquanto Wölfli desenhou e rabiscou em cada milímetro de suas telas, Jantschik, ali ás, CIT tem Baphomet ondulando através de todas as suas realidades. Incansavelmente ele escreve rituais, ensaios, meditações sobre Baphomet, guiado pela antiga dama Kundalini.

"A sexualidade [...] e as infinitas idéias e possibilidades de minha extraordinária imaginação criaram mais e mais bases para os meus incríveis empreendimentos. Nos meus experimentos licantrópicos e em minhas iluminações, me foi possível estabelecer contato com os planetas trans-saturninos peculiares à magia sexual e, eventualmente, ganhar novos insights. Seres e gênios de Urano, Netuno e Plutão me iniciaram nos mais altos mistérios e me conferiram as mais altas iniciações na magia sexual, assim como no Ankhur mágico. No reino ultra-imaginativo do Esperma e da Menstruação, eu fui iniciado pelo maior mestre da ejaculação plutoniana, como o "mestre das correntes seminais e menstruais do pleroma superior e inferior".

Nós temos Jantschik se explicando a si mesmo por extenso, especialmente para os nossos dois volumes sobre as Ordens de Saturno, porque ele é um exemplo do aspecto criativo de nossos ocultistas de língua alemã: — "Sim! Eu sou um perito em Baphometismo filosófico e em Magia Baphomética gnóstica. O aspecto artístico pode ser encontrado no reconhecimento de uma transcendência imanente no Baphometismo filosófico-herm&eac ute;tico. Eu me inclino a uma descrição artística do Baphometismo gnóstico-hermético e sua transcendência imanente. Através da transcendência das criações gnósticas-artísticas, eu quero tornar vivenciável o que é puramente espiritual na magia do Baphometismo filosófico. Com os meus experimentos científicos-filosóficos-herméticos, eu desejo transformar o agora geralmente desconhecido Ba phometismo em um novo paradigma de arte na consciência dos interessados. Este novo paradigma é uma arte descritiva, que torna visível o conteúdo hermético-filosófico e oculto, abstrato, do Baphometismo. A nova estrutura aeônica, que se amolda ao Baphometismo, é o que eu quero apresentar através das minhas pesquisas científicas: explicar o significado de tudo através da "arte descritiva", pela análise do Baphometismo filosófico-gnóstico-hermético. Conhecimento é Poder! ‘Ora, lege, lege, relege, labora et invenies!’ O que significa: ‘ora, lê, lê, relê, trabalha e encontrarás!’ A busca da sabedoria divina iguala-se à busca pela beleza e pela ordem. Quanto maior a sabedoria, mais sublime é a busca pela beleza. O conhecimento perfeito compreende a expressão da beleza e da ordem em sua substância mais idealística. Não há bu sca do conhecimento sem a expressão do belo. Quanto mais um baphometista penetra a integralidade do conhecimento, mais expressa a beleza. Um magista ou baphometista que busca o conhecimento eterno, ontologicamente, onticamente e pneumaticamente, expõe, portanto, uma estruturalização do belo e do ordeiro que não pode ser expressado de outra maneira." (24 de agosto de 1998).



Guido Wolther/Daniel
Nós recomendamos os vários desenhos em "Abramelin & Co."

Relativamente cedo, nos anos 60, Wolther deixou de exercitar sua profissão de químico, tentando fazer sua vida como um vendedor autônomo de livros, sempre nos limites do nível de subsistência. Atraído pelo que lhe parecida "intrigante, perturbador e perigoso", ele vivia, ao mesmo tempo, uma vida boêmia ao lado de sua mulher, a francesa Andrée Mériam Wolther (nome iniciático: Rahel; uma judia nascida em Bayonne , que sofreu sob o regime Nazista, e com quem ele tem um filho, Patrick). Como Grão Mestre da Fraternitas Saturni, ele se obrigou aos caprichos de muitos clientes em potencial (e.g. ocultista academicamente corrompido, Adolf Hemberger) e produziu desenhos sexo-mágicos escandalizantes, criando eventualmente uma reputação exótica. 

Em data que não se conhece com exatidão, um ritual de Plutão foi celebrado por Wolther nas profundezas da terra, parecendo referir-se a um problema de relacionamento mal resolvido com seus pais. Em agosto de 1962 e setembro de 1963, Wolther e sua mulher tentaram "trazer o diabo do Inferno", numa "magnífica caverna de estalactites a 250 metros sob a terra", com a ajuda de antimônio, sal de urânio, toriumoxidil, estrôncio e p etróleo (uma receita recebida por Andrée Mériam em transe, entregue por "altas inteligências saturninas". — "Nós somos atraídos pelo irreal e pelo misterioso — nós simplesmente ‘temos que’ — nós somos impelidos a descobrir e trabalhar — trabalhar magicamente. Quem nos conhece sabe que não somos ‘esotéricos fanáticos’, mas que sabemos como exercer plenamente nossas operações, com técnica e de manei ra científica. A mãe primordial é conjurada magicamente com a ajuda de sons bárbaros: "Onia ... Heva!! Onia ... Chavah! Chavah! Heva!! Ino ... Rea! Ria! Rua! Oia! Uuu ... Nahema! Nahema! Uuu! Oie-Ona- Uuea-Uuu! Aie, Aonie, Lilith, Lilith! Lilith! Jahou! Juhooe! Jaaaaheluu! Aparecei das profundezas, forças de Plutão! Ouvi o meu chamado no profundo erguei-vos de transuranos — transuranos — erguei-vos. Poderes plutonianos, eu ordeno que vos mostreis. Que A giel seja o mediador, que Arratron seja o mediador! Eu chamo Saturnus, o guardião do umbral, Saturnus, Saturnus, Saturnus, abre o portal para transuranos. Abre o portal para transuranos. Uuuu Jiiii."

- "Um demônio feminino, com o corpo de escorpião e face de mulher, aparece. Frau Wolther desmaia. O corpo do demônio se torna humano e ergue sua mão contra minha mulher." Guido Wolther diz do que precisa: — "Eu vos peço o poder de governar as pessoas; o poder de ser o mestre de uma organização, de uma sociedade oculta que represente o poder em três níveis — e eu quero compartilhar desse poder com a minha mulher.&qu ot; Mas o demônio se decepciona, porque "a mulher... irá traí-lo, homenzinho. A mãe primordial se retira. 

Os desenhos mágico-sexuais de Wolther, do início dos anos 70, consistiam de símbolos hebraicos e egípcios, encontrados no ocultismo ocidental. Wolther se ateve a imagens desajeitadas de pênis e vaginas. Como Saturnius, Wolther parecia clamar cientificismo e autenticidade para atribuir significado à sua realidade privada. Seu mundo queria ir além do normal, ele queria passar do umbral que causa a mort corpo e alma."

A carreira oculta de Wolther parece um tipo de ritual de exorcismo, no qual o protagonista tenta banir a tensão insuportável de sua própria existência para poder sobreviver. O trabalho de Wolther "acabou" em total interiorização: não se conhecem desenhos nem escritos posteriores a 1974. Isto pode ser visto como parte de sua grande decepção com a Fraternitas Saturni (como documentado em nossos dois volumes).

Embora sem que se conheça novos detalhes biográficos (e porque a interpretação analítica de desenhos e rituais parece ser problemática, ainda que haja um número incrível de demônios femininos, tanto no mundo de Saturnius, quanto no de Wolther), parece não haver paralelo entre o mundo oculto e o normal, como é possível no universo de Jantschik. Especialmente, parece não haver retorno. Após 1974 (?), ele baixou seus "instrumentos", para nunca mais usá-los. Foi/é o "trabalho criativo" de Wolther, portanto, uma tentativa bem sucedida de autorecuperação dos limites da sociedade? 

Grão Mestre da FS, Walter Jantschik conhecia tanto Saturnius quanto Wolther pessoalmente. — "Daniel e Saturnus conseguiram grande êxito com suas pesquisas mágicas. Deve-se pensar em seus trabalhos criativos como um tipo de portal ritualístico de saída de uma existência insuportável, numa sociedade burguesa e chata É claro que eles não se identificavam com essa sociedade: eles sempre reclamavam de que não há indiv& iacute;duos apropriados para um trabalho verdadeiramente mágico e que possam levar adiante o TRABALHO MÁGICO" (24 de agosto de 1998).

Hoje, Wolther vive doente e isolado, sustentado por sua mulher e pelo vienense Emil Stejnar (que nós conhecemos de nosso ABRAMELIN & Co).




Adolf Hemberger (1929-1991)
Cedo, ele se interessou por política e economia, tornando-se ativo em organizações estudantis de esquerda. Uma de suas primeiras publicações versava sobre sindicalismo anárquico. Profissionalmente, ele era um economista Ph.D., que lecionava sobre Educação no Instituto Pedagógico em Fulda. Mais tarde, tornou-se professor de Metodologia e Teoria Científica na Universidade Justus-Liebig, em Giessen, e chefe do Instituto d e Medicina Comportamental e Preventiva em Kirchvers, onde lecionava sobre Educação e Psicossomática. 

Hemberger dava importância a uma vida em família e, portanto, se decepcionou quando sua amada mulher e sua filha, não só deixaram de compartilhar de seus interesses ocultos, como também os negligenciaram completamente. De acordo com um conhecido bem próximo dele, também os colegas de Universidade "não gostavam muito de Hemberger", o que o punha sob pressão para professar efetividade e autenticidade. É fá cil supor que a pressão familiar, acadêmica e monetária o puseram em contato com as entidades espirituais. Ele não se considerava um indivíduo criativo, mas um pesquisador no longínquo campo das sociedades secretas. No final da década de 60, ele recebeu auxílio monetário da Sociedade Alemã de Pesquisas, em Bonn, e eventualmente publicou o seu primeiro volume sobre a Fraternitas Saturni, sob o pomposo título: "Organisationsformen, Rituale, Lehren und magische Thematik der freimaurerischen und freimaurerartigen Bünde im deutschen Sprachraum Mitteleuropas, Teil I, Der mystisch-magische Orden Fraternitas Saturni — Versuch einer religionsphänomenologischen, soziologischen und tiefenpsychologischen, an der Werturteilsfreiheit der Heidelberger Schule orientierten Analyse"; publicado por ele mesmo, em 1971.


Em mais de 30 volumes sobre a "Ocultura" (20 volumes sobre a FS, vários sobre a Maçonaria, Pansofia e Rosicrucianismo, Adonismo, A.M.O.R.C., Mundo Espiral etc etc), ele reduziu as suas publicações à mera fac-similização de seus arquivos. Mas, contrariamente ao editor de "OTO Pänomem" — que pretende criar uma estância crítica e distanciada que ofereça aos pesquisadores objetivos uma base que ref lita os ânimos de nossa sociedade, ou oferecer material prático para os ocultistas, de modo que estes possam estabilizar ou expandir o seu universo — Hemberger fez isto, apenas, para justificar as suas primeiras publicações, nas quais ele escreveu textos de autoria própria sobre a Maçonaria ou a FS, produzindo tanta besteira fatual, que foi negligenciado pelos estudiosos. Seu posterior vôo à reprodução indiferente e desprovida de conceitos de fac-símiles parece um corte desesperado na realidade que se desintegrava, assim como uma defesa contra as reclamações por não ter digerido os seus vários documentos, ou de encarar a queixa de trapaceador mal-intencionado (como posta pela Loja de Pesquisas Maçônicas Quatuor Coronati).


Hemberger foi o responsável pelo fato de os desenhos e escritos sexo-mágicos de Wolther terem caído em circulação. Ele telefonava para Wolther, que precipitadamente jogava algo no papel, que seria vendido pela melhor oferta. Conforme os rumores, mesmo o perito em cultos, Friedrich-Wilhelm Haack, fundador da nossa Editora, A.R.W., envolveu-se nisso tudo. 

Então, mecanismos de informação e contra-informação interferiram e causaram produtos criativos falsificados (desenhos do 18º de Wolther ou os alegados rituais da FOGC, por exemplo): artefatos sem qualquer autenticidade artística.

Tal como Jantschik, Hemberger apôs seus próprios comentários e notas em seus documentos. Mas, enquanto Jantschik o faz para seu estudo próprio, Hemberger vendeu suas fotocópias como produto "científico".

Não há muito a ser dito sobre o conteúdo dos textos escritos pelo próprio Hemberger. Embora contenham alguns eufemismos à la Jantschik, eles poderiam ter sido amigavelmente descritos como "besteiras ingênuas", acaso tantas pessoas não houvessem acreditado no que espumou de sua máquina de escrever (com auxílio especial de seu livro ""Experimental-Magie", publicado sob o pseudônimo de Klingsor em 1967, o qual decepcionou muitos membros da FS). Oscar Schlag lembra que Hemberger passava o dia inteiro na copiadora da Universidade, para produzir seus "livros". Por causa da edição desses livros lamacentos ter sempre sido limitada a menos de 100 cópias, eles são extremamente raros no mercado oculto e, portanto, há quem os considere a "pura e mais alta verdade". 



Apêndice sobre o volume dois: "In Nomine Demiurgi Nosferati"
A apresentação de dois textos ariosóficos da década de 30 jogarão alguma luz sobre as várias mentalidades que aprovavam a Fraternitas Saturni. Igualmente, a Ariosofia aceitava os trabalhos de Eugen Grosche como "um guia confiável", apenas irritando-se com a alegada estrutura maçônica da organização.
Conteúdo dos dois tomos sobre as Ordens de Saturno:
In Nomine Demiurgi Saturni "1925-1969"
Saturno-Gnose
O sistema da Ordem através dos anos
Rituais originais
Textos de Eugen Grosche: "Papéis para a Adaptada Arte Oculta de Viver"
Minutas, cartas-patentes, panfletos, relatórios
O show de um estilista
Relações com os grupos da O.T.O. de H.J. Metzger e K. Grant
A "Arte" de Saturnius
Como uma fotocopiadora abalou o universo saturnino
A FS após a morte de Grosche: cisão e renascimento
A primeira aparição de Adolf Hemberger
Por favor, dêem as boas vindas para Guido Wolther e Walter Jantschik


In Nomine Demiurgi Nosferati "1970-1996"
A Magia Sexual de Guido Wolther: Gradus Pentalphae — Trechos de rituais da FOGC
Mais escândalos com as publicações de Adolf Hemberger
Um Jornalista: Horst Knaut
Comando para Matar in Nomine Baphometi?
Clube Belphegor
Como o Diabo
A Ordo Saturni: Estatutos, protocolos, panfletos
Fala Walter Jantschik
O Renascer do GOTOS: Caindo no Esperma novamente
A FS no exterior (Itália, Inglaterra, Canadá, Brasil)